terça-feira, 30 de agosto de 2022

Candidatos do PCB nas eleições de 2022 e seus programas

 


Os candidatos do PCB à Presidência e Vice-Presidência da República.


    A íntegra do programa do PCB encontra-se aqui
    <https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/BR/544/candidatos/890829/programa.pdf>.


    Vinte e um pontos a destacar:

*1) JORNADA DE 30 HORAS SEMANAIS,* sem redução salarial, para criar mais
postos de trabalho e melhorar a qualidade de vida das trabalhadoras e
dos trabalhadores. Concursos públicos para melhoria e expansão dos
serviços essenciais. Programas de emprego emergenciais, com a criação de
frentes de trabalho urbanas e rurais associadas a obras de saneamento,
habitação, de reforma de escolas e hospitais, bem como de expansão da
malha ferroviária nacional.

*2) COMBATE À FOME E AO AGRONEGÓCIO.* Ampliação dos programas de auxílio
emergencial. Reforma Agrária já! Incentivo à agroecologia, sem uso de
agrotóxicos nas plantações. Criação de rede de restaurantes e mercados
populares.

*3) LEI DE RESPONSABILIDADE SOCIAL:* mais investimentos públicos na
educação, saúde, saneamento e programas sociais. Fim do teto de gastos e
da Lei de Responsabilidade Fiscal.

*4) REVOGAÇÃO DAS REFORMAS NEOLIBERAIS*, das privatizações,
terceirizações. Reestatização das empresas que foram privatizadas.
Petrobras 100% estatal sob controle dos trabalhadores.

*5) FIM DA GUERRA ÀS DROGAS!* Legalização da maconha e descriminalização
das demais drogas, dando fim à violência policial contra a população
negra e pobre nas periferias.

*6) COMBATE ÀS OPRESSÕES.* Combate permanente ao machismo, ao racismo e
à lgbtfobia. LEGALIZAÇÃO DO ABORTO, com garantia de atendimento na rede
pública de saúde. Política de cotas raciais, liberdade de culto
religioso, defesa dos direitos humanos e das liberdades democráticas.
Políticas públicas que possibilitem a emancipação da mulher dos
trabalhos domésticos (creches, refeitórios, lavanderias públicas etc)

*7) Reestruturação da dívida interna.* Criação de uma Comissão Especial
para analisar todo o processo de constituição da dívida, bem como a
suspensão do pagamento dos juros pelo período em estiver sendo realizada
a investigação.

*8) Reforma tributária.* Isenção da cobrança do imposto de renda para os
trabalhadores que ganham até 5 salários-mínimos. Congelamento das
tarifas de eletricidade, saneamento e outros serviços essenciais.
Redução da tributação sobre o consumo e criação de um imposto especial
sobre lucros e dividendos, grandes fortunas, transações financeiras e
herança.

*9) Terra e agricultura.* Confisco sem indenização de todas as grandes
propriedades fundiárias e utilização para produção de alimentos
saudáveis. Regularização imediata dos assentamentos rurais. Demarcação e
regularização das terras dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
Apoio à agricultura familiar e às cooperativas para a produção
agroecológica, sem uso de agrotóxicos.

*10) Moradia. *Confisco sem indenização dos imóveis ociosos nos grandes
centros urbanos. Programa de reforma e construção de habitações
populares, de forma a superar o déficit habitacional no período de
quatro anos.

*11) Saúde Pública.* Expansão do sistema público de saúde, com a
reversão das privatizações e revogação dos contratos de todas as OSs no
setor, no rumo da estatização de todo o setor privado de saúde: só uma
saúde 100% pública pode colocar a vida acima dos lucros. Proibição das
comunidades terapêuticas e fortalecimento do SUS na perspectiva da luta
antimanicomial. Investimento de 10% do PIB na saúde pública.

*12) Educação.* Revogação da Reforma do Ensino Médio e da lei das
escolas cívico-militares. Garantia de salários dignos e plano de
carreira para os trabalhadores da Educação. Criação de um programa
nacional de alimentação escolar para toda a educação básica. Erradicar o
analfabetismo em todo o território por meio de ampla campanha de
alfabetização. Destinação da maioria das vagas das universidades
públicas para os alunos de escolas públicas.

*13) Cultura.* Resgate da cultura popular e de massas, buscando romper
com os interesses dos monopólios dominantes nacionais e internacionais e
com a mercantilização da cultura e das artes. Incentivo à criação de
espaços culturais nos bairros, como forma de garantir o amplo acesso da
população às artes e o surgimento de novos talentos culturais nas áreas
populares.

*14) Ciência e tecnologia.* Aumento da dotação orçamentária para a
promoção do desenvolvimento científico e tecnológico realizado a partir
das universidades, instituições públicas e empresas estatais. Expansão
dos programas de bolsas de mestrado e doutorado e de apoio à pesquisa,
para o atendimento prioritário das necessidades da classe trabalhadora.

*15) Direitos das pessoas com deficiência.* Campanhas contra o
capacitismo, acessíveis e com ampla divulgação nos meios de comunicação
de massa. Garantia de ledores, intérpretes de Libras e mediadores
concursados nas escolas e universidades. Implementação de aulas de
Libras – Língua Brasileira de Sinais e Libras táteis como disciplina
obrigatória nas escolas. Acessibilidade arquitetônica e comunicacional
em escolas, universidades, hospitais, centros de lazer e cultura,
segundo os princípios do desenho universal.

*16) Transportes.* Redução dos preços dos combustíveis e reestatização
da Petrobras, utilizando os bancos públicos como o BNDES, Caixa e Banco
do Brasil para tal, com o fim imediato da política de Preço de Paridade
Internacional (PPI). Expansão da malha metro ferroviária de transporte
de passageiros e cargas por todo o país. Passe livre para estudantes e
trabalhadores isentos do imposto de renda (até cinco salários-mínimos).

*17) Segurança Pública.* Desmilitarização completa da segurança pública,
com unificação das polícias e desvinculação das forças de segurança do
exército, sob bases curriculares e formativas completamente
reestruturadas numa lógica democrática. Revogação da lei antiterrorismo
(12.850/2013).

*18) Reforma Política.* Fim do Senado e instituição de um Parlamento
Unicameral. Revogabilidade dos mandatos. Realização de plebiscitos e
referendos sobre temas de interesse nacional e popular. Fim da cláusula
de barreira e do financiamento privado eleitoral.

*19) Justiça, Memória e Verdade.* Julgamento e punição dos responsáveis
pelas torturas, assassinatos e outras violências cometidas pelos
aparatos de repressão e seus agentes contra o povo brasileiro. Combate
ao legado ideológico das ditaduras e da escravidão. Abertura total dos
arquivos da repressão, preservando a documentação existente e ampliando
o acesso ao conhecimento sobre os períodos da escravidão, das ditaduras
e sobre o genocídio da população negra e dos povos indígenas ainda em curso.

*20) Política de comunicação. *Ampliação da EBC (Empresa Brasil de
Comunicação) para todos os estados, com fortes investimentos e abertura
da programação para as universidades públicas, escolas e movimentos
populares. Redução do prazo de concessão pública dos grandes meios de
comunicação para cinco anos, tendo em vista a sua estatização a longo prazo.

*21) Política internacional.* Relações internacionais pautadas pelos
princípios da solidariedade internacionalista e da cooperação econômica,
social, política e militar com os povos latino-americanos, caribenhos e
africanos, trabalhando para quebrar a relação subimperialista da
burguesia brasileira com esses países. Relações diplomáticas plenas com
Estados de fato: Autoridade Nacional Palestina, Frente Polisário, etc.
Defesa do fim da OTAN em todos os fóruns internacionais. Defender na ONU
o fim do Conselho de Segurança e das ações imperialistas contra os povos
no mundo.

PELO PODER POPULAR! RUMO AO SOCIALISMO!

------------------------------------------------------------------------


    Candidaturas do PCB nos estados e os seus programas:

1) *SÃO PAULO:*
GABRIEL COLOMBO GOVERNADOR E MANÉ MESSIAS VICE 21
Programa do PCB de S. Paulo
<https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/SP/546/candidatos/892432/5_1660237053186.pdf>
Senador: TITO BELLIN 211
Deputada/o Federal: BEATRIZ BARBIERE 2110, EDUARDO REAL 2111, CHRISTY
MUNIZ 2112, PROF. RENATO 2122, GABRIEL MARUCCI 2121, MAX MARIANEK 2101,
JULES SARAIVA 2133, CLAUDIMAR JABÁ 2100 e CAMILO TERRA 2155
DEPUTADO/A ESTADUAL: FABI MEDRADO 21.100, MICHEL LEITE VIANA 21.001 e
GABRIEL TAVARES 21.000
Contatos: https://linktr.ee/gabrielcolombo
<https://linktr.ee/gabrielcolombo>

2) *RIO DE JANEIRO:*
EDUARDO SERRA GOVERNADOR E BIANCA NOVAES VICE 21
Programa do PCB do Rio de Janeiro
<https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/RJ/546/candidatos/898763/5_1660344517686.pdf>
Senador: HIRAN ROEDEL 211
Deputados Federais: GABRIEL MARQUES 2123, GUSTAVO PEDRO 2121 E MARIANA
NOGUEIRA 2100
Deputados Estaduais: NATHÁLIA MOZER 21021 E THIAGO COQUEIRO 21100
Contatos: https://linktr.ee/pcbrj <https://linktr.ee/pcbrj>

3) *BRASÍLIA:*
TÉO GOVERNADOR E JAMIL VICE 21
Programa do PCB do Distrito Federal
<https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/DF/546/candidatos/916236/5_1660497687244.pdf>
Contatos:
https://web.facebook.com/Teodoro-da-Cruz-T%C3%A9o-PCB-111713754979064/about/?ref <https://web.facebook.com/Teodoro-da-Cruz-T%C3%A9o-PCB-111713754979064/about/?ref>
https://www.instagram.com/pcb.df/ <https://www.instagram.com/pcb.df/>
https://www.instagram.com/teopcb/ <https://www.instagram.com/teopcb/>
https://web.facebook.com/pcbdf <https://web.facebook.com/pcbdf>

4) *MINAS GERAIS:*
RENATA REGINA GOVERNADORA E TUANI VICE 21
Programa do PCB de Minas Gerais
<https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/MG/546/candidatos/898111/5_1660059319544.pdf>
Deputados Federais: AMAURY ALONSO 2113, DANIEL CRISTIANO 2121, ESPAGUETE
2117, FLAVIANO DUELI 2199, IAGO CHAVES 2122, JÚLIA ROCHA 2100, LÍVIA
FLOR 2135, MARGÔ INÁCIO 2124, THOMÁS CARRIERI 2188 E ZULU 2111.
Deputados Estaduais: BRUNO MAROTA 21212, DIEGO ARTHUR 21021 E DUDA DAS
CADEIRAS 21210
Contatos:
https://www.instagram.com/pcbminasgerais/
<https://www.instagram.com/pcbminasgerais/>
https://www.facebook.com/pcbminasgerais
<https://www.facebook.com/pcbminasgerais>

5) *GOIÁS:*
PROFª HELGA GOVERNADORA E LINDOMAR VICE 21
Programa do PCB de Goiás
<https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/GO/546/candidatos/916297/5_1660347354570.pdf>
Deputados federais: Andriele Qualhato 2100 e Arthur Ramos 2121
Deputado estadual: Guilherme Martins 21000
Contatos:
https://www.facebook.com/helga.martinsdepaula/
<https://www.facebook.com/helga.martinsdepaula/>
https://www.instagram.com/helgamartinsdepaula/
<https://www.instagram.com/helgamartinsdepaula/>
https://www.instagram.com/pcb.go/ <https://www.instagram.com/pcb.go/>
https://www.facebook.com/pcbgoias <https://www.facebook.com/pcbgoias>

