quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Jornalista espanhol deixa a profissão indignado com guerra midiática contra a China



O jornalista Javier García, chefe da sucursal da agência de notícias EFE
deixa o exercício da profissão com críticas severas à guerra de
informações contra a China promovida por uma mídia internacional
tendenciosa edit


*247 -* O jornalista Javier Garcia, chefe da sucursal da agência
noticiosa EFE na China, publicou no Twitter em tom de desabafo uma
denúncia das manipulações feitas pela mídia empresarial, no quadro da
guerra midiática contra o país socialista asiático. Essa guerra é
comandada pelo Departamento de Estado dos EUA, escreveu.

"Em alguns dias deixarei o jornalismo, pelo menos temporariamente, após
mais de 30 anos na profissão. A embaraçosa guerra de informações contra
a China tirou uma boa dose da minha ilusão por este trabalho, que até
agora havia sobrevivido a não poucos conflitos e outras sutilezas.

Vim para a China, como qualquer outro destino, tentando manter a mente
aberta e livre de preconceitos. Sempre acreditei que a curiosidade e a
capacidade de maravilhar-se, a par do rigor e da fidelidade à verdade,
são os elementos básicos do jornalismo.


O que encontrei me surpreendeu. Por um lado, um país enorme, diverso e
em constante transformação, cheio de histórias para contar. Um lugar
inovador, moderno e tradicional ao mesmo tempo, em que o futuro se
vislumbra e o destino da humanidade está de alguma forma em jogo.

Por outro lado, uma história da imprensa estrangeira - a grande maioria
- profundamente tendenciosa, que segue constantemente o que a mídia dos
Estados Unidos e o Departamento de Estado dos Estados Unidos querem nos
dizer, aconteça o que acontecer.

Nessas informações, repletas de lugares comuns, quase não há espaço para
surpresas, nem para uma análise minimamente verídica do que acontece
aqui. Não há lugar para mergulhar nas chaves históricas, sociais ou
culturais. Tudo o que a China faz deve, por definição, ser negativo.


A manipulação informacional é flagrante, com dezenas de exemplos no dia
a dia. Qualquer pessoa que se atrever a confrontá-la ou tentar manter
posições moderadamente objetivas e imparciais será acusada de ser paga
pelo governo chinês ou pior. A menor discrepância não é tolerada.

As potências que estão promovendo a perigosa tendência de confronto com
a China não deixam nada ao acaso. Seus fios aparentemente invisíveis
alcançam os lugares mais insuspeitados. Qualquer pessoa que se desviar
do caminho marcado será posta de lado ou marginalizada.

O tão proclamado totem ocidental da "imprensa livre" recebe assim,
paradoxalmente refletido, sua imagem mais nítida na China: imprensa
livre para dizer exatamente a mesma coisa, para não sair do roteiro
pré-estabelecido, para enfatizar repetidamente o quão ruim é o "comunismo".

Mesmo as políticas que deveriam servir de exemplo, como o
reflorestamento, sem paralelo, ou a saída da pobreza de 800 milhões de
pessoas, sempre carregam o lema eterno de "mas a que custo", que a mídia
anglo-saxônica usa ad nauseam ao noticiar sobre a China".

In
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/midia/jornalista-espanhol-deixa-a-profissao-indignado-com-guerra-midiatica-contra-a-china
29/9/2021

domingo, 26 de setembro de 2021

Brasil: pibinho faz fumaça e acelera ingovernabilidade



José Martins

Por que o tão temido golpe de Jair Boçalnaro anunciado para a Semana da
Pátria acabou não acontecendo? Por vários motivos. Um deles, talvez o
menos importante, porque Boçalnaro não tem capacidade política nem para
ser ditador.

É claro que qualquer boçal pode ser um ditador. Até generais como
Mourão, Pazuello, etc., reúnem todas as credenciais para o distinto
cargo. Como era o caso dos Médici, Figueiredo e outros intelectualmente
desclassificados da pátria amada Brasil.

O problema é que Boçalnaro não é um boçal qualquer. Ele é um boçal
especial. Vejam, por exemplo, o seguinte fato: ele passou quase trinta
anos como deputado na Câmara Federal e nunca comandou nenhuma Comissão
de qualquer assunto relevante da Casa. Inércia total.

Ficava amoitado em seu infecto gabinete, onde quase ninguém especial
entrava nem dava qualquer importância para aquela obscura criatura.

Passava o tempo todo fazendo requerimentos para beneficiar policiais,
famílias de militares, paramilitares, milicianos, antigos torturadores
na ditadura e outras sinistras figuras do submundo policial. Esta sempre
foi sua base social e eleitoral. Garantia de reeleições e mandatos
sucessivos.

Nas grandes questões da Câmara seguia bovinamente as decisões das
lideranças do “baixo clero”, rebatizado atualmente como “centrão”, ao
qual sempre pertenceu. Sempre passivo, medíocre, silencioso, traiçoeiro.
Corpo e alma de torturador. Útil apenas para cumprir as tarefas mais
inglórias e sujas dos seus patrões burgueses.

Agora, quando é empurrado não pela burguesia, mas pela sua base de
delinquentes sociais para tomar uma atitude e comandar um golpe militar
tradicional ele fracassa. E a ingovernabilidade burguesa se aprofunda um
pouco mais no território do inusitado e do imprevisível.

Mas poderia alguém melhor preparado politicamente que Boçalnaro ser um
ditador como todos estão acostumados a imaginar? Uma ditadura militar
/old faschioned/ seria adequada para as necessidades atuais
administração burguesa da luta de classes no Brasil? Tudo indica que não.

Portanto, a seu favor pode-se argumentar que o golpe da semana da pátria
não vingou simplesmente porque uma ditadura meia boca, fora de moda,
inadequada, deste desclassificado ou de qualquer outro aventureiro,
seria absolutamente insuficiente para enfrentar os inauditos desafios
que a classe dos empresários e demais parasitas enfrentam neste momento.

Faz sentido. Afinal, as condições de funcionamento do sistema
capitalista mudaram notavelmente nos últimos sete ou oito anos. Como
cristalização de um processo mais largo conhecido como “globalização”,
“neoliberalismo”, e outros imprecisos adjetivos do pensamento vulgar.

Como resultado destas mudanças reais o descontrole político burguês
evoluiu para níveis que não se assistia há muito tempo na maior economia
do mundo ao sul do equador.

Esse corrosivo descontrole das instituições do Estado brasileiro é
impulsionado em primeiro lugar por determinantes materiais. Sem
novidade. Não é assim que as coisas funcionam? Observemos então,
inicialmente, esses determinantes em suas manifestações mais imediatas.

No início do mês, por exemplo, o IBGE informou que o Produto Interno
Bruto (PIB) caiu no 2º trimestre abaixo de zero (- 0,1%) frente ao
trimestre anterior.

Forte abalo na narrativa triunfalista dos capitalistas e seus
economistas de mercado de que a economia havia retomado o crescimento.
Nada mais ilusório.

A primeira vítima foi Paulo “Ipiranga” Guedes. Em um movimento
incrivelmente sincronizado e orquestrado “investidores” e Globo News
iniciam no mesmo dia a fritura do seu até na véspera amado ministro da
economia.

O “pibinho” dos empresários brasileiros voltou com pompa e
circunstância. Aliás, nunca deixou de ser “pibinho” nos últimos anos. O
que aparecia como “retomada” era mistificação barata.

Passadas as turbulências estatísticas ocorridas com a pandemia, nos
últimos quatro ou cinco trimestres, a situação fica menos embaçada: ao
invés de uma imaginária “recuperação em V”, a produção e o produto
nacional se apresentam com a mesma cara lavada e abaixo daquele já
trágico nível de antes da pandemia.

Segundo relatório publicado pela OCDE, a economia brasileira é a única
das grandes “emergentes” que apresentou queda no 2º trimestre deste ano.
A economia que antes da epidemia (2019) já estava no fundo do poço
depois da pandemia continua afundando. E deve continuar.

Marque esta conclusão. Para a análise das perspectivas políticas
brasileiras deve-se tirar as todas as consequências do seguinte
diagnóstico: o renitente “pibinho” que assombra há quase dez anos o país
com mais de 210 milhões de habitantes para serem reproduzidos
fisicamente não dá sinal de recuperação e de volta do crescimento
econômico. Ao contrário, continuará afundando.

Esta anemia produtiva é histórica. Tem razões mais profundas que uma
mera variação do PIB. Porém, o mais importante é saber como ela se
apresenta agora. Há que se isolar e analisar o estado atual desta anemia.

É por isso que é importante observar no mesmo relatório IBGE set.1º que
outras cruciais variáveis econômicas caíram muito mais catastroficamente
que o PIB – que foi sustentado por um monte de penduricalhos
improdutivos contabilizados em atividades no setor de Serviços, etc.

Nos setores produtivos da economia, a Agropecuária (o famigerado
“agronegócio”) caiu 2,8%; enquanto a estratégica Indústria de
Transformação – núcleo regulador da totalidade da economia – também
amargou queda de 2,2%.

E, mais importante que tudo, a chamada Formação Bruta do Capital Fixo,
que, embora grosseiramente, mede os investimentos produtivos na
economia, caiu 3,8%!

Os empresários brasileiros formam uma classe de proprietários dos meios
de produção social marcada geneticamente pela preguiça e passividade.
Têm a mesma cara cultural e cognitiva dos diversos capitães do mato que
instalam alternativamente na presidência da República.

Os empresários brasileiros constituem uma classe de “boçalnaros” da
indústria. De “capitães da indústria” portadores de uma má formação
mental geneticamente constituída que os torna irreversivelmente
despreparados para agir, modernizar e aumentar as forças produtivas no país.

Assim, sem novos investimentos para a reprodução ampliada do capital, a
produtividade da indústria brasileira de transformação caiu por três
trimestres consecutivos.

No segundo trimestre de 2021, de acordo com o boletim Produtividade na
Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produtividade
do trabalho caiu 1,6% em relação aos três meses anteriores. Voltou ao
nível próximo ao do segundo trimestre de 2020, quando começaram as
turbulências da pandemia.

Economia real afundando e gravíssimos problemas sociais aumentando. Mais
de 32 milhões de trabalhadores desempregados, classificados como
“população subutilizada”.

Todo mundo sabe que no regime capitalista de produção se o cidadão
desprovido de qualquer meio de produção ou reserva não conseguir vender
por longo período sua força de trabalho no mercado para ser consumida
nas linhas de produção de capital ele e sua família morrerão de fome.

Atualmente, a miséria e a fome explodem a olho nu nas ruas, avenidas e
semáforos das grandes cidades do país. E vão continuar aumentando. Isso
enquadra rigidamente as perspectivas políticas atuais da burguesia
brasileira.

Porém, a população em geral só toma conhecimento dos atuais impasses e
responsabilidades dos empresários e demais parasitas do sistema pela
atual situação social quando a explosão dos preços ameaça diretamente o
poder de seu rendimento (salário) para pagar pela comida, aluguel, luz,
gás, transporte, remédios e outros meios básicos de reprodução e
sobrevivência física.

A carestia está de volta. Misturada com o desemprego nas nuvens tudo
muda na paz de cemitério dos empresários brasileiros. Resta saber se ela
veio para ficar. Ou de que modo esta brusca elevação dos preços é apenas
uma das manifestações de uma correspondente e não menos catastrófica
desaceleração da produção de capital no país.

O fato é que a inflação oficial do país, medida pelo IPCA (Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), alcançou a maior taxa para um
mês de agosto (0,87%) em 21 anos e, com o resultado, encostou em 10% no
acumulado de 12 meses (9,68%).

É o que apontam os dados divulgados na quinta-feira (9) por outro
relatório do IBGE. Vejam o tamanho do estrago no gráfico abaixo.

Em agosto de 2020 a inflação nos últimos doze meses era de civilizados
2,44%. Agora, um ano depois, ago.21, ela subiu para indecentes 9,68%.
Esta fulminante elevação de preços é praticamente inédita. E letal para
uma economia dominada da periferia que não tem moeda nacional
reconhecida no mercado cambial internacional.

Quem não tem “moeda forte” só pode fazer política econômica fraca,
inócua. Este é o destino dos governos de economias dominadas e seus
impotentes economistas.

Ao chegar a praticamente 10% no acumulado de 12 meses, o IPCA ampliou a
distância frente ao teto da meta de inflação (5,25%) estabelecida pelo
Banco Central (BC). No acumulado até julho, a variação estava em 8,99%.

A Crítica da Economia estima que o IPCA se elevará para a faixa de 10,5
a 11,5% no mês de dez.21. Isto forçará necessariamente (e inutilmente) a
elevação da taxa básica de juros (Selic) para pelo menos 10%.

Este já é um cenário conservador, pois supõe uma contenção e
estabilização da tendência atual dos preços, considerando cenário
altamente improvável de recuperação da economia global, etc.

Na data de ontem o Boletim Focus, do BC, com previsões do mercado,
indicava IPCA de 8,5% e taxa Selic de 8,00% em dez.2021. Não é tão
diferente do nosso cenário. De todo modo, ambos significarão forte
desorganização de todas as variáveis fiscais e do orçamento do governo.
E forte pressão também para maior desvalorização do real frente ao
dólar. O Brasil é um ser cada vez mais inválido na ordem capitalista
mundial.

O resultado de agosto do IPCA também mostrou um aumento mais
generalizado nos preços. Quer dizer, a inflação se espalha como
agressiva metástase para a maioria dos setores econômicos. Esta alta de
preços mais disseminada pode ser medida pelo “índice de difusão” do IPCA.

