sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Por que razão um número recorde de trabalhadores está a despedir-se e a entrar em greve

 
    

POR SONALI KOLHATKAR

    /As greves anunciadas estão a verificar-se com //tanta intensidade e
    rapidez// que o ex-secretário do Trabalho dos Estados
    Unidos, //Robert Reich// , chamou à situação "greve geral não
    declarada"./

 
 
Em 14 de setembro, uma jovem do Louisiana chamada Beth McGrath pôs uma
/ selfie/num vídeo no Facebookmostrando-a a trabalhar no Walmart^1 . A
sua linguagem corporal mostra uma energia nervosa enquanto ganha coragem
para falar no intercomunicador da loja e anuncia a sua demissão aos
compradores. “Toda a gente aqui está sobrecarregada e mal paga”, começa
ela, antes de chamar os gerentes de pessoal que avaliam os
comportamentos impróprios e abusivos. “Espero que vocês não falem com as
vossas famílias da maneira como falam connosco”, disse ela antes de
terminar com um “f ** -se este trabalho!”.

Talvez McGrath se tenha inspirado em Shana Ragland em Lubbock, Texas,
que quase um ano atrás se despediu publicamente num vídeo do TikTok que
publicou na loja Walmart onde trabalhava. As queixas de Ragland eram
semelhantes às de McGrath, quando acusava os gerentes de depreciarem
constantemente os trabalhadores. “Espero que vocês não falem com as
vossas filhas da mesma forma que falam comigo”, disse ela pelo
intercomunicador da loja antes de desligar com um : “F ** -se os
gerentes, f **-se esta empresa.” As renúncias virais dessas duas jovens
estão a marcar um ano de volatilidade da força de trabalho americana que
os economistas chamaram a “Grande Renúncia” . As mulheres, em
particular, são vistas como as líderes da tendência.

 A gravidade da situação foi confirmada pelo último relatório do Bureau
of Labor Statistics  [Instituto para as estatísticas do trabalho]
mostrando que um recorde de 2,9 por cento da força de trabalho abandonou
os seus empregos em agosto, o que equivale a 4,3 milhões de saídas.

 Se uma taxa tão alta de demissões estivesse a ocorrer num momento em
que os empregos eram abundantes, isso poderia ser visto como um sinal de
uma economia em expansão, onde os trabalhadores têm possibilidades de
escolha. Mas o mesmo relatório sobre o trabalho mostrou que as vagas de
emprego também diminuíram, sugerindo que algo mais está a
acontecer. Uma nova sondagem  da Harris com pessoas empregadas descobriu
que mais de metade dos trabalhadores quer deixar os seus
empregos. Muitos citam os patrões indiferentes e a falta de
flexibilidade de horários como motivos para querer sair. Por outras
palavras, milhões de trabalhadores americanos estão simplesmente fartos.

 A turbulência no mercado de trabalho é tão séria que Jack Kelly, um
colaborador sénior da Forbes.com , uma agência de notícias sobre
economia e negócios, definiu a tendência como “uma espécie de revolução
dos trabalhadores e de levantamento contra os maus patrões e empresas
surdas que se recusam a pagar bem e a tirar proveito da sua equipe. ” No
que pode ser uma referência a vídeos virais como os de McGrath, Ragland
e a tendência crescente de postagens de #QuitMyJob , Kelly prossegue
dizendo: “Os que se despedem estão a fazer uma declaração poderosa,
positiva e auto-afirmativa dizendo que “não aguento mais os
comportamentos abusivos. ”

 Ainda assim, alguns consultores sugerem combater a raiva dos
trabalhadores com “ exercícios de vínculo ”, como “partilha de gratidão”
e jogos. Outros sugerem aumentar a confiança entre trabalhadores e
chefes ou “ exercitar a curiosidade empática ” com os funcionários. Mas
essas abordagens superficiais perdem totalmente o objetivo.

As demissões devem ser vistas lado a lado com outra poderosa corrente
que muitos economistas estão a ignorar: uma crescente disposição dos
trabalhadores sindicalizados de entrar em greve.

As equipes de filmagem podem interromper o trabalho em breve, pois
60.000 membros da Aliança Internacional de Funcionários do Palco Teatral
(IATSE)  anunciaram uma greve nacional iminente. Cerca de 10.000
funcionários da John Deere^2 , representados pelo United Auto Workers
[União dos Trabalhadores do setor automóvel], também estão  preparar-se
para entrar em greve após rejeitar um novo contrato. A Kaiser
Permanente^3 está a enfrentar uma potencial greve de 24.000  das suas
enfermeiras e outros profissionais de saúde nos estados ocidentais por
causa dos baixos salários e más condições de trabalho. E cerca de 1.400
trabalhadores da Kellogg^4 em Nebraska, Michigan, Pensilvânia e
Tennessee já estão em greve por causa dos baixos salários e  por direitos.

As greves anunciadas estão a verificar-se com tanta intensidade e
rapidez que o ex-secretário do Trabalho dos Estados Unidos, Robert
Reich , chamou à situação "greve geral não declarada".

Ainda assim, a filiação sindical permanece extremamente baixa nos
Estados Unidos - o resultado de décadas de esforços coordenados pelas
grandes empresas para minar o poder negocial dos trabalhadores. Hoje,
apenas cerca de 12% dos trabalhadores estão sindicalizados.

 O número de greves e de trabalhadores em greve poderia ser muito maior
se mais trabalhadores fossem sindicalizados. Trabalhadores não
sindicalizados como McGrath e Ragland contratadas por empresas
historicamente anti-sindicais como o Walmart poderiam ter sido capazes
de organizar os seus colegas de trabalho em vez de recorrer a demissões
individuais. Embora os/posts/virais  nas  redes sociais sobre o abandono
dos postos de trabalho tenham um impacto sobre a orientação das
conversas e sobre a insatisfação do trabalhador, elas têm pouca
influência direta na sua vida  e na dos colegas que deixaram para trás.

 Um exemplo de como a organização sindical faz uma diferença concreta
nas condições de trabalho é um novo contrato que 7.000 trabalhadores das
farmácias das lojas Rite Aid e CVS em Los Angeles acabaram de
ratificar. O United Food and Commercial Workers Local 770 [UFCW Local
700: Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação e Comércio - Local 770]
negociou um aumento salarial de quase 10% para os trabalhadores, bem
como outros direitos e a melhoria de padrões de segurança.

 E quando as empresas não cumprem, os trabalhadores têm mais influência
ao atuar como uma unidade de negociação coletiva do que
individualmente. Veja-se os trabalhadores da Nabisco_^5 _ que entraram
em greve em cinco Estados neste verão. A Mondelez International, empresa
que controla a Nabisco, teve lucros recordes durante a pandemia com
vendas crescentes dos seus aperitivos. A empresa estava tão cheia de
dinheiro que compensou o seu CEO com uma remuneração anual colossal de
US $ 16,8 milhões e gastou US $ 1,5 bilhão em recompras de ações no
início deste ano. Enquanto isso, o salário médio dos trabalhadores era
terrivelmente baixo, US $ 31.000 por ano. Muitos empregos da Nabisco
foram deslocalizados através da fronteira, para o México, onde a empresa
conseguiu reduzir ainda mais os custos de mão de obra.

 Depois de várias semanas no piquete, os trabalhadores da Nabisco em
greve, representados pelo Sindicato Internacional da Panificação,
Confeitaria, Tabacos e Moagens, retomaramo trabalho com modestos
aumentos retroativos de 2,25%, prémios de $ 5.000 e contribuições mais
elevadas do patronato para os seus planos de reforma. A empresa, que
relatou um aumento de 12% na receita no início deste ano, pode suportar
isso e muito mais.

 Juntamente com as saídas em massa, essas greves de trabalhadores
revelam uma profunda insatisfação com a natureza do trabalho americano
que vem sendo construído há décadas. A América empresarial tem
desfrutado de um controle político, gastando os seus lucros
em _lóbis_ junto do governo para garantir lucros ainda maiores à custa
dos direitos dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, o poder dos sindicatos
caiu - uma tendência diretamente ligada ao aumento da desigualdade
económica.

 Mas agora, quando os trabalhadores estão a tomar consciência do seu
poder, a América empresarial está preocupada. Na esteira dessas greves e
demissões, os legisladores estão ativamente a tentar fortalecer as leis
laborais federais existentes. Os  grupos empresariais estão a pressionar
os democratas para enfraquecer as medidas pró-trabalh_adores _ incluídas
na Lei /Build Back Better/^6 que está a ser debatida no Congresso.

 Atualmente, o patronato pode violar as leis laborais com poucas
consequências, pois o National Labor Relations Board (NLRB) [Conselho
Nacional para as Relações Laborais] não tem autoridade para multar os
infratores. Mas os democratas querem dar autoridade ao NLRB para impor
multas de US $ 50.000 a US $ 100.000 contra empresas que violam as leis
do trabalho federais. Também está incluído na Lei Build Back Better
um aumento nas multas contra os patrões que violem os padrões da
Administração de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA).

 A Coligação Por um Local de Trabalho Democrático, que é um grupo de
lóbi empresarial que deseja tudo menos democracia no local de trabalho,
está profundamente preocupada com essas mudanças propostas e enviou
uma carta aos legisladores nesse sentido. Resta saber se os lobistas
empresariais terão sucesso desta vez em manter as leis laborais
ineficazes. Mas, à medida que os trabalhadores continuam a pedir
demissão e as greves entre os trabalhadores sindicalizados aumentam, o
patronato ignora por sua conta e risco os sinais de alerta de raiva e
frustração.

 /Este artigo foi produzido por //Economy for All// , um projeto do
Instituto Independente para a Comunicação Social/

Sonali Kolhatkar/ é o fundador, apresentador e produtor executivo de
“Rising Up With Sonali”, um programa de televisão e rádio que vai para o
ar na Free Speech TV (Dish Network, DirecTV, Roku) e nas estações
Pacifica KPFK, KPFA e filiadas. /

 *^1 *A Walmart Inc. é uma empresa multinacional americana de  retalho
que opera uma rede de hipermercados,  centros comerciais e supermercados
dos Estados Unidos, com sede em Bentonville , Arkansas. Em 31 de julho
de 2021, o Walmart tinha 10.524 lojas e clubes em 24 países, operando
com 48 nomes diferentes. É a maior empresa do mundo em receita, com US $
548,743 mil milhões, de acordo com a lista Fortune Global 500 em 2020. É
também o maior empregador privado do mundo, com 2,2 milhões de
trabalhadores.

* ^2 *A J*ohn Deere*  é uma das maiores fabricantes mundiais de
equipamentos agrícolas e de construção do mundo.

 *^3  **Kaiser Permanente*é um consórcio americano de gestão integrada,
com sede em Oakland, Califórnia. A Kaiser Permanente é composta por três
grupos distintos e interdependentes de entidades: o Kaiser Foundation
Health Plan, Inc. (KFHP) ; Hospitais da Fundação Kaiser; e os Grupos
Médicos Permanentes regionais. Em 2017, a Kaiser Permanente opera em
oito
Estados(Havaí, Washington, Oregon, Califórnia, Colorado, Maryland, Virgínia, Geórgia)
e no Distrito de Columbia, e é a maior organização de gestão de
atendimento  nos Estados Unidos.

A Kaiser Permanente é um dos maiores planos de saúde dos Estados Unidos,
com mais de 12 milhões de associados. Opera 39 hospitais e mais de 700
consultórios médicos, com mais de 300.000 funcionários, incluindo mais
de 80.000 médicos e enfermeiras.

*^4 **Kellogg Company*(informalmente *Kellogg's*) é uma empresa
multinacional americana, produtora de cereais, como o "Frosted Flakes"

*^5 Nabisco*, cujo nome advém das iniciais
de *Na*tional *Bis*cuit *Co*mpany, é uma empresa americana fabricante
de biscoitos e outros tipos de doces. Sediada em East Hanover, Nova
Jérsia, foi fundada em 1898, após a fusão de várias empresas regionais
fabricantes de biscoitos. Em junho de 2000, foi comprada pela Altria por
14,9 mil milhões de dólares e foi fundida com a Kraft Foods e assim se
tornou-se uma subsidiária da segunda maior empresa de alimentos do mundo.

*^6 *Nas palavras da Casa Branca a «/O Build Back Better Agenda/ /é um
plano [e/ um conjunto de leis] /ambicioso para criar empregos, cortar
impostos e reduzir custos para as famílias trabalhadoras - tudo pago
através de um código tributário mais justo e fazendo com que as empresas
maiores e mais ricas paguem a sua justa parte/». É uma espécie de PRR
doméstico nos EUA.

Fonte:
https://www.counterpunch.org/2021/10/18/why-record-numbers-of-workers-are-quitting-and-striking/
<https://www.counterpunch.org/2021/10/18/why-record-numbers-of-workers-are-quitting-and-striking/>

Publicado e acedido em 18 de outubro de 2021

In
PELO SOCIALISMO
https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/por-que-razao-um-numero-recorde-de-168130
29/10/2021

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

China: una «profunda revolución” hacia el objetivo de una nueva “prosperidad común”






*ALBERTO CRUZ, PERIODISTA INVESTIGADOR DEL CEPRID*

El debate ya es abierto, por más que desde sectores de la pretendida
izquierda –y bajo las ‎supuestas banderas obreristas– se trate de
desprestigiar y situándose donde siempre, en el poder ‎hegemónico
occidental. En China hay un giro anticapitalista evidente producto de
una ‎‎«profunda revolución» que se enmarca en el objetivo, planteado en
el 14º Plan Quinquenal, ‎en octubre de 2020, de lograr una «prosperidad
común» para el año 2035.‎

Gusten o no, los acontecimientos políticos en China no dejan de dar
lugar a titulares en ‎los medios financieros capitalistas desde que en
noviembre del año pasado se inició lo que ‎ha sido denominado como
«represión» contra los grandes capitalistas, un movimiento que ‎comenzó
cuando se detuvo la oferta pública de adquisición de acciones del Grupo
Ant, propiedad ‎del multimillonario Jack Ma y “brazo financiero” de su
gran emporio Aliaba [1]. ‎

Aunque frunció el ceño y emitió las acostumbradas críticas sobre la
«represión comunista», ‎ni siquiera el casi todopoderoso Wall Street vio
en aquel momento lo que ese hecho ‎conllevaba. Pero luego ocurrió otro
tanto con otras grandes empresas, tanto de tecnología ‎financiera como
de transporte, y se llegó a la educación, a la tecnología del
entretenimiento y a ‎la construcción. Fue entonces cuando se desató el
pánico.‎

El penúltimo movimiento –el último está aún por llegar– es el tema de la
especulación ‎inmobiliaria que representa Evergrande Group y cómo lo ha
enfrentado Pekín, en las antípodas de ‎lo que hizo en su momento el
capitalismo con la crisis de Lehman Brothers. ‎

El capitalismo occidental se relamía con lo que anticipaba como «el
momento Lehman Brothers ‎de China», el golpe definitivo a los chinos y a
su empuje geopolítico. Pero no, China ha ‎demostrado que se puede actuar
de otra forma porque la diferencia entre el caso de Lehman ‎Brothers,
que generó la crisis capitalista de 2008 (de la que aún no se ha salido,
y que se suma ‎a la generada ahora por el Covid-19), es que en China hay
un Estado mientras que en Occidente ‎los Estados han sido destruidos por
el neoliberalismo.‎

En China se evitó el tsunami de 2008 aplicando medidas económicas
impulsadas por el Estado ‎‎(construcción de casas, de infraestructuras,
etc.) para evitar costos sociales y enfrentar el ‎desempleo que se
habría generado de no actuar así puesto que todo el sistema económico
‎basado en la producción de bienes para la exportación quedó casi
paralizado por la crisis ‎occidental.

