terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

      Presidente Trump: Diplomacia e democracia na América


       por James Petras 


      Decorrido o primeiro mês da administração do presidente Trump estamos em
      melhores condições para avaliar as políticas e a direcção do novo
      presidente. Um exame da política externa e interna, particularmente de uma
      perspectiva histórica e comparativa, proporcionará antevisões sobre se a
      América está a avançar para uma catástrofe como afirmam os mass media ou
      rumo a maior realismo e racionalidade.
       Assim, examinaremos se Trump prefere a  diplomacia em relação à guerra. 
      Avaliaremos os esforços do presidente para reduzir a dívida externa dos
      EUA e os seus fardos comerciais com a Europa e a Ásia. Prosseguiremos com
      a discussão das suas políticas de imigração e proteccionistas com o
      México. Finalmente, abordaremos as perspectivas para a democracia nos
      Estados Unidos.
       Política externa 
       As reuniões do presidente Trump efectuadas com os líderes do Japão, Reino
      Unido e Canadá em grande medida foram um êxito. A reunião Abe-Trump levou
      a laços diplomáticos mais estreitos e a uma promessa de que o Japão
       aumentaria seu investimento na indústria automobilística nos EUA. Trump
      pode ter melhorado as relações ao reduzir os desequilíbrios comerciais.
      Trump e Abe adoptaram uma posição moderada sobre o teste de míssil da
      Coreia do Norte no Mar do Japão, rejeitando uma nova acumulação militar
      como exigido pelos media liberais-neocon.
       A reunião EUA-Reino Unido, no período pós Brexit, prometeu aumentar o
      comércio.
       Trump propôs melhorar relações com a China, apoiando claramente a
      política de "China única" e processos para renegociar e reequilibrar
      relações comerciais.
       Os EUA apoiaram a votação unânime do Conselho de Segurança da ONU de
      condenação do lançamento do míssil da Coreia do Norte. Trump não
      considerou que constituísse uma ameaça militar ou aumentar o nível de
       sanções adicionais.
       A política de Trump de reconciliação com a Rússia a fim de melhorar a
      guerra contra o terrorismo islâmico foi frustrada. A caçadora de bruxas
      Elizabeth Warren da esquerda liberal, militares neoconservadores e membros
      do Partido Democrata declararam a Rússia como a ameaça primária à
      segurança nacional dos EUA!
       O raivoso e incessante ataque dos mass media forçou a demissão do
       Conselheiro de Segurança Nacional de Trump, o general na reserva Michael
       Flynn, com base numa lei do século XVIII (o  Logan Act )  que proibiu
      cidadãos privados de discutirem política com líderes estrangeiros. Esta
      lei nunca fora aplicada. Se fosse imposta, centenas de milhares de
      cidadãos americanos, especialmente pessoas importantes entre os 51
      presidentes das Principais Organizações Judias Americanas, bem como
      editores de assuntos externos de todos os grandes e pequenos media dos
      EUA, além de académicos especializados em política externa, estariam na
      cadeia junto com traficantes de droga condenados. Sem jamais se embaraçar
      com o absurdo ou com a banalização da tragédia, esta recente "Tempestade
      num copo de água" provocou apelos apaixonados por parte dos media e de
       operacionais do Partido Democrata em favor de uma nova  Investigação
      estilo 11 de Setembro  quanto a conversas do general Flynn com os russos.
       O revés de Trump quanto ao seu Conselheiro de Segurança Nacional Flynn
      pôs em perigo as perspectivas de melhoria nos assuntos externos,
      tornando-as menos belicosas.  Isto eleva o risco de uma confrontação
      nuclear e de repressão interna. Estes perigos, incluindo um expurgo
      interno anti-russo, estilo McCarthy, de políticos "realistas", são da
      responsabilidade exclusiva dos ultra-militaristas do Partido Democrata em
      aliança com os neoconservadores. Nada disto corrige os graves problemas
      socio-económicos internos.
       Reequilibrar o gasto externo e o comércio 
       O compromisso público de Trump acerca do reequilíbrio das relações dos
      EUA com a NATO, nomeadamente pela redução da fatia do financiamento
      estado-unidense, já começou. Actualmente apenas cinco membros da NATO
      cumprem a contribuição requerida. A insistência de Trump sobre a
       Alemanha, Itália, Espanha, Canadá, França e 18 outros membro para que
      cumpram seus compromissos acrescentaria mais de US$100 mil milhões ao
      orçamento da NATO  – reduzindo desequilíbrios externos dos EUA.
       Claro está que seria muito melhor para todos se a NATO fosse desmantelada
      e as várias nações redistribuíssem estas muitas centenas de milhares de
      milhões de dólares para gastos sociais e desenvolvimento económico
      interno.
       Trump anunciou um grande esforço para reduzir desequilíbrios comerciais
      dos EUA na Ásia. Ao contrário das afirmações, feitas frequentemente por
      "peritos" em comércio externo dos mass media, a China não é a único, ou
      mesmo o maior, entre os "transgressores" que exploram o comércio
      desequilibrado com os EUA.
       O actual excedente comercial da China é de 5% do seu PIB, ao passo que o
       da Coreia do Sul é de 8%, o de Formosa é de 15% e o de Singapura é de
      19%. O objectivo de Trump é reduzir os desequilíbrios comerciais dos EUA
      para US$20 mil milhões com cada país ou 3% do PIB. A quota de US$100 mil
      milhões de Trump posiciona-se em contraste acentuado com o desequilíbrio
      comercial dos "Cinco asiáticos" (Japão, China, Coreia do Sul, Formosa e
       Singapura) de US$700 mil milhões em 2015, segundo o FMI.
       Em suma, Trump está a mover-se para reduzir desequilíbrios externos em
      85% a fim de aumentar a produção interna e criar empregos para indústrias
      com base nos EUA.
       Trump e a América Latina 
       A política latino-americana de Trump está centrada primariamente no
      México e num grau muito menor no resto do continente.
       O maior movimento da Casa Branca foi por a pique a Parceria Comercial
       Trans-Pacífico de Obama, a qual favorecia corporações multinacionais que
      exploram a força de trabalho do Chile, Peru e México, bem como atraía os
      regimes neoliberais na Argentina e no Uruguai. Trump herda do presidente
      Obama numerosas bases militares na Colômbia, Guantanamo, Cuba e Argentina.
      O Pentágono tem continuado a "guerra fria" de Obama com a Venezuela –
      acusando falsamente o vice-presidente venezuelano de tráfico de droga.
       Trump prometeu alterar a política comercial e de imigração dos EUA com o
      México. Apesar da oposição generalizada da política de imigração de Trump,
      ele está muito aquém de Obama na expulsão maciça de imigrantes do México e
      da América Central. O campeão da deportação da América foi o presidente
      Barack Obama, o qual em oito anos expulsou 2,2 milhões de imigrantes e
      membros das suas famílias, ou aproximadamente 275 mil por mês. No seu
      primeiro mês no gabinete, o presidente Trump deportou apenas um por cento
      da média mensal de Obama.
       O presidente Trump promete renegociar a NAFTA [Acordo de Livre Comércio
       da América do Norte], impondo uma tarifa sobre importações estimulando
      corporações multinacionais dos EUA a retornarem e investirem na América.
       Há numerosas vantagens ocultas para o México se responder às políticas de
      Trump com as suas próprias medidas económicas de "proteccionismo
      recíproco". Sob o NAFTA, dois milhões de agricultores mexicanos foram à
      bancarrota e milhares de milhões de dólares foram gastos a importar arroz,
       milho (subsidiados) e outros produtos dos EUA. Uma política de "Mexico
      First" poderia abrir a porta a um ressuscitar da agricultura mexicana para
      consumo interno e exportação. Isto diminuiria a migração para fora de
      trabalhadores agrícolas mexicanos. O México poderia renacionalizar sua
      indústria petrolífera e investir em refinarias internas ganhando milhares
      de milhões de dólares e reduzindo importações de refinados de petróleo dos
      EUA. Com uma política obrigatória de substituição de importações, a
      manufactura local poderia aumentar o mercado interno e o emprego.
      Aumentaria empregos na economia formal e reduziria o número de jovens
      desempregados recrutados pelos carteis da droga e outras gangs criminosas.
      Ao nacionalizar os bancos e controlar os fluxos de capitais, o México
      poderia bloquear a saída anual de cerca de US$50 mil milhões de fundos
       ilícitos. Políticas nacionais-populares, via reciprocidade, fortaleceriam
      a eleição de novos líderes que poderiam começar a expurgar a corrupta
      liderança policial, militar e política.
       Em suma, se bem que as políticas de Trump possam causar algumas perdas a
       curto prazo, elas podem levar a vantagens substanciais a médio e longo
       prazo para o povo mexicano e a nação.
       Democracia 
       A eleição do presidente Trump provocou uma virulenta campanha autoritária
      que ameaça nossas liberdades democráticas.
       A propaganda altamente coordenada e infindável de todos os media
       principais e dos dois partidos políticos falsificou e distorceu
       informações e encorajou representantes eleitos a condenar alguns nomeados
      de Trump para a política externa, obrigando a demissões e inversões de
      política. A demissão forçada do Conselheiro de Segurança Nacional Michael
      Flynn esclarece a agenda pró guerra do Partido Democrata contra a Rússia
      com armamento nuclear. Senadores liberais que outrora fizeram grandes
      discursos contra a "Wall Street" e os "Um por cento", agora pedem que
      Trump se recuse a trabalhar com o presidente Putin da Rússia contra a
       ameaça real do ISIS ao mesmo tempo que apoiam os neo-nazis na Ucrânia.
      Figuras liberais pressionam abertamente pelo envio de mais navios de
      guerra dos EUA para a Ásia para provocar a China, enquanto se opõem à
      política de Trump de renegociar favoravelmente acordos comerciais com
      Pequim.
       Há muitos perigos e vantagens ocultos nesta guerra político-partidária.
       Trump revelou as mentiras e distorções sistemáticas dos mass media,
      confirmando a desconfiança da maioria dos americanos para com as notícias
      dos media corporativos. A opinião negativa dos media, especialmente entre
      americanos no centro economicamente devastado do país (aqueles descritos
      por Hillary Clinton como os  "deploráveis"  ) é claramente acompanhada
      pelo profundo desprezo dos media por esta enorme porção do eleitorado. Na
      verdade, a constante tagarelice dos media acerca de como os maus "russos"
      hackearam as eleições presidenciais dos EUA dando a vitória a Donald Trump
      é, mais provavelmente, um "apito silencioso" [1] para mascarar sua
      relutância em denunciar abertamente o "brancos pobres" – incluindo
      trabalhadores e rurais americanos – que votaram esmagadoramente por Trump.
      Esta classe e elementos regionais explicam em grande medida a constante
      histeria acerca da vitória de Trump. Há fúria generalizada entre as
      elites, intelectuais e burocratas sobre o facto de que a grande  cesta de
      deploráveis  de Clinton rejeitou o sistema e rejeitou seus porta-vozes
      penteadinhos e manicurados dos media.
       Pela primeira vez há um debate político sobre liberdade de expressão aos
      mais altos níveis do governo. O mesmo debate estende-se ao novo desafio do
      presidente em relação ao enorme e não controlado aparelho das polícias
      estatais (FBI, NSA, CIA, Homeland Security, etc), o qual se expandiu
      maciçamente sob o governo de Barack Obama.
       As políticas comerciais e de alianças de Trump despertaram o Congresso
      dos EUA para debates sobre questões substantivas ao invés de quezílias
      procedimentais internas. Mesmo as políticas retóricas de Trump provocaram
       manifestações de massa, algumas das quais são de boa fé, ao passo que
      outras são financiadas pelos apoiantes bilionários do Partido Democrata e
      da sua agenda expansionista neoliberal, como o "Papai do céu das
      revoluções coloridas", George Soros. É uma questão grave se isto pode
       proporcionar uma abertura para genuínos movimentos de base
       democrático-socialistas organizarem e aproveitarem o fosso entre a elite.
       As falsas acusações de comunicação "traiçoeira" com o embaixador russo
      feitas ao Conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn,
      enquanto ainda civil, e o recurso ao Logan Act contra civis a discutirem
      política externa com governos estrangeiros, abre a possibilidade de
      investigar legisladores, como Charles Schumer e várias centenas de outros,
      por discutirem posições de política estratégica com responsáveis
      israelenses...
       Ganhe ou perca, a administração Trump abriu um debate sobre as
       possibilidades de paz com uma super-potência nuclear, um reexame do
       enorme défice comercial e a necessidade de defender a democracia contra
       ameaças autoritárias da assim chamada  "comunidade de inteligência" 
      contra um presidente eleito.
       Trump e a luta de classe 
       A agenda sócio-económica de Trump já pôs em movimento poderosas correntes
      subterrâneas de conflito de classe. A classe média e política tem-se
      centrado sobre conflitos relativos a imigração, questões de género e
       relações com a Rússia, NATO e Israel bem como política intra-partidária.
      Estes conflitos obscurecem antagonismos de classe mais profundos, os quais
      resultam de propostas económicas radicais de Trump.
       A proposta do presidente Trump de reduzir o poder das agências federais
       regulatórias e de investigação, simplificar e reduzir impostos,
      restringir gastos com a NATO, renegociar ou sucatear acordos multilaterais
      e cortar orçamentos para investigação, saúde e educação ameaçam seriamente
      o emprego de milhões de trabalhadores e responsáveis do sector público por
      todo o país. Muitas das centenas de milhares dos que protestam em comícios
      de mulheres e manifestações pela imigração e educação são funcionários
       públicos e membros das suas famílias que estão sob ameaça económica.
      Aquilo que superficialmente parece serem protestos sobre questões
      culturais específicas, de identidade ou de direitos humanos, são
      manifestações de uma luta mais profunda e mais extensa entre empregados do
      sector público e a agenda de  privatizar  o estado, a qual retira seu
      apoio de classe de pessoas de pequenos negócios atraídas por impostos mais
      baixos e menos sobrecargas regulatórias, bem como responsáveis de escolas
      privadas com financiamento governamental  ("charter school")  e
      administradores de hospitais.
       As medidas proteccionistas de Trump, incluindo subsídios à exportação,
      contrapõem as indústrias manufactureiras internas aos importadores
      multi-bilionários de bens de consumo baratos.
       As propostas de Trump para a desregulamentação do petróleo, gás, madeira,
      mais exportações agro-minerais e grandes investimentos em infraestrutura
      são apoiadas não só pelos patrões como  também  pelos trabalhadores destes
      sectores. Isto provocou um conflito agudo com ambientalistas,
      trabalhadores e produtores com base na comunidade, povos indígenas e seus
      apoiantes.
       O esforço inicial de Trump para mobilizar forças de classe internas
      opostas à contínua drenagem orçamental para a guerra além-mar e em apoio
      da construção do império com base em relações de mercado foi derrotado
      pelos esforços combinados do complexo militar-industrial, do aparelho de
       inteligência e dos seus apoiantes numa coligação
       neoconservadora-militarista com a elite política e seus apoiantes de
       massa.
       A evolução da luta de classe aprofundou-se e ameaça dilacerar a ordem
      constitucional em duas direcções: O conflito pode levar a uma crise
      institucional e forçar a saída de um presidente eleito e a instalação de
      um regime híbrido, o qual preservará os programas mais reaccionários de
      ambos os lados do conflito de classe. Importadores, investidores e
      trabalhadores em indústrias extractivas, apoiantes da educação e cuidados
       de saúde privatizados, belicistas e membros do politizado aparelho de
       segurança podem tomar o controle total do estado.
       Por outro lado, se a luta de classe puder mobilizar os trabalhadores do
      sector público, os do sector comercial, os desempregados, os democratas
       anti-guerra e empresários de TI progressistas e empregadores dependentes
       de imigrantes qualificados, bem como cientistas e ambientalistas num
      movimento maciço disposto a apoiar um salário digno e a unificar-se em
       torno de interesses de classe comuns, torna-se possível uma profunda
       mudança sistémica. No médio prazo, a unificação destes movimentos de
      classe pode levar a um regime híbrido progressista.

