segunda-feira, 29 de abril de 2019

O lumpesinato no poder





por *Gilberto Maringoni e Artur Araújo*



O lúmpen é avesso a qualquer projeto de longo prazo, não é classe, não
é coletivo. Atualmente, sua principal representação é o próprio
presidente da República: nunca representou um setor social específico,
mas surfou em ondas de insatisfação difusas. E agora quer ‘descontruir’
o país /


O governo de Jair Messias Bolsonaro representa um feito inédito em
termos mundiais. Trata-se da primeira vez em que o lumpesinato, de forma
organizada, chega ao poder de Estado. Não existe experiência semelhante
em países da dimensão do Brasil.

O lumpesinato (ou lumpemproletariado) não é exatamente uma classe. O
conceito inicial referia-se a uma fração de classe constituída por
trabalhadores muito pobres sem qualquer lugar ou vínculo com a produção
ou com o mercado de trabalho formal. Sobrevivem à custa de pequenos
expedientes e atividades intermitentes. Por sua própria fragmentação, é
uma camada que tende a realizar ações individuais em detrimento de
iniciativas coletivas. Raramente atua de forma organizada.

Karl Marx e Friedrich Engels o descrevem no /Manifesto Comunista/
(1848): “O lumpemproletariado, esse produto passivo da putrefação das
camadas mais baixas da velha sociedade pode, às vezes, ser arrastado ao
movimento por uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida
o predispõem mais a vender-se à reação”.

Marx voltaria a se referir ao lumpemproletariado no /Dezoito de Brumário
Luís Bonaparte/ (1852). Trata-se de uma análise profunda sobre o
processo social compreendido entre a Revolução de 1848 e o golpe de
Estado de 1851, na França. O autor amplia o conceito, ao descrever os
apoiadores de Luís Bonaparte: “Esse Bonaparte se constitui como chefe do
lumpemproletariado, porque é nele que identifica maciçamente os
interesses que persegue pessoalmente, reconhecendo, nessa escória, nesse
dejeto, nesse refugo de todas as classes, a única classe na qual pode se
apoiar incondicionalmente”.

Mais adiante, Marx mostra que o conceito não se referia apenas às
camadas mais baixas da sociedade, ao se referir ao sobrinho de Napoleão
como “lumpemproletário principesco”. N’/As/ /lutas de classes na França
/(1850), Marx estenderia ainda mais a classificação: “A aristocracia
financeira, tanto no modo de obter seus ganhos quanto no modo de
desfrutar deles, nada mais é que o renascimento do lumpemproletariado
nas camadas mais altas da sociedade burguesa”.

Quase um século mais tarde, no final dos anos 1950, o belga Ernest
Mandel cria a definição de lumpemburguesia. Em 1973, o alemão André
Gunder Frank lança /Lumpemburguesia: lumpemdesenvolvimento –
Dependência, classe e política na América Latina/. Sua argumentação
mostra que: “A partir da conquista, a dinâmica colonial do sistema
capitalista forma na América Latina a estrutura de classes e a estrutura
econômica, de modo que quanto mais estreitas são as relações econômicas
e coloniais entre a metrópole e sua lumpemburguesia satélite (…), tanto
mais as políticas econômicas intensificam um lumpendesenvolvimento”.

A partir de tais definições, vale a pena tentar entender que classes e
frações de classe compõem o primeiro escalão da administração eleita em
2018.

*Grupos de interesse*

O governo Bolsonaro resulta de uma confluência de interesses solidamente
enraizados na sociedade brasileira. Ao mesmo tempo, a representação
institucional – ou expressão política – dessa coalizão parece
materializar profundas alterações ocorridas desde o final da ditadura
(1964-1985) na composição social do país.

O período é marcado por um processo de desindustrialização, privatização
e desnacionalização de empresas que se soma à desregulamentação e
fragmentação do mundo do trabalho. Ramos inteiros da produção deixaram
de existir, a indústria de transformação reduziu sua participação na
formação do Produto Interno Bruto (PIB) e o país assistiu sua burguesia
industrial vender empresas e tornar-se mera montadora, maquiadora,
empacotadora e, principalmente, especuladora no mercado financeiro,
beneficiando-se de uma das mais altas taxas de juros do planeta. A
burguesia associada do capital externo vai se tornando uma burguesia
compradora e rentista. Podem-se vislumbrar pelo menos quatro grandes
grupos de interesse contemplados no primeiro escalão do atual governo.

Em primeiro lugar está o círculo próximo a Jair Bolsonaro. Forma a
vertente mais ideológica do poder, com nomes indicados por igrejas
fundamentalistas e pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho.
Entram nessa conta os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores),
Ricardo Vélez Rodríguez (Educação), Damares Alves (Mulher, Família e
Direitos Humanos) e Marcelo Álvaro Antônio (Turismo). Agregam-se a esse
time os três filhos do capitão, que teriam ligações com milícias armadas
do Rio de Janeiro e com representantes da extrema direita dos Estados
Unidos, como o ex-ideólogo de Donald Trump, Steve Bannon. É o grupo que
dirige politicamente o governo.

O segundo time em importância é representado por oito altos oficiais
militares de direita, além do vice-presidente Hamilton Mourão. São eles:
Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Carlos Alberto
Santos Cruz (Secretaria de Governo), Floriano Peixoto Vieira Neto
(Secretaria Geral da Presidência), Fernando Azevedo e Silva (Defesa),
Bento Costa Lima de Albuquerque (Minas e Energia), Marcos Pontes
(Ciência e Tecnologia), e Wagner Campos Rosário (Transparência e
Controladoria Geral da União).

O plantel dos militares tem duas vozes principais, Mourão e Augusto
Heleno, e forma o polo organizativo central da gestão. O ex-comandante
da missão da ONU no Haiti é o militar mais próximo de Bolsonaro.

Um terceiro campo compõe o que poderia ser denominado de “Ministério da
Intimidação e Punitivismo”. Aqui brilha a constelação do ex-juiz Sergio
Moro, ligado à extrema-direita do Judiciário.

Há, por fim, a grande pasta dos negócios, firmemente alicerçada no
capital financeiro. Sua estrela é o economista e especulador Paulo
Guedes, ministro da Economia. Seguem-se a ele o executivo do grupo
Santander, Roberto Campos Neto, que pilota o Banco Central, e o
ex-diretor do Bradesco, Joaquim Levy.

Os dois primeiros grupos – ideológicos e militares – disputam
publicamente espaços e diretrizes na máquina pública.

*A força da farda*

A presença das Forças Armadas no governo revela um sério problema
político: Bolsonaro não tem um partido que lhe dê sustentação. Sarney
valia-se do PMDB, FHC contava com o PSDB e Lula com o PT. Não se
tratavam de meras legendas parlamentares para encaminhar e votar
projetos no Congresso. As agremiações eram vetores orgânicos com
presença na política institucional e real inserção na sociedade.

O PMDB dos anos 1980 contava com alguns dos mais relevantes intelectuais
brasileiros, mantinha intervenção no movimento sindical e no
empresariado. O mesmo pode ser dito dos dois outros casos. PMDB, PSDB e
PT, além disso, expressam demandas de determinadas classes sociais e as
representam no embate político e no conflito distributivo.

No caso de Bolsonaro, qual é o vetor que sintetiza demandas de classe
que o sustentam na disputa institucional? Não é o PSL, evidentemente!
Esta é uma legenda artificial e um agregado de aventureiros, sem
expressão social clara. Expressão social é diferente de ter votos. O PSL
tem votos, mas é incapaz de organizar minimamente uma administração.

Estamos em uma situação semelhante às dos governos da ditadura militar.
Eles tinham um partido (a Arena) que não formava um corpo de ideias
muito definido, a não ser dar voz às oligarquias regionais. O vetor
organizador dos governos ditatoriais eram as Forças Armadas, com
destaque para o Exército, de onde saíram seus cinco presidentes. É o que
ocorre hoje.

O Exército, a força mais numerosa e mais capilarizada social e
geograficamente, vocaliza uma reivindicação difusa da classe média e de
parcela dos pobres por ordem, segurança e moralidade. Seria o que o
cientista político e jornalista Oliveiros Ferreira denominou de /partido
fardado/, entre os anos 1970-80. Vale uma ressalva: os setores militares
que ascendem com Bolsonaro são caudatários dos porões (Garrastazu Médici
e Silvio Frota, ligados à repressão) e não aos ideólogos da ditadura
(Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geisel).

Assim, Bolsonaro não tem saída. Ou apela para as FFAA ou não existe
governo que pare em pé. Não há escapatória a não ser ele colocar cerca
de cem militares em cargos de primeiro e segundo escalão.

O terceiro (Justiça) e o quarto (Economia) grupo materializam o grande
consenso interno do governo. A facção ideológica e a militar têm até
aqui pleno acordo com o projeto punitivista de Sergio Moro e com a opção
ultraliberal de Paulo Guedes. São também os fiadores da sustentação do
governo entre o capital financeiro, os especuladores internacionais, a
grande mídia e um setor da classe média que, desde 2013, bradava por
intervenção militar.

Mas a existência desses consensos não tira de cena a renhida disputa de
rumos. Voltemos ao início deste texto: o sentido principal do jogo de
forças intramuros é o embate entre um corpo profissional do Estado e a
inédita chegada do lumpesinato ao palácio. Detalhemos.

*O lumpesinato com a caneta na mão*

O principal representante do lumpesinato nas esferas do poder é o
próprio presidente da República. Expulso do Exército por indisciplina,
Jair Bolsonaro buscou a carreira parlamentar como meio de vida. Em 28
anos de Congresso, teve atuação apagada e agregou-se ao chamado baixo
clero da instituição.

Bolsonaro nunca representou um setor social específico, mas surfou em
ondas de insatisfação difusas do eleitorado pobre do Rio de Janeiro e no
corporativismo da massa militar. Seu mentor, Olavo de Carvalho, sujeito
sem ocupação definida, é um lúmpen da intelectualidade, misto de
astrólogo e guru de vasta legião conservadora. Damares fez sua carreira
nas igrejas pentecostais e não se sabe de seus vínculos claros com o
mundo formal do trabalho. O mesmo se dá com outro ativista pentecostal,
Marcelo Álvaro Antônio, chefe da pasta do Turismo. Vélez Rodríguez, por
sua vez, é um obscuro professor universitário, sem publicações
relevantes e desconhecido em seu meio. Araújo expressa uma ínfima
minoria no Itamaraty.

O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, é um economista marginal,
tanto na academia quanto no mercado. Pérsio Arida, um dos criadores do
plano Cruzado (1986) e ex-presidente do BNDES e do Banco Central no
governo FHC, tem opiniões arrasadoras sobre ele. Em setembro de 2018,
Arida declarou ao jornal /O Estado de S. Paulo/ que “Paulo Guedes é um
mitômano (…). Nunca escreveu um artigo acadêmico de relevo e tornou-se
um pregador liberal. (…) Ele nunca dedicou um minuto à vida pública, não
tem noção das dificuldades. Partiu para uma campanha de difamação que é
de um grau de incivilidade que não se vê em outro assessor econômico”.
Envolvido em acusações de fraudes em fundos de pensão, Guedes pode ser
classificado sem erro como um lumpenfinancista.

Entre os militares, o astronauta Marcos Pontes foi para a reserva após
seu voo orbital em 2006. Tornou-se palestrante de autoajuda, vendedor de
travesseiros e guia turístico na Flórida. Ou seja, passou a viver de
expedientes que não deram muito certo até ser recolhido por Bolsonaro.

