segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Fim do pós-neoliberalismo Ascensão da direita pura e dura***

Fim do pós-neoliberalismo Ascensão da direita pura e dura.


James Petras*


A subida da direita pura e dura ao governo é um corolária das «alianças
“sectoriais” e questões da vida quotidiana substituíram a consciência de classe.
Os sindicatos perderam a sua capacidade de promover a luta de classes a partir
de baixo e até mesmo de influenciar os sectores mais populares. A classe
trabalhadora ficou numa posição vulnerável e está enfraquecida para se opor à
implacável contra-ofensiva neoliberal anti-reformista».

A luta de classes “vinda de cima” encontrou a sua expressão mais intensa, global
e retrógrada na Argentina, com a eleição de Mauricio Macri como presidente em
Dezembro de 2015. Durante os dois primeiros meses no cargo, Macri tem revogado,
por decreto, uma imensidão de políticas sócio-económicas progressistas aprovadas
durante a última década e tenta expulsar das instituições públicas as vozes
independentes.

Contando com uma maioria hostil no Congresso, assumiu poderes legislativos e
procedeu à nomeação de dois Juízes do Supremo Tribunal, violando a própria
Constituição.

O Presidente Macri efectuou uma purga nos ministérios e instituições do Estado
para expulsar pessoas nomeadas pelo governo anterior consideradas críticas e
substitui-las por leais funcionários neoliberais. Deteve dirigentes de
movimentos populares e perseguiu membros do gabinete anterior.

Enquanto promovia a reconfiguração do Estado, o Presidente Macri lançou uma
contra-revolução neoliberal que inclui uma desvalorização da moeda de 40% e
elevou o preço da cesta básica em 30%; o fim de uma taxa sobre todas as
exportações agrícolas e minerais (excepto soja); um limite ao aumento salarial
20% abaixo do aumento do custo de vida; um aumento de 400% no preço da
electricidade e 200% do transporte; despedimentos em massa de funcionários
públicos e nas empresas privadas; uso de balas de borracha para dispersar
manifestações de grevistas; medidas para realizar privatizações em grande escala
de sectores económicos estratégicos; um desembolso de 6.500 milhões de dólares
aos credores de fundos abutre e especuladores (com um retorno de 1.000%) e
contraiu novas dívidas.

A guerra de classes de elevada intensidade do presidente Macri visa inverter o
bem-estar social e políticas progressistas implementadas pelos governos dos
Kirchner nos últimos doze anos (2003-2015).

O presidente Macri declarou uma nova versão implacável da luta de classes a
partir de cima, que sucede a um modelo cíclico neoliberal de longo prazo, no
qual temos assistido a:

1- Um governo militar autoritário (1966-1972), acompanhado de uma intensa luta
de classes a partir de baixo, seguido de eleições democráticas (1973-1976).

2- Uma ditadura militar acompanhada de uma intensa luta de classes a partir de
cima (1976-1982), que resultou no assassinato de 30.000 trabalhadores.

3- Uma transição negociada para a política eleitoral (1983), uma crise
inflacionária e o aprofundamento do neoliberalismo (1989-2000).

4- Crise e queda do neoliberalismo e luta de classes insurrecional de baixo para
cima (2001-2003).

5- Regimes de centro-esquerda Kirchner-Fernández (2003-2015), em favor de um
pacto social entre trabalho, capital e o regime.

6- Regime autoritário neoliberal de Macri (2015) e luta de classes agressiva de
cima. O objectivo estratégico de Macri é consolidar um novo bloco de poder
formado pela indústria agro-mineira local e a oligarquia banqueira local,
banqueiros e investidores estrangeiros e o aparelho político-militar, a fim de
aumentar significativamente os lucros embaratecendo a mão de obra.

A origem do aumento da prevalência de bloco neoliberal pode ser encontrada nas
práticas e políticas de governos anteriores Kirchner e Fernandez. Estas
políticas foram projetadas para superar as crises capitalistas de 2000-2002,
canalizando o descontentamento das massas populares através de reformas sociais,
incentivos às exportações agro-minerais e aumento do nível de vida mediante
tributação progressiva, subsídios de energia elétrica e dos alimentos e aumento
das pensões. Os programas progressistas de Kirchner foram baseados no boom dos
preços das matérias-primas. Quando estes caíram a “coexistência” entre capital e
trabalho foi dissolvida e a aliança de empresários, classe média e capital
estrangeiro, liderada por Macri, aproveitou a morte do modelo para tomar o
poder.

A luta de classes impulsionada a partir de baixo tinha sido severamente
enfraquecida pela aliança do mundo do trabalho com o regime de Kirchner, não
porque isso o beneficiara financeiramente, mas porque o pacto desmobilizou as
organizações de massa ativas em 2001-2003. Ao longo dos 12 anos seguintes, os
trabalhadores fizeram parte das negociações sectoriais (paritárias) com a
intermediação de um “governo amigo”. As alianças “sectoriais” e questões da vida
quotidiana substituíram a consciência de classe. Os sindicatos perderam a sua
capacidade de promover a luta de classes a partir de baixo e até mesmo de
influenciar os sectores mais populares. A classe trabalhadora ficou numa posição
vulnerável e está enfraquecida para se opor à implacável contra-ofensiva
neoliberal anti-reformista.

No entanto, as medidas extremas tomadas por Macri – a enorme queda no poder de
compra, a espiral inflacionária e demissões massivas – têm provocado os
primeiros passos de um ressurgimento da luta de classes a partir de baixo.

7 - As greves de professores e funcionários motivados pelos cortes salariais e
as demissões dispararam em resposta aos cortes no sector público e aos decretos
executivos arbitrários. Os movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos
convocaram manifestações esporádicas em resposta ao desmantelamento das
instituições que perseguiam os oficiais do exército responsáveis pelo
assassinato e desaparecimento de 30.000 pessoas durante a “guerra suja”
(1976-1983).

Enquanto o regime Macri continua a aprofundar e expandir as suas medidas
reacionárias destinadas a reduzir os custos de trabalho e dos impostos das
empresas e o nível de vida, a fim de atrair o capital com a promessa de maiores
lucros; enquanto a inflação sobe e a economia estagna devido ao declínio do
investimento público e do consumo, há probabilidades de que a luta de classes se
intensifique. Tudo indica que antes do final do primeiro ano do governo Macri se
acentuarão as greves e outras formas de ação direta.

As grandes organizações de classe capazes de mobilizar a luta de classes a
partir de baixo, enfraquecida por uma década do “modelo corporativo” da era
Kirchner, vão levar tempo para se reconstruir. A grande questão é saber como
organizar um movimento político de âmbito nacional que vá além da rejeição de
candidatos eleitorais afins de Macri nas próximas eleições legislativas,
provinciais e municipais e quando o fazer.


* James Petras, Professor da Universidade de Nova Iorque, é amigo e colaborador
de odiario.info.

Tradução de Guilerme Alves Coelho

In
O DIARIO.INFO
http://www.odiario.info/?p=3934
29/2/2016

*** Hic Rhodus, Hic Salta!. Seremos amanhã, a Argentina de hoje?

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Tirar a Petrobras do pré-sal é rifar o futuro do País




Lindbergh Farias

Projeto aprovado pelo Senado comprometerá investimentos cruciais em saúde e
educação










Plataforma de exploração da Petrobras: a estatal é parte fundamental da economia
nacional


O Senado pode se enganar, mas o povo brasileiro não pode ser enganado. O que
aconteceu na noite de quarta-feira 24 foi lamentável. O projeto do senador José
Serra (PSDB-SP) pretendia retirar da Petrobras a condição de operadora única do
pré-sal. O “substitutivo” do senador Romero Jucá (PMDB-RR), aprovado pelo
Senado, fez exatamente isso: retirou da Petrobras a sua condição de operadora
única. Assim, o “substitutivo” substituiu seis por meia dúzia.

Além de substituir seis por meia dúzia, o texto aprovado foi adornado com
algumas miçangas retóricas para edulcorar o presente de grego, que falam da
“preferência” que será oferecida obrigatoriamente à Petrobras. Ora, tal
preferência dependerá, pelo próprio texto aprovado, das autoridades de plantão.
Se elas forem favoráveis, a Petrobras poderá operar o pré-sal. Se elas não forem
favoráveis, a Petrobras será excluída.

Se o objetivo era acelerar os investimentos no pré-sal, bastava flexibilizar o
percentual de participação mínima da Petrobras (30%), como defendeu a emenda
apresentada pelo senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE).

Aparentemente, isso não bastava. O fato é que a garantia legal esfumou-se. Era
isso que se queria. Esse objetivo maior foi alcançado.

E isso é trágico. Ter a nossa empresa estatal, um orgulho nacional, como
operadora única do pré-sal não é apenas importante para a Petrobras. É
fundamental para o Brasil.

O domínio estratégico que os países produtores e exportadores exercem sobre o
petróleo se assenta, além da nacionalização das jazidas, em dois grandes pilares
complementares: o regime de partilha e grandes operadoras nacionais.

No regime de concessão, que impera ainda no pós-sal, o petróleo deixa de ser
propriedade do país, assim que ele entra na broca da empresa concessionária, que
faz com ele o que quiser. No regime de partilha, o país mantém a propriedade do
óleo, mesmo depois de ele ser extraído.

Assim, é o Estado quem decide o que será feito e em quais proporções. O Estado
dita o ritmo da produção e decide que quantidade estocar, exportar, refinar no
país e irrigar uma vasta cadeia produtiva. A empresa é simplesmente remunerada
pelos serviços prestados.

Isso é fácil de entender. O que aparentemente não é muito fácil de entender é
que esse domínio estratégico do petróleo não funciona, ou não funciona bem, sem
uma grande operadora nacional.

Quando os países produtores decidiram nacionalizar as suas jazidas,
revolucionando o mercado mundial de petróleo, que antes era inteiramente
dominado pelas multinacionais dos países desenvolvidos, eles se preocuparam
também em constituir grandes operadoras nacionais. Por quê?

Porque eles sabiam que, sem uma grande operadora, eles não teriam efetivo acesso
às informações cruciais sobre as suas jazidas, como as relacionadas aos custos
efetivos de produção, às remunerações devidas, ao verdadeiro potencial das áreas
prospectadas. Ora, não se tem domínio estratégico do petróleo sem o domínio
dessa informação.

Ademais, sem operar é impossível desenvolver tecnologia própria. Também não se
tem domínio estratégico do petróleo sem domínio mínimo de tecnologia. Não
bastasse, sem operadora local é impossível se estimular cadeias nacionais de
produção, gerando renda e emprego para população.

O resultado é que, hoje, ao contrário do que acontecia até a década de 60, as
maiores empresas de petróleo e gás do mundo são estatais. São as chamadas
national oil companies (NOCs). Entre elas, estão a Saudi Aramco (Arábia
Saudita), a NIOC (Irã), a KPC (Kuwait), a ADNOC (Abu Dhabi), a Gazprom (Rússia),
a CNPC (China), a PDVSA (Venezuela), a Statoil (Noruega), a Petronas (Malásia),
a NNPC (Nigéria), a Sonangol (Angola), a Pemex (México) e a Petrobras.