      19/Fevereiro/2017
       [1] Apito silencioso  (dog whistle):  tipo de apito que emite som
      ultrasónico só captável por alguns animais, como cães e gatos. Foi
      inventado por Francis Galton em 1876. 
       O original encontra-se em  www.globalresearch.ca/... 
      
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/petras/petras_19fev17.html
27/2/2017

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Capitalismo, dinheiro e excrementos



Por Mauro Lopes

Como Giorgio Agamben e Walter Benjamin releram as observações cristãs sobre o
dinheiro. Por que a psicanálise o associa à matéria fecal, à “insuficiência de
mim” e à guerra de todos contra todos
Por Mauro Lopes, editor do blog Caminho pra Casa
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O filósofo italiano Giorgio Agamben, um dos relevantes protagonistas do
pensamento crítico na virada do século XX para o XXI disse numa entrevista em
2012 que “Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro” (aqui). A afirmação de
Agamben inspirou-se em outro filósofo, este um protagonista da primeira metade
do século XX, um pensador fora da curva, Walter Benjamin. Em seu curto e denso
“O Capitalismo como Religião”, de 1921 (aqui), Benjamin escreveu que o
capitalismo é em si mesmo a religião mais implacável que já existiu, e promove
um culto ininterrupto ao Dinheiro, “sem trégua nem piedade”, uma religião que
não visa a reforma da pessoa, “mas seu o seu esfacelamento”.[1]
O filósofo alemão sugeriu uma comparação entre as imagens dos santos das
religiões e as cédulas de dinheiro de diversos países –ele não imaginava, à
época, que este Deus-dinheiro estaria diretamente louvado nas cédulas nos EUA
(In God we Trust, em Deus Confiamos) e, desde 1980, no Brasil, onde lê-se em
todas as notas a frase de adoração à moeda corrente: Deus seja louvado.
Ambos foram influenciados por um dito de Jesus, que está no centro da liturgia
católica do 8º Domingo do Tempo Comum (26), às portas do período quaresmal que
antecede a Semana Santa e a Páscoa: “Vós não podeis servir a Deus e ao
dinheiro.” O texto proclamado é do Evangelho de Mateus (Mt 6,24-34). A oposição
entre Deus e o dinheiro é um tema central ao longo da história e, para Jesus, a
relação de cada qual com o dinheiro é definidora de sua relação com as outras
pessoas e a vida.
Como essa questão aparece na vida das pessoas? A psicanálise procurou investigar
a relação entre o ser humano e o dinheiro e chegou a conclusões que podem soar
surpreendentes e inacreditáveis num primeiro momento. Como apontou o sacerdote
jesuíta e teólogo espanhol Carlos Domingues Morano, dinheiro é um assunto
crucial, apesar de muitas vezes escamoteado -como o sexo. Na verdade, o tema
nunca é “só dinheiro”. As relações entre os homens/mulheres com o dinheiro
comportam dimensões nem sempre lógicas, que extrapolam o discurso racional mais
ou menos organizado –é sempre “algo mais” que dinheiro.[2] Na relação das
pessoas com o dinheiro, revelou-nos a psicanálise, “está também implicada uma
‘questão de amor’; dito em termos mais freudianos, uma questão de ordem
libidinal, inconsciente e com raízes na infância. Isso nos permite compreender,
entre outras coisas, porque, assim como ocorre com a sexualidade, o dinheiro
provoca tantas reações de dissimulação, falso pudor e hipocrisia.”[3]
Há uma questão oculta que Freud trouxe à tona –e causou enorme mal-estar: a
intimidade entre nossa relação o dinheiro e a fase da libido anal,
relacionando-o com os excrementos.


O valor nodal do dinheiro para os adultos é, descobriu Freud, análogo ao
altíssimo valor que os excrementos possuem para as crianças. Outro psicanalista,
Sandor Ferenczi, do grupo de Freud, demonstrou o caminho passo a passo pelo qual
a criança efetua a sublimação do conteúdo anal até chegar, finalmente, à
transmutação simbólica em dinheiro. “A matéria fecal vai passando por uma série
de substituições, nas quais vai progressivamente distorcendo a  primitiva
satisfação auto erótica relacionada com a defecação: o barro, a areia, a pedra,
o jogo com bolinhas de gude e botões todos objetos que proporcionam tanta
satisfação à criança que facilitam a substituição do fétido, duro, mole pelo
inodoro, seco duro.”[4] O dinheiro ingressa nessa cadeia de sublimações por um
caminho complexo até desvincular-se de toda a aparência com sua “fonte original”
e permitir o surgimento da máxima de que o dinheiro não fede (pecunia non olet).
A relação entre as fezes e o dinheiro pode parecer um absurdo num primeiro
momento. Mas, se observamos com mente aberta, veremos que são abundantes e
recorrentes as imagens e símbolos que desnudaram ao longo da história relação
que os homens estabelecem entre as fezes e o ouro ou o dinheiro. Uma delas é a
figura do “cagador de ducados” que está representada nos portais de bancos
alemães. São inúmeras as expressões populares que  consagram esta associação sem
que nos demos conta disso. Quando uma pessoa tem muito dinheiro dizemos que está
“podre de rica”; se o dinheiro tem origem suspeita, falamos em “dinheiro sujo”
e, ao contrário, se a pessoa está sem dinheiro, dizemos que está “limpa”; ou que
está “apertada”.