6) *PERNAMBUCO:*
JONES MANOEL GOVERNADOR E RALINE VICE 21
Programa do PCB de Pernambuco
<https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/PE/546/candidatos/917402/5_1660423225434.pdf>
Deputados Federais: ANTÔNIO OXIS 2100 E VICTÓRIA PINHEIRO 2121
Deputados Estaduais: CRISTIANO ROMÃO 21000 E LUIZA MELO 21021
Contatos:
https://linktr.ee/jonesmanoel <https://linktr.ee/jonesmanoel>
https://linktr.ee/PCBPernambuco <https://linktr.ee/PCBPernambuco>

7) *MARANHÃO:*
FRANKLE COSTA e ZÉ JK 21
Deputados Federais: Caetano Costa 2100, Dra Valuzia 2121 e Gato Félix 2122
Contatos:
https://www.facebook.com/frankledacostalima.costalima
<https://www.facebook.com/frankledacostalima.costalima>
https://instagram.com/franklecostalima
<https://instagram.com/franklecostalima>
https://www.instagram.com/pcbmaranhao/
<https://www.instagram.com/pcbmaranhao/>
https://www.facebook.com/PCB-Maranh%C3%A3o-107922555325997
<https://www.facebook.com/PCB-Maranh%C3%A3o-107922555325997>

8) *BAHIA:*
GIOVANI DAMICO GOVERNADOR E JOÃO COIMBRA VICE 21
Programa do PCB da Bahia
<https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/BA/546/candidatos/918394/5_1660515033032.pdf>
Deputados federais: Ana Karen 2110, Cheyenne Ayalla 2121 e Guilherme
Reis 2100
Contatos:
 https://linktr.ee/prof.gio <https://linktr.ee/prof.gio>
https://linktr.ee/PCB.Bahia?fbclid=IwAR1F97MlUDYQzT_SfvOPvXZyXdsQvwR6CcmGRtIabASKbDwlQsecy07HskA <https://linktr.ee/PCB.Bahia?fbclid=IwAR1F97MlUDYQzT_SfvOPvXZyXdsQvwR6CcmGRtIabASKbDwlQsecy07HskA>

9) *CEARÁ:*
CHICO MALTA GOVERNADOR E JOSÉ NAURI VICE 21
Deputados federais: Edivania Vieira 2100 e Roberto Santos 2123
Contatos:
https://linktr.ee/pcbceara <https://linktr.ee/pcbceara>
https://www.facebook.com/franciscomaltaaraujo.araujo
<https://www.facebook.com/franciscomaltaaraujo.araujo>

10) *PARANÁ:*
VIVI MOTTA GOVERNADORA E DIEGO VALDEZ VICE 21
Programa do PCB do Paraná
<https://drive.google.com/file/d/1RKydupZRrqE0MymO3q9D3moi1_bPcMgq/view?fbclid=IwAR1Ifdi-wT917DAC2qQlkYMrwyuwYRyzSfc0jH46xQcMPVVHo9DKXWulMjg>
Deputados federais: Professor Thiago Ferraiol 2100 e Vanessa Cristina 2121
Contatos:
https://instagram.com/vivimottapcb <https://instagram.com/vivimottapcb>
https://facebook.com/pcbparana <https://facebook.com/pcbparana>
https://instagram.com/pcbparana <https://instagram.com/pcbparana>

11) *RIO GRANDE DO SUL:*
CARLOS MESSALLA GOVERNADOR E CANABARRO VICE 21
Programa do PCB do Rio Grande do Sul
<https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/RS/546/candidatos/918054/5_1660494620432.pdf>
Deputado federal: Juh Guerra 2121
Deputado estadual: Leo Silvestrin 21021
Contatos:
https://instagram.com/carlosmessalla <https://instagram.com/carlosmessalla>
https://www.facebook.com/CarlosMessalla
<https://www.facebook.com/CarlosMessalla>
https://www.instagram.com/partidaors/
<https://www.instagram.com/partidaors/>
https://www.facebook.com/PCBRS <https://www.facebook.com/PCBRS>

12) *PIAUI*
Deputados Federais: Edilene Pinho 2121 e Francisco Filho 2100
Contatos:
https://www.instagram.com/pcbpiaui/ <https://www.instagram.com/pcbpiaui/>
https://www.facebook.com/profile.php?id=100068823265778
<https://www.facebook.com/profile.php?id=100068823265778>

Em
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/brasil/progr_pcb_2022.html
28/8/2022

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

A QUARTA ONDA DE ESQUERDA DA AMÉRICA LATINA DESDE A REVOLUÇÃO CUBANA É SOCIAL-DEMOCRATA

 


 
 

Vijay Prashad

    /A atual onda de vitórias eleitorais da esquerda e centro-esquerda
    não reflete inteiramente a situação dos anos 2000, quando uma “maré
    rosa” se desenvolveu após o avanço da esquerda na Venezuela liderada
    por Hugo Chávez. Naquela época, os Estados Unidos estavam focados no
    Médio Oriente, os preços das mercadorias estavam altos e havia um
    sentimento geral em toda a região contra os regimes militares e
    neoliberais anteriores./



Em 7 de agosto de 2022, a Colômbia terá um novo presidente (Gustavo
Petro) e um vice-presidente (Francia Márquez), ambos defensores dos
movimentos de esquerda do país. Eles formarão o primeiro governo de
esquerda desde que o país conquistou a sua independência em 1810. Dois
meses depois, em 2 de outubro, o povo brasileiro votará na primeira
volta das suas eleições presidenciais. As pesquisas mostram claramente
que o ex-presidente e líder de esquerda, Lula, tem vantagem sobre o
titular de direita Jair Bolsonaro; há até uma sugestão de que Lula possa
vencer na primeira volta e impedir a votação da segunda volta em 30 de
outubro. Se Lula vencer, então, dos vinte países da América Latina, mais
da metade teria um governo de centro-esquerda para a esquerda.

A atual onda de vitórias eleitorais da esquerda e centro-esquerda não
reflete inteiramente a situação dos anos 2000, quando uma “maré rosa” se
desenvolveu após o avanço da esquerda na Venezuela liderada por Hugo
Chávez. Naquela época, os Estados Unidos estavam focados no Médio
Oriente, os preços das matérias- estavam altos e havia um sentimento
geral em toda a região contra os regimes militares e neoliberais
anteriores. Chávez liderou um processo conhecido como bolivarianismo que
combinou a integração regional com políticas voltadas para enfrentar
problemas sociais profundamente enraizados no hemisfério. Era amplamente
reconhecido que a fome não poderia ser abolida, por exemplo, sem um
afastamento da dependência dos mercados de capitais do Atlântico Norte e
da presença militar dos EUA.

 

As atuais vitórias eleitorais ocorreram em condições muito mais incertas
do que na década de 2000. Por um lado, o imperialismo dos EUA é visto
como muito mais frágil do que era há vinte anos, com a debilidade da
economia dos EUA, a tentativa desesperada de enfraquecer a China e a
Rússia pelos Estados Unidos e um clima crescente em todo o mundo que já
não procura seguir os ditames de Washington. É devido a esses
desenvolvimentos que se pode ver um novo dinamismo na América Latina,
com o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador  evidenciando do
tipo de pensamento independente sobre as relações externas que agora é
comum da África do Sul à Indonésia.

 

Mas, por outro lado, a crise inflacionária global, os problemas do
crédito e da dívida e a má educação das ameaças de Washington deteve a
mão de muitos desses governos para desafiar frontalmente o imperialismo
dos EUA. Presos entre uma Guerra Fria imposta pelos EUA contra a China e
a Rússia, muitos dos países da América Latina preferem ficar de fora,
esperar pela recuperação económica geral e, enquanto isso, fornecer
esquemas básicos de bem-estar social como o limite de suas ambições. Não
estamos, portanto, a ver o bolivarianismo na sua segunda fase.

 

Brasil e Colômbia são bons exemplos do novo momento, embora essa
orientação geral seja visível tanto no Chile como no México. Nesses
países, as classes dominantes – totalmente apoiadas pelo imperialismo
norte-americano – permanecem no controlo da economia. Enquanto o governo
de centro-esquerda de Gabriel Boric no Chile disse que nacionalizaria as
minas de cobre, a sua mão foi detida por esta poderosa burguesia (este
ano é o cinquentenário da nacionalização do cobre no Chile pelo
presidente Salvador Allende, cujo governo foi derrubado num golpe no ano
seguinte). As velhas classes capitalistas mantêm as velhas hierarquias
sociais, entrelaçando-as com o poder do imperialismo norte-americano e o
narcocapitalismo de nossos tempos. Ao  governo de Petro na Colômbia, por
exemplo, já foi dito pelas forças armadas que não vão tolerar nenhuma
reforma básica (o general Eduardo Zapateiro renunciou no final de julho
para evitar ter de empossar Petro como presidente – essa é a atitude).

 

Finalmente, por causa das políticas de austeridade e do legado das
ditaduras militares, a classe operária e o campesinato no hemisfério
estão relativamente fragmentados e desorganizados. A sua incapacidade de
conduzir uma agenda radical em muitos desses países tem sido vista
repetidamente. Por exemplo, no Peru, apesar da eleição de Pedro
Castillo, de esquerda, do Perú Libre, para a presidência, os movimentos
sociais e políticos simplesmente não conseguiram responsabilizá-lo,
porque o seu governo se afastou dos seus compromissos. A crise na
Argentina em torno do regresso ao FMI também mostra a limitação das
forças populares para conduzir a sua agenda por meio de um governo de
esquerda. Portanto, é apropriado considerar as possibilidades de ser
meramente social-democrata e não socialista neste período.

 

*A DOUTRINA MONROE E A REVOLUÇÃO CUBANA*

 

Duzentos anos atrás, as forças de Simón Bolívar derrotaram os
imperialistas espanhóis na Batalha de Carabobo e abriram um período de
independência para a América Latina. No ano seguinte, em 1823, o governo
dos Estados Unidos anunciou a Doutrina Monroe. À superfície, a Doutrina
Monroe apenas diz que a Europa não tem o direito de intervir nas
Américas. No entanto, uma leitura atenta do texto, os debates nos EUA em
torno desse texto e o uso dessa Doutrina indicam que era a constituição
do imperialismo norte-americano, agora já não apenas para as Américas,
mas uma Doutrina Monroe Global. Por esta Doutrina, os Estados Unidos
conferiram-se o direito de intervir política e militarmente nos países
das Américas quando e onde quisessem. Foi com base nessa doutrina que os
EUA intervieram repetidamente na América Central, no Caribe, e na
América do Sul, derrubando governos em 2009 (Honduras) e tentando
derrubar governos atualmente (Cuba, Nicarágua, Venezuela).

 

A resistência à Doutrina Monroe surgiu quando ficou claro que os EUA a
usariam como uma licença para intervir no hemisfério e não para impedir
o imperialismo europeu. Afinal, quando a Grã-Bretanha conquistou as
Ilhas Malvinas da Argentina em 1833, os EUA não se opuseram aos
europeus, e nem os EUA impediram a entrada de capital europeu para
subordinar os novos estados das Américas (descrito em grande detalhe por
Eduardo Galeano na sua obra /Veias Abertas da América Latina/, 1971). A
intervenção dos EUA no México em 1846-1848 resultou na anexação de um
terço do território soberano do México, uma violação dos direitos
territoriais e nacionais do México. Esses eventos – Malvinas, México –
mostram a verdadeira face da Doutrina Monroe, instrumento do
imperialismo norte-americano no hemisfério que foi praticamente adotado
pela Organização dos Estados Americanos, fundada em 1948, a que Fidel
Castro chamou  Ministério das Colónias.