Em uma estimativa bem conservadora, feita em 2008, antes de o pré-sal ser bem
conhecido, as NOCs já dominavam 73% das reservas provadas de petróleo do mundo e
respondiam por 61% da produção de óleo. Segundo a Agência Internacional de
Energia, a tendência é a de que as NOCs sejam responsáveis por 80% da produção
adicional de petróleo e gás até 2030, pois elas dominam as reservas.

Essa é a realidade do mercado mundial do petróleo. Realidade que a maioria dos
senadores desconheceu na votação. Tal maioria de senadores parece ter
desconhecido também princípios de lógica e aritmética básica. Os argumentos
utilizados foram inacreditáveis.

Argumentaram, por exemplo, que a Petrobras não pode explorar o pré-sal a
contento porque está endividada. Ora, todas as empresas de petróleo e gás estão
atualmente, em maior ou menor grau, endividadas e passando por crises. A dívida
da Petrobras foi ocasionada pelos investimentos que ela teve de fazer no pré-sal
e por fatores cambiais amplamente conhecidos. Não tem nada a ver com corrupção,
que deve ser um assunto a ser tratado em delegacias de polícia, não nas
estratégias econômicas do País.

A dívida é de fato volumosa, mas isso não impede a Petrobras de ser a operadora
única do pré-sal. Além de ser uma empresa operacionalmente muito eficiente e
lucrativa, por ter excelência reconhecida internacionalmente no desenvolvimento
de tecnologia, a Petrobras tem um lastro patrimonial que a protege: o pré-sal.

Segundo as últimas estimativas feitas pelo Instituto Nacional de Óleo e Gás da
UERJ, o pré-sal contém 176 bilhões de barris, óleo suficiente para cobrir,
sozinho, cinco anos de consumo mundial de hidrocarbonetos. Mesmo com o barril
com preço artificialmente baixo de 30 dólares, basta fazer uma continha simples
para ver que a atual dívida da Petrobras não é problema incontornável, como
afirmam os desinformados.

A dívida poderá ser incontornável, contudo, se a legislação for efetivamente
modificada. A lei atual, que se quer revisar, assegura à nossa operadora, além
da remuneração imediata de todos os seus custos e investimentos, participação
mínima obrigatória de 30% nessa riqueza extraordinária. Essa é uma garantia
essencial para a Petrobras.

Porém, ao se retirar da Petrobras a condição de operadora única, se retira
também essa garantia fundamental e se investe em sua fragilização e em sua
possível privatização.

Mas a questão essencial aqui não é simplesmente proteger a Petrobras. É proteger
os interesses do Brasil. A participação da Petrobras no pré-sal deve ser
assegurada e protegida porque isso é crucial para o desenvolvimento brasileiro.

A cadeia de petróleo e gás, comandada pela Petrobras, é a maior cadeia produtiva
do País, responsável por cerca de 20% do PIB brasileiro e 15% dos empregos
gerados.

Tal cadeia é sustentada por uma política de conteúdo nacional, implantada no
primeiro governo Lula, que gera demanda robusta em setores-chave como o da
construção civil pesada e a indústria naval, só para citar alguns poucos. Em
2000, a indústria náutica e os estaleiros empregavam no Brasil somente 1.910
pessoas. Em 2014, mesmo com a crise, esse setor já empregava mais de 82.000
pessoas.

Pois bem, tal cadeia produtiva não se sustentará e não se desenvolverá sem a
Petrobras como operadora do pré-sal. Por quê?

Porque empresas multinacionais demandam insumos e serviços fundamentalmente em
seus países de origem. A Chevron ou a Shell não comprarão navios, plataformas,
sondas, ou qualquer outra coisa no Brasil.

Sem a Petrobras como grande operadora não se sustentará também o desenvolvimento
de tecnologia nacional nessa área estratégica. A tecnologia se desenvolve na
operação e para a operação. Foi operando que a Petrobras se transformou na
empresa que detém a mais avançada tecnologia de prospecção e exploração de
petróleo em águas profundas e ultraprofundas, ganhadora, por três vezes, do OTC
Distinguished Achievement Award, maior prêmio internacional concedido às
empresas de petróleo que se distinguem em desenvolvimento tecnológico. Todo esse
capital estratégico poderá se esfumar, caso a Petrobras seja retirada do
pré-sal.

Sem a Petrobras como grande operadora, não se sustentará a alavancagem de nosso
desenvolvimento com a riqueza desse recurso extraordinário que é o pré-sal.
Poderemos até vender mais rapidamente petróleo cru. Mas isso não contribuirá
para o nosso desenvolvimento.

Ao contrário, essa lógica imediatista e predatória poderá nos conduzir à temível
doença holandesa, caracterizada pelo consumo perdulário de bens de consumo
importados e pela apreciação artificial da moeda que extermina a produção local.

Sem a Petrobras como grande operadora, o financiamento da Educação e da Saúde
com os royalties do petróleo fica também parcialmente comprometido. Em suma, sem
a Petrobras como grande operadora, nosso futuro fica comprometido.

Ainda há tempo de se corrigir esse erro, na Câmara, nas ruas e no debate
público. Mas é preciso se apressar: o futuro do Brasil está se decidindo agora,
em projetos como esse.

A restauração neoliberal já está em curso. Precisamos, todos nós, escolher nosso
lado. E o povo brasileiro precisa saber o que estão decidindo em seu nome. O
povo brasileiro precisa saber que estão rifando seu futuro.


In
CARTA CAPITAL
http://www.cartacapital.com.br/politica/tirar-a-petrobras-do-pre-sal-e-rifar-o-futuro-do-pais?ref=yfp
25/2/2016

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

MST lança nota sobre acordo do governo que muda lei do lei do pré-sal




O petróleo é uma riqueza estratégica para os interesses nacionais Por isso, deve
ficar sob controle do Estado.

O MST condena o acordo do governo da presidente Dilma Rousseff com o senador
José Serra (PSDB) e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), para a
aprovação do projeto 131/2015 no Senado, que tira da Petrobras o patamar mínimo
de 30% dos blocos e a condição de operadora única do pré-sal.


Com o acordo no Senado, o governo Dilma se alinhou aos parlamentares que
votaram contra a aprovação do modelo da partilha, que querem abrir o pré-sal
para as petroleiras estrangeiras.


A aprovação da Lei da Partilha do Pré-Sal, em 2010, representou um avanço
importante em relação ao modelo de concessão, criado no governo FHC, que
quebrou o monopólio estatal do petróleo.


O petróleo é uma riqueza estratégica para os interesses nacionais e para o
desenvolvimento social. Por isso, deve ficar sob controle do Estado, que deve
determinar o ritmo de exploração e produção, garantindo a destinação da renda
para atender a necessidade do povo brasileiro.


Ao retirar da Petrobras a condição de operadora única dos blocos do petróleo,
as grandes petroleiras estrangeiras poderão controlar o processo de exploração e
produção do pré-sal, com autonomia para fazer as compras de plataformas, sondas,
máquinas e equipamentos fora do Brasil. Assim, o país perde a oportunidade de
desenvolver a indústria e tecnologia nacionais, ficando refém do capital
internacional.


Defendemos a manutenção do regime de exploração da partilha e a operação única
da Petrobras, que conferem ao Estado brasileiro maior capacidade de intervenção
para definir o ritmo de produção e de controle sobre a renda petroleira com a
exploração e produção de pelo menos 176 bilhões de barris previsto no polígono
do pré-sal do Brasil.


O pré-sal é um patrimônio do povo brasileiro e não admitimos qualquer mudança
que represente a entrega das nossas riquezas naturais para empresas
estrangeiras. Lutamos ao lado dos petroleiros contra a quebra do monopólio
estatal, durante o governo FHC. Depois, lutamos contra a realização dos leilões
do petróleo em áreas terrestres, inclusive no governo Lula. Com a descoberta do
pré-sal, participamos da Campanha “O Petróleo Tem que ser Nosso”, com os
petroleiros, centrais sindicais e entidades estudantis.


Nos comprometemos a ajudar a convocar todas as forças populares para fazer uma
grande campanha contra o projeto 131/15, para barrar a aprovação no Congresso
e, se necessário, acamparemos em frente ao Palácio do Planalto para exigir o
veto da Presidenta Dilma. O petróleo tem que ser nosso!


Coordenação Nacional do MST

In
MST
http://www.mst.org.br/2016/02/25/mst-lanca-nota-sobre-acordo-do-governo-que-muda-lei-do-lei-do-pre-sal.html
25/2/2016

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O capitalismo na sua fase autofágica





O ocidente está reduzido a canibalizar-se

por Paul Craig Roberts [*]

Eu próprio, Michael Hudson, John Perkins e alguns outros, temos relatado
os múltiplos saqueios de povos pelas instituições econômicas ocidentais,
principalmente os grandes bancos de Nova Iorque com a ajuda do Fundo
Monetário Internacional (FMI).

Os países do terceiro mundo foram e são saqueados ao serem induzidos em
certos planos de desenvolvimento. A governos crédulos e confiantes é-lhes
dito que podem tornar os seus países ricos contraindo empréstimos externos
para implementarem planos de desenvolvimento que as potências ocidentais
apresentam e que teriam em resultado desse desenvolvimento económico
suficientes receitas fiscais para pagamentos dos empréstimos externos.

Raramente, se alguma vez, isso acontece. O que acontece é que o país se
torna endividado até ao limite, muito para além dos seus ganhos em moeda
estrangeira. Quando o país é incapaz de satisfazer o serviço de dívida, os
credores enviam o FMI ao governo endividado para dizer que o FMI poderá
proteger o rating financeiro do governo emprestando-lhe dinheiro para
pagar aos seus credores bancários. No entanto, as condições impostas são
que o governo deverá tomar as necessárias medidas de austeridade a fim de
poder pagar ao FMI.

Estas medidas consistem em restringir serviços públicos, o sector
estatal, pensões de reforma e vender recursos nacionais aos estrangeiros.
O dinheiro economizado pela redução de benefícios sociais e o obtido com a
venda de ativos do país aos estrangeiros serve para pagar ao FMI.

Esta é a maneira pela qual historicamente o Ocidente tem saqueado países
do terceiro mundo. Se o presidente de um país estiver relutante em entrar
em tal negócio, ele simplesmente é subornado, como governos gregos foram,
juntando-se ao saque do país que pretensamente representaria. Quando este
método de saque se esgota, o Ocidente compra terras agrícolas forçando
países do terceiro mundo a abandonarem uma política de auto-suficiência
alimentar, produzindo uma ou duas culturas para exportação.

Esta política tornou populações do terceiro mundo dependentes das
importações de alimentos do ocidente. Normalmente as receitas de
exportação são captadas por governantes corruptos ou pelos compradores
estrangeiros que pagam preços reduzidos pelas exportações enquanto os
estrangeiros vendem alimentos demasiado caro. Desta forma, a
auto-suficiência é transformada em endividamento.

