domingo, 30 de dezembro de 2018

Geopolítica: a Eurásia renasce — e quer ser alternativa










Por Pepe Escobar, no Asian Times 

Xi Jinping e Vladimir Putin foram vistos numa joint venture culinária. Panquecas com caviar (blin, em russo), empurrados com um shot de vodca. Aconteceu há dias, no Fórum Econômico Oriental em Vladivostok. É metáfora desenhada (e comestível) para selar a sempre crescente ‘parceria estratégica abrangente russo-chinesa’. Assista:

Já há alguns anos, o Fórum de Vladivostok vem oferecendo um mapa inigualável do caminho, a quem se interesse por rastrear o progresso da integração da Eurásia.

Ano passado, às margens do Fórum, Moscou e Seul fizeram o lançamento bombástico de uma plataforma comercial trilateral, a qual, crucialmente, integrou Pyongyang, girando em torno de um corredor de conectividade de toda a península coreana com o Extremo Oriente da Rússia.

Tópicos de discussão em mesa redonda, esse ano, incluíram a integração do Extremo Oriente da Rússia em conexões logísticas; mais uma vez, a conexão entre Rússia e as Coreias – com o objetivo de construir uma Ferrovia Trans-Coreana conectada à Trans-Siberiana e um ramo do “Oleogasodutostão” que se conecta com a Coreia do Sul via China. Outros tópicos foram a parceria Rússia-Japão em termos de aumentar o trânsito eurasiano, centrado na conexão da Trans-Siberiana com a Linha Principal [ing. Baikal-Amur Mainline (BAM)], já ampliado para uma ferrovia projetada até a ilha de Sakhalin, e dali direto até a ilha de Hokkaido.

O futuro: de Tóquio a Londres, direto, por trem.

E há também a integração de Rússia e Associação de Nações do Sudeste Asiático, ANSA [ing. ASEAN] – ampliando projetos atuais de infraestrutura, agrícolas e de construção de navios, para energia, setor agroindustrial e de florestas, como delineado por Ivan Polyakov, presidente do Conselho de Negócios Rússia-ANSA.

Essencialmente aí se trata de construir simultaneamente um eixo crescente Oriente-Ocidente e também um eixo Norte-Sul. Rússia, China, Japão, as Coreias e o Vietnã, avançam, lentamente, mas com firmeza, rumo a sólida integração geoeconômica.

A mesa de discussão talvez mais fascinante em Vladivostok foi Crossroads on the Silk Road  [Cruzamentos na Rota da Seda], que reuniu, dentre outros, Sergey Gorkov, vice-ministro de Desenvolvimento Econômico da Rússia; Wang Yilin, presidente da gigante chinesa do petróleoCNPC, e Zhou Xiaochun, vice-presidente do grupo de diretores do essencial Boao Forum.

O ímpeto de Moscou é unir as Novas Rotas da Seda, ou Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE) com a União Econômica Eurasiana (UEE). Mas o objetivo geoeconômico final é ainda mais ambicioso: uma “parceria Eurasiana Expandida”, na qual a ICE converge na direção da UEE, da Organização de Cooperação de Xangai, OCX, e ANSA. No coração desse gigante está a parceria estratégica Rússia-China.

O mapa do caminho adiante, é claro, envolve tocar as cordas certas de um acorde complexo de equilíbrio entre interesses políticos e práticas gerenciais em múltiplos projetos Oriente-Ocidente. A simbiose cultural tem de entrar nesse quadro. A parceria Rússia-China tende cada vez mais a pensar em termos de Go (weiqi, o jogo), visão partilhada, baseada em princípios estratégicos universais.

Outra mesa de discussão chave em Vladivostok reuniu Fyodor Lukyanov, diretor de pesquisa no sempre essencial Clube de Discussão Valdai, e Lanxin Xiang, diretor do Centro de Estudos de Um Cinturão, Uma Estrada, no Instituto Nacional Chinês para Colaboração Internacional da OCX. A discussão aí se centrou na interação geopolítica asiática, envolvendo Rússia, China e Índia, países-chaves dos (B)RICS, e em como a Rússia pode capitalizar sobre essa interação, ao mesmo tempo em que navega pelo pântano da guerra comercial de sanções cada vez mais violentas.

Toda a energia vem da Sibéria

Tudo volta sempre ao básico e à parceria estratégica Rússia-China sempre em evolução. Xi e Putin autoenvolveram-se nela até o âmago. Xi define a parceria como o melhor mecanismo para que “se neutralizem conjuntamente os riscos e desafios externos”. Para Putin, “nossas relações são cruciais, não só para nossos países, mas também para o mundo.” É a primeira vez que um líder chinês participa nas discussões de Vladivostok.

A China está progressivamente se interconectando com o Extremo Oriente da Rússia. Corredores internacionais de transporte – Primorye 1 e Primorye 2 – darão novo impulso ao trânsito de cargas entre Vladivostok e o nordeste da China. A empresa Gazprom está próxima de completar o trecho russo do gigantesco gasoduto “Energia [poder] da Sibéria” até a China, em parceria com a CNPC. Mais de 2 mil quilômetros de dutos já foram instalados de Yakutia até a fronteira russo-chinesa. O gasoduto Energia [poder] da Sibéria começará a operar em dezembro de 2019.

Segundo o Fundo Russo de Investimento Direto, FRID [ing. Russian Direct Investment Fund (RDIF)], a parceria está avaliando 73 projetos de investimento no valor total de mais de $100 bilhões. A Comissão Comercial Russo-Chinesa de Aconselhamento faz a supervisão, incluindo mais de 150 executivos das maiores empresas russas e chinesas. O CEO do FRID, Kirill Dmitriev, está convencido de que “haverá transações particularmente promissoras nos acordos bilaterais que serão resultado do relacionamento produtivo entre Rússia e China.”

Em Vladivostok, Putin e Xi mais uma vez concordaram em manter crescente comércio bilateral em yuan e rublos, deixando de lado o EUA-dólar – já efeito da decisão tomada por ambos em junho, de aumentar o número de contratos denominados em yuan-rublo. Paralelamente, o ministro do Desenvolvimento Econômico Maksim Oreshkin aconselhou os russos a vender EUA-dólares e comprar rublos.

Moscou espera apreciação do rublo para cerca de 64 por EUA-dólar, no próximo ano. Atualmente é comercializado em cerca de 70 rublos /dólar, puxado para baixo pelas sanções EUA e pelo estrago que o dólar-arma-política está causando no Brasil, Índia e África do Sul, e também em estados aspirantes a ser (B)RICS, chamados “BRICS Plus“, como Turquia e Indonésia.

Putin e Xi mais uma vez reafirmaram que continuarão a trabalhar coordenadamente em seu mapa do caminho intercoreano baseado em um “duplo esfriamento” – a Coreia do Norte suspende os testes nucleares e lançamentos de mísseis balísticos, e os EUA suspendem os exercícios militares com Seul.

Mas o que parece estar realmente capturando a imaginação das duas Coreias é a ferrovia Transcoreana. Kim Chang-sik, presidente do desenvolvimento de ferrovias em Pyongyang disse: “Desenvolveremos ainda mais esse projeto a partir de negociações entre Rússia, Coreia do Norte e Coreia do Sul, de modo que os proprietários do projeto serão os países da Península Coreana.”

Isso se conecta ao que disse o presidente sul-coreano Moon Jae-in há apenas três meses: “Tão logo a linha principal Trans-Coreana esteja construída, poderá ser conectada à Ferrovia Trans-Siberiana. Com isso, será possível entregar produtos da Coreia do Sul à Europa, o que será economicamente benéfico não só para as Coreias, do Sul e do Norte, mas também para a Rússia.”

Compreenda a matryoshka

Ao contrário do que reza a histeria ocidental mal informada ou manipulada, os jogos de guerra em Vostok, na Trans-Baikal do Extremo Oriente da Rússia, incluindo 3 mil soldados chineses, são apenas uma parte da muito mais profunda complexa parceria estratégica Rússia-China. É feito uma matryoshka: o jogo de guerra é uma boneca dentro do jogo geoeconômico.

Em ‘China and Rússia: The New Rapprochement’ [China e Rússia: a nova reaproximação], Alexander Lukin, da Escola Superior de Economia da Universidade Nacional em Moscou, expõe em detalhes todo o mapa do caminho; a ampla parceria ainda em construção para toda a Eurásia, é parte de um conceito muito mais amplo e abrangente de “Eurásia Expandida” [ing. “Greater Eurasia”]. Esse é o âmago da entente Rússia-China, levando a o que o cientista político Sergey Karaganov chamou de “um espaço comum para cooperação econômica, logística e de informação, paz e segurança, de Xangai a Lisboa e de Nova Delhi a Murmansk.”

Sem compreender o Grande Quadro que envolve debates como a reunião anual em Vladivostok, é impossível compreender o modo como a integração progressiva de ICE, UEE, OCX, ANSA, (B)RICS e (B)RICS Plus está orientada para mudar irreversivelmente o atual sistema-mundo.



In

OUTRAS PALAVRAS

https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/geopolitica-a-eurasia-renasce-e-quer-ser-alternativa/

16/9/2018


terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Palomas en el basural: evangélicos, obras faraónicas y favelas



Raúl Zibechi
Brecha (Uruguay)

Cuando los más pobres emigran de la izquierda y la teología de la liberación
hacia la derecha y los cultos evangélicos, el progresismo culpa a los medios
masivos. No pueden comprender que siguen una lógica diferente, que no son
llevados de las narices, como insinúan no pocos intelectuales. La vida cotidiana
 en la favela enseña pragmatismo, para adaptarse a los cambios y a los caprichos
de los poderes, en el mismo sentido que los académicos se adaptan a las modas
del pensamiento. Pero los de abajo, por la simple e imperiosa necesidad.