Esta relação foi capturada mais de mil anos antes de Freud numa intuição genial
do bispo Basílio de Cesareia, em meados do século IV. São Basílio decretou: o
dinheiro é o cocô do diabo. A expressão foi deixada de lado pelos cristãos
séculos a fio até que São Francisco, no século XII, mencionou Basílio; agora,
ela foi novamente posta á luz pelo Papa Francisco em fevereiro de 2015, apesar
de ele preferir a palavra “esterco”, talvez menos crua. Clique e veja o vídeo em
que o Papa menciona a expressão de Basílio (Francisco trata do assunto entre
1min50 e 2min30).
Como se dá esta articulação dinheiro-fezes? A psicanálise explorou as relações
entre as dinâmicas de possessão, características da fase anal, e de propriedade,
fundante da civilização ocidental e especialmente do capitalismo.
Quando uma criança perde suas fezes sente a dor de ter deixado escapar algo que
lhe era tão essencial que estava dentro  de si, era parte de seu corpo, mas que
não mais consegue por de volta; isto é a possessão. A propriedade refere-se a
objetos externos, mas que deveriam me pertencer, “coisas que de fato estão fora,
mas simbolicamente estão dentro”. São objetos revestidos de “qualidade do eu”.
Para muitas pessoas, talvez a imensa maioria no capitalismo, o dinheiro
reveste-se desta qualidade do eu. Isso origina processos intensos de defesa e
projeção. Perder  dinheiro para essas pessoas é muito mais que perda de algo
externo, exterior, “mas sim de algo que foi previamente in-corporado”, ou seja,
algo que se tornou parte de mim. A posse e controle do dinheiro têm o mesmo
papel que o controle da atividade defecatória para a  criança diante do mundo
exterior. Uma “relação regressiva com o dinheiro ou com a propriedade de
objetos” fica impregnada pela dimensão possessiva (retentiva) da fase anal.[5]
O resultado é avassalador: o amor ao dinheiro, quando extravasa suas funções de
adaptação à realidade, acaba expressando uma dimensão infantil da afetividade, o
que implica uma dominância do narcisismo, um desenvolvimento truncado da
afetividade (da relação com o outro, da capacidade de amar e/ou odiar) e do
autorrespeito e respeito pelo outro.[6] Esta infantilização narcísica dos ricos
ou, dos “novos ricos”, numa expressão recorrentes de Basílio, é facilmente
verificável na convivência com eles e espalha-se em ondas pela indústria do
entretenimento, especialmente o cinema feito para o grande público.

Ter e reter dinheiro são tentativas continuadas de encobrir as carências
internas e conquistar segurança. Lembro-me de uma conversa com um consultor de 
investimentos sobre um casal, cliente do banco em que ele trabalhava. Eles
haviam feito uma série de contas em planilhas (como se a vida pudesse ser
contida em planilhas Excel) e concluído que quando tivessem R$ 20 milhões em
aplicações financeiras (excluídos bens como casa e carros) poderiam finalmente
“desestressar” e olhar com tranquilidade para a vida. Esta posição remetia-os a
frequentes crises de insegurança e angústia extrema, pois como escreveu Erich
Fromm, “se sou o que tenho e o que tenho se perde, então quem sou?”[7]
Ou, expressando Fromm de maneira complementar: se sou o que tenho e nunca tenho
o que considero suficiente, sempre haverá uma “insuficiência de mim” que precisa
ser coberta e recoberta com necessidade de acúmulo cada vez maior enquanto o
fosso da insegurança aprofunda-se, na medida em que a possibilidade apavorante
da perda de dinheiro para outro é um fantasma permanente. É uma vida em estado
de guerra permanente para defender o que é “meu” contra aquele que deseja
apropriar-se, podendo ser desde um competidor, políticas públicas de um governo
que deixam de favorecer o crescimento de minha fortuna, os pobres que se
mobilizam para tomar dinheiro do governo que a mim pertence “de direito”. Pois o
capitalismo garante: tenho direito a possuir tudo e tudo reter para mim, sem
limites.
Sim, o capitalismo é, numa linguagem popular, o encontro da fome com a vontade
de comer. Nele, esta condição pulsional presente na vida de cada ser humano é
organizada como um sistema social que alcançou, na expressão de Benjamin, a
dimensão suprema de um culto organizado e sistemático.  O psicanalista austríaco
Otto Fenichel demonstrou como, antes de tudo, a função real do dinheiro numa
sociedade determina o alcance e a intensidade das tendências pulsionais de
retenção.  Tais processos acontecem em sociedades determinadas com estruturas
econômicas, sociais e culturais determinadas, com uma Igreja determinada e,
portanto, alcançam dimensões que, levando em conta as escolhas e histórias
individuais, situam-nas num contexto geográfico-temporal preciso.
Portanto, a “mobilização para a guerra” que garanta a cada indivíduo o seu
“direito supremo à retenção” é o mantra do capitalismo e “mobiliza a hostilidade
como tendência a despojar o outro, de modo a fazer com que o desejo de fraudar,
explorar e frustrar os outros acabe se convertendo numa autêntica norma
cultural.”[8] Essa hostilidade torna-se a base relacional que se reproduz em
todas as relações, mesmo as mais íntimas: assim, por exemplo, o encontro com o
outro ou a outra para a vida amorosa e o casamento converte-se numa série de
cálculos e contratos e precauções para a possibilidade futura de separação e
rompimento.
A dissonância absoluta entre o amor pelo dinheiro e o amor a Deus proclamada por
Jesus e como ela atinge dimensões dramáticas no interior de um sistema que no
qual o dinheiro ocupa o lugar de Deus. Trata-se de uma incompatibilidade
radical, apesar de todos os esforços dos rigoristas e integristas católicos, dos
neopentecostais e outros cristãos para amenizar as palavras de Jesus e
relativizá-las: “Não é possível amar a Deus, isto é, amar a generosidade, a
entrega, a solidariedade, a compaixão e a misericórdia e ao mesmo tempo amar o
dinheiro, isto é, amar o tomar tudo para si, a acumulação que é a base de toda a
injustiça e de todo o desamor: fome, guerra, exploração, morte etc.”[9]
É o que tem feito seguidamente o Papa Francisco. Uma das marcas de seu
pontificado é a denúncia da submissão ao Deus-dinheiro.  A primeira vez em que
explicitou sua postura foi dois meses depois de sua posse. Em maio de 2013, ele
afirmou, num discurso que indicou a revolução nascente no Vaticano, que no
capitalismo “criamos novos ídolos; a adoração do antigo bezerro de ouro
encontrou uma nova e impiedosa imagem no fetichismo do dinheiro e na ditadura da
economia sem rosto nem propósito verdadeiramente humanos” e que a base deste
culto ao Deus-dinheiro está “na relação que temos com o dinheiro, em aceitar o
seu domínio sobre nós e sobre as nossas sociedades”. Três anos depois, numa
entrevista, em agosto de 2016, o Papa acentuou: “No centro da economia mundial
está o deus Dinheiro, e não a pessoa, o homem e a mulher”. Na mensagem para a
Quaresma de 2017, período que se abre com a Quarta-feira de Cinzas Francisco foi
taxativo: “A ganância do dinheiro é a raiz de todos os males”.
Se para os cristãos, o amor não é apenas um preceito, mas é o conteúdo sobre o
qual o cristianismo está edificado, se é a “pedra angular”, o apego ao dinheiro,
fonte de desamor, não se restringe a um problema ético, mas é um ataque direto à
fé. A fidelidade a Deus fica interditada para aquele que não realiza a escolha
por Ele e, por caminhos explícitos ou cheios de sombras e ilusões e autoengano,
opta pela  adoração à coisa: o dinheiro.
Por isso as religiões estão profundamente abaladas em seu fundamento na
contemporaneidade e, muitas delas, ou tendências poderosas em seu interior, como
no caso da Igreja Católica, realizam explicita ou implicitamente operações de
substituição de um culto pelo outro, colocando o dinheiro no lugar de Deus.
Tornam-se promotoras da tendência pulsional identificada por Jesus e estudada à
profundidade pela psicanálise e igrejas-sucursais da “religião oficial”: o
capitalismo.
__________________________
[1] Benjamin, Walter. O capitalismo como religião. São Paulo, Boitempo
Editorial, 2013, p. 22
[2] Morano, Carlos Dominguez. Crer depois de Freud. 3ª edição, São Paulo,
Edições Loyola, 2003, p.233
[3] Ibid. Morano, 2003, p. 234
[4] Ibid. Morano, 2003, p. 236
[5] Ibid. Morano, 2003, p. 239
[6] Ibid. Morano, 2003, p. 240
[7] In Morano, 2003, op cit., p. 240
[8] Ibid. Morano, 2003, p. 243
[9] Ibid. Morano, 2003, p. 246

In
OUTRAS PALAVRAS
http://outraspalavras.net/capa/capitalismo-dinheiro-e-excrementos/
27/2017

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Um comentário da posição de líderes da UIS da FSM PeR sobre a reunião anual do Fórum Económico Mundial, em Davos, que foi realizada de 17 a 20 de janeiro de 2017.       

     


