sábado, 20 de dezembro de 2025

‘Não basta reeleger Lula, tem que estimular luta de massas’: Stedile aponta desafios para 2026

 

Dirigente do MST discute características do contexto geopolítico e o cenário brasileiro

123
Para Stedile, a principal tarefa do próximo ano é reeleger o petista, mas sem abrir mão de estimular, ao longo da campanha, o debate ideológico com a sociedade e o fortalecimento de um movimento de massas
| Crédito: Ricardo Stuckert

A nível internacional, 2025 foi marcado por um conjunto de instabilidades, que vão do acirramento de conflitos bélicos — como o massacre promovido por Israel ao povo palestino na Faixa de Gaza — às tarifas abusivas impostas pelos Estados Unidos, sob comando de Donald Trump, a outros países. 

No Brasil, o contexto de disputa também se acirrou, com a condenação e prisão —  inéditas na história do país — de um ex-presidente e de militares de alta patente por tentativa de golpe de Estado. 

O governo Lula (PT), que começou o ano com baixos índices de aprovação da população e sob constante pressão da direita no Legislativo e do capital financeiro, conseguiu aprovar uma de suas agendas prioritárias  — a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil — e recuperou o fôlego, voltando a aparecer nas pesquisas como o favorito para as eleições de 2026

João Pedro Stedile, dirigente nacional histórico do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), explica que a questão de fundo dessa conjuntura dinâmica é uma profunda crise estrutural do sistema capitalista e a decadência do imperialismo norte-americano. 

“Faliu o modelo anterior dominado pelos Estados Unidos e Europa Ocidental, e ainda não emergiu uma força multipolar. Estamos em uma transição que pode demorar anos. O governo Trump está tentando se garantir controlando a América Latina, o que esperamos que os povos latino-americanos não permitam”, explica, em entrevista ao Visões Populares

“Acho que a China vai desempenhar um papel muito importante, porém, eles são uma civilização de mais de 5 mil anos e são muito cautelosos. Não querem usar a força militar, que, no fundo, é o que decide a rapidez da transição. Então, a China está usando a tecnologia como maneira de se contrapor ao império”, continua. 

Em relação ao Brasil, Stedile é enfático ao afirmar que, ainda que a eleição do terceiro governo Lula em 2022 tenha sido fundamental no enfrentamento à extrema direita, o país segue sem realizar as reformas estruturais necessárias para, por exemplo, superar a pobreza.  

“A sociedade brasileira é a mais desigual do mundo. Há uma diferença abissal entre 1% de bilionários e 88% da população que vive do trabalho e tem que ralar todo dia para comer. Essa estrutura não se alterou com o governo Lula, porque não foram feitas reformas estruturais. Embora o governo tenha recuperado políticas de assistência social como o Bolsa Família, elas não alteram as condições estruturais de vida da população”, argumenta o dirigente do MST.  

Ainda assim, ele afirma que a principal tarefa do próximo ano é reeleger o petista, mas sem abrir mão de estimular, ao longo da campanha, o debate ideológico com a sociedade e o fortalecimento de um movimento de massas. 

“Só a luta de massas arranca conquistas e mudanças estruturais. O voto é importante, mas insuficiente. A campanha de reeleição deve ter duas vertentes: debater um projeto de país, discutindo reindustrialização, soberania alimentar e defesa da natureza; e dialogar com a população sobre necessidades emergenciais. Um novo governo Lula tem que se comprometer, por exemplo, com a redução da jornada de trabalho para 34 ou 36 horas”, defende. 

Confira a entrevista completa:

Brasil de Fato – Como se deu a dinâmica geopolítica internacional ao longo de 2025?

João Pedro Stédile – A geopolítica internacional é muito complexa, mas eu acho que os elementos principais que marcam este tempo é que estamos vivendo um período da história da civilização humana de uma grave crise capitalista. Uma crise do sistema capitalista que é coordenado agora pelo capital financeiro, pelos grandes bancos e pelas grandes corporações internacionais. 

O setor que acumula o capital não precisa mais ficar produzindo bens para a população. Ele acumula na taxa de juros, na especulação, apropriando-se de dinheiro público, entre outros. Porém, nem isso tem arrefecido a crise, que é uma crise estrutural. Então, para alguns capitalistas saírem mais rápido da crise — como historicamente já foi demonstrado, inclusive pela Rosa Luxemburgo —, eles apelam para as guerras, porque as guerras destroem patrimônio, capital instalado, fábricas, e até igrejas e capital humano. 