Viernes de noche en el morro de Timbau, en la megafavela Maré, a unos doscientos
metros de la populosa avenida Brasil, siempre atestada de autobuses y coches. Un
pequeño grupo de seis personas conversa frente a un minúsculo local que ofrece
cervezas artesanales. Por la estrecha calle que forma parte del laberinto urbano
 se afanan motos, coches y transeúntes que suben y bajan casi rozando las sillas
y las aceras. La música de los locales que se amontonan en la callejuela es tan
potente que hablamos gritando.
“La música fuerte incomoda a las clases medias cuando vienen a la favela”,
comenta Timo, con una sonrisa socarrona y una mirada que pretende incluirnos en
la provocación. Pero la distinción de clases es más compleja, ya que en los
últimos años todos sus amigos favelados están cursando en las universidades
federales o del estado. Entre los conductores de coches y de motos despuntan
 armas, algunas largas, que son portadas con indiferencia, como si el conductor
llevara una prenda más. Nadie se inmuta, ni siquiera cuando un chico hace
corcovear la moto en una finta imposible por el escaso espacio.
El ambiente es de fiesta, como todos los días en Timbau. Nadie podría decir que
existe la menor preocupación por el ascenso de Jair Bolsonaro. Sólo los que
compartimos la mesa hablamos de política, los demás se mueven al ritmo lento y
cansino de la favela.
Subiendo la cuesta aparece un grupo de personas, varones y mujeres, mestizos y
negros en torno a los 30 años, bien vestidos pero no elegantes, que reparten
volantes en todos los comercios. Con amabilidad explican que nos están invitando
a un “congreso de jóvenes” en el enorme espacio de la Asamblea de Dios, tres
 cuadras más abajo. El volante es pequeño, pero está muy bien impreso, a todo
color, con fotos de las ceremonias religiosas y poco texto.
“Un gran coro de 200 jóvenes y una bella orquesta estarán adorando a Dios con
lindos himnos”, puede leerse en el reverso. “Usted es nuestro invitado y será un
enorme placer recibir su visita.” Luego viene la dirección y los horarios de las
misas diarias, que invariablemente son a las 7 de la tarde, cuando la gente
retorna de sus trabajos.
Imposible no quedarse pensando en el silencio y el respeto que infunden. Las
iglesias evangélicas y pentecostales están muy arraigadas en la favela, al punto
que en el camino hacia la casa de Timo, apenas cien metros cuesta arriba,
 reparamos en que en el trayecto hay tres iglesias pequeñas, tamaño garaje,
donde media docena de vecinos escuchan música y conversan. Contrastan con las
grandes iglesias, enormes galpones capaces de cobijar a miles de fieles.
En algún momento alguien acerca otro volante, del doble de tamaño que el de los
evangélicos. Una sopa de letras en blanco y negro, con un discurso ideologizado.
“Democracia=participación del pueblo.” “Bolsonaro=defiende la dictadura=pueblo
no participa=trabajador sin derechos”, reza debajo de un encabezado donde se
lee: “La Maré de Trabajadores, que vota en la democracia”. No lo firma ningún
partido, pero es evidente que se trata de propaganda del PT.
El complejo de favelas bautizado Maré (por “marea”, ya que está en una zona
inundable de la bahía de Guanabara) está formado por 15 barrios o favelas en la
zona norte de Rio de Janeiro y cuenta con 150 mil habitantes. Timbau fue el
primer barrio en ser poblado, hacia 1940, porque estaba en una zona no inundable
y tiene cierta altura desde la que se divisan las demás favelas.
Complejo del  Alemão
El niño de unos 7 años huye corriendo bajo la sombra del edificio abandonado que
se yergue imponente como un monumento a la nada. Se escuchan cohetes, o
disparos, a poca distancia, y el chico llora desconsolado. Algunos vecinos le
dicen que se vaya a su casa, pero sus amigos siguen jugando imperturbables.
Desde el Morro da Baiana hay una vista estupenda de todo el Complexo do Alemão,
pero también de las favelas vecinas, como Maré, más poblada y extensa. Baiana es
uno de los 16 barrios de este complejo de favelas surcadas por cinco morros
unidos por un teleférico que ya no funciona. Con 100 mil habitantes, es el
segundo conjunto en importancia de favelas de la región norte de la ciudad.
 Según datos oficiales del Instituto Brasileño de Geografía y Estadística, el
Alemão es la región más pobre de Rio. Y la más violenta.
Nos acompaña Leo, un joven de tez oscura que integra el colectivo Ocupa Alemão,
en sintonía con el Occupy Wall Street pero en clave pobre y afro. Explica que la
zona es muy tranquila y que sólo se alborota cuando hay guerra entre las bandas
de narcotraficantes que se disputan el territorio. Caminando entre cacas de
perros y basurales donde picotean las palomas, y en un ambiente de abandono y
tristeza gris, comenta la historia del teleférico, que parece un relato extraído
del realismo mágico.
El teleférico fue uno de los proyectos estrella de los gobiernos del PT y forma
parte del Programa de Aceleración del Crecimiento (PAC) del estado de Rio de
Janeiro impulsado por Dilma Rousseff, lo que le valió el apodo de “madre del
PAC”. Para construir cada una de las seis estaciones, un edificio de una manzana
en lo alto de los morros, hubo que demoler decenas de viviendas en cada lugar,
dejando a varios cientos de familias desplazadas.
El teleférico fue inaugurado en julio de 2011. Los Juegos Olímpicos finalizaron
en agosto de 2016, y en octubre el teleférico dejó de funcionar. Las
instalaciones se están deteriorando y el material de transporte se convierte
rápidamente en chatarra: más de 200 millones de reales (unos 80 millones de
dólares) tirados a la basura. Cuando Dilma Rousseff lo inauguró en 2011, junto
al gobernador Sergio Cabral, del MDB, hoy preso en el marco de la operación Lava
Jato, dijo que el sistema transportaría a 30 mil personas por día. Nunca superó
las 10 mil, apenas el 10% de la población del Alemão.
Fue tan mal planificado que no puede funcionar sin subvenciones. Cada viaje
tiene un costo de 6,7 reales (más de dos dólares), el doble que el metro y los
autobuses que recorren trayectos mucho más largos que los tres quilómetros del
teleférico. Leo se pregunta si no hubiera sido mejor invertir en saneamiento o
en obras de urbanización, señalando las montañas de basura donde se alimentan
 bandadas de palomas.
“Aquí estaba previsto invertir en vivienda, en saneamiento integrado con redes
de abastecimiento de agua potable, espacios deportivos, escuelas y guarderías
que nunca se hicieron”, dice a Brecha el militante de Ocupa Alemão. Lo que sigue
 funcionando al lado de la estación Baiana es una Unidad de Policía Pacificadora
(UPP), el fracasado proyecto de llevar a los uniformados para dar “seguridad” a
los favelados.
Incluso los edificios del teleférico abandonados fueron ocupados por la Policía
Militar, para “evitar que los ocupen otros”, dice Leo, en referencia a los miles
de vecinos que sobreviven en viviendas muy precarias.
El otro teleférico, el de Morro de Providencia, la primera favela de la ciudad
maravillosa formada por ex combatientes de la guerra de Canudos (a fines del
siglo XIX), cerró el mismo año, apenas dos meses después que el del Alemão. Lo
construyeron para los turistas, para unir el Puerto Maravilla y el Sambódromo
con la Estación Central. Dejaron en pie una de las columnas de soporte, que
 invadió completamente el único espacio público con que contaba el morro.
Las obras como los teleféricos generan desplazados urbanos, al igual que todas
las emprendidas para la infraestructura del Mundial de 2014 y las Olimpíadas de
2016, o las faraónicas, como las represas hidroeléctricas concebidas para
alimentar el desarrollo. Un estudio del Instituto Igarapé sobre los desplazados
a la fuerza entre 2000 y 2017 llega a la alucinante conclusión de que en el
Brasil progresista hubo casi 9 millones de pobres que debieron cambiar
obligadamente sus sitios de residencia.
El estudio, titulado “Migrantes invisibles. La crisis del desplazamiento forzado
en Brasil”, reveló la existencia de por lo menos 8,8 millones de personas que
fueron obligadas a cambiar de lugar donde vivir. La enorme mayoría de ellas,
cerca de 6,4 millones, debieron dejar sus hogares por desastres naturales
 provocados por otros seres humanos, incendios o ruptura de represas. Los
proyectos de desarrollo, como las carreteras y represas, desplazaron a más de
1,2 millones, y la violencia rural en el marco de la expansión del agronegocio
desplazó a 1,1 millones [1]. Nadie menciona estas cifras cuando se evalúan los
impactos del progresismo. Brasil está a la cabeza en América Latina en cuanto a
la cantidad de sus desplazados internos, y supera incluso a Colombia, que sufrió
una guerra de seis décadas.
Acelerar la corrupción
En realidad, no debe sorprender la construcción de teleféricos inútiles, ya que
buena parte de las obras del PAC fueron desastrosas y los empresarios y
políticos involucrados en ellas están envueltos en tramas de corrupción.
El informe Modernización fracasada, publicado como libro, señala que las diez
mayores obras de ese programa desarrollista adoptado en 2007 fueron un rotundo
fracaso. Apenas una está en funcionamiento, dos fueron abandonadas o
interrumpidas y las demás funcionan con restricciones o de forma irregular [2].
Por ejemplo, la construcción del Complejo Petroquímico de Rio de Janeiro
(Comperj), una obra de importancia estratégica para ampliar la capacidad de
refinación y procesar lo obtenido en los ricos yacimientos de petróleo y gas de
las cuencas de Santos y Campos, fue interrumpida pese a que ya se llevaba
invertida la astronómica cifra de 13.000 millones de dólares. Otras obras
grandiosas, e innecesarias, como la usina hidroeléctrica Belo Monte, nunca
 producirán lo estimado, pese al brutal daño ambiental y social que han
 provocado.
Habría que escuchar a los “refugiados de Belo Monte” –como los denomina la
periodista Eliane Brum–, las personas desalojadas de sus casas e instaladas en
la periferia de la ciudad de Altamira, en condiciones de precariedad, que le
valieron a la usina el nombre de “Belo Monstruo” (El País, edición brasileña,
16-V-18). La cuarta hidroeléctrica del mundo sólo benefició el ego de los
gobernantes y los bolsillos de las grandes constructoras (Camargo, Correa,
 Odebrecht, Andrade Gutiérrez, entre las más conocidas).
“Lo que el gobierno no dice es que en la temporada de seca del río Xingú, la
producción de energía baja drásticamente”, señala Brum. En esos momentos
producirá menos de la mitad de su capacidad, “lo que la coloca como una de las
hidroeléctricas menos productivas en relación con la capacidad instalada”.
Favela-crimen
Un informe de Folha de São Paulo revela que el mismo crimen cometido por un
habitante de una favela supone una condena mucho más dura que si fue hecho por
alguien que vive en un barrio de clase media. El diario hizo una investigación
basada en datos del Banco Nacional de Órdenes de Prisión, creado por el Consejo
Nacional de Justicia. En Rio de Janeiro, en el 41% de las 82 mil órdenes de
prisión por tráfico de drogas “el reo fue acusado o fue condenado además por
asociación al tráfico”, mientras la media nacional es de 12%, y en São Paulo de
10 (Folha de São Paulo, 27-IV-18).
De ese modo, cuatro de cada diez personas encontradas con drogas sufrieron una
pena mayor por el “delito” de vivir en favelas. El coordinador de la defensa
criminal de Rio, Emanuel Queiroz, dijo al diario paulista que “el Ministerio
Público pregunta a la policía: ‘¿Esa área está dominada por el narco?’. ‘Sí.’
Con eso ya basta para darle tres años más de pena, por considerarlo asociado al
 tráfico. Es rutina”.
Según Queiroz, la doble acusación es una estrategia de la Policía Civil y del
Ministerio Público para “inviabilizar pedidos de libertad provisional, ya que
las penas mayores a ocho años se cumplen en un régimen cerrado”.
Un estudio de la Defensoría Pública de Rio analizó 3.475 procesamientos por
tráfico de drogas entre 2014 y 2015 y concluyó que en el 75% de ellos se aplicó
una doble pena, por el lugar donde fue aprehendida la persona. Lo más grave es
que para la justicia alcanza con la declaración de un policía para decretar la
 pena. En varios casos analizados por Folha, los policías escuchados en el
proceso dieron “declaraciones idénticas, usando las mismas palabras”. Para
algunos abogados defensores, la ley de drogas aprobada en 2006 “creó un
salvoconducto para la arbitrariedad en la periferia, empezando por la distinción
entre usuarios y traficantes”. Los primeros son de clase media, los segundos son
pobres.
Y volviendo a los evangélicos: “Lo que molesta de los gays y lesbianas es la
ostentación pública de identidad. No su condición, porque en la favela siempre
hubo mucha tolerancia”, explica Leo, intentando descifrar las razones por las
cuales sus vecinos se volcaron hacia los pentecostales y evangélicos.
No es tan difícil de entender. Con Folha Universal en la mano, el semanario a
todo color de la Iglesia Universal, del que se reparten casi 2 millones de
ejemplares, las cosas terminan cerrando. En la portada, niños y niñas sonriendo.
En las páginas interiores se suceden los temas: familia, alimentación sana,
retraso escolar, deporte infantil, una sección dedicada al mioma uterino y otra
a combatir los celos como señal de debilidad.
Más allá de los discursos, ¿quién se ocupa de los más pobres? Los empresarios y
los gobiernos hicieron sus negocios, como lo demuestra el desastre del
teleférico, dando prioridad al turismo por encima de necesidades tan urgentes
como la salud y el saneamiento, que en ninguna favela están satisfechas. Los
evangélicos están cerca de la gente. Son parte de la favela. No pude ver ningún
 local de partidos de izquierda en las favelas que visité, en varias ocasiones,
en los últimos años. Las iglesias pentecostales siguen creciendo y lo seguirán
haciendo hasta que las izquierdas dejen los discursos y vuelvan a pisar el
barro.
Notas
[1] Los datos pueden encontrarse en “Migrantes invisibles”, del Instituto
Igarapé, marzo de 2018.
[2] Jacob Binsztok y Jorge Luiz Barbosa, Modernização fracasada, Consequência.
Rio de Janeiro, 2018.
Fuente: https://brecha.com.uy/palomas-en-el-basural/