Conforme o IBGE, o indicador, que analisa o percentual de itens
contaminados com aumentos nos seus preços de mercado, passou de 64% em
julho para 72% em agosto.

Quanto maior essa contaminação, mais difícil a reversão do processo.
Indica fatores básicos muito fortes se manifestando na superfície e
impulsionando o processo.

Por isso, da mesma forma que para explicar a volta do “pibinho”, os
economistas estão perdidos na explicação da volta da carestia e da sua
irmã gêmea, a desvalorização cambial da moeda nacional.

Não sabem dizer qual o remédio monetário e fiscal capaz de reverter o
processo de inflação e de desvalorização cambial. Isso acontece porque
eles não levam em conta em seu raciocínio limitado de comerciantes
práticos o que determina o valor de uma moeda nacional, e,
consequentemente, da taxa de câmbio.

Diferentemente do que se passa as economias dominantes do centro do
sistema, tanto o travamento do PIB quanto a elevação de preços internos
no Brasil derivam fundamentalmente de uma baixíssima produtividade do
trabalho e de uma estrutural fragilidade tributária e fiscal do governo.
As duas coisas estão ligadas. E se retroalimentam.

Mas não se trata aqui das lições econômicas que cercam este problema da
determinação do valor de uma moeda nacional, que já tratamos em inúmeros
boletins passados.

Aqui se trata apenas de afirmar que os dados atuais da produção e da
produtividade industrial no Brasil, que vimos de passagem acima,
permitem antever um agravamento das condições econômicas e sociais no país.

E, se não podem receitar o remédio para os problemas atuais da economia,
a única coisa que os capitalistas e seus economistas podem dizer com
certa exatidão é que tudo que já está ruim pode ficar pior ainda.

Foi exatamente isso que eles andaram dizendo nesta terça (15). Se há
algumas semanas estimavam uma alta acima de 2% do PIB (Produto Interno
Bruto) para 2022 agora eles já avaliam que o crescimento pode ficar
abaixo de 1%.

O Banco JP Morgan, por exemplo, que antes projetava 1,5% de crescimento
para o ano que vem, revisou a expectativa para 0,9%.

A MB Associados, outro respeitado núcleo de consultores de mercado,
trouxe cenários mais precisos para o ano que vem. Antes, trabalhava com
crescimento de 1,4% para o PIB de 2022, nesta semana revisou as
estimativas para 0,4%,

Para o ano que vem, a consultoria prevê coisas mais importantes que uma
mera retração do PIB. Prevê corretamente, diga-se de passagem, uma queda
de 1,4% da produção industrial, com destaque para a indústria de
transformação (-1,9%) e para a construção civil (-2,1%).

O Itaú Unibanco, é outro que projetava um crescimento de 1,5%, revisou o
avanço para 0,5% em 2022. E outra coisa muitíssimo importante: do mesmo
modo que a maioria dos demais economistas da Faria Lima e Avenida
Paulista os analistas do Itaú Unibanco também alertam para uma
desaceleração da economia global no ano que vem.

Este cenário de crise global impactaria ainda mais fortemente a economia
brasileira. Os economistas já detectam que os preços de commodities
agrícolas e minerais pararam de subir, e alguns deles estão caindo, como
o minério de ferro, milho, etc.

As características e grau de profundidade da crise global, que devem
começar a se materializar nos próximos trimestres no mercado mundial –
economias dos EUA e China como detonadores do processo – é o que dará
régua e compasso da crise política e social brasileira.

Resta observar que um agravamento destas condições nacionais de
reprodução do capital, com a profundidade que se anuncia nas breves
observações acima, não acontece impunimente. E que estes ventos
contrários de magnitude inédita dos determinantes materiais mudam também
a qualidade do processo político.

São cruciais as consequências desta mudança de qualidade de uma crise
política de governo, mais comumente observada, para uma rara crise de
Estado. De uma crise institucional para uma crise revolucionária.

Assim, é no meio do caminho para esta incrível e tão esperada
metamorfose de ingovernabilidade burguesa no Brasil que se pode entender
melhor os motivos daquela impotência de Boçalnaro de aplicar um golpe
militar convencional na Semana da Pátria.

O golpe seria bem sucedido, apesar da notória e particular boçalidade do
seu executor, se fosse uma garantia de que os lucros continuassem a
jorrar e a catástrofe social pudesse ser controlada pelas armas. Não
convenceu as classes dominantes.

Mas não é só o fracassado golpe de Boçalnaro que não pode dar esta
garantia. Tamanha façanha de salvar o capital e assassinar impunemente
dezenas de milhões de trabalhadores da “população subutilizada” também
não poderá mais ser obra de novo presidente legitimamente escolhido
pelas confiáveis e auditáveis urnas eletrônicas do Supremo Tribunal
Eleitoral.

Nenhum ditador mais articulado com o combate às desigualdades ou
qualquer amigo do povo e suas inefáveis políticas públicas de combate à
pobreza serão mais eficientes que Boçalnaro no enfrentamento da crise de
ingovernabilidade do Estado capitalista brasileiro que se aprofundou um
pouquinho mais nas últimas semanas.

In
CRÍTICA DA ECONOMIA
https://criticadaeconomia.com/2021/09/brasil-pibinho-faz-fumaca-e-acelera-ingovernabilidade/
16/9/2021

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A financeirização espúria da economia verde

 

 

por Luis Nassif

Em outra subcategoria, de fundos com tema climático, identificou 130 com
mais de US$ 67 bilhões em ativos totais. Nas pontuações, para
identificar o alinhamento das carteiras com o Acordo de Paris, o
desempenho variou de -42% a +90%. Dos 130 fundos analisados, 72% estavam
desalinhados, com pontuações negativas.


No mundo neoliberal pós anos 70 tudo é financeirizado, a saúde, as
padarias, do menor varejo ao oligopólio mais potente. Nesse mundo em que
trabalho, economia real, relações sociais, espaços públicos são jogados
para terceiro plano, uma das maiores hipocrisias são os mecanismos de
reforço à economia verde.

No auge da era do etanol, Otto Reich veio ao Brasil. Tratava-se de um
diplomata americano especialista em América Latina, estreitamente ligado
à família Bush, e organizador de uma tentativa de golpe contra Hugo
Chávez na Venezuela. Vinha atrás de negócios da economia verde e
embalado pelas conclusões de cientistas sobre o aquecimento do planeta.
Em um encontro em um hotel em São Paulo foi mordaz:

  * Nenhum de nós acredita no aquecimento do planeta. Mas temos de
    aproveitar os bons negócios.

Hoje em dia, a questão do aquecimento venceu o debate científico,
especialmente em função das grandes tragédias climáticas que explodem em
vários cantos do planeta.

É aí que ganha espaço a hipocrisia, através do chamado “mercado de
carbono”. Trata-se de um modelo pelo qual alguém economiza carbono e
coloca sua cota à venda. Alguém compra e pode compensar com a própria
poluição que gera. Ou seja, ganha o direito de continuar explorando o
planeta, mediante a compra de direitos de alguém que economizou recursos

As tais compensações de carbono passam por cima da conclusão lógica de
que estamos todos no mesmo planeta e às vésperas de um desastre
climático. Mesmo assim, a economia marrom (dos poluidores) continua em
seu trabalho, meramente adquirindo direitos sobre conquistas da economia
verde.

As consequências são óbvias:

 1. Não substitui ativos verdes por ativos marrons, mas simplesmente dá
    sobrevida aos ativos marrons para prosseguir em seu trabalho de
    destruição do planeta.
 2. Facilita a vida para os detentores de capital para persistir em seu
    trabalho de exaurir o planeta.
 3. Desobriga os governos nacionais de sua responsabilidade pela
    preservação.
 4. Impede a implementação de políticas de conservação socialmente
    justas e equânimes.

Depois, basta montar um trust ou um fundo de ação especializado em ESG
para comercializar os ativos verdes e monetizar a poluição.

Segundo estudo recente do InfluenceMap
<https://influencemap.org/report/Climate-Funds-Are-They-Paris-Aligned-3eb83347267949847084306dae01c7b0>,
em 2020 foram oferecidos produtos financeiros com o tema ESG no valor
total de US$ 1,7 trilhão. O estudo levantou 723 fundos de ações, em um
total de mais de US $330 bilhões em ativos líquidos totais. Analisou-os
sob dois critérios: alinhamento com metas do Acordo de Paris e
intensidade de combustível fóssil.

Através de pesquisas por palavras-chaves, identificou 593 fundos de
ações, com mais de US $265 bilhões em ativos líquidos. 421 deles, ou
71%, têm uma pontuação negativa em relação ao item Alinhamento de Paris.

Em outra subcategoria, de fundos com tema climático, identificou 130 com
mais de US$ 67 bilhões em ativos totais. Nas pontuações, para
identificar o alinhamento das carteiras com o Acordo de Paris, o
desempenho variou de -42% a +90%. Dos 130 fundos analisados, 72% estavam
desalinhados, com pontuações negativas.

Além disso, mantinham em carteira US $153 milhões em ações de empresas
de produção de combustíveis fósseis, como a TotalEnergies, Kinder
Morgan, Enbridge, Neste, Halliburton, Chevron e ExxonMobil.

Outro ponto chama atenção. Antes do pré-sal, a Petrobras preparava-se
para se transformar em uma empresa de energia, inclusive com programas
ambiciosos na área do etanol e do biodiesel.

O pré-sal nublou os planos. Depois do impeachment, os governos
univitelinos, Temer-Bolsonaro usam a Petrobras apenas para os grandes
negócios da privatização. E ela continua sendo peça essencial em
qualquer plano futuro de reindustrialização do país.

Em vez de preparar seu futuro, e transformá-la em uma âncora central
para a nova economia verde, a inacreditável elite de poder no país –
mídia, Supremo, Congresso, todos a reboque do mercado – apenas pensam
nos ganhos imediatos de picotar a empresa e abrir espaço para os grandes
negócios da privatização.

In
JORNAL GGN
https://jornalggn.com.br/editoria/economia/coluna-economica-economia/a-financeirizacao-espuria-da-economia-verde-por-luis-nassif/
22/9/2021

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

"Los brasileños tienen hambre por falta de ingresos, no de producción", dice João Pedro Stedile

 


    Para Stedile, los emprendedores contra Bolsonaro ya son mayoría,
    pero buscan una tercera vía para las elecciones de 2022

José Eduardo Bernardes

Traducción: Patricia Moura e Souza

Brasil de Fato | São Paulo (Brasil) |
15 de Setembro de 2021 às 15:27
Leia em português
<https://www.brasildefato.com.br/2021/08/30/brasileiros-passam-fome-porque-nao-tem-renda-nao-por-falta-de-producao-diz-stedile>

João Pedro Stedile es el invitado de esta edición de BDF Entrevista -
José Eduardo Bernardes

"El gobierno de Bolsonaro no es más que el espejo de la crisis, el
espejo de la burguesía", dice João Pedro Stedile, economista y activista
de la reforma agraria, en una crítica a las posiciones recientes de los
empresarios brasileños, que recién ahora están mostrando oposición al
presidente Jair Bolsonaro (sin partido), en medio de la crisis social y
económica más grave de Brasil.

El invitado de esta edición en *BDF Entrevista,* Stedile, uno de los
fundadores del Movimiento de Trabajadores Rurales Sin Tierra
<https://mst.org.br/>, también habla sobre la precarización del trabajo
en Brasil, los intentos de golpe de Bolsonaro y cómo deberá conformarse
un nuevo gobierno del expresidente Lula, principal candidato en las
elecciones de 2022.

/Acompañe la entrevista:/

*Brasil de Fato: Brasil atraviesa una crisis sin precedentes, el hambre
ha vuelto a afectar a las familias, la economía no puede dar los pasos
adecuados y los riesgos de las reformas propuestas se han materializado.
¿Cuál es el estado real de nuestra democracia desde 2016? *

*João Pedro Stedile:* El país atraviesa un momento grave, porque es la
peor crisis de toda su historia, una crisis estructural de la forma en
que el capitalismo domina la sociedad y la economía, que aparece en la
producción, en la economía cada vez más concentrada. Antes de la crisis
teníamos 45 multimillonarios, hoy tenemos 65.

Tenemos una economía ultraconcentrada, con una contradicción
fundamental, dado que ya no produce los bienes que necesita la
población. Esta es la gran contradicción del capitalismo brasileño
dependiente, con consecuencias de una verdadera tragedia social, que es
la profundización de la desigualdad social. Es la herida más grande, la
marca de nuestra sociedad.

Brasil, junto con Sudáfrica, tiene la mayor desigualdad social, con una
crisis que arrojó a la pobreza a 67 millones de trabajadores, según
reveló la PNAD (Encuesta Nacional por Muestra de Hogares) del IBGE
(Instituto Brasileño de Geografía y Estadística). Hay 14 millones de
desempleados, seis millones que ya no buscan trabajo y 40 millones que
no tienen trabajo fijo, viven de trabajos ocasionales, del trabajo
precario y, por lo tanto, no tienen ingresos fijos, no tienen derechos,
están excluidos de la ciudadanía.

Lo importante es entender en este momento que la crisis en Brasil es
estructural, lo que significa que va más allá del período de esta
situación y de este gobierno. Significa que tenemos que pensar después
del "Fuera, Bolsonaro" en cambios estructurales para sacar al país de la
crisis y ponerlo en nuevos caminos que garanticen el bienestar de toda
la población.