UIS/FSM

Dos resultados do Fórum Económico Mundial em Davos, realizado neste resort suíço
exclusivo, e que se destina apenas à elite da oligarquia do mundo para que esta
esteja bem, descontraída, ou seja, no seu ambiente, em que pode pensar,
organizar e co-dirigir o economia dos ricos, em visão global, liberal e
anti-popular, a partir dos seus quartos de luxo e sob medidas provocadoras de
protecção policial, haveria que poder destacar vários aspectos que interessam ao
mundo da classe trabalhadora, aos povos, às culturas dessas pessoas, ao meio
ambiente: muitas coisas que interessam à humanidade. De todas as reflexões e
acordos, dois vão concentrar a nossa atenção:
 1. a visão inquietante da situação do mundo que tem essa oligarquia global e os
seus cúmplices sindicais, que teoricamente, e não na prática, representa os
interesses da classe trabalhadora e que com uma audácia e cinismo que raia a
provocação dizem defender,
 2. a participação da CSI nas discussões e conclusões deste Fórum Económico .
Esta reunião de Davos tem a intenção de reflectir, planear estratégias em
conformidade, e criar novas instituições e instrumentos de todos os tipos que
permitem continuar a fazer mais ricos os mais ricos e os pobres mais pobres e,
portanto, aí estão representados a alta finança, os mais poderosos da indústria,
do comércio e dos serviços dos grandes países capitalistas e das grandes
instituições que eles criaram .
 Por que razão representantes de sindicatos e da CSI estão presentes neste
fórum? Teoricamente, não deviam estar, porque, teoricamente, também representam
os interesses da classe antagónica, e, portanto, não é este o seu espaço natural
ou das suas actividades. A resposta não pode ser outra do que esta: porque eles
são aliados, são companheiros de viagem, tem os objectivos iguais ou
semelhantes: conviver e co-gerir o modelo capitalista e estão aqui apenas para
exibir perante o mundo como paliativo das consequências das depredações
genocidas do capitalismo imperialista.
 Portanto não é mais que uma provocação para a classe trabalhadora e sectores
populares, os sindicatos filiados na Confederação Sindical Internacional (CSI)
participarem como convidados na reunião anual do Fórum Mundial de Davos, pois
representam um das instrumentos quantitativos e qualitativos da implementação
das políticas neoliberais que têm surgido neste e em outros fóruns de igual ou
semelhante substância.
Para justificar a presença injustificável sobre a mesa dos criminosos
globalizadores, os membros da CSI apresentam explicações de mau pagador dizendo
que estão nestes fóruns para que “a voz dos trabalhadores seja ouvida e haja
capacidade de aliviar a pressão dos ricos para com os pobres “.
Como a situação real para a classe trabalhadora devido às políticas dos
participantes é de alarme máximo, esses vendedores de mentiras argumentam que se
não estivessem presentes em tais conferências a situação da classe trabalhadora
seria pior. Eles esquecem-se de dizer que a situação da classe trabalhadora é
má, mas a luta, apesar do sindicalismo amarelo se esforçar para impedir esse
direito, está em grande parte em situações de grande desigualdade e insegurança
por causa de sua presença e cumplicidade, como falsos sindicalistas, ao lado dos
exploradores em encontros como Davos.
 Chamados pela imprensa burguesa de líderes sindicais mundiais, dizem que estão
profundamente preocupados com o populismo e a xenofobia e pedem aos governos
capitalistas de todos os matizes, que são os gestores do modelo, e, portanto,
são responsáveis pelos seus resultados, que tomem medidas para atenuar a miséria
criada por eles. Estas declarações são patéticos e confirmam que, diariamente, e
em todas as práticas sindicais e declarações políticas, apoiam inequivocamente
embora apareçam a criticar o capitalismo. Sublinham, com grandes doses de
cinismo, que a continuar desta forma, se põem em questão a “democracia e
direitos humanos”.
Valter Sanches, secretário-geral do rsector da CSI dos trabalhadores industriais
num recente artigo intitulado “Por que eu fui a Davos”, com grande ingenuidade
ou cinismo explica a sua participação na reunião de Davos, nos seguintes termos,
e diz pérolas douradas como: “através da participação no Fórum Mundial de Davos,
líderes de sindicatos globais não só têm uma ideia de como pensa a elite, mas
também são capazes de influenciar a agenda de Davos”, “Se nós virássemos as
costas a Davos , não haveria ninguém para defender a voz dos trabalhadores “, ou
” Davos é uma iniciativa para desenvolver uma visão comum de como as sociedades
podem moldar a produção futura, de modo a promover a prosperidade, oportunidade,
sustentabilidade ambiental e progresso social, que seja inclusiva e tenha uma
ampla base.
 COMUM? Assim o afirma, quer dizer que para o líder CSI o capital e trabalho têm
os mesmos interesses estratégicos em todas as áreas citadas acima? Isso cheira e
proto-fascismo.
 Como o cinismo da CSI chega a níveis difíceis de superar, Valter Sanches se
despede com um “reflexão” que causa vómitos. Diz: “Simplesmente não basta
especialmente agora que oito homens têm tanta riqueza quanto 50% da população
mundial”, De que fala? Que propõem CSI e os seus líderes com estas declarações?
Da necessidade de lutar? Da necessidade de acabar com o capitalismo? Ou de
continuar com a cerimónia ideológica da confusão, da contradição, do oportunismo
e da total cumplicidade com o sistema?
 Da direção da UIS da FSM PYJ entendemos que somente a luta a partir de posições
de classe e em torno de um não sindicalismo anti-pactos, anti-imperialista,
profundamente democrático e que tenha como objectivo final a construção do
socialismo pode enfrentar, para ganhar, o sindicalismo cúmplice da CSI e dos
seus seguidores
In
O DIARIO.INFO
http://www.odiario.info/um-comentario-da-posicao-de-lideres/
26/2/2017

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Professores da rede estadual de Educação apontam greve nacional contra a reforma da Previdência e pelo cumprimento da lei do piso



CSP- Conlutas

Os professores da rede estadual de todo país estão convocando uma greve nacional
a partir do dia 15 de março. A categoria vai parar tendo como principais
reivindicações a luta contra a reforma da Previdência e o cumprimento da lei do
piso salarial da categoria.

O indicativo de greve foi aprovado no 33° Congresso da CNTE (Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação) realizado em janeiro, em Brasília, que
contou com a presença de cerca de 2.200 trabalhadores e trabalhadoras em
Educação.

Joaninha Oliveira, professora da rede estadual de Santa Catarina e da Secretaria
Executiva Nacional da CSP-Conlutas, indica que é necessário fazer um bom
trabalho de base para concretizar uma forte greve nacional da categoria. “A
tarefa de cada entidade da educação é fortalecer a construção do calendário
aprovado. Esta greve deve servir como uma alavanca para a construção de uma
greve geral do conjunto da classe trabalhadora. Já existe forte adesão nos
estados, como no caso de Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do
Sul e Rio Grande do Norte”, afirmou.

Na mesma data, em 15 de março, as centrais sindicais estão impulsionando um Dia
Nacional de Paralisações e Lutas contra a PEC (Proposta de Emenda à
Constituição) 287, da reforma da Previdência, e prometem paralisar o país em
protesto contra qualquer medida que vise atacar direitos. O setor da Educação
foi um dos mais atingidos pela PEC 55 que congelou por 20 anos os repasses das
áreas sociais e também está entre os alvos preferenciais da reforma da
Previdência, que incide especialmente sobre a retirada de direitos das mulheres,
quase 80% do magistério.

Reforma da Previdência na Educação

O exercício de magistério acarreta desgaste físico e mental, por esse motivo é
enquadrado no chamado “regime especial” da Previdência, aplicado a profissionais
expostos a trabalhos mais desgastantes ou arriscados.

Pela regra geral atual, os homens se aposentam com 35 anos de contribuição e as
mulheres, 30. Para os professores que trabalham na educação básica, ensino
infantil, fundamental e médio, existe a garantia de  redução de cinco anos de
contribuição mínima, e o tempo cai para 30 e 25 anos, respectivamente.

Com a reforma proposta, esse regime especial acaba e todos terão que trabalhar
até, no mínimo, 65 anos, com 25 anos de contribuição.

Joaninha alerta também que as mudanças podem ampliar o número de educadores
doentes. Segundo dados levantados pela Revista NOVA ESCOLA, somente no ano de
2012, na rede municipal de São Paulo, a quantidade de afastamentos superou o
número de docentes em sala. “Desconsiderar as especificidades da profissão e
aumentar o tempo de trabalho dos professores pode acarretar ainda problemas na
saúde dos trabalhadores”, conclui a dirigente.

A campanha contra a Reforma da Previdência já teve início e será ampla. A
CSP-Conlutas produziu materiais diversos para divulgação do tema e formação. São
artes gráficas, como cartaz, adesivos, cartilha e vídeo. Além dessas peças e
plataformas, farão parte da campanha reuniões, assembleias, debates, atos e
seminários

In
CSP CONLUTAS]
http://cspconlutas.org.br/2017/02/professores-da-rede-estadual-de-educacao-apontam-greve-nacional-contra-a-reforma-da-previdencia-e-pelo-cumprimento-da-lei-do-piso/
23/2/2017

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

 Os media corporativos dos EUA fazem campanha golpista***



      – Bilionários não compram media para ganhar dinheiro, compram-nos para
      manipular a opinião pública
       por Tyler Durden [*] 

       Penso que neste momento a cidadania estado-unidense está a ser assolada
       por uma espécie de insânia em massa. Não pode haver bons resultados se
      isto continuar. Em consequência, sinto-me obrigado a proporcionar uma voz
      àqueles de nós que se perderam nesta selvajaria política. Devemos
      perseverar e não nos deixarmos manipular pelas tácticas óbvias de divisão
      e conquista que estão a ser desencadeadas agressivamente através de todo o
       espectro da sociedade. Se perdermos nossas bases e nossa fortaleza de
       ânimo, quem restará para falar em nome daqueles entre nós que
       simplesmente não se ajustam dentro de quaisquer das ideologias políticas
      actualmente dominantes?
       in  Lost in the Political Wilderness 
      Ao invés de centrar sua energia jornalística na descrição da insegurança
      económica que atormenta muitos dos nossos compatriotas, os media possuídos
      por bilionários parecem totalmente obcecados em tagarelar infindavelmente
       acerca de teorias de conspirações russas e tramas golpistas internas. Ao
      invés de olharem no espelho e admitirem que os seus incontáveis erros e
      propaganda provocaram múltiplos desastres humanitários ao longo de duas
      décadas, os oligarcas proprietários dos media de referência  (mainstream) 
      insistem numa narrativa em que Trump, individualmente, está na raiz dos
       nossos problemas, em oposição ao obstinado ramo executivo com poder
      excessivo. Isto acontece porque os media de referência não estão realmente
      preocupados acerca do nosso sistema canceroso em metástase para o
      estatismo, eles simplesmente não querem Trump à frente dele. Eu, por outro
      lado, quero desmantelar totalmente este estado inconstitucional e
      transferir poder para o povo americano a que ele pertence – auto-governo.
       Será que alguém realmente pensa, por um segundo, que os media seriam um
      adversário assim se Hillary vencesse? 
       O artigo de Nicholas Kristof no  New York Times  deste fim de semana
      representa uma espécie de início da festa para os media corporativos
       possuídos por bilionários. Mais do que qualquer outro que eu tenha visto,
      ele demonstra perfeitamente como os media de propriedade de bilionários
      estão completamente desconectados e sem valor. É o máximo dos absurdos que
      estas organizações de media, possuídas por bilionários ou conglomerados
      corporativos gigantescos, estejam a desempenhar o papel de vítimas quando
      têm sido eles os violadores primários durante todo o século XXI.
       Pode-se ser um firme defensor da liberdade de imprensa e da Primeira
      Emenda e, ao mesmo tempo, denunciar que os media de propriedade de
      bilionários falharam. Esta é a minha posição e a eleição de Trump não a
      alterou. O punhado de corporações e bilionários que controlam a imprensa
      de referência não equivale a "a imprensa". Eles (e o Estado Profundo)
      actualmente tentam convencer o público de que são os únicos a erguerem-se
      contra o fascismo. Isto é uma estupidez completa e, se cairmos nisso,
      obteremos o que merecemos.
       Os media possuídos por bilionários são mais cúmplices na criação da
      presidência imperial do que Donald Trump, que simplesmente imaginou um
      meio de obter o seu controle. Agora estes mesmos charlatães estão a
      pretender extinguir um incêndio ateado por eles próprios e querem ser
      louvados por serem tão corajosos. Isto é assustadoramente semelhante à
      trapaça efectuada pelo Federal Reserve durante e após a crise financeira.
       Com esta introdução inabitual, vamos dar uma olhadela a uns poucos
      excertos da alucinante peça explícita publicada no  New York Times  do
      último fim de semana, intitulada de forma bastante descarada como "Como
      nos podemos livrar de Trump?"  (  How Can We Get Rid of Trump? ) 

       Talvez as coisas se estabilizem. Mas o que é gritante acerca de Trump não
      é apenas a disfuncionalidade da sua administração mas também as –
      energicamente negadas – alegações de que a equipe de Trump pode ter
      cooperado com Vladimir Putin para roubar a eleição. O que também é
      diferente da ampla preocupação de que Trump é tanto: A) inadequado para o
      gabinete; como b) perigosamente instável. Um líder pró-americano num país
      estrangeiro telefonou-me outro dia e saltou as [saudações] preliminares,
      começando com "O que está errado com o seu país?"
       Assim, vamos investigar: Haverá algum caminho de saída? 
       Trump ainda tem apoio político significativo, de modo que os obstáculos
      são colossais.  Mas o meio mas limpo e mais rápido para remover um
      presidente envolve a Secção 4 da  25ª Emenda e nunca foi tentado.  Ela
      estabelece que o gabinete pode, por votação de maioria simples, despojar o
       presidente dos seus poderes e transferi-lo imediatamente ao
      vice-presidente. A armadilha é que o presidente removido pode objectar e,
      nesse caso, o Congresso deve aprovar a remoção por uma maioria de dois
       terços em cada câmara, ou o presidente recupera o mandato. 
    Isto nunca foi tentado na história do país, mas vamos promovê-lo de qualquer
    modo!