In
REBELION
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=250591
25/12/2018

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Os Estados Unidos preparam uma guerra entre Latino-americanos


Thierry Meyssan

Pouco a pouco os partidários da doutrina Cebrowski avançam os seus piões. Se
tiverem que cessar de fabricar guerras no Médio-Oriente Alargado, irão fazê-lo
na Bacia das Caraíbas. Antes de mais, o Pentágono planifica o assassínio de um
chefe de Estado eleito, a ruína do seu país e sabota a unidade da América
Latina.

Falando perante a comunidade anti-castrista, no Miami Dade College, John
Bolton denunciou «Esta troika da tirania, que se estende de Havana a Caracas
passando por Manágua, [a qual] é a causa de imenso sofrimento humano, o
impulso para uma enorme instabilidade regional, e a génese de um sórdido berço
do comunismo no hemisfério ocidental».
John Bolton, o novo Conselheiro Nacional de Segurança dos Estados Unidos,
relançou o projecto de destruição das estruturas estatais da Bacia das Caraíbas.
Recorde-se que, na onda dos atentados do 11-de-Setembro, o Secretário da Defesa
da época, Donald Rumsfeld tinha criado um Gabinete de Transformação de Força
(Office of Force Transformation) e designado o Almirante Arthur Cebrowski para o
dirigir. A sua missão era a de preparar o Exército norte-americano para a sua
nova missão da era da globalização financeira. Tratava-se de mudar a cultura
militar a fim de destruir as estruturas estatais das regiões não-conectadas à
economia globalizada. O primeiro componente deste plano consistiu em
desarticular o «Médio-Oriente Alargado». A segunda etapa deveria ser fazer o
mesmo na «Bacia das Caraíbas».O plano previa destruir uma vintena de Estados
costeiros e insulares, à excepção da Colômbia, do México e o mesmo quanto a
territórios britânicos, norte-americanos, franceses e neerlandeses.
Logo após a sua ascensão à Casa Branca, o Presidente Donald Trump opôs-se ao
plano Cebrowski. No entanto dois anos mais tarde, apenas conseguiu interditar ao
Pentágono e à OTAN de entregar um Estado aos grupos terroristas que eles
empregam (o «Califado»), mas não em desistir de manipular o terrorismo. Em
relação ao Médio-Oriente Alargado, conseguiu fazer diminuir a tensão, mas as
guerras continuam com menor intensidade. Em relação à Bacia das Caraíbas, ele
travou o Pentágono, interditando-o de desencadear operações militares directas.
Em Maio último, Stella Calloni revelava uma nota do Almirante Kurt Tidd,
Comandante-em-chefe do SouthCom, expondo os meios postos em marcha contra a
Venezuela [1]. Uma segunda incursão é conduzida em simultâneo na Nicarágua e uma
terceira, desde há um século e meio, contra Cuba.
Em diversas análises precedentes havíamos concluído que a desestabilização da
Venezuela, iniciada pelo movimento das guarimbas, prosseguida pela tentativa de
golpe de Estado, de 12 de Fevereiro de 2015 (operação Jericó) [2], depois pelos
ataques contra a moeda nacional e a organização da emigração, desaguaria em
operações militares [3] conduzidas a partir do Brasil, da Colômbia e da Guiana.
Manobras multinacionais de transporte de tropas foram organizadas pelos Estados
Unidos e seus aliados, em Agosto de 2017 [4]. A subida ao Poder em Brasília, a 1
de Janeiro de 2019, do Presidente pró-israelita Jair Bolsonaro tornará isso
possível.
  O Vice-presidente brasileiro Hamilton Mourão e o Presidente Jair Bolsonaro.
De facto, o próximo Vice-presidente brasileiro será o General Hamilton Mourão,
cujo pai desempenhou um papel notável no golpe militar pró-EUA de 1964. Ele
próprio se salientou por suas declarações contra os Presidentes Lula e Rousseff.
Em 2017, ele declarara —em nome do Grande Oriente do Brasil— que chegara o
momento de um novo golpe militar. No fim, acabou eleito com o Presidente
Bolsonaro. Numa entrevista à revista Piauí, anunciou um próximo derrube do
Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e a instalação de uma força de «paz»
brasileira (sic). Perante a gravidade destas afirmações, que constituem uma
violação da Carta das Nações Unidas, o Presidente eleito, Bolsonaro, assegurou
que ninguém queria fazer guerra a ninguém e que o seu Vice-presidente falava
demais.
Seja como for, o Presidente Maduro, numa conferência de imprensa, em 12 Dezembro
de 2018, revelou que o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton,
assegurava a coordenação entre a equipa do Presidente colombiano, Iván Duque, e
a do Vice-presidente brasileiro. Um grupo de 734 mercenários está actualmente a
ser treinado em Tona, na Colômbia, para realizar um ataque de falsa bandeira
contra a Colômbia e justificar assim uma guerra da Colômbia contra a Venezuela.
Ele seria comandado pelo antigo Coronel Oswaldo Valentín García Palomo, hoje em
dia em fuga após a tentativa de assassinato com drone do Presidente Maduro, no
aniversário da Guarda Nacional, a 4 de Agosto último. Estes mercenários são
apoiados por Forças Especiais estacionadas nas bases militares dos EUA em
Tolemaida (Colômbia) e Eglin (Florida). O plano norte-americano prevê a captura,
desde o início do conflito, de três bases militares venezuelanas, Libertador de
Palo Negro, Puerto Cabello e Barcelona.
  Anúncio de busca sobre o Coronel Oswaldo Valentín García Palomo da Guarda
  Nacional venezuelana, depois de ele ter comandado uma tentativa de assassinato
  do Presidente da República bolivariana.
O Conselho de Segurança Nacional dos EUA tenta convencer vários Estados a não
reconhecer o segundo mandato de Nicolás Maduro (reeleito em Maio último, mas que
deverá iniciar o mandato com o Ano Novo). Foi por isso que os Estados do Grupo
Lima contestaram o escrutínio presidencial antes mesmo da sua realização, e
interditaram, ilegalmente, a sua organização nos consulados da Venezuela. Da
mesma forma, a crise migratória acaba por não passar de mais uma manipulação:
são hoje inúmeros os Venezuelanos que fugiram da crise monetária, acreditando
encontrar facilmente trabalho num outro Estado latino-americano, a tentar voltar
para casa. Mas, o Grupo Lima impede-os, proibindo os aviões venezuelanos que
tentam ir repatriá-los de sobrevoar o seu espaço aéreo e aos autocarros
(ônibus-br) vindos para os buscar de cruzar as fronteiras.
Tudo se passa, pois, como se estivéssemos assistindo a um remake (repetição-ndT)
dos acontecimentos que ensanguentam o Médio-Oriente Alargado desde os atentados
do 11 de Setembro de 2001. O essencial não reside nas acções militares, mas na
representação de desordem conferida pelos acontecimentos. Trata-se, primeiro, de
fazer levar gato por lebre [5].Em cinco anos, a Venezuela e a Nicarágua que
tinham uma imagem positiva no exterior são hoje consideradas, erradamente, como
«Estados falidos». Se ainda não se reescreveu a história dos Sandinistas e da
sua luta face à ditadura dos Somoza, dá-se como adquirido que Hugo Chávez Frías
era um «ditador comunista» (sic), quando o seu país deu um incrível salto em
frente, político e económico, sob a sua presidência. Em breve, irá ser possível
destruir estes Estados sem que ninguém se incomode em reclamar.
O tempo esgota-se cada vez mais rapidamente. Assim, quando em 1823 o Presidente
James Monroe decidiu fechar as Américas ao controlo europeu, ele não sabia que a
sua doutrina evoluiria, 50 anos mais tarde, para uma afirmação do imperialismo
dos EUA. Tal como hoje, quando o Presidente Donald Trump afirmava no dia da sua
investidura que o tempo de mudanças de regime acabara, ele não pensava que seria
traído pelos seus. Ora, a 1 de Novembro de 2018, o seu Conselheiro de Segurança,
John Bolton, declarava em Miami que Cuba, a Nicarágua e a Venezuela formam a
«troika da tirania». Depois o seu Secretário da Defesa, o General James Mattis,
afirmava, a 1 de Dezembro, diante do Reagan National Defense Forum que o eleito
Presidente Maduro é um «déspota irresponsável», que «deve partir» [6].
Thierry Meyssan
Tradução
Alva