O PSL, partido do presidente, por sua vez, é quase todo composto por
aquilo que Marx classificou como lumpesinato no /Dezoito brumário/:
“Rufiões decadentes, com meios de subsistência duvidosos (…), rebentos
arruinados e aventurescos da burguesia (…) vagabundos, soldados
exonerados (…), trapaceiros, (…) donos de bordel, (…) em suma, toda essa
massa indefinida, desestruturada e jogada de um lado para outro, que os
franceses denominam la bohème [a boemia]”.

Qual o problema de um governo ser dirigido pelo lumpesinato de diversas
classes?

O lumpesinato, por característica inata, é avesso a qualquer projeto
coletivo de longo prazo. Não é classe, não é coletivo, não forma grupos.
Não há previsibilidade ou rotina possível em um conjunto de indivíduos
para os quais vigoram as saídas individuais e a disputa de cada um
contra todos.

Pode-se afirmar que o lumpesinato vive no Estado de Natureza conceituado
por Thomas Hobbes, em /Leviatã/ (1651). Trata-se de uma situação
anterior à criação do Estado, sem regras ou normas, em que “todo homem é
inimigo de todo homem”.

Nas palavras de Hobbes: “Numa tal situação não há lugar para a
indústria, pois seu fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da
terra, nem navegação, nem uso das mercadorias que podem ser importadas
pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para mover e
remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da
face da Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há
sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de
morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida,
embrutecida e curta”.

Não há descrição mais apropriada para um mundo traçado por Jair
Bolsonaro em discurso proferido para uma plateia de extrema direita em
Washington, em março último: “O Brasil não é um terreno aberto onde nós
pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que
desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa”.

Não se trata de deslize de um improviso mal feito. Hamilton Mourão já
havia declarado ao jornal /Valor Econômico/ em fins de 2018 que o
governo faria “um desmanche do Estado”.

São frases-síntese de um governo lúmpen que se move por pequenos e
grandes negócios de ocasião. Em geral, eles se dão por fora da política
institucional e de suas regras e, não raro, apelando para situações de
força. Uma administração de todos contra todos.



*Por Gilberto Maringoni* é Professor de Relações Internacionais da
Universidade Federal do ABC

 e *Artur Araújo* é ex-diretor da Embratur e consultor da Federação
Nacional dos Engenheiros

In
LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL
https://diplomatique.org.br/o-lumpesinato-no-poder/
10/4/2019

quarta-feira, 24 de abril de 2019

La Situación Geopolítica a partir de Abril-2019





Wim Dierckxsens y Walter Formentp  


Nos preguntamos en este ensayo si se abre a partir de abril 2019, con la
complejidad que asume la crisis mundial, que es estructural e integral,
una posibilidad para que la Nueva Gran Formación Social Emergente avance
en su consolidación por el camino de la paz y en el terreno de la
política. Sin que le impongan los cataclismos del terreno de la guerra
militar o financiera. O si más bien presenciaremos una nueva alianza
entre el globalismo y el continentalismo norteamericano para lograr
imponerle a la humanidad que el próximo “Gran Estallido de la Burbuja
Financiera” que de paso a la nueva “Gran Depresión”, mucho más grande
que la de 1929 y la 2008 juntas.
Esto se debe a intereses y responsables que hoy están por arriba de la
nación norteamericana y en contra de EEUU, queriendo recurrir al viejo
discurso del imperialismo de 1890-1929-2008 con su política
“excepcionalista”, lo que se aplica a todos pero no a EEUU, y con una
nueva “doctrina Monroe”, el mundo para los Norteamericanos. Discursos
que tienen el objetivo de encender las pasiones en el pueblo
norteamericano para poder legitimar intereses y movidas de las
oligarquías financieras transnacionales. Discursos pro imperialistas que
incluso son los que también construyen como discurso global a su
contraparte como enemigo fascista, como ya observamos en la crisis de la
UE a partir del Brexit y de las columnas de desplazados por la guerras
en Siria-Irak-Irán-Turquía-etc. organizadas desde la OTAN ambas.



La Situación Geopolítica a partir de Abril-2019

Wim Dierckxsens y Walter Formento,

19 de abril de 2019.

*Introducción*
Con Trump en el gobierno de EEUU no solo se manifiesta claramente ya la
crisis agónica, turbulenta y altamente conflictiva del capitalismo, sino
que se pone en evidencia cada vez más la imposibilidad de salir de la
misma con sus viejas “recetas”. Trump procura salir de la crisis
norteamericana a cualquier costo expresando un nacionalismo
industrialista, anti-oligarquía financiera global como contradicción
principal. Que dentro de EEUU están representadas políticamente por el
estado profundo del poder financiero-político globalista dominantes en
la cúpula del Partido Demócrata y en la Reserva Federal.

Y en forma secundaria se enfrenta con el esquema de la oligarquía
financiera continentalista expresado por el estado profundo
financiero-político dominante en el Partido Republicano, específicamente
como Tea Party, en las figuras del ejecutivo del gobierno
Pence-Bolton-Pompeo y en el complejo militar industrial del Pentágono,
con fuerte peso dentro de los EEUU y en Sudamérica, como Comando Sur.
Mientras en OTAN es dominante el Globalismo. Trump pudo acordar una
coalición de gobierno con la oligarquía continentalista para vencer en
las elecciones de 2016 a los Globalistas Democratas, Clinton/Obama, y
para garantizar un mínimo de estabilidad en el gobierno dentro de EEUU.
Esta coalición que se deteriora cada vez más a medida que avanza el
tiempo de gobierno y la crisis que es mundial.

Esta confrontación interna en el bloque de poder financiero y político
norteamericano entre las tres oligarquías financieras: local -Trump-,
continentalista –Pence/Pompeo- y globalista –Clinton/Obama-, en la hasta
ahora primera pero ya no única potencia mundial, obstaculizó y
obstaculiza la posibilidad de construir un punto de partida de unidad
para poder exportar la “crisis mundial estructural e integral en EEUU” a
otros países. Bajo distintas formas militares y paramilitares con alta o
baja intensidad, como son Siria, Ucrania, Arabia Saudita, Irán,
Venezuela, México, Brasil, Argentina y hasta India, Rusia y China. Como
si lo pudo hacer en la crisis mundial que se abre en 1929, con los
acuerdos entre 1933-40 para poner solo un ejemplo.

En la Gran Formación Social Emergente multipolar con China y Rusia como
sus motores principales, con potencialidad de estar cada vez más
integrada por diversas regiones-naciones (India, Brasil, Sudáfrica,
Argentina, Irán, Egipto, Siria entre otras), sus dinámicas económicas y
políticas ya han cobrado un claro tinte de “desconexión”, a veces
incluso con marcados rasgos antiimperialistas contra el globalismo
unipolar financiero, constituyendo la principal contradicción externa.
Hemos visto que el proyecto globalista ha perdido terreno y capacidad de
imponer sus condiciones con la crisis mundial, hecho que se manifestó en
claramente con las “derrotas” que significaron para el “orden
globalista” primero el Brexit y, luego, la elección de Trump como
presidente de EEUU.

Nos preguntamos en este ensayo si se abre a partir de abril 2019, con la
complejidad que asume la crisis mundial, que es estructural e integral,
una posibilidad para que la Nueva Gran Formación Social Emergente avance
en su consolidación por el camino de la paz y en el terreno de la
política. Sin que le impongan los cataclismos del terreno de la guerra
militar o financiera. O si más bien presenciaremos una nueva alianza
entre el globalismo y el continentalismo norteamericano para lograr
imponerle a la humanidad que el próximo “Gran Estallido de la Burbuja
Financiera” que de paso a la nueva “Gran Depresión”, mucho más grande
que la de 1929 y la 2008 juntas.
Esto se debe a intereses y responsables que hoy están por arriba de la
nación norteamericana y en contra de EEUU, queriendo recurrir al viejo
discurso del imperialismo de 1890-1929-2008 con su política
“excepcionalista”, lo que se aplica a todos pero no a EEUU, y con una
nueva “doctrina Monroe”, el mundo para los Norteamericanos. Discursos
que tienen el objetivo de encender las pasiones en el pueblo
norteamericano para poder legitimar intereses y movidas de las
oligarquías financieras transnacionales. Discursos pro imperialistas que
incluso son los que también construyen como discurso global a su
contraparte como enemigo fascista, como ya observamos en la crisis de la
UE a partir del Brexit y de las columnas de desplazados por la guerras
en Siria-Irak-Irán-Turquía-etc. organizadas desde la OTAN ambas.

*1. Brexit y la Unión Europea*
Londres es la capital, de una red mundial, para el intercambio de
divisas en el extranjero, la gestión de activos y seguros, así como para
las áreas emergentes del sector, tales como finanzas, finanzas verdes y
cibernética. Representa los intereses de las transnacionales en el nodo
financiero más importante del mundo, que ayuda a apoyar el crecimiento y
la inversión tanto a nivel nacional en el RU como globalmente. Con la
consolidación del globalismo financiero como actor estratégico en
ascenso y con iniciativa económico-estratégica (1999-2008), se posiciona
a la City financiera de Londres como centro del poder para toda la UE,
lo cual entra crisis en 2008-2011. La UE resiste desde entonces (apoyada
ya desde entonces por China vea Crisis Financiera Global) y propone en
medio del Brexit más bien a Bruselas como capital política y centro del
poder de la UE y a la City de Frankfurt como nodo financiero principal
de la UE .

Para prestar muchos de estos servicios en la UE, después de Brexit de
2016/17, los bancos necesitaran un derecho llamado “passporting”. El
Brexit expresa también el enfrentamiento de la Corona Británica contra
la City Financiera Globalista de Londres en lo principal y de la
Oligarquía Continentalista en la UE en segundo lugar. Ambos van en
contra la City Financiera Globalista de Londres. El Brexit implica un
duro “golpe” sobre el estatus de la City de Londres en el RU y la UE, y
con ello de su oligarquía financiera global.

Por ello parece muy poco probable que cualquier acuerdo al que pueda
llegar el Reino Unido mantenga los derechos de “passporting”, derecho a
la libre circulación de las finanzas, que hacía que la oligarquía
globalista en la City Financiera de Londres fuera el verdadero poder
dominante en la UE. El nudo central de esta confrontación de intereses
estratégicos de primer orden justamente tiene en su núcleo la disputa de
quién manda en la UE, la oligarquía financiera globalista euroescéptica
de la City de Londres o la oligarquía continentalista con centro en la
Bruselas del poder político, que propone como nuevo centro financiero a
la City de Frankfurt, subordinado al poder político de la UE en
Bruselas. La oligarquía financiera globalista en la City de Londres o la
oligarquía continentalista en la Corona Británico subordinando en el RU
todo a su poder político.
Esta complejidad de una doble movida continentalista contra el
globalismo financiero en la City de Londres da el carácter al momento
histórico y permite entender luego, la contradicción entre el
continentalismo en la Corona Británico y la oligarquía continentalista
europea como secundaria. Incluso permitiendo hacer observable los apoyos
a éstos actores desde ambos multipolarismos pluriversales, el económico
político de China-Rusia-India-etc. y el filosófico-religioso del dialogo
de civilizaciones-religiones.

La crisis que un Brexit podría generar en Europa bien podría servir de
pretexto para generar una crisis bursátil a escala mundial. Los
globalistas buscando provocar un colapso bursátil promovido desde la
Reserva Federal (Banco Central privado) con la consecuente Gran
Depresión mundial que esto traería consigo, como la de 1929 y la de 2008
de la cual aún no salimos, pero con el obstáculo/problema que no pueden
ya permitir quedar ligados mundialmente, a que la responsabilidad de
esta “nueva caída” los exponga a la luz del día y muestre la verdadera
“mano que mece” el estallido de la crisis de la gran burbuja y las
movidas del Banco Central de EEUU (la Fed) para logarlo.