    A rota da 25ª Emenda destina-se a ser usada quando um presidente é "incapaz"
    de exercer seus deveres. Perguntei a  Laurence Tribe , professor de direito
    constitucional de Harvard, se isso poderia significar não apenas
    incapacidade física mas também instabilidade mental. Ou, digamos, a mácula
    de se ter secretamente conluiado com a Rússia para roubar uma eleição?
     Tribe disse que acreditava que a Secção 4 poderia ser utilizada numa tal
    situação.
     "No evento improvável de que Pence e uma maioria do bizarro gabinete de
    Trump ganhassem a coragem necessária para fazer a coisa certa em relação ao
    processo estabelecido por aquela disposição, certamente estaríamos numa
     situação em que uma muito grande maioria do público, incluindo uma
    percentagem muito substancial dos apoiantes de Trump, apoiariam se não mesmo
    insistiriam num tal movimento", disse Tribe. "Nesta circunstância, não posso
    imaginar Trump e seus advogados a terem êxito em conseguir a interferência
    de tribunais federais".
  Como recordatório, aqui está um exemplo do deserto intelectual e ético agora
  conhecido como a mente de Laurence Tribe.
   Agora, de volta a Kristof:

   O melhor caminho é o impeachment. Mas por agora é difícil imaginar uma
  maioria da Câmara a votar pelo impedimento e ainda menos concebível que dois
  terços do Senado votassem a condenação de modo a remover Trump.  Além disso, o
  impeachment e julgamento no Senado se arrastariam durante meses, paralisando a
  América e deixando Trump no gabinete com o seu dedo sobre o gatilho nuclear.  
Na mente de Kristof, uma grande desvantagem em avançar com o impeachment é que
não derrubaria Trump suficientemente rápido. Será este realmente um jornal em
que o público possa remotamente confiar para informar sobre os problemas do país
de maneira razoável?
 Agora aqui começa simplesmente a ficar cómico o que Kritoff escreve:

 Algumas pessoas acreditam que as eleições intercalares de 2018 serão tão
catastróficas para o Partido Republicano que toda a gente estará pronta a
livrar-se dele. Sou céptico. No Senado, o mapa é desastroso para os democratas
em 2018. Os republicanos estarão  a defender apenas oito lugares no Senado, ao
passo que os democratas estão efectivamente a defender 25. 
 Assim, se bem que democratas possam ranger dentes,  caberá a republicanos
decidir se obrigam Trump a sair. E isso não acontecerá a menos que o vejam a
arruinar o seu partido assim como a nação.
 Talvez, ao invés de "ranger os dentes", os democratas pudessem sair-se com uma
plataforma coerente que não girasse em torno do culto à Wall Street.
 Finalmente, aqui está como Kristoff termina a sua petição patética pelo derrube
de Trump:

 E o que dizer acerca de uma presidência que, com apenas um mês em exercício, já
estamos a discutir se ela pode ser terminada antecipadamente? 
Não Nicholas, "nós" não estamos a discutir isso.  Você é que está. Você e seus
colegas dos media.  Os quais levam-me ao aspecto mais enfurecedor do que está a
acontecer hoje no discurso americano. O que é que alguém como eu, que não gosta
de Trump, mas desgosta ainda mais dos media corporativos, se supõe que faça?
 Esta é a posição inconfortável em que me encontro hoje e, se estou nela,
milhões de outros também estão. Trump entende isto, razão pela qual continua
seus ataques implacáveis a elementos da imprensa corporativa. Pessoalmente, meu
 desgosto com Trump seria ainda mais agudo se não fosse o meu desprezo total em
relação aos media possuídos por bilionários. Supõe-se que jornalistas sejam
geralmente adversos ao poder, não sejam selectivos quanto a que figuras
poderosas desafiar com base na ideologia política. Os media corporativos
enfraqueceram claramente o país, portanto Trump está a ser politicamente hábil
ao iniciar um combate com eles. Como observei na semana passada no Twitter:

Eu sempre disse isto.
 Se Trump alvejar instituições elitistas, ele vencerá.
 Se alvejar o povo médio, perderá.
 Não é complicado.
— Michael Krieger (@LibertyBlitz)  February 17, 2017
Mais uma vez, os media corporativos estão a provar a sua inutilidade ao fazerem
[girar] tudo em torno de um homem, em contraste com o desastre sistémico que é a
sociedade controlada oligarquicamente em que vivemos. O actual presidente não é
suficientemente carismático e não advoga os lugares comuns habituais como
 bombardear mulheres e crianças muçulmanas. Está é aparentemente a linha
vermelha dos media.  Se isto soa como se eu estivesse contra tudo, há uma razão.
Nossa cultura está demente e os media corporativos merecem um bocado da culpa
 por isso. 
 Finalmente, aqui está um artigo publicado pela [revista]  Forbes  no ano
passado que ajuda a entender rapidamente contra o que estamos:  These 15
Billionaires Own America's News Media Companies .
 Bilionários não compram media para ganharem dinheiro, eles já o tem.  Eles
compram-nos para manipular a opinião pública. 

20/Fevereiro/2017
 O original encontra-se em  www.zerohedge.com/... 
 Este artigo encontra-se em  http://resistir.info/ .  
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/eua/media_corporativos_20fev17.html#asterisco
20-2-2017

*** QUALQUER SEMELHANÇA COM O QUE SE PASSA EM NOSSO PAÍS NÃO É MERA COINCIDÊNCIA

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Pravda: CIA sempre quis o petróleo brasileiro


Brasil 247

Jornal russo Pravda destaca que relatórios disponibilizados pela CIA desde o
final do ano passado permitem traçar um histórico do monitoramento a respeito da
exploração do petróleo brasileiro; "Praticamente todos, desde a década de 1950,
ressaltam as possibilidades do Brasil alcançar a autossuficiência e também de
abrir o setor do petróleo para empresas estrangeiras", diz o jornal; "Em janeiro
deste ano, foi anunciado o leilão de 21 campos de óleo e gás da Petrobras a
partir de 2018 e licitação para uma obra no Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro com a participação de 30 empresas estrangeiras e nenhuma nacional. Será
uma ótima oportunidade para as companhias estadunidenses"
......................................................................
Do Jornal Pravda - Relatórios disponibilizados pela CIA (Agência Central de
Inteligência dos EUA) desde o final do ano passado permitem traçar um histórico
do monitoramento a respeito da exploração do petróleo brasileiro.
Praticamente todos, desde a década de 1950, ressaltam as possibilidades do
Brasil alcançar a autossuficiência e também de abrir o setor do petróleo para
empresas estrangeiras.

