segunda-feira, 27 de junho de 2022

Soros participa no Fórum globalista de Davos e deixa uma mensagem perturbadora sobre o futuro da civilização

 



    Soros participa no Fórum globalista de Davos e deixa uma mensagem
    perturbadora sobre o futuro da civilização
    <https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/soros-participa-no-forum-globalista-de-203278>



Carlos Esteban

 

    /Catastrofista? Não necessariamente. Para Yuval Harari, o 'filósofo'
    não oficial do fórum, pode ser uma solução. Harari não se cansa, com
    uma frieza de gelar o sangue, de discursar sobre essa enorme massa
    de humanos “inúteis” que constituem um peso morto para o planeta,
    ainda mais agora que a mecanização e a inteligência artificial os
    tornaram supérfluos para a produção./

 



Assim não há maneira de ser conspiranóico. Quando os poderosos deste
mundo se encontram numa pitoresca —e altamente vigiada— aldeia suíça e
dão entrevistas coletivas contínuas para nos dizer em *detalhes
horripilantes o que vão fazer conosco*, ou seja, com a plebe do planeta
que ainda compartilhamos, para seu desgosto, com essa elite, não se pode
continuar a entreter a ideia de uma cabala secreta que comanda o mundo
nas nossas costas.


Bem-vindos à reunião do Fórum Económico Mundial, convocado para Davos
mais um ano e mais e prepotente do que nunca, com aquele Dr. No de um
filme da Série B que é o seu fundador, *Klaus Schwab*.

Não sei se todos lá estão, mas é claro que todos os que lá estão são.
Como a nossa inefável salsa de todos os molhos, o octogenário financista
internacional George Soros, que  na sua primeira aparição pessoal em
Davos desde que chamou a Trump   "vigarista, narcisista" e, alegando que
Mark Zuckerberg estava a conspirar para que ele fosse reeleito, atacou
outra vez a China (que desta vez enviou funcionários de segunda
categoria ao fórum) e, claro, contra o mau funcionário destes dias, a
Rússia de *Vladimir Putin*.

Ele estava a transbordar de otimismo, como o nonagenário Henry
Kissinger, outra estrela idosa desta edição, que alertou que a guerra na
Ucrânia poderia degenerar numa guerra mundial a qualquer momento. No seu
discurso, Soros lamentou que "as questões que dizem respeito a toda a
humanidade (combater pandemias e mudanças climáticas, evitar a guerra
nuclear, manter as instituições globais) tiveram de ficar em segundo
plano nessa luta", acrescentando: "*É por isso que digo que nossa
civilização pode não sobreviver*."

Catastrofista? Não necessariamente. Para Yuval Harari, o 'filósofo' não
oficial do fórum, pode ser uma solução. Harari não se cansa, com uma
frieza de gelar o sangue, de discursar sobre essa enorme massa de
humanos “inúteis” que constituem um peso morto para o planeta, ainda
mais agora que a mecanização e a inteligência artificial os tornaram
supérfluos para a produção.

 

*Uma boa guerra atómica poderia ajudar a aliviar o problema*, e não é
como se algum "deles", em todo o caso, sofresse as consequências: como
ele mesmo disse publicamente com uma sinceridade desarmante, "se o pior
acontecer e o 'dilúvio' se der, os cientistas construirão uma *Arca de
Noé para as elites*, deixando o resto afogar-se ." «Os outros», caso não
se entenda, somos nós, os que nunca vão receber um convite para ir a Davos.

Harari não tem a certeza, observando que a grande questão do nosso tempo
é o que fazer "com todas essas pessoas inúteis". «O problema é o tédio,
porque lhes falta valor. Eu apostaria numa combinação de drogas e jogos
de computador». Que alívio.

Enquanto decidem o que fazer connosco, o gado humano, o que eles deixam
claro é que temos de ser *postos em estábulos e controlados de perto*. E
a pandemia de coronavírus veio a calhar para alcançá-lo. Continuamos com
Harari: «O Covid tem sido fundamental, porque é o que convence as
pessoas a aceitar e legitimar a supervisão biométrica total. Não temos
apenas de controlar as pessoas, temos de controlar o que se passa sob
sua pele."

Claro, o que os nossos amos de forquilha e faca em Davos estão a fazer é
dizer-nos através de um megafone que a democracia liberal tem sido uma
experiência curiosa e interessante, mas que temos de aceitar o facto de
que acabou. Com tudo o que isso implica, como a liberdade de expressão,
essa antiguidade. É a tese que a comissária de segurança cibernética
australiana, *Julie Inman*, expôs abertamente no fórum. Sendo uma
política com um eleitorado a que tem de se responder mais ou menos, ela
foi um pouco menos direta do que Harari, mas tudo ficou entendido:
«Encontramo-nos numa situação onde há cada vez mais polarização, em que
tudo se apresenta como binário sem necessidade,  por isso acho que
teremos de repensar e recalibrar toda uma série de direitos humanos que
se manifestam /online/… como a liberdade de expressão.”

Poderíamos descartar todo esse programa macabro como a tagarelice vazia
de milionários com delírios de grandeza, se não fosse o facto de os
governantes de meio mundo se esbofetearem pora aparecerem em Davos e
aparentemente aplicarem as suas receitas com assustadora unanimidade.
Claro, o fundador e diretor da invenção, Klaus Schwab, acredita
absolutamente que está a ditar o futuro da humanidade e não hesita em
anunciá-lo, pelo contrário. "O futuro não acontece simplesmente. O
futuro é construído por nós, uma comunidade poderosa como nós aqui nesta
sala”, disse ele no discurso de abertura. Isso é bom.

Em
PELO SOCIALISMO
https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/soros-participa-no-forum-globalista-de-203278
27/6/2022

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Madrid: la OTAN se hace global

 

 
23 junio, 2022

*/«En la Cumbre de Madrid se va a concretar un plan desesperado para
revertir el retroceso mundial occidental-otanero a cualquier precio/…»*

Andrés Piqueras*, profesor de la Universidad Jaume I y miembro de la
“Assemblea Valenciana OTAN NO, BASES FORA

La crisis civilizatoria del capital entrañada cada vez más en su ciclo
insalvable de sobreproducción, sobreendeudamiento, capital ficticio,
dinero inventado, caída del valor e incluso irrupción del valor negativo
vinculado a la extenuación de la fuerza de trabajo y al fin de la
naturaleza barata (agotamiento de los recursos básicos, saturación de
sumideros, pérdida de fertilidad, estrés climático, plagas resistentes,
pandemias…), conduce al sistema aceleradamente a la guerra social a
escala intraestatal y a una suerte de /turbo-imperialismo/ en la
interestatal. Con ello se abren paso de forma contundente las políticas
de la muerte y la geoestrategia del caos.

Eso quiere decir también que el hegemón planetario, al mando del Sistema
Mundial capitalista, da un giro de tuerca más hacia la /guerra total/.
Una guerra que es a la vez híbrida, económica, mediática,
político-diplomática, cognitiva, cibernética y espacial, y donde la
Falsedad sistemática y sistémica se convierte en arma estratégica de
primer rango.

Desde la caída de la URSS, EE.UU., al sentirse única potencia mundial,
viene pergeñando distintos documentos en los que ha ido diseñando su
estrategia global. Así por ejemplo, la Doctrina de la “Dominación
Permanente”, en la que contemplaba la reestructuración del dominio
mundial estadounidense, la adaptación a un nuevo tipo de guerra o un
nuevo /America Way of War/.

También, en el que se conoció como “Plan Rumsfeld-Cebrowski” (salido de
la al parecer recién creada /Oficina para la Transformación de la
Fuerza//)/, en el que se concebía la reestructuración total del “Medio
Oriente Ampliado” (toda la región de Asia Occidental y África
Nororiental). Una vez que comenzó a identificar a China como enemigo a
batir, cobraría existencia la Doctrina del “Pivote asiático” y el
Documento “Ventaja en el mar”, que apuntan a rodear al gigante asiático
mediante un despliegue de instalaciones militares y medios de combate
para impedir y/o limitar el abastecimiento energético de China por vía
marítima.

Con el tiempo el hegemón norteamericano y su adlátere inglés (en
adelante designado como el Eje Anglosajón) han ido sacando punta a sus
objetivos y haciendo más perentorias y desesperadas sus intervenciones,
hasta el punto de considerar prioritario destruir la Ruta de la Seda,
anular a China, deshacer Rusia, reestructurar toda Asia, reapropiarse de
África y acabar con la contestación en Nuestramérica. Además de todo
ello albergan como objetivo ineludible subordinar a Europa, haciendo
menguar drásticamente la importancia económica de la UE.

El Foro Económico Mundial, organización de la que se dice que funciona
como “politburó del capitalismo”, más la plutocracia global (BlackRock,
Vanguard, Rand Corporation, State Street Corporation, Fidelity
Management and Research, Geode Capital Management, Northern Trust
Corporation…), están detrás del Imperio USA en todo ello, dirigiendo y
coadyuvando a la reestructuración del mayor Ejército de la historia del
mundo y de su principal entramado global de subordinación militar, la
OTAN, en una intensificación de la militarización de las relaciones
internacionales que conoce pocos precedentes.

Y esa reestructuración se les antoja necesaria porque el Eje Anglosajón
y la OTAN vienen de importantes fracasos al menos en 5 Grandes Áreas
Estratégicas:

1/   Centro Asia.   

 1. El 15 de agosto de 2021, con la derrota en Afganistán, esa
    entelequia que se denomina a sí misma “Occidente” (Eje Anglosajón
    más OTAN), sufre uno de sus mayores descalabros político-militares.
    Hay un antes y un después de esa fecha para los países que se
    atribuyen a sí mismos la calificación de “comunidad internacional”.

  * Pero hay más. EE.UU. y su “Occidente” subordinado (entre el que hay
    incluir aquí muy especialmente al Estado terrorista de Israel -hoy a
    las puertas de un enfrentamiento civil-) tampoco han podido con
    Irán, por más asedios, boicots, sanciones y hostigamientos que le
    han hecho. La formación socioestatal iraní no sólo ha salido airosa
    hasta el presente (aunque no sin padecimiento), sino que ha cobrado
    un protagonismo creciente en Asia centro-occidental y ahora mismo
    forma eje de fuerza con China y Rusia.

2/    Asia occidental (o “Medio Oriente Ampliado”)

Según el Plan Rumsfeld-Cebrowski el mundo quedaba dividido en dos
sectores, el de las “economías globalizadas”, incluyendo Rusia y China,
que estaban llamadas a ser mercados estables, y el de todos los demás
países, donde habría que destruir las estructuras e instituciones que
sostienen los Estados, de manera que se hundieran en el caos, como
/no-sociedades/, de cara a garantizar a la plutocracia global (Grandes
fondos de inversión, conglomerados y transnacionales gigantes) la
explotación de las riquezas del mundo sin encontrar resistencia. Todo
esto sería más tarde desarrollado en el documento del Pentágono que se
conoció como /Teoría del Caos constructivo/.

Pero hete aquí que Siria, Palestina y Líbano han resistido. Incluso se
alza la contestación en Irak y ni siquiera han podido aplastar a Yemen
(incluyéndose en este orden de fracasos el comienzo de la desalineación
occidentalista de la Península Arábiga y sus regímenes feudales).

3/ China    

EE.UU. ha intentando por todos los medios sabotear el proyecto chino
encaminado a la vinculación comercial, económica, diplomática e
infraestructural de gran parte del mundo, bajo la denominación de “Un
Cinturón. Una Ruta”. La destrucción de países como Afganistán, Irak,
Siria, Yemen, Somalia, Sudan, Libia… tiene por objetivo destruir esa red
de beneficio mutuo, ese tejido conectivo mundial, mediante la ruina, la
barbarie social y la consecución de sociedades en disolución o
/no-sociedades/ (lo que ellos llaman también “Estados fallidos” o
Estados carentes de la capacidad de manejar sus recursos).

Pero China, aunque con enormes obstáculos, no sólo no ha cejado en su
intento, sino que responde a las agresiones estadounidenses (entre las
que se encuentra la propia guerra económica y política contra ella) con
un BRICS ampliado (donde es de suma importancia la creciente
independencia de India respecto del “Occidente otanero” -a pesar de la
deriva fundamentalista reaccionaria de su cúpula dirigente-, y la
participación de nuevas grandes economías de África y América), con una
ininterrumpida penetración en África y también en toda la subregión
americana. Incluso con una Ruta de la Seda del Ártico. China, hoy ya
realmente la primera potencia económica mundial, sigue dando pasos
firmes en la construcción de un nuevo mundo no-imperialista.

4/ Nuestramérica.                 

La región se rebela contra su categorización de zona reservada de USA.

La dominación despótica de EE.UU. en el continente americano se ve
desafiada por la heroica supervivencia de Cuba y Venezuela (que han
aguantado lo indecible en el capítulo de agresiones, el primero de esos
países desde hace 60 años). Incluso por la de Bolivia. También por el
nuevo despunte de Nicaragua y las irrupciones contestatarias de México y
Honduras (así como de diferentes Estados-Islas del Caribe).

Queda por ver todavía el posicionamiento geoestratégico a medio plazo
del izquierdismo integrado (“neodesarrollista” le llamaban, hoy todavía
sumiso al Imperio), que se extiende por países donde la derecha y los
poderes fácticos han perdido toda legitimidad: Perú, Chile, Colombia,
Brasil (a los que quizás se una de nuevo Ecuador bien pronto).

Habrá que resolver algún día si Argentina es capaz de ir más allá de ese
“izquierdismo” dócil, pero de momento, como se ha dicho en diferentes
medios, la subregión parece avanzar hacia modelos de regionalismo
post-hegemónicos, a raíz de la crisis sistémica del neo-monroísmo y del
eurocentrismo, así como por la incursión económica china que las
formaciones sociales americanas (incluso con regímenes claramente
reaccionarios) no pueden ignorar (aun con el peligro de re-primarización
de sus economías, que habrán de saber conjugar).

5/ Las Repúblicas populares del Donbass    

Constituían el elemento fuerte para la guerra proxy de EE.UU. contra
Rusia. Sin embargo, esas repúblicas no sólo han resistido sino que se
han independizado de una Ucrania convertida en suicida peón de la OTAN,
y hoy, con la ayuda de Rusia, están venciendo al nazismo ucraniano.

A todos estos retrocesos del Eje Anglosajón-OTAN hay que sumar sus
fracasos en los últimos golpes de Estado o intentos de promover
“revoluciones de colores”, como en Bielorrusia y Kazajistán, amén de que
Rusia ha frenado la desestabilización bélica en Azerbayán y Georgia.

Si nos damos cuenta, en bastantes de esas victorias contra el Eje
Anglosajón-OTAN tenemos a Rusia o a China detrás, o a ambas a la vez,
aunque la potencia oriental ocupando siempre un papel mucho menos
perceptible.

Por eso en la Cumbre de Madrid se va a concretar un plan desesperado
para revertir el retroceso mundial occidental-otanero a cualquier
precio. Con al menos los siguientes objetivos:

I. Globalizar la OTAN. En donde China pasa a ser un nuevo “concepto
estratégico”, es decir, en lenguaje llano, el enemigo prioritario a
batir (no otro es el objetivo final del actual acoso a Rusia). Muy
probablemente se abra en breve un nuevo frente de guerra activa (la
guerra latente ya está presente) en torno al Pacífico, y en concreto en
Taiwán, llamada por “Occidente” a desempeñar allí el papel de Ucrania en
Europa.

Pero al mismo tiempo se contempla incluso una OTAN restringida frente a
Rusia (según ha manifestado la propia Julianne Smith, la representante
permanente de EE.UU. para la OTAN), en caso de que algunos de los
subordinados europeos no terminen de convencerse del enfrentamiento
total con el gigante eslavo (hace tiempo que el Eje Anglosajón lleva
preparando la sustitución de una cada vez más moribunda UE, y de momento
puede querer hacerlo a través de su brazo militar). Esa “mini-OTAN”
incluiría sólo a los más decididos, los más guerreristas: USA-Gran
Bretaña-Países Bálticos-Polonia y probablemente, si se deja, Turquía por
su posición estratégica.

II. Reforzar la estructura de mando y multiplicar el gasto militar,
intentando hacer de la industria militar un motor de las economías
otaneras. Todo bajo el paraguas de unos Estados más y más militarizados.

III. Terminar de conseguir la “puertorriquización de Europa”, esto es,
convertirla en una colonia sin relevancia política y en abierta
decadencia económica. Prácticamente, con las sanciones a Rusia, EE.UU.
está pidiendo a Europa que se corte las venas. Alemania, por ejemplo,
sin la energía rusa, dejará de ser una potencia económica en pocos años
(veremos hasta dónde la subordinación colonial europea es capaz de
resistir los terremotos sociales y políticos de resultas de los
padecimientos y deterioro de vida que aquélla acarrea a sus
poblaciones).                      

IV. Preparar a la UE para una contienda nuclear en su territorio

Se precisa que las ciudadanías europeas acepten las políticas de muerte
y la geoestrategia del caos de sus dirigencias tanto al interior como al
exterior de los Estados. Para ello se busca y consigue la colaboración
por activa o pasiva de las izquierdas integradas del sistema, las post y
las neo-socialdemócratas, reformistas o pseudorreformistas de distinto
pelaje, entre las que se encuentran ya la mayor parte de los partidos
comunistas. Aun a pesar de la acelerada renazificación de Europa que
todo ello significa.

Además de a la «guerra por delegación», poco a poco se prepara a las
poblaciones europeas a la probabilidad de un enfrentamiento nuclear en
el continente, bajo la falsa narrativa de que será controlado, “táctico”.