 

A Revolução Cubana de 1959 foi um desafio direto à Doutrina Monroe. A
Revolução afirmou os conceitos de /soberania /(contra a intervenção dos
EUA) e /dignidade /(para o crescimento social do povo). Inspirado no
exemplo da Revolução Socialista Cubana, onda após onda revolucionária
inundou a América Latina com esperança contra o imperialismo dos EUA e
por um avanço da esquerda. A *primeira onda *foi esmagado pela violência
extrema contra o exemplo cubano através dos golpes militares organizados
pelo programa norteamericano chamado Operação Condor. Esses golpes do
Brasil (1964) à Argentina (1976) ficaram na mão da alternativa cubana. O
bloqueio ilegal dos EUA contra Cuba não impediu que a ilha acelerasse o
seu socialismo e expandisse o seu internacionalismo. A *segunda onda *de
esquerda – das revoluções da Nicarágua e Granada de 1979 – abriu uma
nova esperança, que foi mais uma vez contestada pelos imperialistas
através de suas “guerras sujas” na América Central e pela aliança do
imperialismo com os narcoterroristas da região.

 

A *terceira onda *veio com a eleição de Chávez em 1999 e o avanço do que
ficou conhecido como a 'maré rosa' na América Latina. A maré foi minada
pela guerra híbrida ilegal dos EUA contra a Venezuela, pela queda nos
preços das mercadorias e pela fraqueza dos movimentos sociais e
políticos para contestar a burguesia entrincheirada em muitos países da
região. Em cada uma dessas ondas, brilhou o exemplo de Cuba.

 

Estamos agora na *quarta onda* um ressurgimento da esquerda desde a
Revolução Cubana de 1959. A onda é significativa, mas não deve ser
exagerada. Mesmo os governos de centro-esquerda mais brandos serão
forçados a enfrentar as graves crises sociais no hemisfério, crises
agravadas pelo colapso dos preços das mercadorias e pela pandemia. As
políticas contra a fome, por exemplo, exigirão recursos oriundos das
diversas burguesias domésticas ou dos direitos arrecadados pela extração
de recursos naturais. De qualquer forma, esses governos serão forçados a
um confronto tanto com sua própria burguesia como com o imperialismo
norte-americano. O teste desses governos, portanto, não estará apenas no
que eles dizem sobre esta ou aquela questão (como a Ucrânia), mas como
eles agem diante da recusa das forças do capitalismo em resolver as
grandes crises sociais do nosso tempo .


Fonte:
https://mltoday.com/latin-americas-fourth-left-wave-since-the-cubam-revolution-is-social-democratic/ <https://mltoday.com/latin-americas-fourth-left-wave-since-the-cubam-revolution-is-social-democratic/>, publicado e acedido em 11.08.2022

Em
PELO SOCIALISMO
https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/a-quarta-onda-de-esquerda-da-america-212027#cutid1
29/8/2022

sábado, 27 de agosto de 2022

A Primavera de Praga de 1968 – A contrarrevolução como o “Cavalo de Tróia” do imperialismo

 

  
   

Nikos Mottas

    /O plano para a restauração de um sistema “capitalista puro” na
    Checoslováquia em 1968 foi significativamente auxiliado por uma
    série de atividades contrarrevolucionárias do imperialismo
    internacional. Vários documentos desclassificados da CIA e do
    Departamento de Estado revelam a existência de “planos
    operacionais”, organizados pelo governo dos EUA, para a
    desestabilização da Checoslováquia./



Era agosto de 1968, na capital da República Socialista da
Checoslováquia, Praga, onde a solidariedade internacionalista dos países
do Pacto de Varsóvia esmagou um dos esforços contrarrevolucionários mais
significativos da época da Guerra Fria. Os acontecimentos em Praga
constituem um marco na luta do mundo socialista contra o
imperialismo. Ao mesmo tempo, os acontecimentos da época continuam a
servir como fonte de propaganda anticomunista de várias forças burguesas
e oportunistas.

 

Há muitas décadas, que a historiografia burguesa – apoiada por
oportunistas e contrarrevolucionários (trotskistas, eurocomunistas,
social-democratas etc.) se refere aos “tanques soviéticos” que, como
argumentam, “afogaram Praga em sangue” encerrando prematuramente o
esforço para um “socialismo de rosto humano”.

 

Os acontecimentos contrarrevolucionários de Praga em 1968 foram usados
pela burguesia internacional na sua campanha caluniadora contra a União
Soviética e a construção socialista do século XX. Esta propaganda
anticomunista-antisoviética é baseada num argumento falso: que o
processo de reformas que estavam a ser promovidos pela liderança de
Dubček [1] visava trazer um supostamente “socialismo humano” como uma
alternativa ao “modelo estalinista” imposto pela URSS.

 

Hoje, cinco décadas depois, existem inúmeros documentos, arquivos,
depoimentos e outros tipos de informações disponíveis, de onde podemos
tirar conclusões valiosas sobre o caráter real da contrarrevolução e a
contínua atividade subversiva do imperialismo. Já é hora de demolir as
mentiras anticomunistas e denunciar a terrível distorção da história.

 

O exame dos acontecimentos de 1968 na Checoslováquiaa não pode ocorrer
fora do quadro histórico do período em que esses eventos ocorreram. Este
quadro é o da Guerra Fria, do confronto, a nível global, de dois
sistemas sociais diferentes – capitalismo e socialismo. Com base nesse
confronto, o imperialismo internacional (principalmente os Estados
Unidos, assim como os países da Europa Ocidental) desenvolveu uma
estratégia bastante flexível para a subversão e o derrubamento do
socialismo. Lembremos que 12 anos antes da “Primavera de Praga”, em
1956, outra contrarrevolução (disfarçada de “revolução”) ocorreu na
vizinha Hungria.

 

A experiência da Hungria levou a uma modificação da política do
imperialismo em relação ao bloco socialista. Essa política foi explicada
por um dos “arquitetos” da então política externa dos EUA, que mais
tarde se tornou conselheiro de segurança nacional do presidente
Carter. Zbigniew Brzezinski escrevia que o tipo de mudança mais desejado
começaria com uma “liberalização interna” dos Estados do leste
europeu. Ele previa que tal “mudança” poderia ocorrer mais facilmente na
Checoslováquiaa  e depois na Hungria e na Polónia [2].

 

Antes de Brzezinski, na década de 1950, a promoção de atividades
contrarrevolucionárias “internas” nos países socialistas tinha sido
colocada como pilar da política externa norte-americana por John Foster
Dulles, secretário de Estado norte-americano durante o governo
Eisenhower. O conceito de “liberalização interna”, que Brzezinski tinha
analisado, foi a “chave” utilizada pelo imperialismo norte-americano e
seus aliados para o “desbloqueamento” da contrarrevolução na
Checoslováquiaa. A prevalência de forças oportunistas de direita na
liderança do Partido Comunista da Checoslováquiaa, sob a direção do novo
secretário-geral  Alexander Dubček, em janeiro de 1968, abriu caminho
para uma série de “reformas” e a “liberalização” do modelo socialista.


A versão projetada pelas forças burguesas e oportunistas sobre os
acontecimentos da época é que a “Primavera de Praga” (assim  foram
denominadas as reformas da liderança de Dubček) visava a
“democratização” do modelo socialista da Checoslováquiaa e o
estabelecimento de um suposto “socialismo”. com rosto humano”. Claro,
esta é uma mentira historicamente comprovada.

 

A chamada “Primavera de Praga” foi na verdade o “cavalo de tróia” do
imperialismo. Os problemas reais do sistema socialista (por exemplo, na
economia, na produção, na educação socialista, etc.)  foram usadas como
pretexto, pelas forças reacionárias no quadro ideológico do
revisionismo, com vista à implementação de políticas antossocialistas
que levariam, lenta mas firmemente à restauração do capitalismo. Anos
depois, um dos protagonistas da “Primavera de Praga”, o economista checo
Ota Šik [3], admitiu o real objetivo das reformas de 1968. Šik, um
defensor da chamada “Terceira Via”, admitiu cinicamente que as reformas
não passavam de uma manobra enganosa e que, naquela época, estava
“convencido de que a única solução era o capitalismo puro”

 

*OS PLANOS IMPERIALISTAS E A SOLIDARIEDADE INTERNACIONALISTA DA UNIÃO
SOVIÉTICA*

 

O plano para a restauração de um sistema “capitalista puro” na
Checoslováquia em 1968 foi significativamente auxiliado por uma série de
atividades contrarrevolucionárias do imperialismo internacional. Vários
documentos desclassificados da CIA e do Departamento de Estado revelam a
existência de “planos operacionais”, organizados pelo governo dos EUA,
para a desestabilização da Checoslováquia. Esses planos incluíam
sabotagens prolongadas, propaganda anticomunista generalizada,
organização e financiamento de grupos contrarrevolucionários dentro do país.

 

É significativo que apenas uma semana antes da intervenção militar dos
países do Pacto de Varsóvia, cerca de 10 a 12 mil alemães ocidentais
chegaram a Praga, enquanto vários agentes da CIA já operavam abertamente
na capital da Checoslováquiaa. Um jornal local da Califórnia tinha
publicado declarações do líder de uma organização chamada “New Americans
for Liberty”, que acabara de voltar da Checoslováquia. A sua missão,
segundo o relatório, era organizar grupos de estudantes contra o
comunismo e preparar grupos de terroristas contrarrevolucionários [5].

 

Um papel importante nos planos contrarrevolucionários imperialistas na
Checoslováquia foi desempenhado pela República Federal da Alemanha. Na
primavera de 1968, milhares de agentes secretos, espiões e sabotadores -
misturados com turistas - passaram pelas fronteiras. Em abril de 1968,
cinco postos de controle de passaportes foram abertos nas fronteiras da
Checoslováquiaa-Alemanha Ocidental; aproximadamente passavam 7.000
carros em cada um desses postos de controle todos os dias [6].

 

No início de agosto, o laço contrarrevolucionário apertava o pescoço da
Checoslováquiaa. Munições fabricadas nos EUA e na Alemanha Ocidental
foram encontradas nas caves de prédios governamentais enquanto, com a
ajuda da CIA e dos serviços secretos da Alemanha Ocidental, estações de
rádio móveis de alta potência transmitiam propaganda anticomunista por
todo o país. Foi uma questão de dias para que a revolta apoiada pelo
imperialismo se transformasse num golpe de Estado contrarrevolucionário
aberto.


A intervenção militar dos países do Pacto de Varsóvia, em 20 de agosto
de 1968, ocorreu no exato momento em que as forças
contrarrevolucionárias, com a ajuda dos imperialistas norte-americanos e
europeus, estavam a “estrangular” a Checoslováquiaa e o seu povo. A
presença das tropas soviéticas em Praga foi uma ação de solidariedade
que cancelou os planos imperialistas e salvou o povo do país do
derramamento de sangue de uma guerra civil iminente.

 

Não surpreendentemente, a historiografia burguesa e oportunista registou
a intervenção internacionalista da União Soviética e dos países do Pacto
de Varsóvia na Checoslováquia como uma “invasão soviética” que,
supostamente, ultrapassou a soberania territorial do país. Isso é uma
mentira descarada. Diante da ameaça contra-revolucionária, membros do CC
do Partido Comunista da Checoslováquiaa, bem como membros da Assembleia
Nacional, solicitaram a intervenção da URSS e dos países do Pacto de
Varsóvia. Sem a intervenção soviética, a Checoslováquia, provavelmente,
afundar-se-ia no caos de uma guerra civil sangrenta e destrutiva, antes
de se tornar outro estado-fantoche dos EUA e da  NATO.

 

Hoje, mais de 50 anos após a “Primavera de Praga” e 27 anos após as
mudanças contrarrevolucionárias na Europa Oriental, o povo da então
Checoslováquia – agora dividida em República Checa e República Eslovaca
– está a sentir os resultados da “liberdade capitalista”. Destruição dos
direitos sociais e laborais, aumento do desemprego, privatizações
extensas, aumento rápido dos sem-abrigo, aprofundamento do fosso entre
ricos e pobres, são apenas alguns dos “presentes” dados pelo capitalismo
e pela UE. Os monopólios e os grandes grupos empresariais são agora os
donos da riqueza tanto na República Checa como na Eslovaca.