Protesta "Fuera, Bolsonaro" demanda vacuna y trabajo / Paulo Pinto / AFP

*Una parte de estas personas desempleadas ya se encontraba en el mercado
informal, que ha crecido enormemente desde 2018. Y la pandemia alejó a
esta gente de la calle. ¿Cuál es el nivel de precariedad del trabajo en
Brasil? *

La precariedad del trabajo que revelan estos datos de la PNAD es solo
una fotografía de la crisis estructural. No es por la pandemia de
covid-19, ya veíamos estos signos desde 2014. Tampoco sirve de nada que
los economistas digan que esta es la tendencia del capitalismo moderno.
No es así, la sociedad brasileña en el próximo período tendrá que
realizar un importante programa de reindustrialización del país y
reorientar las inversiones productivas en la agricultura familiar para
producir alimentos. Necesitamos zapatos, ropa, casas, alimentos, y todo
esto debe producirse en la industria y la agricultura familiar.

Entonces, estos tiempos de precariedad, de retirada de derechos desde el
gobierno de [Michel] Temer hasta ahora son solo signos de esta codicia
de la burguesía brasileña que, ante la crisis, arrojó todo el peso sobre
la espalda de la clase obrera, a punto de, como mencionó Ud., llegar al
absurdo de ser un país continental, con tanto potencial para la
producción de alimentos, y tener alrededor de 20 millones de brasileños
que viven con hambre. No tienen hambre porque no hay producción, tienen
hambre porque no tienen ingresos, no tienen recursos para comprar
alimentos en el supermercado o en la feria.

Y, según los investigadores, tenemos otros 70 millones en lo que se
llama inseguridad alimentaria, que significa comer de la peor manera
posible, por debajo de lo necesario, o sin alimentos saludables y
nutritivos, que aseguren incluso la salud. Esta es la imagen de la crisis.

: Lea también: Brasil com fome: pandemia e desmonte do Estado agravam
drama dos trabalhadores
<https://www.brasildefato.com.br/2021/08/11/brasil-com-fome-pandemia-e-desmonte-do-estado-agravam-drama-dos-trabalhadores>

*El gobierno de Bolsonaro ahora cuenta con el apoyo de los partidos de
centro. De hecho, fue tomado por asalto por el oportunismo. Bolsonaro ya
no parece tener apoyo del mercado e incluso esta base social que lo
venía apoyando está cada vez más restringida a ese 20%. Aun así, ¿sigue
siendo difícil hablar de juicio político? *

Primero tenemos que entender la naturaleza del gobierno de Bolsonaro.
Nosotros, los movimientos populares del Frente Brasil Popular y del MST,
hemos dicho que Bolsonaro solo está ahí porque la burguesía brasileña lo
puso ahí.

Ahora, una gran parte de ellos lo lamenta y el mismo Bolsonaro, por ser
un espejo de la crisis, no tiene una fuerza social organizada propia, ni
sindicatos, ni universidades, ni intelectuales, porque no tiene un
proyecto de país, no tiene un proyecto de nación.

En el fondo, es una aberración dirigida por la familia que todos
conocemos, la práctica de "rachadinhas" (esquema de corrupción en que un
parlamentar se queda con una parte del sueldo de sus asesores), su vida
siempre fue enriquecer con recursos públicos.

*Pero, aun así, en la derrota de la propuesta del voto impreso, el
gobierno de Bolsonaro tuvo mayoría, a punto de aprobarla. ¿Eso entierra
las posibilidades de juicio político por ahora? *

El tema de "Fuera, Bolsonaro" y el juicio político es otra historia.
Para que hubiera la destitución del gobierno de Bolsonaro, con juicio
político o de otras formas, analizamos que dependería concretamente del
comportamiento de la burguesía o de la clase trabajadora.

La burguesía viene manifestándose a diario contra Bolsonaro, pero está
dividida sobre qué hacer.

Un sector de la burguesía, estúpido, en mi opinión, apuesta todas sus
fichas por el mantenimiento de Bolsonaro, por el acceso a los recursos
públicos y por esta estúpida política de privatizar las empresas
estatales. Según los analistas, debe haber alrededor del 20% de la
burguesía en esta corriente. Ahí tienes a Bradesco, Banco Pactual, BTG,
el sector de capital financiero más especulativo, el dueño de Havan y
otros.

Otro sector de la burguesía, que en mi opinión es mayoritario y difícil
de cuantificar, pero digamos que sean el 60%, ya no soporta a Bolsonaro.
Incluso son la mayoría del poder económico. Imagino que el presidente de
la FIESP no esté de acuerdo con Bolsonaro. La gente de Itaú no está de
acuerdo, María Luiza Trajano no está de acuerdo con Bolsonaro.

Sin embargo, este grupo, que es la mayoría, necesita resolver una
incógnita antes de intentar destituir a Bolsonaro, que es crear una
unidad sobre la fórmula de lo que se conoce como la tercera vía. Una vez
hecho esto, la tercera vía solo será viable si se destituye a Bolsonaro.

Hay una tercera corriente de la burguesía, en mi opinión, todavía
minoritaria, que se ha expresado junto a Delfim Neto, un intelectual
orgánico de la burguesía, un referente histórico de la burguesía. Ha
repetido: "Dejen de tonterías con [ese intento de] tercera vía, tenemos
que apoyar desde ya a Lula en la primera vuelta, porque Lula ganará las
elecciones".

Este sector de la burguesía tendería a posicionarse mejor en una alianza
con Lula, porque saben que, si Lula gana las elecciones, tendrá que
llevar a cabo un programa de reformas estructurales.

: Lea más: Pesquisa XP desta terça mostra Lula com 16 pontos à frente de
Bolsonaro se eleição fosse hoje
<https://www.brasildefato.com.br/2021/08/17/pesquisa-xp-desta-terca-mostra-lula-com-16-pontos-a-frente-de-bolsonaro-se-eleicao-fosse-hoje>

Con un acuerdo sobre la tercera vía, la burguesía puede accionar su
poder económico y mediático y sus influencias en el Congreso para
encontrar una salida legal para la destitución del gobierno. Otra
hipótesis es que, si no hay tiempo suficiente para un juicio político,
pueden encontrar alguna forma de criminalizar al presidente por lo que
está revelando la CPI (Comisión Parlamentar de Investigación) del Senado
y prohibir que vaya por la reelección.
Por parte de la clase trabajadora, debemos seguir con la consigna que
nos une, "Fuera, Bolsonaro". Sin embargo, la clase obrera es incapaz de
ejercer su fuerza política, que se revela en las marchas, en la lucha
concreta, ya sea con huelgas u ocupaciones. Debido al COVID, al
desempleo, al hambre, no ha participado activamente en las movilizaciones.

Pero nunca podemos ser pesimistas y nuestro trabajo como militantes,
como partícipes de movimientos populares y partidos de izquierda, es
siempre seguir con el propósito de hacer un trabajo de base, organizar
al pueblo y tratar de movilizarlo para la lucha.

*Hay un componente que ha ganado fuerza en los últimos días, que es el
tema del apoyo de la policía militar, de las milicias armadas, al
gobierno de Bolsonaro en las calles. ¿Es esto factible? ¿Es una
preocupación que deberíamos tener? *

Puede que haya provocaciones aquí y allí, pero no lo creo, y no debemos
caer en la paranoia de que habrá un intento de golpe de la Policía
Militar. Creo que la reunión de los veinticinco gobernadores fue muy
simbólica porque, al fin y al cabo, son ellos quienes dirigen a las
policías militares. Creo que la mayoría de la corporación es sensata,
son profesionales responsables, aunque aquí y allí practican el racismo,
la violencia en los barrios periféricos.

La mayor parte de la corporación son profesionales responsables, que
conocen sus responsabilidades constitucionales. Ni creo que haya apoyo
por parte de ellos, ni que haya intentos de golpe, así como he dicho
varias veces que no se puede meter a todos los militares en la misma bolsa.

Las contradicciones son evidentes, cada vez mayores, entre los militares
que estuvieron en Brasilia, que están mamando en las tetas del gobierno,
algunos generales con sueldos de R$ 100.000 (aproximadamente 20 mil
dólares). Brasil de Fato reveló en estas semanas que [Eduardo] Pazuello
gana R$ 57 mil por mes (cerca de 11 mil dólares) y fue a su oficina dos
veces en los últimos dos meses, es decir, un insulto para los trabajadores.

Ya otro tema son los militares que están en los cuarteles, que tienen
sus responsabilidades y han mostrado signos de descontento con los
rumbos del gobierno. Incluso porque el hecho de que Bolsonaro siga
publicitando que es capitán, a pesar de que fue expulsado del Ejército,
él sabe que todas las perversidades del actual gobierno están manchando
la imagen de los militares, y aquellos que tienen sentido común quieren
alejarse de este ventilador esparcidor de problemas.


Parte de la burgusía ya no soporta a Bolsonaro  / Evaristo Sa / AFP

*Usted mencionó el tema de la soberanía nacional e imagino que los
militares también deben preocuparse por el tema ambiental. Recientemente
vimos un estudio de Mapbiomas que menciona una pérdida de 15% del agua
en el país. ¿Es posible revertir estos abusos ambientales?*

Esto se explica por la verdadera codicia con la que los capitalistas
avanzaron sobre la Amazonia, sobre las tierras públicas, sobre los
minerales, las tierras indígenas y las tierras quilombolas (comunidades
que descienden de grupos políticamente organizados de africanos y
afrodescendientes que escapaban de la esclavitud). Y eso explica esta
furia incontrolable por la liberación total de agrotóxicos. El
agrotóxico aplicado por la agroindustria mata la biodiversidad y, por lo
tanto, también desequilibra el medio ambiente y afecta el clima en todo
Brasil.

: Lee: Pesquisa revela: 20% do território brasileiro pegou fogo ao menos
uma vez entre 1985 e 2020
<https://www.brasildefato.com.br/2021/08/16/pesquisa-revela-20-do-territorio-brasileiro-pegou-fogo-ao-menos-uma-vez-entre-1985-e-2020>

Estas agresiones contra el medio ambiente provocan contradicciones para
los propios capitalistas, porque este modelo agresivo de agroindustria,
de agrotóxicos que matan la biodiversidad y alteran el clima, terminan
afectando a otros sectores de la agroindustria.

La última cosecha de naranjas en São Paulo, el principal productor
mundial de jugo de naranja, cayó un 40%, y ¿por qué? Porque las lluvias,
que solían venir del Amazonas y del Pantanal, no vinieron, por los
incendios.

La sequía en la región Sureste también afectó el sector de la caña de
azúcar, la ganadería, en fin, otros sectores de la agroindustria
comienzan a darse cuenta de que este modelo predatorio de agroindustria,
con uso intensivo de agrotóxicos, es insostenible.

*Para terminar nuestra conversación, existe la posibilidad de que el
expresidente Lula llegue, como mínimo, a una segunda vuelta. Hay
encuestas que señalan una victoria en primera ronda. ¿Es posible
analizar la composición de cómo podría ser este gobierno de Lula, en
esta correlación de fuerzas? *

Un gobierno progresista, popular, no solo es posible sino necesario. Sin
embargo, para viabilizar un gobierno de Lula tenemos varios aspectos:
uno son las alianzas partidarias, que tienen su propia metodología, ya
que los partidos no necesariamente representan las fuerzas de la
sociedad organizada, ya sea en la burguesía, la clase media o la clase
trabajadora.

Creo que lo fundamental para viabilizar una candidatura de Lula no son
los partidos, ni qué figuras lo apoyarán. Por supuesto, cuantos más
partidos y más figuras públicas lo apoyen, mejor. Pero creo que
nosotros, como movimiento popular y como militantes, deberíamos
preocuparnos, después del "Fuera, Bolsonaro", que es la tarea número
cero, de aprovechar el 2022 para realizar una gran campaña nacional en
que movilice a la población, que movilice a la clase trabajadora para
discutir un nuevo proyecto de país.

Es imposible encauzar a Brasil sin controlar el capital financiero, que
es quien se lleva toda la riqueza. No es posible encauzar a Brasil sin
controlar a las empresas transnacionales. No es posible encauzar a
Brasil sin tener un impuesto sobre las grandes fortunas.

Y estas reformas estructurales no dependerán de la buena voluntad de
Lula, ni de las alianzas partidarias; dependerán de la capacidad del
pueblo de entender su necesidad de luchar por ellas.  

Edición: Arturo Hartmann e Anelize Moreira


In
BRASIL DE FATO
https://www.brasildefato.com.br/2021/09/15/los-brasilenos-tienen-hambre-por-falta-de-ingresos-no-de-produccion-dice-joao-pedro-stedile
15/9/2021

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

O vocabulário da diplomacia neoliberal na Nova Guerra Fria de hoje

 


      *Michael Hudson [*]

O Sr. Soros fez uma birra pública por não poder ganhar com a China o
tipo de dinheiro fácil que conseguiu quando a União Soviética foi
destruída e privatizada. A 7 de Setembro de 2021, no seu segundo grande
artigo em uma semana, George Soros expressou o seu horror perante a
recomendação da BlackRock, a maior gestora de activos do mundo, de que
os gestores financeiros deveriam triplicar o seu investimento na China.
Alegando que tal investimento colocaria em perigo a segurança nacional
dos EUA ao ajudar a China, o Sr. Soros reforçou a sua defesa das sanções
financeiras e comerciais dos EUA.