V. Coordinar un flanco sur en la /guerra total /de la OTAN.

La OTAN está abriendo un nuevo frente en el Sahel, que pretende el
control de la región: Mali, Mauritania, Burkina Faso, Senegal, Níger,
Nigeria… con algunos países convertidos ya en objetivos militares. Entre
ellos, por supuesto, Argelia, a la que se busca desestabilizar y quizás
a medio plazo aniquilar como se hizo con Libia.

USA invade de nuevo el Cuerno de África (mirando a Chad y Sudán) para
cortar el avance chino y ruso en el área… Será importante ver qué pasos
toma Egipto, un país varias veces desestabilizado y hoy convertido en
una “dictadura amiga” pero al tiempo poco fiable. También Túnez está en
el punto de mira en ese sentido.

Aquí el Reino de España se convierte en objetivo militar de primera
línea al ser el único país europeo-africano, y tras haber sacrificado su
ya de por sí su servil política exterior a las órdenes de la OTAN
(traicionando aún más al pueblo saharaui), en su aproximación a
Marruecos, régimen brutal devenido brazo armado otanero en el norte de
África.

Ante todas estas consideraciones, sintetizamos tres conclusiones
parciales pero ineludibles para el debate:

 1. Es importante para las izquierdas alter-sistémicas no fallar en el
    posicionamiento geoestratégico, geo-económico y geo-ecológico
    respecto a los procesos en curso en el Sistema Mundial capitalista.  

  *  Las luchas de clase pasan hoy cada vez más decisivamente por las
    luchas anti-imperialistas.

  * Ningún avance social será posible en adelante sin frenar al
    /turbo-imperialismo/ o imperialismo acentuado y acelerado que
    encarna hoy el Eje Anglosajón y su instrumento privilegiado de
    guerra y caos mundial que es la OTAN.

Andrés Piqueras

*Sociólogo; Miembro de la Academia de Pensamiento Crítico y del
Observatorio Internacional de la Crisis.

Em
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2022/06/23/madrid-la-otan-se-hace-global/
23/6/2022

quarta-feira, 22 de junho de 2022

La tercera guerra mundial ha sido organizada en Davos

 


 


*/Subyugar a Rusia y China es un problema existencial para nuestros
dueños porque cuando se aplique la doctrina de la “destrucción creativa”
en la economía occidental, todo lo demás también debe caer. Si la
economía occidental cae y un gran bloque económico del Este no participa
en la caída, será un desastre para Occidente./*

GAIUS BALTAR, ESCRITOR ALEMÁN

Algunas personas informadas, incluido el Papa, aparentemente, están
comenzando a sospechar que puede haber más cosas en el mundo que la
guerra en Ucrania. Dicen que la 3ª Guerra Mundial ya ha comenzado y que
las cosas empeorarán a partir de ahora. Esto puede ser difícil de
determinar mientras participamos en los eventos que se desarrollan y no
tenemos el beneficio de la perspectiva histórica. Es dudoso que la gente
en 1939 se diera cuenta de que estaban viendo el comienzo de un gran
conflicto mundial, aunque algunos pueden haberlo sospechado.

La situación global actual es, en muchos sentidos, como un rompecabezas
gigante donde el público en general solo ve una pequeña parte de la
imagen completa. La mayoría ni siquiera se da cuenta de que puede haber
más piezas y ni siquiera se hace estas sencillas preguntas: ¿Por qué
está pasando todo esto y por qué está pasando ahora?

Las cosas son más complicadas de lo que la mayoría de la gente cree. Lo
que ven es al malvado mago Vladimir “Saruman” Putin invadiendo la
inocente Ucrania con su ejército de orcos, sin ningún motivo en
absoluto. Esta es una visión simplista, por decir lo menos porque nada
sucede sin una razón. Pongamos las cosas en perspectiva y veamos qué
está pasando realmente y por qué el mundo se está volviendo loco ante
nuestros ojos. Veamos de qué se trata la Tercera Guerra Mundial.

*La olla a presión*

Occidente (que podemos definir aquí como EEUU, la UE y algunos más)
mantiene la presión sobre el mundo entero desde hace décadas. Esto no
solo se aplica a los países fuera de Occidente, sino también a los
países occidentales que se desviaron de los dictados de los gobernantes
de Occidente. Esta presión ha sido ampliamente discutida y atribuida a
todo tipo de motivos, incluido el neocolonialismo, la hegemonía
financiera forzada, etc. Lo interesante, particularmente durante los
últimos 20 años, es qué países han sido presionados y qué no tienen en
común.

Entre los países presionados encontramos a Rusia, China, Cuba,
Venezuela, Libia, Siria, Serbia, Tailandia e Irán por mencionar algunos.
También ha habido adiciones recientes, incluidas India y Hungría. Para
entender por qué han sido presionados, necesitamos averiguar qué tienen
en común. Eso no es fácil ya que son extremadamente diferentes en la
mayoría de los aspectos.

Hay democracias y no democracias, gobiernos conservadores y comunistas,
países cristianos, musulmanes y budistas, etc. Aún así, muchos de ellos
están claramente aliados. Uno debe preguntarse por qué países
conservadores o religiosos como Rusia o Irán se aliarían con los
comunistas sin Dios de Cuba y Venezuela.

Lo que todos estos países tienen en común es su deseo de manejar sus
propios asuntos; ser países independientes. Esto es imperdonable a los
ojos de Occidente y debe abordarse por todos los medios necesarios,
incluidas las sanciones económicas, las revoluciones de color y la
agresión militar absoluta.

Occidente y su brazo militar de la OTAN habían rodeado a Rusia con
países hostiles y bases militares, armado y manipulado a Ucrania para
usarla como un martillo en su contra, y aplicado sanciones y amenazas.
Lo mismo estaba y está sucediendo en Asia, donde China está siendo
rodeada por todos los medios disponibles. Lo mismo se aplica a todos los
países independientes mencionados anteriormente. En los últimos 10 años
más o menos, la presión ha aumentado enormemente sobre los
independientes y alcanzó casi un punto álgido en el año anterior a la
invasión rusa de Ucrania.

Durante el año anterior a la guerra de Ucrania, EEUU envió a sus
diplomáticos por todo el mundo para aumentar la presión. Eran como un
circo ambulante o una banda de rock de gira, pero en lugar de
entretenimiento, lanzaban amenazas: cómpranos esto y haz lo que te
decimos o habrá consecuencias.

La urgencia era absoluta y palpable, pero luego llegó la guerra de
Ucrania y la presión subió enormemente. Durante el primer mes de la
guerra, todo el cuerpo diplomático de Occidente estuvo completamente
comprometido en amenazas contra el ‘resto del mundo’ para diseñar el
aislamiento de Rusia. Esto no funcionó, lo que provocó el pánico en los
círculos políticos y diplomáticos de Estados Unidos y Europa.

Toda esta presión a lo largo de los años, y todo el miedo y el pánico
cuando no funcionó, están claramente relacionados con los
acontecimientos en Ucrania. Son parte del mismo ‘síndrome’ y tienen la
misma causa.

*La dimensión de la deuda*

Ha habido muchas explicaciones a lo que está pasando y la más común es
la lucha entre dos futuros posibles; un mundo multipolar donde hay
varios centros de poder en el mundo, y un mundo unipolar donde Occidente
gobierna el mundo. Esto es correcto hasta donde llega, pero hay otra
razón que explica por qué esto está sucediendo ahora y toda la urgencia
y el pánico en Occidente.

Recientemente, el gurú de la tecnología de Nueva Zelanda, Kim Dotcom,
tuiteó un hilo sobre la situación de la deuda en los EEUU. Según él,
toda la deuda y los pasivos no financiados de los EEUU exceden el valor
total de todo el país, incluida la tierra. Esta situación no es
exclusiva de EE. La mayoría de los países occidentales tienen una deuda
que solo puede pagarse vendiendo todo el país y todo lo que contiene.
Además de eso, la mayoría de los países no occidentales están enterrados
en deuda denominada en dólares y son prácticamente propiedad de los
mismos financieros que son dueños de Occidente.

Durante las últimas décadas, la economía de los EEUU y Europa se ha
falsificado a un nivel que es difícil de creer. Nosotros en Occidente
hemos estado viviendo mucho más allá de nuestros medios y nuestras
monedas han sido enormemente sobrevaluadas. Hemos sido capaces de hacer
esto a través de dos mecanismos:

El primero es el estado de reserva del dólar y el estado de semireserva
del euro, que han permitido a Occidente exportar dinero digital y
recibir bienes a cambio. Esto ha creado un enorme poder financiero para
Occidente y le ha permitido funcionar como un parásito en la economía
mundial. Han estado recibiendo muchos productos gratis, por decirlo
suavemente.

El segundo mecanismo de falsificación es el aumento de la deuda a un
nivel en el que esencialmente hemos empeñado todo lo que poseemos,
incluidas nuestras casas y tierras, para mantener nuestro nivel de vida.
No poseemos nada ahora que no tenga deuda. Hace mucho tiempo que la
deuda se volvió inservible, mucho más allá de nuestra capacidad de pago
de intereses, lo que explica por qué las tasas de interés en Occidente
están cerca de cero. Cualquier aumento haría que la deuda fuera
imposible de pagar y todos quebraríamos formalmente en un día.

Además de todo esto, la falsificación ha creado monedas artificialmente
fuertes en Occidente, lo que ha aumentado su poder adquisitivo para
bienes cotizados en monedas no occidentales. Estos mecanismos también
han permitido que Occidente tenga economías de servicios infladas y
disfuncionales donde las ineficiencias son increíbles. Tenemos grupos
gigantes de personas en nuestras economías que no sólo no crean valor,
sino que lo destruyen sistemáticamente. Lo que mantiene el nivel de vida
de Occidente ahora es una pequeña minoría de personas productivas, el
aumento constante de la deuda y el parasitismo a costa del resto del mundo.

Las personas dueños de toda esta deuda en realidad poseen todo lo que
creemos que poseemos. Nosotros, en Occidente, no poseemos nada en este
momento, solo pensamos que lo hacemos. Pero, ¿quiénes son nuestros
verdaderos dueños? Sabemos más o menos quiénes son porque se reúnen
todos los años en el Foro Económico Mundial en Davos junto con las
élites políticas occidentales de las que también son dueños.

Está claro que los dueños de nuestras deudas se han estado preocupando
cada vez más, y sus preocupaciones han ido en aumento en sincronía con
la mayor presión ejercida por Occidente sobre el resto del mundo.Durante
la última reunión de Davos, el estado de ánimo era sombrío y de pánico
al mismo tiempo, muy parecido al pánico entre las élites políticas
occidentales cuando fracasó el aislamiento de Rusia.

*¿Que va a pasar?*

El pánico de nuestros propietarios y sus políticos es comprensible
porque hemos llegado al final del camino. Ya no podemos mantener nuestro
nivel de vida por el aumento de la deuda y el parasitismo. La deuda está
llegando más allá de lo que poseemos como garantía y nuestras monedas
están a punto de perder su valor. Ya no podremos obtener cosas gratis
del resto del mundo, o pagar nuestra deuda, y mucho menos pagar
intereses sobre ella. Todo Occidente está a punto de quebrar y nuestro
nivel de vida está a punto de caer en un porcentaje masivo. Esto es lo
que tiene a nuestros dueños en pánico y solo ven dos escenarios:

En el primer escenario, la mayoría de los países de Occidente, y todo y
todos dentro de ellos, se declaran en bancarrota y borran la deuda por
decreto, cuestión que los estados soberanos pueden hacer. Esto también
borrará la riqueza y el poder político de nuestros patrones.

En el segundo escenario, nuestros dueños se hacen cargo de la garantía
durante la quiebra. La garantía somos nosotros y todo lo que poseemos.

No hace falta ser un genio para averiguar qué escenario se eligió. El
plan para el segundo escenario está listo y se está implementando
mientras hablamos. Se llama ‘El Gran Reinicio’ y fue construido por las
personas detrás del Foro Económico Mundial. Este plan no es un secreto y
puede examinarse hasta cierto punto en el sitio web del WEF.

El Gran Reinicio es un mecanismo para la incautación de todas las
garantías de las deudas que incluye sus activos, los activos de su
ciudad o municipio, los activos de su estado y la mayoría de los activos
corporativos que aún no están en manos de nuestros dueños.

Este mecanismo de incautación de activos tiene varios componentes, pero
los más importantes son los siguientes cuatro:

Abolición de la soberanía: Un país soberano (independiente) es un país
peligroso porque puede optar por no pagar su deuda. La disminución de la
soberanía ha sido una prioridad para el capital que vive de la renta y
se ha intentado varios esquemas como la Asociación Transatlántica de
Comercio y la Asociación de Inversión Transpacífica. El esquema más
exitoso es, sin duda, la propia Unión Europea.

La desaceleración de la economía: La economía occidental (y, de hecho,
la economía mundial) debe reducirse en un porcentaje muy significativo.
Este ajuste a la baja es necesario porque la economía occidental está
falsificada de manera masiva y debe reducirse a su nivel real, que puede
ser tan bajo como la mitad de lo que es ahora, o más.

El desmontaje lento también tiene el propósito de evitar un choque
repentino que podría causar disturbios sociales que serían una amenaza
para nuestros propietarios. Por lo tanto, es preferible un derribo
controlado a un choque incontrolado. Este derribo controlado ya está
ocurriendo y ha estado ocurriendo durante este ultimo tiempo. Se pueden
mencionar muchos ejemplos de este derribo, incluida la política
energética de la UE y los EE UU, que está diseñada para sabotear la
demanda durante y después de la epidemia.

Cosecha de activos (usted no será dueño de nada y será ‘feliz’): Se
tomarán todos los activos que puedan considerarse como garantía de
nuestra deuda privada y colectiva/pública. Este es un objetivo
claramente establecido del Gran Reinicio, pero está menos claro cómo se
llevaría a cabo.

El control total de los gobiernos occidentales (y de hecho de todos los
gobiernos) parecería ser necesario para esto. Esa condición previa está
más cerca de lo que uno podría pensar porque la mayoría de los gobiernos
occidentales parecen estar en deuda con los grandes poderes financieros
que se reúnen en Davos. El proceso se “venderá” como una
reestructuración social necesaria debido a la crisis económica y el
calentamiento global y dará como resultado una disminución masiva del
nivel de vida de la gente normal, aunque no de las élites.

Opresión: a muchas personas no les gustará esto y un levantamiento es
una respuesta probable, incluso si el derribo se realiza gradualmente.
Para evitar que esto suceda, se está implementando un mecanismo de
control social que borrará la libertad personal, la libertad de
expresión y la privacidad. También creará una dependencia absoluta del
individuo respecto del Estado. Esto debe hacerse antes de que se pueda
completar el derribo económico o habrá una revolución. Este mecanismo ya
se está implementando con entusiasmo en Occidente, como puede ver
cualquier persona con ojos y oídos.

*Rusia, China y otros países independientes*

¿Cómo influyen Rusia y China, y la guerra en Ucrania, en todo esto? ¿Por
qué toda la presión Occidental a lo largo de los años y por qué ahora
todo este pánico? Parte de la razón de la presión sobre los países
independientes, particularmente Rusia y China, es simplemente porque se
han resistido a la hegemonía occidental. Esto es suficiente para entrar
en la lista de los “rebeldes” para Occidente. Pero, ¿por qué aumentó la
presión en los últimos años?

La razón es que Rusia y China no pueden ser subyugadas a través de la
bancarrota y sus activos incautados. Tiene muy poca deuda en monedas
occidentales, lo que significa que los dueños de las deudas de Occidente
*no *son dueñas de Rusia y China (como son dueños de Occidente y el
‘tercer mundo’ endeudado) y no pueden adquirir estos países a través de
la deuda. La única forma de apropiarse de ellos es a través de un cambio
de régimen. Sus gobiernos deben ser debilitados por cualquier medio,
incluidas las sanciones económicas y los medios militares, de ahí la
utilización de Ucrania como ariete para Rusia y de Taiwán para China.

Subyugar a Rusia y China es un problema existencial para nuestros dueños
porque cuando se aplique la doctrina de la “destrucción creativa” en la
economía occidental, todo lo demás también debe caer. Si la economía
occidental cae y un gran bloque económico del este no participa en la
caída, será un desastre para Occidente. El nuevo bloque obtendrá un
poder económico importante, y posiblemente una especie de nueva
hegemonía multipolar, mientras que Occidente desciende a una Edad Oscura
e irrelevante. Por lo tanto, el mundo entero debe caer para que funcione
el Gran Reinicio. Rusia y China deben ser subyugadas por cualquier
medio, así como India y otras naciones obstinadas.

Esto es lo que ha alimentado la situación en la que ahora nos
encontramos y alimentará la continuación de la Tercera Guerra Mundial.
Las élites de propietarios occidentales van a la guerra para mantener su
riqueza y poder. Todos los que se resisten deben ser subyugados para que
Occidente se dirija a el planificado “Gran Reinicio”.

La razón del pánico actual entre las élites occidentales es que “el
proyecto Ucrania” no va según lo calculado. En lugar que Rusia sea
desangrada en el campo de batalla, son Ucrania y Occidente los que
sangran. En lugar de que la economía rusa se derrumbe y se reemplace a
Putin por un líder que sea compatible con Davos, es la economía de
Occidente la que se está derrumbando.

En lugar de que Rusia esté aislada, es Occidente el que está cada vez
más aislado. (Tomar nota esto esta ocurriendo en la mayoría de la
humanidad). Y, para colmo, Europa ha proporcionado a los rusos los
medios y el motivo para destruir su economía cerrando parcialmente su
industria.