Todo eso sirvió para proteger a la población china (hay que comparar
esta actuación, pensada ‎para la gente, con el despropósito occidental
que se tradujo en un significativo incremento del ‎desempleo y de las
privatizaciones). Pero eso tuvo un costo que reforzó el capital
especulativo, ‎sobre todo en el sector inmobiliario, porque estas
medidas, si se quiere de emergencia, ‎terminaron fortaleciendo el
capitalismo chino al tiempo que terminaron salvando al capitalismo
‎occidental.‎

Ya ha pasado más de un mes desde que «la crisis de Evergrande» parecía
que iba a llevarse por ‎delante la «amenaza» china, pero no solo no ha
sido así, sino que el gobierno chino ha ‎utilizado esa «crisis» para
enfrentar uno de los grandes retos anunciados en el 14º Plan
‎Quinquenal. Ese reto, en el lenguaje chino, ha sido enunciado como
«abordar las tres grandes ‎montañas»: la educación, la vivienda y la
sanidad. Son los tres grandes retos que China ‎se plantea para lograr la
«prosperidad común», el gran objetivo proclamado hace un año y que ‎se
espera alcanzar en 2035.‎

Si a la educación privada ya se le dio un golpe importante a principios
de este año (aunque aún ‎no se abordado su modificación definitiva),
ahora llega el turno de la vivienda. En efecto, ‎aprovechando la
coyuntura de la crisis, ya se ha dicho en China, y que debería tenerse
‎en cuenta en otros parámetros fuera de ese país: « la vivienda es para
vivir, no para ‎especular.» ‎

Es decir, el gobierno chino va a actuar, pero no en interés de los
grandes capitalistas de ‎Evergrande sino a favor del interés de la
gente. Eso va a traducirse, de hecho ya está sucediendo, ‎en que muchas
de las viviendas vacías van a convertirse en viviendas sociales y ‎se
incentivará la empresa a que las venda mucho más baratas. Eso ya puede
cuantificarse ‎porque desde que se anunció que «la vivienda es para
vivir, no para especular» –algo ‎súper sensato, pero que sólo los chinos
parecen haber entendido–, el precio ya ha bajado entre ‎‎28% y 52%,
dependiendo de la zona donde se sitúe. ‎

Pero esa caída de los precios incluye no sólo las viviendas de
Evergrande, sino que es una ‎tendencia generalizada. El Estado chino
está interviniendo en los precios, sin tocar ‎‎«el mercado». ‎

Otro ejemplo: por ley, en China los alquileres no pueden incrementarse
en más de un 5% anual. ‎Para comparar: en España el precio medio del
alquiler entre abril y septiembre de este año ‎‎2021 fue del 4,3%, es
decir, en medio año casi lo mismo que en todo el año en China. Y sin los
‎límites máximos que imponen los chinos.‎

Curiosamente, Bloomberg se queja, afirmando que «no es eso lo que el
mercado quiere ‎escuchar». Y en Occidente se critica que en China se
esté pagando a los acreedores locales de ‎Evergrande «mientras que los
acreedores extraterritoriales están en el limbo». Y ¿quiénes son
‎algunos de esos «acreedores extraterritoriales»? Pues nada menos que
BlackRock y HSBC. ‎O Blackstone, que se olió la tostada y se deshizo
casi todos sus bonos en Evergrande.‎

Wall Street está rabiando y habla de «nacionalización suave» de
Evergrande… porque en China ‎se preocupan de los locales y no de los
extranjeros (Reuters, 20 de octubre) y porque el gobierno ‎provincial de
Guangdong ha suspendido un acuerdo de venta de una compañía subsidiaria
de ‎Evergrande (Servicios Propiedad de Evergrande) porque la operación
no le parece clara. ‎

Porque la clave está en que, en China, no es la empresa –léase, los
empresarios privados– quien supervisa ‎la situación. Son los gobiernos,
en este caso, el gobierno local de Guangdong, donde está ‎situada esa
subsidiaria. Supongo que no hace falta decir que el gobierno es el
Partido ‎Comunista de China. Porque el gobierno central, o sea, el
Partido Comunista de China (PCCh), ‎ha dado instrucciones a los
gobiernos locales para mitigar las consecuencias sociales y ‎económicas,
instrucciones como que las empresas estatales y municipales se hagan
cargo de ‎todas las propiedades locales de Evergrande para ponerlas a
disposición de la gente.‎

Por cierto, los temores de Wall Street sobre una «nacionalización suave»
no son nuevos ‎porque el gobierno chino anunció que Evergrande es capaz
de salir de su situación sin ayudas, ‎por sí misma, y que si eso no
fuese así se impulsaría una nacionalización, la empresa sería ‎dividida
en sectores y se asestaría así un nuevo golpe al capitalismo –uno más.
Aún no se ha ‎llegado a eso porque Evergrande, respaldada en ello por el
gobierno, está luchando por salir de ‎la crisis por sus propios medios. ‎

Pero la posibilidad de nacionalización está ahí, presente y anunciada.
Porque lo que no se sabe ‎en Occidente, o más bien ‎se oculta, es que en
China el Estado es propietario de los terrenos donde ‎se construye y
sólo los alquila a los promotores de vivienda por períodos de tiempo
fijos. ‎Por lo tanto, lo que hace el Estado chino es recuperar esos
terrenos con todo lo que tienen ‎encima, aunque compensando a la empresa
en función del tiempo que falte para la expiración ‎del alquiler.‎

En Occidente ya se sabe que el capitalismo chino está en dificultades
porque el Partido ‎Comunista así lo ha querido, porque el gobierno ha
decidido combatir el peligro que representan ‎los gigantes financieros,
un peligro que podría –y subrayo el condicional– trastocar el camino
‎hacia esa «sociedad moderadamente próspera», hacia esa «prosperidad
común» que ‎se anunció como objetivo en el 14º Plan Quinquenal. De ahí
parte todo. Lo que estamos viendo es otra ‎muestra más de cómo se está
segando la hierba debajo de los pies de los partidarios de un ‎sistema
financiero como el occidental, ultraespeculativo y desregulado. ‎Por eso
en China se habla de «profunda revolución».‎

Este es el quid de la cuestión: En China la «prosperidad común» se pone
por encima de los intereses de los acreedores extranjeros, mientras que
en Occidente es al revés. La diferencia entre Lehman ‎y Evergrande es
como el agua y el aceite. Lehman Brothers operaba en el «mercado libre»,
‎donde el Estado es inexistente, y Evergrande operaba en un mercado
regulado, donde el Estado ‎tiene poder de decisión.‎

‎EL RETORNO AL INTERÉS DEL PUEBLO…

‎Es evidente que China está regresando del capitalismo a las personas,
de una transformación ‎económica de 30 años centrada en el capital a una
que en los últimos 10 años ha venido ‎mirando a las personas y que ahora
comienza a centrarse en la gente, de cara a ese año 2035. En eso
‎consiste la «profunda revolución», una especie de regreso a la
intención original del PCCh, ‎como observaba el Diario del Pueblo en su
edición china del 1º de septiembre:

«hay que combatir el caos del gran capital (…) porque el mercado de
capitales ya ‎no puede convertirse en un paraíso para que los
capitalistas se enriquezcan de la noche ‎a la mañana (…) y la opinión
pública ya no estará en posición de adorar la cultura ‎occidental.»

‎En ese mismo artículo del Diario del Pueblo aparece otra frase a tener
muy en cuenta: ‎

‎/«Si China confía en los capitalistas para luchar contra el
imperialismo estadounidense ‎podría sufrir la misma suerte que la Unión
Soviética.»‎/

El Diario del Pueblo es el órgano oficial del Partido Comunista, por lo
que hay que tener muy ‎en cuenta lo que en él se publica. Ese artículo
nos dice que hay una nueva era en China y que ‎la etapa de Deng
Xiaoping, los tiempos del «no importa si el gato es negro o blanco, sino
que ‎cace ratones», están comenzando a pasar a la historia.‎

En sentido estricto, la etapa de Deng (1980-2000) fue como el trampolín
oficial hacia una ‎Nueva Política Económica al estilo leninista, es
decir, donde la «etapa primaria del socialismo» ‎necesitaba mercados y
capital privado para crecer. Pero, al contrario que la NEP de Lenin, ‎lo
que se hizo en China fue dar carta blanca al capital privado y al mercado.‎

En el año 2000, un año después del fallecimiento de Deng, China se unió
a la Organización ‎Mundial del Comercio, con el beneplácito de
Occidente, sobre todo de Estados Unidos, donde el ‎auge del capitalismo
chino suscitaba gran entusiasmo. Pero, a partir de ahí, se inició un
cambio ‎que está cristalizando ahora: en 2003, con Hu Jintao como
secretario general del PCCh, se inició ‎un tímido regreso a los
orígenes, hablando de «socialismo científico», de bienestar social y de
‎‎«sociedad socialista armoniosa», lo cual, curiosamente, se interpretó
en Occidente como un ‎fortalecimiento del capitalismo chino y una mayor
liberalización política.‎

Hu Jintao tuvo como sucesor a Xi Jinping y lo que se había iniciado de
forma tímida, adquirió ‎velocidad. Hasta llegar a lo de ahora, a lo que
está conmocionando a todo el capitalismo ‎occidental, aunque las bases
sólidas para ello ya existían desde 2017. Ese año se realizó el ‎‎19º
Congreso del PCCh y lo que se aprobó entonces está en el origen de todo
lo que hoy vemos ‎y que se desarrolla en el 14º Plan Quinquenal.

Entre otras cosas, muy simplificado todo y muy ‎resumido, aquel congreso
estableció que el PCCh debe optar por un enfoque centrado en ‎las
personas para el bienestar público; mejorar los medios de vida y el
bienestar de las personas ‎como objetivo principal; practicar los
valores fundamentales socialistas, incluido el marxismo, el ‎comunismo y
el socialismo con características chinas, y mejorar la disciplina en el
Partido.‎

O sea, una mayor ideologización y más sentido de lo colectivo. Puede que
en Occidente pensaran ‎entonces que eso no está mal, exceptuando lo
último, ya que es un discurso que también se oye ‎en Occidente, aunque
no se practique.

La diferencia es que en China va en serio, se está ‎poniendo en práctica
y que el último punto es crucial porque se añadía lo siguiente:‎

/«el análisis de Marx y Engels sobre las contradicciones en la sociedad
capitalista no está ‎desactualizado, ni la visión materialista histórica
de que el capitalismo está destinado ‎a morir y el socialismo está
destinado a ganar. (…) La razón fundamental por la que ‎algunos de
nuestros camaradas tienen ideales y creencias vacilantes es que sus
puntos ‎de vista carecen de una firme base en el materialismo histórico.»‎/

En otras palabras, China está echando a un lado el capitalismo
compulsivo al estilo occidental ‎‎(capitalismo financiero improductivo,
desestabilizador y monopolista) para construir capital social ‎y dar un
rumbo más estatal a la economía (una NEP leninista). China no se deshace
del ‎capitalismo, al menos por ahora, pero sí establece límites cada vez
más estrictos para ‎los capitalistas y siempre en función de los
intereses del Estado. Eso incluye, cómo no, ‎al capital extranjero. Por
eso el capitalismo occidental está en estado de choque, con una ‎bajada
repentina de su flujo sanguíneo por las medidas chinas.‎

…SIN OLVIDAR EL PASADO

‎El discurso oficial en la China de hoy está, también, mirando al
pasado, al pasado maoísta. ‎El término «prosperidad común» se utilizó
por primera vez en 1953 y con él se identificaba ‎al socialismo entre
los campesinos. Luego fue un concepto utilizado, a su manera, por Deng
‎Xiaping, enfatizando que la «prosperidad común» se podría lograr cuando
ciertas regiones ‎‎(las Zonas Económicas Especiales) y personas se
enriqueciesen para enriquecer después ‎a todos.‎

El dilema, desde fuera de China, está en saber si la interpretación que
se da ahora a la ‎‎«prosperidad común» tiene la connotación maoísta o
no. Por ahora no se puede concluir que ‎sea la versión maoísta, pero lo
que está claro es que tampoco es la de Deng.‎

En China siempre hay experiencias piloto sobre casi todo: Al igual que
se hizo antes con las Zonas ‎Económicas Especiales, ahora están
experimentado con el yuan digital en algunas ciudades y –‎como paso
hacia lo desconocido– con la «prosperidad común».

Eso se está haciendo en la ‎provincia de Zhejiang (con 60 millones de
habitantes), justo al sur de Shanghái, y las áreas donde ‎se está
trabajando son: reducir el costo de las necesidades básicas, con una
focalización directa en la desigualdad;‎ construcción de viviendas
sociales; mayor gasto en servicios sociales (el gobierno local incentiva
–en Occidente se dice que ‎‎«obliga»– a los millonarios locales a que
hagan donaciones); resaltar el valor de lo colectivo sobre lo
individual; concesión de ‎préstamos a bajo interés para los sectores más
pobres de la sociedad; impulso a las infraestructuras por parte de las
empresas estatales y locales; reducción de las tiendas de lujo e
incentivación del comercio local…‎

Algunas de estas cosas no tendrían por qué chirriar en los oídos
occidentales, pero en conjunto ‎es lo opuesto al capitalismo occidental. ‎

‎¿Por qué? Porque, por ejemplo, si los trabajadores pueden comprar
viviendas públicas baratas ‎‎(las viviendas sociales), ¿por qué van a
comprar viviendas caras? Desaparece así el factor ‎especulación, sin la
menor duda. Porque, en términos marxistas, si las casas no tienen valor
‎de uso (es decir, no se venden), lógicamente tampoco tienen valor de
cambio (quedan ‎inhabitadas y sus precios bajan hasta hacer insostenible
su posesión [para las inmobiliarias]).‎

En China se ha venido actuando casi como en Occidente, con la diferencia
de que ahora se está ‎actuando a la inversa. También hubo una época
–sobre todo mientras existió la URSS– en que ‎Occidente solía construir
viviendas públicas. Pero, con la desaparición del “peligroso” espejo
‎soviético, dejó de hacerlo por aquello del «mercado libre» y de «los
flujos del mercado». ‎

Ahora, como consecuencia de no haber salido aún de la crisis de 2008,
acentuada por la del ‎Covid-19, en Occidente se vuelve a hablar
tímidamente de ello pero poniendo el calificativo de ‎‎«temporal». O
sea, como un medio de capear la tempestad. Y esto es importante. ‎

En China no es una medida temporal sino permanente y si funciona eso de
la «prosperidad ‎común» –por eso es importante la experiencia piloto de
Zhejiang– será otra vez un espejo donde ‎la gente de todo el mundo podrá
mirarse. Por eso la política económica que está siguiendo ‎China es un
gran desafío para Occidente, porque lo pone frente al espejo.‎

In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2021/10/25/china-una-profunda-revolucion-hacia-el-objetivo-de-una-nueva-prosperidad-comun/
25/10/2021

sábado, 23 de outubro de 2021

Massacre na Indonésia: a secreta guerra de propaganda da Grã-Bretanha

 


// Paul Lashmar, Nicholas Gilby e James Oliver


Documentos recentemente desclassificados revelam como em 1965 um braço
do Foreign Office destinado a manobras sujas incitou o massacre
anticomunista na Indonésia, que deixou centenas de milhares de mortos. A
velha potência imperialista preferiu esse crime a abandonar as suas
pretensões neocoloniais na zona. Estes documentos dizem respeito à
Grã-Bretanha, mas convém não esquecer que por detrás desta monstruosa
atrocidade estão igualmente os EUA e a Austrália, entre outros comparsas
de menor dimensão.