A política da China de moldar mercados para promover a prosperidade
global, ao invés de deixar o excedente económico concentrar-se nas mãos
de investidores corporativos e estrangeiros, é uma ameaça existencial
para as prioridades neoliberais da América, afirma ele. O programa
"Prosperidade Comum" do Presidente Xi "procura reduzir a desigualdade
através da distribuição da riqueza dos ricos à população em geral. Isso
não augura nada de bom para investidores estrangeiros". [1] <#notas>
Para os neoliberais, isso é heresia".

Criticando o "cancelamento abrupto de uma nova emissão da China pelo
grupo Ant do Alibaba em Novembro de 2020", e o "banimento das empresas
de tutoria da China financiadas pelos EUA ", o Sr. Soros destaca o
co-fundador de Blackstone, Stephen Schwarzman (Note-se que a Blackstone
sob o comando de Schwartzman não deve ser confundido com a BlackRock sob
o comando de Larry Fink) e o antigo presidente da Goldman Sachs, John L.
Thornton, por procurarem obter retornos financeiros para os seus
investidores, em vez de tratar a China como um estado inimigo e um
adversário da Guerra Fria que se aproxima:

A iniciativa da BlackRock põe em perigo os interesses de segurança
nacional dos EUA e de outras democracias porque o dinheiro investido na
China ajudará a reforçar o regime do Presidente Xi ... O Congresso
deveria aprovar legislação que desse poderes à Securities and Exchange
Comission para limitar o fluxo de fundos para a China. O esforço deve
ter apoio bipartidário.

O /New York Times/ publicou um artigo importante definindo a "Doutrina
Biden" como vendo "a China como o competidor existencial da América; a
Rússia como um disruptor; o Irão e a Coreia do Norte como proliferadores
nucleares, ameaças cibernéticas em evolução permanente e o terrorismo a
propagar-se muito para além do Afeganistão". Contra estas ameaças, o
artigo descreve a estratégia dos EUA como representando a "democracia",
o eufemismo para países com governos mínimos que deixam o planeamento
económico para os gestores financeiros de Wall Street, e as
infra-estruturas nas mãos de investidores privados, não fornecidas a
preços subsidiados. Nações que restrinjam os monopólios e a relacionada
busca de rendas não merecidas são acusadas de serem autocráticas.

O problema, naturalmente, é que tal como os Estados Unidos, a Alemanha e
outras nações se tornaram potências industriais nos séculos XIX e XX
através de infra-estruturas patrocinadas pelo governo, tributação
progressiva e legislação antimonopólio, a rejeição destas políticas após
1980 levou-as à estagnação económica para os 99 por cento
sobrecarregados pela deflação da dívida e pelo aumento dos encargos
rentistas pagos aos sectores Financeiro, de Seguros e Imobiliário
(FIRE). A China está a prosperar, seguindo precisamente as políticas
pelas quais as antigas nações industriais líderes tornaram-se ricas
antes de sofrerem da doença da financeirização neoliberal. Este
contraste suscita o impulso do artigo, resumido no seu sumário do que
espera que se torne uma Doutrina Biden apoiada pelo Congresso de
escalada de uma Nova Guerra Fria contra economias nãoneoliberalizadas,
contrapondo o imperialismo liberal-democrata patrocinado pelos EUA
contra o socialismo estrangeiro:

No mês passado, o Sr. Blinken advertiu que a China e a Rússia estavam "a
argumentar em público e em privado de que os Estados Unidos estão em
declínio – por isso é melhor tentarem a sua sorte com as suas visões
autoritárias para o mundo do que com a nossa visão democrática" [2]
<#asterisco>.

O Sr. Soros viu o fim da Guerra Fria abrir o caminho para ele e outros
investidores estrangeiros para usar a "terapia de choque" para facilitar
colheitas na Rússia, seguida pela crise asiática muito mais vasta de
1997 como uma oportunidade de encher o seu saco de compras com os
activos mais lucrativos que proporcionassem rendal. Ele está inquieto
por o Presidente Xi não estar a emular Boris Yeltsin e deixar emergir
uma cleptocracia cliente na China tal como na economia da Rússia – o que
fez do mercado de acções russo o queridinho do mundo durante alguns
anos, 1995-97.

Logo após a Crise Asiática, a administração de Bill Clinton admitiu a
China na Organização Mundial do Comércio, dando a investidores e
importadores dos EUA acesso a trabalho de baixo preço capaz de competir
com o trabalho industrial estado-unidense. Isso ajudou a travar ganhos
salariais nos EUA, ao passo que a China utilizou o investimento
estrangeiro como um meio de melhorar a sua tecnologia e de o trabalho se
tornar economicamente auto-suficiente. Ela não deixou o seu sistema
monetário ou organização social tornar-se financeiramente dependente de
"mercados" a funcionarem como veículos para o controle estado-unidense
como o sr. Soros esperava que ocorresse quando começou a investir na China.

A China reconheceu desde o princípio que a sua insistência em manter o
controle da sua economia – pilotando-a para promover a prosperidade
geral, não enriquecer uma oligarquia cliente frente a uma classe
investidora estrangeira – criaria oposição política dos ideólogos da
Guerra Fria nos EUA. A China portanto quiz aliados da Wall Street,
oferecendo oportunidades de fazer lucro à Goldman Sachs e outros
investidores cujo auto-interesse levou-os na verdade a se oporem a
políticas anti-China.

Mas o êxito da China criou tantos multimilionários que ela agora procura
restringir a riqueza excessiva. Essa política cortou drasticamente os
preços das principais acções chinesas, levando o sr. Soros a advertir
investidores quanto a salvamentos /(bail out)./ A sua esperança é que
isto levará a China a controlar e reverter a sua política de elevar
padrões de vida a expensas do envio dos seus ganhos económicos para os
EUA e outros investidores estrangeiros.

A realidade é que a China não precisa do dinheiro dos EUA ou de outros
estrangeiros para desenvolver-se. O Banco Popular da China pode criar
todo o dinheiro que a economia interna necessita, enquanto o seu
comércio de exportação já está a inundá-la com dólares e a pressionar
para cima a sua taxa de câmbio.

John McCain caracterizou a Rússia como um posto de gasolina com bombas
atómicas (deixando de reconhecer que é agora o maior exportador mundial
de cereais, já não dependendo mais do Ocidente para o seu abastecimento
alimentar – graças em grande medida às sanções comerciais patrocinadas
pelos EUA). A imagem corolária é dos Estados Unidos como uma economia
financiarizada e monopolizada com bombas atómicas e ciber ameaças, em
perigo de se tornar um estado falhado como a antiga União Soviética mas
a ameaçar deitar abaixo toda a economia mundial se outros países não
subsidiarem a sua economia da Nova Guerra Fria, a cavalo da dívida.

Apresentando-se a si própria como a principal democracia do mundo,
apesar da sua oligarquia financeira interna e do seu apoio a oligarquias
clientes no exterior, os Estados Unidos consolidaram o poder financeiro
na sequência das hipotecas-lixo e da fraude bancária de 2008.

A decisão política e a alocação de recursos saíram das mãos da política
eleitoral significativa para àquelas do sector das Finanças, Seguros e
Imobiliário (Finance, Insurance and Real Estate, FIRE) e daquilo que Ray
McGovern chamou de MICIMATT, o complexo
Military-Industrial-Congressional-Intelligence-Media-Academic-Think
Tank, incluindo as grandes fundações e ONGs. Estas institituições
procuram concentrar rendimento e riqueza nas mãos da oligarquia do
sector FIRE assim como o Senado romano impedia reformas sobre legislação
popular mediante o poder de veto e as câmaras altas de parlamentos, tal
como a Casa dos Lordes britânica, utilizam um poder estrangulador
semelhante para resistir ao controle governamental no interesse público.

A ascensão do neoliberalismo patrocinado pelos EUA significa que o
combate do século XIX por mercados livres da finança predatória
patrocinadora do parasitismo rentista fracassou. Este fracasso é
celebrado como uma vitória da regra da lei, democracia, direitos de
propriedade e mesmo dos mercados livres em relação à autoridade do poder
público para regular a busca de riqueza privada. Integrar a economia
global de acordo com linhas unipolares que permitam a interesses
financeiros dos EUA e das economias aliadas da NATO apropriarem-se dos
activos de países estrangeiros mais lucrativos e produtores das mais
altas rendas é idealizado como a evolução natural da civilização, não
como a estrada para a servidão neoliberal e a escravidão da dívida
corporificada no que responsáveis estado-unidenses chama a Regra da Lei.

*O que é a Regra da Lei?*

Os Estados Unidos recusam-se a aderir ao Tribunal Mundial, ou a qualquer
organização internacional em que não tenham o poder de veto. E
simplesmente retiram-se de tratados e acordos internacionais que
assinaram se os seus interesses instituídos acreditarem que eles já não
lhes servem. Isto sempre foi a política estado-unidense, desde os muitos
tratados com tribos nativas americanas rompidos por Andrew Jackson e
seus sucessores até os acordos EUA-URSS que puseram fim à Guerra Fria em
1991, rompidos por Bill Clinton e ao tratado que removia sanções ao Irão
rompido por Donald Trump. Esta política introduziu no vocabulário do
mundo diplomático uma nova expressão para descrever a diplomacia
estado-unidense: incapaz de acordos /(non-agreement-capable)./

A administração evangelista neocon de George W. Bush, efectivamente
dirigida pelo seu vice-presidente Dick Cheney, seguiu o princípio de que
"Agora somos um império e, quando actuamos, criamos a nossa própria
realidade" [3] <#notas>. Para impor esta realidade sobre outros países,
a "inteligência" dos EUA é seleccionada, inventada ou censurada para dar
a aparência de qualquer realidade que se considere servir os interesses
dos EUA em qualquer momento dado. A realidade passada e presente é
redefinida à vontade para fornecer um guia de acção. Seja o que for que
a diplomacia dos EUA dite, pretende-se que reflicta a regra da lei,
dando aos Estados Unidos o direito de definir o que é legal e o que não
é quando impõe sanções económicas e militares contra países que não
seguem políticas pró-americanas. Os ditames resultantes que estabelecem
a lei estão sempre embrulhados na retórica dos mercados livres e da
democracia.

*O que é mercado livre?*

Para os economistas clássicos, o objectivo da reforma do século XIX era
substituir o poder político da classe rentista pelo poder democrático a
fim de criar políticas de estado tanto para tributar a renda da terra e
outras rendas económicas como para retornar ao domínio público a terra,
recursos naturais e monopólios naturais tais como transportes,
comunicações e outras infraestruturas básicas necessárias. Um mercado
livre era definido como livre de renda económica – a renda da terra
imposta pela classe dos latifundiários herdeiros dos senhores da guerra,
cujo papel económico era puramente extractivo, não produtivo. A renda
dos recursos naturais diziam pertencer ao domínio público como
património nacional e a renda monopolista era para ser impedida pela
manutenção no domínio público dos monopólios naturais, ou
regulamentando-os com firmeza se fossem privatizados.

A reacção anti-clássica do século XX inverteu o conceito de mercado
livre, o estilo orwelliano da dupla linguagem, para criar um que fosse
"livre" para os que buscam rendas a fim de obterem almoços gratuítos com
rendimentos extraídos de rendas. O resultado é uma economia de rentistas
na qual a terra, os recursos naturais e os monopólios naturais são
privatizados e, a seu tempo, financiarizados para transformarem a renda
nnum fluxo de pagamentos de juros ao sector financeiro, à medida que a
economia é levada a endividar-se para pagar as despesas gerais do
rentista e a inflação do preço do activos financiada por dívida para os
activos produtores de renda.

A "liberdade" de tais mercados é a libertação de os governos tributarem
a renda económica e regularem os preços para limitar a extracção de
renda. Um crescimento exponencial do não merecido rendimento e riqueza
dos rentistas nas mãos de um sector afasta o rendimento da economia
"real" da produção e do consumo.

Quanto ao comércio livre, os Estados Unidos também mantêm o direito de
impor tarifas à vontade (eufemizado como "comércio justo", ou /"fair
trade"/) e aplicar multas e sanções para impedir que as empresas sejam
livres de vender tecnologia à China. O objectivo é concentrar monopólios
tecnológicos nas mãos dos Estados Unidos. Qualquer "proliferação" de
tecnologia (que é tratada de modo muito semelhante ao armamento nuclear
como uma questão de segurança nacional) é considerada "injusta" e
antitética à liberdade de os EUA controlarem o comércio e os padrões de
investimento mundiais no seu próprio interesse.

Esta tentativa de promover "mercados livres" e "comércio justo" é
defendida pelas pretensões dos EUA de proteger a democracia contra a
autocracia e de intervir por todo o mundo para promover os membros do
Mundo Livre definidos /ipso facto/ como sendo democráticos simplesmente
em virtude de serem aliados dos EUA. A Nova Guerra Fria de hoje tem tudo
a ver com a manutenção e extensão de um "mercado livre" tão cativo e
orientado para os EUA pela força, desde o golpe de Henry Kissinger no
Chile para impor "mercados livres" ao estilo de Chicago até aos golpes
de Hillary Clinton na Maidan da Ucrânia e nas Honduras e a sua
destruição da Líbia apoiada pela NATO e o assassinato de Qadhafi.