Com o terceiro mundo explorado até aos limites possíveis, as potências
ocidentais resolveram saquear os seus próprios países. A Irlanda tem sido
saqueada, o saque da Grécia e de Portugal é tão severo que forçou um
grande número de mulheres jovens à prostituição. Mas isso não incomoda a
consciência ocidental.

Anteriormente, quando um país soberano se encontrava com endividamento
superior ao que poderia suportar, os credores tinham que anular parte da
dívida até um montante em que o país pudesse suportar. No século XXI,
como relato no meu livro The Failure of Laissez Faire Capitalism, esta
regra tradicional foi abandonada.

A nova regra é que a população de um país, até mesmo de países cujos
dirigentes de topo aceitaram subornos para endividar o país a
estrangeiros, deve ter as pensões de reforma, emprego e serviços sociais
reduzido. Além disto, valiosos recursos nacionais como sistemas municipais
de água, portos, lotaria nacional e espaços naturais protegidos, tais como
as ilhas gregas protegidas, vendidas a estrangeiros, que ficam com a
liberdade de aumentar os preços da água, negar ao governo grego as
receitas da lotaria nacional e vender a imobiliárias o patrimônio nacional
protegido da Grécia.

O que aconteceu à Grécia e a Portugal está em curso em Espanha e Itália.
Os povos são impotentes, porque seus governos não os representam. E não se
trata apenas de governantes que receberam subornos, os membros dos
governos possuem a lavagem cerebral de que os seus países devem pertencer
à União Europeia, caso contrário, serão ultrapassados pela história.

Os povos oprimidos e sofredores sofrem o mesmo tipo de lavagem cerebral.
Por exemplo, na Grécia o governo eleito para evitar o saque da Grécia
estava impotente porque a lavagem cerebral ao povo grego era para que
custasse o que custasse deviam permanecer na UE. A junção de propaganda,
poder financeiro, estupidez e subornos significa que não há esperança
para os povos europeus.

O mesmo é verdade nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Reino Unido.
Nos Estados Unidos dezenas de milhões de cidadãos dos EUA aceitaram
tranquilamente a ausência de qualquer rendimento de juros sobre suas
poupanças durante sete anos. Em vez de levantarem questões e protestarem,
os americanos aceitaram sem pensar a propaganda de que a sua existência
depende do êxito de um punhado de megabancos artificialmente criados,
"grandes demais para falir". Milhões de americanos estão convencidos de
que é melhor para eles deixar degradar as suas economias do que um banco
corrupto falir.

Para manter os povos ocidentais confusos sobre a real ameaça que
enfrentam, é dito às pessoas que há terroristas atrás de cada árvore, de
cada passaporte, ou mesmo sob cada cama, e que todos serão mortos a menos
que o excessivo poder do governo seja inquestionável. Até agora isso tem
funcionado perfeitamente, com falsas palavras de ordem, reforçando falsos
ataques terroristas, que servem para evitar a tomada de consciência de que
isto não passa de um embuste para acumular todos os rendimentos e riqueza
em poucas mãos.

Não contente com sua supremacia sobre os "povos democráticos", o “um por
cento” dos mais ricos avançou com as parcerias Transatlântica (TTIP) e
Transpacífica. Alegadamente, são "acordos de livre comércio" que
beneficiarão a todos. Na verdade, são negociações cuidadosamente
escondidas, secretas, que permitem o controlo de empresas privadas sobre
as leis de governos soberanos.

Por exemplo, veio a público que no âmbito do TTIP o Serviço Nacional de
Saúde no Reino Unido poderia ser regido por tribunais privados,
instituídos no âmbito daquele tratado e, constituindo um obstáculo para
seguros médicos privados, ser processado por danos a empresas privadas e
até mesmo forçado à sua extinção.

O corrupto governo do Reino Unido sob o vassalo de Washington David
Cameron bloqueou o acesso aos documentos legais que mostram o impacto da
parceria transatlântica no Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha.
www.globalresearch.ca/...

Para qualquer cidadão de um país ocidental, que seja tão estúpido ou
tenha o seu cérebro tão lavado para não ter percebido isso, a verdadeira
intenção da política do "seu" governo é entregar todos os aspectos das
suas vidas ao apoderamento de interesses privados.

No Reino Unido, o serviço postal foi vendido a um preço irrealista a
interesses privados com ligações políticas. Nos EUA os republicanos e
talvez os democratas, pretendem privatizar o Medicare e a Previdência
Social, assim como privatizaram muitos aspectos das forças armadas e do
sistema prisional. As funções do Estado tornaram-se alvos para o lucro
privado.

Uma das razões para a escalada do custo do orçamento militar dos EUA é a
sua privatização. A privatização do sistema prisional dos EUA resultou em
que grande número de pessoas inocentes é enviada para a prisão e forçada a
trabalhar para a Apple Computer, para empresas de vestuário que produzem
para as forças armadas e para um grande número de outras empresas
privadas. Os trabalhadores da prisão são pagos tão baixo quanto 69
centavos por hora, inferior ao salário chinês.

Isto é a América hoje. Policiais corruptos. Promotores de Justiça
corruptos. Juízes corruptos. Mas máximo lucro para os capitalistas dos EUA
a partir de trabalho nas prisões. Os economistas do livre mercado
glorificaram prisões privadas, alegando que seriam mais eficientes. E na
verdade são eficientes em fornecer os lucros do trabalho escravo para os
capitalistas.

Mostramos uma reportagem sobre o primeiro-ministro Cameron negando
informações sobre o efeito da parceria transatlântica TTIP no Serviço
Nacional de Saúde britânico.
www.theguardian.com/...

O jornal britânico Guardian, que várias vezes teve de prostituir-se
para manter um pouco de independência, descreve a raiva que sente o povo
britânico pelo sigilo do governo sobre uma questão tão fundamental para o
seu bem-estar. Contudo, continuam a votar em partidos políticos que têm
traído o povo britânico.

Por toda a Europa, governos corruptos controlados por Washington têm
distraído as pessoas sobre a forma como são vendidos pelos "seus"
governos, concentrando a sua atenção nos imigrantes, cuja presença decorre
de governos europeus representarem os interesses de Washington e não os
interesses de seus próprios povos.

Algo terrível aconteceu à inteligência e a consciência dos povos
ocidentais, que parecem já não ser capazes de compreender as maquinações
dos "seus" governos.

Governo responsável nos países ocidentais é história. Apenas fracasso e o
colapso aguarda a civilização ocidental.
[*] Foi secretário de Estado Adjunto do Tesouro para a política económica
e editor associado do Wall Street Journal. Colunista na Business Week,
Scripps Howard News Service e Creators Syndicate. Tem tido muitas
intervenções em universidades. Os seus textos na internet são seguidos no
mundo inteiro. Os livros mais recentes de Paul Craig Roberts são The
Failure of Laissez Faire Capitalism and Economic Dissolution of the West ,
How America Was Lost e The Neoconservative Threat to World Order .

O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/ . Tradução de DVC.


In
RESSITIR.INFO
http://resistir.info/crise/roberts_20jan16.html
24/2/2016

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

“Todos os argumentos em favor da reforma da previdência visam sua privatização e fianceirização





Gabriel Brito e Valéria Nader



A pauta política do ano começa a esquentar e um dos principais
tópicos em discussão é a Reforma da Previdência, sempre
bombardeada pelos setores corporativos como deficitária – sob
benção do próprio governo. Para discutir mais esse tema
repleto de informações dadas pela metade, entrevistamos Denise
Gentil, economista e pesquisadora, que acabou de concluir sua
tese de doutorado sobre o que considera o falso déficit da
Previdência.



“A reforma é uma completa insensatez. O gasto com a política
social foi um dos esteios do crescimento econômico no período
2004-2010. Com a crise mundial e a queda dos preços das
commodities a partir de 2011, o gasto social se transformou
numa necessidade básica para dar sustentação à economia
interna, já que os investimentos privados, o consumo das
famílias e as exportações sofreram em quedas consecutivas”,
afirmou, em tom introdutório.



A seguir, Denise mostra em números como a seguridade social
brasileira tem contas sustentáveis, mas, como em qualquer
setor da economia, está colocada a serviço da manutenção das
margens de lucro do empresariado, o que obviamente se oculta
dos debates midiáticos.



“São todos argumentos de apoio à privatização, mais
precisamente, à financeirização de tudo que seja público.
Ocorre que essa é uma equação simplificadora da questão. Há
outras fontes de receita que não são computadas nesse cálculo,
como a COFINS, a CSLL e a receita de loterias. Quando todas as
receitas são computadas no cálculo do resultado financeiro da
Seguridade Social, obtém-se superávit de R$68 bilhões no ano
de 2013, R$ 36 bilhões em 2014 e R$16 bilhões em 2015”, expôs.



Além de desconstruir a argumentação “liberal-privatizante”,
como denomina a proposta, Denise Gentil propõe outros pontos
de vista em questões como idade mínima de aposentadora e a
própria noção de solidariedade da seguridade social, além de
defender fórmulas variadas para a aposentadoria dos
trabalhadores de diversas regiões e características do país.



A entrevista completa com Denise Gentil pode ser lida a
seguir.





Correio da Cidadania: Como enxerga a volta da proposta de
Reforma da Previdência neste início de ano, em meio a uma
grave crise econômica?



Denise Gentil: É uma completa insensatez. O gasto com a
política social foi um dos esteios do crescimento econômico no
período 2004-2010. Com a crise mundial e a queda dos preços
das commodities a partir de 2011, o gasto social se
transformou numa necessidade básica para dar sustentação à
economia interna, já que os investimentos privados, o consumo
das famílias e as exportações sofreram em quedas consecutivas.



O governo Dilma, no entanto, mudou completamente o rumo da
política macroeconômica e tem enfrentado muito mal a crise
externa. A economia brasileira tem sido desativada de seus
mecanismos de crescimento de forma programada. Houve redução
do crédito, queda brutal do investimento público, elevação da
taxa de juros, menor aporte de recurso para as estatais
(principalmente Petrobrás), redução inclusive do gasto social,
enfim, um pacote recessivo que reforça as consequências
nefastas da crise mundial.



Para culminar, o governo, na angústia de ser solícito e
atender às pressões do sistema financeiro, achando que, com
isso, vai se equilibrar minimamente no jogo de poder onde tem
perdido sistematicamente, lança como estratégia política a
Reforma da Previdência. Considero um suicídio político. O
governo atira contra sua base eleitoral correndo o risco de
perder apoio onde ainda lhe resta algum.



Correio da Cidadania: O que pensa dos argumentos dominantes em
favor dessa reforma previdenciária?