Com isso, abriria espaço para um novo ciclo de acumulação. O “demônio do Trump” foi muito didático quando explicou quais eram os interesses deles na Faixa de Gaza: “vamos destruir tudo e, depois, as nossas empresas vão transformar aquilo em um resort de turismo para os burgueses da Europa”. 

A outra tática deles é se apropriar dos bens naturais: minérios, petróleo, florestas, água e biodiversidade. São esses dois movimentos que o capital está fazendo no mundo inteiro para tentar se recuperar, mas isso não tem sido suficiente. 

Como esse cenário se expressa na América Latina?

Na América Latina, agora, estamos sendo vítimas dessa nova tática do imperialismo em decadência. O governo dos Estados Unidos, decadente, perdeu espaço na Europa para a Rússia e perdeu espaço na Ásia e na África para a China. Então, sobrou para os capitalistas americanos a América Latina.

Por isso eles estão tentando recompor, ou atualizar, a doutrina defendida há 200 anos por Monroe, ex presidente dos EUA, que dizia que a “América Latina deveria ser para os americanos”. Eles estão fazendo uma ofensiva muito grande. Os sinais mais explícitos são a tentativa de se apoderar de qualquer maneira do petróleo da Venezuela. 

E essa “qualquer maneira” envolve toda essa guerra midiática, tentando transformar o governo Maduro em um governo narcotraficante, o que é ridículo. Esta semana começaram a roubar petróleo, sequestrando navios com suas forças armadas.

Para nós, de esquerda e dos movimentos populares, uma tarefa imprescindível é enfrentar o imperialismo e a decadência do capitalismo. Temos que defender a Palestina, ser solidários com os palestinos e denunciar o governo fascista e nazista de Israel. Ao mesmo tempo, devemos defender a Venezuela e Cuba, que são os dois países mais atingidos pelo bloqueio e pela raiva insana do império norte-americano, que quer tomar conta a qualquer custo.

Também é preciso ter atenção ao fato de que essa mesma ofensiva dos Estados Unidos, que aparece com o uso da força militar no Caribe, também é exercida pela força do dinheiro, da manipulação de robôs e algoritmos, e do financiamento de grupos de extrema direita em cada eleição. A presidenta do Peru já era de direita, mas eles trocaram e colocaram um de extrema direita. Roubaram as eleições no Equador. Gastaram todo o dinheiro do mundo para uma eleição fascista e pinochetista no Chile

Vão tentar roubar a eleição na Colômbia. Se eles conseguirem todas essas façanhas, aqui, no Brasil, temos que colocar a barba de molho, porque o próximo alvo seremos nós. Eles não vão aceitar a reeleição do presidente Lula. 

Como a China se insere nesse contexto de decadência do imperialismo norte-americano e de transição para uma ordem multipolar?

Primeiro, é preciso entender esse contexto histórico mais amplo. Estamos vivendo um tempo de decadência do império americano e do império europeu, representado pelos países imperialistas da Europa Ocidental, que têm na Otan o braço armado para agredir outros povos. A presença do exército francês na África, as armas de Israel que vêm dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, as armas na guerra do Sudão; tudo vem de lá. 

Mas eles estão em decadência porque tentavam recuperar um poder político que não conseguiram, mesmo na promoção da guerra da Ucrânia. Derrubaram o governo legítimo, colocaram esse palhaço do Zelensky e provocaram a Rússia, ao tentar colocar bases com ogivas nucleares na fronteira russa. A Rússia reagiu e houve a guerra na Ucrânia, o que é uma demonstração da falência dos impérios.

Faliu o modelo anterior dominado pelos Estados Unidos e Europa Ocidental, e ainda não emergiu uma força multipolar conformada pelos países do Sul Global. Os tempos que vivemos são difíceis, porque estamos em uma transição que pode demorar anos. Essa transição está sendo demarcada pela decadência da Europa e emergência da Rússia como grande força econômica e militar. 

Na Ásia, emergiram a China, a Índia e a própria Indonésia. Na África, há uma disputa entre Estados Unidos, Europa Ocidental, China e Rússia. A África também é um continente em disputa, daí as guerras e revoltas que ocorrem lá. 