*O que é democracia?*

Aristóteles escreveu que muitas constituições parecem superficialmente
serem democráticas, mas realmente são oligárquicas. A democracia sempre
foi o eufemismo enganoso para a oligarquia transformar-se numa
aristocracia hereditária. As democracias tendem a evoluir para
oligarquias quando credores expropriam devedores (a "regra da lei"
garantindo uma hierarquia dos "direitos de propriedade" com os direitos
do credor no topo da pirâmide legal).

O movimento rumo à reforma política democrática no fim do século XIX e
início do século XX supunha-se que criasse mercados livres de rendas.
Mas a dinâmica da democracia política foi gerida de um modo que impediu
a democracia económica. O próprio significado de "democracia" foi
degradado para significar oposição ao poder do governo de actuar contra
a oligarquia rentista dos Um Porcento em favor dos 99 Porcento. O
resultante travesti de mercado livre democrático serve para impedir
tentativas políticas de utilizar o poder público para promover os
interesses da população assalariada em geral e, na verdade, da própria
economia industrial para um ávido despojamento de activos financeiros e
de deflação da dívida dos mercados.

Na linguagem da diplomacia internacional, "democrático" tornou-se uma
etiqueta para qualquer regime pró-EUA, desde as cleptocracias bálticas
até as ditaduras militares da América Latina. Países que usem o poder do
estado para regular monopólios ou tributar rendimento rentista são
denunciados como "autocráticos", mesmo se tiverem chefes de estado
eleitos. Nesta nova retórica orwelliana da diplomacia internacional, o
regime cleptocrático russo de Boris Yeltsin era democrático e o
movimento natural para travar a corrupção e a despopulação foi chamado
de "autocracia".

*O que é autocracia e "autoritarismo"?*

Movimentos estrangeiros de defesa contra tomadas de controle financeiras
pelos EUA e o patrocínio de oligarquias clientes são denunciados como
autoritários. No vocabulário da diplomacia estado-unidense, "autocracia"
refere-se a um governo proteger os interesses da sua população pela
resistência às tomadas de controle financeiro pelos EUA dos seus
recursos naturais, da infraestrutura básica e dos seus monopólios mais
lucrativos.

Todas as economias com êxito através da história têm sido economias
mixtas público/privadas. O papel adequado do governo é impedir economias
de uma oligarquia rentista de emergirem para polarizar a economia a
expensas da generalidade da população. Esta protecção exige a manutenção
do controle da moeda e do crédito, da terra e dos recursos naturais, da
infraestrutura básica e dos monopólios naturais nas mãos dos governos.

As oligarquias é que são autocráticas ao bloquearem reformas para anular
a sua busca de renda, através da manutenção das necessidades básicas e
das infraestruturas no domínio público. Para confundir a compreensão, a
oligarquia de Roma acusou os reformadores sociais de "buscarem a
realeza", tal como as oligarquias gregas acusaram os reformadores de
buscarem a "tirania" – como se as suas reformas fossem meramente para
benefício pessoal e não para promover a prosperidade geral. O resultante
Duplo Pensamento Orwelliano resultante é tecido na retórica do
neoliberalismo.

*O que é neoliberalismo?*

Neoliberalismo é uma dinâmica financeira em expansão exponencial que
procura concentrar os recursos mais lucrativos do mundo e os recursos
que proporcionam as mais altas rendas nas mãos de gestores financeiros,
principalmente nos Estados Unidos e nas suas oligarquias clientes que
actuam como proconsules sobre economias estrangeiras.

Os meios de comunicação de massas liberais, o meio académico e as
instituições de lobbying "think tank", fundações políticas e ONG
patrocinam a retórica acima descrita dos mercados livres para criar
veículos para a fuga de capitais, lavagem de dinheiro, evasão fiscal,
desregulamentação e privatização (e a corrupção que acompanha as
cleptocracias emergentes). A doutrina neoliberal retrata todos os
movimentos públicos para proteger a prosperidade geral do fardo do
rentista como sendo a autocracia autoritária que "interfere" com
direitos de propriedade.

*O que são direitos de propriedade?*

Nas economias financiarizadas de hoje, "direitos de propriedade"
significa a prioridade dos direitos do credor para arrestar habitação,
terra e outras propriedades de devedores. (Na antiguidade isso incluía a
liberdade pessoal de devedores condenados à servidão da dívida aos seus
credores.)

O Banco Mundial tem promovido tais direitos de propriedade orientados
para os credores a partir da União Soviética e de comunidades indígenas
latino-americanas a fim de privatizar propriedade até então comunal ou
pública, incluindo terra ocupada por invasores /(squatters)/ ou
comunidades locais. A ideia é que propriedade outrora comunal ou pública
seja privatizada como direito individual, que possa ser comprometida
como garantia /(collateral)/ para empréstimos e devidamente confiscada
ou vendida sob constrangimentos económicos.

O efeito é concentrar a propriedade nas mãos do sector financeiro. Isso
leva inevitavelmente a uma economia fracassada e austera.

*O que é uma economia fracassada?*

As economias fracassam devido à ascensão ao poder de interesses escusos
/(vested interests),/ primariamente no sector das Finanças, Seguros e
Imobiliário (FIRE) que controla a maior parte dos activos e da riqueza.
Uma economia fracassada é aquela que não se pode expandir, habitualmente
em consequência de se ter tornado pejada de dívida pela alta das
despesas gerais rentistas na forma de renda da terra, renda dos recursos
naturais e renda monopolista quando o sector financeiro substitui
governos eleitos democraticamente como planeadores e alocadores de recursos.

O sector FIRE é uma simbiose entre finanças e imobiliário, juntamente
com os seguros. O seu plano de negócios O seu plano de negócios envolvia
uma dimensão altamente política procurando centralizar o controlo do
dinheiro e da criação de crédito em mãos privadas hereditárias, e
transformar esta renda económica "livre" de impostos, arrecadação
pública ou regulamentação, num fluxo de juros. O efeito do empréstimo
principalmente para compradores de activos, os quais são dados como
garantia, não é criar novos meios de produção mas sim inflacionar os
preços dos bens imobiliários já existentes.

Os ganhos de capital financeiro resultantes tornaram-se a forma mais
fácil de adquirir fortunas, as quais assumem a forma de direitos para a
extracção de rendas sobre a economia, não de novos meios de produção
para apoiar a prosperidade económica "real" e a elevação dos padrões de
vida.

As economias financiarizadas estão condenadas a tornarem-se estados
fracassados porque a trajectória de expansão exponencialmente crescente
da dívida a acumular-se a juros compostos mais nova criação de crédito e
"flexibilização quantitativa" /("quantitative easing")/ excede em muito
a taxa de crescimento subjacente da economia de produção de bens e
serviços para suportar este fardo. Estas dinâmicas financeiras ameaçam
condenar os EUA e as suas economias satélites a tornarem-se estados
falhados.

A questão subjacente é se a própria civilização ocidental se tornou uma
civilização fracassada, dadas as raízes do seu sistema jurídico e os
conceitos de direitos de propriedade tendo origem na Roma oligárquica. A
economia polarizada de Roma conduziu a uma Idade das Trevas, de que se
recuperou saqueando Bizâncio e, subsequentemente, o Oriente e a nova
conquista do Novo Mundo e da Ásia Oriental e Meridional. Durante os
últimos vinte anos, foi o crescimento socialista da China que
primariamente sustentou a prosperidade ocidental. Mas esta dinâmica está
a ser rejeitada, denunciada como uma ameaça existencial precisamente por
ser um socialismo com êxito, não uma exploração neoliberal.

Em tempos passados houve sempre alguma parte do globo para sobreviver e
continuar. Mas a Super-Decadência ocorre quando o mundo inteiro está a
ser arrastado para baixo em conjunto, sem nenhuma região capaz de
resistir à dinâmica polarizadora e empobrecedora rentista imposta pelo
núcleo imperial militarizado. Seguindo a liderança dos EUA, o Ocidente
está a eliminar a sua possibilidade de sobrevivência. A rejeição do
neoliberalismo por parte da China e de outros membros da Organização de
Cooperação de Xangai (SCO) é enfrentada pelas sanções comerciais e
financeiras dos EUA, cujo efeito auto-derrotante é levá-los em conjunto
a criar um sistema regulador estatal ("autocracia") para resistir à
dolarização, financeirização e privatização. Eis porque estão a ser
isoladas como uma ameaça existencial à dinâmica da decadência rentista
neoliberal.

*A alternativa*

Isto não tem de ser assim, é claro. A China está a defender-se não só
pela economia industrial e agrícola produtiva que o seu governo
socialista tem patrocinado, como também por um conceito orientador de
como as economias funcionam. Os gestores económicos da China têm os
conceitos clássicos de valor, preço e renda económica, que distinguem o
rendimento merecido do rendimento não merecido, e o trabalho produtivo e
a riqueza das fortunas rentistas financeiras dos improdutivos e predadores.

Estes são os conceitos necessários para elevar toda a sociedade, os 99%
em vez de apenas os Um por cento. Mas a reacção neoliberal pós-1980
despiu-se do vocabulário económico ocidental e do currículo académico. A
actual estagnação económica, o fardo da dívida e as taxas de juro
bloqueadas em zero são uma escolha política do Ocidente, não um produto
inevitável do determinismo tecnológico.

[1] George Soros, “BlackRock’s China Blunder,” /Wall Street Journal,/
September 7, 2021.
[2] Helene Cooper, Lara Jukes, Michael D. Shear and Michael Crowley, “In
the Withdrawal from Afghanistan, a Biden Doctrine Surfaces,” /The New
York Times,/ September 5, 2021.
[3] Ron Suskind, “Faith, Certainty and the Presidency of George W.
Bush,” /New York Times Magazine,/ October 17, 2004, quoting Bush-Cheney
strategist Karl Rove.

[NT] Traduções adoptadas:  rent = renda;  income = rendimento;  revenue
= receita;  earning = ganhos


        13/Setembro/2021


    [*] Economista. Muitos dos seus livros estão disponíveis aqui
    <https://www.bookdepository.com/search?searchTerm=Michael+Hudson&search=Find+book>.


    O original encontra-se em
    thesaker.is/the-vocabulary-of-neoliberal-diplomacy-in-todays-new-cold-war/
    <https://thesaker.is/the-vocabulary-of-neoliberal-diplomacy-in-todays-new-cold-war/>.
    Tradução de JF.

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/m_hudson/vocabulario_13set21.html
16/9/2021

domingo, 12 de setembro de 2021

El otro 11 de septiembre: Washington y el derrocamiento de Allende

 


*HERNANDO CALVO OSPINA, ESCRITOR Y PERIODISTA*

Henry Kissinger, el consejero para la Seguridad Nacional del presidente,
expresó durante una reunión del Consejo de Seguridad sobre Chile, el 27
de junio de 1970: “Yo no veo por qué debemos quedarnos indiferentes,
mientras un país cae en el comunismo por culpa de la irresponsabilidad
de su pueblo.”

Desde 1961, apenas posesionado, el presidente John F. Kennedy nombró un
comité encargado de las elecciones que se desarrollarían en Chile tres
años después. Según la investigación de la Comisión Church del Senado
estadounidense[1], estuvo compuesto de altos responsable del
Departamento de Estado, la Casa Blanca y la CIA. Este Comité fue
reproducido en la embajada estadounidense en Santiago, capital chilena.
El objetivo era impedir que el candidato socialista, Salvador Allende,
ganara los comicios [2].

Allende era un marxista convencido de que por la vía pacífica se podía
llegar al gobierno, y, desde ahí, darle un vuelco a las estructuras del
Estado en beneficio de las mayorías empobrecidas. Expresaba que para
lograr tal objetivo se debía nacionalizar las grandes industrias,
priorizando las que estaban en manos estadounidenses, al ser éstas las
que explotaban los recursos estratégicos. Estos, y otros ideales
sociales, lo convirtieron en un indeseable para Washington: podría
servir de ejemplo para los pueblos de otras naciones latinoamericanas.

Para hacerle oposición, varios millones de dólares fueron distribuidos
entre los partidos políticos de centro y de la derecha para que
realizaran su propaganda. Al momento de elegir el candidato a la
presidencia, Washington decidió apoyar a Eduardo Frei, del partido
Demócrata Cristiano, un personaje que impuso a sus otros financiados.

En total, la operación costó unos veinte millones de dólares, una suma
inmensa para la época, al punto de sólo poderse comparar con lo gastado
en las elecciones presidenciales estadounidenses. Es que Washington no
tanto invirtió en el candidato Frey, sino que realizó toda una campaña
de propaganda anticomunista a largo plazo.

La Comisión del Senado dijo: “Se explotaron todos los medios posibles:
prensa, radio, películas, volantes, folletos, correos, banderolas,
pinturas murales.” La Comisión reconoció que la CIA realizó, por
intermedio de sus partidos comprados y varias organizaciones sociales,
una “campaña alarmista” donde el objetivo principal fueron las mujeres,
a las cuales se les aseguraba que los soviéticos y los cubanos llegarían
para arrebatarle a sus hijos si ganaba Allende. Afiches distribuidos
masivamente mostraban a niños llevando en la frente un tatuaje con la
hoz y el martillo. La tradición religiosa también fue manipulada al
máximo para que se temiera al “comunismo ateo e impío.”

La operación psicológica funcionó por encima de las expectativas: Frei
logró el 56% de votos, mientras que Allende el 39%. La CIA, según la
Comisión del Senado, aseguró que “la campaña de inculcar miedo
anticomunista había sido la más eficaz de todas las actividades
adelantadas.”