 

A história é uma fonte extremamente rica de conhecimento. O caso da
Checoslováquiaa e a “Primavera de Praga” fornecem-nos  conclusões
interessantes para o passado, mas o mais importante, para as lutas de
hoje e de amanhã.

 

Notas:

 

(1) Alexander Dubček (1921-1992), foi Primeiro Secretário do Presidium
do CC do Partido Comunista da Checoslováquiaa de janeiro de 1968 a abril
de 1969.

(2) /Alternative to Partition: For a Broader Conception of America's
Role in Europe, Atlantic Policy Studies/, Nova York: McGraw-Hill, 1965.

(3) Ota Šik (1919-2004), Economista e Político, uma das figuras-chave
por trás do plano de liberalização económica.

(4) Entrevista no jornal Mlada Fronta, 8/2/1990.

(5) Gus Hall, /Imperialism today: an assessment of major issues and
events of our time,/ New York: International Publishers, 1972.

(6) /Anticomunismo: ontem e hoje/, Comité Ideológico do CC do KKE,
Synchroni Epochi, Atenas, 2006.

Em
PELO SOCIALISMO
https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/a-primavera-de-praga-de-1968-a-211556
26/8/2022
 

 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

A destruição pela Rússia da tropa ucraniana

 A destruição pela Rússia da tropa ucraniana

// Paul Craig Roberts

Os media ocidentais continuam a difundir ficção propagandística da
situação militar na Ucrânia. A realidade é-lhes difícil de aceitar: 8
anos de preparação de uma força militar de elite (cujo padrão era um
batalhão de neo-nazis dispostos a tudo), com o melhor armamento NATO,
com complexas e reforçadas estruturas de defesa no terreno, com o
“aconselhamento” de quadros das forças armadas e serviços secretos
ocidentais, apoiado pelos mais sofisticados meios de geolocalização e de
recolha de informação ocidentais, tudo isso é sistematicamente arrasado,
com enormes custos humanos e materiais. Mais do que o regime instalado
em Kiev, é o bloco EUA-NATO-UE que vem sendo assim derrotado. Nenhuma
desinformação pode alterar essa realidade.

*Ler texto completo [PDF]
<https://www.odiario.info/b2-img/destruioucrania.pdf>*

Em
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/a-destruicao-pela-russia-da-tropa/
22/8/2022

sábado, 20 de agosto de 2022

A Ucrânia será dividida e, em caso afirmativo, como?

 
 

    The Saker [*]



Algumas informações interessantes hoje. Em primeiro lugar, o Serviço de
Inteligência Exterior da Rússia, através da declaração de um
coronel-general, fez a seguinte declaração ( traduzida
<https://smoothiex12.blogspot.com/2022/08/svr-makes-statements.html> pelo meu amigo Andrei Martyanov em seu blog ):

    *“Os conservadores ocidentais praticamente já descartaram o regime
    de Kiev e já estão planeando a divisão da Ucrânia“,* disse o
    porta-voz do Serviço de Inteligência Estrangeira, coronel-general
    Volodymyr Matveev, na Conferência de Moscou sobre segurança
    internacional. “Claramente, *o Ocidente não se importa com o destino
    do regime de Kiev.* Como mostram as informações recebidas pelo SVR,
    os conservadores ocidentais quase o eliminaram e estão desenvolvendo
    planos para dividir e ocupar pelo menos parte das terras
    ucranianas”, declarou. No entanto, segundo o general, o que está em
    jogo vai muito além da Ucrânia: para Washington e seus aliados, é o
    destino do sistema colonial de dominação mundial que está em causa.

Só para esclarecer, o SVR raramente faz declarações públicas e, quando o
faz, você pode lê-las em modo literal porque o SVR não costuma recorrer
à técnica das “fugas de informação” de “fontes informadas” e a toda essa
bobagem de relações públicas das agências de inteligência (que agora
foram totalmente convertidas em veículos de propaganda altamente
politizados).

No mesmo dia, vejo este artigo no site da RT: *“Os países ocidentais
estão esperando a ‘queda da Ucrânia’ – Kiev”,* que menciona uma
declaração interessante do ministro das Relações Exteriores ucraniano:

    “Vários países ocidentais estão à espera da rendição de Kiev e
    acreditam que os seus problemas serão resolvidos imediatamente”,
    disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba,
    em entrevista publicada na terça-feira. “Muitas vezes me perguntam
    em entrevistas e quando falo com outros ministros das Relações
    Exteriores: quanto tempo você vai aguentar? Em vez de nos
    perguntarem o que poderia ser feito para nos ajudar a derrotar Putin
    o mais rápido possível”, disse Kuleba, observando que essas
    perguntas sugerem que *todos estão “esperando que caiamos e os
    problemas desapareçam por conta própria”.*

 

Futuro mapa da Ucrânia. Finalmente, algum tempo atrás, Dmitry Medvedev
postou este “mapa futuro da Ucrânia após a guerra” na sua conta do
Telegram. Este mapa mostra uma Ucrânia dividida entre os seus vizinhos e
um pequeno pedaço da Ucrânia que permanece no centro.

Para dizer a verdade, sou há muito a favor da divisão da Ucrânia em
vários estados sucessores: dei as razões para isso num meu artigo “Os
argumentos a favor da divisão da Ucrânia”
<https://thesaker.is/the-case-for-the-breakup-of-the-ukraine/> escrito
no distante ano de 2016.

Agora, seis anos depois, quais são as hipóteses disso acontecer?

Sem fazer nenhuma previsão, o que é quase impossível no momento porque
existem muitas variáveis ​​que podem influenciar significativamente o
resultado, quero elencar alguns argumentos a favor e contra a
probabilidade (em oposição à conveniência) de tal resultado.

Argumentos para a probabilidade deste resultado:

1. Em primeiro lugar, a maioria dos vizinhos da Ucrânia beneficiaria com
tal resultado. A Polónia não conseguiria o /“intermarium”/
<https://en.wikipedia.org/wiki/Intermarium> com que ainda sonha, mas
recuperaria terras que historicamente lhe pertencem e são povoadas por
muitos polacos. Neste mapa, a Roménia também se sairia bem, mesmo que a
Moldávia perdesse a Transnístria, que eles não têm hipótese de controlar
de qualquer maneira. A Roménia poderia, portanto, absorver toda a
Moldávia. É verdade que neste mapa a Hungria não recebe (quase) nada,
mas esta é uma questão que a Hungria deveria abordar com a Polónia e a
Roménia, não com a Rússia.

2. A Rússia pode nem se opor a tal desenvolvimento, simplesmente porque
deixará o problema ucraniano para outros. Desde que a atual Ucrânia
esteja totalmente desmilitarizada e desnazificada, a Rússia não terá
problemas com tal resultado.

3. O antigo território do Banderastão seria tão reduzido em tamanho,
população e recursos que representaria pouca ou nenhuma ameaça. Os
russos nunca permitirão que tenha nada mais do que uma polícia mínima e
força de segurança interna (pelo menos enquanto houver vestígios da
ideologia banderasta ukronazi nas proximidades da Rússia). As hipóteses
reais desse alfobre do Banderastão se tornar uma ameaça serão próximas
de zero. Sem mencionar que, mesmo que pudesse tornar-se uma ameaça,
seria sempre muito mais fácil para a Rússia lidar com ela, do que no
início de 2022.

4. Objetivamente, os países europeus obteriam o melhor “out” possível
para eles, porque estar num estado constante de guerra total por
procuração será absolutamente insustentável para os países europeus.

5. Quanto a “Biden”, supondo que ele ainda esteja vivo e no poder (?),
será possível para ele retirar o assunto desta última guerra perdida (de
novo!) pelos Estados Unidos das manchetes dos média e lidar com outras
questões.

6. A Ucrânia tem sido um desperdício de dinheiro, biliões e biliões, que
é essencialmente um buraco negro com um horizonte que não mostra nada e
além do qual tudo, dinheiro, material ou homens, tudo simplesmente
desaparece. Este é claramente um dreno insustentável para as economias
do Ocidente.

7. No entanto, em teoria, se um acordo for alcançado e todas as partes
concordarem, a UE poderia remover, talvez não todas, mas pelo menos as
piores sanções autodestrutivas que tão estupidamente pôs em prática e
que agora estão destruindo a economia da UE.

8. Para os Estados Unidos, a principal vantagem de tal resultado poderia
ser, em teoria, que “fecharia” a “frente russa” e permitiria que
concentrassem o seu ódio e agressão à China.

No entanto, também há muitos argumentos contra tal resultado:

1. Em primeiro lugar, as classes dominantes ocidentais, intoxicadas com
a russofobia total, teriam que aceitar que a Rússia ganhou a guerra
(mais uma vez) e derrotou as potências combinadas do Ocidente (mais uma
vez). Isso significaria uma imensa perda de prestígio e credibilidade
política de todos os envolvidos nesta guerra política contra a Rússia.

2. Em segundo lugar, para a NATO seria um desastre. Lembre-se, que o
verdadeiro objetivo da NATO é /“manter os russos fora, os americanos
dentro e os alemães em baixo”. /Nesse caso, como é que uma NATO ainda
maior aceitaria não poder ter feito absolutamente nada para impedir que
os russos alcançassem todos os seus objetivos?

3. Em terceiro lugar, enquanto os povos da UE sofrem com as devastadoras
políticas económicas dos seus líderes, as elites dominantes (o 1% da UE)
estão a ter grandes benefícios, muito obrigado, e estão-.se nas tintas
para os povos que dominam.

4. Tal resultado também poria em causa diretamente o desejo dos EUA em
manter um mundo unipolar, governado pelo tio Shmuel em hegemonia
global. O risco aqui é ocorrer um efeito de dominó político em que cada
vez mais países lutam para alcançar a verdadeira soberania, o que
representaria uma ameaça direta ao modelo económico americano.

5. É quase certo que tal resultado é inatingível enquanto os
neoconservadores governarem os Estados Unidos. E como não há sinal de
que o domínio de ferro dos neoconservadores em todas as alavancas do
poder político nos Estados Unidos esteja enfraquecendo, tal resultado só
poderia acontecer se os loucos neoconservadores fossem mandados de volta
ao porão, de onde vieram e onde pertencem. O que é improvável no futuro
próximo.

6. Este foco na divisão da Ucrânia ignora o fato de que a Ucrânia não é
o verdadeiro inimigo da Rússia. De fato, a Ucrânia perdeu a guerra
contra a Rússia nos primeiros 7 a 10 dias após o início da Operação
Militar Especail (OMS). Desde então, não é contra a Ucrânia per se que a
Rússia está a lutar, mas contra o Ocidente consolidado. Se o verdadeiro
inimigo é o Ocidente consolidado, pode-se argumentar que qualquer
resultado limitado à Ucrânia não resolveria nada. Na melhor das
hipóteses, poderia ser o estágio intermediário de uma guerra muito maior
e mais longa, na qual a Rússia terá que desmilitarizar e desnazificar
não apenas o Banderastão, mas, no mínimo, todos os países da UE/NATO.

7. Embora para alguns a guerra na Ucrânia tenha sido um desastre
econômico, foi uma bênção fantástica para o (extremamente corrupto)
complexo militar-industrial dos EUA. E nem vou entrar nos óbvios laços
de corrupção que a família Biden tem em Kiev. Se essa “solução Medvedev”
for realizada, todo esse dinheiro fácil desaparecerá.

8. Além disso, se entre os argumentos a favor de tal resultado citei a
capacidade dos Estados Unidos de “fecharem a frente russa” e se
concentrarem na China, na realidade tal argumento baseia-se numa
hipótese muito rebuscada: que ainda é possível separar a Rússia e a
China e que a Rússia permitiria que os Estados Unidos atacassem a
China. Mas a Rússia não pode permitir que a China seja derrotada, assim
como a China não pode permitir que a Rússia seja derrotada. Assim, a
noção de “fechar a frente russa” é ilusória. Na realidade, as coisas
foram longe demais para isso e nem a Rússia nem a China permitirão que
os Estados Unidos os derrubem um de cada vez.