Como no han logrado aún crear las condiciones para poder responsabilizar
de “todo” al ´mal´ gobierno de Trump (que logró un triunfo contundente
en el “Russiagate”) de la “caída bursátil”, los globalistas junto con
los Continentalistas en EEUU, se ven ante el escenario de tener que
“responsabilizar” de la Gran Depresión, generada por ellos, a
“terceros”. Que al posponerse el Brexit, los globalistas y la Fed deben
reconsiderar el escenario y ahora volver a ver como conveniente que
continúe la expansión monetaria en EEUU, posponiendo la crisis bursátil
para otro momento. Pero ya han quedado expuestos a la luz del día, y
está perdida en la iniciativa estratégica puede no volver a retomarse o
peor aún puede quedar en manos de otro/s actores oponentes al globalismo.

*2. La relación Unión Europea y China*
Los europeos pasaron los últimos años demasiado ensimismados con sus
crisis internas, en particular con el Brexit, las elecciones, las
migraciones, etc., como para reevaluar su relación con China (mientras
esta aumentaba su influencia internacional), para poder intentar ser
parte detonante de la crisis globalista en EEUU. El 7 de marzo de 2019,
ha sido el gigante chino Huawei quien ha hecho una demostración de
fuerzas en Barcelona: no solo ha presentado su propio teléfono plegable,
sino que además lo ha equipado con conectividad 5G. La compañía Huawei y
´Monaco Telecom’ firmaron un memorándum de entendimiento en Barcelona
para transformar el principado en una ´ciudad inteligente´. De este modo
Xi Jimping transforma a Mónaco en una vitrina que es modelo para todos
los países europeos de cómo crear una ´nación inteligente´.

El primer ministro de Italia, Giuseppe Conte, se comprometió a convertir
a su país en el primero del G-7 que se una a la ambiciosa Iniciativa del
Cinturón y Ruta de la Seda de China pese a las objeciones de Estados
Unidos y a las dudas dentro de su coalición de Gobierno. China ya ha
firmado acuerdos de este tipo con países europeos como Malta, Portugal,
Bulgaria, Croacia, República Checa, Hungría, Grecia, Estonia, Letonia,
Lituana, Eslovaquia y Eslovenia. Sin embargo, Italia es la primera gran
potencia industrial que se suma y, con ello, busca explorar nuevas
inversiones y mercados, en un momento en el que su economía se encuentra
en recesión técnica.

China es un país que retorna al lugar, que ocupó durante siglos, como
uno de los principales actores de la política internacional (hasta el
Siglo XVII), lo que supone un reto existencial para la Unión Europea ya
que, entre otras cosas, Pekín propugna un modelo de sociedad diferente y
tiene una visión de las relaciones internacionales distintas de
Occidente. China en su iniciativa, actúa no como nación sino como actor
multipolar articulando naciones-regiones Rusia-India-Sudáfrica-Brasil.
Pero también con sólidos diálogos comerciales-industriales con el RU y
con Alemania-Francia-Italia.
China no pierde su carácter de socio potencial clave y las empresas en
la Unión Europea están cada vez más definidamente a favor de “mirar”
hacia el Este, en lugar de seguir mirando al Oeste y al Globalismo que
cada día les trae más problemas que soluciones.

*3.La perspectiva a futuro de la OTAN Globalista*
*
a) Trump y la OTAN*
Una vez consolidado el presidente Trump en la Casa Blanca, el interés y
las energías para sostener a la OTAN Globalista, y sus fuerzas militares
en la UE, han disminuido notoriamente. A partir de 1999-2001, con el
enfrentamiento entre Contientalistas y Globalistas profundizándose, la
“caída” de las Torres financieras globales Gemelas, hace visibles y pone
de manifiesto no solo este enfrentamiento entre fracciones financieras
sino el nivel de división, fractura y confrontación estratégica a que
había llegado. Este hecho, vuelve a repetirse en 2008 en mayor escala,
en la llamada “caída” del gran banco de inversión globalista Lehman
Brothers-City Group, que disparo la crisis financiera global, la
parálisis de la economía real mundial y el desarrollo de la economía
ficticia especulativa, inflando una gran burbuja financiera, de emisión
de papeles sin respaldo, que lleva a quintuplicar como mínimo la que
´hicieron´ estallar en 2008.

En relación con esto, es significativo que el primer objetivo del
presidente Trump fuera reducir la capacidad de decisión de la
OTAN-Globalista, que incluyo la política de su des-financiación desde
EEUU. En la reunión de la OTAN en Bruselas celebrada en julio de 2018,
Trump ya advirtió que el gasto en Defensa de los aliados debería
elevarse. Ante la resistencia recibida y sobre todo de Alemania, Trump
fue más lejos: amenazó con la salida de EEUU de la OTAN. Si bien Trump
podría vetar la ley propuesta por los demócratas para impedir la salida
de la OTAN, y/o de las tropas norteamericanas de Europa, es preciso
conocer su ´motivación´ al respecto.

El presidente Trump considera que el gasto en defensa ha de ser una
inversión rentable. Considera también que fabricar nuevas armas para la
venta es mejor que sostener bases militares en el exterior. Si estas
bases no brindan una ventaja económica sería mejor cerrarlas o cobrar
por su presencia, con una tasa del 150% del costo. En el fondo empuja
con ello a que Alemania opte por salir de la OTAN y/o que solicite la
retirada de las tropas norteamericanas, y este nuevo escenario le abre
nuevos grados de libertad de movimiento que la obliga a pensar otra
estrategia y a desarrollar una iniciativa para su propia defensa
colectiva como UE.

Mientras los ministros de Relaciones Exteriores de los países miembros
de la OTAN celebraban en Washington el 70º aniversario de la misma, el
presidente Donald ‎Trump recibía al primer ministro adjunto chino Liu
He.‎ Trump sorprendió a todos hablando de la posibilidad de negociar
junto con China y Rusia una ‎disminución de los gastos en armamento
nuclear. Desde el punto de vista estrictamente económico, existe una
gran diferencia entre los costos del ‎armamento atómico y los del
armamento convencional, ya que se trata de gastos que nunca ‎se
recuperan dado el hecho que el armamento nuclear no puede exportarse.

Trump plantea la cuestión precisamente desde el punto económico,
‎previniendo y alertando indirectamente que el complejo industrial
militar no puede estar por sobre lo que la economía norteamericana puede
sostener-financiar ´genuinamente´ porque esto podría llevar a una
eventual ´Perestroika´ en EEUU, contradiciendo así la retórica de «la
amenaza rusa» de ciertos “círculos de interés”. Pone enfáticamente en
claro que el gasto de una nueva carrera armamentista, con una economía
de EEUU estancada y sobre-endeudada y con el repliegue del petrodólar en
la mira, expone a EEUU y al Continentalismo norteamericano a su “caída”
como lo fue para la URSS en 1989-91.

*b) El bloqueo de la OTAN en Ucrania *
Los conflictos más significativos creados por los globalistas en esta
década han sido los de Ucrania y Siria, que fueron instrumentados por la
Organización del Tratado del Atlántico Norte (OTAN) su brazo armado.
Ambos conflictos fueron “diseñados y construidos” por los Globalistas
para levantar un “Gran Muro” que separe e impida el desarrollo de la
articulación económica, comercial y política entre la UE y Rusia, China
y la India.

Un punto estratégico de bloqueo se levantó en Ucrania y otro en Siria. A
partir de la decisión del pueblo de Crimea, mediante el referéndum, de
incorporarse a Rusia, la OTAN metió mano en Ucrania a partir de un
maniobra golpista para “colocar” un gobierno “títere” para llevar el
enfrentamiento contra Rusia a un nivel mayor, ´legitimando´ así la
implementación de sanciones drásticas al país y el bloqueo del flujo de
gas natural y petróleo desde Rusia a Alemania y la UE.

En este contexto, la UE y Rusia observan con buenos ojos a Zelensky,
único candidato en Ucrania que está en contra de invadir a Crimea y
Donbass, además está también a favor de acercarse más a la UE y
distanciarse de EEUU y la OTAN. Para la segunda ronda de las elecciones
el 21 de abril aparece en los sondeos como claro favorito.

El consenso en el Congreso de EEUU en torno a Ucrania muestra un
“acuerdo” entre globalistas y continentalistas en EEUU, al menos en este
asunto geopolítico. Sostener a Ucrania dentro de la OTAN y a su actual
presidente pro OTAN. La política de Trump podría manifestarse nuevamente
contraria con los intereses globalistas, algo que ya hemos visto en la
peninsula de Corea, ante la politica de promover las tensiones entre las
dos Coreas por el Secretario Tillerson. Mientras la OTAN sigue
presionando a la UE para mantener y incrementar las sanciones contra
Rusia, donde los costos y perdidas son a cuenta de UE. Mike Pompeo
podría tener en un futuro cercano la misma suerte que tuvo el anterior
Secretario de Estado.

*c) El bloqueo en Siria y el rol de la OTAN*
La campaña de bombardeos aéreos en Siria que llevaron adelante las
fuerzas conjuntas de la OTAN fue, en definitiva, una advertencia al
presidente chino Xi Jinping, quien estaba por concluir una serie de
contratos bilaterales destinados a crear las Rutas de Seda con su paso
por Siria y garantizar en este caso el aprovisionamiento de petróleo,
que su país compra sin pasar por el mercado petrolero internacional
dolarizado. Si Moscú y Pekín no se hubieran movido rápidamente y
efectivamente en esta zona, hubieran sufrido no solo derrotas en Siria
sino, incluso el conflicto hubiera escalado llevando los escenarios de
la guerra a tener que enfrentar a Daesh en las poblaciones musulmanas en
territorio de Rusia, China e India, en el Cáucaso, en el valle de
Ferghana y en la región china de Xinjiang.

La decisión de Trump en diciembre de 2018 de anunciar que las tropas
norteamericanas deben salir de Siria está en relación con la realidad de
los continentalistas y anti-globalistas en EEUU. La política globalista
fue destruir Siria para obstruir el avance de la Nueva Ruta de Seda
hacia la UE, por un lado, y de provocar grandes contingentes migratorios
hacia la UE, por el otro. Dichos flujos colaboraron para exaltar el
euroescepticismo, el nacionalismo y el racismo en las poblaciones UE,
realidad que fue amplificada millones de veces por las plataformas de
comunicación globalistas y particularmente durante las campañas
electorales en diferentes países como Francia, Alemania y Holanda.
El nacionalismo fomentaba el euro-escepticismo y, por ende, ponía en
marcha fuerzas que tensionaban y amenazaban con la desintegración de la
UE, objetivo claro de los globalistas golpeados por el Brexit. Con ello
crecieron los partidos nacionalistas de extrema derecha en la UE,
promovidos por todos los medios al alcance de los intereses de
Rothschild y Soros. La palabra “fascistas” y “derecha fascista”
renacieron y regresan al presente en este marco de hechos e intereses.
Gracias a estas campañas globalistas las fuerzas políticas nacionalistas
constituyen hoy la principal fuerza política en el parlamento europeo en
Estrasburgo.

Además, se abre un nuevo frente de conflicto en relación al estratégico
eje de la energía, donde según la doctrina del Continentalista
Secretario de Estado norteamericano Pompeo, no es conveniente reducir la
producción mundial de petróleo al nivel de la ‎demanda mediante cuotas
de producción como plantea la OPEP+ desde hace 2 años, sino ‎cerrando
las puertas del ´mercado´ a varios grandes exportadores, que
llamativamente en este momento serian Irán, Venezuela y Siria. Incluso
ya está en marcha un proyecto de ley para que EEUU pueda demandar a los
Estados miembros de la OPEP+ por sus intentos de reducir la extracción
de petróleo para aumentar los precios del crudo. En relación a la
posición de Pompeo, Arabia Saudita amenaza con vender su petróleo
utilizando otras monedas en lugar del dólar, medida capaz de “hacer
caer” el petrodólar como moneda de reserva mundial.