Sin los recursos rusos, no hay industria europea, y sin industria, no
hay impuestos para pagar las prestaciones por desempleo, las pensiones,
los refugiados y casi todo lo demás que mantiene unidas a las sociedades
europeas. Los rusos ahora tienen la capacidad de diseñar un proceso de
cambios en Europa que no es precisamente lo que planificaron los
gerifaltes de Davos.

Un choque descontrolado podría hacer rodar la cabeza de Davos,
literalmente, y eso está causando miedo y pánico en los círculos de
élite. La única solución para ellos es seguir adelante con la Tercera
Guerra Mundial y esperar lo mejor.

*Qué hacer*

El Gran Reinicio de la economía mundial es la causa directa de la
Tercera Guerra Mundial, asumiendo que eso es lo que está pasando. ¿Qué
se puede hacer con esto?

Desde el interior de Occidente, poco se puede hacer. La única forma es
eliminar de alguna manera a Davos de la ecuación, pero es muy probable
que eso no suceda por dos razones: la primera es que los grandes
reiniciadores de Davos están demasiado entrelazados con la economía y la
política occidentales. Davos es como un pulpo con sus brazos y ventosas
dentro de los círculos de élite, los medios y el gobierno de todos los
países. Están demasiado arraigados para ser eliminados fácilmente.

La segunda razón es que la población occidental tiene el cerebro lavado
y es en general ignorante. El nivel de su lavado de cerebro es tal que
una gran parte de nosotros realmente quiere volverse pobre, aunque usen
la palabra ‘verde’ para ‘pobre’ porque suena mejor. A pesar de este
oscuro panorama , hay algunos indicios de que puede haber divisiones
dentro de las élites occidentales.

Sin embargo, fuera de Occidente, hay ciertas medidas que se pueden tomar
y se deben tomar. Algunas de esas medidas son drásticas y algunas de
ellas se están tomando mientras hablamos. Entre las medidas se
encuentran las siguientes:

Los países Independientes, encabezados por Rusia, China e India, deben
crear un bloque para aislarse de un Occidente radiactivo. Este
aislamiento no sólo debe ser económico, sino también político y social.
Sus sistemas económicos deben divorciarse de Occidente y hacerse
autónomos. Sus culturas e historia deben ser defendidas contra las
influencias occidentales y el revisionismo. Este proceso parece estar en
marcha.

Los países soberanos deben prohibir todas las ONG patrocinadas por
Occidente, independientemente de si están patrocinadas por estados o
individuos occidentales. Además, deben prohibir todos los medios que
reciben patrocinio occidental y despojar a todas las escuelas y
universidades del patrocinio y la influencia occidentales.

Deben dejar todas las instituciones internacionales, hasta posiblemente
las Naciones Unidas, porque todos estos organismos internacionales están
controlados por Occidente. Luego deberán ser reemplazados con nuevas
instituciones dentro del nuevo bloque de estados soberanos.

Deberán, en algún momento, declarar non grata el dólar y el euro. Eso
significa que deberían declarar el incumplimiento de pago de todas las
deudas denominadas en estas monedas, pero no de otras deudas. Lo más
probable es que esto ocurra en una etapa posterior, pero es inevitable.

Esto creará una situación en la que Occidente descenderá a la oscuridad
sin arrastrar a otros con él, si logramos escapar del fuego nuclear.

Em
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2022/06/22/la-tercera-guerra-mundial-ha-sido-organizada-en-davos/
22/6/2022

terça-feira, 21 de junho de 2022

La inminente ruptura global provocada por el choque entre distintos órdenes económicos

 


19 junio, 2022

«/*El costo de las sanciones europeas contra el petróleo y los productos
alimenticios rusos, en beneficio de los proveedores de gas de EE UU
amenaza con crear una oposición europea a la estrategia global unipolar
de EE UU. Es probable que se desarrolle un nuevo movimiento del tipo
yankee go home”.*/

*En esta importante entrevista a Michael Hudson, el economista
estadounidense nos ofrece su visión de los gran conflicto que enfrenta
hoy día todo el mundo*

*/Profesor Hudson, en su nuevo libro «El destino de la civilización»,
usted/* */habla de un conflicto ideológico y material entre países
financiarizados y desindustrializados como Estados Unidos con las
economías mixtas de China y Rusia./* */¿En qué consiste este conflicto y
por qué el mundo en este momento está en un “punto de fractura”, como
dice su libro?/*

La globalización actual está dividiendo al mundo entre dos filosofías
económicas diferentes: en los EEUU / OTAN/ Occidente, el capitalismo
financiero está desindustrializando las economías y ha desplazado la
industria manufacturera hacia el liderazgo euroasiático, especialmente
China, India y otros países, junto con Rusia, que suministra productos
básicos. materias primas y armas.

Estos países son una extensión básica del capitalismo industrial que
está evolucionando hacia el socialismo, es decir, hacia una economía
mixta con fuertes inversiones gubernamentales en infraestructura para
brindar educación, salud, transporte y otras necesidades básicas,
tratandolos como servicios públicos con servicios públicos subsidiados o
gratuitos.

En el occidente neoliberal de los Estados Unidos y la OTAN, sin embargo,
estas infraestructuras básicas se privatizan para extraer rentas.

El resultado es que EEUU. / OTAN Occidente ha seguido siendo una
economía de alto costo, con gastos de vivienda, educación y salud cada
vez más financiados por deuda, dejando cada vez menos ingresos
personales y comerciales para invertir en nuevos medios de producción
(formación de capital).

Esto plantea un problema existencial para el capitalismo financiero
occidental: ¿cómo puede mantener el nivel de vida frente a su
desindustrialización, a la deflación de la deuda y a la búsqueda
permanente de rentas financiarizadas que empobrecen al 99% para
enriquecer al 1%?

El principal objetivo de Estados Unidos es evitar que Europa y Japón
acrecientan sus lazos comerciales y de inversión con Eurasia y la
Organización de Cooperación de Shanghái (SCO). EE UU requiere mantener a
Europa y Japón como economías satélites, los diplomáticos
estadounidenses están construyendo un muro económico de sanciones para
bloquear el comercio entre Oriente y Occidente.

Durante muchas décadas, la diplomacia estadounidense se ha entrometido
en la política interna europea y japonesa, favoreciendo a funcionarios
neoliberales al frente de los gobiernos. Estos funcionarios sienten que
su destino (y también su fortuna política personal) está estrechamente
ligado al liderazgo estadounidense. Mientras tanto, la política europea
se ha convertido básicamente en la política de una OTAN, dirigida por
Estados Unidos.

El problema para EE UU es cómo mantener al Sur global – América Latina,
África y muchos países asiáticos- en su órbita. Las sanciones contra
Rusia tienen el efecto de dañar la balanza comercial de estos países,
aumentando drásticamente los precios del petróleo, el gas y los
productos alimenticios (así como muchos metales) que tienen que importar.

Mientras tanto, el aumento de las tasas de interés de EE UU está
atrayendo ahorros financieros y préstamos bancarios a valores
denominados en dólares. Esto ha provocado que el tipo de cambio del
dólar suba, lo que dificulta mucho más que los países de la OCS y el Sur
global paguen el servicio de la deuda en dólares que vence este año.

Esto obliga a estos países a elegir: quedarse sin energía y alimentos
para pagar a los acreedores extranjeros – anteponiendo así los intereses
financieros internacionales a su supervivencia económica interna – o
dejar de pagar la deuda, como sucedió en la década de 1980 después que
México anunciara en 1982 que era incapaz de pagar a los tenedores de
bonos extranjeros.

*¿Cómo ve la guerra actual en Ucrania? ¿Qué consecuencias económicas prevé?*

Rusia ha asegurado el este de Ucrania de habla rusa y la costa sur del
Mar Negro. La OTAN continuará «provocando al oso» con sabotajes y nuevos
ataques, especialmente por parte de combatientes polacos.

Los países de la OTAN enviaron sus armas obsoletas a Ucrania y ahora
tienen que gastar sumas inmensas para modernizar su equipo militar. Los
pagos al complejo militar-industrial de EE UU ejercerá una presión a la
baja sobre el euro y la libra esterlina, además de unos crecientes
déficits de energía y alimentos. Por lo tanto, el euro y la libra se
encaminan hacia la paridad con el dólar estadounidense. El euro está
casi allí (alrededor de $ 1,07). Esto significa un fuerte aumento de la
inflación en Europa.

*/He leído y escuchado información contradictoria sobre las nuevas
sanciones. Algunos expertos, tanto en el Este como en el Oeste, creen
que esto dañará a la economía de la Federación Rusa. Otros expertos
tienden a creer que serán contraproducentes o tendrán un gran efecto
boomerang en los países occidentales./*

La política estadounidense es luchar contra China, con la esperanza de
separar las regiones occidentales de los uigures y dividir China en
estados más pequeños. Con este fin, es necesario eliminar el apoyo
militar y de productos básicos de Rusia a China y, a su debido tiempo,
dividir a Rusia en varios estados pequeños (grandes ciudades en la zona
occidental, otros países en el norte de Siberia, un flanco sur, etc.)

Las sanciones se impusieron con la esperanza de hacer que las
condiciones de vida de los rusos fueran tan duras como para empujarlos a
cambiar su régimen. El ataque de la OTAN contra Ucrania fue diseñado
para vaciar militarmente a Rusia.

El efecto fue aumentar el apoyo ruso a Putin, justo lo contrario de lo
que se pretendía. Hay una creciente desilusión con Occidente, después
que los rusos vieron lo que los Harvard Boys le hicieron a Rusia durante
el gobierno de Yeltsin. Los Harvard Boys lograron crear una clase
cleptocrática con las privatizaciones de servicios públicos y la CIA
financió los conflictos bélicos en Georgia y Chechenia.

*/¿Está haciendo Rusia un giro hacia el este en lugar de hacia el oeste?/*

El efecto de las sanciones de EE UU y la obstrucción militar a Rusia ha
sido, por lo tanto, imponer una cortina de hierro política y económica.
Esta política tiene como objetivo obligar a Europa a depender de EE UU,
al tiempo que ha empujado a Rusia a unirse a China.

Hoy, el costo de las sanciones europeas contra el petróleo y los
productos alimenticios rusos, en beneficio de los proveedores de gas LNG
de EE UU y de sus exportaciones agrícolas, amenaza con crear una
oposición europea a la estrategia global unipolar de EE UU. Es probable
que se desarrolle un nuevo movimiento “yankee go home”.

Para Europa, sin embargo, el daño ya está hecho y es probable que ni
Rusia ni China confíen en que los funcionarios de la Unión Europea
puedan resistir la corrupción y la presión personal ejercida por la
interferencia estadounidense.

*/El nuevo ministro de Economía alemán, Robert Habeck del Partido Verde,
habla de activar la «emergencia por gas» y pide petróleo a los Emiratos
(este «acuerdo» parece haber fracasado ya, según las noticias). Al final
estamos comprobando la enorme dependencia de Berlín y Bruselas de los
recursos energéticos rusos. ¿Cómo acabará todo esto?/*

De hecho, los funcionarios estadounidenses han pedido a Alemania que
cometa un suicidio económico y provoque una depresión, un aumento de los
precios al consumidor y un nivel de vida más bajo. Las empresas químicas
alemanas ya han comenzado a cerrar la producción de fertilizantes, ya
que Alemania al aceptar las sanciones no deberían comprar gas ruso, la
materia prima de la mayoría de los fertilizantes). Y las empresas
automotrices alemanas, también, están sufriendo cortes de suministro.

Estas deficiencias económicas europeas son una gran ayuda para los EE
UU, que está obteniendo enormes beneficios del petróleo más caro (que
está controlado en gran medida por empresas estadounidenses, seguidas
por las empresas petroleras británicas y francesas). El suministro de
armas que Europa ha donado a Ucrania también es una bendición para el
complejo militar-industrial de Estados Unidos., cuyas ganancias están
aumentando.

Pero Estados Unidos no está reciclando estas ganancias económicas a
Europa, que parece ser la gran perdedora.

Los productores de petróleo árabes ya han rechazado las demandas
estadounidenses de extraer más petróleo para que cueste menos. Se espera
que los árabes del golfo sean los primeros en beneficiarse de la
agresión planificada por la OTAN en Ucrania.

Parece muy poco probable que Alemania permita hacer funcionar el
gasoducto Nord Stream 2. La confianza mutua ha fracasado. Y Rusia teme
que el pago por el gas y el petróleo se haga en los de bancos europeos
tras el robo de 300.000 millones de dólares de sus reservas de divisas.
Europa ya no es económicamente segura para Rusia.

*/La pregunta es cuándo Rusia dejará de abastecer a Europa./*

Parece que Europa se está convirtiendo en un apéndice de la economía de
los EE UU, de hecho, está soportando la carga fiscal de esta Guerra Fría
2.0. Se ha llegado a un extremo de dependencia política de Washington.
Un poco en broma y un poco en serio muchos piensan que la solución
lógica es que Europa se integre a los Estados Unidos, renunciando a sus
estados soberanos, pero obteniendo a lo menos algunos parlamentarios
europeos en el Senado y la Cámara de Representantes.

 */¿Qué papel juegan en la nueva guerra fría el capitalismo financiero
neoliberal en la actual guerra entre Rusia y Ucrania?/*

La guerra de EE UU y la OTAN en Ucrania es la primera batalla en lo que
parece ser un intento de 20 años de dominio del dólar occidental en
Eurasia y el Sur global. Los políticos estadounidenses prometen mantener
la guerra en Ucrania indefinidamente, con la esperanza de que se
convierta en el «nuevo Afganistán» para Rusia.

Pero, esta táctica ahora parece amenazar con convertirse en “un nuevo
Afganistán” de Estados Unidos. Es una guerra de poder, su propósito es
asegurar la dependencia de Europa de los Estados Unidos con una
oligarquía cliente y, con el euro como moneda satélite del dólar.

La diplomacia estadounidense ha tratado de noquear a Rusia de tres
formas principales. Primero, aislandolo financieramente excluyéndolo del
sistema de compensación bancaria SWIFT. Rusia respondió cambiando sin
problemas al sistema de compensación bancaria de China.

La segunda táctica fue apoderarse de los depósitos y valores financieros
rusos en bancos estadounidenses. Rusia respondió recobrando las
inversiones estadounidenses y europeas en Rusia. Lo hizo a bajo costo
porque Occidente abandonó estas actividades comerciales.

La tercera táctica fue evitar que los miembros de la OTAN comercien con
Rusia. El efecto fue que las importaciones rusas desde Occidente
disminuyeron, mientras que las exportaciones de petróleo, gas y
alimentos aumentaron. Esto provocó que el tipo de cambio del rublo
aumentará en lugar de dañar a esta moneda.

Mientras las sanciones bloquean las importaciones rusas de Occidente, el
presidente Putin ha anunciado que su gobierno invertirá en la
sustitución de importaciones. El efecto será una pérdida permanente de
los mercados rusos para los proveedores y exportadores europeos.

Entretanto, los aranceles de Trump sobre las exportaciones europeas a
los Estados Unidos siguen vigentes, lo que deja a la industria europea
con oportunidades comerciales cada vez más reducidas. El Banco Central
Europeo podría seguir comprando acciones y bonos europeos para proteger
la riqueza en un 1%, pero lo que seguramente hará en breve será recortar
el gasto social interno para respetar el límite del 3% de déficit
presupuestario que se ha impuesto la eurozona.

Por lo tanto, a medio y largo plazo, las sanciones de EE UU y la OTAN
están dirigidas principalmente a Europa. Y los europeos ni siquiera
parecen darse cuenta de que son las primeras víctimas de esta nueva
guerra económica estadounidense por la energía, los alimentos y las
finanzas.

/*En Alemania, detener el proyecto energético Nord Stream II sigue
siendo un tema político importante. En un reciente artículo escribió:
“Ahora está claro que la escalada de la nueva guerra fría fue planeada
hace más de un año. El plan de Estados Unidos para bloquear Nord Stream
2 era en realidad parte de su estrategia para evitar que Europa
Occidental */*/encontrara cierta prosperidad a través del comercio y la
inversión con China y Rusia». ¿Puedes explicar esto a nuestros lectores?/*

Lo que usted llama el «bloqueo de Nord Stream 2» es en realidad una
política destinada a favorecer los productos estadounidenses. Washington
convenció a Europa para que no comprará al precio más bajo, sino que
pagará hasta siete veces más por el gas de los proveedores
estadounidenses. También los europeos gastarán, a lo menos, 5.000
millones de dólares para expandir su capacidad portuaria para recibir
este gas, que no estará disponible hasta dentro de un año.

Esto amenaza con un interregno muy incómodo para Alemania y otros países
europeos. En esencia, los gobiernos nacionales europeos ahora están
subordinados a la OTAN, cuyas políticas están a cargo de Washington.

El precio que pagará Europa, es la caída del tipo de cambio frente al
dólar estadounidense. Es probable que los inversores europeos
transfieran sus ahorros e inversiones de Europa a los Estados Unidos
para maximizar las ganancias de capital y simplemente evitar la caída de
los precios de sus acciones y bonos medidos en dólares.