9. A UE é dirigida por uma classe dominante /compradora/ que é
totalmente subserviente aos interesses dos neoconservadores dos EUA. Já
existem muitas tensões internas na UE e tal resultado seria um desastre
para todos os políticos europeus que ficaram presos numa guerra total
contra a Rússia; e mesmo que, digamos, os polacos, romenos ou mesmo os
húngaros tivessem algum beneficio de tal resultado, tal seria
inaceitável para os bandidos que atualmente governam a Alemanha, o Reino
Unido ou mesmo a França.

Os argumentos a favor e contra o resultado que elenquei acima são apenas
alguns exemplos, na realidade existem muitos outros argumentos em ambos
os lados desta questão. Além disso, o que fazia sentido há seis anos
pode não fazer sentido hoje.

Por exemplo, *esta discussão é sobre o “o quê”, mas não sobre o
“como”.* Deixe-me explicar.

Acho que fui a primeira pessoa no Ocidente a notar e traduzir uma
frase-chave russa: “incapaz de fazer acordos” (недоговороспособны). Essa
expressão tem sido cada vez mais usada por muitos decisores, políticos,
comentadores políticos e outros russos. Finalmente, até os analistas
ocidentais passaram a nota-la. Então, voltemos a esta questão, tendo em
mente que *os russos estão agora plenamente convencidos de que o
Ocidente é simplesmente “incapaz de fazer acordos”.* Eu diria que até ao
ultimato russo aos Estados Unidos e à NATO, os russos ainda deixavam a
porta aberta para algum tipo de negociação. No entanto, e como previ
ANTES do ultimato russo, a Rússia tirou a única conclusão possível da
posição do Ocidente:   *se nossos “parceiros” (sarcasmo) não são capazes
de fazer acordos, então chegou a hora do unilateralismo russo.*

Certamente, desde 2013, ou mesmo 2008, já havia sinais de que as tomadas
de decisão russas estavam gradualmente a tender para o
unilateralismo. *Mas o ultimato russo e a OMS são agora sinais “puros”
da adesão da Rússia ao unilateralismo, pelo menos em relação ao Ocidente
consolidado.*

Se isso for mesmo assim, então a maioria dos argumentos acima, em ambos
os lados da questão, tornou-se basicamente obsoleta e irrelevante.

Além disso, gostaria de acrescentar um pequeno lembrete aqui:   a
maioria das operações de combate na Ucrânia nem é realizada pelas forças
russas, mas pelas forças LDNR apoiadas pelo C4ISR
<https://en.wikipedia.org/wiki/C4ISR> e pelo poder de fogo russo. Mas em
termos de potencial militar real, *a Rússia usou menos de 10% das suas
forças armadas e Putin foi bastante franco sobre isso quando disse que
“nem começamos a agir a sério”.*

**

*Como acha que seria esta guerra se a Rússia decidisse utilizar todo o
seu poder militar, ou seja, os 90% das forças que atualmente não
participam da OMS?*

Aqui está uma verdade simples que a maioria das pessoas no Ocidente nem
consegue entender: a Rússia não tem medo da NATO.

Pelo contrário, os russos já compreenderam que têm os meios para impor
aos seus inimigos qualquer resultado que decidam impor
unilateralmente. A ideia de um ataque dos EUA/NATO à Rússia é
simplesmente risível. Sim, os Estados Unidos têm uma força submarina
muito poderosa que pode disparar muitos mísseis Tomahawk e Harpoon
contra alvos russos. E sim, os Estados Unidos têm uma tríade nuclear
ainda robusta. *Mas nenhum desses elementos ajudará os Estados Unidos a
vencer uma guerra terrestre contra as forças armadas russas.*

E não, enviar alguns milhares de soldados americanos para este ou aquele
país da NATO para “reforçar o flanco oriental da NATO” é pura
propaganda, militarmente nem é relevante, é risível. Nem vou comentar
sobre o envio dos F-35, que são tão ridículos e inúteis contra as forças
aeroespaciais e defesas aéreas russas que nem me vou dar ao trabalho de
discutir com quem não entende o quão ruim é o F-35 (e até mesmo o F-22!)
são muito ruins.

Não farei outro comentário sobre as capacidades militares da UE senão
este: os países que agora defendem seriamente tomar banho com menos
frequência para “mostrar a Putin” atingiram tal nível de insignificância
e degeneração que não podem ser levados a sério, e certamente não na Rússia.

Então, para onde vamos a partir daqui? Como eu disse, eu não sei, há
muitas variáveis. Mas algumas coisas me parecem claras:

1. A Rússia decidiu assumir um unilateralismo completo nas suas
políticas em relação à Ucrânia e ao Ocidente. É claro que, se e quando
necessário, os russos sempre concordarão em falar com seus “parceiros”
ocidentais, mas isso deve-se à velha política russa de sempre falar com
todos e qualquer um, até mesmo com seus piores inimigos. Porquê? Porque
nem a guerra nem o unilateralismo político são um fim em si mesmos, eles
são apenas meios para alcançar um objetivo político específico. Então, é
sempre bom sentar-se com o seu inimigo, especialmente se você tem
aumentado lenta mas seguramente a dor dele nos últimos meses! Os
europeus sendo os /“grandes invertebrados protoplasmáticos supinos”/
(para usar os termos de BoJo) podem ceder rápida e repentinamente, ou
pelo menos tentarão melhorar a sua sorte tentando contornar as suas
próprias sanções (assim o Tio Shmuel o permita, ainda que com relutância).

2. A única parte com a qual a Rússia poderia negociar seriamente é,
obviamente, os Estados Unidos. No entanto, enquanto os Estados Unidos
estiverem sob total controlo neoconservador, esse exercício será inútil.

3. Se um acordo fosse concluído, só poderia ser se fosse total e
totalmente verificável. Ao contrário da crença popular, muitos tratados
e acordos _podem_ ser totalmente auditáveis, o que não é um problema
técnico em si. No entanto, com as atuais classes dominantes do Ocidente,
é provável que nenhum acordo desse tipo seja elaborado e aceite por
todas as partes envolvidas.

O que resta então?

Há um ditado russo que minha avó me ensinou quando eu era criança:  
/“As fronteiras da Rússia estão na ponta da lança de um cossaco“./ Este
ditado, nascido após 1000 anos de guerra existencial sem fronteiras
naturais, simplesmente expressa uma realidade fundamental: são as forças
armadas russas que decidem onde termina a Rússia. Ou podemos inverter os
termos: “As únicas fronteiras naturais da Rússia são as capacidades das
Forças Armadas Russas”. Podemos pensar no unilateralismo russo pré 1917.

No entanto, levanta-se a questão da base moral e ética para tal
posição. Afinal, isso não sugere que a Rússia se dá ao direito de
invadir qualquer país só porque pode? De jeito nenhum!

Embora a história da Rússia tenha sido marcada por guerras imperialistas
e expansionistas, em comparação com os 1000 anos de imperialismo
ocidental continuado, a Rússia é apenas um doce cordeiro! Não que isso
desculpe alguma coisa, é apenas um fato. As outras guerras russas foram
quase todas guerras existenciais, pela sobrevivência e liberdade da
nação russa. Não consigo imaginar uma guerra mais “justa” do que as que
1) foram impostas; 2) aquelas em que o único objetivo é sobreviver como
uma nação livre e soberana, especialmente uma nação multiétnica e
multirreligiosa como sempre tem sido a nação russa, ao contrário dos
inimigos da Rússia que sempre foram movidos por um fervor religioso,
nacionalista e até abertamente racista (que é o que todos podemos
observar novamente hoje, muito depois do fim da Segunda Guerra Mundial).

Será isto só propaganda? Se você pensa assim, então você pode estudar a
história russa ou melhor ainda estudar a doutrina militar atual da
Rússia e você verá que *o planeamento da força russa é totalmente
defensivo,* especialmente no nível estratégico. A melhor prova disso é
que a Rússia suportou todas as políticas racistas e russófobas da
Ucrânia ou dos três estados bálticos por décadas sem intervir.

Mas quando a Ucrânia se tornou um representante de facto da NATO e
ameaçou diretamente, não apenas o Donbass, mas também a própria Rússia,
(alguém ainda se lembra que alguns dias antes da OMS, “Ze” disse que a
Ucrânia deveria ter armas nucleares?!), então a Rússia entrou em ação.
Você tem que ser cego ou fantasticamente desonesto para não admitir esse
fato autoevidente.

    Nota do autor:  A propósito, os três estados bálticos, dos quais a
    Rússia não tem necessidade, estão constantemente a tentar tornar-se
    uma ameaça militar para a Rússia, não apenas hospedando forças da
    NATO, mas também fazendo planos realmente estúpidos para “bloquear”
    o Báltico com a Finlândia
    <https://smoothiex12.blogspot.com/2022/08/mighty-estonia.html>. Acrescente-se a isso as políticas nazistas de apartheid anti Rússia em relação às minorias russas e você será perdoado por pensar que os Bálticos realmente querem ser os próximos a serem desnazificados e desmilitarizados. Mas… mas… – você me dirá – “como são membros da OTAN, não podem ser atacados!”. Bem, se você acredita 1) que um membro da NATO lutará contra a Rússia por essas ilhotas ou 2) que a NATO tem os meios militares para os proteger, então ainda tenho muito a ensinar-lhe. Mas mais, a maneira mais eficaz de lidar com os bálticos é deixá-los matarem-se economicamente, o que basicamente fizeram, e depois prometer-lhes algumas “cenouras económicas” para que adotem uma atitude mais civilizada. Há um ditado russo que diz que /“o frigorífico ganha à televisão”/ (победа холодильника над телевизором), o que significa que quando o frigorífico está vazio, a propaganda na televisão perde todo o poder. Penso que o futuro dos três estados bálticos será definido por este aforismo.

 

A Ucrânia será, portanto, dividida?

Sim, com certeza, já perdeu grandes pedaços de seu território e só vai
perder mais.

Podem os vizinhos ocidentais decidir ficar com um bocado da Ucrânia
Ocidental? Claro! É uma possibilidade real.

Mas tal será feito sempre através de ações unilaterais ou acordos
coordenados muito informalmente, envoltos em negação plausível (como o
envio de “capacetes azuis” polacos para “proteger” a Ucrânia
Ocidental). Mas, acima de tudo, prevejo que duas coisas acontecerão:  
1) a Rússia alcançará todos os seus objetivos unilateralmente, sem fazer
nenhum acordo com ninguém e   2) a Rússia só permitirá que os vizinhos
ocidentais da Ucrânia tomem partes da Ucrânia se, e somente se, essas
partes não representarem uma ameaça militar para a Rússia.

Lembra-se do que Putin disse sobre a adesão da Finlândia e da Suécia à
NATO? Ele disse que, por si só, isso não era um problema para a
Rússia. Mas ele alertou que, se esses países abrigarem forças e sistemas
de armas dos EUA/NATO que ameacem a Rússia, a Rússia tomará
contramedidas. Acho que essa é também a posição do Kremlin sobre o
futuro de um possível banderastão e sobre qualquer iniciativa dos países
da OTAN (incluindo Polónia, Roménia e Hungria) visando recuperar
territórios que historicamente lhes pertenceram ou onde têm importantes
e minorias.

No momento, estamos apenas na segunda fase da OMS (que está centrada no
Donbass) e a Rússia nem sequer lançou operações para penetrar mais fundo
na Ucrânia. *Quanto à guerra real, aquela entre a Rússia e o Ocidente
combinados, já dura há não menos que dez anos, se não mais, e essa
guerra durará muito mais do que a OMS na Ucrânia.* Finalmente, o
resultado desta guerra trará mudanças tectônicas e profundas pelo menos
tão dramáticas quanto as mudanças resultantes dos resultados da Primeira
e Segunda Guerras Mundiais.