Preocupação com parceria entre Brasil e URSS
Alguns documentos mostram que os Estados Unidos acompanhavam com atenção as
negociações entre Brasil e União Soviética no setor petrolífero pouco antes do
golpe de 1964.
Na virada da década de 1950 para a década de 1960, a URSS estava expandindo suas
exportações de petróleo para os países capitalistas. Um documento datado de 9 de
junho de 1960 evidencia a preocupação da CIA com a atividade soviética na
América Latina.
Moscou "aparentemente está usando o petróleo como um meio para explorar o
sentimento nacionalista contra os investimentos dos EUA na indústria petrolífera
da América Latina e para romper os padrões de mercado das companhias
estadunidenses na área", comenta o informe.
O mesmo relatório aponta que o Brasil havia importado em 1959 cerca de 420 mil
barris de óleo cru da URSS em troca da exportação de cacau. Um acordo de
dezembro do mesmo ano havia proporcionado ao país sul-americano mais de 4
milhões de barris anualmente durante três anos (aproximadamente 4% de todo o
consumo brasileiro), embora o Brasil não tivesse certeza se completaria o
acordo.
O serviço de inteligência dos EUA destaca que, em 1959, "uma grande delegação"
de negócios do Brasil, incluindo membros da Petrobras, foi a Moscou para ver se
era possível adquirir equipamento soviético especializado. Depois, quatro
técnicos soviéticos visitaram São Paulo para aconselhar uma empresa privada a
extrair xisto.
Outro documento, de 28 de agosto de 1961, aponta que "os vastos depósitos de
óleo de xisto no Brasil continuam a ser de interesse da URSS". Embora a
Petrobras tivesse pedido um empréstimo do Export-Import Bank dos EUA para
financiar a construção de uma usina piloto de óleo de xisto no Paraná,
engenheiros da Petrobras visitariam o país socialista para estudar as operações
soviéticas relacionadas com o óleo de xisto.
Logo depois, a Companhia Industrial de Rochas Betuminosas (CIRB) contratou
técnicos soviéticos para fazerem estudos geológicos e técnicos a fim de
determinar a viabilidade do desenvolvimento comercial dos depósitos de óleo de
xisto no Vale do Paraíba, em São Paulo. Pelo acordo, em meados de 1962 a União
Soviética forneceu equipamento e assistência técnica para a construção da usina
de produção de gás de xisto em Pindamonhangaba, município da região. No final de
1960, especialistas soviéticos já haviam ficado três meses no local, com a
aprovação do antigo Conselho Nacional do Petróleo.
Estimava-se que o sudeste do Brasil continha reservas de 102 bilhões de barris
de óleo de xisto, menor apenas do que as dos Estados Unidos.
Relatório de 16 de março de 1962 (Arquivo: CIA)
A produção brasileira de petróleo vinha aumentando a cada ano, embora o país
necessitasse importar a maior parte do que consumia. Mesmo assim, a CIA
comentava, em 16 de março de 1962: "as condições parecem favoráveis para o
desenvolvimento de óleo de xisto."
A URSS utilizava o óleo de xisto na fabricação de produtos químicos a partir de
seus derivados e também em locomotivas e usinas termoelétricas.
"A capacidade soviética para fornecer assistência tecnológica no desenvolvimento
de uma indústria de óleo de xisto no Brasil é baseada em mais de 40 anos de
experiência na área, incluindo produção de petróleo, gás e produtos químicos do
xisto e seu uso como um combustível sólido", relata a agência.
Assim, o Kremlin poderia fornecer ao Brasil qualquer tipo de equipamento para a
indústria de óleo de xisto encontrado no Ocidente e outros exclusivamente
soviéticos. A União Soviética também era o único país que desenvolvia uma
indústria de gás de xisto.
A exploração das reservas de óleo de xisto era levada em consideração por altos
oficiais, possivelmente com o auxílio dos EUA ou da URSS, segundo informou um
agente em 23 de março de 1962. "Esse programa, se prometer ser bem-sucedido,
teria forte apoio de líderes políticos e militares que há tempos se opõem à
dependência de fontes estrangeiras de petróleo."
A preocupação da concorrência com a URSS ainda é mais acentuada, no mesmo
relatório, afirmando-se que o governo do então presidente João Goulart tem dado
continuidade à política "de desenvolver relações próximas com o bloco
sino-soviético" do governo anterior de Jânio Quadros, a quem o agente se referiu
como tendo desempenhado "atividades anti-EUA".
Quadros assumira o mandato em janeiro de 1961 e renunciara apenas sete meses
depois, denunciando inclusive a participação estrangeira em conspirações contra
ele. João Goulart, então vice-presidente, tomou posse em seu lugar e dois meses
depois reatou relações diplomáticas do Brasil com a URSS após 13 anos.
Poucos dias depois do último comunicado, a CIA escreve outro, vendo a
possibilidade de Moscou utilizar o projeto "como uma oportunidade para
demonstrar a eficiência dos técnicos soviéticos e como os precursores de extensa
ajuda para o desenvolvimento do xisto em cooperação com a Petrobras".
Em outubro de 1963, a espionagem estadunidense envia um relatório sobre as
atividades econômicas do bloco sino-soviético em países do Terceiro Mundo. É
dedicada uma página inteira às recentes atividades no Brasil, mas somente o
resumo de um parágrafo foi disponibilizado no site da CIA. Informava das
potencialidades para o desenvolvimento de petróleo na Amazônia e no nordeste do
país, segundo um comunicado soviético enviado à Petrobras.
Golpe militar e esfriamento das relações com a URSS
Relatório de 19 de março de 1964 (Arquivo: CIA)
As refinarias privadas de Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazonas e Destilaria
Riograndense seriam encampadas a partir de 15 de abril de 1964, de acordo com
decreto assinado por João Goulart no comício da Central do Brasil, em 13 de
março do mesmo ano, como parte das Refomas de Base. A essa altura, Jango já se
apoiava nas forças populares para se defender dos ataques conservadores que o
acuavam cada vez mais.
Na semana seguinte, a CIA mostrava preocupação com as medidas nacionalistas do
presidente brasileiro. "Há rumores na imprensa de que o próximo passo de Goulart
será expropriar companhias privadas de distribuição de petróleo que têm pesados
investimentos europeus e dos EUA", relata um agente. E continua: "A embaixada
dos EUA duvida que Goulart vá tão longe em provocar os EUA e outros governos
nesse momento, mas diz que a possibilidade não pode ser descartada."
Em 1º de abril, Jango e suas reformas são derrubados por um golpe militar.
Posteriormente, descobrem-se provas de que os Estados Unidos desempenharam
importante papel nos acontecimentos. Washington apoiou o golpismo de diversas
formas, desde o financiamento de políticos opositores, meios de comunicação,
entidades da sociedade civil, até o deslocamento de navios próximos à costa
brasileira.
Militares participantes do golpe e do restante do período foram treinados por
instrutores estadunidenses na Escola das Américas, no Panamá.
De acordo com o ministro do Trabalho do Governo Jango, Almino Affonso, o
monopólio estatal do petróleo era uma questão central do golpe militar que vinha
desde o governo de Getúlio Vargas, quando foi criada a Petrobras, em 1953.
"A criação da Petrobras e da Eletrobras [estatal de energia elétrica], proposta
por Vargas, confrontava interesses norte-americanos de maneira absoluta, porque
ambas feriam os interesses que eles gostariam de ver triunfar no Brasil. Ou
seja: gostariam de participar da exploração direta do petróleo, sozinhos ou como
parte da Petrobras", declarou em uma entrevista em 2014. Ele não descartou a
influência de "interesses escusos" sobre políticos da oposição, que desde a
década de 1950 vinham pressionando por uma maior liberalização do setor.
O historiador e cientista político Roberto Bitencourt da Silva lembra também que
no final dos anos 1950 uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) encabeçada
por parlamentares da esquerda nacionalista denunciou o envolvimento direto das
petrolíferas multinacionais Esso e Shell "por condicionarem a imprensa
brasileira em um sentido entreguista, via vultuosas propagandas, possivelmente
conformando os maiores gastos de anunciantes no Brasil". A Esso patrocinava um
programa de rádio e TV, "Repórter Esso", que veiculava o ponto de vista
contrário da empresa ao monopólio estatal do petróleo, assim como à limitação de
remessa de lucros para o exterior.
O regime pós-64 não rompeu com o bloco comunista, mas esfriou suas relações,
limitando-as mais ainda ao comércio e a acordos de cooperação de pouca
importância. Além disso, perseguiu com mão de ferro as ideias de esquerda dentro
do país. Mas no âmbito das relações internacionais, havia um certo pragmatismo.
No entanto, o que parecia ser uma firme parceria no setor do petróleo acabou por
desmoronar-se. Logo nos primeiros anos do regime militar, a Petrobras cortou
relações com a União Soviética sobre a lavra do xisto e, para construir a usina
piloto de São Mateus do Sul, no Paraná, aproximou-se da empresa estadunidense
Cameron & Jones Company, que desde 1958 havia se interessado no projeto. A
companhia era ligada ao Escritório de Minas do Governo dos EUA em operações de
óleo de xisto no Colorado.
Um ano após o golpe, o governo aprovou o investimento privado de qualquer origem
na indústria petroquímica. Isso beneficiou empresas como a Union Carbide, a
Phillips Petroleum e o grupo Rockefeller, além da Dow Chemical - presidida no
Brasil pelo general Golbery do Couto e Silva, uma das principais figuras do
regime e ex-diretor do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), que
conspirou contra Jango e era financiado pelo governo dos EUA.
Foi a realização parcial do interesse expresso desde os anos 1950 de
privatização ou participação de capital privado estrangeiro em empresas
estatais, especialmente de petróleo.
Logo depois, franqueou-se o aproveitamento do xisto betuminoso da região sul que
até então era reservado à Petrobras.
Curiosamente, por outro lado, a União Soviética continuou desenvolvendo
pesquisas para a construção do complexo de xisto da CIRB em São Paulo, pelo
menos até 1968, conforme dois relatórios da CIA.
Relatórios detalhados sobre riquezas naturais brasileiras
Nas décadas de 1970 e 1980 a CIA manteve a produção de informes sobre as
relações do Brasil com diversos países e sua produção e exploração de riquezas
naturais. O principal interesse continuou sendo o petróleo.
Um relatório de 1975 diz que o então presidente Ernesto Geisel era favorável à
ideia de ter empresas estrangeiras trabalhando no setor petrolífero. De fato, o
governo foi afrouxando a partir da década de 1970 o monopólio estatal da
Petrobras.
Os principais responsáveis por essa política foram o então ministro de Minas e
Energia, Shigeaki Ueki, e o economista e ex-ministro do Planejamento no governo
de Castelo Branco, Roberto Campos, que defenderam "arduamente" os chamados
contratos de risco, segundo Carlos Alberto Lucena, em seu livro "Tempos de
destruição: educação, trabalho e indústria do petróleo no Brasil".
Em março de 1970 o Brasil havia declarado que seu território marítimo era até
200 milhas da costa, o que contraria os interesses dos EUA. Relatório de 1974
intitulado "Estudo da Lei do Mar - Brasil", com informações pormenorizadas, mas
que não foi totalmente disponibilizado na internet, ressalta que esse
posicionamento do governo brasileiro restringia atividades de pesca dos EUA. O
país norte-americano acabou fazendo um acordo para continuar operando nas águas
da região norte do Brasil, apesar de algumas limitações e do pagamento de 200
mil dólares anuais.
Em 1979, Ueki assumiu a presidência da Petrobras até o fim do regime militar
(1984) e o caminho para a abertura da companhia ao capital estrangeiro continuou
sendo trilhado. Na metade da década de 1980, a empresa já havia começado a
trabalhar junto com companhias estrangeiras. Por meio de decretos-leis e do
sucateamento da Petrobras, o governo buscou iniciar as privatizações das
estatais, que se tornariam realidade no final dos anos 1980 e durante a década
de 1990.
Documentos da CIA de 1986 também apontavam nessa direção. Um deles dizia que as
políticas adotadas por organizações comerciais estatais (State Trading
Organizations, STOs na sigla em inglês) de países do Terceiro Mundo, como o
bloqueio de investimentos estrangeiros, afetam os interesses dos EUA ao reduzir
a competitividade de suas companhias e serem hostis ao livre comércio.
O relatório sugere ainda que os EUA deveriam pressinar por reformas nessas
empresas estatais (como a Petrobras e a Vale do Rio Doce, algumas das maiores e
mais importantes STOs citadas) através de diversos organismos internacionais,
porque seu desmantelamento favoreceria os interesses comerciais e políticos do
governo estadunidense.
O outro, do mesmo ano, afirmava que as novas descobertas de campos de petróleo
brasileiros no final dos anos de 1980 "têm o potencial de, no início dos anos de
1990, reduzir, senão eliminar, a dependência do país na importação de petróleo".
Segundo esse último relatório, as implicações do desenvolvimento da área
petrolífera da Bacia de Campos (onde, em 1984, foi descoberto o primeiro campo
gigante em águas profundas, o de Albacora) e outras águas profundas para os EUA
eram os seguintes: assistência de companhias de engenharia estrangeiras na
exploração do que fosse encontrado em águas profundas; oportunidades para
empresas estadunidenses vencerem contratos de perfuração na exploração adicional
de offshores; e concessões comerciais do Brasil, facilitando as chances para
exportações dos EUA entrarem no país.
O relatório adverte, entretanto, que empresas dos EUA enfrentariam a competição
de outros países para operar em parceria com a Petrobras e que as companhias
brasileiras poderiam ficar em uma posição muito forte para competir no mercado
offshore mundial na década de 1990.
Entre os arquivos que citam a Petrobras, nenhum dos que estão disponíveis é
datado da década de 1990 para frente.
Em 1995, o monopólio estatal da Petrobras foi quebrado pelo Congresso
brasileiro, o que permitiu a abertura do setor petrolífero à iniciativa privada
em 1997 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. No mesmo ano, o governo
privatizou a Vale.
A história se repete?
Em entrevista concedida no início deste ano ao jornalista Fernando Morais, o
fundador do Wikileaks, Julian Assange, afirmou que o Brasil é o país da América
Latina mais espionado pelos Estados Unidos.
Como publicou o jornal Folha de S. Paulo em setembro de 2013, agentes da CIA
atuam livremente no Brasil. Eles colaboram em diversas operações da Polícia
Federal, principalmente através da parceria de fachada entre a embaixada dos EUA
e a PF formalizada em 2010. Agentes trabalham em regiões estratégicas do país,
como São Paulo (maior polo industrial e financeiro), Amazonas e Foz do Iguaço
(ambas com recursos naturais invejáveis).
"Zona cinza - assim são chamadas pelos policiais federais algumas técnicas dos
espiões americanos no país: invasão de sistemas, compra de informações e suborno
de funcionários de empresas públicas ou privadas", informa a reportagem.
Mas a CIA não é a única agência de espionagem dos EUA atuando no país. Ainda em
2013, o analista Edward Snowden vazou documentos que provaram que a NSA (Agência
de Segurança Nacional dos EUA) espionou a Petrobras e a então presidenta da
República, Dilma Rousseff.
Um dos motivos da espionagem foi possivelmente para que petrolíferas
estadunidenses obtivessem vantagem no leilão do Campo de Libra, na Bacia de
Santos, maior reserva do pré-sal - que, por sua vez, é a maior reserva de
petróleo descoberta em todo o mundo nas últimas décadas.
As gigantes companhias dos EUA, Exxon Mobil e Chevron, acabaram ficando de fora
da exploração daquele campo. O leilão foi vencido por consórcio liderado pela
Petrobras (com 40% de participação - sendo 30% obrigatórios por lei) e formado
por duas empresas chinesas, além da Shell e da francesa Total.
As multinacionais norte-americanas foram passadas para trás na competição pelo
petróleo brasileiro. Mas o Wikileaks já havia revelado em 2010 que Exxon Mobil e
Chevron faziam lobby junto ao Congresso para flexibilizar ainda mais o regime de
exploração do pré-sal. Diplomatas dos EUA e o então senador José Serra estavam
envolvidos.
Em 2016, Serra elaborou um projeto de lei que retira a obrigatoriedade da
participação da Petrobras na exploração do pré-sal e sua exclusividade na
operação dos campos.
No mesmo ano, Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe
judicial-parlamentar-midiático que vinha sendo tramado desde 2014. Grandes
manifestações por todo o Brasil apoiaram sua destituição. Algumas pediam
intervenção militar, outras pediam intervenção dos EUA.
Uma das principais entidades organizadoras dos protestos foi o Movimento Brasil
Livre (MBL), do qual nunca se havia ouvido falar. Alguns de seus principais
membros são ligados a instituições financiadas pelos irmãos Charles e David
Koch, bilionários estadunidenses da indústria do petróleo.
Além disso, a Operação Lava Jato, que investiga crimes de corrupção envolvendo a
Petrobras, foi o carro-chefe que embalou o impeachment da presidenta, apesar
dela nunca ter sido relacionada a ações de corrupção.
A operação, levada a cabo pela Polícia Federal, contou com apoio direto dos
Estados Unidos no fornecimento de dados sigilosos sobre a companhia e afetou
especialmente os setores nacionais da Petrobras, não os estrangeiros. A empresa,
que até aquele momento tinha enorme prestígio internacional, sofreu crise de
grandes proporções e o atual governo já iniciou novo desmonte do que restou da
estatal.
Juízes que comandam a Lava Jato e policiais federais foram treinados por
instrutores estadunidenses. Os primeiros, no Brasil, e os segundos, nos EUA.
Ainda em 2016, o recém-empossado ministro das Relações Exteriores, José Serra,
viu aprovado em outubro o seu projeto de lei na Câmara dos Deputados. Ele ainda
deverá ser sancionado pelo presidente Michel Temer.
Em janeiro deste ano, foi anunciado o leilão de 21 campos de óleo e gás da
Petrobras a partir de 2018 e licitação para uma obra no Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro com a participação de 30 empresas estrangeiras e nenhuma
nacional.
Será uma ótima oportunidade para as companhias estadunidenses.
In
BRASIL247
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/281293/Pravda-CIA-sempre-quis-o-petróleo-brasileiro.htm
20/2/2017