Fue una operación psicológica, con carácter de guerra, cuya base eran
los planes aplicados en Guatemala que terminaron derrocando al
presidente Jacobo Arbenz, en junio de 1954 [3]. Una operación que en
Chile no se desmanteló con el triunfo de Frei, porque, a pesar de todo,
la cantidad de votos logrados por Allende fue alta. Y el vencido tenía
todas las intenciones de presentarse a las futuras elecciones.

En sus Memorias William “Bill” Colby, jefe de la CIA entre 1973 y1976,
cuenta que durante las elecciones presidenciales de 1970, “la CIA debió
dirigir todos los esfuerzos contra el marxista Allende. Ella se encargó
de organizar una vasta campaña de propaganda contra su candidatura.” [4]
La operación se llamó “Segunda Vía”. Todo por orden directa del
presidente Richard Nixon.

Henry Kissinger, el consejero para la Seguridad Nacional del presidente,
expresaría durante una reunión del Consejo de Seguridad sobre Chile, el
27 de junio de 1970: “Yo no veo por qué debemos quedarnos indiferentes,
mientras un país cae en el comunismo por culpa de la irresponsabilidad
de su pueblo.” [5] O sea, la soberana decisión de los ciudadanos no
podía ser válida si no estaba en concordancia con los intereses
estadounidenses. Durante esta reunión se decidió sumar trescientos mil
dólares a la operación de propaganda que ya se adelantaba.

Según la Comisión Church del senado, Richard Helms, jefe de la CIA desde
1966, envió a dos oficiales de la CIA, a los que conocía desde los
primeros preparativos de invasión a Cuba, como responsables; ambos
especialistas de la guerra psicológica y la desinformación; con
importante participación en el golpe de Estado en Guatemala, y acababan
de desembarcar de la guerra en Indochina: David Atlee Phillips y David
Sánchez Morales. La Comisión del Senado dijo que una de las consignas
que englobaba la campaña era: “La victoria de Allende significa la
violencia y la represión estalinista.”

Pero el 4 de septiembre de 1970 Allende ganó las elecciones. Escribe
Colby que “Nixon entró en cólera. Él estaba convencido de que la
victoria de Allende haría pasar a Chile al campo de la revolución
castrista y anti-americana, y que el resto de América Latina no tardaría
en seguirle los pasos.” Prosigue el ex patrón de la CIA: Nixon convocó a
Helms “y le impuso muy claramente la responsabilidad de evitar que
Allende asumiera sus funciones.” En la misma reunión Nixon encargó a
Kissinger darle un seguimiento estricto al complot.

Es que quedaba una posibilidad para evitar que Allende asumiera la
presidencia: había triunfado pero con una mayoría relativa, debido a que
las fuerzas de izquierda se habían dividido, carcomidas por la campaña
mediática y/o el dinero que la CIA logró inyectar a ciertos grupos. Por
tanto el Congreso chileno se debía reunir el 24 de octubre para decidir
entre Allende y Jorge Alessandri, candidato del partido conservador y
quien obtuviera la segunda votación. El plan de Washington era,
entonces, comprar el voto de congresistas para que no confirmaran el
triunfo del socialista. Helms envió a un “grupo de trabajo” que mantuvo
una “actividad frenética” durante seis semanas”, según relata Colby.
Esto tampoco funcionó y Allende sería declarado ganador de las elecciones.

Los operarios especiales de la CIA tomaron contacto con responsables
políticos y militares para seleccionar aquellos que podrían estar listos
para actuar contra Allende, “y determinar con ellos la ayuda financiera,
las armas y el material que fuera necesario para barrerlo de la ruta
hacia la presidencia”, según Colby.

La mayor esperanza se centró en las Fuerzas Armadas, pero todo dependía
de su comandante, el general René Schneider. El problema que encontró la
CIA es que este militar había expresado claramente que su institución
respetaría la Constitución. Y Colby, en sus Memorias, reconoce con una
naturalidad espeluznante: “Entonces era un hombre a matar. Se organiza
contra él una tentativa de secuestro que termina mal: fue herido al
oponer resistencia y muere poco después debido a las heridas.”

Según la Comisión Church el 22 de octubre, muy temprano en la mañana, la
CIA entregó a conspiradores chilenos metralletas y municiones
“esterilizadas”, denominadas así porque en caso de investigación no es
posible determinar su origen. Horas después se produjo el atentado. Tres
días después moriría Schneider, “el hombre a matar”. Inmediatamente el
presidente Nixon envió un cínico mensaje a su homólogo chileno: “Yo
quisiera hacerle parte de mi dolor ante este repugnante acto.” El
sucesor de Schneider sería un tal general Pinochet.

El 3 de noviembre de 1970 Allende se posesionó como presidente: Nixon no
le envió el regular mensaje de felicitación que exige el protocolo
diplomático, ni el embajador estadounidense asistió a la investidura.

Ahora correspondía preparar la desestabilización del nuevo gobierno, lo
cual se encargaría a la Dirección del Hemisferio Occidental de la
Agencia. Una dependencia que desde 1972 tuvo como director a un oficial
con gran experiencia en operaciones clandestinas: Ted Shackley. Y éste
nombró a su hombre-sombra, Tom Clines, para que se concentrara en el
“caso Allende”, teniendo bajo su responsabilidad a los viejos colegas
Sánchez Morales y Atlee Phillips.

En marzo del siguiente año Bill Colby vuelve a ser el superior de
Shackley y Clines como subdirector de Operaciones Especiales. Este trío
regresaba de estar al frente de la guerra sucia en Indochina, muy
particularmente en Vietnam.

Desde 1972 este equipo de la CIA, en Washington y Chile, fue
desarrollando la operación más perfeccionada de desinformación y
sabotaje económico que hasta ese momento se conociera en el mundo. Colby
confesó que fue una “experiencia de laboratorio que demostró la eficacia
de la inversión financiera para desacreditar y derrocar a un gobierno.” [6]

No fue todo. Según la Comisión del Senado estadounidense, la estación de
la CIA en Santiago se dedicó a recoger toda la información necesaria
para un eventual golpe de Estado. “Listas de personas a detener;
infraestructuras y personal civil que debían ser protegidos con
prioridad; instalaciones gubernamentales a ocupar; planes de urgencia
previstos por el gobierno si se diera un levantamiento militar.” [7]

Según el ex funcionario del Departamento de Estado, William Blum, esta
información sensible de Estado fue obtenida a partir de la “compra” de
altos funcionarios y de dirigentes políticos de la coalición partidaria
de Allende, La Unidad Popular [8] . Mientras que en Washington los
empleados de la embajada chilena se quejaban de la desaparición de
documentos, no sólo de la sede diplomática sino de sus propios
domicilios. Sus comunicaciones fueron sometidas a escucha. Un trabajo
realizado por el mismo equipo que muy poco después se involucraría en el
Watergate. [9]

La acción contra Allende necesitó de una campaña internacional de
difamación e intrigas. Buena parte de ella fue encargada a un inexperto
en política exterior y casi desconocido político, aunque viejo conocido
del presidente Nixon y de los hombres que adelantaban la operación:
George H.W. Bush. Esa tarea la realizó como embajador en la ONU, función
que ocupaba desde febrero de 1971. Cuando fue nombrado para el cargo
nadie quiso recordar que pocos meses antes había logrado, como
representante a la Cámara de Texas, que se restableciera en ese Estado
la pena de muerte para los “homosexuales reincidentes”.

El 11 de septiembre de 1973 se da el sangriento golpe de Estado contra
el gobierno de Allende, encabezado por el general Augusto Pinochet, y se
desata una terrible represión. Aunque Shackley había dejado su cargo
unos días antes de aquel fatídico día, fue la figura clave en el
operativo. Su biógrafo afirma: “Salvador Allende murió durante el golpe.
Cuando el humo se disipó, el General Augusto Pinochet, dirigente de la
Junta Militar, estaba en el poder dictatorial, debido en parte al arduo
trabajo de Shackley […]” [10]

Casi un mes después, el 16 de octubre, Henry Kissinger recibiría el
Premio Nobel de la Paz… Al año siguiente del golpe, mientras la
dictadura seguía ensangrentando a la nación, el presidente Gerald Ford
declaraba que los estadounidenses habían actuado “por los mejores
intereses de los chilenos y, obviamente, para los de Estados Unidos.” [11]

Mientras que en 1980 el ex presidente Nixon escribiría: “Los detractores
se preocupan únicamente por la represión política en Chile, e ignoran
las libertades fruto de una economía libre […] Más que reclamar la
perfección inmediata en Chile, deberíamos apoyar los progresos
realizados.” [12]

(* Con algunos pocos cambios, este es un capitulo tomado del libro “El
Equipo de Choque de la CIA”. El Viejo Topo, Barcelona, 2010.)

*Notas*:

1- Comisión especial presidida por el senador Frank Church: “Alleged
Assassination Plots Involving foreign Leaders.” November, 1975. U.S.
Government printing office 61-985, Washington, 1975.

2- Cover Action in Chile, 1963-1973. The Select Committe to Study
Governmental Operations with Respect to Intelligence Activities, US
Senate. Washington, 18 décembre 1975.

3- El presidente estadounidense Dwight David Eisenhower autorizó a la
CIA el derrocamiento de Arbenz, aplicando un plan integral, inédito
hasta ese momento en el continente, que contenía acciones de guerra
sicológica, mercenaria y paramilitar, cuyo nombre en clave fue
PBSUCCESS. Ver: Cullather, Nick. “Secret History: the CIA Classified
Accounts of its Operations in Guatemala, 1952-1954”. Stanford
University. 1999.

4- Colby, William. “30 ans de C.I.A.” Presses de la Renaissance. París,
1978.

5- Newsweek. Washington, 23 septembre 1974.

6- New York Times. 8 septembre 1974.

7- Cover Action in Chile, 1963-1973. Ob. Cit.

8- Blum, William. “Les guerres scélérates”. Parangon, París 2004.

9- Watergate se llamaba el edificio donde ese encontraban las oficinas
del Partido Demócrata. Ilegalmente, en 1972 el presidente Nixon ordenó
que fueran puestas bajo escucha. Ante las pruebas y el escándalo el
presidente debió renunciar en agosto de 1974. Ver: Marchetti, Victor y
Marks, John. “La CIA et le culte du renseignement”. Ed. Robert Laffont.
París, 1975.

10- Corn, David. Blond Ghost, “Ted Shackley and the CIA’s Crusades”.
Simon & Schuster. New York, 1994.

11- New York Times. 17 septembre 1974.

12- Nixon, Richard. “La vraie guerre”. Albin Michel. París, 1980.

.In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2021/09/11/el-otro-11-de-septiembre-washington-y-el-derrocamiento-de-allende/
11/9/2021

sábado, 11 de setembro de 2021

20 años después del 11 de septiembre

 
 


*PEPE ESCOBAR, ANALISTA INTERNACIONAL DEL DIARIO ASIA TIMES *

Es difícil no sentir escalofríos por los impresionantes terremotos
geopolíticos de los últimos días.

Exactamente hace 20 años, después del 11 de septiembre – y del inicio de
la Guerra Global contra el Terrorismo- los talibanes llevarán a cabo una
ceremonia en Kabul para celebrar su victoria sobre la idiota “Guerra
para Siempre” de Estados Unidos.

Cuatro exponentes de la integración de Eurasia – China, Rusia, Irán y
Pakistán – así como Turquía y Qatar, estarán representados oficialmente
en el acto de regreso Oficial del Emirato Islámico de Afganistán. Como
van las cosas, esto se puede calificar como «nada menos que intergaláctico».

La historia reciente se ha complicado. El portavoz de los talibanes,
Zabihullah, acaba de afirmar que “no hay pruebas suficientes ” que Osama
bin Laden estuviera involucrado en el 11 de septiembre» y que «no hay
ninguna justificación para la guerra contra el terror» . Esta fue una
«excusa para la ocupación estadounidense «.

Pocos días después del 11 de septiembre, Osama bin Laden – nunca
timorato con la publicidad – hizo una declaración a Al Jazeera: “Quiero
asegurar al mundo que no no elabore los recientes ataques, estos parecen
haber sido planificados por motivos políticos internos de EEUU (…) he
estado viviendo en el Emirato Islámico de Afganistán y siguiendo las
normas dictadas por sus gobernantes, el actual líder no me permite
realizar este tipo de operaciones”.

El 28 de septiembre, Osama bin Laden fue entrevistado por el periódico,
Karachi Ummat. Mientras viajaba entre Islamabad y Peshawar, mi compañero
de viaje, Saleem Shahzad, me rogó que analizara con atención la
información publicada en urdú.

Esta es una traducción aproximada del Servicio de Información de Estados
Unidos, una agencia de noticias, vinculada directamente con la CIA:

“Ya he dicho que no estoy involucrado en los ataques del 11 de
septiembre. Como musulmán, hago todo lo posible por no mentir. No tenía
conocimiento de estos ataques, ni considero que el asesinato de mujeres
y niños inocentes sea un acto justificable. El islam prohíbe
estrictamente causar daño a mujeres, niños y a personas inocentes. He
dicho que estamos contra del sistema estadounidense, no contra de su pueblo.

Washington debería rastrear a los autores de estos ataques dentro de su
propia gente, son personas que son parte del sistema estadounidense,
pero que están en desacuerdo como Estados Unidos está llevando las
cosas. Personas que quieren hacer de este siglo un conflicto permanente
entre el islam y el cristianismo. Lo hacen para que su civilización,
nación, país o ideología pueda sobrevivir. Luego están las agencias de
inteligencia de EEUU, que requieren miles de millones de dólares en
fondos del gobierno (…) Necesitan urgentemente un enemigo».