O governo Trump está tentando se garantir controlando a América Latina, o que esperamos que os povos latino-americanos não permitam e que retomemos a força anti-imperialista. 

Nesse quadro de transição, emergiu uma articulação nova que são os Brics. O que era antes apenas “um clube de amigos de cinco países”, agora se conformou como uma articulação internacional que atraiu a Índia, que antes estava na esfera do imperialismo americano. Hoje já temos 21 países participando dos Brics. A última reunião foi aqui no Brasil e foi muito importante. Há pedidos de adesão de dezenas de países que querem entrar.

Acho que a China vai desempenhar um papel muito importante, porém eles são uma civilização de mais de 5 mil anos e são muito cautelosos. Não querem usar a força militar, que, no fundo, é o que decide a rapidez da transição. Então, a China está usando a tecnologia como maneira de se contrapor ao império, estimulando a inteligência artificial e novas tecnologias na indústria. 

Além disso, a China, junto com os Brics, tem liderado o debate sobre a necessidade de substituir o dólar por uma nova moeda internacional. A derrota do dólar seria a principal arma contra a exploração econômica que os Estados Unidos exercem sobre o mundo. Quem usa o dólar está sendo explorado. Isso ficou evidente no “tarifaço” de Trump, que aumentou em 40% ou 50% os impostos sobre exportação para os Estados Unidos. Isso aumenta o preço, e todos nós, que produzimos mercadorias que vão para lá, acabamos explorados. 

No Brasil, as exportações de calçados, café e açúcar pagaram esse imposto a mais. Esse valor foi para o tesouro americano para contribuir com o equilíbrio fiscal deles e para pagar os custos da guerra. As armas americanas são produzidas pela indústria privada e quem as paga para enviar a Israel e à Ucrânia é o tesouro nacional dos Estados Unidos. Esses são os temas fundamentais que vão moldar o debate no próximo período.

No Brasil, Lula iniciou 2025 com baixa aprovação da população, mas conseguiu se recuperar, aparecendo, agora, como o candidato mais competitivo para 2026. Além disso, conquistou uma de suas promessas de campanha, a aprovação da isenção do IR para quem recebe até R$ 5 mil. Como você avalia a atuação do governo ao longo do ano?

A sociedade brasileira é a mais desigual do mundo. Há uma diferença abissal entre 1% de bilionários e 88% da população que vive do trabalho e tem que ralar todo dia para comer. Essa estrutura iníqua não se alterou com o governo Lula, porque não foram feitas reformas estruturais na economia, a reforma agrária, a reforma urbana ou a reforma educacional, entre outras.

Por outro lado, foi importante termos derrotado a extrema direita em 2022, mas a aliança ampla gerou um governo de frente ampla. O governo Lula, pela sua natureza, não tem um projeto de país. Dentro dele, existem ministérios da burguesia, da pequena burguesia e dos bancos. O Banco Central continua dirigido pelo capital financeiro e nos impôs uma taxa de juros de 15% ao ano, o que é uma excrescência e o principal mecanismo de concentração de renda no Brasil.

Por isso, a isenção do Imposto de Renda (IR) foi importante, mas não vai alterar a concentração de renda. A concentração se dá pela taxa de juros: o povo paga imposto embutido nas mercadorias, esse dinheiro vai para o Tesouro Nacional e, de lá, 40% da receita é separada para o pagamento dos juros da dívida interna, cujos proprietários são apenas uns poucos milionários e bilionários. Isso não mudou. 

Embora o governo tenha recuperado políticas de assistência social como o Bolsa Família, Botijão de Gás e o Pé-de-Meia, elas não alteram as condições estruturais de vida da população. A popularidade do Lula melhorou pouco. As pesquisas mantêm o patamar da vitória de 52% para Lula e 48% para os outros. 

Qual tem sido a estratégia da extrema direita para 2026?

Com a saída da extrema direita do páreo, pode ser que aumentem os votos nulos e brancos, pois esses eleitores não terão candidatura. Acho que a candidatura do Flávio Bolsonaro é apenas um jogo de cena. No fundo, o que nos ajuda é que a burguesia brasileira não tem mais interesse em apoiar a extrema direita. Ela prefere uma candidatura de centro.