In
VOLTAIRE.NET.ORG
http://www.voltairenet.org/article204401.html
18/12/2018

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Tudo o que pensava acerca da civilização ocidental está errado – O novo livro de Michael Hudson, E perdoai-lhes as suas dívidas


       por John Siman


       Dizer que o novo livro de Michael Hudson And Forgive Them Their Debts:
      Lending, Foreclosure, and Redemption from Bronze Age Finance to the
      Jubilee Year (ISLET, 2018) é profundo é uma subestimação equivalente a
      dizer que a  Fossa das Marianas é profunda. Apreender o seu argumento
      central é tão estranho para o nosso moderno modo de pensar acerca de
       civilização e barbárie que Hudson concordou comigo em que o livro é, na
      medida em que for compreendido, "devastador" tanto na intenção como no
      efeito. Ao longo das últimas três décadas, Hudson recolheu (sob os
      auspícios do Museu Peabody de Harvard) e a seguir sintetizou a erudição de
       assiriologistas americanos, britânicos, franceses, alemães e soviéticos
      (escrito com minúsculas a para denotar colectivamente todos os que estudam
      as várias civilizações da antiga Mesopotâmia, as quais incluem a Suméria,
      o Império Acadiano, o Ebla, a Babilónia e outras, assim como a Assíria com
       um A maiúsculo). Hudson demonstra que nós, globalistas do século XXI,
      temos sido moralmente cegados por um obscuro legado de cerca de vinte e
      oito séculos de história descontextualizada. Isso nos deixou, para todos
      os propósitos práticos, absolutamente ignorantes do modelo civilizacional
      correctivo que é necessário para nos salvarmos do afundamento numa negra
      barbárie neo-feudal.
       Este modelo colectivo realmente existiu e floresceu no funcionamento
       económico de sociedades da Mesopotâmia durante o terceiro e segundo
      milénio AC. Ele pode ser denominado amnistia do Passado Limpo  (Clean
      Slate),  uma expressão que Hudson utiliza para abarcar a função essencial
      do que era chamado  amargi  e  níg-si-sá  em sumério, e  urârum  e
       mîðarum  em acadiano (a linguagem da Babilónia),  ðudûtu  and  kirenzi
       e, hurriano,  para tarnumar  em hitita, and  deror  em hebraico: É o
      apagamento necessário e periódico das dívidas de pequenos agricultores –
      necessário porque tais agricultores estão, em qualquer sociedade na qual
      sejam calculados juros sobre empréstimos, inevitavelmente sujeitos a serem
      empobrecidos, a seguir destituídos da sua propriedade e finalmente
      reduzidos à servidão (incluindo a servidão sexual de filhas e esposas)
      pelos seus credores. Estes últimos inevitavelmente procuram efectuar a
      polarização terminal da sociedade numa oligarquia de credores predatórios
      canibalizando uma subclasse que se afunda atolada em irreversível servidão
      da dívida  (debt peonage).  Hudson escreve: "Que é o que os credores
      realmente querem. Não meramente o juro como tal, mas o colateral –
      quaisquer que sejam os activos económicos que os devedores possuem, desde
      o seu trabalho à sua propriedade, acabando com as suas vidas" (p. 50).
       E tal polarização é, pela definição de Hudson, barbárie. Pois qual é a
      condição mais básica da civilização, pergunta Hudson, senão a organização
      societal que efectua um "equilíbrio" duradouro mantendo "todos acima do
      nível de ruptura"?
       "As sociedades mesopotâmicas não estavam interessadas em igualdade",
      disse-me ele, "mas elas eram civilizadas. E possuíam o refinamento
      financeiro suficiente para entender que juros sobre empréstimos aumentam
      exponencialmente, ao passo que o crescimento económico na melhor das
      hipóteses segue uma curva S. Isto significa que os devedores, se não forem
      protegidos por uma autoridade central, acabarão por se tornar escravos
       (bondservants)  permanentes dos seus credores. Assim, os reis da
      Mesopotâmia regularmente resgatavam devedores que estavam a ficar
      esmagados pelas suas dívidas. Eles sabiam que precisavam fazer isto.
      Repetidamente, século após século, proclamavam Amnistias Passado Limpo
       (Clean Slate Amnesties)  ".
       Hudson também escreve: "Ao libertar indivíduos aflitos que haviam caído
      na servidão da dívida, e ao devolver aos cultivadores as terras que haviam
      perdido por dívida ou vendido sob pressão económica, estes actos reais
      mantinham um campesinato livre desejoso de combater pela sua terra e de
      trabalhar em projectos de edifícios públicos e de canais... Ao limpar a
       acumulação de dívidas pessoais, os governantes salvavam a sociedade do
      caos social que teria resultado da insolvência pessoal, da servidão por
      dívidas e da deserção militar" (p. 3).
       Marx e Engels nunca apresentaram um tal argumento (nem tão pouco Adam
       Smith). Hudson destaca que eles nada sabiam destas antigas sociedades
       mesopotâmicas. Ninguém sabia naquela época. Quase todas as espécies de
      assiriologistas completaram suas escavações arqueológicas e análises
      filológicas durante o século XX. Por outras palavras, este livro não
      poderia ter sido escrito até que alguém digerisse as partes relevantes do
      vasto corpo deste conhecimento académico recente. E este alguém é Michael
      Hudson.
       Assim, vamos reconsiderar a percepção fundamental de Hudson em termos
      mais incisivos. Nas antigas sociedades mesopotâmicas entendia-se que a
      liberdade era preservada pela protecção dos devedores. No que chamamos de
      Civilização Ocidental, isto é, na pletora de sociedades que se seguiram ao
      florescimento da  poleis  grega a partir do século VIII AC, exactamente o
      oposto se passou, com apenas uma única grande excepção (Hudson descreve o
       Império Bizantino do século X DC de  Romano Lecapenus ): Para nós a
      liberdade tem sido entendida como sancionando a capacidade dos credores de
      exigir o pagamento de devedores sem restrição ou supervisão. Isto é a
      liberdade de canibalizar a sociedade. Isto é a liberdade de escravizar.
      Isto é, afinal das contas, a liberdade proclamada pela Escola de Chicago e
      a corrente convencional dos economistas americanos. E assim Hudson
      enfatiza que a nossa noção ocidental de liberdade tem sido, desde há cerca
      de vinte e oito séculos,  orwelliana  no sentido mais literal da palavra:
       Guerra é paz, Liberdade é escravidão, Ignorância é força.  Ele escreve:
      "Uma dinâmica constante da história tem sido o impulso por parte das
      elites financeiras para centralizar o controle nas suas próprias mãos e
      administrar a economia de modos predatórios e extractivistas. Sua
      liberdade ostensiva é a expensas da autoridade governante e da economia
      como um todo. Como tal, ela é o oposto da liberdade do modo concebido nos
      tempos da Suméria" (p. 266).
       E a nossa orwelliana noção  neoliberal  de liberdade irrestrita para o
      credor condena-nos mesmo desde o início de qualquer investigação que
       empreendamos de uma ordem económica justa. Toda e qualquer revolução que
      efectuarmos, por mais justa que seja na sua concepção, está assim
      destinada a falhar.
       E estamos condenados, diz Hudson, porque temos sido moralmente cegados
      por 28 séculos de história desenraizada ou, como ele diz,
       descontextualizada.  As verdadeiras raízes históricas da civilização
       ocidental não estão na  poleis  grega à qual faltava supervisão real para
      cancelar dívidas, mas nas sociedades mesopotâmicas da Era do Bronze que
       entendiam como vida, liberdade e terra seriam ciclicamente devolvidas aos
       devedores repetidas vezes. Mas, no oitavo século AC, juntamente com o
       alfabeto vindo do Oriente Próximo para os gregos, surgiu o conceito de
       cálculo de juros sobre empréstimos. Este conceito de juro
       exponencialmente crescente foi adoptado pelos gregos – e a seguir pelos
       romanos – sem o conceito equilibrador da amnistia  Clean Slate. 
       Assim foi inevitável que, ao longo dos séculos de história grega e
      romana, números crescentes de pequenos agricultores se tornassem
       irremediavelmente endividados e perdessem a sua terra. Foi igualmente
       inevitável que os seus credores acumulassem enormes haveres em terra e se
      estabelecessem como oligarquias parasitas. Esta tendência inata para a
       polarização social decorrente do não esquecimento de dívidas é a maldição
      original e incurável da nossa civilização ocidental pós século VIII AC.
       Civilização ocidental, escabrosa marca de nascimento que não pode ser
      lavada ou extirpada. Neste contexto, Hudson cita o classicista Moses
      Finley com grande efeito: "….a dívida era um artifício deliberado da parte
      do credor para obter mão-de-obra mais dependente ao invés de um
      dispositivo para enriquecimento por meio de juros". Ele cita igualmente
      Tim Cornell: "O objectivo do 'empréstimo', o qual era assegurado na pessoa
      do devedor, era precisamente criar um estado de servidão" (p. 52 – Hudson
       anteriormente destacou este ponto nos dois volumes do colóquio por ele
       editado como parte de seu projecto de Harvard:  Debt and Economic Renewal
      in the Ancient Near East (Dívida e renovação económica no antigo Oriente
      Próximo)  e  Labor in the Ancient World (Trabalho no mundo antigo). 
       Hudson é capaz de explicar que o longo declínio e queda de Roma começa
      não, como disse Gibbon, com a morte de Marco Aurélio, o último dos cinco
      bons imperadores, em 180 DC, mas quatro séculos antes, a seguir à
      devastação de Aníbal da Itália rural durante a Segunda Guerra Púnica
       (218-201 AC). Depois daquela guerra os pequenos agricultores da Itália
       nunca recuperaram a sua terra, a qual foi sistematicamente absorvida
      pelos  prædia  (note-se a conexão etimológica com  predatório  ), os