Denise Gentil: São todos argumentos de apoio à privatização,
mais precisamente, à financeirização de tudo que seja público.
O orçamento público se transformou num instrumento a serviço
dos interesses do sistema financeiro. Temos a mais elevada
taxa de juros do mundo e a dívida pública é o mecanismo mais
brutal de apropriação privada dos recursos públicos. Em lugar
nenhum há uma transferência tão violentamente explícita de
renda aos bancos, fundos de investimento e fundos de pensão
como no Brasil.



É um escândalo que nosso país tenha gasto R$501 bilhões com
juros no ano de 2015, justamente num ano em que o orçamento
público deveria estar a serviço da recuperação da economia.
São 8,5% do PIB destinados a uma classe de rentistas que
apenas acumula riqueza sem nada devolver à sociedade. Não
investe, consome pouco e remete renda ao exterior.



Mas os bancos não querem apenas os juros da dívida. Na área da
saúde, o sucateamento do SUS empurra as pessoas para os planos
de saúde privados ofertados também pelos bancos. Na área de
educação, o patrocínio do governo às empresas privadas é de
enorme generosidade. Agora, como se ainda não fosse o
suficiente, a base da proposta de Reforma da Previdência visa
dificultar o acesso a direitos sociais e comprimir o valor dos
benefícios. O governo alardeia que a previdência pública não
tem sustentação financeira. Usa a mídia para divulgar
amplamente essa idéia como se fosse uma verdade inabalável. O
resultado é que está empurrando as pessoas para os planos de
previdência privada complementar o que os bancos oferecem. É
mais do mesmo.



É um amplo processo orquestrado de privatização, que o governo
Dilma está levando adiante de forma muito mais radical. É
preciso entender a reforma da previdência não como uma
necessidade conjuntural de ajuste fiscal ou de enfrentamento
de uma trajetória demográfica, mas antes como um projeto do
mundo das finanças. O ajuste fiscal é apenas um pretexto para
justificar os interesses ocultos por trás desse grande acordo
entre Estado e o poder financeiro.



Correio da Cidadania: O que você comenta a respeito da ideia
do “déficit da previdência”, tão propalada pelos veículos de
comunicação?



Denise Gentil: Tenho defendido a ideia de que o cálculo do
déficit previdenciário não é correto, porque não está de
acordo com os preceitos da Constituição Federal de 1988, que
estabelece o arcabouço jurídico do sistema de seguridade
social. O cálculo do resultado previdenciário que tem sido
oficialmente divulgado pelo governo leva em consideração
apenas a receita de contribuição previdenciária ao INSS dos
empregados, empregadores e contribuintes individuais,
diminuindo dessa única fonte de receita o valor dos gastos com
benefícios previdenciários. O resultado dá em déficit.



Ocorre que essa é uma equação simplificadora da questão. Há
outras fontes de receita da Previdência que não são computadas
nesse cálculo, como a COFINS (Contribuição para o
Financiamento da Seguridade social), a CSLL (Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido) e a receita de concursos de
prognósticos (loterias). O artigo 195 da Constituição Federal
assegura que essas receitas financiam a Previdência, a Saúde e
a Assistência Social, mas não são levadas em consideração.
Quando todas as receitas de contribuições sociais são
computadas no cálculo do resultado financeiro da Seguridade
Social, obtém-se superávit de R$68 bilhões no ano de 2013, R$
36 bilhões em 2014 e R$16 bilhões em 2015.



A pesquisa que realizei leva em conta todos os gastos com
benefícios, com pessoal e custeio dos ministérios (Saúde,
Assistência Social e Previdência). Essa informação favorável
não é repassada para a população, que fica com a noção de que
o sistema previdenciário brasileiro enfrenta uma crise de
grandes proporções e necessita de reforma urgentemente. O
cálculo é propositalmente feito para difundir um suposto
déficit e gerar o descrédito do sistema público de Previdência
para se conseguir a aprovação de reformas que reduzem
benefícios.



Essas ideias foram tão reiteradamente repetidas que o cidadão
comum, as pessoas do meio acadêmico, os homens de negócios e a
burocracia do governo passaram a incorporá-las como se fossem
verdades definitivas. A ANFIP faz estudos anuais, com elevado
grau de detalhamento, divulgando o resultado superavitário da
Seguridade Social há mais de vinte anos. Nunca vi uma matéria
na televisão que propagasse os estudos da ANFIP (Associação
Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal) que, aliás,
são de alto nível.



Há um outro ponto que gostaria de destacar. O governo Dilma
privilegiou desonerações tributárias em larga escala como um
dos eixos principais de estímulo ao crescimento e, em menor
escala, à recuperação da indústria, a despeito da conhecida
limitação desse instrumento para tal fim. A renúncia de
receitas em 2014 alcançou a cifra de R$253 bilhões ou 5% do
PIB, dos quais R$136 bilhões (2,6% do PIB) pertenciam à
Seguridade Social.



Em 2015, a desoneração total chegou a R$282 bilhões e
representou um valor maior do que a soma de tudo o que foi
gasto, em 2014, em Saúde (R$93 bilhões), Educação (R$93,9
bilhões), Assistência Social (R$71 bilhões), Transporte
(R$13,8 bilhões) e Ciência e Tecnologia (R$6,1 bilhões) pelo
governo federal. Em 2015, do total do valor das renúncias de
receitas tributárias, 55% pertenciam à Seguridade Social, isto
é, R$157,6 bilhões.



Não é aceitável que o governo conceda esse patamar
estratosférico de desonerações e agora proponha cortar gastos.
Não é minimamente razoável que o governo force o entendimento
de que faltam recursos para manter o sistema de proteção
social quando abre mão de montantes gigantescos de receita a
favor da margem de lucro das empresas.



Correio da Cidadania: O que pensa da proposta de idade mínima
pra aposentadoria? Qual fórmula te parece mais justa nesse
sentido?



Denise Gentil: Não sou favorável ao estabelecimento de uma
idade mínima para a aposentadoria por tempo de contribuição.
Quem se aposenta nessas condições normalmente começou a
trabalhar muito cedo e, no caso dos que têm menor renda,
sacrifica seus estudos e sua escolaridade fica prejudicada.
Por isso tais pessoas ganham salários menores, têm saúde mais
precária e vivem menos. Estabelecer uma idade mais elevada
para a aposentadoria seria punitivo para os que começaram a
trabalhar muito cedo.



Normalmente, as pessoas que se aposentam por tempo de
contribuição formam dois tipos de grupo. Alguns acabam
voltando a trabalhar depois de aposentados e, portanto, voltam
a contribuir para o INSS; estes, não são um peso para o
orçamento da União, pelo contrário, gerarão mais arrecadação
do que será gasto com suas aposentadorias. Outros que se
aposentam mais cedo, por tempo de contribuição, o fazem
compulsoriamente, porque não conseguem manter seus empregos,
na maioria das vezes por defasagem entre os avanços
tecnológicos e sua formação ultrapassada, ou por problemas de
saúde devido ao aparecimento de doenças crônicas que certos
ofícios normalmente ocasionam, ou ainda por desemprego causado
por períodos recessivos. Estes aposentados já são punidos (com
redução do valor da aposentadoria) pelo fator previdenciário.



As perdas de renda são grandes principalmente para as
mulheres. Tratar a todos com se fossem iguais, como se o
mercado de trabalho fosse homogêneo e como se tudo ocorresse
da mesma forma na região Norte e Sudeste, é injusto. Mas o
fundamental em tudo isso é que forçar a aposentadoria para uma
idade mais alta não implica necessariamente em manter o
trabalhador contribuindo para a previdência, porque poucos vão
conseguir ter um posto de trabalho com o avanço da idade.
Pode, ao contrário, significar que eles perderão a condição de
segurados, principalmente em recessões prolongadas.



Correio da Cidadania: Você acredita na necessidade de alguma
reforma da Previdência? De que tipo?



Denise Gentil: A reforma realmente necessária teria que
permitir a aposentadoria de trabalhadores urbanos mais pobres
e informais com regras semelhantes às dos rurais. Aqueles que
não conseguiram um emprego formal no meio urbano durante sua
vida ativa deveriam se aposentar com um salário mínimo,
comprovando o tempo de trabalho. A reforma deveria ser
inclusiva, criando mecanismos de proteção mais amplos e não
afastando as pessoas da previdência pública com regras duras e
renda baixa para os aposentados.



Deveríamos caminhar no rumo de um sistema previdenciário para
todos, inclusive para os que não contribuíram, mas trabalharam
a vida toda. Estes necessitam da aposentadoria na velhice e
poderiam receber o piso básico simplesmente porque são
cidadãos brasileiros e não podem ser desamparados. Se não
contribuíram diretamente para a previdência, pagaram impostos
indiretamente, principalmente aqueles embutidos nos preços.



Nós precisamos de uma reforma edificante, que traga mecanismos
compensatórios para a exclusão do mercado de trabalho, que
discuta uma agenda positiva com a sociedade, que proponha
laços de solidariedades entre as gerações e entre as classes e
que fortaleça a cidadania.



Correio da Cidadania: Quais seriam as principais consequências
na vida da população, caso se aprove a reforma agora em
discussão?



Denise Gentil: Ainda não se sabe exatamente a amplitude que
essa reforma terá. Quando o debate começa no fórum da
previdência e as propostas vão surgindo, as coisas vão ficando
perigosas porque as disputas se acirram e a atuação dos
lobbies fica muito mais forte. Haverá também a enorme pressão
política dos meios de comunicação. As forças conservadoras da
burocracia do governo emergem, trazendo propostas de reforma
draconianas. O desfecho é pouco previsível. Para a classe
trabalhadora isso é um pesadelo, um tormento que se repete
incessantemente.



O resultado que se quer alcançar com reformas de corte
liberal-privatizante é a redução da renda das aposentadorias,
do piso e do teto, e ao mesmo tempo elevar o grau de
dificuldade para as pessoas conseguirem se aposentar para que
elas passem o menor tempo possível recebendo uma renda do
governo. Quanto menor o período de aposentadoria, isto é,
quanto mais próximo do fim da vida, melhor. Essa é a
estratégia. Com benefícios menores, as pessoas que tiverem
condições de pagar serão empurradas para os planos de
previdência complementar num banco privado, porque a renda que
receberão do sistema público não garantirá a sobrevivência em
condições semelhantes às da fase ativa.



A previdência pública tende a se responsabilizar apenas por um
piso básico de valor mínimo para atender precariamente os mais
pobres. Assim, a tendência é de transferir a responsabilidade
da renda futura para os indivíduos e famílias, retirando cada
vez mais o amparo do Estado. O sistema previdenciário vai
ampliar as assimetrias e exclusões existentes no mercado de
trabalho e a pobreza entre os idosos voltará a crescer. O
governo Dilma não consegue sustentar os avanços sociais
conquistados na primeira década deste século. A impressão que
se tem é que tudo não para de desmoronar.



Correio da Cidadania: Em sua visão, quais seriam os resultados
macroeconômicos da reforma previdenciária, tal como proposta?