Esta fue la última vez que Osama bin Laden habló en público. Después,
desapareció, y aparentemente se escondió en Tora Bora: estuve allí en
2001 y años después revisé el contexto completo de lo que ocurría esos días.

Casi como un James Bond islámico o un personaje de fantasía , Osama
siguió realizando el milagro de morir una vez tras otra, comenzando en
Tora Bora, según lo informado por la cadena de extrema derecha , Fox News.  

Así que el 11 de septiembre sigue siendo un enigma, entonces, ¿qué
pasaba antes del 11 de septiembre de 2001?

*Luz verde de un jeque tuerto*

Esos años ponerse en contacto con la región del Panjshir era
prácticamente imposible: no funcionaba el teléfono satelital. Solo
después de varios días me fue posible comunicarme con Ahmad Shah
Massoud, el legendario León de Panjshir, asesinado por dos yihadistas de
al-Qaeda que se hicieron pasar por periodistas.

En una entrevista con Massou – para Asia Times el 20 de agosto- el León
de Panjshir me dijo  que estaba luchando contra una tríada: al-Qaeda,
los talibanes y el ISI paquistaní. Después de la entrevista, partió en
un Land Cruiser y luego tomó un helicóptero a Kwaja-Bahauddin, donde
terminaría los detalles de una contraofensiva contra los talibanes.

Esta fue la penúltima entrevista antes de su asesinato y posiblemente
las últimas imágenes, tomadas Jason Florio. con Massoud vivo.

Un año después del asesinato, volví a Panjshir para una investigación in
situ, confiaba sólo en fuentes locales. La investigación aparece en la
primera parte de mi libro electrónico: Asia Times Forever Wars.

La conclusión fue que la luz verde se materializó con un falso equipo de
periodistas que supuestamente entrevistaban a Massoud. El “mafioso”
encargo lo hizo el agente de la CIA y señor de la guerra Abdul Rasul
Sayyaf. Para las apariencias el asesinato lo había planificado Al Queda.

En diciembre de 2020, el diplomático canadiense Peter Dale Scott ( autor
de The Road to 9/11) y Aarón Good (editor de la revista Covert-Action)
publicaron una  notable investigación sobre el asesinato de Massoud,
este trabajo estaba cimentado en fuentes estadounidenses.

Establecieron que Sayyaf, el autor intelectual del asesinato del  jeque
Omar, cumplía teóricamente cadena perpetua en una prisión federal de
EEUU por su participación en el atentado contra el World Trade Center de
1993.

Entre otras pepitas de oro, Dale Scott y Aarón Good recordaron que el ex
ministro de Relaciones Exteriores de Pakistán, Niaz Naik, declaró a los
medios pakistaníes: “los estadounidenses tenían todo listo para atacar
Afganistán mucho antes del 11 de septiembre. Entonces, les preguntamos,
¿cuándo atacarán Afganistán? … Respondieron: antes que caiga la nieve en
Kabul. Eso significa octubre, más o menos «.

Muchos de nosotros (los corresponsales) entendimos que después del 11 de
septiembre, todo el conflicto se trataba que Estados Unidos quería
imponer su poder en Asia Central. Peter Dale Scott explicaba hace una
semana: “las dos invasiones estadounidenses (Afganistán en 2001 e Irak
en 2003) se efectuaron desde el principio con dudosos pretextos. Estos
pretextos han sido desacreditados con el paso de los años. Detrás de
ambas guerras estaba la necesidad de Estados Unidos de controlar los
combustibles fósiles que son el fundamento del petrodólar estadounidense».

*Massoud contra el Mullah Omar*

A fines de la última década de 1900 el Mullah Omar recibió a los
yihadistas en Afganistán. No solo recibió a los árabes de al-Qaeda,
también recibió a los uzbecos, chechenos, indonesios, yemeníes. (algunos
de ellos los conocí en la prisión en agosto de 2001).

Los talibanes en ese momento proporcionaron bases de apoyo, pero, como
son profundamente etnocéntricos, nunca manifestaron ningún interés por
una yihad global, que Osama había declarado en 1996.  

La posición oficial de los talibanes era que la yihad era asunto de sus
invitados y esa guerra no tenía nada que ver con Afganistán. No había
afganos en Yihad Inc. Muy pocos afganos hablan árabe. Los talibanes
nunca se dejaron seducir por prácticas como el martirio o con el sueño
de un paraíso lleno de vírgenes: prefirieron ser “ghazi”, vencedores
absolutamente vivos.

El Mullah Omar no podía expulsar a Osama bin Laden, la ética Pashtunwali
se lo impedía ; este código de honor pashtun, valora la hospitalidad
como sagrada. Cuando ocurrió el 11 de septiembre, el Mullah Omar rechazó
las amenazas estadounidenses y llamó a una asamblea de 300 altos mulás
para ratificar su posición.

La conclusión de la asamblea fue bastante matizada: por supuesto, había
que proteger al invitado, pero Osama no debía causar problemas. Por lo
tanto, “el invitado” tendría que irse de Afganistán voluntariamente.

Los talibanes también siguieron un camino paralelo: pidieron a los
estadounidenses pruebas de la culpabilidad de Osama. No se les
proporcionó ninguna. La decisión de bombardear e invadir ya se había tomado.

Esto nunca hubiera sido posible con Massoud vivo. Ese personaje era
guerrero nacionalista que se hizo famoso por sus acciones militares
anti-URSS y su lucha incesante contra los talibanes.

Cuando en Afganistán el gobierno progresista del PDPA, colapsó tres años
después del final de la Yihad (1992) Massoud podría haberse convertido
en primer ministro o en un gobernante al viejo estilo turco-persa.

Pero, el León de Panjshir cometió un grave error: temiendo una
conflagración étnica, dejó que los muyahidines, con base en Peshawar, se
hicieran con el poder. Esto condujo a una guerra civil (de 1992 a 1995)
que terminó con un despiadado bombardeo de Kabul, por parte de todas las
facciones en lucha. Este caos allanó el camino para que los talibanes –
que prometían «ley y orden»- se tomarán el poder.

Massoud fue un buen comandante, pero un mal político. Un ejemplo de lo
que sucedió es cuando los talibanes conquistaron Kabul: Massoud fue
sorprendido, pero logró retirarse a las montañas y, sin perder su
pequeño ejército consiguió derrotar a los talibanes que lo perseguían.

El León estableció una línea de defensa en la llanura de Shomali al
norte de Kabul. Visité esa línea unas semanas antes del 11 de
septiembre, de camino a Bagram que en ese momento era una base de la
Alianza del Norte prácticamente vacía.

Todo lo anterior, contrasta con el papel de Massoud hijo, quien en
teoría es el líder de la «resistencia» contra los talibanes. Ahora el
joven Massoud está completamente derrotado.

Massoud Jr. no tiene experiencia ni como comandante ni como político.
Pese a ser elogiado en París por el inefable Macron, cometió un
imperdonable traspié al aceptar ser dirigido por el agente de la CIA,
Amrullah Saleh, quien como exjefe del Directorio Nacional de Seguridad
(NDS), fue jefe de los escuadrones de la muerte del régimen afgano
títere.   

Masoud Jr. podría haber jugado un papel en un gobierno talibán 2.0. Sin
embargo, arruinó su futuro al rechazar las negociaciones de una
delegación de 40 clérigos islámicos enviados por los talibanes a la
región del Panjshir.

Ahora ya está confirmado: Saleh huyó en un helicóptero (puede que esté
en Tashkent) y Masoud Jr. está escondido en algún lugar del norte de
Panjshir.

La máquina de propaganda del 11 de septiembre está a punto de alcanzar
su punto más álgido este fin de semana. Ahora, está utilizando el
regreso al poder con descalificaciones de todo tipo: no respetaran los
derechos humanos, sin terroristas talibanes; son razonamientos perfectos
para esconder la vergonzosa humillación del Imperio del Caos.

Aunque los medios oficiales publicitan los argumentos del Estado
Profundo, su machacona narrativa tiene más agujeros que el lado oscuro
de la luna. El mito del siglo americano ha sido desacreditado por los
porfiados hechos. Lo que es evidente es su permanente retroceso: en
estos días la debacle imperial ha permitido el regreso del Emirato
Islámico en Afganistán… a la exacta posición que tenía hace 20 años.

Ahora sabemos que los talibanes no tuvieron nada que ver con el 11 de
septiembre. Y que Osama bin Laden, oculto en una cueva afgana, pudo no
haber sido el inspirador del 11 de septiembre. Ahora, también, sabemos
que el asesinato de Massoud fue el preludio del 11 de septiembre, ¿su
objetivo? : facilitar la invasión de Afganistán, una ocupación
planificada varios años antes por el estado profundo norteamericano.

Sin embargo, al igual que con el asesinato de JFK, es posible que nunca
sepamos todos los aspectos ocultos de este enigma. Tenía razón F. Scott.
Fitzgerald cuando escribió, “así seguimos avanzando, contra la corriente
y llevados incesantemente al pasado”

In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2021/09/10/20-anos-despues-del-11-de-septiembre/
10/9/2021

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Xadrez de como o bolsonarismo foi embalado pelas elites nacionais

 
 


  Luis Nassif

O importante é analisar as raízes desse fenômeno, para que o combate não
fique restrito às medidas institucionais - impeachment, julgamento,
condenação e prisão da organização familiar criminosa.


    Peça 1 – os comícios

Certamente não foram apenas 120 mil manifestantes na Paulista, conforme
os levantamentos enviesados da Polícia Militar de São Paulo. Desde as
primeiras campanhas de rua, a brava PM sempre se esmerou em minimizar a
quantidade de pessoas nas manifestações anti-impeachment e maximizar as
manifestações pró-impeachment.

Portanto, não se minimize a relevância da manifestação. Mesmo que boa
parte do público tenha vindo de fora, a multidão comprova, no mínimo, a
capacidade de arregimentação dos bolsonaristas.

Definitivamente, o bolsonarismo veio para ficar, com ou sem impeachment
de seu chefe.

O importante é analisar as raízes desse fenômeno, para que o combate não
fique restrito às medidas institucionais – impeachment, julgamento,
condenação e prisão da organização familiar criminosa.


    Peça 2 – o lúmpen

Nos últimos tempos consolidou-se o conceito do lumpen aplicada não
apenas ao proletariado. Vale para pequenos empresários, classe média e
outros setores sem ideias próprias, sem organização, conduzidos por
slogans e palavras de ordem que exploram seus preconceitos.

Quem é esse personagem? É um sujeito sem vinculações partidárias, pouco
associativo, fechado em seu núcleo familiar e de amigos, que enxerga
como ameaça qualquer input externo.

Esse personagem é frequente na história brasileira e sempre foi massa de
manobra das chamadas elites em suas disputas políticas. Nos anos 50, foi
o trabalho da mídia – notadamente da rádio Globo, no Rio de Janeiro, e
do Estadão, em São Paulo – que mobilizou a classe média lumpen,
valendo-se de dois temores quase ancestrais: a corrupção e o comunismo.

Desde sempre, manobrava algoritmos mentais, criando um bombardeio de
frases soltas, slogans ameaçadores como forma de mobilização.

Para tanto, consultem  o histórico artigo de Wanderley Guilherme dos
Santos sobre o pré-64. Intelectuais de esquerda ironizavam os discursos
de Carlos Lacerda, por serem rasos, desprovidos de conteúdo, meras
manipulações da história. Mais arguto analista do seu tempo, Wanderley
entendia o seu alcance: era o discurso que mobiliza o lumpen
<https://periodicos.ufpb.br/index.php/politicaetrabalho/article/download/12195/7060/>,
fornecendo argumentos para as discussões familiares. Ou seja, no
universo lumpen, o campo de batalha das ideias é a família, não o
sindicato, o partido político.

Mesmo assim, a coordenação das massas era externa, dos grupos econômicos
que, através da mídia e dos políticos da época, articulavam os
algoritmos analógicos.

Por trás desses pré-algoritmos, portanto, havia uma elite organizada. Em
São Paulo, o golpe foi articulado nos clubes sociais de elite e nas
associações empresariais, conforme livro de René Armand Dreifuss, “1964,
a Conquista do Estado

No Rio de Janeiro e em Brasília, em torno dos grupos da Sorbonne, de
Castelo Branco e Golbery do Couto e Silva. Atrás deles, toda a
plutocracia nacional e, obviamente, o interesse geopolítico norte-americano.

Com o golpe saindo vencedor, o lumpen voltava para a jaula e limitava-se
a ser alimentado com a carne fresca dos Atos Institucionais e prisões
arbitrárias, com a mídia mantendo acesa o mito do “inimigo” a ser
destruído.


    Peça 3 – o lumpen na redemocratização

Na redemocratização, o lumpen foi isolado.

Primeiro, pelos ventos da Constituição, uma lufada de modernização
social em defesa dos vulneráveis, em uma momento em que a plutocracia
ainda amargava a ressaca do fim do regime militar. Depois, pelo controle
absoluto da política econômica – e do noticiário de mídia – pelo tal do
mercado.

Desde então, o Brasil refletido na mídia passou a ser  o do Ministério
da Fazenda e Banco Central. Comandaram a Fazenda alguns dos Ministros
mais medíocres da história – de Pedro Malan a Henrique Meirelles,
passando por Antônio Palocci. E eram enaltecidos diariamente. Não
administravam problemas da economia, não faziam política econômica, não
buscavam o desenvolvimento: sua função era atender às demandas de
mercado, subordinar todas as decisões de políticas macro aos interesses
do mercado, ainda que à custa do prejuízo geral do país.