*/Echemos un vistazo a Alemania. En mayo, el parlamento alemán aprobó la
posibilidad de expropiar a las empresas energéticas. Sin embargo, la ley
aún no ha sido aprobada por la cámara alta, pero podría aplicarse por
primera expropiando a la empresa de petróleo PCK que es propiedad de la
empresa estatal rusa Rosneft./*

Parece que Europa y Estados Unidos confiscarán las inversiones rusas en
sus países y venderán (o harán que Rusia confisque) las inversiones de
la OTAN en Rusia. Esto significa un desacople de la economía rusa de
Occidente y un vínculo más estrecho con China, que parece ser la próxima
economía sancionada por la OTAN, ya que esta última se convertirá en una
Organización del Tratado del Pacífico Oriental que involucrará a Europa
en los conflictos del Mar de China.

Me sorprendería que Rusia reanude la venta normal de petróleo y gas a
Europa sin que se le reembolse lo que Europa (y Estados Unidos) se han
apoderado. Esto crisis energética debería ayudar a Europa a presionar a
Estados Unidos para que devuelva los 300.000 millones de dólares en
reservas de divisas que ha incautado.

Pero, incluso después de un acuerdo de “devolución y compensación”, es
poco probable que se reanude el comercio. Ha habido un cambio de fase,
un cambio de conciencia acerca de cómo el mundo se está dividiendo bajo
las agresiones económicas de EE UU tanto a sus aliados como a sus
adversarios.

*/El socialismo es un tema importante en su nuevo libro. ¿Cuál es su
opinión sobre las medidas que ahora adopta un país capitalista como
Alemania?/*

Hace un siglo se pensaba que la «etapa final» del capitalismo industrial
era el socialismo. Había diferentes tipos de socialismo: socialismo de
estado, socialismo marxista, socialismo cristiano, socialismo
anarquista, socialismo libertario. Pero lo que sucedió después de la
Primera Guerra Mundial fue la antítesis del socialismo. Era el
capitalismo financiero y un capitalismo financiero militarizado.

El denominador común de todas las políticas sociales, de derecha a
izquierda del espectro político, fue el fortalecimiento del gasto
público en infraestructura. La transición al socialismo estuvo
impulsada, sin proponérselo (en Estados Unidos y Alemania) por el propio
capitalismo industrial, que buscaba minimizar el costo de vida (y por
ende el salario básico) y el costo de la actividad económica a través de
la inversión estatal en infraestructura básica, cuyos servicios debían
proporcionarse gratuitamente o, al menos, a precios subvencionados.

Este objetivo habría evitado que los servicios básicos se convirtieran
en oportunidades de renta monopólica. La antítesis era la doctrina
neoliberal de privatización de la Thatcher. Los gobiernos cedieron
servicios públicos a inversores privados. Las empresas fueron compradas
a crédito, agregando intereses y otros cargos financieros a las
utilidades y a los pagos.

El resultado ha sido transformar la Europa y a los Estados Unidos en
economías neoliberales de alto costo, incapaces de competir en precios
de producción con países que persiguen políticas socialistas en lugar
del neoliberalismo financiarizado. Este contraste entre los sistemas
económicos es la clave para entender la brecha global actual.

/*Especialmente el petróleo y el gas rusos están en el centro de
atención en este momento. Moscú */*/sólo exige pagos en rublos y está
ampliando su abanico de compradores con China, India y otras naciones.
Pero parece que los compradores occidentales aún pueden pagar en euros o
dólares. ¿Cuál es su opinión sobre esta guerra de recursos en curso? El
rublo parece ser el ganador./*

El rublo ciertamente está subiendo. Pero eso no convierte a Rusia en
«ganador» si su economía se ve afectada por las sanciones que bloquean
las importaciones necesarias para que sus cadenas de suministro
funcionen correctamente.

Rusia tendrá éxito si es capaz de organizar un programa de sustitución
de las importaciones industriales y recrear la infraestructura pública
para reemplazar las que fueron privatizadas bajo la dirección de los
Estados Unidos por los Harvard Boys en la década de 1990.

 */¿Veremos el fin del petrodólar y el surgimiento de una nueva
arquitectura financiera, acompañada por el fortalecimiento de los BRICS
y la Organización de Cooperación de Shanghái (OCS)?/*

Todavía habrá petrodólares, pero también una serie de bloques de áreas
monetarias. Será un proceso en que el mundo se desdolariza mediante
acuerdos internacionales que incluirán instituciones para el comercio y
la inversión. A fines de mayo, el canciller Lavrov dijo que Arabia
Saudita y Argentina quieren unirse a los BRICS. Como señaló
recientemente Pepe Escobar, BRICS + podría expandirse para incluir
MERCOSUR y la Comunidad de Desarrollo de Sudáfrica (SADC).

Es probable que estos acuerdos requieran una alternativa no
estadounidense al FMI para crear crédito y proporcionar un vehículo para
las reservas oficiales de divisas a los países no pertenecientes a la
OTAN. El FMI aún sobrevivirá, pero ya no podrá imponer la austeridad en
los países satélites de EE UU, mientras subsidia la fuga de capitales de
los países del Sur global y crea mecanismos para financiar el gasto
militar de EE UU. en el extranjero.

El verano de 2022 puede llegar a ser un momento importante. Los países
del Sur global experimentarán una crisis de sus balanzas de pagos debido
al aumento del petróleo y de los alimentos y al aumento de las deudas en
dólares. El FMI podría ofrecerles nuevos DEG (Derecho especial de giro)
para pagar a los tenedores de bonos en dólares y para mantener la
ilusión de solvencia.

Pero los países de la OCS pueden ofrecer petróleo y alimentos; entonces,
los países podrían garantizar pagar las deudas en otras monedas pero,
repudiando estas deudas en dólares con Occidente.

*/En una reciente entrevista sobre Ucrania y Rusia usted afirma: “La
guerra no es contra Rusia. La guerra no es a favor de Ucrania. La guerra
es contra Europa y Alemania”. ¿Podría explicar este punto?/*

Como expliqué anteriormente, las sanciones comerciales y financieras de
EE UU están obligando a Alemania a depender de las exportaciones de GNL
(gas licuado) de EE UU. y de la compra de armas estadounidenses para
transformar a la OTAN en una autoridad de facto en Europa.

El efecto es destruir cualquier esperanza europea de ganancias mutuas en
el comercio y la inversión con Rusia. Europa se está convirtiendo en un
socio menor (muy menor) en estas nuevas relaciones comerciales con unos
Estados Unidos, cada vez más proteccionistas.

*/El verdadero problema para Estados Unidos parece ser este: » Si no se
puede crear en casa la única forma de mantener la prosperidad es
obtenerla del exterior». ¿Cuál es la estrategia de Washington?/*

Mi libro Superimperialismo explica cómo, en los últimos 50 años (desde
que Estados Unidos abandonó el oro en agosto de 1971) el estándar de los
bonos del Tesoro de Estados Unidos le ha dado a Estados Unidos “comidas
gratis” a expensas del exterior.

Los bancos centrales extranjeros han facilitado el déficit de la balanza
de pagos de EE UU con la compra de bonos del Tesoro. Esta política
financiera permitió a Estados Unidos tener recursos para mantener sus
800 bases militares en Eurasia sin tener que depreciar el dólar ni
gravar a sus ciudadanos. El costo fue asumido por los países cuyos
bancos centrales acumularon bonos en dólares al Tesoro de los Estados
Unidos.

Pero ahora, que se ha vuelto peligroso para los países mantener
depósitos bancarios o bonos del Tesoro norteamericano o inversiones
denominados en dólares estadounidenses, ¿cómo puede Estados Unidos
seguir teniendo “comidas gratis?

De hecho, ¿cómo puede importar materiales básicos de Rusia para las
cadenas de suministro industrial y económicas que se ha visto
interrumpida por las sanciones?

Este es el desafío más candente para la política exterior de Estados
Unidos. De una forma u otra, pretende gravar a Europa y convertir a
otros países en satélites económicos. La explotación puede no ser tan
flagrante como la apropiación (robo) estadounidense de las reservas
venezolanas, afganas y rusas es un ejemplo que produce una profunda
desconfianza en todos los países.

Es probable que la autosuficiencia estadounidense pretenda obligar a
otros países a depender económicamente de Estados Unidos, de modo que
este último pueda amenazar con sanciones si los países del Sur Global
intentan anteponer sus intereses nacionales a lo que los estadounidenses
quieren que hagan.

*/¿Cómo afectará esto a la balanza de pagos de Europa Occidental y por
tanto al tipo de cambio del euro frente al dólar? ¿Y por qué cree que la
Unión Europea va camino de convertirse en un nueva “¿Panamá, Puerto Rico
y Liberia”?/*

El euro ya es una moneda satélite de los Estados Unidos. Sus países
miembros son incapaces de gestionar los déficits presupuestarios
internos para hacer frente a la inminente depresión inflacionaria
resultante de las sanciones patrocinadas por Estados Unidos y la ruptura
global resultante.

La dependencia militar está resultando ser la clave. Este es un «costo
compartido» impuesto por los EE UU. para su Guerra Fría 2.0. Este
reparto de costes es lo que ha llevado a los diplomáticos
estadounidenses a darse cuenta de que necesitan controlar la política
interna europea para evitar que las poblaciones y las empresas actúen en
su propio interés. Su crisis económica de europea es un «daño colateral»
de la actual Nueva Guerra Fría.

A mediados de marzo, el filósofo suizo Tove Soiland criticó a la
izquierda internacional por su comportamiento actual respecto a la
crisis ucraniana y la gestión del Covid. La izquierda, dijo, está
demasiado a favor de gobiernos/estados autoritarios, copiando así los
métodos de los partidos tradicionales de derecha. ¿Compartes este punto
de vista?

El Departamento de Estado y la CIA se concentraron en hacerse con el
control de los partidos socialdemócratas y laboristas de Europa,
prediciendo que la gran amenaza para el capitalismo financiero de
Estados Unidos sería el socialismo. Esto ha incluido a los partidos
«verdes», hasta el punto que su afirmación de oponerse al calentamiento
global ha resultado hipócrita a la luz de la enorme huella de carbono y
la contaminación de la guerra militar de la OTAN en Ucrania y los
ejercicios aéreos y navales relacionados. ¡No se puede estar a favor del
medio ambiente y de la guerra al mismo tiempo!

Esto ha hecho que los partidos nacionalistas de derecha estén menos
influenciados por la intromisión política de Estados Unidos. De ahí
viene la oposición a la OTAN, como en Francia y Hungría.

Y en los propios Estados Unidos, los únicos votos en contra de la nueva
contribución de 30.000 millones de dólares al gasto militar contra Rusia
provinieron de los republicanos. Todo el «equipo de izquierda» del
Partido Demócrata votó a favor de los gastos de guerra.

Los partidos socialdemócratas son básicamente partidos burgueses cuyos
seguidores esperan ingresar a la clase rentista, o al menos convertirse
en pequeños inversionistas en acciones y bonos. Este es la consecuencia
del neoliberalismo liderado por Tony Blair en Gran Bretaña y los
“socialistas” en otros países. Enfrento esta alineación política en The
Destiny of Civilization.

Los propagandistas estadounidenses llaman «autocráticos» a los gobiernos
que mantienen monopolios naturales como los servicios públicos. Ser
«democrático» significa dejar que las corporaciones estadounidenses
controlen estos servicios públicos, dejar «libre de la regulación
gubernamental y los impuestos” al capital financiero. Así que,
«izquierda» y «derecha», «democracia» y «autocracia» se han convertido
en un vocabulario orwelliano en un lenguaje fomentado por la oligarquía
estadounidense.

*/¿Será la guerra de Ucrania un referente para mostrar un nuevo mapa
geopolítico del mundo? ¿O está en ascenso el Nuevo Orden Mundial
neoliberal/*

El mundo se está dividiendo en dos partes. El conflicto no es solo
nacional, sino que es un conflicto de sistemas económicos: capitalismo
financiero depredador contra socialismo industrial que apunta a la
autosuficiencia de Eurasia y la OCS.

Los países no alineados no pudieron «ir solos» en la década de 1970
porque no tenían una masa crítica para producir alimentos, energía y
materias primas de forma independiente. Pero ahora que EE UU ha
desindustrializado su economía (y subcontratando la fabricación a Asia)
estos países tienen la opción de no seguir dependiendo de la diplomacia
del dólar estadounidense.

Publicado en: Actualidad
<https://observatoriocrisis.com/category/actualidad/>

Em
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2022/06/19/11475/
19/6/2022

domingo, 19 de junho de 2022

Porque é tão difícil acabar com o nazismo?

 

    


*O crescente pacto de suicídio da NATO ameaça incendiar o mundo*

 

/Matthew Ehret/

    /Este crescimento [do nazismo] não está apenas a tomar a forma de
    uma ren//ovação do //sol negro tatuado com suásticas neonazis //dos
    //Azov, C14, Svoboda e Aidar na Ucrânia hoje em dia//, mas também
    uma reescrita completa da história da Segunda Guerra Mundial que deu
    um mergulho acelerado na irrealidade durante os 30 anos desde o
    colapso da União Soviética./

 

/*É possível que a guerra que pensávamos ter vencido em 1945 fosse
apenas uma batalha dentro de uma guerra maior pela civilização cujo
resultado ainda está para se ver?*/

A decisão recentemente expressa pelos governos finlandês e sueco de
aderir ao pacto de suicídio coletivo da NATO não deve ser uma grande
surpresa para quem tem prestado atenção ao crescimento do nazismo nos
últimos 77 anos.

Este crescimento não está apenas a tomar a forma de uma renovação do sol
negro tatuado com suásticas neonazis dos Azov, C14, Svoboda e Aidar na
Ucrânia hoje em dia, mas também uma reescrita completa da história da
Segunda Guerra Mundial que deu um mergulho acelerado na irrealidade
durante os 30 anos desde o colapso da União Soviética.

Em todo o espectro de membros pós-Pacto de Varsóvia absorvidos pela
NATO, como a Lituânia, Estónia, Albânia, Eslováquia e Letónia, os
colaboradores nazis da Segunda Guerra Mundial foram glorificados com
estátuas, placas públicas, monumentos e até escolas, parques e ruas com
nomes de nazis. Celebrar os colaboradores nazis enquanto desmontam
monumentos pró-soviéticos quase se tornou uma pré-condição para qualquer
nação que deseje ingressar na NATO.

Na Estónia, que se juntou à NATO em 2004, a Erna Society, financiada
pelo Ministério da Defesa, celebrou o grupo nazi Erna Saboteur que
trabalhou com as Waffen SS na Segunda Guerra Mundial, tendo a Guarda
avançada Erna sido elevada a herói nacional oficial. Na Albânia, o
primeiro-ministro Edi Rama reabilitou o colaborador nazi Midhat
Frasheri, que deportou milhares de judeus do Kosovo para campos de
extermínio.

Na Lituânia, o líder pró-nazi da Frente Ativista Lituana Juozas Lukša,
que cometeu atrocidades em Kaunas, foi homenageado como herói nacional
por um ato do Parlamento que aprovou uma resolução apelidando “o ano de
2021 como o ano de Juozas Luksa-Daumantas”. Na Eslováquia, o 'Nosso
Partido Popular da Eslováquia', liderado pelo neonazi Marián Kotleba,
passou do seu estatuto de força marginal para a visibilidade dos
principais partidos, conquistando 10% dos assentos parlamentares em 2019.

*Esqueletos nazis na Finlândia e armários da Suécia*

Enquanto a Finlândia gosta de comemorar o facto de que a sua guerra de
1941-1944 com a Rússia não teve nada a ver com a Segunda Guerra Mundial,
mas foi simplesmente uma aliança defensiva com a Alemanha contra a
malvada União Soviética, e enquanto a Suécia gosta de comemorar o facto
de ter permanecido neutra durante a Segunda Guerra Mundial, os factos
contam uma história muito diferente.

Não apenas ambas as nações desempenharam papéis agressivos na guerra
contra a União Soviética durante a Operação Barbarossa e para além dela,
mas ambas as nações também forneceram vastos empréstimos e outros apoios
económicos de 1940 a 1945.

Num nível puramente militar, a Suécia “neutra” liderada pelo rei Gustavo
V e o primeiro-ministro social-democrata Per Albin Hannson garantiu que
os seus territórios fossem disponibilizados aos nazis durante a Batalha
de Narvik em 1940, que resultou na queda da Noruega. Quando a Operação
Barbarossa foi lançada um ano depois, a Alemanha foi autorizada a usar o
território sueco, ferrovias e redes de comunicação para invadir a União
Soviética via Finlândia. Soldados alemães e equipamentos de batalha
foram transportados de Oslo para Haparanda, no norte da Suécia, em
preparação para ataques à Rússia.

Na frente económica, 37% das exportações suecas ao longo da guerra foram
para a Alemanha, o que incluía 10 milhões de toneladas de minério de
ferro por ano, bem como a maior produção de rolamentos de esferas,
vitais para a máquina de guerra nazi que eram exportados através dos
portos da Noruega ocupada pelos nazis. A família pró-fascista von Rosen
desempenhou um dos papéis mais importantes na promoção da ideologia nazi
na Suécia tendo  Eric von Rosen co-fundando o Partido Nacional
Socialista da Suécia e fornecido acesso à camada superior da nobreza
sueca ao alto comando alemão durante a década de 1920-1930.

Além disso, o conde Hugo von Rosen atuou como diretor da filial
americana do banco sueco Enskilda e da SKF Bearing, que geria o fluxo de
fundos e rolamentos de esferas (fabricados em Filadélfia) para a
Wehrmacht durante toda a guerra.