Podrá ser éste un objetivo para los globalistas a fin de hacer estallar
la crisis bursátil en EEUU, ya que podrían “imputarle” la
responsabilidad del colapso del dólar y de la economía norteamericana a
la administración Trump. Por esto mismo, queda claro que esto no es el
objetivo de Trump. Con los halcones continentalistas republicanos,
sumando a los demócratas de Clinton-Obama, es posible que la ley
encuentre los votos necesarios y, de ser así, a Trump le tocará vetarla.
*
4. La nueva Guerra Fría a partir de Venezuela*
En la segunda mitad de marzo de 2019, EEUU perdió a Venezuela. El
consejero de Seguridad Nacional estadounidense, John Bolton había
declarado que “EEUU no tolerará la injerencia de potencias militares
extranjeras hostiles a los objetivos compartidos del hemisferio
occidental”, esto en alusión a dos aviones de Rusia que llegaron
nuevamente a Venezuela.
Tras obligar a salir a los estadounidenses de Siria, Rusia corrió la
línea de fuego a Suramérica y el Caribe, llevándola al propio territorio
de los países “controlados” por Washington históricamente desde 1950.
Para el multipolarismo de China-India-Rusia ya no hay países de la
órbita exclusiva de tal o cual potencia mundial. La última alternativa
que le quedaría a la coalición de “Halcones financieros” Republicanos y
Demócratas sería imponer la opción militar directa, que hoy ya incluye
la financiera.
El 29 de marzo, Trump hasta criticó al presidente de Colombia (miembro
de OTAN) y lo responsabilizó de un creciente flujo migratorio y de
drogas hacia EEUU, amenazándolo con tratarlo igual que a las naciones
centroamericanas. Con ello Trump parece mostrar que no le sirve que se
fortalezca el militarismo norteamericano asociado a su vicepresidente
Pence y a su Secretario de Estado Mike Pompeo. Trump no apuesta ni le
sirve la opción militar, por más que se hable de modo amenazante que
“todas la opciones están arriba de la mesa”.

*5. Las contradicciones entre globalistas y Trump en EEUU *
*
a. El caso de Russiagate*
El desenlace de Russiagate sin duda es la mayor derrota para los
globalistas de Clinton, Obama, Pelosi y para el estamento de poder
globalista profundo del partido demócrata, lo cual en la próxima campaña
electoral eleva sus probabilidades de ser derrotados nuevamente. Todo lo
cual muestra que Trump ha podido y podrá sobrevivir al ataque del estado
profundo globalista. La prensa globalista ha fracasado como contrapeso
de Trump, lo que le permitirá a Trump descartar como “fake news”
cualquier revelación negativa de esos medios sobre su presidencia.

*b) El caso de la Emergencia Nacional*
Ambas Cámaras del Congreso de EEUU aprobaron una ley para abolir la
emergencia nacional con la que el mandatario pretende obtener los fondos
necesarios para construir el muro fronterizo con México, una de las
promesas de campaña más controvertidas de Trump. Como era de esperar
Trump la ha vetado el 15 de marzo, mientras tanto ya recibió del
Pentágono mil millones de dólares del programa de emergencia nacional
que le permiten avanzar con la construcción de las primeras 57 millas
del muro. Como respuesta, el Partido Demócrata, presentó el 5 de abril
hacer una demanda contra el presidente para revocar la declaración de la
emergencia nacional. Una eventual demanda podría llegar hasta la corte
suprema de justicia, actualmente bajo control político de Trump, donde
casi con seguridad morirá. Sería otra gran derrota para los demócratas y
probablemente ya en momentos de plena campaña electoral.

*c) El caso de la Reserva Federal *
En otra movida del mismo plan, la Reserva Federal (Fed) con Powell
anunció en abril oficialmente el cambio en su política de contracción
monetaria y suba de las tasas de interés durante el año en curso. Un
aparente triunfo de Trump sobre los globalistas quienes hasta principios
de 2019 todavía impulsaron con fuerza la política la alza de las tasas
de interés a fin de provocar un colapso bursátil, pretendiendo además
atribuírselo al fracaso de la administración Trump. Una nueva política
de re-expansión monetaria con tasas de interés a casi cero por ciento
significa que Trump podrá obtener crédito barato para sus proyectos,
como el Muro, y que la bolsa de valores siga disparándose con valores de
hasta más de 3.000 para S&P por ejemplo.

Un proyecto de ley de los demócratas avanza y propone suprimir la
política de re-compra de acciones propias por las grandes corporaciones.
Este es el comportamiento que tienen las grandes corporaciones
financieros para impedir que la expansión monetaria con baja de tasas se
transforme en reactivación industrial y comercial de le economía real, e
incluso implique la migración de empresas hacia el mercado interno
norteamericano. En cambio, las grandes corporaciones y transnacionales
financieras usan la recompra de sus acciones como modo de bloquear la
política de reindustrialización norteamericana de Trump y para absorber
esa masa monetaria como valorización de sus empresas y sus acciones.
Goldman Sachs señala que habrá un colapso bursátil si se suprime dicha
re-compra de acciones propias. Este colapso es precisamente un objetivo
político globalista. La iniciativa de los demócratas globalistas es
difícil que pueda llegar a obtener los votos necesarios en el Senado,
con mayoría republicana, y de ser así será otra ley que vetará Trump.
Las transnacionales globales (Apple, Microsoft, Google, Facebook, Uber,
Amazon.com) en primer lugar, aunque también las corporaciones
continentalistas financieras, están en condiciones de “planificar” el
momento del crash o estallido financiero. Ganaron con la recompra de sus
acciones propias un trillón de dólares en 2018. Poner en venta masiva
perdiendo medio trillón de dólares sus propias acciones causaría sin
duda un efecto en cadena y por ende un crash. El principal obstáculo
radica en el profundo conflicto estratégico de intereses entre las
distintas facciones financieras que tienen entre sí, acerca del mundo
qué hay que construir y, desde dónde manejarlo y quiénes se apropiarían
de las ganancias producidas.

Los globalistas especulan con que tendrían la capacidad de crear un
escenario para que la “responsabilidad” de la crisis pudiera ser
“transferida” para hacérsela “pagar” políticamente a la ´deplorable´
administración Trump. Sin embargo, Trump ha salido victorioso como vimos
en múltiples movidas. Queda como única salida poder “transferirle o
endosarle” la responsabilidad a terceras naciones.

*6. Las contradicciones externas de EEUU con BRI*

Debilitado y desbordado por sus oponentes multipolares –Rusia y China–,
los contientalistas sumando a globalistas en Estados Unidos recuperan su
discursos y relatos de sus ‎reflejos históricos ‎y regresa a la doctrina
Monroe (Venezuela) y al “excepcionalismo”. EEUU como ´nación
excepcional´ ha sancionado históricamente a países a su antojo, y sin
proceso alguno, con medidas económicas que estrangulan a las naciones
sancionadas como es el caso hoy de Venezuela, Irán, pero también la
Unión Europea, Rusia y China.
Por el momento la contradicción en EEUU parece subordinar las
diferencias a la contradicción general contra China y Rusia, y su
iniciativa de la Nueva Ruta de Seda o Belt and Road Iniciative (BRI). El
´excepcionalismo´ comenzó con boicotear países con la red SWIFT
‎‎(siglas en inglés de la Sociedad para las Comunicaciones
Interbancarias y Financieras Mundiales) que tiene su sede en Bruselas
pero está bajo control estadounidense. Los grandes bancos usan SWIFT
para sus transferencias en diferentes monedas. Eliminar el acceso a
bancos de una nación (Rusia) es como cortarles el oxígeno.

En respuesta a la política de sanciones económicas estadounidense, Moscú
emprendió la creación del Sistema de Transferencia de Comunicaciones
Financieras (SPFS), una red alternativa propia destinada a garantizar
sus transacciones internas. Esta red entró ‎en funcionamiento en
diciembre de 2017. A partir de las sanciones aplicadas a países de la
Unión Europea por no alinearse con las sanciones norteamericanas, estos
países también han mostrado interés de escapar de las sanciones
estadounidenses. El ministro de relaciones exteriores de Alemania (Heiko
Maas) ya llamó para crear un sistema de pagos independiente del SWIFT
para liberarse así de pagos en dólares.

Luego, EEUU amplía sus represalillas con medidas en el CHIPS (Clearing
House for International Payments) que es el Sistema de Compensación de
Pagos Interbancarios para transferencias electrónicas con soporte de la
Reserva Federal (banco central de EEUU), oficina ubicada en Nueva York y
por donde pasa el 88% de las transacciones en el comercio global. Las
sanciones económicas a países, empresas e incluso personas que no se
alinean con EEUU consisten en el boicot de esas transferencias.

El reto de China es diferente al de Rusia. El objetivo de China no es
prevenir el recibir ‎sanciones monetarias creando un sistema
independiente de transferencias bancarias, sino poder realizar
‎transferencias en yuanes (la moneda china), divisa que no es plenamente
convertible en los ‎mercados cambiarios. Pekín comenzó a desarrollar un
sistema para las transferencias en yuanes en el extranjero. Con las
Nuevas Rutas de Seda (OBOR) pretende crear, y ya lo está haciendo, redes
de comercio en el continente Euroasiático, Medio Oriente, África y en
Sudamérica. ‎Se trata de la red CIPS (llamada inicialmente Cross-Border
Inter-Bank Payments System, que después ‎pasó a llamarse China
International Payments System). ‎El SPFS ruso y el CIPS chino ya están
conectados entre sí desde principios de abril de 2019.

El lanzamiento del petro-yuan-oro, es un paso más en esta estrategia,
aunque signifique confrontar en un terreno que hasta ahora era ´coto´
exclusivo del petro-dólar. China proclama que el Petro-yuan competirá
con el petro-dólar estadounidense, y desde ya tiene la aceptación de
Rusia, Irán y cada vez más países de la OBOR. No cabe duda que la
introducción de futuros de petróleo respaldados por oro (petro-yuan-oro)
es otro paso estratégico de China, ya que su incidencia en Asia no puede
lograrse sin vulnerar, de manera progresiva, al dólar. China con sus
crecientes reservas de oro intenta garantizar a futuro la estabilidad de
su moneda como la más solvente: el petro-yuan-oro. Rusia y China ya han
desarrollado incluso un sistema de criptomoneda anclado en oro y están
cerca de tener un sistema que no se conecta con internet. Solo por
invitación podrán participar otras naciones.

La lógica indica que, en el momento de un colapso bursátil y una crisis
sistémica, la economía estadounidense no tendrá suficiente reserva de
valor de su moneda en cuestión, ya que hoy EEUU no tiene el oro
suficiente para respaldarlo, dado el enorme déficit persistente. China
como potencia emisora no tiene déficit comercial y más bien ha logrado
un superávit histórico y podrá mantener el poder de compra de su moneda
respaldada en oro. La gran cantidad de bonos del Tesoro en dólares que
tiene China perderían valor, pero sus reservas en oro probablemente lo
compensarían por demás. No sería extraño ver llegar a Trump a un acuerdo
con China para que ponga a su disposición oro (lo que ya propuso China
en febrero de 2018), aunque sea bajo la modalidad de leasing, a fin de
salvar al dólar de un colapso inminente, lo cual conllevaría a respaldar
nuevamente el Dólar en Oro como entre 1944-1973. Con esta movida, el
objetivo de Trump es salvar a EEUU de una degradación al estatus de país
de Tercer Mundo.