Denise Gentil: O resultado político é desastroso, mas já que a
pergunta é sobre o efeito macroeconômico, talvez seja melhor
começar por aí. O resultado econômico de se fazer redução de
gasto público, aliás, de qualquer tipo de gasto, sempre será
um menor crescimento. E crescimento mais baixo significa queda
da taxa de emprego, dos lucros e salários e, por tudo isso,
menor será a arrecadação de tributos. Fazer ajuste fiscal
agrava o resultado fiscal. Reduzir gasto social é condenar a
economia à recessão, particularmente em momentos de crise
externa.



O governo diz que a redução do gasto previdenciário vai abrir
espaço para o investimento público. Isso é uma grande bobagem.
Redução de gasto em governos muito conservadores, como é o
caso do governo Dilma, sempre significará elevação de
superávit primário e não maior investimento. Além disso, um
governo que realmente deseje realizar investimentos de grande
porte não usa a arrecadação dos tributos para esse fim, porque
nunca seriam suficientes. Para se fazer investimentos
expressivos o governo tem de tomar empréstimos, lançar títulos
públicos no mercado, emitir moeda e, sobretudo, fazer grandes
acordos para coordenar um bloco de interesses, nacionais e
internacionais, numa determinada direção.



Essa fórmula é mais velha que a roda no mundo das finanças
públicas. Só tem dinheiro para fazer investimentos de grande
impacto quem tem um projeto de inserção internacional. País
nenhum na história do capitalismo mundial cresceu economizando
migalhas de seus recursos internos, mas realizando grandes
projetos estratégicos que implicam em elevar a dívida pública.
Portanto, não será “economizando” com gastos sociais que o
governo arranjará uma fonte de recursos para ampliar os
investimentos.


In
Correio da Cidadania
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=11437:2016-02-19-15-26-19&catid=34:manchete
19/2/2016

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

EEUU: El fenómeno Sanders, ¿qué significa y adónde va?



Alan Woods


A pesar de que había sido ampliamente predicha, la aplastante victoria de Bernie
Sanders en las primarias de New Hampshire provocó ondas de choque. Después de
perder por poco en Iowa (y es muy probable que el resultado haya sido
manipulado), Sanders venció a Clinton por un margen de más de 20 puntos el
pasado martes 9 de febrero. Este resultado ha producido desconcierto entre los
comentaristas. Eso era algo que se suponía que no podía suceder.

"La teoría es gris, amigo mío, pero el árbol de la vida es siempre verde"
(Fausto, de Goethe)

A pesar de que había sido ampliamente predicha, la aplastante victoria de Bernie
Sanders en las primarias de New Hampshire provocó ondas de choque. Después de
perder por poco en Iowa (y es muy probable que el resultado haya sido
manipulado), Sanders venció a Clinton por un margen de más de 20 puntos el
pasado martes 9 de febrero. Este resultado ha producido desconcierto entre los
comentaristas. Eso era algo que se suponía que no podía suceder.

Que un socialista de 74 años de edad, pudiera ganar tanto en Iowa como en New
Hampshire parecía impensable en una campaña de primarias que se suponía daban
como ganadora segura a Hillary Clinton. Los votantes Demócratas eran
seguramente demasiado prácticos para abrazar a un candidato que impulsaba
políticas tales como un seguro de salud universal, público y gratuito, que
atacaba a Wall Street, que llamaba a una revolución política, e incluso que se
calificaba a sí mismo como socialista democrático.

Durante meses, los medios de comunicación trataron de ignorar la candidatura de
Sanders. Toda la atención fue destinada a Donald Trump, mientras que se daba por
descontado que Hillary Clinton dominaría la carrera por la candidatura
presidencial del Partido Demócrata. Pero las cosas no resultaron así. Como está
haciéndose evidente que Sanders se está convirtiendo en un contendiente serio,
todo el peso de la máquina del Partido Demócrata será desplegada en un decidido
intento de detenerlo.

Hillary Clinton tiene el apoyo de la élite Democrática, y de los funcionarios
del partido elegidos para los cargos de dirección de los principales grupos de
activistas. Ella fue respaldada por un ejército de celebridades y ricos
aportantes, y por todo el resto de la banda adinerada que constituye el
Establishment Demócrata burgués. Barack Obama lanzó su peso detrás de Clinton,
prodigándola en elogios y menospreciando las ideas de Sanders como "irreales"
Según todas las leyes, en consecuencia, Sanders debería haber tenido poca o
ninguna posibilidad. Pero todo fue en vano. Tanto a nivel nacional, como en las
primarias iniciales de los estados, Bernie Sanders logró derrotar a Clinton.
¿Cómo pudo pasar esto?

Parte de la explicación reside en el hecho de que Sanders tuvo éxito en
movilizar un apoyo de masas. Se basó en una enorme red popular y de recaudación
de fondos. Sanders ha realizado algunas de las mayores concentraciones
populares en sus mítines, por delante de cualquiera de los candidatos –Demócrata
o Republicano. Se llevaron a cabo cientos de eventos, a menudo con una multitud
desbordante que le oían llamar a una "revolución política" en Estados Unidos.
Los "Me Gusta" de su Facebook superan ampliamente a los de Hillary Clinton. La
fuerza impulsora principal de esto fue la juventud. Eso debe estar claro hasta
para los ciegos más ciegos. Pero esta explicación necesita a su vez ser
explicada.

No se puede explicar por las cualidades personales de Sanders, a pesar de que
sin duda ha demostrado un gran valor y resistencia frente a una andanada de
ataques e insultos. Sin embargo, él es un hombre blanco de edad avanzada con un
aire un tanto excéntrico. La razón principal hay que encontrarla en los cambios
profundos que se están produciendo en la conciencia de la sociedad
norteamericana.

Democracia para los multimillonarios

En los EEUU ya había un sentimiento de alienación hacia los partidos políticos.
Ahora esa alienación se está convirtiendo en odio. Es aquí donde hay que buscar
la explicación del rápido ascenso de Bernie Sanders.

Debajo de la superficie de la sociedad estadounidense hay un gran descontento,
ira y, sobre todo, frustración. Al igual que las tremendas fuerzas que se
acumulan debajo de la corteza terrestre, este descontento está buscando una
salida. Tarde o temprano la encontrará, y ​​puede darse en los lugares más
inesperados.

El desplome económico de 2008 y sus secuelas convirtieron el sueño americano en
una Pesadilla Norteamericana para millones. Eso afecta a los jóvenes sobre todo,
pero cada vez más hay un cuestionamiento del capitalismo entre amplios sectores
de la sociedad. Las grandes cantidades de dinero público entregados a los
súper-ricos del uno por ciento; el enorme contraste entre la riqueza obscena y
la pobreza degradante; la arrogancia de las élites políticas: todas estas cosas
han creado una sensación ardiente de injusticia que no halla expresión en los
partidos políticos existentes. Vemos el mismo fenómeno en todas partes.

En los EEUU, las elecciones se ganan o se pierden y los candidatos
presidenciales se seleccionan o se rechazan, no sobre la base de sus ideas o
cualidades personales superiores, sino únicamente en base al tamaño de sus
cuentas bancarias y de la caja de guerra de la campaña. Para ser Presidente de
la nación más rica del mundo, uno tiene que ser un millonario o bien contar con
el respaldo de varios multimillonarios. La democracia se convierte en una
palabra vacía. Es el gobierno de los ricos, por los ricos y para los ricos.
Hillary Clinton inició el año 2016 con un fondo de guerra de 145 millones de
dólares de sus partidarios de los grandes negocios.

Por el contrario, Sanders ha sacado alrededor de 3,5 millones de dólares en
donaciones, cada una a un promedio de 27 dólares por parte de gente común.
Después de su éxito en New Hampshire su sitio web para la recaudación de fondos
colapsó porque muchas personas estaban enviando dinero. Cuando se le preguntó
en un debate que explicara la diferencia entre él y Clinton sobre los planes
para enfrentarse a los grandes bancos, Sanders respondió: "La primera diferencia
es que yo no tomo dinero de los grandes bancos, no recibo donaciones personales
de Goldman Sachs para dar conferencias”.

Clinton recibió $ 675.000 en honorarios de conferencias por parte de Goldman
Sachs solo en el año 2015, y es sólo la punta del iceberg. Bill y Hillary
Clinton han ganado más de $ 153 millones en discursos pagados en los últimos 15
años, según un estudio de la CNN. Esto incluye al menos $ 7,7 millones
correspondientes a 39 discursos de firmas de Wall Street, como Goldman Sachs,
UBS y Bank of America. Naturalmente, Hillary negó con indignación que esta
generosidad corporativa hubiera ejercido ninguna influencia sobre sus
preferencias políticas, pero como sabemos, el que paga, manda.

Hillary Clinton personifica todo lo que disgusta a la mayoría de la gente de la
política estadounidense. Ella es la expresión consumada del Establishment. Ni
uno solo de sus cabellos está fuera de lugar. La sonrisa afectada es fija en
todo momento. Los discursos son cuidadosamente escritos, y las apariciones en
público siguen la coreografía de un ballet. En completo contraste, Sanders da la
impresión de un hombre al que le importa un comino su apariencia. Y es
precisamente esto lo que le hace querer entre sus jóvenes fans. Como dijo un
periodista: "el pelo despeinado, sus trajes mal ajustados, su acento de Brooklyn
sin pulir, su propensión a gritar y mover las manos como un maníaco. Sanders,
al parecer, siempre fue así. Estas cualidades son las que le hacen parecer
'auténtico', incluso 'sincero'".

Vamos a pasar por alto la insinuación de que la mala forma de vestir de Sanders
no es más que un dispositivo para hacer que se vea "auténtico" (sea lo que sea
lo que esto pudiera significar) o que su sinceridad es de alguna manera
artificial. No tenemos ninguna razón para dudar de la sinceridad de Bernie
Sanders, aunque no necesariamente estemos de acuerdo con todas sus ideas. En
cuanto a Hillary Clinton y las otros marionetas Demócratas de Wall Street, la
falta de sinceridad siempre ha sido una segunda naturaleza para ellos. Es
absolutamente esencial para todos aparecer defendiendo los intereses de la
"gente común", cuando en realidad llevan a cabo políticas que favorecen a los
ricos y poderosos. Y todos ellos, naturalmente, tienen formas de vestir
impecables, como de hecho lo hace cualquier lacayo. Va con el trabajo.

Trump y Sanders

Bernie Sanders ha golpeado ligeramente en el estado de ánimo de descontento de
la sociedad norteamericana. Hay una creciente repulsión contra el Establishment,
contra los políticos de traje elegante que quedan bien con los banqueros, con la
entrega de grandes sumas de dinero público a los ricos, al tiempo que se imponen
recortes brutales del gasto social a los pobres. La gente está cansada de esto
y quiere un cambio. El Financial Times el 9 de febrero, comentaba:

"Lo que ya está claro, sin embargo, es que la clase política de Estados Unidos
sólo está empezando a comprender la profundidad del estado de ánimo anti-sistema
que se está apoderando de los EEUU. Casi ocho años después de la crisis
financiera, este estado de ánimo parece estar creciendo en fuerza, no
debilitándose. El anuncio del presidente Barack Obama la semana pasada de que
la tasa de desempleo en Estados Unidos está ahora por debajo del 5 por ciento
apenas fue registrada en la campaña electoral ".