No início de 1965, Ed Wynne, um funcionário do Ministério das Relações
Exteriores de Londres próximo dos 50 anos, chegou à porta de uma moradia
de dois andares situada na discreta calma de um requintado conjunto
habitacional na Singapura colonial.
Mas Wynne não era um funcionário comum. Especialista do braço de
propaganda da guerra-fria do Foreign Office, o Departamento de
Investigação de Informações (IRD), fora designado para liderar uma
pequena equipa. Um oficial subalterno, quatro pessoas locais e duas
“senhoras IRD”, vindas de Londres para a unidade, iriam juntar-se-lhe.
A chegada de Wynne e dos seus colegas ao cul-de-sac da Winchester Road
marcou o início do que mais tarde seria reivindicado, pelos que a
lideraram, como uma das operações de propaganda de maior sucesso na
história britânica do pós-guerra. Uma operação ultrassecreta que ajudou
a derrubar o líder do quarto país mais populoso do mundo e contribuiu
para o assassínio em massa de mais de meio milhão dos seus cidadãos.
A prova do papel da Grã-Bretanha em incitar o que a CIA descreveu mais
tarde como “um dos piores assassínios em massa do século XX” está em
outro verdejante subúrbio. Em documentos desclassificados do Foreign
Office - retidos muito para além da regra dos 20 anos - em Kew, Londres.
Recentemente colocados nos Arquivos Nacionais da Grã-Bretanha estão
panfletos pretendendo ser escritos por patriotas indonésios, mas na
verdade escritos por propagandistas britânicos, apelando aos indonésios
a que eliminem o PKI, então o maior partido comunista no mundo não
comunista.
O resultado do tumulto foi uma brutal e corrupta ditadura militar de 32
anos, cujo legado molda a Indonésia até aos dias de hoje.
Dois anos antes, em resposta aos planos britânicos de criar um estado
independente da Malásia a partir das suas possessões coloniais, o
presidente de esquerda da Indonésia, Sukarno, lançou o “Konfrontasi”, ou
Confronto, uma guerra não declarada que incluía incursões militares na
fronteira com o Leste da Malásia. Sukarno, como muitos indonésios,
incluindo o PKI, acreditava que a criação de uma federação malaia
constituía injustificada interferência regional dos britânicos para
manter o seu domínio colonial.
Os britânicos foram forçados a dedicar enormes recursos militares e de
informações para ajudar a emergente Malásia a contrariar essas intrusões
do Konfrontasi.
A política britânica era pôr fim ao conflito. Mas os objectivos do Reino
Unido não se detinham aí.
Tal como os seus aliados norte-americanos e australianos, a Grã-Bretanha
temia uma Indonésia comunista. O PKI tinha três milhões de membros e era
próximo à China de Mao. Em Washington, a queda do “dominó” indonésio no
campo comunista era vista como uma ameaça maior do que a potencial perda
do Vietname.
O nacionalismo não-alinhado de Sukarno, o anticolonialismo e os
crescentes laços com a China eram cada vez mais vistos como uma ameaça,
que seria diminuída se o presidente e seu ministro das Relações
Exteriores, Subandrio, fossem destituídos dos seus cargos e a influência
do PKI na Indonésia diminuísse – o mais plausivelmente por meio de
acções do largamente anticomunista exército indonésio.
Em meados de 1965, a oportunidade surgiu. Um grupo secreto de esquerda,
mais tarde chamado “movimento 30 de Setembro”, configurou-se na
Indonésia convencido, com alguma razão, de que o exército planeava
derrubar Sukarno e suprimir o PKI.
Na noite de 30 de Setembro, oficiais de esquerda associados ao
movimento, sob o comando do Tenente-Coronel da guarda presidencial
Untung, apoiados por um punhado de batalhões, tentaram um ataque
preventivo contra o alto comando do exército.
Tentaram prender sete dos generais mais graduados do exército indonésio.
Três, incluindo o comandante do exército, foram mortos. Outros três
foram assassinados na base da força aérea indonésia para onde foram
levados. Os corpos dos generais assassinados foram lançados num poço.
O ministro da defesa, Gen. Nasution, escapou. A sua filha de seis anos e
o seu ajudante de campo foram assassinados.
Mas na noite de 1 de Outubro o comandante da principal unidade de
combate do exército, Gen Suharto, havia assumido o comando do exército e
estava a preparar um contra-ataque que em três dias neutralizou
completamente a mal organizada rebelião.
Embora se acredite agora que o presidente do PKI e seus agentes estavam
envolvidos na tentativa de golpe, não há prova credível de que Sukarno
soubesse disso de antemão, ou que o PKI enquanto organização ou a massa
dos seus membros fossem responsáveis por ela.
Mas o derramamento de sangue não terminou aí. Suharto, nomeado
comandante supremo do exército em 14 de Outubro, usou a rebelião para
minar e eventualmente derrubar Sukarno, e como aquilo a que o
historiador John Roosa tem chamado um “pretexto para assassínio em
massa”: a eliminação do PKI numa série de massacres através da Indonésia
que resultou na morte de centenas de milhares de pessoas.
O Foreign Office sempre negou que a Grã-Bretanha estivesse envolvida na
violência que então foi desencadeada contra supostos comunistas. Mas
estas revelações mostram que as agências de informação britânicas e
especialistas em propaganda foram cúmplices, realizando operações
secretas para minar o regime de Sukarno e eliminar o PKI, culpando-os
pelo golpe de Untung.
O “punhal” de propaganda da Grã-Bretanha foi empunhado por Ed Wynne, o
especialista enviado a Singapura pelo IRD do Foreign Office. O IRD fora
montado pelo governo trabalhista de 1945 para contrariar ataques à
Grã-Bretanha por parte da propaganda soviética e produzir o seu próprio
material anticomunista. Estava intimamente ligado ao MI6 e as suas
actividades reflectiam as operações de propaganda da Guerra Fria da CIA.
O discretamente chamado South East Asia Monitoring Unit, ou Seamu, foi
criado por sugestão do embaixador britânico na Indonésia, Sir Andrew
Gilchrist, cuja embaixada em Jacarta fora incendiada por manifestantes
do PKI em 1963.
Embora estivessem em vigor limitadas “medidas tácticas de guerra
psicológica” contra as tropas indonésias, por altura de 1964 estavam a
ser “esboçadas” ideias para minar “o regime de Sukarno/Subandrio” e,
assim, acabar com a “confrontação” - Subandrio era o ministro das
Relações Exteriores de Sukarno. O que Gilchrist queria e se tornou a
missão da unidade era a produção de propaganda negra, aparentemente
produzida por patriotas indonésios emigrados no exterior, para incitar
os anticomunistas indonésios à acção.
Os alvos influentes de um boletim de propaganda, segundo um relatório
desclassificado de Wynne, incluiriam eventualmente “tantos personagens
na hierarquia do governo, exército e administração pública quantos
pudermos encontrar”.
Para disfarçar a origem britânica do boletim informativo, foi enviado à
Indonésia pela via de cidades asiáticas incluindo Hong Kong, Tóquio e
Manila.
Em um ano foram enviados 28.000 exemplares do boletim, escrito em
indonésio e chamado Kenjataan2 (Factos 2) e, segundo Wynne, chegaram ao
ministro da defesa, “outros generais, jornais da direita e mesmo o
próprio presidente Sukarno ”.
No final de Setembro de 1965, a operação de Wynne estava “a todo vapor”
e em condições de tirar inteiramente proveito do fracassado golpe de Untung.
Foi o momento de que os britânicos estavam à espera. Como comentou um
funcionário do Foreign Office: “Um golpe prematuro do PKI pode ser a
solução mais útil para o Ocidente - desde que fracasse”.
A unidade entrou em acção com transmissões de rádio e a produção de uma
edição especial do boletim informativo, agora finalmente divulgado em
Kew, mais de 66 anos depois dos acontecimentos para cuja influência foi
pensado.
Abre com um aceno no sentido da moderação, mas é um virulento apelo às
armas, concebido para inflamar e encorajar a destruição do PKI.
“Não, nós não clamamos por violência”, escreveram os propagandistas do
IRD, “mas exigimos em nome de todo o povo patriota que este cancro
comunista seja extirpado do corpo do estado”. A PKI “é agora uma cobra
ferida”, escreveram: “É tempo de a matar antes que tenha ocasião de
recuperar”.
E o incendiário boletim informativo do IRD foi enviado no momento-chave,
pois o sucesso da tentativa de tomada do poder por Suharto e as
operações do exército contra o PKI estavam indecisão.
Uma detalhada investigação histórica estabeleceu que os assassínios em
massa de membros e supostos apoiantes do partido PKI parecem ter sido
desencadeados por comandantes locais do exército ou pela chegada de
forças especiais do exército, cerca de três semanas após o fracassado
golpe ter sido reprimido por Suharto.
Durante esse período, os media Indonésios estavam cheios de propaganda
negra contra o PKI e suas supostas atrocidades, enquanto o exército
instigava a ira popular contra os comunistas e legitimava o que Roosa
tem descrito como as suas “já planeadas acções contra o PKI e o
Presidente Sukarno”.
A “edição especial” e outros inflamados boletins dessa série foram
enviados a cerca de 1.500 destinatários. Um relatório da Seamu informa
que os leitores “foram influenciados no sentido desejado”.
Os boletins eram aprovados pelo IRD em Londres antes do envio. Por
solicitação do IRD, as cópias enviadas a altos funcionários do Foreign
Office foram destruídas após serem lidas.
Tari Lang vivia na altura na Indonésia com o seu pai e sua mãe, a
falecida activista dos direitos humanos, Carmel Budiardjo, então
trabalhando como tradutora e analista económica.
“Qualquer um que fosse de esquerda era apanhado. Eles foram muito
sistemáticos. Tinham como alvo todos os grupos de esquerda e não apenas
o PKI. As pessoas viviam recolhidas e só falavam em sussurros.”
Os pais de Tari foram presos, a sua mãe foi libertada três anos depois
com a ajuda do Foreign Office.
À medida que os massacres prosseguiam no Outono de 1965, a unidade do
IRD em Singapura tranquilizava os seus leitores quanto à necessidade
desse massacre.
No Boletim 21, escreveram: “A menos que mantenhamos uma vigorosa
campanha para erradicar o comunismo … a ameaça vermelha envolver-nos-á
novamente.”
A aposta era vida ou morte. “Estamos a lutar pelas nossas vidas e pela
própria existência da Indonésia e nunca o devemos esquecer. OS GATOS
ESTÃO Á ESPERA PARA SALTAR!”
No Boletim 23, os propagandistas de Winchester Road elogiaram “os
serviços de combate e a polícia” por “fazerem um excelente trabalho”.
Sukarno, então a tentar conter os generais, estava errado: “O comunismo
deve ser abolido em todas as suas formas. O trabalho iniciado pelo
exército deve ser continuado e intensificado.” Os autores concluíam
igualando o PKI a Hitler e Gengis Khan.
A tentativa de golpe e suas consequências coincidiram com a chegada a
Singapura de um dos principais propagandistas do Foreign Office.
Gilchrist pensava que o esforço em expansão da propaganda da
Grã-Bretanha não era suficiente. Pediu que Norman Reddaway fosse enviado
como “coordenador da guerra política” contra a Indonésia, com o apoio do
chefe do estado-maior de defesa, Lord Louis Mountbatten.
Reddaway servira no exército durante a segunda guerra mundial antes de
ingressar no Foreign Office e desempenhar um papel fundamental no
estabelecimento do IRD. Após o golpe fracassado de Untung, veio para
assumir o comando da operação britânica. A sua orientação era simples.
Numa entrevista em 1996 com dois dos autores, disse que o Foreign Office
lhe dera um orçamento de £100.000 do e lhe fora dito “para fazer
qualquer coisa que pudesse fazer com que se livrassem de Sukarno”. Só
agora sabemos inteiramente o que “qualquer coisa” significava.
Uma avaliação secreta das operações do IRD por Reddaway, escrita ao
chefe do IRD em Julho de 1966, depois que Sukarno ter sido efetivamente
removido do poder, está nos Arquivos Nacionais. Reddaway afirmava que as
suas instruções confidenciais à imprensa tinham sido eficazes em mover a
opinião global e que a operação de propaganda era um grande sucesso.
“A máquina de notícias era o nosso cacete: o boletim informativo e as
nossas pouco ortodoxas operações o nosso punhal”, disse.
Em outro documento divulgado, relatou que o IRD e os generais estavam a
“cantar em harmonia”.
O ex-funcionário do Foreign Office Derek Tonkin, que foi o agente em
Londres para a Indonésia de 1963 a 1966, disse no mês passado que não
tinha visto os boletins de propaganda porque era acima da sua
responsabilidade, mas que nos primeiros dias após a tentativa de golpe
de 30 de Setembro, ninguém poderia ter previsto que banho de sangue ia
seguir-se.
Mas, admite, “pode não ser fácil escapar à acusação de que a
Grã-Bretanha ajudou inicialmente em alguma pequena medida a instigar o
fim do PKI naquilo que viria a ser uma muito horrível maneira”.
Quanto a Reddaway, segundo Tonkin, “ele andava um pouco em roda livre e,
como muitos propagandistas, talvez estivesse excessivamente comprometido
com o seu mandato”. Reddaway e a sua equipa eram “mais uma lei para si
mesmos, mas o FO sabia que ele o seria quando o nomearam”.
Nas entrevistas de 1996, Reddaway gabou-se de manipular os meios de
comunicação britânicos e outros media globais para adoptarem uma linha
anti-Sukarno e PKI, mas insistiu que o IRD apenas divulgou factos
verdadeiros e não usou propaganda negra.
Como sempre com o IRD, Reddaway contou-nos uma verdade parcial. Segundo
um memorando que escreveu: “O cacete foi surpreendentemente eficaz
porque fomos capazes … de fornecer aos publicistas informações que eles
não poderiam encontrar em outras fontes por causa da censura de Sukarno.”
Reddaway identificou os mais úteis destinatários da sua produção como as
agências de notícias, “menos exigentes quanto à tarifa e mais anónimos”,
e os homens da rádio: o Serviço Mundial da BBC e o Serviço Indonésio em
particular. Uma das principais fontes de Reddaway foi, naturalmente, o
embaixador britânico em Jacarta, Gilchrist, com quem trocou pontos da
situação semanais ao longo do período.
Em Julho de 1966, numa carta a Gilchrist, Reddaway comemorou que foi “a
primeira vez na história que um embaixador se pudera dirigir ao povo de
seu país de trabalho quase à vontade e quase instantaneamente”.
Para alimentar a operação, Reddaway baseava-se também na inteligência de
sinais, ou Sigint.
Estava em excelente posição para o fazer. Localizava-se em Singapura um
serviço de monitoramento do GCHQ.
Segundo o Dr. Duncan Campbell, jornalista investigativo e especialista
no GCHQ, o serviço de monitoramento da organização em Singapura, RAF
Chia Keng, estava escondido atrás e dentro de uma grande estação de
comunicações da RAF na Yio Chu Kang Road no leste de Singapura, agora um
bairro residencial. Os “bungalows” de escuta de alta segurança do GCHQ
tinham janelas de tijolos de vidro opaco que escondiam cerca de 50
funcionários civis em cada turno. A base estava perfeitamente localizada
para obter rapidamente relatórios completos e directos sobre os
desenvolvimentos na Indonésia. Segundo Campbell, “o GCHQ conseguia sem
dificuldade decifrar e ler códigos indonésios. O governo estava entre
muitos países do terceiro mundo utilizando equipamentos fornecidos pela
empresa suíça Crypto AG. Por mais de 50 anos, a Crypto AG fornecia
máquinas de encriptagem secretamente sabotadas, integrando acessos para
os quais a CIA e o GCHQ tinham chaves.”
Um revelador memorando, datado de 30 de Outubro de 1965, de Reddaway
para Brian Tovey, mais tarde director do GCHQ, então num posto em
Singapura, destacava a contribuição que Sigint poderia dar. Reddaway
disse ao seu colega que o material do GCHQ pode “ajudar os generais a
perseguir com mais eficácia o PKI”.
Os boletins continuaram sendo o principal trabalho de Ed Wynne e seus
colegas em Winchester Road. Um tema central foi encorajar os seus
leitores influentes a apoiar a campanha do exército contra os
comunistas. Exortaram os patriotas indonésios: “O PKI e tudo o que ele
representa deve ser eliminado para sempre.”
Agora sabemos que, para o fazer, incluíam mentiras sensacionalizadas. Em
5 de Novembro, o jornal pró-militar Jakarta Daily Mail afirmou que, no
dia do golpe de Untung, 100 mulheres da organização de mulheres Gerwani
do PKI tinham torturado um dos generais usando lâminas de barbear e
facas para cortar os seus órgãos genitais antes de ser abatido a tiro.
A história da tortura e mutilação dos generais pelas mulheres Gerwani
tornou-se parte do mito fundador do regime de Suharto, usado para
justificar a destruição do PKI. Foi também, segundo Roosa, um pretexto
para assassínio. Uma mentira propagada pelo exército indonésio,
regurgitada e reaproveitada para incitar os influentes leitores do IRD.
A história da propaganda do exército foi reciclada de volta à Indonésia
em Janeiro de 1966, no Boletim 23, com um relatório sobre as alegações
feitas por dois membros do PKI interrogados pelo exército. Um ligava o
ministro das Relações Exteriores de Sukarno, Subandrio, à construção de
uma “sala de tortura” para o uso de prisioneiros do PKI, o outro fazia
referência ao Jakarta Daily Mail, membro da organização de mulheres do
PKI, Gerwani, “um dos ‘homenageados’ com a tarefa de mutilar os generais ”.
A menina de 15 anos teria dito: “O nosso chefe de pelotão ordenou-nos
que espancássemos o prisioneiro e depois cortássemos as suas partes
íntimas com pequenas facas”.
Tari Lang, filha de Carmel Budiardjo, também tinha 15 anos na época.
“Esses boletins são horríveis. Se não me tivesse dito quem os escreveu,
teria pensado que eram indonésios. É inacreditável que tenham feito isto.
“Havia mulheres Gerwani no círculo social da minha mãe e elas eram como
membros do Instituto da Mulher. Muito gentis.”
O IRD silenciou deliberadamente os massacres. Um documento de Dezembro
de 1965 diz que “não devem fazer nada que embarace os generais” e o
boletim informativo detalha cuidadosamente relatos de incidentes
isolados de brutalidade do PKI, mas não faz qualquer menção explícita
aos assassínios do exército.
Na verdade, a política foi mais longe. No relatório de Seamu de 1965,
Wynne escreveu que usaram o boletim informativo para “ataques
continuados aos culpados … e apoio indirecto à limpeza e controlo pelos
generais”. Os generais, observou Wynne, “tratamos com gentileza”.
No início de 1966 os assassínios em massa na Indonésia, se não a sua
escala, eram bem conhecidos.
Em Janeiro, Robert F Kennedy comparou os massacres a “carnificinas
desumanas perpetradas pelos nazis e comunistas” e perguntou quando é que
as pessoas se iriam “manifestar … contra o desumano massacre na
Indonésia, onde mais de 100.000 supostos comunistas foram, não
perpetradores, mas vítimas?”
Em Fevereiro, descartando a ideia de “divulgar o banho de sangue” como
uma redução das possibilidades de “conseguir uma nova gestão na
Indonésia”, Reddaway observou: “Estou muito satisfeito de que um bom
número de comunistas tenha sido eliminado, mas os seus assassinos são
predominantemente militares e muçulmanos.”
Em Março de 1966 a campanha assassina contra o PKI, que resultou em mais
de meio milhão de mortes, estava praticamente encerrada. Em 11 de Março,
o presidente Sukarno foi forçado a entregar o poder ao general Suharto,
e o fim da “Confrontação” estava à vista.
Em 14 de Março, Reddaway escreveu a Gilchrist: “Não consigo imaginar
como no curto prazo as coisas poderiam ter andado melhor do que nos
últimos 10 dias”.
“Sei que os indonésios sob a sua nova gestão não serão parceiros fáceis,
mas não posso evitar um pequeno (não atribuível) Te Deum sobre a mudança
na situação entre 29 de Setembro e 12 de Março”, escreveu.
Wynne considerava a operação um sucesso. No seu relatório anual de 1966,
diz com orgulho que a sua operação foi “bastante bem-sucedida” porque
todos os seus inimigos (Konfrontasi, Sukarno, Subandrio e o PKI) foram
“destruídos”. A sua memória desses trágicos acontecimentos era de
“entusiasmo”.
Segundo o Prof Scott Lucas, da Universidade de Birmingham, os documentos
desclassificados mostram que: “A Grã-Bretanha estava preparada para se
envolver em actos sujos que contrariam os seus alegados valores.”
Revelam, diz , “o quão importante a propaganda negra foi para dar a
ilusão de que a Grã-Bretanha poderia exercer um poder global - mesmo que
muitas pessoas pudessem ser mortas para essa ilusão”.