Os russos entendem que o que eles devem fazer agora é realmente acabar
com a Segunda Guerra Mundial e que o fim formal da Segunda Guerra
Mundial em 1945 apenas marcou a transição para um tipo diferente de
guerra, ainda imposta por um Ocidente unido e consolidado, agora não
mais por nazistas alemães, mas por (principalmente) neoconservadores
americanos (que, é claro, são nazistas racistas típicos, exceto que seu
racismo é anglófono e judaico/sionista).

Concluirei com uma breve citação de Bertold Brecht que creio ser
profundamente compreendida pela Rússia de hoje:

    /“Aprenda então a ver e não a olhar.
    Fazendo em vez de falar o dia todo.
    O mundo quase foi conquistado por tal macaco!
    As nações o colocaram no lugar de seus companheiros.
    Mas não se alegre tão cedo com sua fuga –
    A barriga da qual ele saiu ainda está forte“./
    – Bertolt Brecht, "A Resistível Ascensão de Arturo Ui"

A Rússia matou muitos macacos ocidentais ao longo de sua história, agora
é a hora de finalmente lidar com a barriga da qual eles saíram.

PS: Para sua informação, a investigação russa declarou que as explosões
no aeródromo da Crimeia foram um ato de sabotagem/propaganda. Explicação
que desde o início surgia como a mais plausível.


        16/Agosto/2022
Em
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/ucrania/particao_16ago22.html#asterisco
16/8/2022

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

O que vem a seguir?

 

 

// Alastair Crooke

«Será necessária uma longa catarse para purgar a Europa de suas ilusões
de superioridade – tal como o não-ocidente as percebe – especialmente
porque a sua pretensão a uma linhagem derivada da Roma antiga ou (ainda
menos) da Grécia antiga é mais propaganda do que verdade. A “civilização
e os valores da UE” contemporânea não se articulam de forma alguma ao
mundo pré-socrático.» A queda dessas ilusões trará consigo uma provável
fractura da UE, e não haverá nenhum mal nisso.

Em Janeiro de 2013, o presidente Xi Jinping fez um discurso aos membros
do Comité Central do Partido Comunista Chinês. O seu discurso
proporcionou uma visão do nosso mundo tal como “é” e, em segundo lugar,
embora a sua análise estivesse firmemente focada nas causas da implosão
soviética, a exposição de Xi teve claramente um significado mais amplo.
Sim, é-nos – a construção ocidental – dirigido também.
Immanuel Wallenstein já havia alertado, em 1991, contra a “falsa
consciência” ocidental do triunfo da Guerra Fria: pois, como Wallenstein
aponta, o colapso soviético não foi apenas o fim do leninismo. Foi antes
o ‘começo do fim’ para ambos os polos da grande antinomia ideológica: o
da construção do ‘Século Americano, com Deus ao nosso lado’ por um lado
- e as escatologias leninistas, igualmente universalistas, por outro”.
Uma vez que esses dois eram tecidos a partir do mesmo pano ideológico
universalista – ou seja, cada um definindo (e co-constituindo) o ‘outro’
– a perda de seu inimigo maniqueu levou ao desgaste de uma série de
estruturas geopolíticas da Guerra Fria – como a ideologia predominante e
solitária carecia de qualquer explicação satisfatória para a sua
dominação, objectivos e propósitos globais – estando ausente o “inimigo”
co-constitutivo (ou seja, o comunismo).
No discurso de Xi, ele atribuiu o desmembramento da União Soviética ao
“niilismo ideológico”: as camadas dominantes, afirmou Xi, deixaram de
acreditar nas vantagens e no valor de seu “sistema” mas, carecendo de
quaisquer outras coordenadas ideológicas para situar o seu pensamento,
as elites resvalaram para o niilismo.
“Porque se desintegrou a União Soviética? Porque caiu em pedaços Partido
Comunista da União Soviética? Uma razão importante é que, no domínio
ideológico, a competição é feroz [e necessária, poderia Xi ter
acrescentado]! Repudiar completamente a experiência histórica da União
Soviética, repudiar a história do PCUS, repudiar Lénine, repudiar Stalin
– era instalar o caos na ideologia soviética e envolver-se no niilismo
histórico”, disse Xi.
Isto não vos lembra nada? Tal como os norte-americanos repudiando a
história dos EUA como ‘História do Homem Branco’? Tal como rejeitar os
anteriores líderes da América como “proprietários de escravos”? Tal como
insultar os pais fundadores e derrubar as suas estátuas?
“Uma vez que o Partido perde o controlo da ideologia, argumentou Xi, uma
vez que deixa de fornecer uma explicação satisfatória para o seu próprio
governo, objectivos e propósitos, ele dissolve-se num partido de
indivíduos fracamente articulados, ligados apenas por objectivos
pessoais de enriquecimento e poder”, (novamente Xi). O Partido é então
tomado pelo “niilismo ideológico”.
Este, no entanto, não foi o pior resultado. O pior resultado, observou
Xi, foi que o país foi tomado por pessoas sem qualquer ideologia, mas
com um desejo inteiramente cínico e egoísta de governar.
Este é o ponto de Wallenstein: o “triunfalismo prematuro” da Guerra Fria
tornou – paradoxalmente – o maniqueísmo ideológico, sobre qual
funcionava a modernidade pós-iluminista, muito mais difícil de
sustentar. Assim como uma forma de universalismo – o liberalismo –
eliminou toda competição pela hegemonia ao fazê-lo, paradoxalmente, a
consequência foi levantar o nevoeiro mental da ideologia, permitindo o
regresso da particularidade, do enraizamento e da civilização.
Este processo tem estado há décadas em funcionamento, reformulando as
políticas em todo o mundo e revivificando tradições, povos e diferentes
formas de vida. Apenas na América, na esfera anglo-saxónica e entre os
russófobos europeus, a classe dominante continuou a resistir a essas
mudanças, utilizando recursos significativos para insistir (agora de
forma totalmente cínica) na imposição da “ordem” liberal.
Este é, então, o cerne da revolução de Xi-Putin: levantar o nevoeiro e
os antolhos da ideologia, para permitir o regresso a um concerto de
estados civilizacionais e autónomos.
Assim, “Salvar a Ucrânia” surgiu para se tornar o mais recente “sinal de
virtude” na prossecução do século americano; afivelando agora um rosto
‘atento’ (“woke”), concebido para projectar os EUA como uma ‘polícia’
moral internacional, aplicando doutrinas “atentas”, mais do que como uma
grande potência convencional. (Daí que o símbolo de apoio à Ucrânia
inclui a bandeira transgénero, reforçada com a palavra “paz”).
A guerra da Ucrânia, inadvertidamente, tornou-se ícone de um confronto
maior. A Ucrânia é símbolo de duas formas entrelaçadas de ver o mundo.
E, a nível literal, é o fulcro dos passos e contra-passos no estratégico
Grande Jogo MacKinder que vem sendo elaborado.
O significado da guerra na Ucrânia, no entanto, remonta muito atrás - ao
século V - quando os ‘bárbaros’ francos, mais tarde imbuídos de um ethos
Antigo Testamento de eleito divino, e a quem o mundo estava destinado a
ser ‘entregue’ através da aniquilação daqueles que resistem à vontade
divina, invadiram a Europa Ocidental. Isso levou a Roma Antiga ao seu
fim (em 410) e, finalmente, deu instância ao Império Carolíngio (Reich).
Esqueçam Napoleão como a raiz da russofobia europeia. Os ideólogos
carolíngios, para consolidarem o poder, lançaram cinicamente uma brutal
guerra cultural contra a civilização que se estendera da China e do
Tibete a norte, à Mesopotâmia e ao Egipto a sul, e tinha raízes também
na bacia do Mediterrâneo.
A Europa moderna, ou seja, o “Ocidente”, é um produto da civilização
franca e foi construída sobre as ruínas e o sangue da civilização
anterior. Foram necessários os séculos francos para erradicar
completamente as civilizações romanas (ortodoxas) do sul da Europa e
substituí-las enquanto “novos romanos”. Esta última, portanto,
inclina-se para o judeo-cristianismo, tal como a ortodoxia se inclina
para impulsos anteriores.
Embora a ortodoxia tradicional russa ainda esteja em processo de se
reconstituir, é suficientemente poderosa para tornar fúteis quaisquer
tentativas de submeter a Rússia ao mundo neo-franco. O ponto aqui é que
para entender a guerra da Ucrânia no contexto da interacção em dupla
hélice do tradicionalismo intrínseco e da ideologia literal extrínseca é
tanto entender o que Putin quer dizer quando se refere ao nazismo e
entender por que a Rússia vê a história como um continuum de hostilidade
à civilização russa – que se estende desde O Grande Cisma (1054),
passando pelas duas Guerras Mundiais, até ao cisma de hoje centrado em
torno da Ucrânia.
Mas voltando a hoje, e à geopolítica, e ao que vem a seguir –
Em primeiro lugar, o Grande Jogo. A libertação da costa ucraniana do Mar
Negro, incluindo Mariupol e Kherson, foi uma enorme “conquista
estratégica do Grande Jogo”, uma vez que, tal como MK Bhadrakumar
perspicazmente explica, a segurança do Estreito de Kerch garante o
trânsito marítimo do Mar Negro até Moscovo e São Petersburgo, além de
proporcionar a rota marítima estratégica entre o Mar Cáspio (através do
Canal Volga-Don) ao Mar Negro e ao Mediterrâneo.
A “grande perspectiva” aqui é que o rio Volga não apenas liga o Mar
Cáspio ao Mar Báltico, mas liga também à Rota do Mar do Norte (Ártico)
(através da hidrovia Volga-Báltico). Basta dizer que a Rússia ganhou o
controlo de um sistema integrado de vias navegáveis, que liga o Mar
Negro ao Mar Cáspio, e daí ao Báltico, e também à Rota do Mar do Norte
(que é uma rota marítima de 4.800 km de comprimento que une o Atlântico
ao Oceano Pacífico, passando pelas costas russas da Sibéria e do Extremo
Oriente).
A inexorável lógica estratégica para esses movimentos é que Odessa tem
de estar na agenda estratégica da Rússia, já que é o centro de abertura
do sistema de hidrovias do Danúbio que liga a Rússia à Europa central. A
distância entre Odessa e o Delta do Danúbio é de aproximadamente 200 km.
Em seguida, o Grande Jogo da Cimeira de Teerão encenado por Moscovo. A
anterior Cimeira do Cáspio (29 de Junho) tendo assegurado o Cáspio
contra a entrada de navios da NATO, abriu caminho na Cimeira de Teerão
(19 de Julho) a uma grande ampliação do corredor Norte-Sul, ligando o
porto de São Petersburgo a norte, através Porto de Bandar Abbas do Irão
no Golfo, ao Mumbai.
Se a encenação do Grande Jogo de Moscovo parecesse excessivamente
centrada em ligações fluviais, estaríamos então a perder a segunda
metade da história. A metade que a acompanha é uma estratégia de rede de
‘corredor e oleoduto’ que cruza Irão, Ásia Ocidental e Central, Índia e
China. Era disso que tratavam os grandes contratos assinados em Teerão
(US$ 40 milhões de milhões com a Gazprom e US$ 30 milhões de milhões com
a Turquia): a energia russa alimenta a China; o desenvolvimento do campo
de South Pars do Irão alimentará a Índia com energia de baixo custo; e a
Turquia tornar-se-á um Estado-Chave de trânsito de energia.
Naturalmente, os EUA estão ocupados em obstruir este movimento do Grande
Jogo, com o chefe da CIA viajando para o Cazaquistão e a UE tentando
atrair o Azerbaijão.
E que mais? Desde há algum tempo, Moscovo vem implementando uma
arquitectura de segurança para a Ásia Ocidental. Os BRICS e a SCO estão
a ganhar peso potencial; A equipa de Lavrov tem trabalhado arduamente no
Golfo; e a Cimeira de Teerão fez este projecto alargado dar um enorme
passo a frente.
Em breve, ao que parece, podemos esperar que Moscovo tenha os seus
‘patos todos alinhados’ de modo a apresentar uma proposta a Tel Aviv:
digamos que Moscovo adianta um ‘Acordo de Minsk’ no Médio Oriente e diga
a Israel que este acordo representa o único caminho para evitar uma
guerra de múltiplas frentes com o Irão. Irá dar certo? Pode Israel fazer
a transição? É problemático. Netanyahu empurrou Israel para uma posição
ideológica de extrema-direita. Israel está agora do lado errado do
paradigma do Médio Oriente.
Paralelamente ao conflito Irão-Israel, um “Minsk” sírio pode também
aparecer – na medida em que a atenção de Moscovo à Ucrânia seja
atenuada. A Rússia está também a ampliar suavemente o movimento em
direcção a um novo sistema de comércio para o não-ocidente baseado em
commodities.
A Reuters informou na segunda-feira (18 de Julho) que a Rússia está a
procurar pagamento em dirhams dos Emirados Árabes Unidos da parte de
alguns importadores indianos pelo seu comércio de petróleo. Uma factura
a que a Reuters teve acesso mostrou que esses pagamentos devem ser
feitos ao Gazprombank via o seu banco correspondente em Dubai, o
MashreqBank. Na cimeira de Teerão, os laços entre Irão e Rússia
estreitaram-se e foi acordado um sistema conjunto de compensação financeira.
Podemos esperar mais disto: o ritmo está a acelerar. O comércio de ouro
e commodities, bem como alguns serviços financeiros como seguros de
navios e cargas, podem bem ser transferidos da Europa para a região
(para nunca mais voltar) - e talvez um mecanismo de negociação de
futuros de referência nos Urais seja estabelecido no futuro. O objectivo
é libertar das garras ocidentais os mercados de commodities, pela via da
manipulação dos mercados de papel de commodities e da negociação de opções.
Quanto à Europa, a “retribuição do gás” por parte de Moscovo pelas
sanções impostas está efectivamente a levar a UE a “auto-mutilar-se”,
imitando a mesma cartilha económica em relação ao fornecimento de gás
russo, tal como a Alemanha fez em relação aos seus baratos depósitos de
carvão. Este acontecimento ocorreu depois de a França, em 1923, ter
tomado o Ruhr (como penalidade por incumprimento nas Reparações dos
danos da guerra). Localizada no oeste do país, a região do Ruhr era o
coração industrial da Alemanha, lar da maior parte da sua produção de
carvão e aço. A Alemanha (enfrentando grandes pagamentos de Reparação)
estava determinada a subsidiar a sua base industrial e a financiar as
suas desmembradas linhas de fornecimento de armas para se rearmar –
enfrentando todavia o sequestro de um fornecimento de energia barata, o
governo de Weimar começou a imprimir dinheiro. O que a Alemanha “obteve”
foi hiperinflação e quebra das linhas de abastecimento, agravando a
inflação. Bruxelas parece pronta para seguir este mesmo manual.
O que é extraordinário aqui é que a Europa assumiu essa lacuna sobre si
mesma, num excesso de entusiasmo por “salvar a Ucrânia”. O protesto
público na Europa já começou e provavelmente aumentará ainda mais. À luz
da enorme oscilação do pêndulo da Europa da adesão a alguma aparência de
autonomia estratégica – apenas para se abandonar à influência de
Washington e da NATO – o pêndulo provavelmente voltará atrás, à medida
que a recessão e os picos de preços mordam.
O Deep State Europeu irá esforçar-se para manter o rumo, mas irá
abrir-se uma fissura na Europa entre os Estados que não ousam deixar o
‘Tio Sam’ (como a Polónia) e aqueles determinados a afastar-se e
envolver-se com a Rússia. Essas tensões podem bem fracturar a UE.
Será necessária uma longa catarse para purgar a Europa de suas ilusões
de superioridade – tal como o não-ocidente as percebe – especialmente
porque a sua pretensão a uma linhagem derivada da Roma antiga ou (ainda
menos) da Grécia antiga é mais propaganda do que verdade. A “civilização
e os valores da UE” contemporânea não se articulam de forma alguma ao
mundo pré-socrático. A Europa moderna – o Ocidente – é mais o produto da
civilização franca e carolíngia.
No entanto, Moscovo pode também, em última análise, oferecer ao tronco
europeu um “acordo de Minsk”. Isso está, contudo, provavelmente muito longe.