O historiador Douglas Macdonald escreveu : /“Os rolamentos de esferas da
SKF eram absolutamente essenciais para os nazis. A Luftwaffe não podia
voar sem rolamentos de esferas, e tanques e carros blindados não podiam
rolar sem eles. Canhões nazis, miras, geradores e motores, sistemas de
ventilação, U-boats [submarinos], ferrovias, máquinas de mineração e
dispositivos de comunicação não poderiam funcionar sem rolamentos de
esferas. Na verdade, os nazis não poderiam ter combatido na Segunda
Guerra Mundial se a SKF de Wallenberg não lhes tivesse fornecido todos
os rolamentos de esferas de que precisavam”./

Hugo era primo em segundo grau de Goering por casamento e o seu primo
Eric terá um papel importante nesta história em breve.

*Avaliação da herança nazi da Finlândia*

Ao contrário da Suécia, a Finlândia nunca tentou fingir neutralidade e,
nesse sentido, pode pelo menos ser aplaudida por evitar a hipocrisia dos
seus primos suecos. Compartilhando uma fronteira de 1.340 km com a
Rússia,  a 40 km de alcance da atual São Petersburgo, a Finlândia era um
imóvel de alto valor para os nazis.

Durante a guerra, 8.000 soldados finlandeses lutaram diretamente ao lado
dos nazis contra os russos, e muitos serviram nas divisões nazis da SS
Panzer entre 1941-1943. Um escandaloso relatório de 248 páginas
publicado pelo governo finlandês em 2019 revelou que nada menos que
1.408 voluntários finlandeses serviram diretamente na divisão SS Panzer
realizando atrocidades em massa, incluindo o extermínio de judeus e
outros crimes de guerra.

A causa da aliança da Finlândia com os nazis durante a guerra também é
muito mais sombria do que os livros de história higienizados deixam
transparecer.

Os líderes soviéticos estavam a observar a construção da máquina de
guerra nazi em direção à Rússia como uma colisão de comboios em câmara
lenta desde o momento em que o Acordo de Munique de 1938 foi alcançado,
determinando a destruição da Checoslováquia e o crescimento de um
monstro de Frankenstein no coração da Europa.

No seu brilhante / /'The Shocking Truth About the 1938 Munich Agreement'
[/A Verdade Chocante sobre o Tratado de Munique de 1938 (NT)/] , Alex
Krainer demonstra que a diplomacia secreta britânica garantiu que, desde
a tomada da Áustria por Hitler até a invasão da Polónia em setembro de
1939, a política de apaziguamento da Grã-Bretanha apenas fingiu oposição
ao nazismo, ao mesmo tempo em que facilitou o seu implacável
crescimento, como um monstro Frankenstein, no coração da Europa.

*A corrida para proteger o centro vital e a viragem nazi da Finlândia*

Sabendo que um ataque era inevitável, a Rússia assinou o Pacto
Molotov-Ribbentrop em agosto de 1939 para ganhar tempo, enquanto tentava
estabelecer uma zona tampão entre o regime nazi expansionista e ela mesma.

Durante essa pequena janela, estava em andamento uma corrida  para
consolidar esferas de interesse, com a Rússia agindo defensivamente para
proteger o seu  baixo-ventre antes que a inevitável guerra quente fosse
lançada. Enquanto isso, a Alemanha correu para  levar  o calor com as
operações militares que espalharam o Reich por toda a Europa.

A Rússia conquistou várias vitórias diplomáticas estratégicas
importantes ao assinar pactos de assistência mútua com a Letónia,
Lituânia e Estónia. No entanto, a Finlândia, sob o controle do marechal
de campo Carl Gustaf Mannerheim e do primeiro-ministro Risto Ryti,
rejeitou a oferta da Rússia.

No abortado Tratado de Segurança Mútua Rússia-Finlândia, a Rússia cedia
a Carélia do Sul, no norte, em troca da deslocação da fronteira
soviética para o oeste no istmo da Carélia e da permissão para
estacionar bases russas na Finlândia. O governo pró-alemão de Ryti e
Mannerheim estava publicamente a aproximar-se dos alemães durante a
década de 1930 e grande parte da aristocracia da Finlândia tinha visões
delirantes de expansionismo juntamente com os seus colegas suecos
pró-nazis acreditando que uma grande parte do noroeste da Rússia,
chamada Karelia do Leste, tinha aparentemente um povo nórdico “puro” não
contaminado pelo sangue eslavo e escandinavo.

A rejeição da Finlândia do acordo de cooperação resultou na decisão da
Rússia de a invadir em novembro de 1939, resultando na perda de 20.000
soldados finlandeses, 11% do seu território, representando 1/3 de seu
potencial económico e um ego  feito em cinzas. Esta “Guerra de Inverno”
de quatro meses terminou em março de 1940 com uma Finlândia reduzida e
humilhada ansiando por vingança.

Sem Título.jpg

O Marechal de campo Mannerheim e o Primeiro Ministro Ryti eram crentes
devotos no mito da 'grande Finlândia'. Mannerheim proclamava em voz alta
aos seus soldados, na véspera do acordo da Finlândia para dar as mãos
aos nazis, que /“em 1918 durante a guerra de libertação [contra a
Rússia], eu declarei aos carelianos finlandeses e vienenses que não
colocaria a minha espada na bainha antes de a Finlândia e a Carélia
Oriental serem livres”. /Esse discurso tornou difícil manter a noção de
que a aliança da Finlândia com os nazis era simplesmente 'defensiva'.

Embora seja comummente alegado por historiadores revisionistas que
Herman Göring enviou um mensageiro pessoal a Helsínquia pedindo licença
para usar o território da Finlândia em troca de armas e apoio, em agosto
de 1940, a deposição de 1945 do Coronel da SS Horst Kitschmann – que
estava a par dessas trocas, testemunhou que foi o próprio Mannerheim o
primeiro a entrar em contacto com Göring sugerindo que esse arranjo
fosse feito.

Documentado em /'Finland's War of Choice'/ de Henrik Lunde, Kitschmann
testemunhou:/“Durante essas conversas, von Albedill [major alemão do
estado-maior do adido que informou Kitschmann] disse-me que já em
setembro de 1940, o major-general Roessing, agindo por ordem de Hitler e
do Estado-Maior alemão, tinha organizado a visita do major-general
Talwel, plenipotenciário do marechal Mannerheim, ao quartel-general do
Führer em Berlim. Durante esta visita, foi alcançado um acordo entre os
estados-maiores alemães e finlandeses para os preparativos conjuntos
para uma guerra de agressão e a sua execução contra a União Soviética. A
esse respeito, o general Talwel disse-me, durante uma conferência no
quartel-general do seu estado-maior em Aunosa, em novembro de 1941, que
ele, agindo sob ordens pessoais do marechal Mannerheim, já tinha sido ,
em setembro de 1940, /um dos primeiros a entrar em contacto com o alto
comando alemão com vistas à preparação conjunta de um ataque alemão e
finlandês à União Soviética”.

Em setembro de 1940 foi aprovado um tratado secreto de trânsito
finlandês-alemão e o descarrilamento que seria a operação Barbarossa foi
posto em movimento.

Em 16 de junho de 1941, Mannerheim convocou 16% da população finlandesa
para lutar ao lado da Wehrmacht em preparação para este ataque.

Quando a operação Barbarossa foi lançada oficialmente em 22 de junho de
1941, havia 400.000 tropas finlandesas e alemãs na Finlândia, pois os
aeródromos finlandeses foram entregues aos bombardeiros nazis. O pacto
de Mannerheim com o diabo resultou em vitórias iniciais, pois o seu
sonho de uma “Grande Finlândia”, finalmente ganhou vida quando vastos
territórios de Murmansk ao Lago Onegia  cairam para a ocupação
finlandesa ao longo de 1941-1944. Durante esse período, pessoas de etnia
russa e judeus na Finlândia foram enviados para campos de trabalhos
forçados, onde muitos foram exterminados.

O relatório finlandês de 2019 afirmou: /“As subunidades e homens da
divisão SS Wiking mobilizados durante a marcha para a União Soviética e
a passagem pela Ucrânia e pelo Cáucaso estiveram envolvidos em inúmeras
atrocidades… Os diários e lembranças dos voluntários finlandeses mostram
que praticamente todos eles deviam, desde o início, estar cientes das
atrocidades e massacres”./

À medida que a SS Wiking Division finlandesa avançava pelo oeste da
Ucrânia entre julho e agosto de 1941, mais de 10.000 civis foram mortos
em Lviv e Zhytomyr e mais de 600.000 foram mortos na região desde o
início da operação Barbarossa até março de 1942.

*O estranho caso da suástica duradoura da Finlândia*

Uma palavra agora deve ser dita sobre o peculiar logotipo oficial da
força aérea da Finlândia, criado em 1919, e que durou até 2020, quando
foi retirado de aviões, bandeiras e uniformes (embora ainda mantido nas
paredes da academia da força aérea).

Aqui, estou a referir-me, é claro, à estranha suástica que uma Finlândia
pós-1945 não achou sensato remover dos seus aviões ou uniformes
militares, apesar da queda dos seus aliados nazis.

Sem Título.jpg

Livros de história higienizados são rápidos em dissipar esse estranho
fetiche com um século dizendo que a suástica é uma coincidência total
não tendo nada a ver com os nazis devido ao facto de o partido nazi ter
adotado o símbolo um ano inteiro depois do governo finlandês. No
entanto, como a maioria de nossas narrativas históricas oficiais, esta
também se desfaz à menor pressão.

Segundo a história, o conde da Suécia Eric von Rosen da Suécia legou ao
Exército Branco da Finlândia como presente uma aeronave Thulin Tipo D
decorada com suásticas, em 1918, que caracterizou  a força aérea
finlandesa com a suástica tornando-se o seu logotipo oficial. Como von
Rosen já estava a usar a suástica como emblema pessoal desde a primeira
vez que a viu em ruínas antigas quando frequentava o liceu, conclui-se
que as suásticas militares finlandesas e as suas contrapartes nazis não
poderiam ter nenhuma conexão.

Essa afirmação ignora completamente o facto de que ambos os irmãos von
Rosen, Eric e Clarence, serem aristocratas que orgulhosamente defendiam
a causa nazi, patrocinavam a eugenia sueca através do Instituto Sueco de
Biologia Racial da Universidade de Uppsala (c. 1922), faziam lóbi a
favor de leis de esterilização e apresentavam Hitler à nata da elite da
Suécia. Em 1933, Eric von Rosen tornou-se membro fundador do
Nationalsocialistiska Blocket (também conhecido como “O Partido Nacional
Socialista da Suécia”).

O vigoroso apoio aos nazis (que incluiu a influência de von Rosen sobre
o Enskilda Bank e a SKF da Suécia) também muda a forma como devemos
interpretar o relacionamento próximo que Clarence, Eric e Hugo von Rosen
tiveram com o seu cunhado Hermann Göring, que trabalhou como piloto
pessoal para Eric von Rosen após a Primeira Guerra Mundial.

Foi durante uma estadia prolongada no Castelo Rockelstad de von Rosen,
em 1920, que Göring tomou contacto pela primeira vez com 1) as suásticas
de von Rosen que decoravam o castelo e o pavilhão de caça adjacente, 2)
a paixão de von Rosen pela conservação da natureza que Göring
compartilhava, tornando-se mais tarde o primeiro nazi Ministro da
floresta  e da conservação do Reich na década de 1930 e 3) a cunhada de
Eric von Rosen, Carin von Kantzow, que logo se tornou a esposa de Goring
e apelidada por Hitler de “Primeira Dama do Partido nazi”.

Sem Título.jpg

/Foto de Birgitta, Mary, Hermann Göring e Eric von Rosen em Rockelstad
na Suécia/

 

Eric e Clarence von Rosen eram seguidores de uma seita ocultista chamada
Ariosophism, liderada por um poeta místico obcecado por ruínas chamado
Guido von List, que simplesmente tomou a teosofia^1 de Madame Blavatsky
e  juntou uma  entorse de superioridade racial ariana com um foco
elevado nos mitos de Wotan. Nesta seita, a suástica e outros símbolos
rúnicos^2 como a runa Othala, runa Ehlaz/vida, runas Sig (mais tarde
usadas pela SS) e wolfsangle foram tratadas como imagens sagradas
dotadas de poder mágico.

Guido von List organizou a sua seita num núcleo interno e externo com os
“eleitos” que aprendiam uma interpretação secreta das runas sob uma
sociedade oculta de elite chamada Alta Ordem Armanen, onde o próprio von
List serviu como Grão-Mestre.

Esse arianismo oculto racista com seu objetivo teosófico de infundir o
misticismo hindu e budista numa nova era pós-cristã tornou-se um
fenómeno extremamente popular entre as famílias nobres da Europa durante
esse período. O objetivo era usar uma interpretação perversa do
espiritualismo oriental desprovida de substância e criar uma nova ordem
baseada numa “Era do Aquário”^3 que substituiria a obsoleta “Era dos
Peixes”^3 que representava o obsoleto da razão exemplificado por
Sócrates, Platão e Cristo.

Fora da Alta Ordem Armanen logo cresceu outra organização oculta secreta
chamada Sociedade Thule, que teve Rudolf Hess, Hans Frank, Hermann
Goring, Karl Haushofer e o  mentor de Hitler, Dietrich Eckart, como
membros principais.

*Um facto desconfortável deve agora ser confrontado*

É um facto incómodo da história que esses mesmos poderes que deram
origem ao fascismo nunca foram punidos nos Julgamentos de Nuremberga.
Aqueles industriais e financeiros de Wall Street que forneceram fundos e
suprimentos à Alemanha antes e durante a guerra foram punidos… mas não o
foram os financeiros britânicos do Banco da Inglaterra que garantiram
que os cofres nazis estivessem repletos de saques confiscados à Áustria,
Checoslováquia ou Polónia.

A era do pós-guerra assistiu a uma vasta reorganização de assassinos
fascistas na forma da Operação Gladio orquestrada pela CIA/NATO e
sabemos que Allan Dulles supervisionou diretamente a reintegração do
chefe da inteligência de Hitler, Reinhard Gehlen, na estrutura de
comando da Inteligência da Alemanha Ocidental juntamente com toda a sua
rede. Nazis ucranianos como Stefan Bandera e Mikola Lebed foram
prontamente absorvidos por esse mesmo aparelho onde Bandera trabalhou
com Gehlen, de 1956 até à sua morte em 1958, enquanto Lebed foi
absorvido pela inteligência americana comandando uma organização de
fachada da CIA chamada Prolog.

Como Cynthia Chung descreveu recentemente no seu Sleepwalking into
Fascism/_[_//Marcha Sonâmbula em direção ao//Fascismo//]/, nada menos
que dez ex-nazis de alto nível desfrutaram de vasto poder dentro da
estrutura de comando da NATO durante os anos sombrios da Operação
Gládio^4 . Cynthia escreve: /“De 1957 a 1983, a NATO teve pelo menos um,
senão vários “ex” nazis de alto escalão no comando total de vários
departamentos dentro da NATO… Forças Aliadas da Europa Central – AFCENT
foi uma posição preenchida EXCLUSIVAMENTE por “ex” nazis durante 16
ANOS   SEGUIDOS, de 1967-1983.”/

Durante esses anos, os participantes na operação Gládio organizaram uma
corrente de terrorismo contra a população da Europa usando grupos de
fachada nominalmente 'marxistas' ou realizando ataques a alvos de alto
valor como Dag Hammarskjold, Enrico Mattei, Aldo Moro ou Alfred
Herrhausen quando necessário. Estadistas que não jogaram pelas regras do
Grande Jogo, infelizmente, não  duraram muito neste mundo.

A autoproclamada imagem da NATO como precursora da 'ordem internacional
baseada em regras liberais' é mais do que superficial quando se
consideram as alianças crivadas de nazis que muitos filiados da NATO no
Conselho do Atlântico podem desejar que sejam esquecidas. Esta história
também deve levar-nos a reavaliar as verdadeiras causas para a criação
da NATO em 1949, que serviu como um prego no caixão para a visão de
Franklin Roosevelt de uma aliança EUA-Rússia-China que ele esperava que
moldasse a era pós  Segunda Guerra Mundial.

O crescimento da NATO em torno do perímetro da Rússia desde 1998 e as
atrocidades em massa lideradas pela NATO com os bombardeamentos na
Bósnia, Afeganistão e Líbia também devem ser reavaliados tendo em mente
esta ascendência nazi.

Por que razão a NATO postou imagens de um soldado ucraniano claramente
brandindo um sol negro do ocultismo da sociedade Thule no seu uniforme
em homenagem ao 'Dia da Mulher' este ano? Por que razão os nazis
ucranianos ativos estão a servir nos batalhões   Aidar e Azov sendo
sistematicamente encobertos pelos meios de propaganda da NATO ou pela
grande média, apesar dos casos comprovados de atrocidades em massa no
leste de Donbass desde 2014? Por que é que os movimentos nazis estão a
ter um grande renascimento em todo o espaço do Leste Europeu -
especialmente nos países que estão sob a influência da NATO desde o
colapso da União Soviética?

É possível que a guerra que pensávamos que os aliados venceram em 1945
fosse apenas uma batalha dentro de uma guerra maior pela civilização
cujo resultado ainda está para ser visto? Certamente os patriotas da
Finlândia e da Suécia devem pensar muito profundamente sobre as
tradições sombrias que correm o risco de serem revividas quando se
juntam a uma nova Operação Barbarossa no século XXI.

(O autor fez recentemente uma apresentação sobre este tema que pode ser
vista aqui.
<https://canadianpatriot.org/2022/05/19/the-great-game-this-week-nazi-skeletons-in-finlands-closet/>)

^1  Teosofia. Doutrina religiosa que tem por objeto a união com a
divindade    

^2 . Runa: cada um dos carateres dos mais antigos alfabetos germânicos e
escandinavos. Escrita que utiliza esses  carateres.