Como não encontram um nome de centro com densidade popular — pois até o candidato de São Paulo que a imprensa burguesa defende dificilmente ganharia de Lula nacionalmente —, a burguesia não vai arriscar perder o controle de São Paulo. São Paulo equivale a uma Argentina, em poder econômico e população. Eles não vão jogar isso fora. Provavelmente, Tarcísio vai à reeleição em São Paulo.

A jogada principal da burguesia será colocar um vice de confiança para o Lula. Os partidos de centro controlam o Congresso e o Judiciário. Eles vão tensionar para indicar o vice-presidente. Com isso, teriam segurança, seja pela idade do Lula ou por qualquer outra eventualidade. A segunda tática do centrão e da extrema direita é priorizar o Senado. Se fizerem maioria lá, colocarão “a corda no pescoço” do segundo mandato de Lula, ampliando a tragédia das emendas parlamentares e pressionando o governo para atender aos interesses da burguesia. 

A condenação e prisão de Bolsonaro (PL) e de militares de alta patente, inéditas na história do Brasil, influenciam como na disputa?

O nosso parâmetro não deve ser o comportamento individual de agentes na imprensa ou no Congresso, mas sim o comportamento das classes, pois elas detêm o poder. A burguesia brasileira, como classe, se afastou da extrema direita. Uma parte já apoiou Lula em 2022, porque a esquerda, sozinha, não o elegeria, dado o período de descenso do movimento de massas. 

As massas não estão exercendo seu poder de mobilização permanente nas ruas. Tivemos manifestações pontuais importantes, como a das mulheres contra o PL do Aborto ou a de 21 de setembro contra a PEC da Blindagem, mas ainda não é um reascenso organizado e permanente.

A burguesia continua afastada da extrema direita, e foi isso o que levou o Judiciário a agir. Os mesmos ministros que prenderam o Lula, depois o soltaram dizendo que não houve crime, e agora prenderam o Bolsonaro. Eles não tiveram coragem de abrir processo pelas 700 mil mortes durante a pandemia de covid-19. Foram mortas por irresponsabilidade de Bolsonaro. Só não morreu mais gente porque o governo de São Paulo fez acordo com a China para as vacinas. 

A prisão dele faz parte da correlação de forças. O principal não é o tempo de cadeia, mas a desmoralização política e o fato de que ele não poderá mais se candidatar. Também foi fundamental a condenação dos militares de alta patente. É um recado da burguesia para os quartéis: “vocês só podem se mexer quando nós mandarmos, como em 1964. Não inventem aventuras próprias”. 

O papel do militar é servir à nação, não a interesses partidários escusos. Já em relação aos manifestantes do 8 de janeiro, que receberam penas de 15 a 20 anos, acho que a tendência será a diminuição das penas e a soltura após alguns anos, pois são apenas “pobres diabos” manipulados pela extrema direita.

Em 2025, com a construção do Plebiscito Popular por Um Brasil mais Justo, ganharam destaque as pautas da justiça tributária e da redução da jornada de trabalho. Quais temas devem dinamizar o ano de 2026?

Todas as forças populares e de esquerda deverão priorizar a campanha pela reeleição do Lula no ano que vem. Mas não basta reeleger. A campanha precisa ser didática para elevar a consciência política e estimular a luta de massas. Só a luta de massas arranca conquistas e mudanças estruturais. O voto é importante, mas insuficiente.

A campanha de reeleição deve ter duas vertentes. A primeira é debater um projeto de país, algo que o atual governo não tem, o que permite que cada força ou parlamentar faça o que quer com as emendas. Ninguém sabe para onde foram os R$ 80 bilhões de emendas, que acabam servindo a interesses pessoais e métodos corruptos. Precisamos discutir reindustrialização, soberania alimentar e defesa da natureza, indo além do debate sobre crédito de carbono para propor o desmatamento zero.

A segunda vertente é o diálogo com a população sobre necessidades emergenciais. Um novo governo Lula tem que se comprometer com a redução da jornada de trabalho para 34 ou 36 horas, como no exterior, e não apenas o 5×2 que mantém 40 ou 44 horas.

Também é preciso tarifa zero nas regiões metropolitanas, remanejando impostos; um amplo programa habitacional para os 43% da classe trabalhadora que pagam aluguel na periferia; garantir trabalho produtivo para os 70 milhões que estão na informalidade, sem direitos como CLT, férias ou 13º salário, já que o setor de serviços não resolve o desemprego. 