Fonte:
https://www.strategic-culture.org/news/2022/07/25/llusions-of-superiority-whats-next/ <https://www.strategic-culture.org/news/2022/07/25/llusions-of-superiority-whats-next/>

Em
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/o-que-vem-a-seguir/
19/8/2022

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Porque deixei de publicar mapas da situação na Ucrânia e outras questões

 
 

    The Saker [*]

Um leitor perguntou-me recentemente porque não tenho publicado mapas da
situação militar na Ucrânia. Trata-se de uma questão razoável que
respondo abaixo.

Há algumas razões para isto, mas a principal e mais óbvia é esta: ao
contrário do primeiro ou segundo mês da Operação Militar Especial (OME),
há poucas mudanças que valha a pena mostrar no mapa. Isso NÃO quer dizer
que não haja mudanças nas linhas de frente, há, muitas, mas elas
simplesmente não se traduzem em mapas bonitos.

Um post recente no Moon of Alabama
<https://www.moonofalabama.org/2022/08/ukraine-sitrep-casualties-leak-ukraine-admits-russian-breakthrough-southern-front-paralysis.html> citou o que parece ser uma fuga do comando ucraniano e que reproduzo aqui:

    Canais ucranianos estão a discutir o que pode ser uma fuga de dados
    do Estado Maior das Forças Armadas da Ucrânia (FAU):

    *

      * *As FAU estão apenas com 43-48% da sua força*
      * Os trabalhadores médicos estão no seu limite
      * As armas pequenas e armaduras não são suficientes
      * *191 mil soldados foram mortos e feridos* (só das FAU, não
        incluindo outros)
      * Não há suficiente nitrogénio hidráulico e líquido para os
        howitzers M777
      * Ninguém se importa com os desaparecidos – não há estatísticas
      * Os equipamentos transferidos pelo ocidente estão a acabar
      * As armas ocidentais são operadas por amadores, uma vez que não
        há especialistas qualificados
      * Não há meio de reparar armas nos locais devido à falta de
        sobressalentes e especialistas – tudo é enviado para a Polónia

    *

A propósito, mesmo com este relatório sombrio, não quero prever uma
rutura decisivo na moral. Em Peski, feridos que podem movimentar-se são
enviados de volta às trincheiras.

Acrescentaria aqui que Peski foi tomada.

Mas os factóides chave aqui são /“As FAU estão apenas com 43%-48% da sua
força”/ e /“191 mil soldados foram mortos e feridos (só das FAU, não
incluindo outros)”./

Os números podem variar de país para país e tudo depende do tipo de
guerra que está a ser conduzida, mas a regra básica que me ensinaram é
que qualquer unidade que perca mais de 30% da sua força não é capaz de
cumprir suas missões teóricas de combate. No entanto, na história, há
muitos exemplos de unidades com perdas de 30% ou mesmo mais, mas tais
unidades podem apenas manter-se no seu terreno, não operar uma retirada
ordenada e muito menos um contra-ataque. O resultado final é sempre o
mesmo, finalmente tais unidades colapsam e desaparecem (mortas,
prisioneiras ou em fuga).

Dito de outra forma, nesta etapa da guerra, estatísticas tais como estas
contam a história – os mapas não.

Dito isto,

A verdade é que as forças ucranianas no Donbass têm estado de facto num
caldeirão operacional desde a primeira semana da OME. Isso não resulta
de qualquer movimento especial russo, mas de um fator geográfico. Dito
simplesmente, o leste da Ucrânia é um caldeirão gigantesco. É verdade
que não é um caldeirão trancado, o que significa que o lado ucraniano
ainda podia mover forças para dentro e para fora do caldeirão, mas já
estava “trancado pelo fogo” no sentido de que forças russas podiam, e
assim o faziam, atacar as forças que se moviam para dentro e para fora
com eficácia devastadora.

Lembrete rápido: os ucranianos, apoiados por milhares de milhões de
dólares do ocidente combinado tiveram oito anos para preparar
fortificações muito robustas ao longo das cidades que controlavam antes
da OME. Talvez alguém esperasse que os russos se movessem frontalmente,
bombardeassem o Donbass controlado pelos Ukies (como os EUA fariam) e a
seguir atacassem frontalmente tendo enormes baixas no processo. Os
russos, sabiamente, não o fizeram. Ao invés disso, optaram por triturar
lentamente as defesas ucranianas.

Estas táticas, a propósito, resultaram em algumas cidades e aldeia
libertadas pela Rússia (Izum, Peski e outras) e em alguns “caldeirões”
táticos que acabaram por ser absorvidos. Mas, mais uma vez, os mapas não
refletiam a natureza do que estava a acontecer.

Uma pergunta que me fazem frequentemente é: *como é que os russos não
conseguem sequer parar o bombardeamento de Donetsk a partir de, digamos,
Avdeevka?* Eles têm uma força de artilharia muito mais forte e maior e
têm capacidades de contra-bateria muito boas, então qual é o problema aqui?

Simples. Os ucranianos posicionam a sua artilharia bem junto a edifícios
ocupados por civis. Assim quando um morteiro, howitzer ou MLRS ucraniano
dispara para Donetsk ou Makeevka, os russos VÊEM de onde foi disparado,
mas eles não podem simplesmente replicar com uma salva sua, porque isso
mataria dezenas se não centenas de civis inocentes. Isso também daria ao
ocidente o “massacre russo” que eles tanto desejavam em Bucha. Assim, ao
invés de disparar de volta, os russos então refinam seus dados de fogo,
o que não só gasta tempo como também permite aos ucranianos moverem-se,
não necessariamente muito, apenas umas poucas dezenas ou centenas de
metros, por vezes apenas para o outro lado de um edifício.

Assim os russos decidiram que mover-se devagar faz muito mais sentido do
que atacar frontalmente as fortificações ucranianas. Isto é melhor tanto
para as Repúblicas de Donetsk e Lugansk e as forças russas, além de
muito melhor para os civis.

Por que é que pensa que toda a infraestrutura civil de, digamos, Kiev ou
Kharkov, está a funcionar plenamente? Se acredita sinceramente que os
russos não podiam destruí-la no primeiro dia da OME, então pode muito
bem parar a leitura e nunca mais revisitar este blogue outra vez. De
resto, aqui está o truísmo que realmente explica tudo

*=== Os russos não combatem guerras do modo como o fazem os EUA ===*

O que quero dizer com isso?

Aqui está o plano básico de guerra dos EUA:

*

  * 1. Atacar um país basicamente indefeso
  * 2. Alcançar supremacia aérea (na ausência de quaisquer defesas
    aéreas modernas)
  * 3. Disparar uma grande quantidade de mísseis de cruzeiro, seguido
    por ataques aéreos maciços
  * 4. Se isso não for suficiente, alvejar deliberadamente e destruir
    toda a infraestrutura civil
  * 5. Enviar então forças terrestres cuja tática básica é esta: avançar
    e alvejar pessoas indefesas e, quando encontram qualquer
    resistência, pedir um ataque aéreo. A seguir continua:
  * 6. Declarar vitória e abandonar (idealmente deixando no controle um
    regime fantoche /comprador/)

*

O resultado é bem mais de um milhão de mortos no Iraque, a devastação
total da Líbia, o bombardeamento maciço de civis sérvios na Bósnia,
Croácia, Sérvia, Montenegro e Kosovo, etc, etc, etc.