       latifundia,  as grandes propriedades oligárquicas:  latifundia Italiam 
      ("as grandes propriedades destruíram a Itália", como observou Plínio o
      Velho. Mas entre os académicos modernos, como destaca Hudson, "Arnold
      Toynbee está quase sozinho ao enfatizar o papel da dívida na concentração
      da riqueza romana e da propriedade" (p. xviii) – e portanto na explicação
      do declínio do Império Romano.
       "Arnold Toynbee", escreve Hudson, "descreveu a ideia de 'liberdade' da
      aristocracia romana como limitada à liberdade oligárquica de reis ou
      instituições cívicas suficientemente poderosas para conferir poder ao
      credor para endividar e empobrecer a cidadania em geral. "O monopólio de
      gabinete da aristocracia patrícia após o eclipse da monarquia [Hudson cita
      do livro de Toynbee,  Hannibal's Legacy  ] foi utilizado pelos patrícios
      como uma arma para manter o seu domínio sobre a parte do leão dos activos
      económicos do país; e a maioria plebeia da cidadania romana tinha de se
      esforçar para ganhar acesso a cargos públicos como um meio de assegurar
      uma distribuição mais equitativa da propriedade e uma restrição à opressão
      dos devedores pelos credores. Esta última tentativa fracassou", observa
       Hudson, "e a civilização europeia e ocidental ainda vive com as
      consequências" (p. 262).
       Como Hudson põe em foco o grande quadro geral, o pulsar da história
      ocidental ao longo de milénios, é capaz de descrever o abismo económico
      entre a antiga civilização mesopotâmica e as sociedades ocidentais
      posteriores que começam com a Grécia e Roma: "No início deste século [isto
       é, o consenso académico até a década de 1970] entendia-se que os
      cancelamentos da dívida da Mesopotâmia eram semelhantes a  seisachtheia 
      de Solon de 594 AC libertando os cidadãos atenienses da servidão por
      dívida. Mas as proclamações reais do Oriente Próximo estavam baseadas num
      contexto sócio-filosófico diferente das reformas gregas que visavam
      substituir aristocracias fundiárias credoras com democracia. As exigências
      da populaça grega e romana pelo cancelamento da dívida podem ser
       correctamente chamadas de  revolucionárias  [itálico meu], mas as
      exigências sumérias e babilónicas eram baseadas numa tradição conservadora
       enraizada em rituais do calendário cósmico e das suas periodicidades bem
      ordenadas. A ideia mesopotâmica de reforma "não tinha a noção [Hudson cita
      aqui o livro de Dominique Charpin, Hammurabi of Babylon ] do que
      chamaríamos de progresso social. Ao invés, as medidas que o rei instituiu
      sob o seu  mîðarum  eram destinadas a  trazer de volta a ordem original 
      [itálicos meus]. As regras do jogo não foram mudadas, mas fora dada uma
      nova mão de cartas a toda a gente" (p. 133). Contraste com os gregos e
      romanos: "A antiguidade clássica", escreve Hudson, "substituiu a ideia
      cíclica de tempo e renovação social pela de tempo linear. A polarização
      económica tornou-se irreversível, não meramente temporária" (p. xxv). Por
      outras palavras: "A ideia de progresso linear, na forma de dívida
      irreversível e transferências de propriedade, substituiu a tradição da
      Idade do Bronze de renovação cíclica" (p. 7).
       Após todos estes séculos, permanecemos ignorantes do facto de que nas
      profundidades das raízes da nossa civilização está contido o modelo
      correctivo do retorno cíclico – aquilo a que Dominique Charpin chama a
      "restauração da ordem" (p. xix). Continuamos a inundar-nos com mil milhões
      de variações de argumentos de venda para contrair cada vez mais
       empréstimos, com a exortação para aplicar cada vez mais no crédito,
      porque, como sabe,  o futuro é tão brilhante que preciso usar óculos
      escuros. 
       Em parte alguma, mostra Hudson, é mais evidente que estamos cegados por
       um entendimento desenraizado,  descontextualizado,  da nossa história do
      que na nossa ignorância da carreira de Jesus. Daí o título do livro:  And
      Forgive Them Their Debts, E perdoa-lhes as suas dívidas  e a ilustração da
      capa com Jesus a açoitar os prestamistas – os credores que não perdoavam
      dívidas – no templo. Durante séculos falantes do inglês recitaram a Oração
      do Senhor com a suposição de que estavam meramente a pedir o esquecimento
      das suas  ofensas (trespasses),  seus  pecados  teológicos: "... e esqueça
      nossas ofensas, assim como nós esquecemos quem nos ofendeu..." é a
       tradução apresentada na Versão Padrão Revista da Bíblia. O que se perde
      na tradução é o facto de que Jesus veio "pregar o evangelho  (preach the
      gospel)  aos pobres... pregar o Ano do Senhor aceitável": Ele veio, por
       outras palavras, proclamar um Ano Jubileu, uma restauração do  deror 
      para os devedores. Ele veio instituir uma Amnistia Passado Limpo (que é o
      que a palavra hebraica denota neste contexto).
       Assim, considere-se literalmente a passagem [em grego] da Oração do
      Senhor:   "... e remover para nós as nossas dívidas". A tradução latina
      não é gramaticalmente idêntica à grega, mas também mostra a palavra grega
       reveladoramente traduzida como  debita: ... et dimitte nobis debita
      nostra  : "... e livrai-nos  (dimitte)  das nossas dívidas  (debita)". 
      Consequentemente havia, da parte da classe credora, uma razão prática e
      premente para condenar Jesus à morte: Ele estava a exigir que restaurassem
      a propriedade que haviam avidamente tomado dos seus devedores. E após a
      sua morte havia igualmente uma razão premente e prática para tornar
      inoperante a sua proclamação do Jubileu de uma Amnistia Passado Limpo, o
      que equivale a dizer tornada meramente teológica. Assim os ricos podiam
      continuar a oprimir os pobres para todo o sempre. Amen.
       Por este livro ser profundo, é escrito de modo tão denso que é muito
      difícil lê-lo. Levei seis dias, o que incluiu seis ou mais horas de
      conversações excelentes e esclarecedoras com o próprio autor, para
      penetrá-lo. Muitas vezes recorri ao livro de David Graeber, Debt: The
      First 5.000 Years , quando tive dificuldade em acompanhar alguns dos
      argumentos de Hudson. (Graeber e Hudson foram amigos durante dez anos,
      contou-me Hudson, e Graeber, ao escrever  Debt; The First 5.000 Years, 
      apoiou-se na erudição de Hudson para relatar a teoria económica da antiga
      da Mesopotâmia, cf. p. xxiii). Escrevi a presente resenha do livro a fim
      de proporcionar alguma ajuda a outros leitores: não posso enfatizar
      demasiado o quanto este livro é de facto um verdadeiro terramoto, mas é
      preciso muito trabalho intelectual para digeri-lo.
       ADENDA: Risco moral  (Moral Hazard)  
       Depois de enviar um rascunho desta resenha a um amigo na noite passada
      ele respondeu-me com esta pergunta:
      – Será que cancelamentos de dívida não retirariam quaisquer incentivos às
      pessoas para reembolsarem empréstimo e, portanto, retirariam incentivos
      para conceder empréstimos? Pessoas que não ouviram antes o argumento e
      lêem então a sua resenha provavelmente ficarão cépticas no início.
       Eis a resposta de Michael Hudson:
      – Credores argumentam que se você esquecer dívidas para uma classe de
      devedores – digamos que empréstimos a estudantes – haverá alguns  "free
      riders"  e que as pessoas esperarão ter maus empréstimos cancelados. Isto
       é chamado um "risco moral", pois cancelamentos de dívida são um risco
      para a economia e, portanto, imorais.
       Isto é um exemplo típico da linguagem dupla orwelliana engendrada por
      empregados de relações públicas para os possuidores de títulos e os
      bancos. O risco moral para toda economia é a tendência para as dívidas
      crescerem para além da capacidade dos devedores de pagarem. Os primeiros
      incumpridores são vítimas de hipotecas lixo e devedores estudantes, mas de
      longe as maiores vítimas são os países que tomam empréstimos do FMI em
      programas de "estabilização" monetária (isto é, desestabilização
      económica).
       É moral para os credores terem de arcar com o risco de fazer maus
       empréstimos, definidos como aqueles em que o devedor não pode pagar sem
      perder a propriedade, status ou tornar-se insolvente. Um mau empréstimo
      internacional a um governo é aquele em que o governo não pode pagar
      excepto impondo austeridade à economia até um ponto em que a produção cai,
      o trabalho é obrigado a emigrar para encontrar emprego, o investimento de
      capital declina e os governos são forçados a pagar credores pela
      privatização e liquidação do domínio público a monopolistas.
       A analogia na Babilónia da Idade do Bronze era uma fuga de devedores da
       terra. Hoje, desde a Grécia até à Ucrânia, é uma fuga de mão-de-obra
      qualificada e mão-de-obra jovem a fim de encontrar trabalho no
      estrangeiro.
       Nenhum devedor – quer seja uma classe de devedores como estudantes ou
       vítimas de hipotecas lixo predatórias, ou um governo inteiro e uma
      economia nacional – deveria ser obrigado a seguir o caminho do suicídio
      económico e da autodestruição a fim de pagar credores. A definição de
      soberania – e, portanto, de direito internacional – deveria ser colocar a
      solvência nacional e a autodeterminação acima dos ataques financeiros
      estrangeiros. Ceder o controle financeiro deveria ser encarado como uma
      forma de guerra, na qual os países têm o direito legal de resistir como
       "dívida odiosa" sob o direito moral internacional.
       O princípio financeiro moral básico deveria ser que os credores arcassem
      com o risco de fazerem maus empréstimos que o devedor não pudesse pagar –
      tal como os empréstimos do FMI à Argentina e à Grécia. Risco moral é
      colocar exigências do credor acima da sobrevivência da economia.