La atención de los medios de comunicación en estas primarias se ha centrado casi
exclusivamente en Donald Trump. En su forma retorcida y reaccionaria, incluso
él expresa este estado de ánimo. Cultiva un estilo "plebeyo" contundente en su
forma de hablar, que contrasta con el rebuscado y anodino modo de hablar de
Washington de los otros candidatos, que se especializan en lugares comunes
vacíos. Eso explica su popularidad en las filas Republicanas y la paliza que le
dio a todos sus rivales en New Hampshire, para consternación del Establishment
del partido.

Este multimillonario con una gran boca y un saldo bancario aún más grande
defiende a los grandes negocios tanto como Marco Rubio, Ted Cruz o Jeb Bush. La
diferencia es que algunos de ellos intentan ocultar sus políticas reaccionarias
debajo de una fina capa de moderación, mientras que Trump utiliza la demagogia
populista y pretende representar al "hombre pequeño" como un medio para entregar
a los "hombres pequeños" atados de pies y manos, a las entrañas de los grandes
negocios. Se presenta a sí mismo en el papel de un rebelde inconformista,
luchando contra el "Establishment de Washington". La diferencia entre Trump y
los demás es de estilo, no de contenido. Pero con una opinión pública que está
cansada de políticos cuidadosamente confeccionados que pronuncian discursos
cuidadosamente confeccionados, las diferencias de estilo pueden confundirse
fácilmente con una diferencia radical en el contenido. Aquí, como en el arte de
la prestidigitación, la rapidez de la mano engaña al ojo.

Al igual que Trump, Bernie Sanders habla de una manera que es muy diferente a la
forma en que lo hace la élite política. Pero a diferencia de Trump, aboga por
políticas que atiendan a los trabajadores estadounidenses desfavorecidos y mal
pagados. Él se irrita contra la injusticia económica y social y arremete contra
el Establishment. Los estudiantes están luchando por pagar deudas impagables y
los padres tienen que trabajar en dos o tres puestos de trabajo de baja
remuneración para llegar a fin de mes. La idea de que la economía está
"manipulada" a favor de la elite rica ha tocado la fibra sensible de millones de
personas.

Muchos votantes Republicanos se han impresionado con Sanders. Escribiendo en el
Financial Times, Gideon Rachman señala que tanto Trump como Sanders están
diciendo cosas que habrían sido impensables hace no mucho tiempo. "Sin embargo,
el hecho de que ambos hombres estén dispuestos a romper tabúes retóricos ha
fortalecido sus respectivas pretensiones de ser intrusos auténticos. Eso parece
ser lo que los votantes están buscando". (Enfasis nuestro)

La juventud

Los jóvenes de los EEUU se supone que no deben estar interesados ​​en la
política. Eso no es sorprendente. ¿En qué habían de estar interesados? La
política era aburrida: un circo sin sentido en el que los Demócratas se turnaban
con los Republicanos con monótona regularidad y sin que nadie viera la más
mínima diferencia. Pero ahora todo eso ha cambiado. La política estadounidense
se ha vuelto interesante de repente.

La fuerza principal que está impulsando el cambio es la juventud. Un observador
británico describió el apoyo a Sanders entre los jóvenes como "impresionante".
El movimiento, al menos inicialmente, no fue tanto el resultado de un esfuerzo
organizado por la campaña de Sanders, sino más bien como una reacción visceral
de apoyo al propio candidato. Una generación que ha sido la más bombardeada con
consignas de marketing y publicidad engañosa ahora ve en Sanders algo diferente
y extrañamente atractivo. En las entrevistas, los jóvenes partidarios de la
candidatura presidencial del senador de Vermont casi todos ofrecen alguna
versión de la misma respuesta cuando se le preguntó por qué les gusta: He aquí
un hombre que parece sincero.

Ejércitos de jóvenes están convirtiendo lo que parecía una causa perdida en una
campaña muy eficaz. Un voluntario dice: "Cosas que nunca se pueden esperar de
una campaña tradicional. Es alucinante de ver". La mayoría de los votantes
jóvenes (y de muchos mayores) tiene una profunda desconfianza de los políticos.
La hostilidad hacia la señora Clinton entre los votantes jóvenes es
sorprendente. Al sufrir las dificultades económicas y la carga de los préstamos
universitarios, pueden ver que ella es demasiado acogedora con grandes bancos y
las empresas estadounidenses. Pero Sanders es visto como algo diferente.

"Parece que él está en el momento de su vida en que realmente está diciendo lo
que está pensando", dijo Olivia Sauer, de 18 años, una estudiante de primer año
que regresó a su ciudad natal, Ames, Iowa, para participar en el caucus a favor
de Bernie Sanders. "Con Hillary", dijo, "a veces tienes la sensación de que
todas sus frases son propiedad de alguien". Esa es una observación muy
perceptiva. Estas frases no son suyas. Están escritas por otra persona. Pero no
son sólo sus discursos los que no son suyos. Su corazón, alma, mente y
conciencia son propiedad de otra persona, de alguien que se llama Wall Street.

Apoyo creciente para el socialismo

El creciente apoyo a Bernie Sanders señala un cambio drástico en el panorama
político de los Estados Unidos, y por lo tanto, del mundo. Es aún más notable en
un país donde las ideas socialistas han sido suprimidas y demonizadas. Como la
columnista del Washington Post, Catalina Rampell, admitió a regañadientes el
viernes 29 de enero, la generación actual de la juventud, a la que pertenece
ella, "ama a Sanders no a pesar de su socialismo, sino debido a él ... Muchos de
nosotros también entramos en el mercado de trabajo justo cuando apareció el
capitalismo salvaje haciendo estallar la economía mundial. Tal vez por esta
razón, la generación del milenio [los nacidos a fines de los 80 y 90, NdT] en
realidad parece preferir el socialismo al capitalismo".

"En mi columna de hoy, he mencionado que una de las razones por las que los
"milenios" prefieren a Bernie Sanders frente a Hillary Clinton es que ellos no
sólo pasan por alto el socialismo de Sanders - sino que en realidad les gusta su
socialismo. Es una característica, no un error".

Una encuesta de YouGov preguntaba a la gente si tenía una opinión favorable o
desfavorable del socialismo y del capitalismo, y los resultados se desglosan por
diversos grupos demográficos:

El 52 por ciento expresó una opinión favorable del capitalismo, en comparación
con el 29 por ciento para el socialismo. Pero esto no cuenta toda la historia.
Los Republicanos, los de las familias que ganan más de $ 100,000, y las personas
de 65 y más años de edad estuvieron más fuertemente a favor del capitalismo en
comparación con el socialismo. Sin embargo, los Demócratas tienen del
socialismo y del capitalismo opiniones igualmente positivas (ambos el 42 por
ciento de favorabilidad). Y los menores de 30 años clasificaron el socialismo
como más favorable que el capitalismo (43 por ciento contra 32 por ciento,
respectivamente).

Mientras que "socialista" era la única categoría para la cual una mayoría de los
encuestados decía que era reticente a votar, el hecho más sorprendente es que el
47 por ciento dijo que votaría por un socialista.

Los jóvenes demostraron ser aproximadamente igual o más abiertos que sus mayores
en todas las categorías encuestadas por Gallup, pero la mayor brecha entre
jóvenes y mayores era sobre candidatos "socialistas": También en este caso la
diferencia está en línea con la edad de los encuestados : Mientras que el 34 por
ciento de los encuestados mayores de 65 años dijo que estarían dispuestos a
votar a un socialista, el número entre los encuestados menores de 30 años era
casi el doble - 69 por ciento.

Esto indica un cambio importante en la conciencia que llama la atención en la
juventud, pero que no se limita a ellos. A pesar de la andanada colosal de
propaganda antisocialista a la que ha sido sometida la opinión pública
estadounidense durante muchas décadas, el hecho de que más de un tercio de las
personas mayores estén dispuestos a votar socialista es en sí bastante notable.
Y debemos tener en cuenta que estas cifras son del pasado mes de junio, antes de
que la campaña de Sanders hubiera cobrado impulso. No puede haber ninguna duda
de que el apoyo para el socialismo ha aumentado desde entonces. El resultado de
Iowa ya era una indicación de eso, y se confirma por el resultado en New
Hampshire.

El Establishment está alarmado

En todo el tiempo que cualquiera pueda recordar el capitalismo estadounidense ha
estado basado en dos apoyos sólidos: los Demócratas y Republicanos. Ahora ese
edificio aparentemente sólido está mostrando grietas en sus cimientos y los
burgueses están alarmándose. Bloomberg View el 5 de febrero llevaba un artículo
con el título: Bernie Sanders, amenaza pública. Dice lo siguiente: "El senador
Bernie Sanders es un ser humano decente y un político apasionado. También es
una grave amenaza para la moderación y el empirismo racional. La robusta campaña
de Sanders para presidente es, en consecuencia, una amenaza también para los
EEUU".

Pero las cosas no están mucho mejor con el otro partido de los grandes negocios:

"El Partido Republicano se ha debilitado, como fuente de políticas y como
partido de gobierno, por las exigencias ideológicas cada vez más estrictas que
la periferia potente y firme del partido impone a su disminuido y debilitado
centro. Ha sucumbido tan a fondo al estilo paranoico de la política que el
candidato presidencial Republicano dirigente del llamado establishment sugiere
rutinariamente que el presidente Barack Obama es un agente nefasto para el
destino de la nación. La cháchara delirante y rancia se ha vuelto tan común en
la derecha que ya rara vez merece atención".

El mayor temor de los estrategas del capital de Estados Unidos es que la crisis
del capitalismo conduzca a una fuerte polarización hacia la izquierda y la
derecha, es decir, a una polarización de clase. Eso es lo que quieren decir
cuando se refieren a un "centro disminuido y debilitado". Por encima de todo
temen a Bernie Sanders, no tanto por el hombre mismo (tienen muchas maneras de
destruir o anular a los políticos individuales), sino por las fuerzas que él ha
desencadenado.

Sanders, dice el artículo, tiene "atributos indeseables" ¿Cuáles son? Él está
"animado casi exclusivamente por la desigualdad económica y la injusticia."
¡Qué cosa más terrible! ¡Un candidato presidencial que se opone a la desigualdad
y la injusticia! Continúa:

"La economía de Estados Unidos, un gigantesco monstruo de 18 billones de dólares
estirándose y contrayéndose en más direcciones a la vez de lo que nadie puede
comprender, y mucho menos controlar, está 'manipulada', dice Sanders. Esta
afirmación, también, debe mucho a un estilo paranoico. ¿Quién ha manipulado este
gigantosaurio de bienes y servicios dispares infinitamente variados? Tal vez
"Wall Street". O tal vez las 'corporaciones'".