La Gran Formación Social Emergente (con China-Rusia-India como motor
principal) se propone, reconectar el capital ficticio en la gran burbuja
financiera mundial a la economía real productiva, redes de comercio,
inversiones en infraestructuras y aprovechamiento de la energía en curso
y de cara a una transición energética. Es una Zona de Estabilidad
relativa que, en definitiva, posibilita continuar con su proyecto
productivo en medio de un colapso del llamado “capitalismo occidental”,
ya que es la única Formación Social que podría renunciar a tasas de
ganancia a nivel capitalista, retornando a una economía planificada. El
increíble desarrollo de internet permite pensar en una democratización
de la planificación. Así podrá ponerse la productividad del trabajo por
encima de la productividad para el capital y esto con miras a una
posible transición suave al postcapitalismo.

In
WIM DIERCKXSENS
http://mariwim.info/?p=105
Abril, 2019

domingo, 21 de abril de 2019

O golpe de 2016: a porta para o desastre





    Em artigo enviado com exclusividade para o Brasil de Fato, a
    ex-presidenta da República analisa o Brasil de hoje

Dilma Rousseff


Agência Brasil/Arquivo

Faz três anos, hoje, que a Câmara dos Deputados, comandada por um
deputado condenado por corrupção, aprovou a abertura de um processo de
impeachment contra mim, sem que houvesse crime de responsabilidade que
justificasse tal decisão. Aquela votação em plenário foi um dos momentos
mais infames da história brasileira. Envergonhou o Brasil diante de si
mesmo e perante o mundo.

A sistemática sabotagem do meu governo foi determinante para o
rompimento da normalidade institucional. Foi iniciada com pedidos de
recontagem de votos, dias após a eleição de 2014, e com um pedido de
impeachment, já em março, com apenas três meses de governo.

A construção do golpe se deu no Congresso, na mídia, em segmentos do
Judiciário e no mercado financeiro. Compartilhavam os interesses dos
derrotados nas urnas e agiam em sincronia para inviabilizar o governo.

O principal objetivo do golpe foi o enquadramento do Brasil na agenda
neoliberal, que, por quatro eleições presidenciais consecutivas havia
sido derrotada nas urnas. Para tanto, uma das primeiras ações dos
interessados no golpe foi a formação de uma oposição selvagem no
Congresso. Seu objetivo era impedir o governo recém-reeleito de
governar, criando uma grave crise fiscal. Para isto, lançaram mão de
pautas-bomba que aumentavam gastos e reduziam receitas. Impediam também,
de forma sistemática, a aprovação de projetos cruciais para a
estabilidade econômica do país. E, nos primeiros seis meses de governo,
apresentaram 15 pedidos de impeachment.

O ano de 2015 foi aquele em que ganhou corpo essa oposição que atuava na
base do “quanto pior, melhor”, e que, insensível para as graves
consequências da sua ação para com o povo e o país, inviabilizava a
própria realização de novos investimentos privados e públicos, ao impor
a instabilidade como norma. Uma crise política desta dimensão paralisou
e lançou o país na recessão.

Foi essa verdadeira sabotagem interna que tornou praticamente
impossível, naquele momento, atenuar sobre o Brasil os efeitos da crise
mundial caracterizada pela queda do preço das commodities, pela redução
do crescimento da China, pela disparada do dólar devido ao fim da
expansão monetária praticada pelos EUA e, aqui dentro, pelos efeitos da
seca sobre o custo da energia.

O golpe foi o episódio inaugural de um processo devastador que já dura
três anos. Teve, para seu desenlace e os atos subsequentes, a
estratégica contribuição do sistema punitivista de justiça, a Lava Jato,
que sob o argumento de alvejar a corrupção, feriu a Constituição de
1988, atingiu o Estado Democrático de Direito e impôs a justiça do
inimigo como regra.

A relação mídia-Lava Jato permitiu que a imprensa se transformasse na 4ª
instância do Judiciário, só tratando de condenar sem direito de defesa.
A lógica política dessa relação está focada na destruição e
criminalização do PT – em especial de Lula – e, para isso, utilizaram
vazamentos às vésperas das eleições, delações sem provas, desrespeito ao
devido processo legal e ao direito de defesa.

O efeito colateral dessa trama foi a destruição dos partidos do centro e
da centro-direita, que se curvaram à tentação golpista. Foi isso que
permitiu a limpeza do terreno partidário tão necessária para que
vicejasse a ultradireita bolsonarista, como uma planta solitária, na
eleição de 2018. No entanto, a arma final e decisiva foi a condenação, a
prisão e a interdição da candidatura de Lula à presidência a fim de
garantir a eleição de Bolsonaro. A ida do juiz Sérgio Moro para o
Ministério da Justiça é a constrangedora prova desse dispositivo.

Por isso, o que aconteceu há três anos explica e é causa do que está
acontecendo hoje. Há razões mais do que suficientes para que a história
registre o 17 de abril de 2016 como o dia da infâmia. Foi quando o
desastre se desencadeou; se desencadeou ao barrar os projetos dos
governos do PT que tinham elevado dezenas de milhões de pessoas pobres à
condição de cidadãos, com direitos e com acesso a serviços públicos, ao
trabalho formal, à renda, à educação para os filhos, a médico, casa
própria e remédios. Interromperam  programas estratégicos para a  defesa
da soberania e para o desenvolvimento nacional, projetos que colocaram o
Brasil entre as seis nações mais ricas do mundo e retiraram o país do
vergonhoso mapa da fome da ONU.

O golpe resultou numa calamidade econômica e social sem precedentes para
o Brasil e, em seguida, na eleição de Bolsonaro. Direitos históricos do
povo estão sendo aniquilados. Avanços civilizatórios alcançados no
período democrático que sucedeu à ditadura militar vão sendo
dilapidados. Conquistas fundamentais obtidas nos governos do PT passaram
a ser revogadas. Este processo radicalizou-se com um governo
agressivamente neoliberal na economia e perversamente ultraconservador
nos costumes. Um governo com uma inequívoca índole neofascista.

O governo Bolsonaro continua se apoiando na grande mentira midiática
fundamento do golpe: a de que o Brasil estava quebrado quando os
golpistas de Temer assumiram o governo. Esta falsificação dos fatos
continua sendo brandida pela mídia e usada maliciosamente para
justificar a recuperação que nunca veio e os empregos que não voltaram.
Nem vão vir, enquanto durar a agenda neoliberal. A verdade é que o
Brasil nunca esteve sequer perto de quebrar, durante o meu governo.

Um país só está quebrado quando não pode pagar seus débitos
internacionais. Isto, por exemplo, aconteceu no governo FHC, quando o
Brasil teve de apelar ao FMI para fazer frente ao seu endividamento
externo e sua  falta de reservas. Em 2005, o presidente Lula quitou
inteiramente a nossa dívida com o FMI e, depois disso, nossas reservas
cresceram, atingindo 380 bilhões de dólares e tornando-nos credores
internacionais.

Situação muito diferente do que acontece hoje, infelizmente, na
Argentina de Macri, submetida mais uma vez às absurdas exigências do FMI

A mídia, por sua vez, não parou de construir a lenda de que o governo
federal  estava quebrado e os gastos públicos descontrolados. Só faria
sentido dizer que o governo federal estava quebrado se não conseguisse
pagar suas próprias contas com tributos ou com a contratação de dívidas.
Isso não ocorreu no meu governo. O Brasil continuou a arrecadar tributos
e a emitir dívida, mantendo a capacidade de pagar suas próprias contas.

É bom lembrar que a dívida pública permaneceu em queda todos os anos,
desde 2003, e atingiu o menor patamar  histórico, no início de 2014,
antes do “quanto pior, melhor” dos tucanos e dos demais golpistas. Mas,
em 2015, a dívida pública subiu. Ainda assim, mesmo com o aumento, a
dívida permaneceu abaixo da registrada nas maiores economias
desenvolvidas e em desenvolvimento. O problema nunca foi  o tamanho da
dívida. Mas, sim, o seu custo, que permanece entre os mais altos do
mundo, em razão das taxas de juros e dos /spreads/ abusivos praticados
no Brasil, pelo sistema financeiro nacional. O que, aliás, explica seus
lucros estratosféricos, mesmo quando o país passa por uma crise.

A mídia insiste, até hoje, em dizer que o meu governo perdeu o controle
sobre os gastos, o que também não é verdade. O fato é que que a
arrecadação caiu mais rápido do que os gastos. Os gastos cresceram, mas
não em função do aumento da folha de salário dos funcionários, que
permaneceu constante. É importante ressaltar que o que cresceu foi o
valor das transferências sociais – como Bolsa Família e aposentadorias
–, o que cresceu foi a oferta de serviços aos cidadãos – em especial
saúde e educação. Todos esses dispêndios são fundamentais para resgatar
injustiças históricas, reduzir desigualdades sociais e desenvolver o país.

A verdade é que os gastos do governo nunca estiveram descontrolados. Ao
contrário, até caíram em termos reais. O que houve foi uma rápida
redução das receitas, devido à paralisia que um processo de impeachment
provoca nos investidores, que passaram a não ter segurança para criar
novos negócios, abrir novas plantas e ampliar investimentos, deprimindo
assim a economia e a arrecadação.

O governo Bolsonaro está ampliando um legado de retrocessos do governo
Temer, mantendo e até aprofundando a absurda emenda do teto dos gastos,
que reduz os investimentos em educação e na saúde; a reforma
trabalhista, que abriu portas para a exploração mais brutal e para a
leniência com o trabalho análogo à escravidão; a venda de blocos do
pré-sal; a redução do Bolsa Família; a extinção para os mais pobres do
Minha Casa Minha Vida e do Aqui Tem Farmácia Popular e a redução do Mais
Médicos; a destruição dos principais programas educacionais e a
dilapidação da Amazônia e do meio ambiente.

Culmina, agora, com a tentativa de  privatização (capitalização
individual) da previdência social, com a emenda 06, artigo 201—A, e a
retirada das regras da  previdência da Constituição, com o artigo 201, o
que permitiria mudanças legais, que não exigem três quintos do Congresso
para aprovação.  As mudanças que o governo quer fazer reforçam
privilégios de uns poucos e sacrificam os aposentados de baixa renda, as
mulheres, os trabalhadores rurais e urbanos, bem como aqueles que
recebem o BPC.

Do “quanto pior, melhor” à prisão de Lula, do dia 17 de abril de 2016 –
dia da  aceitação do impeachment pela Câmara, ao dia 7 de abril de 2018
– dia da prisão de Lula, o caminho para o Estado de exceção foi sendo
pavimentado e as mentiras e falsidades da mídia tiveram um papel
fundamental.

Mesmo os que se opõem a Lula mas prezam a democracia se constrangem com
o escândalo da sua prisão e condenação ilegal, e já perceberam que ele é
um prisioneiro político. Um inocente condenado sem crime, e por isso sem
provas.

Lula sintetiza a luta pela democracia em nosso país. Lutar por sua
liberdade plena significa enfrentar o aparato neofascista – militar,
judicial e midiático – que está destruindo a democracia. Lula é a voz da
resistência e carrega o  estandarte da luta democrática. Mesmo preso, é
o maior inimigo do neofascismo que nos ameaça.

Lula mostrou ao povo brasileiro, em cada gesto seu que se tornou
público, que é possível resistir mesmo nas piores condições. A sua força
moral nos fortalece, a sua garra nos anima, a sua integridade nos faz
lutar por sua liberdade, que representa também as liberdades
democráticas para todos os brasileiros.