      16/Novembro/2018
       O original encontra-se em  www.nakedcapitalism.com/2018/11/145003.html .
      Tradução de JF. 
In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/crise/hudson_resenha_16nov18.html
16/11/2018

sábado, 15 de dezembro de 2018

¿Cuál será el detonador de la guerra global?



James Petras
Rebelión

      Traducido para Rebelión por Paco Muñoz de Bustillo

Vivimos en un mundo sembrado de múltiples guerras. Algunas de ellas son
conflagraciones directas entre las potencias mundiales y otras comienzan como
conflictos regionales para en seguida convertirse en confrontaciones entre
potencias.
Comenzaremos identificando las confrontaciones entre “potencias mundiales” para
luego explorar las fases de las guerras “por delegación” con repercusiones
mundiales.
En nuestro tiempo, Estados Unidos en la principal potencia que busca la
dominación mundial mediante la fuerza y la violencia. Washington apunta a lo más
alto a la hora de fijar sus objetivos: a China, Rusia e Irán; entre sus
objetivos secundarios están Afganistán, África central y septentrional, el
Cáucaso y América Latina.
China es el principal enemigo de Estados Unidos por diversas razones,
económicas, políticas y militares: es la segunda economía mundial, su tecnología
supone un desafío a la primacía estadounidense y ha construido redes económicas
globales que abarcan tres continentes. China ha reemplazado a EE.UU. en los
mercados, inversiones e infraestructuras extranjeros; ha elaborado un modelo
socioeconómico alternativo que vincula la banca y la planificación estatal con
las prioridades del sector privado. En todas estas cuestiones, Estados Unidos le
va a la zaga y sus perspectivas futuras están reduciéndose.
Estados Unidos ha reaccionado ante todo ello recurriendo al proteccionismo en el
ámbito interno y a una economía imperial agresiva en el exterior. El presidente
Trump ha declarado una guerra arancelaria a China, además de una guerra
propagandística y una política de cerco militar por mar y aire.
La primera línea de ataque ha sido la imposición de exorbitantes aranceles a las
exportaciones chinas a EE.UU. y sus países vasallos. Además, ha optado por
ampliar sus bases militares en Asia. En tercer lugar, EE.UU. presta apoyo a sus
clientes separatistas en Hong Kong, Tíbet y entre los uigures. En cuarto lugar,
ha utilizado las sanciones para coaccionar a sus aliados asiáticos y europeos
para que se unan a su guerra económica contra China. Por su parte, China ha
respondido incrementando su seguridad militar, expandiendo sus redes económicas
e imponiendo aranceles a las exportaciones estadounidenses.
La guerra económica de Estados Unidos ha subido de nivel con el arresto y
secuestro de la vicepresidenta de la compañía tecnológica puntera china, Huawei.
La Casa Banca ha incrementado la escala de agresión, pasando de las sanciones a
la provocación, quedándose a tan solo un paso de las represalias militares. El
detonador nuclear se ha encendido.
Rusia se enfrenta a amenazas similares a su economía doméstica y a sus aliados
extranjeros, especialmente China e Irán. Además, Estados Unidos ha roto [este
mismo año] el compromiso adquirido cuando firmó el tratado de misiles nucleares
de alcance medio.
Irán se enfrenta a sanciones petroleras, cerco militar y ataques a sus aliados
en Yemen, Siria y la región del Golfo. Washington utiliza a Arabia Saudí, Israel
y a sus grupos paramilitares para aplicar una presión militar y económica a Irán
que debilite su economía e imponer así un “cambio de régimen”.
Los tres objetivos estratégicos de Estados Unidos son fundamentales para
conseguir la supremacía global: el dominio de China le otorgaría el poder sobre
Asia; el debilitamiento de Rusia aislaría a Europa; el derrocamiento de Irán
aumentaría el poder de EE.UU. sobre el mercado del petróleo y el mundo musulmán.
Mientras Estados Unidos intensifica sus agresiones y provocaciones, el mundo se
enfrenta a la amenaza de una guerra nuclear global o, en el mejor de los casos,
a una depresión económica mundial.
 Guerras por delegación 
Estados Unidos ha identificado una segunda línea de enemigos en América Latina,
Asia y África.
En América Latina, ha librado guerras económicas contra Venezuela, Cuba y
Nicaragua y, más recientemente, ha aplicado presión política y económica sobre
Bolivia. Washington utiliza a sus vasallos en Brasil, Perú, Chile, Ecuador,
Argentina y Paraguay y a las élites nacionales de la derecha política.
Como se ha visto en muchos casos, Washington utiliza los golpes militares y los
legisladores y jueces corruptos para tumbar regímenes progresistas electos.
Contra Evo Morales, se sirve de ONG financiadas por EE.UU., líderes indígenas
disidentes y oficiales retirados del ejército. Estados Unidos depende de
representantes locales armados para alcanzar sus metas imperiales aparentando la
existencia de una “guerra civil” para evitar una intervención directa descarada.
De hecho, una vez que los supuestos “disidentes” o “rebeldes” establecen una
cabeza de puente, “invitan” a asesores del ejército estadounidense, consiguen
ayuda militar y actúan como armas propagandísticas contra China, Rusia e Irán,
los adversarios de primera línea.
En los últimos años, los conflictos por delegación de EE.UU. han sido el arma
utilizada en la guerra separatista de Kosovo contra Serbia; en el golpe de
Estado de Ucrania de 2014 y la guerra contra Ucrania oriental; en el control
kurdo sobre el norte de Irak y de Siria, así como en los ataques de los uigures
separatistas en la provincia china de Sinkiang.
Estados Unidos ha establecido 32 bases militares en África para coordinar sus
actividades con los señores de la guerra y los plutócratas locales. Sus guerras
por delegación son descritas como conflictos locales entre regímenes “legítimos”
y terroristas islamistas, tribalistas y tiranos.
Tres son los objetivos de estas guerras delegadas. En primer lugar sirven para
alimentar guerras territoriales más amplias con las que rodear a China, Rusia e
Irán. En segundo lugar, sirven como “terreno de pruebas” para calibrar la
vulnerabilidad y capacidad de respuesta de los adversarios estratégicos de
primera línea. Y, en tercer lugar, las guerras por delegación son ataques “de
bajo coste” y “poco riesgo” sobre enemigos estratégicos. Allanan el camino,
sigilosamente, para una confrontación mayor.
Estas guerras por delegación también se utilizan como instrumentos de
propaganda, pues sirven para acusar a los adversarios estratégicos de enemigos
“expansionistas y autoritarios” de los “valores occidentales”.
Conclusión 
Los constructores del imperio americano participan en múltiples tipos de
agresión con el fin de imponer un mundo unipolar. Los principales son la guerra
comercial contra China, el conflicto militar con Rusia y las sanciones
económicas contra Irán.
Estas armas estratégicas a gran escala y largo plazo se complementan con guerras
por delegación en las que participan estados vasallos, cuyo objetivo es
erosionar las bases económicas de los aliados de las potencias
antiimperialistas.
Por tanto, los ataques estadounidenses a China mediante la guerra arancelaria
pretenden sabotear sus proyectos de infraestructura global denominados la “Ruta
de la Seda”, que vinculan a 82 países.
Lo mismo sucede con las iniciativas estadounidenses para aislar a Rusia mediante
la guerra por delegación en Siria, algo que ya hizo en Libia, Irak y Ucrania. El
aislamiento de las potencias antiimperiales estratégicas mediante guerras
regionales prepara el escenario para el “asalto final”: el cambio de régimen
mediante golpe de Estado o la guerra nuclear.
No obstante, la voluntad estadounidense de dominar el mundo no ha conseguido
aislar o debilitar a sus enemigos estratégicos.
China sigue adelante con su programa global de infraestructuras y la guerra
comercial no ha logrado aislar a Pekín de sus principales mercados. Además, la
política estadounidense ha aumentado el rol de China como principal defensora
del “comercio abierto” frente al proteccionismo del presidente Trump.
Igualmente, las tácticas destinadas a cercar y sancionar a Rusia han
profundizado los vínculos entre Pekín y Moscú. Estados Unidos ha aumentado sus
“representantes” nominales en América Latina y África, pero todos ellos dependen
del comercio con China y las inversiones chinas. Esto se acentúa en el caso de
las exportaciones agrícolas y minerales a China.
A pesar de los límites del poder de EE.UU. y su incapacidad para derribar
regímenes, Washington ha efectuado movimientos para compensar dichos fracasos y
ha incrementado las amenazas de una guerra global. Ha secuestrado a líderes
económicos chinos; ha desplazado buques de guerra frente a las costas chinas; se
ha aliado con las élites neofascistas en Ucrania; amenaza con bombardear Irán.
En otras palabras, los dirigentes políticos estadounidenses se han embarcado en
políticas arriesgadas que podrían poner en marcha uno, dos o muchos detonadores
nucleares.
No es difícil imaginar cómo una guerra comercial infructuosa puede provocar una
guerra nuclear, cómo un conflicto regional puede llevar a una guerra de mayor
envergadura.
¿Podemos evitar una Tercera Guerra Mundial? Yo creo que es posible. La economía
estadounidense se levanta sobre cimientos frágiles y las élites de aquel país
están muy divididas. Sus principales aliados en Francia y Reino Unido atraviesan
profundas crisis. Quienes promueven la guerra y quienes la llevan a cabo carecen
del apoyo popular. ¡No desfallezcamos! ¡Hay razones para la esperanza!