domingo, 19 de fevereiro de 2017

NUEVA ESTRUCTURA ECONÓMICA DEL SISTEMA CAPITALISTA MUNDIAL DESPUÉS DEL 2008

POR: ENRIQUE MUÑOZ GAMARRA (*)




¡Uf, los hechos siguen corriendo recontra velozmente! Las divagaciones (promesas) del show electoral estadounidense están disipándose rápidamente. Hoy día viernes 10 de febrero de 2017 el “impredecible” presidente estadounidense, Donald Trump, en una conversación telefónica con el presidente chino, Xi Jinping, finalmente ha desmentido toda esa argucia del proteccionismo, aceptando la política de Pekín de “una sola China”, cuando dijo: “entiende completamente la gran importancia de que el Gobierno estadounidense siga la política de una sola China, y añadió que su Administración se adhiere a la política de una sola China” (1). Ver el siguiente enlace: http://spanish.xinhuanet.com/2017-02/10/c_136047442.htm Pues, se entiende que con esto deben amainar las confrontaciones sino-estadounidense. Probablemente esto haya sido parte de su entendimiento en el “Gran Acuerdo” ocurrida entre octubre y noviembre de 2016. Y los monopolios estadounidenses, algunos ya lo habían advertido, continuaran con sus operaciones en territorio chino, lo contrario, sería una locura, así lo amerita la nueva situación mundial.
En el curso de estos hechos históricos, el 9 de enero de 2017 fue publicada el artículo: “Occidente se desploma” (Ver el siguiente enlace: http://lacunadelsol-indigo.blogspot.pe/2017/01/occidente-se-desploma.html? utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+LaCunaDelSol+% 28La+Cuna+del+Sol%29 ). Allí lo central, después de la implosión de la arquitectura del dominio imperialista occidental ocurrida a finales de 2016 que estaba en conjunción con la perdida de la hegemonía mundial estadounidense en 2010, fue la nueva estructura económica del sistema capitalista mundial emergida tras la gran crisis económica iniciada en 2008 y trabajada en este artículo hasta el sexto lugar en el que ubicaba precisamente a Rusia.
Veamos esto en el siguiente cuadro que está escrito en el artículo, “Occidente se desploma”:
Primero: China.
Segundo: Estados Unidos.
Tercero: India.
Cuarto: Japón:
Quinto: Alemania.
Sexto: Rusia.
Sin olvidar que en una estimación, de acuerdo al crecimiento de los PBI actuales, existe la posibilidad de que La India también en unos años más este dejando atrás a Estados Unidos. (También está escrito en el artículo “Occidente se desploma”).
Ahora bien, sin protagonismo nada de nada, debo dejar muy en claro, que cuando se publicó este artículo “Occidente se desploma”, el 9 de enero de 2017, exactamente hace un mes y un día y, en la que se hace mención, por primera vez, de la nueva estructura económica mundial emergida tras la gran crisis económica del 2008 y donde se afirma con rotundidad, como nunca nadie lo hizo antes, que China es la número uno de esa nueva estructura económica del sistema capitalista mundial, todos los apologistas y escribas a sueldo del pentágono incluida las llamadas consultoras que abundan por doquier encubriendo a sus patrocinadoras, estaban con sus prendas íntimas en el suelo. De sobra se sabe que los encubrimientos de la bancarrota económica de Estados Unidos, de la ascensión de China al número uno del capitalismo mundial, consecuentemente del desplazamiento de Estados Unidos al segundo lugar, han sido descarados.
Sobre esto, quisiera comentar primero el artículo titulado “Un nuevo orden económico mundial” publicado en: PressReader (la fecha no está, presumo que es hoy 10 de febrero de 2017, pues, es una primicia mundial).
Veamos:
Allí se dice: “China e India tendrán, hacia el 2050 economías más potentes que la de Estados Unidos. De hecho China ya la tiene. India la tendrá hacia la mitad del siglo. He aquí las principales predicciones del estudio divulgado por la consultoría PricewaterhouseCoopers (PwC). No son estas las únicas dos economías emergentes a las que se vaticina un futuro prometedor, la lista ordinal de las diez economías dominantes en el 2050, siempre según (PwC), es la siguiente: China, India, Estados Unidos, Indonesia, Brasil, Rusia, México, Japón, Alemania y el Reino Unido. España caería de su posición actual, 15, al 26”. Más abajo dice: “Las tasas de crecimiento previstas son, en este sentido, elocuentes. La media para la emergentes se sitúa alrededor del 3.5 %. Entre tanto se prevé que la tasa de los países que ahora integran el G-7 no vaya mucho más allá del 1.6 %”. Interesante el apunte. Ver el siguiente enlace: https://www.pressreader.com/spain/la-vanguardia/20170210/281870118183969
Rusia Today (RT) ha sido más explícita aún. Ha dicho lo que no han querido decir en el artículo anterior. En efecto, el 7 de febrero de 2017 Rusia Today ha publicado el siguiente artículo: “Economía global en 2050: EE.UU. baja y Rusia lidera Europa, entre otras sorpresas”. En realidad muy interesante la relación que se hace de las diez economías más importantes de la economía mundial actual. Han sido claros en crear un cuadro con el nombre: “Los mercados emergentes dominaran las 10 principales economías del mundo en 2050 (PIB en PPP)”, donde establecen lo siguiente: Primero, China. Segundo, Estados Unidos. Tercero, La India. Cuarto, Japón. Quinto, Alemania. Sexto, Rusia. Séptimo, Brasil. Octavo, Indonesia. Noveno, Reino Unido. Decimo, Francia. Según Rusia Today su fuente fue, nada menos, la consultoría PricewaterhouseCoopers (PwC). Solo que hasta el numeral sexto estaba escrito, con punto y coma incluido, en el artículo: “Occidentes se desploma” publicado el 9 de enero de 2017. Al fin y al cabo me parece correcta. No tengo duda. Sin embargo aunque hayan disensiones ideológicas, es obligación moral, de cada quien, por lo menos de reconocer aportes analíticos de otros. Es muy simple.
Es más, encuentro muy interesante el siguiente apunte:
“Dentro de tres décadas, la economía global estará dominada por China mientras EE.UU. descenderá al tercer puesto, por detrás de la India, según un nuevo informe de la consultora PricewaterhouseCoopers (PwC). Rusia se convertirá en la principal economía europea por delante de Alemania, Reino Unido e Italia al alcanzar su PIB los 7 billones de dólares. Vietnam, Filipinas y Nigeria, al alza; EE.UU. y Europa, a la baja”.
Continua: “Por otro lado, se espera que la participación de EE.UU. y Europa en el PIB mundial se reduzca, mientras que el tamaño de las economías de China y la India aumente significativamente. Los mercados emergentes (E7) pueden crecer alrededor de dos veces más rápido que las economías avanzadas (G7) de media. En consecuencia, se espera que en 2050 seis de las siete economías más grandes del mundo serán países emergentes, liderados por China (1.ª), la India (2.ª) e Indonesia (4.ª). La participación de la UE en el PIB mundial puede caer por debajo del 10% para 2050; El Reino Unido podría descender hasta el décimo lugar en 2050; Francia puede abandonar el selecto club de los 10 primeros, e Italia, quedar fuera de los 20 primeros al ser superada por el rápido crecimiento de economías emergentes como México, Turquía y Vietnam, respectivamente. (2). Ver el siguiente enlace: https://actualidad.rt.com/actualidad/230471-economia-global-2050-china-eeuu
Por supuesto en medio de toda situación el único ganador es el grupo de poder de Washington, le es invalorable para desviar la atención mundial sobre estos fenomenales cambios históricos, a través de sus puntales, en este caso de Steve Bannon, el principal asesor del presidente estadounidense, Donald Trump, que ha dicho lo siguiente: “estamos siendo testigos del nacimiento de un nuevo orden político”: No quieren hablar nada de nada de la nueva estructura económica mundial emergida tras la gran crisis económica del 2008.
Veamos:
“El diario señala cómo el mes pasado Bannon (Se refiere a Steve Bannon, el principal asesor del presidente estadounidense, Donald Trump), quien según sus declaraciones parece creer que su país se encuentra en medio de una guerra existencial, sobre todo con el Islam y China, dijo al diario local The Washington Post que “estamos siendo testigos del nacimiento de un nuevo orden político” (3).
Y, frente a estos hechos, reafirmo la importancia de mis escritos anteriores:
En efecto, todo lo escrito sobre la bancarrota económica de Estados Unidos y de los países de la Unión Europea con crecimientos de sus PBI en el orden de los 0 % y del 0,2 % (prácticamente estancamiento económico) y sus consecuencias, la perdida de la hegemonía mundial estadounidense en 2010, la implosión de la arquitectura del dominio imperialista occidental a finales de 2016 y la nueva estructura económica del sistema capitalista mundial con China la numero uno emergida tras la gran crisis económica mundial del 2008, tienen una gran importancia en el análisis de la actual situación mundial,
En concreto en lo referente al neoliberalismo fui muy claro cuando dije:
“Pero en la actualidad, con un sistema capitalista agotado y sin visos de un nuevo ciclo económico largo de avance y desarrollo, el neoliberalismo observado como política económica, rapiña como ninguna otra, no puede ser reemplazado por ninguna otra política (teoría) económica, menos por el proteccionismo, por lo menos hasta traspasar el periodo del ciclo económico largo de contracción y crisis iniciado en 1973, esto es si habrá ese traspaso, pues sin ella toda la actual estructura económica-financiera imperialista (incluido el sistema financiero de China) entraría en caos y colapso que terminaría hundiendo aún más el ya vapuleado sistema. No existe en este momento otra política económica que reemplace el neoliberalismo y oriente aún más sanguinariamente el proceso de esquilmamiento de los pueblos, pues, se trata de eso precisamente, de esquilmar a los pueblos con más saña para salir del gran atolladero” (4)