 

^3  Da astrologia. Designação de setores do zodíaco

 

^4  Ver artigo publicado por “Pelo Socialismo  em:
https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/search?q=Cynthia+Chung&x=9&y=4
<https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/search?q=Cynthia+Chung&x=9&y=4>.

Fonte:
https://www.strategic-culture.org/news/2022/06/02/why-is-it-so-hard-finnish-nazism-nato-growing-suicide-pact-threatens-to-light-the-world-on-fire/ <https://www.strategic-culture.org/news/2022/06/02/why-is-it-so-hard-finnish-nazism-nato-growing-suicide-pact-threatens-to-light-the-world-on-fire/>, publicado e acedido em 02.06.22

Em
PELO SOCIALISMO
https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/porque-e-tao-dificil-acabar-com-o-201979
18/6/2022

quarta-feira, 15 de junho de 2022

PAX Americana

 

 

// Rui Namorado Rosa

Este artigo vai fazer vinte anos. Mas o que formula poderá contribuir
para interpretar o percurso do que acontece agora, e recordar vários
seus antecedentes. Quando proliferam os mais inconsistentes
«especialistas» em tudo e mais alguma coisa, e em particular em
geopolítica, textos como este ajudam a colocar as coisas na devida
perspectiva. Não é só o estudo sério dos complexos problemas do mundo de
hoje que é indispensável, é-o ainda mais o estudo que se fundamente em
pensamento e análise marxista.

O sistema político mundial revela o actual domínio da estrutura
capitalista imperialista. Há uma divisão essencial entre essa poderosa
estrutura e o resto do mundo, que é objecto de activa exploração. O
sistema capitalista é agora caracterizado pelo mercado financeiro
mundial e pelas corporações transnacionais em constante crescimento e
mudança. Pelo contrário, os Estados-nação estão agora em segundo plano,
preocupando-se cada vez menos com o bem-estar e os direitos políticos
dos seus cidadãos, os seus governos tendo rendido os seus poderes e
direitos a organismos internacionais, que não prestam contas perante os
povos.
É verdade que os EUA aparecem como a face do imperialismo actual, mas os
EUA não são sinónimo de imperialismo. Claro que desempenham, juntamente
com a NATO, o importante papel de principal potência diplomática e
militar ao serviço do imperialismo; bem como, através do FMI/BM e da
OMC, o papel de corretor principal de assuntos financeiros, económicos e
comerciais. Mas seria enganoso, para aqueles que desejam entender o
funcionamento ou reverter o curso do sistema imperialista, concentrar
demasiada atenção nos EUA como se fossem a fonte ou o chefe do sistema
capitalista. A União Europeia também desempenha um papel importante no
mesmo processo, sendo activa na desarticulação de Estados
multinacionais, reunindo países independentes numa federação cada vez
maior sob órgãos governamentais supranacionais não representativos,
submetendo-os às regulamentações de uma economia de mercado uniforme e
desprovida de coesão social. EUA, UE, Rússia, Japão são figurados como
centros de um sistema capitalista mundial multipolar, o que de facto
são; em num primeiro nível de observação, eles têm interesses
contraditórios e estão desse modo em conflito; mas num segundo nível de
observação eles partilham profundos interesses comuns e um mesmo destino
final; o mais relevante é serem partes cooperantes do mesmo sistema mundial.
A ascensão do capitalismo tem sido continuamente enraizada na indústria
militar e em efectiva guerra violenta em todo o mundo. Os últimos dois
séculos estão repletos de milhões de cadáveres, miséria e danos
resultantes de conflitos de grande escala, liderados pelas principais
potências políticas, e guerras de “pequena escala” ou “regionais” por
recursos. Após a rendição do bloco socialista na Guerra Fria, não foi o
fim da história que se seguiu; em vez disso, a marcha imperialista foi
rapidamente reatada com menores impedimentos. Na última década do século
XX, o mundo teve que suportar a Guerra do Golfo, a Guerra dos Balcãs, o
conflito permanente no Médio Oriente, algumas guerras por recursos na
África Central e outros conflitos na Ásia e na América Latina. E na
medida em que a essência do capitalismo não tem a ver com confrontos
nacionais, mas com contradições de classe, as suas desigualdades residem
também no interior dos países mais ricos.
Os EUA são ainda a potência hegemónica no sistema mundial, mas hoje em
evidente declínio. A Pax Americana, que marcou a história do mundo
durante a maior parte do século XX, está a chegar ao fim, tal como a Pax
Britannica dominou a maior parte do século XIX para ser substituída pela
primeira. Qual será o resultado é uma questão em aberto sobre a qual
somos chamados a pensar e a agir.

*As ondas económicas longas de Kondratieff*

Ondas económicas longas ou ondas ou ciclos de Kondratieff é um fenómeno
económico observado em dados macroeconómicos empíricos (como produção,
preços e dívida), proposto pela primeira vez pelo russo-soviético
Nikolai Kondratieff na década de 1920 e posteriormente desenvolvido por
Joseph Schumpeter, um economista austríaco de linha neopositivista que
emigrou para os EUA na década de 1930; este autor identificou quatro
fases na onda e introduziu mecanismos tecnológicos e sociais na sua
interpretação. Outras manifestações do fenómeno e reflexões foram
adicionadas posteriormente à teoria desenvolvida por Schumpeter. Foram
apontadas a diferenciação e dessincronização na incidência da onda longa
no centro e na periferia do sistema mundial, o enraizamento geográfico e
a multipolaridade do mecanismo de impulso económico e as manifestações
sectoriais diferenciadas. A combinação de crescimento da produção, de
preços e de ciclos de dívida, com sete anos de desfasamento, foi
proposta para conduzir a uma onda longa de seis fases (François-Xavier
Chevallier); e foi objecto de hipótese a evolução autónoma de longo
prazo da actividade de produção e do nível de preços (Henry Lepage) para
levar a configurações adicionais de fases individuais (Henry Lepage, Le
cinquième Kondratieff /La crise est finie (…ou presque), 1998,
http://www.euro92.org/edi/biblio/cyclekc.htm). Muitos desses
desenvolvimentos são hoje conhecidos como a escola Schumpeter e a
Economia Evolucionária, entre as muitas escolas de pensamento da
economia actual.
Na década de 1970, quando se iniciou a fase de estagflação da actual
onda longa, o interesse na onda Kondratieff renovou-se com a provável
justificação de interpretar os tempos difíceis e “prever” a sua saída.
As ondas económicas tornaram-se cada vez mais objecto de estudo (e
também de especulação) do ponto de vista da “gestão” dos ciclos de
negócios (Wally Bently, Cycles, Gold-Eagle, 2002,
http://www.gold-eagle.com/editorials_02/wallybently040502pv.html).
Em sentido oposto, as ondas de Kondratieff foram tomadas como unidades
básicas para formular grandes interpretações da respiração de fenómenos
políticos globais e históricos de longo alcance (George Modelski, The
Evolutionary world Politics Homepage,
http://faculty.washington.edu/modelski/; Immanuel Wallerstein, Fernand
Braudel Center, http://www.binghamton.edu/fbc/index.htm, Jean Zin, Les
Cycles du Capital, Écologie Révolutionnaire,
http://perso.wanadoo.fr/marxiens/politic/capital.htm, etc).
Estamos hoje a passar pelo último estágio – depressão – do quarto ciclo
de Kondratieff. Depressão, recessão, deflação estão lá; e a crise está a
arrastar-se. Deveríamos interrogar-nos sobre o que vem a seguir. Como
irá realmente evoluir a onda longa? Nos cenários prospectivos, que
potência económica pode tornar-se hegemónica, ou qual pode deter um
poder hegemónico multipolar? O ciclo económico de ondas longas não é uma
necessidade histórica; até onde podemos apurar, é um fenómeno observado
numa determinada formação social e de produção económica, o capitalismo.
Irá isso prevalecer na sua actual ou futura forma?
Em paralelo com o renovado interesse de investigação sobre os fenómenos
de ondas longas económicas e de hierarquia superior, houve também uma
influência dominante dos conceitos e teorias emergentes das ciências
exactas e naturais e da engenharia nas ciências sociais. Novas
categorias de fenómenos e novas teorias oriundas das “ciências duras”,
como teoria da informação, cibernética, catástrofes, caos, comportamento
cooperativo, emergência etc. entraram daí em diante no discurso das
ciências políticas, económicas e sociais. Estas analogias podem
revelar-se inspiradoras e eficazes em vários campos, desde que a
“análise fundamental” e a “análise técnica” de cada campo particular do
conhecimento permaneça no comando.

*Recursos energéticos*

As fontes primárias de energia (como carvão, petróleo, gás natural e
urânio) e as infraestruturas associadas à conversão e ao transporte das
formas de energia derivadas para uso final (transportadores de energia,
como gasolina e electricidade) apresentam tendências regulares de longo
prazo que, por escala de tempo ou por sincronização, parecem
correlacionadas com os ciclos de Kondratieff. (Cesare Marchetti, On
Decarbonization: Historically and Perspectively, International Institute
for Applied Systems, Analysis, Laxenburg, Áustria, Preparado para OCDE,
Paris 2-3 de utubro de 2000).
Na situação actual, devemos necessariamente referir entre as grandes
infraestruturas energéticas as infraestruturas de transporte. Mas as
infraestruturas mais específicas são as refinarias de petróleo para a
produção de combustíveis e matérias-primas químicas e as grandes e
pequenas centrais eléctricas para geração de electricidade; grandes
redes de condutas para combustíveis líquidos e gasosos e redes de
energia eléctrica foram construídas para o fornecimento de energia a
grandes cidades e centros industriais e sobre extensos territórios.
Todas essas estruturas materiais exibem um perfil de ascenção e
declínio, à medida que as fontes de energia primária ou os
transportadores de energia ou as tecnologias de conversão são
substituídas ao longo do tempo. A produção mundial de carvão atingiu o
pico por volta de 1930 e a produção de petróleo está agora a atingir o
pico; a produção de gás natural tem progredido com cerca de vinte anos
de atraso em relação ao petróleo e deve atingir o pico dentro de cerca
de vinte anos; a energia nuclear tem progredido com mais de meio século
de atraso relativamente ao gás natural, mas os seus recursos são
consideravelmente maiores do que os de petróleo ou gás.
O actual pico na capacidade de produção de petróleo convencional está a
impor uma pressão sobre o fornecimento de energia, com particular
incidência sobre os combustíveis líquidos (ASPO, Proceedings of the
International Workshop on Oil Depletion, Uppsala, Suécia, 23-25 de maio
de 2002, http://www.isv.uu.se/iwood2002/iwood2002procceding.html). O
recurso a fontes energéticas diversificadas e a melhoria da utilização
da energia (eficiência) são as principais medidas de política formuladas
pela Agência Internacional de Energia, desde a sua criação, na sequência
das crises petrolíferas dos anos 70. Mas está a tornar-se cada vez mais
óbvio que as medidas políticas tomadas até agora são insuficientes, viz
a viz o declínio iminente da oferta de petróleo. Esta situação denuncia
as secretivas políticas no que diz respeito à disponibilidade de
recursos adoptadas durante muito tempo tanto pela indústria petrolífera
como pelos países industrializados. Isso é sintomático da incapacidade
do sistema capitalista e dos seus modelos económicos de lidar
adequadamente com o meio ambiente, os recursos naturais, e em particular
com os que são exauríveis, como factores de produção. A maioria das
reservas de petróleo bruto e a sua capacidade variável de produção estão
em grande parte nas mãos da OPEP, cuja maioria dos membros são países do
Golfo Pérsico; outros importantes países produtores estão no Golfo da
Guiné (incluindo a Nigéria, membro da OPEP), no Golfo do México
(incluindo Venezuela, membro da OPEP) e Sudeste Asiático (incluindo
Indonésia, membro da OPEP); esta é uma geografia de conflito real ou
potencial para guerras por recursos.

*Os EUA como potência mundial hegemónica *

Dado o papel de vanguarda dos EUA, dever-se-ia indagar as razões pelas
quais está no momento a agir como está no cenário mundial. Temos que
olhar para os Estados Unidos como a potência hegemónica no
sistema-mundo, agora no início do seu declínio. A sua ascensão teve
início na depressão económica de 1873-1883, quando os EUA e a Alemanha
se posicionaram como sucessores do Reino Unido, que já então começava o
seu declínio enquanto potência mundial hegemónica. A ascensão dos EUA
foi desde então até ao fim da Segunda Guerra Mundial, com a derrota da
Alemanha numa longa “guerra de trinta anos” que durou de 1914 a 1945
(Immanuel Wallerstein, Comentário No. 99, 15 de Outubro, 2002, The The
U.S.-Iraqi War, Seen from the longue durée,
http://www.binghamton.edu/fbc/commentr.htm). O período de 1940 até 1973
foi um período de prosperidade económica do sistema capitalista, sob a
hegemonia mundial dos EUA. No decurso desse período, os EUA mantiveram
uma das maiores produtividades e alcançaram um dos maiores produtos per
capita do mundo. Para tanto, também dominou as forças armadas mundiais,
com o auxílio de alianças político-militares com as outras potências
económicas da época (OTAN, ASEAN) e um acordo de status quo com seu
único rival militar - a URSS (acordos de Yalta). A hegemonia diplomática
e militar foi sustentada pelo complexo militar-industrial (com ênfase na
telecomunicação, ciências e tecnologias aeroespaciais e nucleares);
deste modo, esses sectores industriais adquiriram uma influência
económica e política primordial desde então.
Este estado de coisas foi alterado devido a uma série de factores.
Primeiro, a ascensão económica da Europa Ocidental (e a sua união
política) e do Japão na década de 1960, que transformaram o
sistema-mundo numa estrutura económica mais multipolar e acabou com a
esmagadora superioridade económica dos EUA. Em segundo lugar, os EUA
depararam com o relativo sucesso das políticas “desenvolvimentistas” em
grande parte do resto do mundo, cujo objectivo era restringir a
capacidade dos países do centro de acumular capital à custa dos situados
na periferia do sistema capitalista. Na década de 1970 houve a “década
do desenvolvimento”, a busca por uma “nova ordem económica
internacional”, os dois choques do preço do petróleo da OPEP. Tudo isso
foi obra dos movimentos anticolonialistas e de libertação nacional e do
movimento dos países não alinhados, que estabeleceram resistência
organizada e forçaram mudanças nas regras fora do núcleo central do
sistema capitalista. Estes tinham sido alcançados com o decisivo apoio
diplomático e económico do sistema socialista; e alguns países como
China, Índia, Vietname e Cuba tiveram um papel muito importante nesse
sentido; o nacionalismo árabe também ajudou pela sua própria acção e por
meio da influente OPEP (criada em 1960). Nessa mesma altura, a derrota
dos EUA na guerra do Vietname não foi apenas um desastre militar;
desferiu também um grande golpe na capacidade dos EUA de permanecerem
como potência económica dominante do mundo; o conflito foi extremamente
dispendioso e esgotou as reservas de ouro dos EUA que tinham sido
abundantes desde 1945, e num momento em que a Europa Ocidental e o Japão
experimentavam grandes avanços económicos (Immanuel Wallerstein, The
Eagle Has Crash Landed, Foreign Policy July/Agosto 2002,
http://www.foreignpolicy.com/issue_julyaug_2002/wallerstein.html). Essas
diferentes mudanças minaram o poder dos EUA de continuar a impor a sua
versão da ordem mundial e determinaram o declínio da sua capacidade de
acumular lucros monopolistas.
A história dos EUA desde o início dos anos 1970 até hoje é uma batalha
para desacelerar o declínio geopolítico no contexto de estagnação e
recessão econômica mundial (estagflação e depressão). Um contra-ataque
foi lançado (Immanuel Wallerstein, America and the World: The Twin
Towers as Metaphor, Social Science Research Council, 5 de dezembro de
2001, http://www.ssrc.org/sept11/essays/wallerstein.htm). O FMI-BM não
podia mais ir além do que havia alcançado até agora para preencher a
agenda imperialista; a Comissão Trilateral, as reuniões do G-8, o Fórum
Econômico Mundial, as reuniões de Davos e outras foram criadas e o GATT
foi transformado na Organização Mundial do Comércio; essencialmente,
essas iniciativas visavam evitar que os diferentes centros capitalistas
mundiais se afastassem do controle dos EUA. O neoliberalismo foi
anunciado como a ferramenta ideológica e o conceito de globalização foi
difundido, com o intuito de conter o surgimento da periferia contra o
centro do sistema capitalista e a ameaça velada de sua ruína. A OTAN foi
remodelada, mas sua funcionalidade diminuiu; antiproliferação, guerra
preventiva e outras doutrinas foram introduzidas para remediar o
inevitável declínio militar. Nas décadas de 1980 e 1990, a
contra-ofensiva liderada pelos EUA parecia ter sucesso; mas se
avaliarmos o sucesso de todos esses esforços, percebemos que eles
reduziram a velocidade do declínio dos EUA no cenário mundial, mas não
impediram que ocorresse.
Com o início do declínio dos EUA dentro do sistema capitalista mundial,
as prioridades internas mudaram do bem-estar social para o bem-estar das
corporações. A persistente negligência e o vacilante investimento em
infraestrutura pública, em serviços de saúde e educação, em programas de
formação e emprego, em protecção ambiental e saúde pública, colocam
continuados riscos à população. O custo de restaurar a há muito
negligenciada infraestrutura física orçaria em US$ 2 milhões de milhões
(Dimitri Papadimitriou e L. Randall Wray, Are we all Keynesians
(Again)?, The Levy Economics Institute, 2001,
http://www.levy.org/docs/pn/01-10.html). No entanto, o governo manteve
sempre um forte envolvimento nas esferas sociais e económicas em
benefício das camadas sociais mais altas, sob o disfarce de defesa da
pátria, capacidade militar, segurança, bem-estar corporativo, retórica
patriótica, conduzindo assim ferozes políticas de classe. Isto seria em
breve levado muito mais longe, como será visto a seguir.
Os falcões ou o partido da guerra nos EUA nunca estiveram no poder
político entre 1941 e 2001. Para eles, o declínio dos EUA é real, mas
interpretam a causa desse declínio como vontade fraca e políticas
equivocadas. «Acreditam que o poder potencial dos EUA é imbatível desde
que seja exercido. Não são unilateralistas por defeito, mas
unilateralistas por preferência. Acreditam que o unilateralismo é em si
uma demonstração de poder e um reforço de poder» (Immanuel Wallerstein,
Commentary No. 97, September 15, 2002, 9/11, One Year Later,
http://www.binghamton.edu/fbc/commentr.htm). Após os acontecimentos de 9
de Setembro de 2001, os falcões tiveram a oportunidade de tomar o poder
em Washington.
A implementação do programa do partido de guerra pelo presidente Bush
foi dupla. Internacionalmente, o governo procurou e conseguiu criar uma
ampla coligação diplomática e militar para a “guerra ao terror” e, de
facto, os EUA invadiram o Afeganistão para derrubar o regime talibã e
supostamente destruir a Al-Qaeda; no processo, várias bases militares
foram instaladas na região do Cáspio. Internamente, o governo procurou
impor medidas drásticas de segurança, principalmente através da
aprovação quase unânime pelo Congresso do Patriot Act. Isso conferiu
poderes sem precedentes ao governo dos EUA na superação de obstáculos
legais aos seus propósitos. Tribunais militares podem agora ser
convocados pelo Presidente com regras a serem estabelecidas por ele,
tribunais que funcionarão em sigilo, sem direito de recurso, podendo
proceder rapidamente a uma conclusão, incluindo pena de morte,
possivelmente também concretizada em segredo. (Immanuel Wallerstein,
America and the World: The Twin Towers as Metaphor, Social Science
Research Council, 5 de Dezembro de 2001,
http://www.ssrc.org/sept11/essays/wallerstein.htm). O novo Departamento
de Segurança Interna é a maior reorganização do governo desde 1947;
aspectos vitais da Lei de Liberdade de Informação foram eliminados; foi
criado um programa de “conhecimento total da informação” dentro do
Departamento de Defesa; o conceito de terrorismo foi completamente
redefinido. Um “golpe de estado” constitucional foi realizado com
presteza após o ataque terrorista, sob o consentimento da maioria.
A actual agressividade das políticas internacionais dos EUA, por um
lado, e, por outro, o drástico recuo relativamente às tradicionais
liberdades civis dos seus cidadãos, denotam o reconhecimento implícito
do persistente declínio de sua influência como potência hegemónica. O
autoritarismo extremo e a violência são vistos por observadores
independentes como uma escolha de último recurso. No entanto, os EUA não
podem contar incondicionalmente senão com alguns aliados, não podem
contar com o seu próprio povo para morrer em campos de batalha no
exterior e já não podem manter várias frentes de guerra ao mesmo tempo,
apesar do seu poderio militar, devido a limitações económicas.