• O Dr. Paul Lashmar é jornalista de investigação e leitor de jornalismo
na City, University of London.
• Nicholas Gilby é investigador de campanhas e autor de uma história do
suborno e comércio de armas na Grã-Bretanha.
• James Oliver é produtor e realizador vencedor do Emmy da BBC e liderou
a recente investigação dos Pandora Papers para a BBC Panorama.

Fonte:
https://www.theguardian.com/world/2021/oct/17/slaughter-in-indonesia-britains-secret-propaganda-war
<https://www.theguardian.com/world/2021/oct/17/slaughter-in-indonesia-britains-secret-propaganda-war>

In
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/massacre-na-indonesia-a-secreta-guerra/
22/10/2021

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Sem projeto a favor do Brasil, oligarquias só têm plano anti-Lula

 
   

Jeferson Miola

Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto
Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial


O banqueiro Roberto Setúbal apela para o otimismo. “/Temos de acreditar
na terceira via/
<https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,temos-de-acreditar-na-terceira-via-diz-roberto-setubal,70003870511>”
[17/10], proclama o copresidente do Conselho de Administração do
Itaú-Unibanco, instituição que em 2020 obteve lucro líquido de R$ 18,5
bilhões e que no 1º semestre de 2021 já lucrou R$ 12,9 bilhões – cifra
59,4% superior ao lucro obtido no mesmo período do ano passado.

O jornalista Matheus Leitão injeta otimismo: “/pesquisa traz boa notícia
para a 3ª via/
<https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/pesquisa-traz-boa-noticia-para-a-terceira-via/>”
[16/10], escreve ele na revista /Veja/, explicando que o levantamento
“/Genial/Quaest traz um número interessante para os grupos do nem/nem –
nem Jair Bolsonaro, nem Lula/”: subiu de 24% para 29%.


A busca do bloco dominante pela mal apelidada “/3ª via/” – na verdade,
por uma candidatura anti-Lula viável [*aqui*
<https://jefersonmiola.wordpress.com/2021/09/24/terceira-via-e-o-nome-de-fantasia-da-opcao-anti-lula/>]
– não deriva de nenhuma contradição de fundo das oligarquias com o
programa executado pelo governo Bolsonaro. O problema, como se sabe, é
simplesmente de cálculo eleitoral.

Caso vislumbrasse a possibilidade de derrotar Lula com Bolsonaro, essa
lúmpen-burguesia não estaria inventando a chamada 3ª via, pois já teria
embarcado na campanha para a reeleição do sociopata-genocida, tal como
fez em 2018 naquela que ficou celebrizada como “/uma escolha muito
difícil/” entre o professor e a Aberração fascista.

Setores majoritários do PIB e da direita tradicional são categóricos em
rechaçar Lula, porém nunca descartam o voto em Bolsonaro. O que está em
jogo, para eles, é a continuidade da devastação ultraliberal.

Os retrocessos proporcionados por Bolsonaro criaram condições
impressionantes de saqueio, roubo dos fundos públicos e concentração de
riqueza. Na pandemia, o Itaú e o rentismo nacional e estrangeiro
acumularam lucros indecentes. E um par de ricaços passou a figurar na
lista de bilionários da revista Forbes, ao passo que 120 milhões de
pessoas desesperadas passaram a viver em situação de insegurança alimentar.

As oligarquias não se compadecem com o morticínio de 600 mil brasileiros
e brasileiras, mesmo sabendo que pelo menos 400 mil vidas poderiam ter
sido preservadas não fosse a gestão governamental criminosa da pandemia.
Também não se compadecem com 20 milhões de pessoas passando fome e 15
milhões de trabalhadores desempregados.

A ameaça fascista-autoritária tampouco sensibiliza os poderosos, que não
têm o menor apreço pela democracia porque apenas almejam continuar
acumulando cada vez mais, a despeito da barbárie à volta. O banqueiro do
Itaú defende, por exemplo, mais “/uma reforma trabalhista que aumente a
produtividade/”. O que significa isso, depois da destruição completa da
CLT e da “/uberização/” das relações de trabalho? Por acaso planejam um
regime mais escravocrata?

Esta lúmpen-burguesia que em 2016 golpeou Dilma e que em 2018 prendeu
Lula na maior farsa judicial do mundo para conseguir eleger Bolsonaro,
não tem um projeto a favor do Brasil e do povo brasileiro. Só tem o
/plano anti-Lula/.

Como expôs o ministro das /offshores/ Paulo Guedes em evento da Câmara
de Comércio Internacional [27/9], o /plano anti-Lula dos capitais/ é
bastante ambicioso e representa o sequestro do presente e do futuro do país.

O plano para os próximos 10 anos, explica Guedes, é “/continuar com as
privatizações. Petrobras, BB, todo mundo entrando na fila/”. O desmanche
ainda inclui a *contrarreforma administrativa que reforça o poder das
castas que capturam o Estado e golpeiam a democracia*
<https://jefersonmiola.wordpress.com/2020/09/04/contra-reforma-administrativa-reforca-castas-que-historicamente-capturam-e-golpeiam-o-estado/>
e a destruição final da previdência social com a adoção do mesmo regime
de capitalização financeira que faz do Chile o país com maior número de
suicídios de idosos do mundo

O Brasil talvez seja o único país do mundo que promoveu um processo de
reestruturação capitalista em plena pandemia. Uma reestruturação baseada
na precarização do trabalho e na desproteção radical dos trabalhadores,
com o propósito de aumentar a exploração e a taxa de lucro dos capitais.

O bloco dominante, insaciável no apetite de uma acumulação expansiva e
eterna de capital, quer ainda mais. E não importa se, para isso, precisa
lançar mão da barbárie fascista.

Lula é o “estraga-festa” do banquete das oligarquias servido às custas
da hecatombe humana; é o grande obstáculo à continuidade deste plano
anti-civilizatório, anti-povo e anti-soberania que unifica os interesses
de todas as frações das classes dominantes.

Não por outra razão as escórias oligárquicas fazem ordem unida na
tentativa desesperada de viabilizar uma alternativa anti-Lula. Em caso
de fracasso na empreitada, não hesitarão em partir para a ruptura
institucional para continuarem e aprofundarem o brutal processo de
devastação do país.

/*Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de
responsabilidade do colunista.*/

In
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/blog/sem-projeto-a-favor-do-brasil-oligarquias-so-tem-plano-anti-lula
17/10/2021

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

A tragédia neoliberal da Ásia Central


 


    Michael Hudson [*]


Em meados da década de 1980, responsáveis soviéticos viam uma
necessidade de abrir a sua economia na esperança de alcançar inovação e
produtividade em estilo ocidental. Aquela foi a década em que Margaret
Thatcher e Ronald Reagan patrocinavam as políticas neoliberais
pró-financeiras que polarizaram os EUA, a Grã-Bretanha e outras
economias, carregando-as com despesas gerais de rentistas /(rentier)./

A União Soviética seguiu uma política de privatização muito mais extrema
do que qualquer outra coisa que o Ocidente social-democrata tivesse
tolerado. Em Dezembro de 1990 concordou em adoptar o projecto neoliberal
apresentado em Houston pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco
Mundial, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE) e Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) para
transferir propriedade até então pública para mãos privadas[1] <#notas>.
A promessa era que os privatisadores teriam interesse em produzir novas
habitações abundantes, bens de consumo e prosperidade.

Os líderes soviéticos acreditavam que o conselho neoliberal recebido era
sobre como seguir o caminho pelo qual as nações industrializadas
avançadas se haviam desenvolvido e feito a sua prosperidade parecer tão
atraente. Mas os conselhos acabaram por ser sobre como abrir as suas
economias e permitir aos EUA e a outros investidores estrangeiros ganhar
dinheiro com as antigas repúblicas soviéticas, criando oligarquias
clientes da espécie que a diplomacia americana havia instalado na
América Latina e noutros Estados fantoches. O isolamento da ex-União
Soviética em relação à Guerra Fria deu lugar à transformação das suas
repúblicas em presas para exploração financeira e de recursos naturais
pelos EUA e outros bancos e corporações ocidentais.

O resultado foi cleptocracia, eufemisada como “mercado livre”. Banca,
bens imobiliários, recursos naturais e serviços públicos foram
privatizados nas mãos de apropriadores que geriram as suas aquisições no
seu próprio interesse, aos quais juntaram-se o dos investidores e bancos
estrangeiros. Como uma piada russa dos anos 90 expressou a crise que se
seguiu: "Tudo o que eles nos contaram sobre o comunismo era falso; mas
tudo o que eles nos disseram sobre o capitalismo era verdade!

Vladimir Putin descreveu a destruição da antiga União Soviética como a
grande tragédia do final do século XX. O que a tornou uma tragédia grega
clássica foi quão inevitável, mas também quão imprevisto, era o seu
destino quando em 1991 as repúblicas soviéticas aceitaram a terapia de
choque e aboliram o papel do governo como investidor, criador de crédito
e regulador. A privatização não acabou com o planeamento disfuncional.
Ela simplesmente limitou-se a privatizar a disfunção social,
revelando-se em breve tão económica e demograficamente destrutiva como
teria sido um verdadeiro ataque militar.

Cada economia é gerida por uma classe ou por outra. Na ausência de
autoridade pública, o planeamento passa para quem quer que esteja no
controlo dos bancos, terras e fontes de riqueza relacionadas, e acima de
tudo a atribuição de crédito. Hoje, três décadas após o início do
dilaceramento pós-soviético, a concentração da banca devastou, endividou
e empobreceu a população, levando a uma duração de vida mais curta e a
uma emigração crescente.

.

Este livro [2] <#notas> excelente mas doloroso descreve a tragédia
provocada pela reconstrução neoliberal pós-soviética do Cazaquistão e do
Quirguistão. Sanghera e Satybaldieva descrevem como funcionários dos
EUA, do Banco Mundial e do FMI, fazendo-se passar por conselheiros úteis
que afirmam ajudar estas repúblicas a adoptar o modelo pelo qual as
economias ocidentais haviam crescido prósperas, pressionaram estes
países a actuar em favor mais de instituições financeiras e corporações
estrangeiras do que em prol das suas próprias populações. Estas
"instituições de ajuda" (ou, mais precisamente, de criação de dívida)
actuaram por conta dos bancos e investidores ocidentais para promover o
despojamento e a financeirização das terras pós-soviéticas, bens
imobiliários, petróleo e riqueza mineral.