*Os russos simplesmente rejeitam essa “lógica”, por razões morais e
pragmáticas. Recorde-se o ponto 6 acima! Essa “não” é uma opção viável
para os russos.*

Historicamente, o genocídio SEMPRE foi o modo ocidental de fazer a
guerra, isto é especialmente verdadeiro por parte dos britânicos e
americanos dos EUA. Não tem de acreditar em mim, simplesmente leia este
livro: /The First Way of War: American War Making on the Frontier,
1607–1814/
<https://www.bookdepository.com/First-Way-War-John-Grenier/9780521732635?ref=grid-view&qid=1660245198507&sr=1-1> de John Grenier, o qual aposentou-se da US Air Force em 2009 após uma carreira de vinte anos na qual atingiu o posto de tenente-coronel e serviu duas vezes como professor na Academia da Força Aérea. Ele atualmente exerce a função de professor senior de história militar americana no programa on-line Masters of Art in Military History (MMH) da Norwich University. Realmente, recomendo, obtenha o livro, leia-o e perca quaisquer ilusões ingénuas que possa ter acerca da “democracia ocidental” e de como “liberais” travam a guerra contra outros.

Outra pergunta que me fazem é esta: *por que os russos não contornam as
cidades e aldeias ukronazis no Donbass e avançam mais profundamente
dentro da Ucrânia.* A resposta é simples: porque colocaria as forças
russas entre as posições ucranianas ainda existentes que agora os russos
estão vagarosamente a triturar e as forças ucranianas na Ucrânia
central. Não é de surpreender que os russos não queiram ter as suas
forças a combaterem em duas frentes, uma no ocidente e outra no leste. E
acerca das famosas “operações armadura profunda” ou a utilização de
grupos táticos de batalhão como grupo de manobra tático-operacional?
Trata-se tudo de partes de uma operação combinada de armas em plena
escala, sim, mas a OME NÃO é, repito NÃO É, uma operação combinada de
armas regular. Um exemplo: quando os russos iniciaram sua OME os
ucranianos tinham uma superioridade numérica bastante substancial sobre
os russos, combinada com elementos tecnológicos militares específicos
(tais como avançadas comunicações seguras) que as forças das Repúblicas
de Lugansk e Donetsk não tinham e que os militares russos tinham, mas
não até aos mesmo níveis de subunidade como os ucranianos. O que vemos
hoje? A superioridade numérica foi-se e as tecnologias avançadas dadas
aos ukronazis pelo ocidente só tornaram as coisas mais difíceis para os
russos, mas não afetaram o resultado.

E, claro, a pergunta “favorita”: *você (e outros) disseram muitas vezes
que a Rússia podia e derrotaria a Ucrânia em dias, numa semana no
máximo. Então agora você admite que estava totalmente errado?*

Primeiro, vamos começar com a suposição [implícita] desta pergunta, ou
seja, de que a Rússia não derrotou a Ucrânia em dias ou semanas? Será
isto mesmo verdade?

Eu argumentaria que não é. Os russos basicamente INCAPACITARAM as forças
armadas ucranianas nos primeiros dias e semanas da guerra: quase todas a
força aérea ucraniana foi destruída assim como grande parte das defesas
aéreas ucranianas. Quanto às forças terrestres, elas fracassaram em
executar um único contra-ataque eficaz, no máximo elas afirmaram que
cada retirada russa resultava dos seus contra-ataques, mas deixe-me por
uma pergunta simples aqui: se aqueles contra-ataques tiveram êxito, onde
está o resultado??? Nada, além é claro dos contos de fadas absolutamente
fictícios que saem de Kiev. E uma vez que Kiev tem mentido sobre tudo
desde o primeiro dia da OME, como pode alguém levar a sério as suas
declarações grandiosas?

Então, o que realmente aconteceu?

Estatísticas de mercenários estrangeiros na Ucrânia.

O que aconteceu foi que o ocidente decidiu lançar todo o seu poder
militar por trás do regime nazi de Kiev. Não só MILHARES DE MILHÕES de
dólares de equipamento foram disponibilizados às forças ucranianas como
também MILHARES de “voluntários” foram enviado à Ucrânia para apoiar as
forças ukronazis (ver tabela).

Finalmente, mas certamente não o menos importante, os EUA e a NATO estão
a usar todas as suas capacidades C4ISR
<https://en.wikipedia.org/wiki/C4ISR> para apoio às forças ukronazis. De
facto, *seria exato dizer que os EUA+NATO agora assumiram controle pleno
de todas as operações militares na Ucrânia* (eles também presidiram a
repressão total sobre toda e qualquer oposição interna ucraniana!).

Uma vez entendido isto, deixe-me apresentar-lhe três perguntas simples:

*

  * Terei eu ou alguém declarado que a Rússia derrotaria militarmente as
    forças combinadas dos EUA+NATO em dias ou semanas?
  * Quanto tempo VOCÊ estimaria que os russos levariam para alcançar um
    tal objetivo?
  * Realmente não vê que APESAR daquele apoio maciço e total do ocidente
    a Rússia está a caminho de fazer exatamente isso, derrotar não só a
    melhor e maior força /proxy/ da história dos EUA como também todos
    os esforços combinados do ocidente para derrotar a Rússia militar e
    economicamente?

*

Se não via isto, digamos, há um mês ou dois atrás, eu poderia entender.
Mas se AINDA não percebeu isso, então declaro-o sem esperança,
encorajo-o a parar de ler este artigo e a permanecer longe deste blogue :-)

A sério, se o ocidente combinado tivesse deixado o regime ukronazi em
Kiev por sua própria conta, o “Ze” teria tido de capitular cerca de 10
dias depois do início da OME, ainda que fosse apenas para poupar as
vidas de soldados e civis ucranianos.

*Será que os russos esperavam uma reação tão maciça do ocidente?* O
termo “esperavam” é muito enganoso. Não é assim que as coisas funcionam.
Planos estratégicos e operacionais não são baseados num cenário único em
que se tem “esperança” de que se materializarão. Aqui estão duas coisas
que deveríamos recordar sempre:

*

  * É tarefa das agências de inteligência e dos departamentos de
    planeamento operacional prepararem e modelarem tantos possíveis
    cenários (ou /scenarii/?) quanto razoavelmente imagináveis.
  * Planos estratégicos e operacionais não tratam questões táticas e
    eles mudam CONSTANTEMENTE dependendo de uma reação /(feedback)/ e de
    um circuito /(loop)/ de tomada de decisões.

*

Um exemplo: Putin admitiu durante uma entrevista à TV que quando os
russos se movimentaram para dentro da Crimeia colocou as forças
nucleares russas em alerta máximo. Significa isto que alguém no Kremlin
ou no Estado Maior “esperava” que os EUA bombardeassem a Rússia? É claro
que não! Mas eles CONSIDERARAM aquela possibilidade e tomaram a ação
necessária para tentar impedi-la.

O mesmo se passa aqui. Estou muito confiante em que os russos estavam
plenamente preparados para a reação insana e, francamente, suicida, do
ocidente à OME. De facto, essa resposta “máxima” era uma das MUITAS
contingências para as quais os russos devem ter-se preparado. Como
antigo analista de inteligência, posso dizer-lhe que a análise militar
examina tantas opções quanto possível e a seguir as pessoas do
planeamento operacional fazem as suas próprias preparações para qualquer
contingência.

Agora está perfeitamente claro que o ocidente está determinado a
combater a Rússia até o último ucraniano
<http://thesaker.is/the-us-plan-for-the-ukraine-from-the-horses-mouth/>.
Daí a ordem verdadeiramente idiota dada às melhores e mais capazes
forças ucranianas de não se envolverem numa defesa móvel mas sim
manterem o seu terreno no Donbass até que fossem totalmente destruídas.

Além disso, também é perfeitamente claro que os países ocidentais estão
desejosos não só de destruir as suas próprias economias
<https://www.rt.com/news/560495-us-approves-billion-ukraine-aid/> como
todo o sistema financeiro internacional para tentar prejudicar a Rússia
(e a China) tanto quanto possível.

Por outras palavras, *a Rússia não está empenhada numa guerra contra a
Ucrânia, mas sim contra todo o ocidente unido e consolidado.*

*=== Não venho eu dizendo exatamente isto desde pelo menos 2013? ===*

*Por quanto tempo esta guerra perdurará?*

Não posso responder porque isso depende inteiramente de quão
suicidamente estúpidos são os líderes do Império Anglo-Sionista.

*As forças ucranianas no leste da Ucrânia já não têm esperança de uma
retirada ordenada, por isso serão destruídas.* Em quanto tempo? Não sei,
isso depende das pessoas nas trincheiras e do domínio que os nazis têm
sobre elas.

*Haverá um contra-ataque em direção a Kherson?* Penso ser improvável.

Por que? Porque atualmente as forças ucranianas estão entrincheiradas
dentro da cidade de Nikolaev e, se decidirem atacar, não só terão de
entrar numa formação pré-batalha fora dos limites de proteção da cidade
como também terão de atravessar uma planície quase vazia. Por outras
palavras, será um massacre.

*Poderão eles tentar?* Certamente! TODAS as ordens dadas às forças
ucranianas pelos EUA+NATO são de facto suicidas e não fazem sentido
militar. Nenhum Neocon jamais se importará com mais ucranianos massacrados.

O que mais os ucranianos poderiam fazer?

Sobretudo o que têm feito até agora, incluindo:

*

  * Massacrar tantos civis quanto possível nas áreas libertadas,
    inclusive com a utilização de armas proibidas (minas anti-pessoal e
    munições de estilhaçamento)
  * Organizar efetivos ataques terroristas não só nas áreas libertadas
    do Donbass como também dentro da Rússia (os ucranianos
    demonstraram-se muito bons nisso)
  * Podem conduzir novos ataques contra a Rússia, Crimeia e a ponte da
    Crimeia. Nada disto fará qualquer diferença militar ou sequer terá
    grande impacto, ma será bom exercício de RP, especialmente com o
    pleno apoio da máquina de propaganda anglo-sionistas, também
    conhecida como “a imprensa livre”.
  * Tentam arduamente bombardear a central nuclear de Zaporozhie. A
    central nuclear de Chernobyl pode tornar-se um alvo mais uma vez.
    Finalmente, os ukronazis até têm acesso a grande quantidade de
    combustível nuclear gasto o qual poderiam utilizar como uma “bomba
    suja” contra a sua própria população e culpar a Rússia (pense nisso
    como uma “Bucha nuclear”).
  * O fluxo constante de aeronaves de asa fixa e rotativa da Polónia,
    Roménia e outros países continuará, dando à propaganda ukronazi a
    ilusão de que a Rússia não tem superioridade aérea sobre toda a Ucrânia.

*

Há também uma possibilidade muito real de que a Polónia e a Hungria
possam mover-se para dentro da Ucrânia ocidental a fim de “proteger” os
seus nacionais. Eles, até agora, tem-se coibido de fazê-lo, pelo menos
abertamente, provavelmente porque comandantes dos EUA/NATO não quererem
arriscar um ataque russo a forças NATO (mesmo estes idiotas Biden e
Stoltenberg disseram isso publicamente!). Contudo, se fizerem de modo
inteligente, a Polónia e Hungria podem muito bem obter isso inteiramente
através de canais não-oficiais, uma promessa russa de “olhar para o
lado” e não tomar qualquer ação. Por que? Porque a Rússia não tem
necessidade do que quer que seja destes territórios e porque a Rússia
ficará mais do que feliz por deixar polacos e húngaros tratarem dos
chanfrados ukonazis da Ucrânia ocidental.

Espero que as respostas acima atendam a pelo menos algumas das perguntas
formuladas.

Mencionarei uma última coisa: enquanto o colapso do sistema financeiro
internacional já está bem em andamento, seus efeitos, até agora, não
foram sentidos plenamente, mais definitivamente não nos EUA e nem mesmo
na UE. Quando a magnitude deste desastre auto-infligido se tornar
absolutamente inegável, mesmo para a “imprensa livre” dirigida pelos
Neocon, as coisas no ocidente começarão a mudar politicamente. Assim,
agora é tempo de esperar e ver, não de especular.

Andrei


        10/Agosto/2022


    [*] Analista militar.

Em
RESISTIR INFO
https://www.resistir.info/russia/saker_10ago22.html
12/8/2022