La indignación de Bloomberg View no conoce límites. ¿Cómo puede alguien en su
sano juicio creer que los grandes bancos y corporaciones han manipulado la
economía en su propio interés? A lo que contestamos: ¿Cómo puede alguien en su
sano juicio creer cualquier otra cosa? Pero los verdaderos temores de las
empresas estadounidenses se expresan en lo siguiente:

"En política, cualquier fuerza demasiado fantasmal para llevar un nombre
apropiado es muy difícil que sea contenida por el gobierno o la ley. Sanders
prácticamente lo admite. Él postula que si es elegido para la Casa Blanca,
donde él comandaría las grandes palancas del poder ejecutivo, eso no sería
suficiente para desmantelar las cosas. Una mayoría electoral podría ser
suficiente para una "moderada" como Hillary Clinton; Sanders, sin embargo,
reclama una "revolución". (Énfasis nuestro)

Se puede decir que el llamamiento de Sanders para una revolución política no es
claro. Tal vez sea así, pero su significado es muy claro para los estrategas del
capital. Si Sanders fuera elegido Presidente se enfrentaría a un Congreso
hostil - no menos entre los Demócratas, la mayoría de los cuales le odian y
temen. En primer lugar tratarían de comprarlo, de reclutarlo para su lado, una
táctica que han desarrollado en un fino arte durante generaciones. Pero ¿qué
ocurriría si no tuvieran éxito? El problema se explica aquí con el cinismo más
sorprendente:

"Ninguno de estos problemas son un obstáculo para Sanders en el Senado, donde es
uno entre 100. Pero Sanders ya no está contenido allí. Él está tratando de
construir un movimiento para dominar el partido Demócrata y pasar a ganar la
Casa Blanca. Los Demócratas no pueden permitirse cualquier resultado".

Al plantear constantemente la idea de la revolución, Sanders ha tocado la fibra
sensible de muchas personas que sienten que el actual sistema está corrupto y
podrido hasta la médula. Esto ha plantado semillas en la mente de la gente que
van a crecer y adquirir una expresión de masas en la medida que la crisis del
capitalismo se profundice. Las consecuencias son incalculables. Gideon Rachman
subraya los peligros para la clase dominante - y no sólo en los EE.UU.:

"Si el anhelo de los Estados Unidos para los líderes anti-sistema de la
periferia política continúa, las consecuencias serán profundas - para los EE.UU.
y para el mundo. El sistema, dominado por los Demócratas y Republicanos, siempre
ha rechazado los extremos políticos. Eso significa que, detrás de los dramas
diarios, la nación se ha beneficiado de una estabilidad política profunda, lo
que ha contribuido en gran medida a su fuerza económica y a su poder global. Si
la inmunidad de los Estados Unidos para el extremismo está llegando a su fin, el
mundo entero sentirá las consecuencias".

"Sexismo"

Se espera que las mujeres ayuden a dar energía a Hillary Clinton para la
nominación Demócrata, pero las mujeres jóvenes han sido atraídas a la causa de
Bernie Sanders. Esto ha causado indignación y resentimiento entre feministas,
como la autora Gloria Steinem. Ella es una partidaria devota de Hillary
Clinton. Junto con otras feministas mayores ella ha estado llevando a cabo una
campaña contra Sanders por su presunto sexismo. Aquí, sin embargo, la Sra.
Steinem se ha encontrado con un problema espinoso: un gran número de mujeres
jóvenes están haciendo campaña activamente por Bernie Sanders.

Una sucia campaña difamatoria ha sido lanzada por el campo de Clinton para
sugerir que el ejército entusiasta de medios sociales independientes de los
socialistas (el "Bernie Bros") aleja a las votantes femeninas. La última de
estas criaturas en salir de debajo de las piedras es la ex secretaria de Estado
Madeleine Albright, quien recientemente apareció en un mitin de Clinton en la
que ella prácticamente acusó a las mujeres jóvenes de "traicionar a su género".
"¡Hay un lugar especial en el infierno para las mujeres que no se ayudan entre
ellas!" anunció, con la esperanza de que esta amenaza de lo más imaginativa de
enviar a todas las mujeres que apoyaron Bernie a un lugar cálido e incómodo
sería el truco que funcionaría donde todos lo demás habían fracasado.

¿Qué lugar especial en el infierno estaría reservado para una mujer que ha
servido a la causa del imperialismo de Estados Unidos toda su vida y que condenó
a la muerte a medio millón de niños iraquíes como resultado de sanciones de
Estados Unidos que "merecieron la pena"? La Sra. Albright no se dignó en
informarnos. Estas difamaciones provocaron inmediatamente una tormenta de
protestas de muchas mujeres. Aunque a muchas les gustaría ver, naturalmente, a
una mujer como presidente, entienden que no hay que votar a un candidato basado
únicamente en el género. Ellas prefieren de lejos a Bernie Sanders frente a las
Hillary Clinton y Madeleine Albright ¿Y quién puede culparlas por eso?

Los asediados Steinem y Albright, sin embargo, no tardaron en recibir el
refuerzo de alguien que es bien conocido por su actitud favorable a las mujeres
- William Jefferson Clinton, también conocido como Bill. El anterior ocupante
de la Casa Blanca ahora disfruta de una moderada jubilación cómoda, después de
haber acumulado una cifra estimada de $ 80 millones por los servicios prestados
a los Estados Unidos (es decir, a los banqueros y capitalistas norteamericanos).
Dado que el valor neto de Hillary Clinton está en el orden de $ 31.3 millones,
el valor neto combinado de Bill y Hillary se monta en alrededor de 111 millones
de dólares. Por supuesto, si Hillary regresara de nuevo a la Casa Blanca, la
fortuna de la familia Clinton mejoraría considerablemente. Así que no es una
verdadera sorpresa que el viejo Bill salga de su retiro para expresar su
ferviente apoyo a su esposa.

El ex presidente habló durante casi 50 minutos, y cuanto más hablaba, más se
acaloraba. La naturaleza caliente de su discurso expresó claramente la
frustración que los Clinton sintieron dos días antes de las primarias en New
Hampshire - un estado que les ha premiado en el pasado, pero que se estaba
preparando para abofetearles en la cara. El viejo Bill parecía especialmente
irritado con que New Hampshire, después de elevar su candidatura a la nominación
Demócrata de 1992, y de empujarla a ella a una remontada en 2008, estuviera
preparado ahora para deshacerse de su esposa. Su rabia ante la idea alcanzó su
paroxismo cuando finalmente recurrió a lo que debe haber visto como su arma más
efectiva: la cuestión de género. Los partidarios de Sanders, dijo, utilizan un
lenguaje misógino al atacar a la señora Clinton.

No sabemos cómo reaccionó la audiencia ante esta actuación. Pero en lo que se
refiere a los votantes de New Hampshire, no tuvo ningún efecto en absoluto. Lo
que la campaña de Bernie Sanders demuestra es que una vez que las masas
comienzan a moverse, echan a un lado todos los temas que dividen raza, género,
religión y nacionalidad. Los que tratan de dividir y desorientar al movimiento
serán arrojados a un lado sin piedad. La clase obrera y la juventud
revolucionaria necesitan unidad para cambiar la sociedad.

El programa de Sanders

Mientras que todos los demás candidatos siguen cantando las alabanzas del
capitalismo, Bernie Sanders plantea preguntas incómodas sobre el modelo
existente de sociedad. Ha atacado sin piedad a los grandes bancos y a Wall
Street, señalando que la gran mayoría de toda la riqueza producida por la clase
obrera de Estados Unidos va al uno por ciento más rico. Él aboga por un aumento
del salario mínimo federal a $ 15 por hora y dividir los grandes bancos de Wall
Street. Él describe a Wal-Mart como un beneficiario del estado del bienestar.
Lo mismo puede decirse de todos los bancos y las grandes corporaciones.

Esto es lo que él se refiere como una "economía amañada, un sistema" en la que
una poderosa elite rica ejerce su dominio sobre la gente común, no sólo
económica, sino política. Esa es una descripción justa del capitalismo del
siglo XXI en los EEUU y en cualquier otro lugar donde el capital lleva la
batuta. Sanders aumentaría las tasas de impuestos para los que ganan más de $
250.000, aumentando su tasa al 37 por ciento. Los que están en el extremo
superior de la escala de ingresos - los que ganan más de $ 10 millones al año -
pagarían el 52 por ciento en el impuesto sobre la renta. Sanders también
aumentaría otras tasas o impuestos, incluidos los impuestos de la Seguridad
Social para los ingresos más altos. Además, gravaría las ganancias de capital
en el mismo porcentaje que se hace a los ingresos de un contribuyente en su
trabajo.

Él dice que todos los jóvenes deben tener la oportunidad de recibir una
educación, encontrar empleo y generar ingresos; que la educación debería ser
gratuita y digna para todo individuo en los Estados Unidos. Él afirma que a
través de la educación, la juventud de Norteamérica puede tener acceso a una
gama más amplia de puestos de trabajo y pueden llegar a ser miembros más
productivos para la sociedad. Su propuesta de acceso universal a la salud va
mucho más allá del esquema del Obamacare, el nuevo sistema de salud impulsado
por Obama.

Hay muchas cosas en el programa de Sanders que serán muy atractivas para muchas
personas en los EEUU. Con muchas de estas cosas estamos de acuerdo, como la
atención universal de la salud, la educación gratuita, la reducción de la deuda
de los estudiantes y el salario mínimo de 15 dólares la hora. La gran pregunta
que hay que responder, sin embargo, es ¿cómo se pueden conseguir todas estas
cosas sin romper el poder de los grandes bancos y monopolios?

Él ha propuesto dividir los bancos más grandes del país, diciendo que los seis
más grandes ejercen demasiado control sobre la economía. También ha propuesto la
restricción a los directores ejecutivos de los bancos de servir en los
directorios de las 12 juntas regionales de la Reserva Federal, diciendo que su
pertenencia a esas juntas plantea un conflicto de intereses y socava la
regulación de la industria de servicios financieros. Pero propuestas similares
se han hecho muchas veces antes, sobre todo por Theodore Roosevelt hace cien
años, sin el más mínimo efecto a largo plazo.

La idea de dividir los grandes monopolios es aún más vieja que eso. Esta idea va
en contra de las leyes más fundamentales del capitalismo que Marx explica en el
Manifiesto Comunista. Marx explica que la competencia conduce inevitablemente
al monopolio. Las empresas más grandes siempre se tragarán a los más pequeñas.
Los marxistas dicen que este control sólo es posible mediante la expropiación de
los grandes bancos y corporaciones. Pero Bernie Sanders no aboga por eso. En su
lugar, aboga por romper los grandes bancos y regular el capitalismo. Dice que
Franklin D. Roosevelt es su presidente preferido.

Esta es una observación importante, como lo es su afirmación de que el
socialismo que tiene en mente es como el de los países escandinavos, es decir,
una especie de capitalismo regulado con un estado de bienestar y menos
desigualdad. El problema con esta idea es que ya no existe, incluso en los
países escandinavos. Nosotros, los marxistas decimos: vamos a luchar por cada
reforma que represente una verdadera mejora para la vida de los trabajadores y
la juventud, pero debemos estar dispuestos a sacar todas las conclusiones
necesarias.