O planeamento soviético havia garantido a habitação como um direito,
juntamente com o acesso à educação e aos cuidados básicos de saúde. Não
havia mercado para habitação e não havia dívida hipotecária. O
financiamento governamental da habitação através da sua própria criação
de crédito mantinha baixos os encargos com a habitação. Havia
sobrelotação, mas pelo menos as famílias não eram levadas a endividar-se
a fim de obterem habitação, educação ou tratamento médico. Esta é uma
das principais razões pelas quais tantos russos e outras populações
pós-soviéticas sentem agora uma certa nostalgia dos tempos soviéticos,
ainda que parecesse má em 1991.

O mal-estar que se seguiu era desnecessário. As economias pós-soviéticas
poderiam facilmente ter-se tornado vibrantes e prósperas. Poderiam ter
dado título de propriedade imobiliária aos ocupantes e utilizadores
existentes. No rescaldo imediato da União Soviética, os ocupantes e
utilizadores de bens imobiliários receberam títulos, obtendo
propriedades livres de dívidas. Mas se os controlos estatais sobre
rendas e especulação tivessem permanecido em vigor e a construção de
habitações sociais tivesse sido adequadamente financiada, as pessoas não
teriam de acumular dívidas enormes para possuírem as próprias casas,
edifícios e terrenos. Isto teria minimizado o custo de vida da economia,
ajudando os estados pós-soviéticos a desenvolver uma agricultura e
indústria de baixo custo.

Os planificadores soviéticos prestaram pouca atenção à forma como o
processo de pagamento de rendas e juros estava a polarizar as economias
ocidentais. A não cobrança de encargos pelo arrendamento da terra ou
pelos juros levou-os a perder a grande vantagem da sua economia em
comparação com o capitalismo financeiro ocidental: a liberdade de
arrendar a terra, o monopólio do arrendamento, dos juros e das práticas
financeiras usurárias. Foram estes rendimentos rentistas que acabaram
por polarizar e empobrecer as economias pós-soviéticas.

As repúblicas pós-soviéticas poderiam ter utilizado os seus próprios
sistemas bancários centrais para financiar a reestruturação, mantendo a
criação de crédito como um serviço público, como era na época soviética.
Isso teria libertado estas economias da dependência de bancos
estrangeiros para a concessão de crédito em dólares a serem gasto
localmente. Sem salários a serem pagos ou o recebimento de outros
rendimentos depois o colapso da sua divisa ter eliminado as poupanças
internas, havia uma necessidade imediata de financiamento através de
dívida para sobreviver. A banca pública teria libertado as economias da
necessidade de contrair empréstimos em dólares ou outra divisa
estrangeira, especialmente para obter habitação.

Os tesouros nacionais poderiam ter dado valor a este dinheiro através da
tributação das rendas económicas criadas no sector imobiliário, agrícola
e industrial. Esse era, afinal, o ideal dos economistas clássicos.
Tributar o valor da renda da terra teria impedido que esta se tornasse
um objecto de especulação. Em vez disso, rendimentos rentistas eram
pagos aos banqueiros comerciais que surgiram, financiados pelos bancos
ocidentais, ao invés de um novo banco central nacional. Os sistemas
fiscais pós-soviéticos sobrecarregaram o trabalho e a indústria,
enquanto que os donos de propriedades ficaram em grande parte isentos de
impostos, orientando as suas economias em linhas rentistas.

A “regra da lei” patrocinada por financiadores ocidentais permitiu aos
gestores e aos iniciados políticos registarem terras públicas, recursos
petrolíferos e minerais, serviços públicos e fábricas em seus próprios
nomes, e recolher o dinheiro em divisas forte através da venda de muitas
(por vezes a maioria) acções das suas novas empresas a ocidentais. A
maior parte das receitas foi mantida no estrangeiro, deixando as
economias locais com necessidade de crédito estrangeiro para funcionarem.

Para tornar irreversível esta captura de activos, a regra da lei
neoliberal e a "segurança do contrato" eram coletes de forças legais que
davam aos credores o direito de executar a propriedade dos devedores –
sem direitos para os devedores e arrendatários, os quais eram despejados
se não pudessem cumprir os pagamentos das suas hipotecas ou pagar rendas
mais elevadas quando a habitação era gentrificada. Como Sanghera e
Satybaldieva resumem, "Ao instituir políticas financeiras neoliberais,
os Estados da Ásia Central reescreveram o contrato social e criaram uma
nova dependência de classe entre as elites financeiras e os devedores.
Foram estabelecidos Estados devedores que facilitaram, justificaram e
normalizaram relacionamentos de classe desiguais para assegurar a
acumulação de capital liderada pela dívida. Eles minimizaram a
supervisão do sector financeiro e eliminaram fortes protecções contra
empréstimos predatórios. As elites políticas legitimaram o enquadramento
neoliberal da dívida como "fortalecimento". O efeito não foi fortalecer
a população, mas o de marginalizá-la, ao mesmo tempo que levavam os
pequenos proprietários a endividarem-se e os privavam das suas casas.

O que se perdeu foi o conceito de habitação e de outras necessidades
básicas como um direito humano. Na União Soviética havia um conjunto
definido de direitos de propriedade em que as pessoas podiam confiar, e
o Estado respeitaria e implementaria', descrevem os autores. O pacote de
direitos incluía direitos à terra e à habitação, bem como direitos de
ocupação e utilização para inquilinos e suas famílias. Rendas, juros e
ganhos especulativos eram rendimentos 'não-laborais' e não eram permitidos'.

Contudo, depois de 1991, a habitação em todas as antigas repúblicas
soviéticas teve de ser obtida através da assunção de dívidas. Assim,
trocaram a auto-suficiência financeira, fiscal e imobiliária nacional
patrocinada pelo Estado para seguir o sonho de obter uma prosperidade
generalizada ao estilo americano, não se apercebendo de quão
polarizadora seria a política de financiamento por dívida. Na ausência
de poupanças internas (que haviam sido exterminadas pela hiperinflação),
os bancos comerciais obtiveram fundos emprestados através da contracção
de empréstimos ao estrangeiro. A dívida interna do sector privado
encontrou assim a sua contrapartida no aumento das dívidas a bancos
estrangeiros.

Descrevendo como indivíduos ambiciosos obtiveram títulos de propriedade
de habitações, centros comerciais e mercados antes de assumirem cargos
políticos, os autores fornecem uma lista de autarcas locais que se
enriqueceram ainda mais com a venda de terras públicas e activos
municipais. As habitações de empresas tornaram-se um veículo para os
proprietários despejarem antigos empregados e inquilinos de longa data,
gentrificando os bens imobiliários, tal como no U.S. Rust Belt, onde as
fábricas estavam a ser encerradas. Os novos proprietários estavam livres
para maximizar tudo o que pudessem extorquir, sem qualquer tentativa de
proporcionar as protecções sociais que o Ocidente considerava como
garantidas aos devedores ou arrendatários.

A obtenção de habitação depois de 1991 exigia a contracção de dívidas.
Ao contrário da amplitude de 5% de taxas hipotecárias no Ocidente,
grande parte da população contraiu empréstimos a taxas de juro efectivas
entre 25 e 50%. Era como tentar comprar uma casa recorrendo a /payday
loans/ [NT] <#nt> no estilo americano. Havia pouca forma de os pagar.
Além disso, as mulheres e o influxo rural de não ricos para as cidades
tinham de confiar no microcrédito, tipicamente a arcar com juros anuais
de 80%.

Sanghera e Satybaldieva destacam a Corporação Financeira Internacional
do Banco Mundial e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional (USAID) pelos seus esforços para legitimar tal usura,
enquanto afirmam hipocritamente que isto "fortalece" as mulheres como
devedoras. A realidade, salientam, é que, "a Corporação Financeira
Internacional e outros doadores internacionais mandataram estas
instituições de microfinanças (IFM) para se tornarem plenamente
comercializadas a fim de atingirem elevados retornos sobre o capital
próprio. A taxa de juro média era de 44%". O resultado, tal como
Satybaldieva assinalou noutro local, foi um desastre:

Muitas mulheres, que anteriormente estavam empregadas como operárias de
fábrica, trabalhadoras agrícolas, professoras e especialistas em
cuidados de saúde foram forçadas a fazer pequeno comércio através de
esquemas de microcrédito patrocinados pelo Ocidente. ...

Em segundo lugar, muitas mulheres pediram dinheiro emprestado para pagar
serviços, tais como cuidados de saúde e educação, que anteriormente
estavam disponíveis gratuitamente. Os principais serviços sociais
sofreram cortes significativos nas despesas do Estado, que não só
reduziram os salários do sector público como privatizaram e
mercantilizaram as necessidades básicas, permitindo aos grupos abastados
o acesso a serviços de melhor qualidade enquanto os grupos com baixos
rendimentos foram privados deles. ... Um inquérito de 2021 aos mutuários
de microcrédito online no Cazaquistão mostrou que 29% dos inquiridos
contraíram empréstimos para pagar despesas de emergência, 21% para fazer
face às despesas, e 16% para liquidar dívida sobre empréstimos
bancários. Os restantes utilizaram os empréstimos para pagar tratamentos
médicos, serviços públicos, taxas escolares. Apenas uma pequena minoria
dos empréstimos estava ligada à compra de bens de consumo[3] <#notas>.

Para impor a cobrança, os credores locais de microcrédito mobilizaram
funcionários distritais locais e anciãos para envergonhar as mulheres
por faltarem aos seus reembolsos, chegando mesmo a cair sobre famílias
em funerais para insistir em que assumissem a responsabilidade colectiva
pelas dívidas do falecido. Os montantes envolvidos são enormes, relatam
os autores. "Entre 1995-2012 o microcrédito permitiu uma transferência
de até US$125 mil milhões de comunidades pobres no Sul Global para
centros financeiros no Norte Global".

As mulheres tornaram-se as adversárias mais radicais das reformas
neoliberais ao estilo ocidental. Em Bishkek, a capital e maior cidade do
Quirguistão:   "A 26 de Maio de 2016 cerca de 700 pessoas, na sua
maioria mulheres rurais, protestaram perante a Embaixada dos EUA
exigindo amnistia da dívida de bancos e IFM que haviam sido criados e
apoiados pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional (USAID) e pela Corporação Financeira Internacional do
Banco Mundial. Ostentando cartazes que diziam "Occupy FINCA", "Debt
kills", "Save our homes from banks" e "Humans above profit", os
manifestantes fizeram algo muito significativo nesse dia'. Atribuíram a
responsabilidade e a culpa pela sua situação às instituições financeiras
ocidentais e não às suas falhas pessoais. Protestos e atribuições
anti-dívidas semelhantes ocorreram no vizinho Cazaquistão.

O que tornou o peso da dívida um problema nacional foi que os
compradores de casas e empresas normalmente concordaram em denominar as
suas dívidas em dólares, a fim de baixar as taxas de juro exorbitantes
cobradas por empréstimos em moeda local. À medida que as economias eram
dolarizadas, as suas taxas de câmbio locais depreciavam-se em resultado
dos défices da balança de pagamentos resultantes da dependência
comercial e do desequilíbrio económico geral. O custo do serviço das
dívidas em moeda estrangeira aumentava proporcionalmente à depreciação
da taxa de câmbio.

A pobreza levou a mão-de-obra a emigrar. Ironicamente, isto ajudou a
estabilizar a balança de pagamentos de muitos países da Ásia Central. As
remessas do êxodo de trabalhadores migrantes do Quirguistão representam
cerca de 30% do seu PIB, e o Casaquistão tinha um rácio semelhante de
33%. Isto era típico da Ásia Central. Do mesmo modo, trabalhadores
migrantes do Tajiquistão na Rússia enviavam às suas famílias rendimentos
que montavam a mais de 30% do seu PIB.

A Ásia Central pós-soviética carece das reformas básicas quase
universais desde há milhares de anos. Já por volta de 2350 AC, o
governante sumério Urukagina proclamou uma reforma que impedia os
credores de entrarem nas casas dos devedores e simplesmente agarrar os
seus bens e animais. Desde a Mesopotâmia e o Egipto até à época romana,
os direitos dos devedores eram protegidos pela exigência de registos
escritos para documentar todos os créditos dos credores e pela limitação
das taxas de juro. Mas os conselheiros ocidentais não fizeram qualquer
tentativa para criar um tal Estado de direito na Ásia Central. O que o
seu sistema jurídico alcançou está mais próximo da barbárie, como
concluem Sanghera e Satybaldieva:

Ao procurar libertar a população da dependência do estado social
soviético, os arquitectos neoliberais produziram novas formas
parasitárias e exploradoras de dependência do mercado, nas quais a
classe poderosa apropriou-se e explorou a mais-valia que outros geravam.
O capital rico em activos e transnacional tornou-se mais rico, tomando
do pobre em activos através de juros, rendas, ganhos de capital e baixos
salários. A transferência maciça de riqueza deixou grande parte da
população num estado de endividamento, pobreza, miséria e angústia.

A nível internacional, a regra neoliberal do direito é o que os
advogados corporativos escreveram para permitir aos tribunais de
Resolução de Litígios entre Investidores e Estados /(Investor-State
Dispute Settlement, ISDS)/ bloquear as tentativas do governo de multar
ou cobrar aos investidores estrangeiros pelos danos ecológicos e sociais
que estes causam. Os monopólios petrolíferos e mineiros globais
enfrentam os governos numa frente unida, tendo mobilizado o Banco
Mundial, o FMI e a Organização Mundial do Comércio para pressionar os
países anfitriões a respeitarem regras pró-corporativas que limitam os
direitos dos seus governos e que bloqueiam a supervisão ou pressão
eleitoral democrática. Face a estes tribunais e aos contratos
frequentemente ingénuos (ou corruptos) assinados com o governo, nenhuma
tentativa compensatória foi feita para criar agências reguladoras
estatais, tribunais ou direito internacional para dar às economias
pós-soviéticas as protecções comuns nos Estados Unidos e na Europa.

O que os investidores ocidentais mais desejavam da Ásia Central era a
sua riqueza em recursos naturais. Os autores descrevem como os EUA, o
Banco Mundial e os consultores das ONG impuseram contratos que
favoreciam os interesses das empresas petrolíferas e mineiras
ocidentais. A Chevron pôs os olhos nas vastas reservas de petróleo no
campo petrolífero de Tengiz, no Cazaquistão. O que o Cazaquistão queria
era perícia ocidental como empreiteiros e investidores minoritários. Mas
a Chevron queria controlo – e deixar o governo do país anfitrião com o
menor rendimento possível com a venda do seu petróleo.

O resultado foi um dos contratos petrolíferos mais predatórios do mundo
– nada daquilo que o que o Cazaquistão pensava que iria obter, mas uma
bonança para a Chevron. O contrato prometia que o governo receberia 80%
da produção, reflectindo os acordos normais de 80%-20% de partilha de
produção para os países europeus e do Médio Oriente. No entanto,
descrevem os autores, o Cazaquistão acabou por receber apenas 2% das
receitas do projecto. Advogados empresariais elaboraram um contrato que
obrigava o governo do Cazaquistão a não receber quaisquer lucros até que
tivesse suportado os imensos custos de desenvolvimento do próprio campo
petrolífero (empréstimo do FMI) e cumprido um objectivo de produção a
longo prazo – altura em que quase um quarto das reservas de petróleo de
Tengiz estaria esvaziada e vendida.