In
BRASIL DE FATO
https://www.brasildefato.com.br/2019/04/17/o-golpe-de-2016-a-porta-para-o-desastre-por-dilma-rousseff/
17/4/2019

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Atenção: a Reforma da Previdência ameaça também quem já está aposentado








Não é exagero afirmar que a Reforma da Previdência do governo Bolsonaro
significa o fim do direito à aposentadoria, afinal, o projeto impõe
regras que, na prática, vão impedir os trabalhadores de conseguir esse
direito. Mas não são apenas os atuais e novos trabalhadores que serão
afetados pela medida. Os atuais aposentados também serão fortemente
prejudicados.



A reforma traz mudanças que prejudicarão diretamente os aposentados e
pensionistas. A primeira delas tem a ver com a proposta de
“desconstitucionalização da Previdência” existente na PEC 06/2019 (o
projeto da reforma enviado ao Congresso).



Pela medida, todas as regras sobre a aposentadoria e a Previdência
Social deixariam de constar na Constituição Federal e as alterações no
regime previdenciário poderão ser feitas por meio de leis
complementares, que são mais fáceis de serem aprovadas no Congresso.



Com isso, seriam retiradas da Constituição as garantias de questões como
a idade mínima de aposentadoria, regra de cálculo e reajuste dos
benefícios, tempo de contribuição, carência e limites dos benefícios.



O governo poderá, por exemplo, acabar mais facilmente com o reajuste
anual das aposentadorias ou desvincular o valor do salário mínimo,
medidas que já declarou estar em seus planos. Ou seja, haverá redução no
valor dos benefícios, que serão ainda mais arrochados.

As mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada) pago a idosos de
baixa renda significarão redução do valor. A partir dos 60 anos serão
pagos míseros R$ 400 e somente aos 70 anos será um salário mínimo (R$
998), valor que é pago atualmente.



Outro ataque aos aposentados é o confisco do FGTS daqueles que continuam
trabalhando. O aposentado que continuou trabalhando por que precisa
complementar a renda (afinal, a maioria ganha até dois salários mínimos)
não terá mais direito ao depósito do FGTS e à multa de 40% quando fizer
a rescisão.

As mudanças nas regras sobre acúmulo de benefícios e pensões por morte
também terão consequências para os trabalhadores aposentados,
principalmente quando forem considerados juntos.



A reforma restringe o acúmulo de benefícios e prevê que o segurado terá
de escolher o de maior valor e, para receber o segundo benefício, haverá
uma redução no pagamento. No caso das pensões, a reforma estabelece que
o valor será de 50% do total que era recebido pelo cônjuge que faleceu
mais 10% por dependente.



No caso de uma aposentada que recebe menos que o marido, isso pode
significar redução no valor da pensão e no da própria aposentadoria.



Se considerarmos, por exemplo, um casal sem filhos em que a mulher ganha
R$ 1.800 e o marido, R$ 4 mil. Caso ele morresse, a pensão não será mais
de 100% como é hoje e seria de apenas 60% de seu salário. A mulher teria
então direito a receber R$ 2.400.



Como as regras pretendem limitar o acúmulo de benefícios, a mulher teria
de escolher o de maior valor, que seria a pensão de R$ 2.400. O
benefício restante, a aposentadoria de R$ 1.800, teria desconto de
acordo com as faixas salariais. Aplicando os percentuais previstos na
reforma, a aposentadoria seria de R$ 1.279,60.





Outra grave ameaça aos aposentados é a proposta de criação do Regime de
Capitalização, pois isso significará a privatização da Previdência e a
falência do sistema atual.



O regime de repartição que rege atualmente a Previdência no Brasil é
social e público. Trabalhadores, governo e empresas participam e a
contribuição de uma geração garante a aposentadoria da outra, numa
garantia de que os trabalhadores ao se aposentarem terão garantido seu
benefício.



No sistema de capitalização, ao contrário, o trabalhador passa a pagar
uma espécie de poupança individual para bancos e fundos de pensão
privados. Nem empresa, nem governos pagam, e não há garantia de
pagamento de um benefício mínimo. O dinheiro do trabalhador passa a ser
utilizado pelos bancos e fundos de pensão para especulação.



Para os trabalhadores que serão obrigados a aderir esse sistema, não
haverá garantia de que receberão benefícios no futuro. Em países onde
foi adotada, a mudança foi um fracasso que resultou em calotes nos
trabalhadores ou aposentadorias miseráveis.



Já para quem já é aposentado correrá o risco de ficar sem receber os
benefícios do INSS no futuro, pois a Previdência por repartição deixará
de receber recursos dos novos trabalhadores. Aí, sim, a Previdência vai
quebrar. Será uma tragédia social de proporções nunca vistas.



É preciso impedir a aprovação dessa reforma da Previdência do governo
Bolsonaro.



Essa é uma luta de todos e todas, trabalhadores da cidade e do campo, da
ativa e aposentados, e da população em geral.



É preciso construir a Greve Geral para pressionar o governo e o
Congresso a arquivarem essa reforma nefasta. Entre nessa luta!

CSP CONLUTAS

http://cspconlutas.org.br/2019/04/atencao-a-reforma-da-previdencia-ameaca-tambem-quem-ja-esta-aposentado/
17/4/2019

terça-feira, 16 de abril de 2019

Assembleia dos “Coletes Amarelos”: «Será necessário sair do capitalismo»



Rémy Herrera

O movimento dos “Coletes Amarelos” em França prossegue a mobilização.
Mas avança igualmente em formas de organização: as assembleias, e as
“Assembleias das assembleias.”
Na segunda, realizada no início de Abril, aprovou um conjunto de
posições e orientações com um claro cunho progressista. Que constituem,
além do mais, um encorajador indício da sua autonomia de decisão, da sua
vontade de avançar, e da sua capacidade de resistir tanto à repressão
como às tentativas de divisão e de manipulação a partir do seu interior.

O “Acto 21″ dos “Coletes Amarelos” ocorreu, como desde há quase cinco
meses, num sábado, 6 de Abril. Mas em paralelo, de 5 a 7, realizou-se em
Saint-Nazaire, Loire-Atlantique, um acontecimento que irá certamente
influenciar as próximas lutas no país: a segunda Assembleia das
assembleias de coletes amarelos. É o ponto central do movimento. A
primeira teve lugar em Meuse, Commercy no final de Janeiro e tinha já
reunido 70 delegações; quase 200 vieram desta vez a Saint-Nazaire, ou
seja, cerca de 800 delegados presentes (dois representantes mais dois
observadores por delegação). E sem contar os voluntários, jornalistas,
curiosos … Estes delegados tinham sido mandatados por cerca de 10 000
coletes amarelos, mobilizados em centenas de locais de luta: rotundas,
praças ou portagens mas também, quando as forças da ordem os
desalojaram, em muitos lugares muito mais excêntricos e menos visíveis
(até mesmo em alojamentos de acaso). Em toda a França, a resistência.

Havia, aparentemente, uma “ameaça contra ordem pública”. Foi este o
pretexto invocado pelo maire de Saint-Nazaire (David Samzun,
“socialista”, como se define ainda) para justificar a sua recusa em
ceder um espaço aos organizadores. Os eleitos das comunas vizinhas
fizeram o mesmo e, finalmente, nenhuma sala foi colocada à sua
disposição. Então os coletes amarelos encontraram-se todos na “sua
Casa”: a “Casa do povo”, antiga agência do Polo Emprego (Pôle Emploi)
que ocupam juntamente com os camaradas sindicalistas desde Novembro
passado. A “requisição cidadã” na pura tradição histórica dos clubes de
sans culottes de 1789, das bolsas de trabalho dos operários do início do
século XX, das fábricas em greve da Frente Popular de 1936. Alguns
trabalhos de arranjo e muita solidariedade permitiram-lhes reunir-se
para se encontrarem, para se darem coragem. Para debater e lutar melhor.
E se organizar.

Essa reunião tinha sido inicialmente agendada para os últimos dias de
Março, mas as dificuldades materiais para fazer face às despesas quando
o mês chega ao fim para a maioria dos participantes - somadas às da
logística - levaram a atrasá-la alguns dias; no início do mês, uma vez
recebido o salário (ou mesada), aqueles que não nadam em ouro respiram
um pouco melhor. Alguns queriam comparecer, mas a afluência obrigou os
organizadores a fechar as inscrições. Outros, mais numerosos ainda, não
puderam vir porque não podiam pagar a viagem. Contar com a generosidade
de amigos, cujos meios são irrisórios. Contar com as suas próprias
forças. Mas em 1864, o primeiro considerando dos estatutos da Associação
Internacional dos Trabalhadores não dizia, “a emancipação da classe
operária deve ser obra dos próprios trabalhadores”? Quando se é colete
amarelo, não se tem medo de lama, da chuva nem dos bolsos vazios.

No decurso dos três dias as discussões foram sérias. Muitas vezes
difíceis, tumultuosas, caóticas …à imagem da mobilização empreendida em
meados de novembro, revelaram a determinação dos coletes amarelos, a sua
oposição resoluta e tenaz a esta sociedade de desigualdades e injustiças
que o Presidente Macron simboliza, a sua condenação unânime da violência
das repressões policiais de que são vítimas, da sua obstinada vontade de
colocar no coração do movimento a democracia directa, de pensar e
reinventar formas autênticas desta última, a partir da base, sem líder
autoproclamado ou chefe recuperado, de encontrar o “equilíbrio entre
espontaneidade e organização”. É o coletivo que vem em primeiro lugar,
na “horizontalidade”. E a manutenção da unidade de um movimento que se
reúne contra os riscos de divisão e fragmentação, que une um povo apesar
de todas as suas diferenças (de percepções políticas, por vezes de
origens sociais), que continua a beneficiar também de uma boa imagem e
um forte apoio na opinião pública, que faz as lutas avançar.

Visíveis na Internet, os debates foram organizados em grupos de trabalho
temáticos: os modos de acção do movimento, a comunicação interna e
externa, a formulação das reivindicações, os pontos de convergência com
os sindicatos e outros colectivos, o futuro da mobilização…Finalmente, a
sessão plenária apresentou as sínteses das discussões das comissões
(preparadas à noite …) e um texto final. Um texto particularmente
lúcido, e radical. Um texto que será submetido mais tarde a votação
pelas várias assembleias locais de coletes amarelos. O que diz este texto?

Coisas essenciais, na realidade. Diz que as reivindicações devem ser
concentradas em aumentos salariais, das pensões de reforma e dos mínimos
sociais, com uma atenção especial para os nove milhões de pessoas que
vivem abaixo do limiar da pobreza Diz que é necessário fortalecer os
serviços públicos para todos. Eis o que é já fundamental.

Este texto diz “não” à violência imposta por uma minoria de
privilegiados contra todo um povo; Diz “sim” à anulação das penas
impostas a presos e condenados do movimento dos coletes amarelos. “As
violências policiais são um acto de intimidação política, procuram
aterroriza-nos para nos impedir de agir. A repressão judicial vem em
seguida para sufocar o movimento. (…) Aquilo que vivemos hoje é o
quotidiano dos bairros populares desde há décadas “.

Diz ainda da sua rejeição da “fraude do Grande Debate nacional” desejado
e manipulado pelo presidente Macron, tal como da sua recusa em
participar nas eleições europeias no próximo mês: “a rua une-nos, as
eleições dividem-nos”. “É na luta que a Europa dos povos será
construída. (…) É através de uma luta coordenada contra os nossos
exploradores comuns que lançaremos as bases de um entendimento fraternal
entre os povos da Europa e de outros lugares “.