Outra necessidade é avançar no debate sobre a segurança pública, com propostas concretas para a periferia. Ninguém é a favor da bandidagem nem da violência policial. O povo não pode ficar no meio desse fogo cruzado. Quem comete crime tem que pagar, inclusive os crimes de colarinho branco e de bancos corruptos. Por fim, segue sendo urgente avançar na reforma agrária e na produção de alimentos saudáveis via agroecologia.

Precisamos dizer ao Lula: “estamos te elegendo porque precisamos de um governo comprometido em resolver imediatamente esses problemas”. Isso alteraria sua base de apoio entre os mais pobres.

Em

BRASIL DE FATO 

https://www.brasildefato.com.br/2025/12/17/nao-basta-reeleger-lula-tem-que-estimular-luta-de-massas-stedile-aponta-desafios-para-2026/

17/12/2025

 


terça-feira, 16 de dezembro de 2025

O que se passa na cabeça de Trump enquanto os EUA se adaptam à multipolaridade

 


M. K. Bhadrakumar [*]

Tio Sam, cartoon do século XIX.

A transformação da ordem mundial rumo à multipolaridade é um trabalho em andamento com variáveis em atuação, mas o seu resultado será amplamente determinado pelo alinhamento das três grandes potências — Estados Unidos, Rússia e China. Historicamente, o "triângulo" surgiu quando a cisão sino-soviética veio à tona na década de 1960 e uma acirrada disputa pública eclodiu entre Moscovo e Pequim, o que levou o governo Nixon a propor a missão secreta de Henry Kissinger a Pequim a fim de se encontrar pessoalmente com o presidente Mao Zedong e o primeiro-ministro Zhou En-lai e, com sorte, chegar a um modus vivendi para combater conjuntamente a Rússia.

Ao revisitar o cisma sino-soviético, agora é bem compreendido que o triângulo EUA-União Soviética-China nunca seguiu realmente o curso que Kissinger previra. O fracasso de Kissinger em consolidar a abertura das relações com a China deveu-se, em parte, à sua perda de poder em janeiro de 1977 e, num sentido sistémico – inevitavelmente, dada a complexidade do caldeirão fervente da cisão sino-soviética em que a ideologia se misturava com a política e a geopolítica — também à realpolitik.

Embora a mitologia ocidental fosse a de que os EUA construíram as bases da ascensão da China, a historiografia aponta para outra direção, nomeadamente, que Pequim sempre teve em mente a dialética em ação. Assim, mesmo existindo um certo grau de compatibilidade entre os interesses chineses e americanos em conter a expansão do poder soviético, Pequim estava determinada a evitar um conflito militar com a União Soviética e concentrou a sua atenção em melhorar a sua posição tática dentro do triângulo EUA-China-União Soviética.

Por seu lado, a União Soviética também promoveu consistentemente o aumento das trocas com a China, apesar da amarga acrimónia e até mesmo dos confrontos militares, com o objetivo de minar as vantagens percebidas que os EUA derivavam da divisão sino-soviética — e até mesmo procurou persuadir a China a aceitar o status quo militar e territorial na Ásia.

De facto, para retardar a cooperação sino-americana contra eles no início da década de 1970, os soviéticos chegaram a oferecer a modificação de suas reivindicações territoriais ao longo da fronteira, a assinatura de pactos de não agressão e/ou acordos proibindo o uso da força, a base da relação sino-soviética nos cinco princípios da coexistência pacífica e a restauração de contatos de alto nível, incluindo laços partidários, no interesse de sua oposição comum aos EUA.

Se a China ignorou em grande parte essas propostas, isso deveu-se quase inteiramente à grande turbulência na sua política interna. Basta dizer que, logo após a morte de Mao, o inimigo da União Soviética, em setembro de 1976 (e o fim da Revolução Cultural), Moscovo reagiu rapidamente com vários gestos, incluindo o envio de uma mensagem de condolências por Brezhnev (a primeira mensagem do PCUS à China em uma década), seguida por outra mensagem do partido em outubro dando parabens ao recém-eleito presidente do PCC, Hua Guofeng, e, pouco depois, em novembro, enviando seu principal negociador para as conversações sobre a fronteira, o vice-ministro das Relações Exteriores Ilichev, de volta à China, numa tentativa de retomar as conversações sobre a fronteira. Mas, mais uma vez, se nada resultou disso, foi devido à invasão da China ao Vietname e à intervenção soviética no Afeganistão logo a seguir, em 1980.