A operação da Chevron provou ser uma história de terror ecológico tão
desastrosa como a que havia causado no Equador. Foi multada em 303
milhões de dólares por violação das leis de protecção ambiental, mas
pressionou o presidente Nazarbayev a revogar a multa para mostrar ao
mundo como o Cazaquistão era "amigo do investidor"! Quando a oposição
popular surgiu para exigir um contrato justo, os investidores
internacionais, a resposta dos investidores internacionais e dos
funcionários do governo ocidental e dos seus homens de frente no FMI,
Banco Mundial e USAID foi a de alegar que a renegociação violaria o
Estado de direito e a santidade dos contratos.

O Quirguistão sofreu de forma semelhante com os poluidores estrangeiros
das minas de ouro. Estas "externalidades" foram suportadas pelos países
de acolhimento, sem custos para os investidores estrangeiros pelo seu
comportamento ilegal, irresponsável e predatório. Se o Ocidente tivesse
verdadeiramente procurado ajudar os Estados pós-soviéticos a prosperar,
os seus diplomatas teriam ajudado a negociar acordos justos de
investimento em recursos naturais, protecção ambiental, segurança dos
trabalhadores e outra regulamentação pública. Em vez disso, Sanghera e
Satybaldieva concluem: "O regime neoliberal de regras de investimento
obriga os governos a acordos assinados com empresas transnacionais . . .
Se os acordos forem violados, os investidores sentem-se justificados a
levar os Estados anfitriões à arbitragem internacional por danos. ... A
regra da lei ... alegava que ... o Estado não podia infringir os
direitos e liberdades individuais, e o domínio da propriedade privada
deve ser protegido de políticas maioritárias". Assim, o neoliberalismo
não se livrou do planeamento estatal. Estabeleceu o domínio empresarial
sobre o Estado, forçando os governos dos países anfitriões a dar
"prioridade aos interesses do capital transnacional [sobre os da sua
própria população], e cooperar com empresas estrangeiras para limitar as
vozes democráticas e enfraquecer a resistência".

Alguns países conquistados recuperam-se, como a Alemanha e o Japão
depois de 1945. Mas a conquista dos antigos Estados soviéticos tomou a
forma de corrompção da sua estrutura económica, instalando uma
cleptocracia. O destino da Ásia Central e de outros Estados
pós-soviéticos continua a ser moldado pela forma como as suas terras,
recursos minerais e empresas públicas foram privatizadas às mãos de uma
cleptocracia cliente em aliança com o capital estrangeiro. Tal como as
concessões de terras criadas pela Conquista Normanda e as de Espanha no
Novo Mundo, a apropriação de bens pós-soviética criou uma nova
oligarquia com poderes para recolher terras e rendas de recursos
naturais para si próprios e para os accionistas e credores americanos e
outros estrangeiros. O agravamento da má distribuição da propriedade e
da dependência da dívida é susceptível de bloquear o seu desenvolvimento
durante muitas décadas.

A acusação que Tácito colocou na boca do adversário de Roma, o líder
celta Calgacus há dois mil anos – 'Eles fizeram um deserto e
chamaram-lhe paz' – pode ser feita contra os neoliberais ocidentais que
impõem a austeridade financeirizada, a dependência e a servidão da
dívida, e chamam à tomada do governo por parte dos rentistas uma regra
natural e inerente à lei. O desafio para a Ásia Central é como reformar
face aos interesses instalados ao longo dos últimos trinta anos. A
reforma é resistida não só pelos novos interesses dos rentistas e seus
patrocinadores estrangeiros, como também pela estreita "classe média",
que não encontra o seu interesse em juntar-se à maioria para reavivar a
despesa pública e tributar o arrendamento de terrenos e outras rendas
económicas.

A resiliência não pode ser restaurada sem despesa pública, mas o plano
de negócios do rentista /(rentier)/ consiste em minimizar os impostos
reduzindo o governo, especialmente através da privatização dos seus
serviços públicos e outras funções a fim de criar oportunidades de
cobrar rendas monopolistas – e opor-se à tributação das rendas
económicas. A filosofia económica dominante e o currículo académico
actual em todo o Ocidente apoiam este programa neoliberal, negando a
existência de qualquer coisa como rendimento ou riqueza não merecida do
rentista.

No entanto, só um imposto sobre as rendas pode recuperar o que os
iniciados se apropriaram. O que está em causa acima de tudo é se o
crédito, o sistema bancário e fiscal será gerido como um serviço público
ou para ganho privado. Um tesouro nacional ou um banco central deve ter
poderes para criar dinheiro de modo a não depender de bancos
estrangeiros. A directriz deve ser que nenhuma economia deveria contrair
empréstimos numa moeda estrangeira que ela não ganhe, por exemplo, pela
exportação para ganhar a divisa estrangeira necessária ao pagamento das
dívidas. Não há necessidade de depender de bancos estrangeiros para
emprestar dólares a serem convertidos em moeda nacional. Em tais casos,
o banco central tem de criar a moeda nacional de qualquer forma. O
crédito estrangeiro é necessário apenas para pagar os défices comerciais
e de pagamentos, não para investimento ou consumo interno.

Estas reformas fiscais e financeiras falharam, uma vez que a economia
clássica foi rejeitada após a Primeira Guerra Mundial. O mundo de hoje
precisa de recuperar a sua abordagem básica a fim de se libertar do
desvio pró-rentista que a apossou, não só nas repúblicas pós-soviéticas
mais visivelmente, mas agora também a praguejar a Europa e a própria
economia pós-industrial dos EUA.

Para evitar a dependência externa inerente ao neoliberalismo patrocinado
pela diplomacia americana, pelo Banco Mundial e pelo FMI é preciso um
corpo alternativo de teoria económica, acima de tudo [que faça] a
distinção entre rendimento merecido e não merecido e o conceito de renda
económica como o excesso de preço de mercado sobre o valor de custo
intrínseco. Este foi o impulso da economia política clássica no século
XIX – para libertar os mercados da classe rentista. A teoria do valor e
do preço eram as ferramentas analíticas para isolar a renda económica
como rendimento não merecido. Estes conceitos fornecem a base para a
gestão de uma economia mista público/privada, investimento público e
criação de crédito, bem como para a protecção do trabalho interno, da
indústria e da agricultura. Ao elaborar uma teoria para orientar a
política, a desastrosa promoção neoliberal dos interesses dos rentistas
em todos os estados pós-soviéticos proporciona uma lição objectiva do
que evitar.


        Junho/2021/Nova York

[1] The Economy of the USSR. A study undertaken to a request by the
Houston Summit: Summary and Recommendations (Washington, D.C.: The World
Bank, December 19, 1990).
[2] /Rentier Capitalism and Its Discontents : Power, Morality and
Resistance in Central Asia/
<https://www.bookdepository.com/Rentier-Capitalism-Its-Discontents-Balihar-Sanghera/9783030763022?ref=grid-view&qid=1634419158290&sr=1-1>,
de Balihar Sanghera e  Elmira Satybaldieva
[3] Elmira Satybaldieva, /The Debt Oppression in Central Asia,/ Naked
Capitalism, 7/Junho/2021.

[NT] Payday loans: empréstimos de curto prazo e de alto custo,
geralmente de valores pequenos.


    [*] Economista. As suas obras principais estão aqui
    <https://www.bookdepository.com/search?searchTerm=Michael+Hudson&search=Find+book>.


    O original encontra-se em
    thesaker.is/central-asias-neoliberal-tragedy-a-review/
    <https://thesaker.is/central-asias-neoliberal-tragedy-a-review/>

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/m_hudson/tragedia_15out21.html
18/10/2021

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

El multipolarismo, un paradigma geopolítico que avanza

 
 

     

*WIM DIERCKXSENS y WALTER FORMENTO*

*Un paradigma que se consolid*a

Después de haber sufrido una contundente derrota en Siria, el presidente
de Estados Unidos, Biden, en representación de las fuerzas globalistas
que gobiernan tras su “trono”, como de tantos otros presidentes, tuvo
que “marchar” ‎a Ginebra. El encuentro en Ginebra del 16 de junio
‎de 2021, entre Joe Biden y Vladimir Putin se organizó para poner fin a
las hostilidades. El presidente Biden reconoció en este contexto que
Estados Unidos debería suspender */la doctrina Rumsfeld de guerra
sin/**/ /**/fin/**/‎/**/que rige desde el 2001 e implementada desde la
OTAN-Globalista/*/./ Este fue un claro reconocimiento que han sido
derrotados –no vencidos aún- en esta tercera guerra mundial entre
grandes potencias, guerra de 20 años que, específicamente, tuvo como
escenario principal al Gran Medio Oriente.

Tras la derrota de la OTAN /(es decir las fuerzas militares y
paramilitares que la componen, de o reclutadas por EEUU, Gran Bretaña,
etc.)/ en Afganistán, en el corazón terrestre de Asia, estas tropas
compuestas mayoritariamente por mercenarios, manifiestan su derrota con
la retirada de las tropas de EEUU. Que, además, pone un final definitivo
a la guerra más larga de EEUU. Afganistán se encuentra ahora bajo el
dominio de los talibanes y el esquema multipolar de poder planteado por
los actores multipolares de China, Rusia, Irán, Egipto, Siria, etc., que
ahora controlan toda la masa continental asiática. Y según MacKinder,
quien controla esta masa continental controlará también el mundo. Por lo
cual, el Multipolarismo como iniciativa estratégica hoy es dominante en
toda es masa continental con tendencia a QUE LAS INICIATIVAS DE OTRAS
NACIONES DE SER PARTE SE INCLUYAN por cada vez más naciones.

La cumbre del vigésimo aniversario de la Organización de Cooperación de
Shanghai (OCS) en Dushanbe, Tayikistán, en setiembre de 2021 significó
entonces la consolidación de un */nuevo paradigma político estratégico
pluriversal y geopolítico./ *Esto significa también una derrota
estratégica que pudiera consolidarse en un futuro cercano con el /fin
del unipolarismo transnacional globalista. Teniendo en cuenta que *ya ha
perdido la iniciativa estratégica, sin entrar aun en franco declive*. Y,
también, de los unipolarismos continentales norteamericano, en declive
estratégico desde 1999, y del británico, en declive estratégico desde
1971./ Estando estos dos Continentalismos en contradicción y conflicto
principal contra la amenaza que significa, para estos intereses
estratégicos, el globalismo unipolar trans-continentalista. Y de modo
secundario contra el Multipolarismo, que en sus diferentes iniciativas
los “incluye” desde sus capacidades económicas productivas reales.

Por todo esto, podría considerarse lo anterior como la afirmación y
anunció de un nuevo orden estratégico político y económico
/(geo-político y geo-económico también, aunque no pueda explicarse sólo
desde la dimensión geográfica)/ no centrado en la iniciativa del
globalismo unipolar, como todavía se anunciaba con bombos y platinos en
el Foro Económico Mundial de enero de 2021, sino más bien un mundo
“basado” en la concepción multipolar, poliédrica y pluriversal de
“dialogo de civilizaciones” y ya no del “choque de civilizaciones” tal
cual se propuso en 1991-1994, a partir de la realidad parcial de la
Perestroika Soviética. La */Perestroika en Estados Unidos de
Norteamérica /*en despliegue desde marzo 2020-febrero 2021 *y la
Soviética acaecida en 1991* muestran que, las concepciones de las dos
posiciones estratégicas que conformaron el bipolarismo en la pos segunda
guerra mundial, están cediendo paso en éste periodo 2020-2021 a *una
concepción multipolar pluriversal*, que se manifiesta asumiendo una
*/tercera posición estratégica/*, que es la continuación y
profundización de la planteada inicialmente en 1955 en Bandung.

Los “eslabones perdidos” hasta ahora, Irán y Afganistán, están siendo
completamente incorporados al “gran juego” geopolítico por la
*iniciativa estratégica multipolar*. Es la coronación de la dinámica de
desarrollo multipolar de la OCS en conjunto con la Iniciativa multipolar
del Belt and Road (BRI), Nueva Ruta de la Seda (NRS), que venimos
presentando y dando cuenta como nuevo proyecto histórico desde hace
años. Irán, se hizo miembro de pleno derecho de la OCS y fue restaurado
en su papel históricamente /(de miles de años)/ prominente en Eurasia,
luego del acuerdo comercial y de desarrollo por el valor de 400 mil
millones de dólares logrado con China. Los iraníes fueron los
precursores de las múltiples Rutas de la Seda en la Antigüedad. A partir
de ahora, también, Egipto, Qatar y Arabia Saudita son socios del diálogo
de la OCS, al mismo nivel que Afganistán y Turquía. El proyecto implica
también que se unan el próximo año Líbano, Siria, Irak, Serbia y una
docena de países más. Mencionando a India y Pakistán como antiguos
socios (desde junio de 2018) comprenderemos mejor el peso actual de la
OCS en el mundo. La iniciativa multipolar China de */Una Ruta, Una
Franja/* se constituyó, en este proceso, como un mecanismo importante de
conectividad y articulación económica de la región y se vinculó además
con la estratégica Unión Económica Euro Asiática (UEEA) que es un
proyecto de integración económica y política de derecho basado en la
Unión Aduanera de Bielorrusia, Kazajistán y otros países bajo iniciativa
de Rusia.

Hubo consenso sobre la  “Declaración de Dushanbé[1]”, en la cual
<https://mea.gov.in/bilateral-documents.htm?dtl/34275/Dushanbe_Declaration_on_the_Twentieth_Anniversary_of_the_Shanghai_Cooperation_Organisation>todas
las vías de integración euroasiática convergen hacia el nuevo paradigma
multipolar, geopolítico y geoeconómico. La declaración fue bastante
explícita sobre los objetivos de los actores euroasiáticos: /“un orden
mundial más representativo, democrático, justo y multipolar basado en
principios universalmente reconocidos del derecho internacional,
diversidad cultural y de civilizaciones, cooperación mutuamente
beneficiosa e igualitaria de los estados bajo la función de coordinación
de la ONU”/. Reconociéndose y dándole a la ONU, a la Asamblea General de
ONU, el lugar estratégico general de ser el ámbito donde se coordinan
todos los intereses, iniciativas y acuerdos. Algo que el unipolarismo
financiero siempre le negó, reduciéndose a ser solo una sigla para
legitimar sus intereses e iniciativas.  Por ello, el tema de Afganistán,
en el marco la “salida” de la OTAN de Afganistán, fue un tema de
importancia. La OCS /–Organización de Cooperación de Shanghái-/ logro
llegar al consenso por el cual Islamabad – Pakistán – coordinará con los
talibanes la formación de un gobierno que también incluya tayikos,
uzbecos y hazaras.

*La OTAN y el AUKUS mueven contra el Multipolarismo*

Por otro lado, habiendo fracasado en sus objetivos militares terrestres,
las guerras financieras y arancelarias no declaradas de Estados Unidos
contra China también están llegando a su fin. Para ser reemplazadas por
una política de contención marítima a través de la asociación AUKUS, un
“acuerdo” entre Australia, Reino Unido y Estados Unidos, donde Australia
es expuesta por la “OTAN” a sufrir el hecho de tener que confrontar con
China, su principal mercado económico. Por otro lado, este hecho también
forzó el choque de la OTAN contra Francia, al excluirla por la fuerza
como proveedor de alta tecnología militar (submarinos de propulsión
nuclear) a Australia, que pasarían a ser provistos por Gran Bretaña.