Os principais veículos de comunicação – os jornais nacionais da noite –
refletiam unicamente os temas de mercado. O noticiário de jornais
diários e revistas semanais era um espelho da Vila Olímpia e do Leblon.
E o lumpen era isolado em seus guetos sociais.

Com o tempo, o monumento humanista da Constituinte passou a enfrentar
dois adversários.

No alto, o mercado tratando cada migalha de direitos, cada esboço de
regulação, mesmo aquelas consagradas em países civilizados, como
impeditivos da busca de eficiência pelas empresas. E com amplo respaldo
da mídia.

Na base, o lumpen vendo o avanço das classes de menor renda sofrendo com
a perda de status e atribuindo todas suas frustrações aos direitos das
minorias.

Globalmente, depois da crise de 2008 e das políticas pós-crise,
consuma-se o fracasso do modelo liberal como agente de promoção do bem
estar geral.. Desmoralizou-se a ideia de que, liberando as empresas de
qualquer compromisso ou de qualquer responsabilidade, haveria uma
explosão de crescimento que beneficiaria a todos.

Mesmo assim, o enorme poder econômico acumulado pelos grupos
financeiros, e a desmoralização da social-democracia, após a queda do
Muro de Berlim, permitiram uma sobrevida cruel do modelo, com políticas
monetárias e fiscais visando unicamente preservar os interesses da banca.

No Brasil, esse movimento inicial foi superado pela maneira com que Lula
enfrentou a crise. Depois, os erros de política econômica da era Dilma
Rousseff – que teve seu ápice no pacote econômico de Joaquim Levy –
abriram campo para um novo movimento de manipulação do lumpen pela
plutocracia nacional.

Desenhou-se, ali, a metodologia que, anos depois, seria repetida por
Bolsonaro e que consistiu das seguintes etapas:

 1. *Desmoralização do processo eleitoral.*

As declarações de Aécio Neves questionando os resultados no mesmo dia
das eleições; as tentativas do Ministro Gilmar Mendes, no Tribunal
Superior Eleitoral, de tentar impugnar a chapa de Dilma, com amplo
respaldo da mídia. Na última hora, Luiz Fux voltou atrás e, por um voto,
não conseguiu a maioria que impugnaria a chapa Dilma-Temer.

 2. *Criação de movimentos de massa pró-impeachment.*

As grandes manifestações pró-impeachment foram diretamente coordenadas
pela Rede Globo e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(FIESP).

 3. *A volta da ameaça comunista.*

Coordenados pela revista Veja, os grupos de mídia dão início ao chamado
jornalismo de esgoto, a mais deletéria deformação do jornalismo desde as
campanhas dos anos 60. Nesse jogo, recorrem a todas as formas de
manipulação, notícias falsas, criação de inimigos imaginários, teorias
da conspiração. Veja, a propósito, “OCaso Veja – o naufrágio do
jornalismo brasileiro”.
<https://www.amazon.com.br/Caso-Veja-Luis-Nassif-ebook/dp/B09C2C9KPK/ref=nodl_>

 4. *O envolvimento dos poderes pela rua.*

Com a Lava Jato, as manifestações populares serviram para emparedar
autoridades, algumas de caráter fraco, como o ex-Procurador Geral
Rodrigo Janot.

… outros, oportunistas pretendendo cavalgar as novas ondas, valendo-se
do vácuo político criado pela Lava Jato para se apresentar como
condutores de povos. Como Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal
Federal, anunciando “as cortes constitucionais de todo o mundo” não como
defensoras da Constituição, mas como “vanguarda iluminista”.

O passo seguinte foi o questionamento da Constituição, tarefa de
desmonte conduzida pelo neoconstitucionalista Barroso, sempre em nome do
iluminismo do Barroso.

 5. *O desmonte da Constituição*

Com a corte cooptada – caso Barroso e Luiz Fux – ou intimidada – caso
Edson Fachin, Cármen Lúcia e Rosa Weber -, a Constituição passa a ser
desmontada e as interpretações manipuladas para benefício de grupos de
interesse. Foi assim no impeachment e, posteriormente, na escandalosa
interpretação de permitir a venda de subsidiárias estratégicas de
estatais, sem passar pelo Congresso.

O estupro da Constituição criou condições para a desmoralização da
Justiça. A partir daí multiplicaram-se os abusos da primeira instância e
dos tribunais inferiores, assim como de procuradores imbuídos do
espírito da guerra santa, todos contra os “inimigos” que ousassem pensar
de forma diferente.

Veja bem: estou falando do período pré-Bolsonaro, com o macartismo sendo
diretamente conduzido pelos atuais defensores da democracia.

 6. *A Ponte para o Futuro*

Desde o início estava na mesa a Ponte para o Futuro, um projeto de
destruição ampla das diversas formas de regulação e de defesa dos
vulneráveis consagradas pela Constituinte.

É essa mesma frente que vai se somar a Bolsonaro em 2018 e lhe dar
amparo político, o direito de destruir a cultura, a Educação, os
direitos sociais, em troca dos grandes negócios da privatização.


    Peça 4 – os componentes da era pré-Bolsonaro

Tendo como objetivo central os grandes negócios da privatização, durante
anos, mídia, Supremo e Lava Jato ajudaram a reforçar todos os vícios do
lumpen, a explorar os baixos instintos e a dividir o país entre homens
de bem e malvados bolivarianos.

Construíram, assim, paulatinamente, todos os elementos que, logo depois,
serviriam de alimento para o bolsonarismo.

  * O uso de fake news e teorias conspiratórias pela mídia;
  * O tratamento de “inimigo” para todo pensamento divergente, pela
    mídia, pelo Supremo e pelo Ministério Público, com o direito penal
    do inimigo se esparramando por todo o sistema jurídico.
  * Manipulação das leis e da constituição pelo Supremo, com propósitos
    políticos, não apenas no impeachment, mas no desmonte de direitos e
    na queima das estatais;
  * Grandes passeatas alimentadas a ódio. Na Copa do Mundo qualquer
    pessoa que saísse com uma blusa vermelha estava exposta a agressões
    da malta.
  * O desmonte de todas as políticas públicas a partir da era Temer,
    assim como a submissão total da política econômica ao mercado
    através da Lei do Teto, uma excrescência contábil preparada por
    imbecis e enaltecida por imbecis, julgando ter encontrado a pedra de
    Roseta para expulsar os gastos sociais do orçamento por 20 anos.
  * Todos os atos públicos, nos três poderes, subordinados ao grande
    negócio da privatização.

Como consequência, manteve-se a estagnação da economia, a volta do país
ao mapa da fome, a ampliação da miséria e da falta de perspectivas para
a classe média e a redução do mercado de consumo para o capital produtivo.

O que não se esperava é que o monstro das ruas, o lumpen, não mais
obedecesse à voz de comando da mídia tradicional. As novas tecnologias
traziam novos elementos de coordenação.


    Peça 5 – as redes sociais, a ultradireita e a contravenção

Quando as redes sociais se espalham, descobre-se a nova lógica da
informação e o poder dos algoritmos, dentre os pioneiros na utilização
dos novos instrumentos estavam os grupos econômicos que transitam nas
fronteiras da legalidade.

São atividades tolhidas pelo avanço das regras sanitárias, ambientais e
sociais, como a indústria de armas, dos cassinos, do lixo, das
atividades poluidoras, como mineração e indústria do petróleo, de olho
nas reservas indígenas.

Os primeiros financiadores da ultra direita saem desses grupos, dos
irmãos Koch a Sheldon Adelson, o chefe da máfia dos cassinos de Las Vegas.


A partir do controle sobre as novas tecnologias, esses grupos se
aproximam da ultradireita mundial. Dos supremacistas brancos, trazem o
discurso. Dos neopentecostais, a visão bíblica necessária para se
contrapor à racionalidade dos fatos. De todos esses grupos, a ideia da
desregulação total das economias, o fim dos controles sociais e
ambientais, em nome de uma suposta liberdade individual.

O discurso supremacista sai das bolhas analógicas dos confins dos
Estados Unidos e entra nas bolhas digitais por todo o mundo, passando a
se aproximar de partidos políticos e a financiar ditaduras.

Na foto abaixo, jantar na embaixada brasileira, logo após a posse de
Bolsonaro, com Steve Bannon à sua esquerda, Olavo de Carvalho, Sérgio
Moro e demais autoridades.

O uso de ferramentas digitais em eleições foi inaugurado por José Serra
em 2010. O assessor americano contratado trouxe não apenas a metodologia
de atuação nas redes, mas também os motes capazes de influenciar o
público, a maneira de atirar carne fresca ao lumpen. Temas como aborto,
Bíblia, orações são incorporados por Serra com a naturalidade de um
vira-latas intelectual, na demonstração definitiva da ausência total de
princípios que caracteriza a elite nativa.

Por não ser puro-sangue, Serra não assumiu a liderança do lumpen.  Logo
depois, com a Lava Jato, monta-se uma nova rede, mais ampla e com o
discurso moral e anticomunista consolidado.

A esta altura, firmemente associado à ultradireita internacional, o
bolsonarismo passa a beber nas tecnologias de Bannon.

Em vez dos grupos de mídia, o agente coordenador do lumpen passa a ser o
bolsonarismo, através do WhatsApp. E consegue manter, por algum tempo, o
pacto com o mercado, com o Supremo e tudo, graças às promessas de mais
desmonte do Estado e mais negócios da privatização.


    Peça 6 – relendo a história

Agora, chega-se na hora da verdade.

O país atravessa o mais grave período da sua história, com mais de 600
mil mortos pela epidemia, a fome grassando, a miséria aumentando,a
inflação, uma enorme crise elétrica à vista e a democracia sob ameaça
dos hunos.

Mas a enorme tragédia permitiu um avanço inestimável na maratona
intelectual para decifrar o enigma Brasil.

Primeiro, a constatação do fato fundador: a escravidão, uma mancha que
se incorporou definitivamente na mentalidade das elites brasileiras –
dos quatrocentões aos imigrantes que enriqueceram por aqui, dos pequenos
empresários à classe média bolsonarista. Não se trata apenas de uma
enorme indigência cultural, um provincianismo atroz, uma falta de
cultura assustadora, de um bando de pavões cultivando a modernidade
superficial dos salões, ou as lantejoulas da periferias, ambos
compartilhando o sonho de um imóvel em Miami. Mas também de uma ausência
total do sentimento de Nação, da solidariedade, da generosidade para com
os vulneráveis.

Segundo, a enorme mediocridade intelectual e moral das chamadas elites
nacionais, quase todos pensando na próxima “tacada” – a expressão criada
pelo cunhado de Rui Barbosa para descrever as jogadas do tio, Ministro
da Fazenda.

Com ou sem Bolsonaro, todos os pilares do regime democrático estão
apodrecidos. E começaram a apodrecer no dia em que mídia, Ministério
Público e Supremo permitiram as lambanças da Lava Jato.

Agora, à luz da enorme tragédia nacional, com a democracia em risco, só
resta a dissecação do cadáver daquela que foi, um dia, uma esperança de
democracia social.

  * Os grupos de mídia utilizando o jornalismo para negócios pessoais.
  * O mercado investindo contra qualquer tentativa mínima de taxação.
  * O Supremo demonstrando uma ignorância atroz sobre qualquer tema
    econômico ou social. A maneira como convalidou a privatização de
    subsidiárias das estatais, sem uma discussão mínima sobre a lógica
    dos negócios, o desmonte dos direitos sociais, sem atentar para as
    consequências sobre o mercado de consumo e a paz social, o endosso à
    Lava Jato, sem um gesto de defesa de empresas e empregos,
    comprovaram a extraordinária mediocridade da Suprema Corte – que só
    agora se permite algum gesto de grandeza, na resistência a Bolsonaro.
  * O Ministério Público Federal sendo capaz de cair de cabeça na
    cooperação internacional sem dispor de um centavo de informação
    sobre os jogos da geopolítica e os interesses nacionais.
  * As Forças Armadas não conseguindo sequer definir pontos óbvios sobre
    segurança nacional. O nível intelectual das FFAAs está refletido no
    semblante do general Augusto Heleno, cuja cabeça lateja quando pensa.
  * Os partidos políticos sendo incapazes de desenvolver um projeto
    nacional no sentido amplo. O PSDB preferiu manobrar as manadas da
    ultradireita – apropriadas depois pelo bolsonarismo. O PT se
    contentou com o trabalho meritório de reduzir a desigualdade, mas
    sem arranhar os pontos centrais das distorções brasileiras, os
    privilégios absurdos do mercado e de corporações de Estado. E foi
    incapaz de montar um conselho de estrategistas capaz de demover
    Dilma Rousseff da caminhada implacável para o desastre.

A reconstrução será dura. O preço do subdesenvolvimento, somado à
herança escravagista, torna o desafio maior ainda. Exigirá uma enorme
auto-crítica geral, que permita o primeiro passo para a reconstrução
nacional: colocar o povo como centro de todas as políticas públicas,
completando a obra inacabada da Abolição.

In
JORNAL GGN
https://jornalggn.com.br/editoria/luisnassif/xadrez-de-como-o-bolsonarismo-foi-embalado-pelas-elites-nacionais-por-luis-nassif/
9/1/2021