In
REBELION
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=250239
15/12/2018

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Neoliberalismo, o caminho negro para o fascismo


   
       por Chris Hedges [*] 

       O  liberalismo como teoria económica sempre foi um absurdo. Tinha
      tanta validade quanto as ideologias dominantes do passado, como o  direito
      divino dos reis   e a crença fascista no  Übermensch . Nenhuma das suas
      alardeadas promessas era remotamente possível.
       Ao concentrar a riqueza nas mãos de uma elite oligárquica global – oito
      famílias detêm hoje tanta riqueza quanto 50% da população mundial –
      enquanto procedia à demolição de controlos e regulamentações
       governamentais, gerou sempre maciças desigualdades de rendimento, poder
       dos monopólios, alimentou o extremismo político e destruiu a democracia.
      Não é necessário folhear as 577 páginas de Capital in the Twenty-First
      Century de Thomas Piketty para descobrir isso. Mas a racionalidade
       económica nunca foi o ponto. O ponto era a restauração do poder de
      classe.
       Como ideologia dominante, o neoliberalismo foi um êxito brilhante. A
       partir dos anos 70 do século XX, os seus principais críticos  keynesianos
       foram expulsos das universidades, instituições estatais e organizações
      financeiras, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial
      e excluídos dos media. Os cortesãos e intelectuais impostores, como 
      Milton Friedman , foram preparados em locais como a Universidade de
      Chicago, foram-lhes dados lugares proeminentes e pródigos fundos de
      grandes empresas. Disseminaram os dogmas oficiais de teorias económicas
      desacreditadas, popularizadas antes por  Friedrich Hayek e pela escritora
      de terceira categoria  Ayn Rand .
       Uma vez ajoelhado diante dos ditames do mercado, anulando regulamentações
      governamentais, reduzindo os impostos para os ricos, permitindo o fluxo de
      dinheiro através das fronteiras, destruindo sindicatos e assinando acordos
      comerciais que desviavam empregos para fábricas sem condições na China, o
      mundo seria mais feliz e livre, um lugar mais rico. Foi um golpe. Mas
      funcionou.
       "É importante reconhecer as origens de classe deste projeto, que ocorreu
      na década de 1970, quando a classe capitalista estava em grandes
       dificuldades, os trabalhadores estavam bem organizados e começavam a
       avançar", disse  David Harvey , autor de A Brief History of Neoliberalism
       , quando falámos em Nova York. "Como qualquer classe dominante, eles
      precisavam de ideias dominantes. Assim, a liberdade do mercado, as
      privatizações, o empreendedorismo do eu, a liberdade individual e tudo o
      mais deveriam ser as ideias dominantes de uma nova ordem social, e foi
      essa a ordem implementada nos anos 80 e anos 90".
       "Como projeto político, foi muito habilidoso, disse ele. "Conseguiu muito
      consentimento popular porque falava sobre liberdade individual e liberdade
      de escolha. Quando eles falavam sobre liberdade, era a liberdade do
      mercado. O projeto neoliberal disse à geração de 68: "Tudo bem, você quer
      liberdade? É Isso que o movimento estudantil pretende nós vamos dar isso a
      vocês, mas vai ser a liberdade do mercado. A outra coisa que você procura
      é justiça social – esqueça. Então, vamos dar-lhes liberdade individual,
      mas esqueçam a justiça social. Não se organizem". O objetivo era
      desmantelar as instituições, as instituições coletivas da classe
      trabalhadora, particularmente os sindicatos e pouco a pouco os partidos
      políticos que representassem algum tipo de preocupação com o bem-estar das
       massas".
       "A grande coisa sobre a liberdade do mercado é que parece ser
       igualitária, mas não há nada mais desigual do que o tratamento igual dos
      desiguais", continuou Harvey. "Promete igualdade de tratamento, mas se
      você for extremamente rico, isso significa que pode ficar ainda mais rico.
      Se você for muito pobre, é mais provável que fique ainda mais pobre. O que
      Marx mostrou brilhantemente no primeiro volume de  O Capital  é que a
      liberdade de mercado produz níveis cada vez maiores de desigualdade social
      ".
       A disseminação da ideologia do neoliberalismo foi altamente organizada
      por uma classe capitalista unificada. As elites capitalistas financiaram
      organizações como a Business Roundtable, a Câmara de Comércio e grupos de
      reflexão como a The Heritage Foundation para vender a ideologia ao
      público. Inundaram universidades com doações, desde que as universidades
      retribuíssem com fidelidade à ideologia dominante. Usaram a sua influência
      e riqueza, bem como serem donos dos media, para transformar a imprensa no
      seu porta-voz. Silenciaram ou dificultaram o emprego a quaisquer
      heréticos. O aumento dos valores das ações, em vez da produção, tornou-se
      a nova medida da economia. Tudo e tudos foram financiarizados e tornados
      mercadorias.
       "O valor é fixado por qualquer que seja o preço verificado no mercado",
      disse Harvey. "Assim, Hillary Clinton é muito valiosa porque fez  uma
      palestra na Goldman Sachs por 250 mil dólares. Se eu der uma palestra para
      um pequeno grupo no centro da cidade e receber 50 dólares, então
      obviamente ela vale muito mais do que eu. A valorização de uma pessoa e do
      seu conteúdo é avaliada por quanto consegue obter no mercado".
       "Esta é a filosofia por trás do neoliberalismo", continuou. "Temos de
      atribuir um preço às coisas. Mesmo que não sejam realmente coisas que
      devam ser tratadas como mercadorias. Por exemplo, a assistência médica
       torna-se uma mercadoria. Habitação para todos torna-se uma mercadoria. A
      educação torna-se uma mercadoria. Assim, os estudantes têm de pedir
      emprestado para obter a educação que lhes dará um emprego no futuro. Esse
      é o golpe da coisa. Basicamente, diz-se que se você é um empreendedor, se
      se qualificar, etc, receberá a justa recompensa. Se não recebe uma justa
      recompensa é porque não se qualificou suficientemente. Adquiriu o tipo
      errado de cursos. Fez cursos de filosofia ou de clássicos em vez de
      aprender técnicas de gestão de como explorar mão-de-obra.
       O contra do neoliberalismo é agora amplamente compreendido em todo o
       espectro político. É cada vez mais difícil esconder a sua natureza
      predatória, incluindo suas exigências de enormes subsídios públicos (a
      Amazon, por exemplo, recentemente solicitou e recebeu incentivos fiscais
      multimilionários de Nova York e Virgínia para estabelecer centros de
      distribuição nesses estados). Isso forçou as elites dominantes a fazerem
      alianças com demagogos de direita que usam as táticas cruas do racismo,
      islamofobia, homofobia, fanatismo e misoginia para canalizar a raiva e a
      crescente frustração do público para longe das elites e canaliza-la para
      os mais vulneráveis.
       Esses demagogos aceleram a pilhagem pelas elites globais e, ao mesmo
      tempo, prometem proteger os trabalhadores e as mulheres. A administração
       de Donald Trump, por exemplo,  aboliu numerosas regulamentações , das
      emissões de gases do efeito estufa [1] à neutralidade da Internet e
      reduziu os impostos para os indivíduos e empresas mais ricos, eliminando
      cerca de 1,5 milhão de milhões de dólares de receita do governo nos
      próximos dez anos, adotando linguagem e formas autoritárias de controlo.
       O neoliberalismo gera pouca riqueza. Em vez disso, redistribui-a para as
       mãos das elites dominantes. Harvey chama isso de "acumulação por
      desapossamento".
       "O principal argumento da acumulação por desapossamento baseia-se na
      ideia de que quando as pessoas ficam sem capacidade de produzir ou
       fornecer serviços, elas criam um sistema que extrai riqueza de outras
       pessoas", disse Harvey. "Essa extração então torna-se o centro de suas