El lamentable estado de las finanzas estadounidenses, las burbujas del
mercado del dólar, la inflación de precios persistente y creciente, y la
inevitabilidad de los aumentos de las tasas de interés describen y
explican porque una política de respaldo a la */contención marítima/*
sea la única opción estratégica que le quedo a Estados Unidos. Que
incluye la crisis con Francia y la potenciación de la UE que se “acerca”
necesariamente al multipolarismo, que expresa su principal mercado
económico.

En marcado contraste con el proyecto de integración multipolar de la OCS
en Asia-India-África-Europa, EEUU y la OTAN recurren, con una mezcla de
desesperación y arrogancia, al juego de poder marítimo por un
Indo-Pacífico libre y abierto -AUKUS. Washington ha demostrado con ello
que su prioridad ya no puede ser Europa, sino la región del
Indo-Pacífico. En este contexto, Australia cancela una orden de
submarinos franceses. La Unión Europea se reunió el 6 de octubre con un
claro debate para la decisión contundente de organizar su propia defensa
por fuera de la OTAN. Algo en lo que ya venía preparándose desde los
inicios del Brexit en 2016. Dando muestras de la recuperación del
protagonismo de Unión Europea industrial, científica y tecnológica que
se articula con el Asia pacifico, en particular con China y Rusia. Esto
parece ser un paso contundente de la UE en la toma de distancia respecto
de los sectores Globalistas en la OTAN, GB y EEUU, que debilita
estructuralmente las capacidades de la OTAN. Debilita lo que fue su
misión original pos-Roosevelt desde 1950. Pero que, de algún modo, ya
había “muerto” treinta años antes, en 1991, cuando la OTAN fue
instrumentada para enfrentar a los poderes nacionales de EEUU y Reino Unido.

Ya hemos analizado en trabajos anteriores la obsolescencia de la flota
de portaviones de EEUU, que se encuentra en un estado “lamentable” luego
del largo /periodo/ de /deslocalización de sus capacidades/
/industriales-científicas-y-tecnológicas a Alemania>Europa y Japón>Asia
Pacifico desde 1950-a-1971 (del Continentalismo norteamericano al
Tricontinentalismo), y luego desde 1973-a-2001 a la región la China
Británica de HK-Shanghái-Taiwán-etc. bajo control británico desde
1832-64 (del Tricontinentalismo al Globalismo Unipolar)/. En los
primeros meses de la pandemia hubo centenares de miembros con COVID
entre los tripulantes de varios portaviones y barcos de escolta. La
flota quedó sin poder operar, además, por tener otros portaviones en
puertos por motivo de “reparaciones profundas”. En tiempos de la guerra
biológica esta tecnología militar demostró pertenecer a tiempos del
siglo pasado, obsoleta. Ante el avance de Rusia en este campo, puede
entenderse la construcción de submarinos nucleares /(británicos en este
caso) /y la decisión luego de situarlos en Australia, para poder estar
lo más próximo a la China meridional, fue una respuesta que muestra la
debilidad de no poder sostener sus posiciones en Indonesia, Taiwán, etc.

Con el AUKUS en realidad Estados Unidos está quedando cada vez más
aislado en el mundo. Llama la atención que Canadá y Nueva Zelanda no se
unieran a la iniciativa angloamericana. También nos preguntamos por qué
Japón o Corea del Sur “no forman parte” en la alianza AUKUS. Incluso la
posición de la India, un actor más importante, que sí es miembro del
QUAD con EEUU, Australia y Japón, pero no del AUKUS. También Japón, otro
actor estratégico en la región, tampoco forma parte del esquema AUKUS.
Tal vez sería significativo evaluar el avance del Mercado Común del Asia
Pacifico –RCEP- con iniciativa de la China multipolar en lo económico
estratégico, para poder aproximarse a una evaluación más precisa del
porqué de la composición del AUKUS.

El acuerdo de otorgar a Australia capacidades de submarinos a propulsión
nuclear, para fortalecer el poder naval de la asociación en el Pacífico,
generó un conflicto intercontinental. Australia canceló un contrato con
Francia de submarinos para la flota australiana que iban a ser
diseñados por la empresa estatal francesa Grupo Naval, dando a Francia
no solo motivo de incomodarse sino de plantear la amenaza con salir de
la OTAN. No solo Francia sino la Unión Europea se ha distanciado del
proyecto de la OTAN y proyectan optar por su propia defensa y el
multipolarismo. Todo esto muestra no solo una creciente debilidad de la
OTAN, sino la capacidad de atracción que posee el Multipolarismo en lo
industrial tecnológico-científico, económico, político y diplomático.

La obsesión angloamericana ha sido, y sigue siendo, prevenir el
surgimiento de un «competidor» en Eurasia (Brzezinski), sea éste una
alianza de Rusia-Alemania en la era Mackinder, o en el presente con la
asociación estratégica de Rusia-China que luchan por el dominio
estratégico-económico (geoeconómico) en el corazón de masa terrestre
euroasiática y lejos de las potencias oceánicas atlánticas y en
condiciones de ventaja estratégica. Con el AUKUS pierden aún más
aliados, lo cual ya se observó con la finalización del NorthStream2.
EEUU y la OTAN han perdido la batalla en torno a este gasoducto que
conecta directamente a Rusia y Alemania-UE por el mar Báltico, que
garantiza el flujo de gas a Alemania y a la UE de modo contundente. Y
que dejará fuera de juego cualquier maniobra de “boicot” de la OTAN
desde Ucrania o desde Polonia, utilizando el gasoducto terrestre que
conecta a Rusia y Alemania, vía Ucrania-Polonia.

La Unión Europea tal vez se reconfigure tal como la conocemos, al
integrarse al proyecto multipolar, pero está claro que Alemania y
Francia como líderes optaron ya por encaminarse hacia éste proyecto, por
ello el AUKUS no sorprendió y parece ser más una re-acción de la OTAN
ante un hecho consolidado. Los países bálticos, Polonia y algunos de
Europa Oriental –la Iniciativa de los Tres Mares I3M- que se oponen y
amenazan eventualmente con salirse de la UE, reaccionan tarde y van
quedando en un aislamiento estratégico claro. De manera que no les quede
probablemente otra opción que aceptar la realidad y “sumarse” a la
“realidad y las condiciones de esta”.

El hecho que en Alemania haya un nuevo gobierno por formarse, no
cambiará el acuerdo de fondo entre socialdemócratas y democristianos que
construyo la actual UE, que impuso el modelo de Brexit más conveniente y
que se articuló con iniciativa propia en el proyecto multipolar. Los
importantes intereses económicos que tiene Australia con China, más
temprano que tarde harán que el país entre en crisis y luche por
realinearse con el multipolarismo, que es donde más se potencian sus
intereses.

*La VI Cumbre de la CELAC, Multipolarismo y Unipolarismo***

La profundización del aislamiento norteamericano no se detiene ahí.
                                             

El 18 de septiembre se realizó en México la */VI Cumbre de la Comunidad
de Estados Latinoamericanos y Caribeños (CELAC)/*. Se trata del primer
organismo de integración que reúne a los países de Latinoamérica y el
Caribe sin la participación de EEUU y Canadá. Un hecho relevante fue la
participación de Xi Jinping en el cierre de la Cumbre. El mandatario
chino consideró que la CELAC ha jugado un importante papel en la
salvaguardia de la paz y de la estabilidad en el continente
sudamericano. También destacó que desde julio de 2014 existe un ámbito
de articulación entre su país y la región a partir del *Foro China-CELAC. *

Luego de un período de gran vigor en el comienzo de la década pasada, la
CELAC atravesó un momento de parálisis, con la “radicalización” del
Continentalismo norteamericano a la defensiva frente a los intereses
Globalistas y muy particularmente durante la administración Trump, al
cual se “sumaron” los Halcones Republicanos de Texas-Florida-etc. Era el
punto más alto de los ataques defensivos de los “halcones” por asegurar
su control del continente y de los EEUU frente al Globalismo Unipolar.

En una nueva coyuntura internacional donde el Multipolarismo estaba
avanzando asume, a fines de 2018, Andrés Manuel López Obrador como
presidente de México. Dejando atrás cuatro (4) gobiernos neoliberales
globalistas /(1994-2000-2006-2012)/. Tal es la situación en 2021, que
actualmente casi nadie pone en duda que la OEA está en crisis, que está
obsoleta y que ya que no solamente la OEA, sino todo el sistema de
organizaciones multilaterales, económicas, políticas, militares también
lo están. El mundo ya se encuentra en un cambio en las correlaciones de
fuerzas y de poder. Es en esta coyuntura que, el 18 de septiembre de
2021, se realiza la VI Cumbre de la CELAC en Ciudad de México, con la
participación de 33 países. En la misma, el presidente mexicano Andrés
Manuel López Obrador propone disolver la OEA y sustituirla por un
organismo diferente.

En la misma cumbre se logra consenso para confirmar el respeto al
Derecho Internacional y a los principios de la Carta de las Naciones
Unidas, entre ellos la igualdad soberana de los Estados, la solución
pacífica de controversias, la cooperación internacional para el
desarrollo, el respeto a la integridad territorial y la no intervención
en los asuntos internos de los Estados nacionales. Tratase de un acuerdo
en total concordancia con el multipolarismo, al prevalecer el interés de
la comunidad como un todo y no los intereses de un “país” dominante en
particular. En el discurso de cierre de la CELAC
<https://www.globaltimes.cn/page/202109/1234633.shtml>, Xi Jinping
invitó a las 33 naciones latinoamericanas a formar parte de las Nuevas
Rutas de la Seda de Eurasia-África-Américas. La realidad para Estados
Unidos es que la población total en la OCS, o asociada con ella, es el
57% de la población mundial. Además, es que el multipolarismo se impone,
que EEUU va quedando cada vez más debilitado por sus estructurales pujas
internas de poder y que el unipolarismo se ha debilitado y se encuentra
moribundo por sus conflictos y luchas internas y externas.

Por ello, es preciso tener presente que China está enfocada en
desarrollar su Asociación Económica Integral Regional (RCEP), un acuerdo
de libre comercio con ratificación firmada hasta ahora por China, Japón,
Corea del Sur, Australia y Nueva Zelanda. Que entrará en vigor cuando lo
ratifiquen diez de los quince signatarios, probablemente en el primer
semestre de 2022. Al entrar en vigor, en términos de población será una
asociación dos veces y medio mayor a la superficie geográfica que
abarcan los acuerdos comerciales combinados entre la UE más los de EEUU
/ México / Canadá (T-MEC). Con cuatro de cada cinco de los signatarios
siendo aliados estadounidenses, RCEP demuestra que el AUKUS es una
asociación defensiva, y que está completamente separado del comercio. Si
bien EEUU se opone a que la RCEP siga adelante, es casi seguro que su
desarrollo debilitara cualquier postura beligerante, como la del AUKUS.
El mismo avance de los acuerdos comerciales en la región del Pacífico
promete la perspectiva de un mundo más equilibrado y con una proyección
de paz duradera.

*El capitalismo verde a partir del multipolarismo*

El autodenominado “capitalismo verde” en torno a su planteo de
sustitución del actual parque automotriz por autos de motor eléctrico
“pretende” salvar la “vaca sagrada” del capitalismo. Su diseño
geopolítico puede haber partido también de una iniciativa política de
obstruir el /cuasi-monopolio energético de Rusia/. Que, al predicar
prohibir el uso de los combustibles fósiles, esperaba que la economía
rusa se hunda, entre en crisis profunda. La ironía es que en medio del
desarrollo del Multipolarismo, este “capitalismo global verde” está
creando una escasez de energía en Occidente. Su punto culmine lo alcanzó
cuando Gazprom orientaba los flujos de gas a través de sus gasoductos
continentales vía Ucrania-Polonia hacia la Unión Europea
–Alemania-Francia-etc. La situación continuará hasta que el NordStream2,
tan “boicoteado” durante los últimos 10 años por la OTAN Globalista,
esté ya operando en el corto plazo. Con el invierno próximo, los costos
de energía ya están aumentando drásticamente en Europa, profundizado
todo por el hecho de haberse adelantado el proyecto de desmantelamiento
de la generación eléctrica a partir de carbón y gas.

El Occidente unipolar, sin saberlo, está entregando en regalo el
Heartland (Mackinder), porque a pesar de los ruidos diplomáticos en
sentido contrario, China, India y todos los miembros de la OCS seguirán
utilizando carbón, gas y petróleo baratos, que Asia tiene en abundancia.
Mientras que los industriales de occidente se ven obligados por sus
gobiernos a utilizar energía verde, que es más cara y no alcanza para
ser un verdadero sustituto. Prohibir los combustibles fósiles sin que
existan ya los sustitutos adecuados en “tiempo y forma”, implica un
efecto bumerán que golpea a la fuerte política anti-Rusia de Occidente.
Más del 95% de la logística europea está desplazando actualmente la
energía diésel y está ya en camino a sustituirla por energía nuclear, de
batería o hidrógeno para 2030.  En síntesis, para Europa no habría otra
opción que mirar hacia Rusia, con actitudes de mayor cooperación para no
quedarse sin energía. Esta necesidad que refuerza la voluntad de unirse
al multipolarismo.

*La inestabilidad financiera*

Con Evergrande /(la gran inmobiliaria controlada por capitales globales
que opera en China)/ la amenaza parece ahora venir desde otra dirección:
la inestabilidad financiera. Primero, no se puede comparar esta crisis
de Evergrande con la del Lehman Brothers como quieren imponerlo los
grandes medios financieros globalistas /(FT, Boomberg, WSJ, The
Economist, CNN, BBC, France24, efe, etc.) /en Occidente, aunque ambos
fueron y, en el caso de Evergrande, siguen controlados por los actores
geoeconómico estratégicos globales que son /fondos financieros de
inversión global –ffig-/: Blackrock[2] <#_ftn2>, Templeton, etc. Ante
una tasa de ganancia descendente, los “grandes países occidentales” se
orientan /(desde la caída del Lheman Brothers en 2008) /en una dirección
hacia el capital improductivo y ficticio                   /–emisión sin
respaldo en la economía real- /que sólo genera mayor concentración de
riqueza en las cada vez menos manos de una oligarquía financiera que se
enfrenta y divide.

Mientras que, el gobierno de la nación China invierte sobre todo en
obras de infraestructura ´no solo en su propia nación´, sino también y
por sobre todo en las naciones que comienzan a formar parte de la Nueva
Ruta Multipolar de la Seda desde el año 2014, muy particularmente desde
el llamado “Maidan de 2014”[3] <#_ftn3>. El ataque defensivo de la OTAN
Globalista “con todas sus fuerzas” disponibles para fracturar y bloquear
la unidad estratégica China-Rusia y sepultar el proyecto de Nueva Ruta
de la Seda Multipolar.  Esta integración económica estratégica es la que
permite que las naciones participantes cuenten con mayor financiamiento
para desarrollar infraestructura, manteniendo su soberanía y
catapultando no solo su economía sino la de la comunidad organizada como
un todo. Es el mismo principio del histórico proyecto de las grandes
obras colectivas productivas en tiempos de la Antigua Ruta de la Seda.