«Na conjuntura actual, a ordem económica existente como um todo está a
ser minada pelo conflito que emergiu entre a procura contínua do capital
de expandir a sua base de mais-valia disponível e as lutas políticas que
resultaram dessa procura.
É importante considerar a chamada ‘guerra ao terrorismo’ no contexto da
actual crise financeira porque, em essência, a guerra dos EUA contra o
mundo é uma tentativa da sua classe dominante de se apropriar de
recursos e mercados que de outra forma lhe seriam negados pelo ‘mercado
livre’. Basicamente, a economia dos EUA está à beira de um colapso
catastrófico e, para evitar essa realidade iminente, os EUA pretendem
apropriar-se dos recursos de petróleo e gás da Ásia Central e inserir-se
entre a emergente UE e blocos económicos do Leste Asiático. Além disso,
visa reorganizar as relações de produção tal como existem actualmente na
economia global, de modo a permitir uma exploração mais eficiente e
incontestada.» (Centro de Pesquisa Cooperativa, The current Financial
Crisis, 2002,
http://www.cooperativeresearch.org/the_current_financial_crisis.htm).

*Guerras por recursos*

Desde os tempos pré-coloniais as matérias-primas eram objecto de
transação comercial. Com o início da revolução industrial no final do
século XVIII, os impérios coloniais capitalistas configuraram-se como
redes para a colecta de recursos naturais (e de força de trabalho quando
necessário) e como entrepostos para a exportação de bens produzidos em
massa por parte das potências coloniais industrializadas. O capitalismo
de hoje não é diferente nos seus propósitos, embora seja diferente nos
seus meios. Desde então, em numerosos países do mundo menos
desenvolvido, os recursos naturais são motivo de conflitos armados, seja
por atraírem grupos predatórios que procuram controlá-los, seja
financiando guerras iniciadas devido a outros factores regionais,
alimentando desse modo as necessidades materiais, já não dos países
industrializados, mas sim das corporações transnacionais.
Exemplos proeminentes incluem Serra Leoa, Angola, República Democrática
do Congo, Sudão e Afeganistão. Conflitos armados eclodiram também em
vários países para abrir caminho para projetos de mineração e extracção
de madeira - petróleo na Colômbia e na Nigéria, madeira e gás natural na
Indonésia e cobre na Papua Nova Guiné. Misturadas com as guerras de
recursos, outras “oportunidades de negócios” criminosas se desdobram e
estão geralmente associadas com elas, como negócios de armas e tráfico
de drogas, ou seja, miséria cada vez maior.
Governos corruptos, rebeldes, e senhores da guerra ganharam pelo menos
US$ 12 mil milhões vendendo mercadorias de conflito e usaram o dinheiro
para se armar e servir os propósitos de quem lhes orienta os negócios. O
custo humano desses conflitos tem sido extraordinariamente pesado - mais
de 5 milhões de pessoas mortas durante a década de 1990, cerca de 20
milhões expulsas das suas casas e danos ambientais consideráveis em
áreas muitas vezes sensíveis (Michael Renner, The Anatomy of Resource
Wars, Outubro 2002). Claro, esses US$ 12 mil milhões são apenas um custo
acessório para as corporações que compraram esses serviços de guerra.
Receitas muito maiores para as corporações interessadas deverão ter
resultado de tais custos de “serviços de guerra”, bem como das
“oportunidades colaterais de negócios”.

De entre as mercadorias das quais se alimenta o poder económico e
político do sistema capitalista mundial, o petróleo bruto é de
importância central. Pela sua escassez, pelos seus múltiplos, essenciais
e específicos usos finais e pelos enormes lucros e impostos
proporcionados pelo seu comércio. No período 1996-2000, a média anual de
impostos sobre o petróleo arrecadados pelos governos do G7 (EUA, Canadá,
França, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha e Japão) foi de US$ 270 mil
milhões; e a receita média anual de vendas de petróleo obtida pela OPEP
foi de US$ 170 mil milhões. O preço da gasolina para os consumidores
varia significativamente, de menos de US$ 0,5 por litro nos EUA e Canadá
a mais de US$ 1 por litro na UE; isso não se deve às diferenças de custo
do petróleo bruto, mas à grande variação dos impostos aplicados sobre os
seus destilados; a margem da indústria petrolífera, incluindo o seguro
de transporte, varia, mas em menor grau, sendo comparável ao preço do
petróleo bruto (FOB) que paga o custo de extração. A grande diferença
reside nos impostos governamentais, que são muito altos na UE; esses
governos arrecadam de impostos três a quatro vezes a quantia que os
países produtores recebem pela venda do seu petróleo; na América do
Norte os dois valores são comparáveis (Divisão de Investigação, OPEP,
Viena, Áustria, 2001). As empresas transnacionais de petróleo são
remuneradas pelo preço do petróleo bruto, onde detêm participação na
etapa de extração (portanto, não nos países onde a indústria petrolífera
é nacionalizada, como Irão e Venezuela) mais o transporte (seja por
oleoduto ou por frota de petroleiros) mais os preços de destilação e de
entrega. Tal como acontece com todas as outras mercadorias, o preço
final é muito superior ao preço pago pela matéria-prima.
Não é de admirar que as potências capitalistas financiem guerras por
recursos e estejam prontas a enviar os seus próprios exércitos para se
apossar de fontes de matérias-primas quando acharem conveniente. No
primeiro caso, pela camuflagem silenciosa das suas malfeitorias; e no
segundo caso por meio de repetidas mentiras e retórica doutrinadora, com
as quais enganam e “mobilizam” os seus povos, para os seus secretos
propósitos criminosos.

*O ataque ao Afeganistão e além dele*

A expedita acção militar dos EUA no Afeganistão após o ataque terrorista
de 11 de Setembro de 2001 parece sintomática da existência de um
ambicioso plano para controlar os recursos petrolíferos em todo o mundo.
«A actual ‘guerra ao terrorismo’ liderada pelos EUA está
convenientemente a resultar no estabelecimento de várias bases militares
dos EUA na Ásia Central e arredores. Este fenómeno em curso coincide com
um plano estratégico de longo prazo que foi delineado por Zbigniew
Brzezinski no seu livro de 1997, The Grande Chessboard. Nesta muito
reveladora publicação, o ex-assessor de segurança nacional argumentou
que o controlo dos EUA na Ásia Central é essencial para o seu objectivo
de longo prazo de manter a hegemonia global (…) Os principais actores
são Rússia, China, Irão e EUA, mas todas as nações na área circundante e
muitos além têm uma participação no jogo. O ‘novo grande jogo’
desempenha um papel muito significativo na assim chamada estratégia do
‘grande tabuleiro de xadrez’, cujo objectivo é aumentar a hegemonia
global dos EUA, ganhando o controlo dos recursos da Ásia Central e
impedindo a ascensão ao poder de outros Estados concorrentes –
nomeadamente a Rússia, a China, os Estados Árabes e a União Europeia.
Todavia, o ‘novo grande jogo’ é mais complicado do que apenas uma
simples corrida de pipelines; pelo contrário, é uma luta que envolve
interesses geopolíticos concorrentes, forças de mercado, um sistema
financeiro em rápida deterioração e operações secretas de terrorismo e
sabotagem. Antes da “guerra ao terrorismo”, parecia que a Rússia estava
à frente dos EUA neste “jogo” porque havia construído com sucesso vários
oleodutos ao longo das suas rotas preferidas. Se a Rússia tivesse
conseguido controlar uma percentagem significativa da distribuição de
petróleo e gás da Bacia do Cáspio, o plano dos EUA de manter e aumentar
a sua hegemonia global poderia ter sido severamente prejudicado. No
entanto, desde o 11 de Setembro, o cenário geopolítico sofreu mudanças
dramáticas. Por um lado, os EUA obtiveram ganhos dramáticos no jogo sob
a capa da “guerra ao terrorismo” ao estabelecerem numerosas bases
militares na Ásia Central. Outra mudança é a aparente convergência de
interesses dos EUA e da Rússia. Desde 11 de Setembro, houve várias
indicações de que a Rússia e os EUA podem cooperar no desenvolvimento
das reservas de petróleo e gás do Mar Cáspio» (Center for Cooperative
Research, Oil Industry Interests, 2002,
http://www.cooperativeresearch.org/Oil%20Industry%20Interests.htm).
Efectivamente, a guerra no Afeganistão foi acompanhada pelo
posicionamento de forças militares norte-americanas em toda a Ásia
Central rica em petróleo e seguida pelos preparativos para a agressão
norte-americana contra o Iraque, possuidor das segundas maiores reservas
de petróleo do mundo. Além disso, a guerra no Afeganistão coincidiu com
uma intensificação constante da pressão política dos EUA sobre a Arábia
Saudita, o maior exportador de petróleo do mundo. Depois, assistiu-se a
uma tentativa de golpe apoiada pelos EUA na Venezuela e ao reforço do
apoio militar na Colômbia, os dois mais importantes fornecedores
sul-americanos de petróleo para o mercado norte-americano. E no último
semestre de 2002, assistiu-se a missões diplomáticas e militares a
vários países da África Ocidental, tendo em vista a concretização de um
plano, apresentado pelo Africa Policy Initiative Group (AOPIG) no
Congresso dos EUA, para o controlo dos recursos na região do Golfo da
Guiné, que inclui a assistência à resolução de algumas disputas
territoriais sobre o território petrolífero, o investimento em
infra-estruturas energéticas como o oleoduto Chade a Camarões de 3,7 mil
milhões de dólares e, por último mas não menos importante, a instalação
de uma Base aeronaval norte-americana em São Tomé e Príncipe (François
Misser, Militarization du Golf de Guinée, Demain Le Monde n.º 69-70,
Décembre 2002- Janvier 2003). Nenhum desses episódios pode ser
devidamente entendido sem os considerar no âmbito da política geral
norte-americana de procurar dominar o mercado do recurso mais importante
e estratégico do mundo, o petróleo.
Uma segunda Guerra do Golfo aparece como um iluminado desígnio imperial.
O atentado terrorista de 11 de Setembro em território norte-americano
funcionou como mero gatilho para o ataque interno aos direitos
constitucionais, que foi imediatamente realizado, e para uma guerra
ultramarina na Ásia Central, que aguardava apenas uma oportunidade para
acontecer.
Os EUA abrigam um influente complexo militar-industrial desenvolvido
desde a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial, e novamente
impulsionado durante a Guerra Fria. Agora, a Guerra ao Terrorismo cumpre
o papel de inimigo externo que o governo norte-americano requer para
justificar a sua retórica patriótica para o aniquilamento de
consciências críticas e a cobrança de impostos extra para arrecadar
receitas públicas que irão depois alimentar as corporações privadas do
complexo industrial-militar, que fornecerá novas inovações em armamento
a qualquer preço e, posteriormente, lucrará ainda mais com a venda de
“spin offs” civis vendidos aos consumidores.

*A ameaça de uma segunda guerra do Golfo*

Os acontecimentos de 11 de Setembro foram, portanto, um mero gatilho
para lançar um grande plano diplomático e militar, já elaborado, visando
desmantelar a emergente comunidade de estados muçulmanos na Ásia Central
e reduzir a influência diplomática e económica da Rússia na região então
em recuperação e em obter o controlo sobre as reservas de petróleo e gás
na bacia do Mar Cáspio. Este poderia conter cerca de 15% das reservas
mundiais de petróleo, mas os relatórios da CIA e até do US Geological
Survey pretendiam exagerar essas riquezas. A rápida acção tomada pelo
governo dos EUA granjeou amplo apoio oficial na época, muito
provavelmente oportunista, que desde então se vem esvaindo. Mas,
entretanto, os EUA tiveram tempo para estabelecer algumas alianças
militares e algumas bases militares na região, e melhorar a sua posição
negocial para a extracção e transporte de petróleo e gás da bacia do Cáspio.
As contradições entre as potências capitalistas, e destas com outros
países, pelo controlo ou pelo menos o acesso ao abastecimento de fontes
de energia escassas, não podem ser adiadas e escondidas por muito tempo,
tanto mais que a tomada de consciência sobre o iminente declínio na
disponibilidade de petróleo vem crescentemente sendo reconhecido.
Importantes países das proximidades, cuja procura prospectiva é enorme,
nomeadamente a China e a Índia, e o Japão, que é hoje um dos centros do
sistema capitalista, têm interesses e argumentos próprios que os EUA não
se podem dar ao luxo de ignorar abertamente.
A situação real é ainda mais complicada pela circunstância de que o Mar
Cáspio e o Golfo Pérsico são duas regiões não apenas próximas uma da
outra, mas também intimamente relacionadas e interdependentes do ponto
de vista cultural e estratégico. Outro ponto importante para mudanças de
estados de espírito são as identidades dos países árabes, muçulmanos e
islâmicos, que foram prejudicados em todo o processo, a um preço que os
seus colaborativos respectivos governos pagam perante as suas opiniões
públicas.

«A propensão da administração Bush para a acção unilateral emergiu antes
de 11 de Setembro, e aquele acontecimento serviu apenas para a
encorajar. Reflectindo essa tendência geral foi a azeda e petulante
retirada do acordo de Kyoto sobre alterações climáticas, a maníaca
oposição ao Tribunal Penal Internacional, o abandono do Tratado de
Mísseis Antibalísticos e outros acordos de controlo de armas e – mais
surpreendentemente, à luz do compromisso declarado do presidente com o
livre comércio – a imposição de altas tarifas sobre o aço. Mas a
propensão para medidas unilaterais foi marcada sobretudo na condução da
guerra ao terrorismo e na doutrina estratégica que emergiu no seu
decurso. Essa doutrina prevê que os Estados Unidos tenham carta branca
para agir em nome das exigências percepcionadas do seu interesse
nacional e da segurança internacional. Mesmo quando o governo se
aproxima das instituições internacionais, como fez nas suas solicitações
de Setembro de 2002 ao Conselho de Segurança da ONU, fá-lo com a reserva
explícita de que tem em qualquer caso a intenção seguir o rumo
escolhido, impugnando dessa forma a autoridade do conselho no próprio
apelo que lhe dirige” (David Hendrickson, The Course of Empire, World
Policy Journal, outono de 2002).