      atividades. Uma das maneiras pelas quais essa extração pode ocorrer é
      criando mercados onde antes não existiam. Por exemplo, quando eu era mais
      jovem, o ensino superior na Europa era essencialmente um bem público. Cada
      vez mais [este e outros serviços] se tornaram uma atividade privada como
      os serviços de saúde. Muitas dessas áreas que você consideraria não serem
      mercadorias no sentido comum, tornam-se assim mercadorias. Habitação para
      a população de baixos rendimentos era frequentemente vista como uma
      obrigação social. Agora tudo tem de passar pelo mercado. Impõe-se uma
      lógica de mercado em áreas que não deveriam estar abertas ao mercado".
       "Quando eu era criança, a água na Grã-Bretanha era fornecida como um bem
      público", disse Harvey. "Então, é claro, foi privatizada. Você começa a
      pagar taxas de água. Eles privatizaram o transporte [na Grã-Bretanha]. O
      sistema de autocarros é caótico. Há empresas privadas a circularem por
      toda parte. Não é o sistema que as pessoas realmente precisam. A mesma
      coisa acontece na ferrovia. Uma das coisas agora interessantes na
      Grã-Bretanha é que o Partido Trabalhista diz: 'Vamos trazer tudo isso de
      volta à propriedade pública porque a privatização é totalmente insana e
      tem consequências insanas, não está a funcionar devidamente. A maioria da
       população concorda com isto".
       Sob o neoliberalismo, o processo de "acumulação por desapossamento" é
      acompanhado pela financiarização.
       "A desregulamentação permitiu que o sistema financeiro se tornasse um dos
      principais centros de atividade redistributiva através da especulação,
      predação, fraude e roubo", escreve Harvey no seu livro, talvez o melhor e
      mais conciso relato da história do neoliberalismo. "Promoções de ações,
      esquemas Ponzi, destruição de ativos estruturados pela inflação,
      espoliação de ativos por meio de fusões e aquisições, promoção de níveis
      de endividamento que reduzem populações inteiras – mesmo nos países
      capitalistas avançados – à escravidão pelas dívidas. Para não falar em
      fraudes empresariais, desapropriação de ativos, invasão de fundos de
      pensão dizimados em colapsos de ações e por manipulação do crédito e do
      valor de ações, tudo isso se tornou uma característica central do sistema
      financeiro capitalista".
       O neoliberalismo, exercendo um tremendo poder financeiro, é capaz de
       fabricar crises económicas para deprimir o valor dos ativos e depois
       apossar-se deles.
       "Uma das maneiras pelas quais se pode engendrar uma crise é cortar o
      fluxo de crédito". "Isso foi feito no leste e sudeste da Ásia em 1997 e
      1998. De repente, a liquidez secou. As principais instituições deixam de
      emprestar dinheiro. Havia um grande fluxo de capital estrangeiro para a
      Indonésia. Eles fecharam a torneira. O capital estrangeiro fugiu. Fecharam
      a torneira do crédito em parte porque, uma vez que as empresas fossem à
      falência, poderiam vir a ser compradas e colocadas novamente a funcionar.
      Vimos a mesma coisa durante a crise da habitação aqui [nos EUA]. As
      execuções hipotecárias das habitações deixaram muitas vazias que poderiam
      ser apanhadas a preços muito baixos. A  Blackstone [2] apareceu, comprou
      todas as casas e é agora o maior senhorio dos Estados Unidos. Tem 200 mil
      propriedades ou algo parecido. Está à espera que o mercado dê uma volta.
      Quando o mercado muda, o que pode acontecer em breve, então poderá vender
      ou arrendar e ganhar imensos lucros com isso. Desta forma, a Blackstone
      ganhou uma fortuna a crise dos arrestos hipotecários, onde todos perderam.
      Foi uma enorme transferência de riqueza".
       Harvey adverte que a liberdade individual e a justiça social não são
      necessariamente compatíveis. A justiça social, escreve ele, requer
      solidariedade social e "disposição de subordinar necessidades e desejos
      individuais à causa de uma luta mais geral por, digamos, igualdade social
      e justiça ambiental". A retórica neoliberal, com ênfase em liberdades
      individuais pode efetivamente "separar as ideias de liberdade, identidade
      política, o multiculturalismo e, eventualmente, o consumismo narcisista,
      das forças sociais alinhadas na procura de justiça social através da
       conquista do poder de Estado".
       O economista  Karl Polanyi entendeu que existem dois tipos de liberdade.
      Há as más liberdades para explorar os que nos rodeiam e extrair enormes
      lucros sem levar em conta o bem comum, incluindo o mal que é feito ao
      eco-sistema e às instituições democráticas. Essas más liberdades têm
      origem no facto de as grandes empresas monopolizarem as tecnologias e os
      avanços científicos a fim de obter enormes lucros, mesmo quando, como no
      caso da indústria farmacêutica, um monopólio significa que as vidas
      daqueles que não podem pagar preços exorbitantes são colocadas em risco.
      As boas liberdades – liberdade de consciência, liberdade de expressão,
      liberdade de reunião, liberdade de associação, liberdade de escolher o seu
      trabalho – acabam por ser extintas pela primazia dada às más liberdades.
       "Planeamento e controlo são atacados como negação da liberdade", escreveu
      Polanyi. "A livre iniciativa e a propriedade privada são declaradas
      essenciais para a liberdade. Uma sociedade construída sobre outros
      fundamentos é dito que não merece ser chamada de livre. A liberdade que a
      regulamentação cria é denunciada como falta de liberdade; a justiça, a
      liberdade e o bem-estar que ela oferece são denunciados como uma
      camuflagem da escravidão".
       "A ideia de liberdade" degenera, assim, numa mera defesa da livre
       iniciativa, que significa "a plenitude da liberdade para aqueles cujo
       rendimento, lazer e segurança não precisam ser promovidos, e uma mera
      margem de liberdade para as pessoas que podem em vão tentar fazer uso de
      seus direitos democráticos para se defenderem do poder dos donos do
      capital", escreve Harvey, citando Polanyi. "Mas se, como é sempre o caso,
      "nenhuma sociedade é possível em que o poder e a compulsão estejam
      ausentes, nem num mundo em que a força não seja necessária", então a única
      maneira pela qual esta visão utópica liberal poderia ser sustentada é pela
      força, violência e autoritarismo. A utopia liberal ou neoliberal está
      condenada, na opinião de Polanyi, a ser frustrada pelo autoritarismo, ou
      mesmo pelo fascismo total. As boas liberdades estão perdidas, as más são
      assumidas.
       O neoliberalismo transforma a liberdade de muitos em liberdade para
      alguns. O resultado lógico é o neofascismo. O neofascismo abole as
       liberdades civis em nome da segurança nacional e classifica grupos
       inteiros como traidores e inimigos do povo. É o instrumento militarizado
       usado pelas elites dominantes para manter o controlo, dividir e separar a
       sociedade e acelerar ainda mais a pilhagem e a desigualdade social. A
      ideologia dominante, não sendo mais crível, é substituída pela bota
      militar.
       [1] O autor toma como boa a maior impostura científica da história da
      humanidade: a teoria do aquecimento global.   Ver  Aquecimento global: uma
      impostura científica   e    Acerca da impostura global
       [2] Blackstone: é o fundo abutre que em Portugal adquiriu o Novo Banco
       (ex-Banco Espírito Santo) por preço praticamente nulo. 
      [*] Jornalista. Durante quase duas décadas foi correspondente estrangeiro
      na América Central, Médio Oriente, África e Balcãs. Fez reportagens em
      mais de 50 países e trabalhou para  The Christian Science Monitor,
      National Public Radio, Dallas Morning News  e  The New York Times,  no
      qual foi correspondente estrangeiro durante 15 anos.

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/eua/neoliberalismo_fascismo.html
4/12/2018