La diferencia con el Occidente Unipolar Globalista es que en China el
crédito otorgado se destina a proyectos re-productivos, cuyos productos
o servicios pertenecen a la economía real, aumentando la riqueza no solo
de China sino de la Comunidad que pertenece a la Nueva Ruta de la Seda
–NRS-. En Occidente, muy particularmente en Estados Unidos desde 2008,
ha dominado el crédito a tasas de interés cero o negativas para que la
oligarquía financiera de los grandes consorcios financieros recompre sus
propias acciones enriqueciéndose, sin generar riqueza nueva y para que
compren acciones de otras empresas consolidando una situación que
refuerza su condición monopólica, en benefició único de la valorización
financiera de sus propias acciones. Mientras que la política de China
tiene por objetivo garantizar que la expansión del crédito bancario se
invierta en la producción real y no en capital ficticio especulativo
como ha sucedido en el caso de Evergrande. China ha dejado correr esta
situación porque en un primer momento -2001>2019- no podía impedirlo sin
exponerse frente a los actores globalistas dominantes desde HK y, en un
segundo momento pos marzo 2020, para que se manifieste el potencial
desestabilizador de dichos flujos especulativos. Veámoslo algo más de cerca.

China ha estado restringiendo la expansión del crédito interno y
restringiendo la “banca en las sombras” (Shadow Banking), o sea, el
crédito extra-bancario. El país ha tenido cuidado de evitar el
desarrollo de capital ficticio con burbujas financieras. El Índice
Compuesto de Shanghai ha subido un 82% en 13 años desde 2008, lo que es
más o menos un crecimiento del 5% anual, es decir, un ritmo acorde con
el crecimiento económico. El Índice Standard&Poors, en cambio, subió en
el mismo período un 430% (un 12% al año) muy por encima de una modesta
tasa anual de crecimiento económico, diferencia que registra básicamente
el aumento de capital ficticio. Que, si bien no contribuye al
crecimiento económico, si conlleva a la concentración de riqueza en cada
vez menos consorcios financieros. Esta situación es insostenible y
tiende a un colapso financiero y en todo caso a la pérdida de poder
adquisitivo de la moneda en que se da el desarrollo del capital
ficticio. La moneda de China, en otras palabras, tiende a ser cada vez
más fuerte frente al dólar y frente a las otras monedas en que se da el
proceso de desarrollo de capital ficticio especulativo.

Los frutos de las políticas de restringir la expansión del crédito del
gobierno de China, apuntan entonces a un yuan más fuerte y a un dólar
más débil.  Lo anterior se observa a partir de los precios crecientes
que se pagan por las materias primas en dólares en Occidente. En su
propia moneda estos precios para China han aumentado un diez por ciento,
es decir, tres veces menos que la competencia que los compra en dólares.

Es la política monetaria restrictiva la que ha llevado a la actual
crisis de los promotores inmobiliarios de Evergrande. Lejos de ser un
hecho sorprendente, con políticas monetarias cautelosas podría haberse
previsto fácilmente.  Diferente a Occidente, el gobierno nacional de
China no se ve obligado a rescatar a las “poderosas” empresas privadas
transnacionales demasiado grandes para dejarlas caer (Too Big To Fail)
que, como se demostrará, no tienen ese poder en la realidad China del
2021. El gobierno central tomará las medidas del caso para limitar el
contagio financiero. Pero al interferir no lo hará para rescatar el
carácter privado de la empresa sino para buscar, a la vez, extender un
mayor control centralizado sobre estos sectores fuera del control
“central”. La principal diferencia con la burbuja financiera de 2008 en
Estados Unidos, radica en el tipo de intervención del gobierno del
Estado. El gobierno en China, interviene para “orientarlas” hacia el
proyecto socialista, no liberando capital privado para que realice una
fuga hacia el capital ficticio. El Gobierno del Estado en china no tiene
debilidad financiera ni restricción externa para intervenir. La deuda
externa en divisas es el 15% del PIB y China es acreedora con más del 6%
de la deuda mundial en sus activos financieros, muy superior a su deuda
en dólares.

La construcción y comercialización de viviendas fue de los primeros
sectores que se privatizaron. Este proceso de “financiarización” comenzó
a fines del siglo pasado, 1997-2000[4] <#_ftn4>. Evergrande se ha
especializado en esos clientes especulativos que no están interesados en
vender u ocupar sus propiedades, sino en esperar que la demanda
incremente su precio. Es decir, la misma lógica que llevó al estallido
de la crisis inmobiliaria en EEUU, sobre la que opero la puja entre
oligarquías financieras en 2006-2008, globalistas vs continentalistas
norteamericanos. La compañía utilizó crecientemente la gran banca
financiera – “banca en las sombras” -, incluidos los fideicomisos y
otros instrumentos financieros, ya que el Estado restringía tal crédito.
Según una nota publicada en The Wall Street Journal, “el gobierno
central pidió a los gobiernos locales que se preparen para la posible
caída de Evergrande”. Por la creciente iliquidez, la empresa buscó
desprenderse de activos para afrontar sus obligaciones, con descuentos
de hasta el 30%. Por lo tanto, una vez finalizada la “Crisis de
Evergrande”, el sector inmobiliario estará bajo un control más directo
del Estado central.

El gobierno controla cada vez más, y muy particularmente, lo
estratégico. En primer lugar, el Banco Central y los cuatro grandes
bancos comerciales estatales, que son los bancos más grandes del mundo.
El gobierno puede decirle al banco central, el Banco Popular de China,
que haga lo que sea necesario. Puede decirles a los administradores de
activos y fondos de pensiones estatales que compren acciones y bonos
para apuntalar los precios y financiar empresas. En este contexto, las
desarrolladoras inmobiliarias no forman parte del plan “Made in China
2025”. No es un sector tecnológicamente de punta. Tampoco son la base de
otros sectores como la energía, combustibles y construcción de
infraestructura, donde, con excepción de las TICs, es importante la
presencia de empresas del Estado (SOEs). (Vea, Alasdair Macleod, /The
Great Game moves on/).

El gobierno ya mostró su determinación para “combatir” actividades
monopólicas privadas y prevenir desbordes financieros del sector TIC,
ejemplificado en las elevadas multas impuestas a Alibaba y otras
empresas. Ahora le toca “explicitar” los correctivos a la especulación
financiera de los mayores desarrolladores inmobiliarios. En cualquier
caso, la mano visible del Estado tomará las medidas que encaminan a una
mayor capacidad de dirigir al país a más socialismo chino y contener las
tendencias hacia los distintos vicios improductivos provenientes del
capital privado.

No cabe duda que los déficits presupuestarios financiados por la
inflación monetaria en Estados Unidos, la UE, Japón y el Reino Unido,
más los paquetes de estímulo del banco central, están socavando ahora el
poder adquisitivo de las principales monedas. En términos de su poder
adquisitivo, estas monedas están ahora en una carrera /hacia abajo
(a-la-baja)/. No solo los costos de producción están aumentando
drásticamente, sino que los precios de las materias primas y la energía
parecen están aumentando drásticamente. Con China dominando las
exportaciones mundiales de bienes intermedios y de consumo han de buscar
alternativas ante un decreciente poder adquisitivo en dólares, euros,
libras esterlinas y yenes.

Mientras los déficits presupuestarios occidentales siguen aumentando,
conduciendo a déficits comerciales aún mayores, los exportadores chinos
no solo aseguran precios más altos, sino que precisan prepararse para
una demanda interna creciente. Al subir los precios a un ritmo acelerado
en monedas occidentales, no solo declina su demanda, sino que dicha
inflación galopante está gestando una nueva crisis financiera mundial,
particular y especialmente occidental. Será éste el fin de la dominación
de la “civilización ´financiera´ occidental” ante una nueva civilización
que conlleva el multipolarismo como programa.

Al moderar la demanda externa a crédito contra los bonos del tesoro
norteamericano (incobrables), /China está intentando aumentar el gasto
del consumidor interno/ a expensas de la tasa de ahorro interno. Es
decir, China tiene como política aumentar los ingresos y salarios en
China y, además, a la vez, acortar la jornada de trabajo,
particularmente larga. /La demanda del consumidor chino comenzará a ser
más importante que las exportaciones a los productores occidentales./ Lo
anterior permitiría que China pueda imponer en su mercado interno
productos con una vida media más larga, productos que respondan más a
necesidades priorizadas por el sujeto colectivo, por la comunidad de
base, y que eliminarían la “obsolescencia programada”. Lo que
significaría una profundización del socialismo con un resultado real a
favor del medio ambiente que difícilmente lo logrará el capitalismo
verde. Esta política también está en consonancia con el objetivo de
largo plazo de China para que se vuelva menos dependiente de las
exportaciones, ante una inminente caída en capacidad de demanda en
Occidente. Los exportadores chinos se beneficiarán del crecimiento de la
demanda nacional, así como de una demanda creciente en la Nueva Ruta de
la Seda, constituida por la comunidad multipolar de naciones y regiones.
 Aunque las monedas fiduciarias podrían destruirse por la implosión de
las burbujas de activos, /el multipolarismo contribuirá a una transición
más pacífica para el cambio civilizatorio/, */en tanto dialogo
multipolar de civilizaciones/*, lo que */parecía improbable antes que
Estados Unidos y la OTAN se “retiraran” de Afganistán/*.

Obviamente, este proceso lleva a una crisis terminal no solo a la
hegemonía occidental en el mundo, lo que ya es observable cuando sus
ideas-fuerza no organizan el sentido cultural, sino a su dominación
económica, civil y militar. Estados Unidos, en particular, se encuentra
inmerso ya en los desafíos políticos que le plantea este cambio
profundo, con su estado profundo en conflicto interno /(la Oligarquía
Globalista enfrentada a las Continentalistas y Nacionalistas) desde
1999-2001 y en 2020-2021 de modo estratégico. /Antes de poder optar por
el proyecto multipolar, inevitablemente tendrán que asumir la crisis
interna ya en desarrollo /(que aparece en la superficie en términos
políticos como demócratas enfrentados a republicanos)/ que bien podría
conllevar a la crisis de desintegración de la Unión de Estados Federales
/(donde la punta del iceberg aparece hoy como Texas-Florida vs Nueva
York-California)./ Además, esto también podría suceder en la Unión
Europea y en el Reino Unido, profundizando lo que ya sucedió en el Brexit.

El Banco Central de China está por /plantear e introducir el Yuan/ como
alternativa al Dólar, para sostener el comercio al interior de los
países que formen parte de la Nueva Ruta de la Seda. Por ello el
comercio de criptomonedas ya fue prohibido oficialmente en /China desde
2019/. El control de China sobre las criptomonedasya había afectado a la
industria de la /«minería de criptomonedas»./ El efecto fue claro:
mientras que, en septiembre de 2019, el 75% del uso de energía para
minar el Bitcoin en el mundo se concentraba en China,para abril de 2021
había caído al 46%. Sin embargo, el comercio con criptomonedas ha
continuado efectuándose en línea a través de transacciones en el
extranjero. Recientemente China anunció que toda clase de transacciones
con criptomonedas son consideradas ilegales en el país, incluidas las en
Bitcoin.

La declaración deja claro que quienes están involucrados en «actividades
financieras ilegales» están cometiendo un delito y serán procesados. Los
sitios web extranjeros que brindan dichos servicios a ciudadanos chinos
en línea también son considerados ilegales. Muchos grandes ´exchanges de
criptomonedas´prestan servicios en jurisdicciones sin tener sus
operaciones, servidores web y personal en esos países. Estos centros
extraterritoriales suelen ofrecer una amplia variedad de productos, como
la negociación de Tokens digitales en el mercado «al contado», derivados
como los futuros e incluso productos de «rendimiento» que se parecen a
los valores de renta fija. Este control es más difícil de lograr, pero
para /la introducción del yuan como moneda internacional de cambio/ es
fundamental tenerlo bajo control. Esto es indicador que la lucha[5]
<#_ftn5> por imponer y legitimar una nueva moneda que organice la
producción y el comercio internacional, multipolar y pluriversal también
ya se encuentra en un momento muy avanzado.

*Bibliografía*

Alasdair Macleod, /The Great Game moves on/, www.GoldMoney.com
<http://www.goldmoney.com/>, 26 de septiembre de 2021 (tomado de zero
hedge).

Dierckxsens Wim y Formento Walter, /Global Game of Thrones: Batalla por
la Moneda Digital dominante,/ www.alainet.org/es/articulo/213425
<http://www.alainet.org/es/articulo/213425>, 12/08/2021

Wim y Formento Walter 2019, /Perestroika: De la caída Soviética a la de
Washington – 1989-2020,/ ALAI, Quito Ecuador, octubre.

Dierckxsens Wim y Formento Walter, /Global game of thrones, Batalla por
la moneda digital dominante. Multipolarismo o Globalismo/, ALAI, agosto
de 2021

Dierckxsens Wim y Formento Walter, /Del Choque al Dialogo: De la
Globalización a la Perestroika en Estados Unidos/, ALAI Ecuador, junio
de 2020

Dierckxsens Wim y Formento Walter, Perestroika: /De la caída Soviética a
la de Washington – 1989-2020/, ALAI, Quito Ecuador, octubre de 2019.

Formento Walter y Dierckxsens Wim, /Tercera guerra mundial y oligarquía
financiera globalista/, ALAI, julio de 2021

Molinero Jorge, /Evergrande: ¿otro lehman brothers? de aquí para abajo/,
26 de septiembre de 2021**

*Prieto Fernando Vicente , */America Latina y CELAC/,
https://www.nodal.am/ <https://www.nodal.am/>, 27 de septiembre de 2021

www.infobae.com <http://www.infobae.com/>, /Europa buscará reducir su
dependencia con Estados Unidos/ tras 25 de Septiembre de 2021

*NOTAS*

[1] <#_ftnref1>
https://mea.gov.in/bilateral-documents.htm?dtl/34275/Dushanbe_
Declaration_on_the_Twentieth_Anniversary_of_the_Shanghai_Cooperation_Organisation
<https://mea.gov.in/bilateral-documents.htm?dtl/34275/Dushanbe_%20Declaration_on_the_Twentieth_Anniversary_of_the_Shanghai_Cooperation_Organisation>

[2] <#_ftnref2> *Los fondos de BlackRock y HSBC impulsaron las tenencias
de Evergrande a medida que se avecinaba la crisis.*
https://www-ft-com.translate.goog/content/87fddf09-ef69-49b3-87bc-1a2d84fffd91?_x_tr_sl=en&_
x_tr_tl=es&_x_tr_hl=es&_x_tr_pto=nui,sc
<https://www-ft-com.translate.goog/content/87fddf09-ef69-49b3-87bc-1a2d84fffd91?_x_tr_sl=en&_%20x_tr_tl=es&_x_tr_hl=es&_x_tr_pto=nui,sc>;
*The Funds Holding Evergrande’s Distressed Debt, From UBS to Saba*

*By Rachel Butt*
https://www.bloomberg.com/news/articles/2021-09-24/the-funds-holding-evergrande-s-distressed-debt-from-ubs-to-saba
<https://www.bloomberg.com/news/articles/2021-09-24/the-funds-holding-evergrande-s-distressed-debt-from-ubs-to-saba>

[3] <#_ftnref3> *Global Game of Thrones: Batalla por la Moneda Digital
dominante*, Wim Dierckxsens – Walter Formento, 12/08/2021; *Golpe
blando,* Por Telma Luzzani,
https://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-241373-2014-03-09.html
<https://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-241373-2014-03-09.html>

[4] <#_ftnref4> *«Sin embargo, en la década de 1990, China lanzó
reformas para privatizar y comercializar su sistema de vivienda, como
parte de su transición de mercado», añade, en referencia al proceso de
apertura que llevó al explosivo crecimiento económico del país,
especialmente tras su entrada en 2001 en la Organización Mundial del
Comercio. Evergrande, Cristina J. Orgaz, BBC News Mundo, 1 octubre 2021
*https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-58670064
<https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-58670064>

In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2021/10/15/el-multipolarismo-un-paradigma-geopolitico-que-avanza/
15/10/2021