En lo referente a la vieja política proteccionista, al que supuestamente habría querido avanzar el grupo de poder de Washington, es bueno recordar lo siguiente (como hemos afirmado en la parte superior de este artículo, esta argucia en realidad está muerta, abortada, con la llamada telefónica que le hizo el presidente estadounidense, Donald Trump, al presidente chino, Xi Jinping):
“Pero entonces, ¿Cómo sobrevino este “proteccionismo” que hoy blande el Pentágono para reorientar su posicionamiento geoestratégico? Muy simple. En primer lugar ocurre en una coyuntura histórica y especial, cuando el imperialismo estadounidense ha perdido la hegemonía mundial, y más aún, cuando la arquitectura del dominio imperialista occidental ha implosionado, cuyo fondo es el ahondamiento de la gran crisis económica con fenomenales cambios que azotan el planeta, los mismos que acentúan aún más su bancarrota económica y su desplazamiento en la nueva estructura económica del sistema capitalista mundial emergida después del año 2008, que han hecho estallar todos sus posicionamientos geoestratégicos en medio de rotundos fracasos militares en que estaba comprometida, por la imposición en el esquema internacional de la paridad de fuerzas nucleares entre las tres principales potencias militares del momento: Estados Unidos, Rusia y China” (5).
Hay otras cosas más, pero, por el momento, basta con esto.
Sin embargo, no puedo pasar por alto, el hecho, de cómo han evolucionado estos fenomenales cambios históricos que fueron gravitantes en la nueva estructura económica del sistema capitalista mundial emergida tras la gran crisis económica del 2008:
Antes, algunas bases de los fenomenales cambios:
Primero, no debemos olvidar que lo central en todo esto ha sido el movimiento constante que hay en la naturaleza y la sociedad. Qué duda cabe, el sistema imperialista estaba en esa vorágine arrastrado violentamente al fondo de la gran crisis económica iniciada en 2008. En realidad estamos ante un abrumador aterrizaje forzoso, muy sangriento, sobre todo, para las masas pobres del planeta, puntualmente negados tanto por neoliberales y keynesianos. Un escándalo de dimensión planetaria.
En efecto, el discurrir casi a saltos de los hechos recientes en la escena internacional, ha sido fenomenal. Son reflejo de las leyes económicas que se agitan en lo más profundo del sistema. Leyes que están fuera de la voluntad de los hombres. Y han sido sorprendentes que van a quedar grabados eternamente en los anales de la historia universal.
Segundo, de acuerdo a los mecanismos de inter-relación de base y superestructura, esta nueva estructura económica del capitalismo mundial (base) está dejando impregnada su sello en el nuevo sistema internacional (superestructura), concretándose como sistema multipolar. En realidad un proceso científico que los “doctorcitos” del Pentágono jamás lograran entender. Esto sobrevino de forma crucial y demoledora contra el sistema unipolar establecido en 1991. Ocurrió en 2010 tras la constatación de la equiparación de fuerzas (nucleares) en las tres superpotencias más armadas del planeta (Estados Unidos, Rusia y China).
Tercero, la pérdida de la hegemonía mundial estadounidense en 2010 y la implosión de la arquitectura del dominio imperialista occidental a finales del 2016.
Luego, una breve cronología de cómo han venido evolucionando todos estos fenomenales cambios:
Primero, 2012 (julio), Estados Unidos fue desplazada por China en Europa de su condición de primer socio comercial. Entonces habíamos dicho lo siguiente: “Por otra parte China ya es el mayor socio comercial de Europa... ‘Las últimas cifras de Eurostat muestran que el valor total del comercio sino-europeo en el mes de julio fue de 35 mil 600 millones de euros, unos 49 mil 400 millones de dólares. Esta cifra supera en 800 millones de euros al valor del comercio entre la Unión Europea y Estados Unidos y supone un 13.4% de las importaciones y exportaciones totales de la región’ (6).
Segundo, a finales de 2012, Estados Unidos perdió su condición de primera potencia comercial del mundo (aquí hay una corrección. En “Occidente se desploma” hable del 2013). Con esto prácticamente estaba a un paso de perder su condición de primer país capitalista del mundo, pues, en 2012 su ventaja en PBI a China ya era solo de tres billones de dólares (Estados Unidos 15 billones, China 12 billones) (7).
Tercero, 2013, también fue sorprendente. La India se convirtió en la tercera economía mundial, desplazando a Japón de este puesto. En efecto, el 30 de mayo de 2013 la Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económicos (OCDE) dio cuenta al mundo que La India había pasado a ser la tercera mayor economía del mundo.
Cuarto, 2014 (mayo), Según el FMI la economía china es la mayor economía capitalista del mundo. Ha superado a Estados Unidos en Paridad de Poder Adquisitivo. China representa el 16,479% del PIB mundial frente al 16,277% de Estados Unidos, según se desprende de las últimas estadísticas de la organización.
Quinto, 2014 (octubre), hay acuerdo de fundación del Banco Asiático de Inversión en Infraestructura (AsianInfrastructureInvestment Bank o BAII), una institución financiera internacional propuesta por el gobierno de China y con cargo de redacción de estatutos internos a finales de 2015 el mismo que se cumplió el 25 de diciembre de 2015 y abierto oficialmente el 16 de enero de 2016. Es un banco que tiene mucha trascendencia en la geo economía mundial. Actualmente tiene 57 miembros (incluye a Alemania, Reino Unido, Australia y Corea del Sur).
Sexto, 01 de diciembre de 2015, el Fondo Monetario Internacional anunció el ingreso del yuan en la canasta de reservas –junto al dólar, el euro, el yen y la libra esterlina-, es decir, a las monedas que el FMI utiliza como activo internacional en lo que supone el reconocimiento del poder de China en la economía mundial. Esto significa que la cesta del FMI estará compuesta a partir de esa fecha por un 47,7% de dólares, un 30,9% de euros, un 10,9% de renmimbi, un 8,3% de yenes y 8,09% de libras esterlinas.
Y, para estar actualizados, aquí los recientes hechos:
Primero, en 2016 en medio de esta sombría situación económica mundial, cuando las economías están ralentizadas, con una histórica caída del consumo mundial y con un enorme ejercito de parados (las economías occidentales prácticamente estancadas con el 0.2 % de crecimiento), se tuvo noticias que China habría aportado a ese crecimiento agónico, el 33,2 por ciento. El PBI chino en 2016 fue del 6,7.
Segundo, a finales de 2016 se produce la implosión de la arquitectura del dominio imperialista occidental, esto ocurre en el marco de la pérdida de la hegemonía mundial estadounidense en 2010.
Tercero, cuando el presidente chino, Xi Jinping, dijo en el último conclave de Davos (17 de enero de 2017): "les guste o no, la economía global es un gran océano del que no se puede escapar. Cualquier intento de
cortar el flujo de capital, tecnología, productos, industrias y personas entre las economías, y canalizar las aguas del océano de vuelta hacia lagos y riachuelos aislados es simplemente imposible", lo que en realidad estaba queriendo decir era que la mundialización de los monopolios, en este caso de los monopolios chinos, seguía su curso. Lógicamente como en los sesenta, los setenta, los ochenta del siglo pasado y en los 2001-2016.
Finalmente:
Reafirmo aquí, con la energía que me asiste, que ahora vivimos tiempos históricos. Tiempos inexorables. El desplazamiento del bloque imperialista occidental encabezado por Estados Unidos en la nueva estructura económica del sistema capitalista mundial emergida tras la gran crisis económica iniciada en 2008, es realmente excepcional. Pues, en concreto, aquello ha roto el espinazo del dominio hegemónico estadounidense que por más de un siglo ha ocasionado enormes sufrimientos a los pueblos del mundo entero.
NOTAS:
1.- “Xi y Trump acuerdan impulsar la cooperación de ganar-ganar y desarrollar los lazos constructivos entre China y EEUU. “. Nota publicada el 10 de febrero de 2017.
2.- “Economía global en 2050: EE.UU. baja y Rusia lidera Europa, entre otras sorpresas”. Nota publicada el 7 de febrero de 2017, en: Rusia Today. Ver el siguiente enlace: https://actualidad.rt.com/actualidad/230471-economia-global-2050-china-eeuu
3.- “Asesor principal de Trump cree que se acerca el Apocalipsis”. Nota publicada el 9 de febrero de 2017, en HispanTV.
4.- “Proteccionismo” soporte ideológico del nuevo posicionamiento geoestratégico de EEUU”. Autor: Enrique Muñoz Gamarra. Artículo publicado el 29 de enero de 2017, en: www.enriquemunozgamarra.org
5.- “Proteccionismo” soporte ideológico del nuevo posicionamiento geoestratégico de EEUU”. Autor: Enrique Muñoz Gamarra. Artículo publicado el 29 de enero de 2017, en: www.enriquemunozgamarra.org
6.- “Militaristas estadounidenses empiezan ocupación de regiones débiles del planeta: ¿Habrá respuesta de China?” Autor: Enrique Muñoz Gamarra. Artículo publicado el 1 de febrero de 2013, en: www.enriquemuozgamarra.org
7.- “Moscú mira a Oriente” Autor: Higinio Polo. Nota publicada el 20 de febrero de 2013, en: Rebelión.
(*) ENRIQUE MUÑOZ GAMARRA:
Sociólogo peruano, especialista en geopolítica y análisis internacional. Autor del libro: “Coyuntura Histórica. Estructura Multipolar y Ascenso del Fascismo en Estados Unidos”. Su Página web es:

In

Blog ENRIQUE MUÑOS GAMARRA
http://www.enriquemunozgamarra.org/Articulos/163.pdf

11/2/2017