Cuando los críticos burgueses de Sanders advierten que su programa sólo puede
ser realizado por una revolución desde abajo, tienen toda la razón. Si esta
lucha ha de tener éxito, debe terminar con el derrocamiento de la dictadura de
Wall Street y de los grandes bancos y corporaciones. La única manera de romper
el poder de los grandes monopolios privados es reemplazar los monopolios
privados con un monopolio estatal de los bancos y las grandes corporaciones. En
lugar de la dictadura de un puñado de patrones de un consejo de administración,
una economía socialista planificada estaría bajo el control democrático y la
gestión de la clase obrera.

¿Puede ganar?

La batalla por la presidencia de Estados Unidos se ha desplazado a una marcha
diferente conforme los caucus y elecciones primarias se van llevando a cabo
estado por estado hasta junio. Así ¿podría Sanders ganar la nominación para
presidente? Eso depende de muchas cosas. Su victoria en New Hampshire no
necesariamente se repetirá en otros estados, particularmente en el sur, donde,
al menos por el momento, Sanders está en una posición más débil con respecto a
su oponente.

Después de la victoria de New Hampshire Sanders dijo: Están tirando todo contra
mí, excepto el fregadero de la cocina, y tengo la sensación de que el fregadero
de la cocina llegará muy pronto también". Ese sentimiento está bien fundado.
Ellos tirarán de cada truco sucio conocido y movilizarán todos sus recursos para
detenerlo. Hillary Clinton dice que va a luchar por cada voto en cada estado, y
no dudamos de que esta es la verdad. Ella tiene el respaldo de la poderosa
maquinaria del Partido Demócrata.

El denominado sistema de "superdelegados" significa que Sanders es probable que
necesite un 60-70 por ciento para ganar. Esa es una tarea gigantesca. Sin
embargo, al final, no es inconcebible que pudiera ganar. El ambiente de rabia
contra el Establishment es tan fuerte que la maquinaria del partido no puede ser
tan formidable obstáculo como parece. La situación es tan volátil que casi
cualquier cosa puede suceder.

¿Qué va a ocurrir si Bernie Sanders no gana la nominación? Eso depende de cómo
él reaccione. Él ha declarado públicamente que si es vencido apoyaría a Hillary
o a cualquier otro candidato del Partido que resulte elegido. Si lo hace
provocaría una ola de decepción entre sus seguidores. El movimiento que ha
inspirado podría evaporarse como una gota de agua caliente en una estufa
caliente. Pero esa no es en absoluto la única posibilidad.

El movimiento en torno a Bernie Sanders ha construido una gran locomotora de
vapor que tenderá a acelerar y crecer en los próximos meses. Existe una
interacción dinámica entre Sanders y el creciente movimiento que encabeza. Si
al final ellos son engañados por la victoria de las maniobras de la maquinaria
del partido, habrá una explosión de ira que debe tener un efecto sobre Sanders
que estará bajo una inmensa presión para no aceptar el resultado.

Lo que esta campaña ya ha demostrado es que las que eran asumidas como las leyes
de la política de los EE.UU. eran, en realidad, sólo costumbres y tradiciones
que se pueden romper y que, de hecho, se han roto. Por tanto no puede excluirse
que esto podría conducir a Sanders a romper con el Partido Demócrata y moverse
en dirección a la creación de un nuevo partido a la izquierda de los Demócratas.
Eso representaría un cambio fundamental en toda la situación.

Sanders y el Partido Demócrata

Lenin señaló que la historia conoce todo tipo de transformaciones peculiares y
ha habido muchas de estas transformaciones últimamente. El molde de la política
ha sido roto en un país tras otro: Grecia, España, Gran Bretaña, por citar sólo
los ejemplos más obvios. Esto no es casual. La crisis que comenzó en 2008 y aún
continúa ha tenido un profundo efecto en la conciencia. Las estructuras
políticas tradicionales han sido sometidas a presiones irresistibles y en muchos
casos han sido destrozadas por estas presiones.

En tal situación, es necesario profundizar en los procesos con mucho cuidado y
asegurarse de que nuestras tácticas, consignas y orientación estén en sintonía
con una situación que está cambiando rápidamente. Esto es cierto tanto para los
EE.UU. como para cualquier otro país. Hemos dicho muchas veces que no hay
ninguna diferencia real entre Republicanos y Demócratas. ¿Sigue siendo el caso?
Por supuesto que sí. En las palabras del gran escritor estadounidense Gore
Vidal: "Nuestra República tiene un solo partido - el Partido de la propiedad -
con dos alas de derechas". Eso es absolutamente correcto y tiene que quedar
claro para el punto de partida de cualquier análisis marxista.

Sin embargo, el punto de partida todavía no es el final del viaje, y este viaje
puede tomar todo tipo de caminos extraños e inesperados para nosotros –o
cualquier otra persona. La campaña de Sanders representa definitivamente un
nuevo e importante factor en la ecuación. Una cosa es el Partido Demócrata y
otra cosa es la campaña masiva que se ha desarrollado en torno a la persona de
Bernie Sanders. Debemos tener cuidado en hacer esta distinción. Ya ha sido hecha
por muchos de los que siguen a Sanders, no porque él sea un Demócrata, sino
porque dice que es socialista.

Sanders no es Demócrata desde hace mucho tiempo. Era un socialista
independiente, ex alcalde de Burlington, Vermont, que se agrupó con los
Demócratas en el Capitolio. El Establishment del Partido Demócrata lo aceptó
como candidato claramente porque pensaban que podría ser utilizado para tirar de
algunos sectores progresista a favor del partido y no parecía haber ninguna
posibilidad de que fuera elegido. Un error similar fue cometido en Gran Bretaña
por los líderes del Partido Laborista cuando permitieron que el nombre de Jeremy
Corbyn figurara en la papeleta de votación para elegir al líder del partido.
Fue hecho por exactamente la misma razón: estas personas están completamente
fuera de contacto con el ambiente real de la sociedad. Al igual que en otros
países, la élite política de los EEUU está totalmente alejada de la realidad.

Estamos a favor de la creación de un Partido Laborista en los EEUU. Decimos que
el Partido Demócrata es un partido burgués que no puede ser cambiado. Esto es
cierto para lo que ya sabemos, pero no va lo suficientemente lejos. Es
necesario decir concretamente cómo se puede formar un Partido Laborista. En el
pasado hemos mantenido que probablemente la iniciativa procedería de los
sindicatos que romperían sus lazos políticos con los Demócratas. Esa era una
hipótesis razonable. Pero como cualquier otra hipótesis debe ser probada en la
realidad.

Ha habido muchos intentos de hacer campañas a favor de un partido laborista
basado en los sindicatos, pero no han conducido a ninguna parte. La degeneración
de la dirección sindical en los EE.UU., probablemente, ha ido más lejos que en
cualquier otro lugar. Los líderes sindicales no tienen absolutamente ninguna
intención de romper con los Demócratas o de crear un Partido Laborista. De
hecho, la idea misma les llena de terror.

El movimiento por una alternativa de izquierda a los Demócratas, bloqueado por
la burocracia sindical, no ha desaparecido. El descontento con la dirección del
Partido Demócrata nunca ha sido tan intenso como lo es hoy. Sin embargo, ha
surgido en el movimiento en torno a Bernie Sanders. Por supuesto, hay que
proceder siempre a partir de los fundamentos si no queremos ser desviados de la
trayectoria por acontecimientos efímeros. Pero es perfectamente claro que algo
está cambiando en la política de Estados Unidos y tenemos que analizar con
cuidado y sacar las conclusiones necesarias.

Una cosa es el programa y las ideas acabadas del marxismo, pero otra cosa,
completamente distinta, es la conciencia necesariamente inacabada, confusa y
contradictoria de las masas. No podemos esperar que los jóvenes que recién están
despertando a la vida política tengan una clara comprensión de la naturaleza de
las cosas. Es la tarea de los marxistas proporcionar la claridad necesaria.
Pero esto no puede hacerse simplemente reiterando las proposiciones generales
del marxismo (aunque sean cien por cien correctas). Es necesario comprometerse
activamente con el movimiento, entrar en un diálogo significativo con él,
compartir su experiencia colectiva, y por supuesto, explicar pacientemente en
términos que puedan ser comprendidos.

El trabajo de los marxistas sería ciertamente muy simple, si las masas entraran
en la lucha política con una conciencia socialista ya formada. En ese caso, no
habría ninguna necesidad de tomarse la molestia de construir una organización
marxista. Pero sabemos que este no es el caso, que las masas entran en la lucha
con las ideas muy confusas y sólo poco a poco, sobre la base de la experiencia,
empiezan a entender la realidad de la situación.

Mientras explicamos pacientemente las limitaciones del reformismo de izquierda y
defendemos las ideas del marxismo revolucionario, es esencial que construyamos
puentes hacia los jóvenes que apoyan a Bernie Sanders. Los compañeros de la
Liga Obrera Internacional (WIL, sus siglas en inglés) han señalado correctamente
que "en esta época de crisis capitalista, hay sólo un pequeño paso entre la
lucha por derechos básicos y modestas reformas y sacar conclusiones totalmente
revolucionarias. El creciente interés en el socialismo es un fenómeno en todo el
mundo, con diferentes versiones que se derivan de las tradiciones y la historia
de cada país: la apuesta de Jeremy Corbyn para liderar del Partido Laborista en
Gran Bretaña; Pablo Iglesias, y el auge de Podemos en España; la elección de
Tsipras y Syriza en Grecia. Aquí en los EE.UU. estamos experimentando nuestra
propia variante, distorsionada a través del prisma de un país con un pasado
anticomunista y sin un partido obrero de masas tradicional.

"A falta de una alternativa viable, y con los líderes obreros sin ofrecer una
vía independiente de clase, muchos trabajadores se encuentran votando
"Demócrata" cuando la época electoral empiece a rodar. Bernie Sanders, el
senador independiente de Vermont, está postulándose como Demócrata para la
nominación presidencial de ese partido. Su llamamiento a una revolución política
y por un socialismo democrático resuena en millones de estadounidenses
decepcionados con las falsas promesas de cambio de Obama. Después de años de
"recuperación" anémica, austeridad, y desigualdad escandalosa, su crítica contra
la "clase multimillonaria" ha tocado una fibra desde Minneapolis a Maine".

Todo esto demuestra que debajo de la superficie de la política estadounidense
las placas tectónicas se están moviendo. Tarde o temprano esto producirá un
terremoto. Lo que estamos presenciando son los primeros temblores que anuncian
la llegada de un cataclismo.

London 12 de febrero de 2016

In
LUCHA DE CLASES
http://www.luchadeclases.org.ve/internacionales/norteamerica/1244-eeuu/7928-bernie-sanders-que-significa
20/2/2016