E neste 7 de Abril, ao apelo da Assembleia das assembleias dos coletes
amarelos de Saint-Nazaire diz também e sobretudo que “melhorar as nossas
condições de vida, (…) reconstruir os nossos direitos e liberdades, (…)
fazer desaparecer as formas de desigualdades, de injustiças, de
discriminações “, para que finalmente a “solidariedade e a dignidade”
cheguem, será necessário mudar de sistema: “conscientes de que temos de
lutar contra um sistema global, consideramos que será necessário sair do
capitalismo “. E para isso, “colocar o conjunto dos cidadãos em ordem de
batalha contra este sistema”.

Quanto à mensagem dirigida aos ecologistas, é de uma limitação total, e
tão progressista. Irão eles ouvi-la? Será necessário que o façam. Uma
vez a emergência ambiental está aí, torna-se indispensável é a
convergência do combate pela ecologia com as lutas pelo progresso
social. É «a mesma lógica da exploração infinita do capitalismo que
destrói os seres humanos e a vida sobre a Terra. A fim de proteger o
meio ambiente, é necessário mudar um sistema que é prejudicial aos seres
humanos e ao meio ambiente». Isto, para quem tinha dúvidas sobre a
orientação à esquerda do movimento
Não foi fácil fazer emergir tais orientações e formulações. Alguns
acharam-nas prematuras. Outros temem que o movimento se dogmatize, se
doutrine, se endureça demais. É claro que ainda estamos muito longe de
uma saída do sistema capitalista. Mas já é importante saber aquilo que
precisamos de combater. Porque estes coletes amarelos, reunidos na
multidão e no burburinho desta Casa do povo “pela a honra dos
trabalhadores e por um mundo melhor”, compreenderam claramente e
expressaram muito claramente, eles pelo menos, aquilo que mais ninguém
ou quase ninguém no seio das nossas altas lideranças partidárias e
sindicais, entre os nossos artistas comprometidos ou nossos grandes
intelectuais, compreende ou exprime. Sim, para se esperar construir um
“mundo de liberdade, igualdade e fraternidade”, será necessário sair do
capitalismo. Seguramente. Sem isso, nada é possível. É por aqui que
começa qualquer programa de verdadeira alternativa. Porque os coletes
amarelos, levantados contra o insuportável, não se deixarão mais
enganar. O século XXI não será o fim da história; será o começo de uma
nova civilização. Pós-capitalista.

In
O DIÁRIO-INFO
https://www.odiario.info/assembleia-dos-coletes-amarelos-sera-necessario/
16/4/2019

domingo, 14 de abril de 2019





  Sem socorro

Janio de Freitas
Folha de S. Paulo

    Iniciativa para difusão de assistência médica país afora, Mais
    Médicos definha

 
Atos que têm os efeitos de crimes, mas ficam para sempre impunes, são
comuns e nem sequer cobrados aos seus autores —muitos dos prefeitos,
governadores e, sobretudo, presidentes. Essa é uma das falhas que
comprometem a moralidade do regime democrático.

Um dos desatinos de Donald Trump, por exemplo, é a separação de filhos e
pais presos


por entrada ilegal nos Estados Unidos.

Tem causado mortes, transtornos psíquicos e males físicos em crianças
retidas nos abrigos desconhecidos pelos familiares, inclusive em áreas
desérticas, como já descoberto pela imprensa americana. Trump não é e
não se imagina que venha a ser cobrado, da maneira adequada, por tal
ação contra a vida de milhares de crianças



Um ato dessa equivalência criminal está produzindo seus efeitos,
imediatos e vitais, sobre parte da população brasileira. Por motivos
óbvios, o ato não teve a honra da inclusão, pela Presidência, no alegado
cumprimento de promessas para os cem e os sem dias do governo Bolsonaro.


Não se sabe, nem o governo sabe, a quanto soma a grande multidão dos que
têm morrido ou sofrido
porque lhes retiraram os médicos. Sem qualquer medida preventiva, sem
informação sobre as populações atingidas, sem se importar com as
consequências.

A *Folha* já relatou o desamparo médico em que caíram municípios
inteiros, mesmo no rico estado de São Paulo. O recente depoimento da
médica Ananda Conde

a Fabiano Maisonnave, também na *Folha*, é como um grito de desespero.
Em 15 dias na Amazônia, região de Maturacá, fez 190 atendimentos
clínicos, seis partos, exames de pré-natal, atendimentos de emergência
por mordidas de animais, acidentes, violência, alcoolismo.

Mas em dois meses no Mais Médicos, sua aspiração profissional, Ananda
decidiu desligar-se
,
por falta de tudo, inclusive de recebimento do salário. Uma informação
sua, como complemento: “Nos ianomâmi”, que ocupam extensa área, “todos
os 16 médicos eram cubanos, e foram embora”. Retirados por decisão
de Bolsonaro, pelo motivo só de serem cubanos.

Desde o início do programa Mais Médicos

viu-se o que se pressentia: médicos brasileiros, mesmo recém-formados,
não se interessavam por trabalhar no interior, ainda que em cidades ou
regiões aprazíveis. O programa jamais conseguiu preencher a quota de
brasileiros. Dos inscritos para substituir, com melhores condições, os
cubanos devolvidos, 15% nem se apresentaram nos postos designados. De lá
para cá, a substituição nunca se completou e a constante é o abandono.
Ao governo, ou não importa, ou quer que assim seja.

O ato irresponsável e perverso de Bolsonaro foi antecedido por medida
equivalente de Michel Temer. Em seus dois últimos anos no Planalto,
Temer cortou do programa Farmácia Popular
,
de remédios gratuitos e outros com desconto especial, o necessário para
o atendimento a 7 milhões de usuários. Um quarto dos registrados como
dependentes da ajuda para tratar-se.

Quem faça contra uma só pessoa algo caracterizável como privação de
socorro, está incurso no Código Penal e sujeito a pena de prisão.

Governantes movidos pelos motivos mais idiotas e torpes fazem o mesmo
contra milhões. Impunes, sob aplausos originários da imbecilidade e da
baixeza.

Primeira iniciativa verdadeira para difusão de assistência médica país
afora, o Mais Médicos definha. E milhões são outra vez deixados ao
padecimento físico e à morte evitável. A Michel Temer e Jair Bolsonaro
não adianta que lavem as mãos.


In
FOLHA DE S. PAULO
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2019/04/sem-socorro.shtml
14/4/2019

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Motivos da “Década Perdida” foram manipulados pelos militares na ditadura



Rogério Maestri


Parece que está dando um bloqueio mental nos generais que estão
participando no governo atual, pois pelo conhecimento exato das
características do tenente reformado, eles que não deveriam estar com
este bloqueio, porque, como talvez diria um oficial da cavalaria nos
tempos de antanho, montaram no cavalo errado.
No fim da ditadura de 1964, os militares brasileiros conseguiram um
feito obtido por uma negociação hábil por militares que provavelmente já
não estão mais vivos, que nenhuma ditadura que terminava na América
Latina tinha conseguido.
No fim dos governos ditatoriais, a situação econômica estava se
degradando a passos largos e o prestígio das Forças Armadas estava
derretendo. Mesmo assim, conseguiram transferir a bomba econômica para
os civis e com a famosa Lei da Anistia se auto anistiaram de todos os
crimes de tortura e execuções que ocorreram durante a ditadura. Como
resultado, saíram mais ou menos ilesos dos 21 anos, chamuscados e não
queimados pela responsabilidade de terem colocado o Brasil além da crise
moral, numa crise econômica que posteriormente gerou a “Década Perdida”.
O governo militar, para criar o falso “Milagre brasileiro”, gerou um
endividamento internacional imenso para a economia do país na época, a
tal ponto que o último general presidente, o General Figueiredo
(1979-1985), levou o governo federal em 1982 literalmente à falência. A
falência não se consumou, pois no apagar das luzes foi obtido um
empréstimo ponte norte-americano de 1,5 bilhão de dólares (que para a
economia da época era muito), até que fosse possível fechar um acordo
com o FMI (vide reportagem do Globo, intitulada “*O mês que o Brasil
faliu*
<https://oglobo.globo.com/economia/o-mes-em-que-brasil-faliu-5976901>”).
Além da falência das contas internacionais, que foram muito bem
escondidas pelos militares na época, e devido a isto não é lembrada por
imensa parte da população que já era adulta, os governos da ditadura
levaram a pobreza a níveis extremos, provocando uma onda de saques nos
supermercados cariocas no período entre 1983 a 1984 (*vide mapa de
saques no Rio*
<https://atlas.fgv.br/marcos/governo-figueiredo-1979-1985/mapas/saques-supermercados-do-rio-em-1983>).
A conta dos saques no Rio de Janeiro, que foram noticiados na imprensa
da época, ficaram nas costas do governador de oposição, Leonel Brizola.
Entretanto, também ocorreram saques em outros estados, mas ou se
tornaram invisíveis na imprensa ou atribuídos à seca que assolava o
Nordeste. Para acrescentar mais uma indicação do estado da economia,
neste ano a inflação real foi de 164%.
Com toda esta crise, mas como o governo ainda manipulava e controlava a
imprensa, os motivos eram noticiados como algo que vinha do exterior, a
crise do petróleo, a crise num país distante qualquer, e nunca o produto
de um endividamento externo irresponsável que fora feito para a criação
do “Milagre econômico”.
O estrago foi tão grande que gerou além das maiores concentrações de
renda, também o aumento da fome e da miséria no Brasil, que deixou uma
economia arrasada. Os problemas que foram gerados na ditadura nos
próximos dez anos criaram a “Década Perdida”, levando os seguintes
governos civis que sucederam a ditadura a improvisar os mais absurdos e
irreais planos de estabilização que não deram certos, como o plano
Cruzado, o plano Collor, sem falar os que não tiveram nomes notáveis.
Este último plano chegou a congelar todos os depósitos bancários e
investimentos, deixando literalmente todos sem nenhum dinheiro na
carteira e levando o país ao maior surto de falências de sua história.
Apesar de toda esta desgraceira, os militares conseguiram sair ainda com
uma pequena credibilidade, que foi aumentando a medida que o tempo
passava e o produto das suas besteiras econômicas criava fantasmas ainda
maiores do que na época que tinham o poder. Ou seja, eles conseguiram
transferir a florescente plantação de abacaxis a Sarnei, Itamar e FHC, e
estes tentavam com a habitual inabilidade e sempre resguardando os
interesses dos mais ricos, manobrar como podiam. Os militares, que neste
momento não se metiam em política, criaram uma espécie de mito de
eficiência, produto principalmente de uma censura e propaganda intensiva
durante os governos militares. A encenação toda foi tão bem feita que
chegou a criar um grupo de alucinados, os intervencionistas ou
“patriotas”, que há pouco tempo pediam intervenção militar.
Produto desta década desastrosa, onde a inflação chegou a atingir 80% ao
dia, e um saudosismo sem cabimento, uma espécie de névoa baixou sobre a
história do Brasil. Com a ajuda da imprensa, foi criado uma mística tão
grande sobre as “alegrias” do período militar, tornando-a uma alegria
contagiante.
A falta de cabimento desta alegria e saudosismo do passado da ditadura
pode ser facilmente desmontada se qualquer um que entenda de economia
verifique os números do período 64 em diante. Mas baseado na
falsificação e releitura dos fatos a visão distorcida do passado tão bem
feita pelos militares, que os mesmos, tanto os mais jovens pela não
vivência da época, como pelos mais velhos, pela demência senil,
começaram acreditar nas mentiras sobre o passado.
Iludidos pela falsidade sobre os resultados do golpe de 1964, e talvez
alguns animados pelos mentecaptos que pediam intervenção militar (as
vivandeiras de quarteis), os militares saíram do conforto da caserna ou
do descanso dos reformados no clube militar e embarcaram no governo
Bolsonaro.
Se estes militares tivessem lido com atenção o que os seus antecessores
escreveram sobre o Tenente, quando por pouco não foi expulso do
Exército, não se achariam os reis da cocada preta que conseguiriam
manobrar alguém que foi punido exatamente por insubmissão.
Tendo embarcado na nau dos insensatos, os generais embarcaram num
governo que afunda não só em popularidade, como na economia, sendo que
as perspectivas internacionais, totalmente diferentes na época do
“milagre econômico”, são sombrias.
A pequena recuperação econômica obtida por Trump nos EUA através de uma
diminuição de impostos está chegando ao fim, a Europa não decola, o
Japão muito menos, a China que era a locomotiva das últimas décadas
desacelera e com isto tudo as previsões de crescimento da economia
mundial são praticamente nulas. Ou seja, a mesma farra do boi, criada
pelo excesso de crédito internacional barato que houve no período da
ditadura militar não vai se reproduzir, e a situação da economia
internacional está entre a manutenção da atual crise ou um
aprofundamento ainda mais vigoroso da mesma.
O cenário externo é catastrófico, e para piorar as políticas liberais
propostas pelo atual governo e já postas em marcha pelo ex-presidente
Temer, diminuirão o consumo interno e, por consequência, a economia
interna, que somando ao cenário externo cria condições para o que se
chama de uma Tempestade Perfeita.
Soma-se a todo este painel a possibilidade de insolvência de diversos
estados da Federação, com coisas nada agradáveis como faltar dinheiro
para pagar os funcionários públicos civis e militares. Alguns
governadores pensam em fazer algumas privatizações, porém na pindaíba
interna e externa, os resultados destas privatizações só vão aliviar o
caixa por, no máximo, um ano ou ano e meio.
Agora pergunto: Por que as forças armadas que estavam tranquilas no seu
canto, se jogaram de novo no meio da política num cenário em que é
impossível repetir algo que se assemelhe ao “milagre econômico”? O que
vão ganhar fazendo parte de um governo desastroso como nunca foi visto
nas últimas décadas, e um governo que está colando na testa de cada
general a responsabilidade pelo o desastre atual e o pior que se avizinha?
Mesmo que o atual presidente renuncie ou sofra um impedimento, ou ainda
um acidente mortal, que resultaria na colocação no seu lugar de um
general bombeiro, que para apagar um incêndio florestal, vai dispor de
um extintor de 2 kg. Lembro a todos, cassetetes, prisões e torturas
diminuem as vozes da esquerda, mas não resolvem situações econômicas.