O mundo depara-se com a ameaça de uma segunda Guerra do Golfo. A longo
prazo, os estrategas de guerra veem isso como um meio de trazer o Iraque
e, eventualmente, todo o mundo árabe para uma “democracia” estável num
sistema de mercado aberto. James Woolsey, ex-director da CIA, declarou
ao The Atlantic Monthly: «… se der atenção aquilo que nós e os nossos
aliados realizámos com as três guerras mundiais do século XX – duas
quentes e uma fria – e aquilo que fizemos nos interstícios, já o
conseguimos em dois terços do mundo. Há oitenta e cinco anos, quando
entramos na Primeira Guerra Mundial, havia oito ou dez democracias nessa
altura. Agora é à volta de cento e vinte (…). Se olharmos para o que
aconteceu em menos de um século, então fazer com que o mundo árabe e o
Irão se movam na mesma direcção parece muito menos impressionante. Não é
a americanização o mundo. É atenizá-lo (torná-lo Atenas). E isso é
factível.»
Percebe-se a óbvia postura do partido da guerra na administração dos
EUA: eles são o braço armado do imperialismo em nome da democracia e do
livre mercado. Daqui também se vê, ainda não é o fim da história como
clamava Francis Fukoyama, mas é a continuação do mesmo percurso
histórico, ainda inacabado, e sempre pelos mesmos meios. Não em nome de
Deus ou da justiça ou da liberdade, igualdade e fraternidade; antes em
nome da democracia (estilo ateniense) e do livre mercado (não da
humanidade livre) (James Fallows, The fifty-first state?, The Atlantic
Monthly, Novembro de 2002).

*Os recursos petrolíferos do Iraque e do Irão*

Mas o epicentro do plano imperialista mundial está neste momento no
Iraque. Um artigo publicado na primeira página do Washington Post, “In
Iraqi War Scenario, Oil Is Key Issue: U.S. Drillers Eye Huge Petroleum
Pool”, 15 de Setembro de 2002,
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/articles/A18841-2002Sep14.html
começa: “A deposição do presidente iraquiano Saddam Hussein liderada
pelos EUA poderia abrir uma bonança para as companhias petrolíferas
americanas há muito banidas do Iraque, afundando acordos de petróleo
entre Bagdad e Rússia, França e outros países, e reorganizando os
mercados mundiais de petróleo, segundo funcionários da indústria e
líderes da oposição iraquiana”.
O Iraque cobre cerca de 435 mil quilómetros quadrados e possui uma
população de 20 milhões de pessoas. A nordeste é montanhosa e abriga a
população curda (cerca de 4 milhões); os rios Tigre e Eufrates correm ao
longo de férteis planícies até ao Golfo Pérsico, lugar da população
xiita (cerca de 12 milhões). O petróleo foi descoberto no início do
século XX; a sua exploração e comércio tornou-se em 1912 a obra
vitalícia de Calouste Gulbenkian (ainda sob o poder otomano); fundou a
Turkish Petroleum Company, detida pelo Deutsch Bank, Shell e o Turkish
National Bank. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a importância do
petróleo tornou-se bastante mais evidente e as potências capitalistas
avançaram com rapidez; interessadas negociações ocorreram no rescaldo da
guerra; um novo reino foi estabelecido como Iraque com sede em Bagdad
sob a protecção da Grã-Bretanha. A antiga petrolífera foi reestruturada
em Iraq Petroleum Company com as seguintes participações: Shell
(anglo-holandesa), BP (britânica) e CFP (França, agora Total-Fina-Elf)
com 23,75% cada, Exxon e Mobil ( ambas EUA, agora Exxon-Mobil) com
11.875% cada, sendo os restantes 5% detidos pelo próprio Gulbenkian.
Após a Segunda Guerra Mundial, o nacionalismo árabe em ascensão levou à
nacionalização da maioria das empresas petrolíferas da região, também o
fazendo o Iraque em 1972; Saddam Hussein estava politicamente empenhado
na batalha política ao lado do partido Baath e foi nomeado presidente em
1979.
Segundo informação actualizada, o Iraque possui cinquenta campos de
petróleo, metade dos quais são campos gigantes, contendo juntos cerca de
90 mil milhões de barris de petróleo, dos quais cerca de 50 mil milhões
estão em apenas três campos (Rumaila, Kirkuk e East Bagdad);
extrapolando descobertas passadas, o total de produção passada e futura
é estimado em 135 mil milhões de barris, dos quais 27 mil milhões são de
produção passada; as estatísticas mostram que a descoberta atingiu o
pico em 1948 e prevê-se a data do pico de produção em 2013. A taxa de
produção é de cerca de 2 milhões de barris por dia, mas pode ser maior,
devido às incertas exportações de contrabando através dos estados
fronteiriços, não permitidas pelo actual embargo da ONU; em condições
irrestritas, tendo pouca capacidade disponível hoje em dia, a taxa de
produção pode ser elevada para 3 milhões em 2010 e para um pico de 4,5
milhões por volta de 2020.
O Irão é de suma importância no Golfo Pérsico por vários motivos: possui
uma das maiores reservas de petróleo bruto e gás natural do mundo, uma
população grande e jovem e uma forte identidade nacional e ocupa uma
localização estratégica única abrangendo o Mar Cáspio, o Golfo Pérsico e
o Oceano Índico.
No que diz respeito ao petróleo, o Irão detém 90 mil milhões de barris
de reservas provadas, cerca de 9% do total restante do mundo, a quinta
maior. A maioria delas está concentrada na região sudoeste do Khuzestan,
perto da fronteira do Iraque e do Golfo Pérsico e no próprio Golfo,
perto do Estreito de Ormuz. No que diz respeito ao gás natural, o Irão
detém 16% das reservas mundiais, das quais a maior parte está no campo
de gás South Pars, o maior do mundo, na fronteira entre os mares do
Catar e do Irão no Golfo Pérsico. South Pars deve ser desenvolvido ao
longo de pelo menos 25 anos, num projecto que tem como accionistas
TotalFinaElf, ENI e Enterprise Oil PLC, enquanto RoyalDuctch/Shell e BP
PLC estão a licitar licenças de exploração (James Chater, Iran: what
lies beneath the horizon? Valve World, 2002,
http://www.valve-world.net/articles/iran.asp).
As reservas de gás do Irão são as segundas maiores do mundo, depois da
Rússia, e o Catar segue em terceiro. Esses três países - Rússia, Irão e
Catar - possuem juntos cerca de metade das reservas mundiais comprovadas
de gás natural. Ao coordenar suas estratégias dentro de uma organização
exportadora de gás, incluindo outros países do Golfo Pérsico que também
possuem reservas significativas de gás, poderiam certamente ter um
grande impacto no mercado internacional de gás. Entre outras coisas,
poderiam impor regras e regulamentos sobre a produção, exportação e
preços de gás entre um número crescente de pequenos exportadores de gás
(Hooman Peimani, Russia, Iran: Stepping on the gas, Asian Times Sptember
27, 2002, http://www.atimes.com/atimes/Central_Asia/DI27Ag01.html ).

*A guerra no Iraque*

É bom lembrar como a Guerra do Golfo foi iniciada em 1990. Os conflitos
nas províncias curdas do Iraque e do Irão explodiram em lutas intensas
em 1974 e novamente em 1979, desta vez iniciando a guerra de oito anos
Iraque-Irão, com o apoio do Iraque pelos EUA, na época formalmente
neutros, mas de facto mais preocupados em combater o regime islâmico em
Teerão. No final de 1990, o Kuwait provocou o Iraque aumentando a sua
participação na produção dentro da OPEP e bombeando do campo de petróleo
Rumaila para além da fronteira comum; segundo alguns relatórios, o
Iraque foi apoiado pelos EUA nessa acção. Seja provocado à acção ou por
avaliar mal a sua extensão, o Iraque rapidamente conquistou o Kuwait; os
EUA pretendiam expulsar o Iraque do Kuwait e, com o apoio da ONU,
conduziram a Guerra do Golfo em 1999, até à rendição de Bagdad. São
referidas novas armas ou são conhecidas por terem sido testadas e
empregadas naquela guerra, nomeadamente, o uso extensivo de munições de
urânio empobrecido e mísseis guiados carregando estabilizadores de voo
de urânio empobrecido.
A ocupação norte-americana do Iraque poderia levar ao restante Médio
Oriente ao seu redor em guerra, uma guerra religiosa e étnica total, com
recurso a armas convencionais e não convencionais, como consequência de
sucessivos ataques de retaliação. Confinando-nos ao território
iraquiano, seguir-se-ia uma crise humanitária e a necessidade massiva de
serviços de socorro, no contexto da destruição da maioria das
infra-estruturas e da obliteração das estruturas sociais e políticas.
Após as dificuldades de uma década de sanções e de uma guerra
desencadeada sozinho, os EUA serão fortemente pressionados a cuidar do
desastre humanitário.
No caso do derrube do poder em Bagdad, no vácuo de uma liderança firme,
podem surgir senhores da guerra, podem ocorrer acções de vingança e de
justiça por conta própria, de modo que deve ser exigido o policiamento
das áreas destruídas e conquistadas. Gerir uma força de ocupação seria
um desafio, exigindo pelo menos 50 mil efectivos, o que seria um
desgaste para as forças armadas dos EUA. Mas há também um problema de
qualidade. Grande parte da força de ocupação deve vir das especialidades
de assuntos civis, pessoas supereducadas treinadas na restauração de
infra-estruturas, estruturas policiais, tribunais, etc.; a maioria está
na reserva ou foi já enviada para os Balcãs e outros lugares; de 1947 a
1983, as unidades de assuntos civis convocadas das reservas eram poucas;
mas desde então tem sido recorrente o recurso a elas. A incapacidade de
comunicar e o não entendimento das rivalidades e políticas regionais são
dificuldades que desafiam uma força de ocupação que, agora, não conta
com aliados árabes na região do Golfo, (James Fallows, The fifty-first
state?, The Atlantic Monthly, November 2002
http://www.theatlantic.com/issues/2002/11/fallows.htm).
Em caso de derrube do poder, no Iraque não existe óbvia fonte
alternativa de autoridade legítima. Do século XVI até a Primeira Guerra
Mundial, o Iraque fez parte do Império Otomano; consistia em três
províncias: a província dominante de Bagdad no centro, de influência
muçulmana sunita; no norte montanhoso, a antiga província de Mosul, o
reduto curdo; a antiga província de Basra, no sudeste, a mais populosa,
de maioria muçulmana xiita. Após a Segunda Guerra Mundial, foi
estabelecido um reino iraquiano sob proteção britânica com um mandato da
Liga das Nações; este reino durou até 1958 quando um golpe militar
derrubou o governo e em 1963 o partido Baath assumiu o poder. O Iraque e
os seus vizinhos periféricos são um quebra-cabeças cultural; forças
étnicas, religiosas etc. separam-nos, excepto quando está em vigor um
governo central forte. Na ausência do seu centro, por influência interna
ou externa, o Iraque pode como outros países separar-se, como poderia
suceder na Indonésia e sucedeu na Jugoslávia.
Seis países fazem fronteira com o Iraque – Kuwait, Arábia Saudita,
Jordânia, Síria, Turquia e Irão. Podem não ser amigos do actual regime
no Iraque, mas seriam ameaçados por uma eventual implosão daquele país.
Existem províncias curdas não apenas no Iraque, mas também na Turquia e
no Irão, que são uma área potencial para um maior envolvimento externo
desses países. Envolvimentos semelhantes podem ser reclamados como
resultado de afinidades e populações migradas compartilhadas entre a
província xiita do sudeste do Iraque e o Irão xiita. Kuwait, Arábia
Saudita e Jordânia são monarquias árabes que estariam ameaçadas pela
instabilidade e pelo desequilíbrio trazido à região em caso de um
apagamento da influência do Iraque. Há muitas potenciais consequências
que podem surgir após uma acção militar inicial, dada a instabilidade
reinante na zona.

*Visões e Modelos do Sistema Mundial *

Entre os teóricos da política do sistema mundial pode ser traçada uma
ampla distinção entre funcionalistas, que defendem o papel das
hierarquias globais como servindo uma necessidade de ordem global, e
teóricos do conflito, que favorecem as formas pelas quais as hierarquias
servem os privilegiados. O termo “hegemonia” geralmente corresponde à
abordagem de conflito, enquanto os funcionalistas tendem a empregar a
ideia de “liderança”, embora ambos os termos possam surgir
indiferentemente. Outra diferença pode ser traçada entre aqueles que
enfatizam o papel do poder político e militar e aqueles que dão maior
peso ao “poder económico”. Muitos economistas não aprovam a noção de
poder económico na suposição de que as trocas de mercado ocorrem entre
parceiros iguais. Muitos cientistas políticos concordariam que o poder
económico ganhou cada vez mais importância.
Alguns autores reconhecem que a ordem mundial contemporânea pode ser
melhor compreendida à luz do poder exercido pelas corporações
transnacionais e pelos mercados financeiros globais (William Robinson,
Beyond Nation-State Paradigms: Globalization, Sociology and the
Challenge of Transnational Studies, Social Forum nº. 13 , 1998).
Para Wallerstein, a hegemonia é a vantagem comparativa em tipos
rentáveis de produção que serve de base à hegemonia política e militar
mundial; a hegemonia económica oferece o tipo de produção mais
lucrativo, no cimo da hierarquia global da divisão do trabalho
centro-periferia. Haveria três estágios dentro de cada período de
hegemonia; o primeiro baseado no sucesso na produção de bens de consumo,
o segundo na produção de bens de capital e o terceiro alicerçado no
sucesso dos serviços financeiros e no investimento estrangeiro
decorrentes da centralidade institucional no sistema-mundo. (Immanuel
Wallerstein, The Modern World System, Nova York: Academic Press, 1989).
George Modelski e William Thompson são cientistas políticos cuja
perspectiva teórica contém o funcionalismo estrutural (Modelski e
William Thompson, Leading Sectors and World Powers: the Co-evolution of
Global Economics and Politics, Columbia: University of South Carolina
Press, 1996). O mundo necessita de ordem e, portanto, as potências
mundiais levantam-se em determinadas oportunidades para preencher essa
necessidade. Emergem com base na vantagem económica comparativa em
indústrias inovadoras que lhes permitem adquirir os recursos necessários
para vencer guerras entre outras potências políticas e mobilizar
coligações que mantenham uma certa ordem mundial. As guerras
funcionariam como mecanismos de seleção conduzindo à liderança global.
Mediram o ascenso de certos comércios e indústrias importantes que foram
considerados relevantes para a ascensão das potências mundiais e também
o grau de concentração de poder naval no sistema interestatal europeu
desde o século XV (Modelski e Thompson 1988). O seu modelo postula que
cada “ciclo de poder” mundial é composto de duas ondas Kondratieff. A
Grã-Bretanha desempenhou duas vezes o papel de líder mundial, uma no
século XVIII e outra no século XIX; e designam os Estados Unidos como o
líder mundial do século XX e possivelmente também do XXI.
Giovanni Arrighi (Giovanni Arrighi, The Long Twentieth Century, New
York: Verso, 1994) adopta o conceito de “ciclos sistémicos de
acumulação” e explica a hegemonia mundial pela colaboração bem-sucedida
entre capitalistas e detentores do poder estatal. Admite que as
indústrias inovadoras são importantes na ascensão de uma potência
hegemónica, mas afirma que o lucro da produção e do comércio se torna
mais difícil no final de um ciclo sistémico de acumulação, de modo que,
durante a fase de declínio do ciclo, os capitalistas concentram cada vez
mais a sua actividade em obter lucros com a especulação financeira.
Joachim Rennstich (Joachim Rennstich, The Future of Great Powers
Rivalries, em Wilma Dunaway (eds.) New Theoretical Directions for the
21st Century World-System, New York: Greenwood Press, 2001) formula as
reorganizações das estruturas institucionais que conectam capital com
Estados para facilitar o surgimento de unidades hegemónicas cada vez
maiores no decorrer dos últimos seis séculos. Anuncia a possibilidade de
os EUA sucederem a si próprios no século XXI como potência mundial
hegemónica.
Alguns estudiosos da economia política, entre os “teóricos do conflito”,
focam-se ou enfatizam as possíveis relações entre as ondas económicas
longas e os acontecimentos tanto políticos como militares; o próprio
Kondratieff foi o primeiro a apresentar essa possibilidade. Goldstein
(Joshua Goldstein, Long Cycles: prosperity and war in the modern age,
New Haven: Yale University Press, 1991) reexaminou esta questão que tem
sido retomada ultimamente por vários outros autores. Christopher
Chase-Dunn e Bruce Podobnik (Christopher Chase-Dunn e Bruce Podobnik,
The Next War: World-System Cycles and Trends, Journal of World-Systems
Research, vol. 1(6), 1995,
http://csf.colorado.edu/wsystems/jwsr/vol1/v1_n6.htm), examinou a etapa
contemporânea do desenvolvimento global dentro de um modelo de longa
linha de tempo dos ciclos do sistema mundial e tendências para chegar à
afirmação: «…há uma probabilidade significativamente alta de que guerra
entre estados centrais poderá ocorrer na década de 2020. As perspectivas
para a formação do Estado global nas próximas três décadas são
consideradas. Recomendamos uma combinação do aumento das forças de
manutenção da paz da ONU e a continuação da força militar dos EUA como a
solução menos má e mais viável para o problema de evitar o holocausto
nuclear na década de 2020». Tal relação hipotética deve ser tomada com
muita cautela, tendo em vista os escassos dados e tendo em conta o
conteúdo ético da questão. E tais posições assertivas parecem mais acção
política do que investigação académica.

Tradução: Filipe Diniz

Em
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/pax-americana/
14/6/2022