In
JORNAL GGN
https://jornalggn.com.br/historia/as-forcas-armadas-pagarao-extremamente-caro-pela-participacao-no-governo-bolsonaro/
11/4/2019

terça-feira, 9 de abril de 2019

O enorme poder político e mediático do sector bancário em Espanha



Vicenç Navarro


Este artigo fala do poder do capital bancário em Espanha. Terá
certamente particularidades. Mas o que refere pode, com mais ou menos
diferenças secundárias, encontrar-se em muitos outros países. E o que
têm em comum chama-se capitalismo monopolista de Estado.

O sector bancário em Espanha tem um enorme poder político e mediático
que limita de forma muito marcante o desenvolvimento democrático do
país. Um indicador da excessiva influência que exerce sobre o Estado
espanhol é o seu tamanho desproporcionado, sendo o sector bancário
espanhol um dos maiores (em termos proporcionais) dos existentes na
União Europeia, com um enorme predomínio da banca privada e um
escassíssimo desenvolvimento da banca pública. A Espanha é um dos
países, não só da UE mas também da OCDE (o clube dos países mais ricos
do mundo), onde a banca pública está menos desenvolvida.

Outro indicador da influência política e mediática da banca é que o
órgão estatal que deveria regulá-la, o Banco da Espanha, é, na
realidade, um grande lobby da banca privada. Isso transforma essa
instituição em uma das principais promotoras de políticas públicas
neoliberais, isto é, das reformas laborais que deterioraram sobremaneira
a qualidade do mercado de trabalho espanhol, e dos cortes na despesa
social pública que prejudicaram enormemente o bem-estar da população em
geral, e o das classes populares em particular.

*O Banco da Espanha promove políticas públicas que estão a prejudicar as
classes populares*

A sua mais recente manobra segundo o projecto neoliberal não só foi
opor-se ao necessário aumento do salário mínimo (SMI), mas também ao
aumento dos salários, cuja redução forçou as famílias espanholas a
endividar-se muito (optimizando, assim , os lucros bancários baseados na
expansão do referido endividamento). Esta queda nos salários, além da
dívida, teve um impacto muito negativo sobre a procura doméstica, motor
fundamental do crescimento económico, o que explica por que os
investimentos bancários se vêm desviando para actividades especulativas
(como no sector imobiliário) que geraram mais lucros do que os
investimentos nos sectores da economia produtiva (onde são produzidos
bens e serviços). Assim, a combinação dessa queda nos investimentos com
a redução da procura doméstica teve um efeito extremamente negativo
sobre a referida economia produtiva. Foram precisamente esses
investimentos especulativos (como a maioria dos investimentos
imobiliários) que criaram as bolhas, cuja explosão levou à enorme crise
financeira, resolvida com base em subsídios públicos à banca (que,
segundo um balanço do Banco de Espanha publicado em Novembro de 2018,
foram de cerca de 55.000 milhões de euros), dos quais 42.000 se
calculava já então que não seriam devolvidos ao erário público. O
comportamento do sector bancário é o principal responsável pela crise
financeira que chegou a expulsar do mercado de trabalho 3,6 milhões de
pessoas na Espanha.
*
A banca recebe um tratamento preferencial por parte do Estado*

Outra das consequências da excessiva influência política da banca foi o
tratamento preferencial que recebe por parte do Estado. Para além do
enorme subsídio que acabei de mencionar (o mais elevado da UE), tem um
tratamento fiscal especial, uma vez que é um dos sectores com maiores
lucros e com a menor carga fiscal dentro da UE. E quando o governo
espanhol propôs um imposto para recuperar parte do dinheiro que a banca
recebia do Estado, a resposta desta foi opor uma grande resistência,
mobilizando os sectores do Estado, historicamente próximos dela, como o
corpo judicial, para deter e impedir a aplicação de tal imposto. Esta
proposta, que tinha sido sugerida na altura pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI), foi definida como “extremista” por porta-vozes do
sector bancário, que atribuíram tal proposta à influência do Podemos,
também definido como “extremista”, “populista “,”desastroso para o país”
e mais uma longa série de insultos. Os media que transmitiram tais
insultos não informaram que esse imposto havia sido aplicado
(inclusivamente em níveis mais altos) por parte de muitos países da UE,
incluindo o governo conservador britânico. Como resultado de tal
oposição, o governo de Sánchez, que tinha sido a favor de tal imposto,
finalmente distanciou-se dele.
*
A grande influência mediática da banca*

A banca exerce uma grande influência sobre os partidos políticos e os
meios de comunicação, configurando o quadro dentro do qual o debate
político ocorre. Daí o grande domínio do pensamento neoliberal na vida
política e mediática do país. Todos os partidos políticos (excepto
Podemos) pediram empréstimos à banca e todos eles (excepto Podemos e
ERC) estão endividados, como também o estão todos os principais meios de
comunicação. E é por detrás desse endividamento que a banca exerce a sua
grande influência. Uma consequência disso é a escassíssima liberdade de
imprensa e a falta de pluralidade mediática nos meios de comunicação
(seja na rádio, imprensa ou televisão) neste país. A discriminação
contra partidos ou autores de pensamento crítico atinge níveis
desconhecidos nos países da UE. Hoje quase não há media de esquerda em
Espanha, e há milhares de casos que o atestam.

A dificuldade das vozes críticas do establishment político mediático do
país para aceder aos media
Conheço bem essa situação, porque me atinge. Um caso em que fui vítima
de tal discriminação (entre muitos outros) é o recentemente citado por
Alberto Garzón num excelente twit em que desenvolveu as conexões entre o
Banco Santander, o sector judiciário, o diário El Pais, a sua editora e
um livro que ia ser publicado por essa editora, escrito por Juan Torres,
o mesmo Alberto Garzón e eu, em que criticávamos o argumento neoliberal
utilizado pelo governo Zapatero, e mais tarde pelo governo Rajoy para
justificar a imposição de políticas neoliberais (reforma laboral e
cortes), argumentando que não havia alternativas àquelas que eles
aplicaram. O livro mostrava, com números e dados, que havia. Apesar de
ter assinado um contrato para publicar o livro (e quando estava prestes
a sair), a editora decidiu rescindi-lo, como resultado de que os autores
não quisemos fazer as alterações de última hora pedidas pela editora,
alterações que tinham o objectivo de eliminar críticas (documentadas) ao
sector bancário em geral e ao Banco Santander em particular (que havia
sido um dos promotores da ortodoxia neoliberal). Ao recusar-nos a
fazê-lo, a editora do El País, em resposta às pressões do Banco
Santander, decidiu não publicar o livro, tendo nós que procurar
rapidamente outra editora, com menor capacidade de distribuição. No
entanto, o livro foi um grande êxito editorial, com dez edições em
apenas dois anos, tornando-se o livro de referência do 15M. A
mobilização popular conseguiu o que a banca tentara vetar. Não há dúvida
de que há autores vetados, e lamento ser um deles. Não verão artigos
meus em nenhum dos principais jornais. E não creio que isso se deva a
não ter méritos académicos ou intelectuais para aparecer neles.

*Um exemplo entre outros: o Banco de Santander*

Este banco tem à sua disposição muitos políticos e jornalistas que
contribuem, estes últimos, para promover as políticas públicas
realizadas e impostas pelos primeiros. Tal banco tem tido uma relação
muito privilegiada com os governos do PSOE, e como Alberto Garzón
assinala no seu tweet, muito especialmente com a vice-presidente
Fernandez de la Vega (que telefonou a um dirigente desse banco para
tranquilizar o sr. Botín em relação às investigações que estavam sendo
realizadas, em resultado da venda de produtos financeiros para evitar o
pagamento de 2.600 milhões de euros em impostos). Essa prática havia
sido detectada no decorrer de outra investigação iniciada após uma
denúncia do empresário especulador Ruiz-Mateos. Mas nada aconteceu. A
sua influência abrange também o mundo universitário, exercendo um grande
poder na configuração da evolução e promoção do pensamento econômico
dominante. A grande maioria das revistas “científicas” na área econômica
é financiada pela grande banca de Espanha.

E todos os grandes grupos de media estão endividados. Quatro grupos de
comunicação, que controlam 94% do share do mercado de televisão
(Corporação de Rádio e Televisão Espanhola -CRTVE-, Mediaset, Atresmedia
e Corporació Catalana de Mitjans Audiovisuals -CCMA-) estão endividados.
O mesmo acontece, por sua vez, na rádio, em que quatro cadeias controlam
97% da quota de mercado de rádio (COPE, Onda Cero Rac1 e Cadena SER),
todas elas endividadas. E o mesmo acontece com os cinco principais
jornais (El País, El Mundo, La Vanguardia, ABC e El Periódico), todos
eles endividados. Daí a enorme capacidade de mobilização ideológica da
banca, porque cada um desses meios está consciente de que precisa dos
bancos para sua própria sobrevivência. E aí está o problema. A
democracia no nosso país exige que esse vínculo seja quebrado.

/Fonte:
https://blogs.publico.es/vicenc-navarro/2019/04/03/el-enorme-poder-politico-y-mediatico-de-la-banca-en-espana//

*Gostaste do que leste?*

In
O Diário.info
https://www.odiario.info/o-enorme-poder-politico-e-mediatico/
9/4/2019