De facto, olhando para trás, o principal legado da década de 1970, visto através do prisma do "triângulo" EUA-China-Rússia, foi a reorientação da política de defesa da China e o seu realinhamento geopolítico com o Ocidente. A China não contribuiu significativamente para enfraquecer a União Soviética ou agravar a estagnação e a crise que se gerava na economia política soviética.

Entretanto, as divergências sino-americanas sobre Taiwan e outras questões ressurgiram entre 1980 e 1982, obrigando a China a reavaliar a sua estratégia de política externa, o que se manifestou no anúncio de Pequim, em 1982, da sua política externa "independente" — em termos simples, uma tentativa de depender menos explicitamente dos EUA como contrapeso estratégico à União Soviética — e a decisão de iniciar “conversações consultivas” com Moscovo, além de uma receptividade crescente às inúmeras propostas soviéticas pendentes para intercâmbios bilaterais (nas áreas desportiva, cultural, económica etc), com o objetivo geral de reduzir as tensões com os soviéticos e aumentar a margem de manobra de Pequim no triângulo China-EUA-União Soviética.

De facto, uma distensão mais ampla entre a China e a União Soviética teve de esperar até à retirada soviética do Afeganistão, na sequência dos Acordos de Genebra assinados em abril de 1988. No entanto, surgiu uma mudança básica nas relações sino-soviéticas ao longo da década de 1980, que incluiu cimeiras regulares programadas; retomada dos laços de cooperação entre o PCC e o PCUS; aceitação por Pequim das propostas soviéticas pendentes de não agressão/não uso da força; e retomada das questões fronteiriças sino-soviéticas a nível de vice-ministro das Relações Exteriores.

Washington percebeu a mudança nas orientações da política chinesa em relação à União Soviética. Notavelmente, ao analisar a mudança acentuada na estratégia chinesa, uma avaliação da CIA observou:

"Mais recentemente, Moscovo seguiu o apelo de Brezhnev em 1982 para melhorar as relações com a China, suspendendo a maioria das declarações soviéticas críticas à China. Quando as discussões sino-soviéticas foram retomadas em outubro de 1982, os media soviéticos reduziram drasticamente as críticas à China. E eles permaneceram contidos sobre esse assunto, embora trocas polêmicas ocasionais tenham marcado a cobertura sino-soviética na época da visita do primeiro-ministro Zhao Ziyang aos Estados Unidos em janeiro de 1984. Moscovo continuou a criticar a China por meio da rádio clandestina Ba Yi, com sede na União Soviética... Por seu lado, a China continuou a criticar a política externa soviética, embora a atenção dada anteriormente às políticas internas 'revisionistas' soviéticas tenha praticamente desaparecido uma vez que as próprias políticas económicas da China foram significativamente alteradas após a morte de Mao".

Em resumo, com o secretário-geral do PCUS, Gorbachev, a consolidar o poder por volta do final de 1988 com a sua eleição para a presidência do presidium do Soviete Supremo e, em paralelo, com Deng a superar os seus rivais políticos e tornar-se o líder supremo da China em 1978 — foi lançado o programa Boluan Fanzheng para restaurar a estabilidade política, reabilitar os perseguidos durante a Revolução Cultural e reduzir o extremismo ideológico — abriu-se a porta para que os dois antigos adversários entrassem no jardim de rosas da reconciliação.

Significativamente, o momento da visita de Gorbachev a Pequim para se encontrar com Deng em 1989 estava longe de ser ideal devido aos incidentes da Praça Tiannenmen, mas nenhum dos lados propôs adiar ou remarcar a reunião. Tal era a intensidade do desejo mútuo de reconciliação.

Hoje, o resumo acima torna-se necessário quando avaliamos as direções futuras das políticas da administração Trump em relação à China. A percepção comum é que Trump está a tentar criar uma divisão entre a Rússia de Putin e a China de Xi Jinping, com o objetivo de isolar esta última e impedir que ultrapasse os EUA. Mas não há nenhuma evidência disponível que sugira a possibilidade de separar a Rússia da China.

Todos os sinais apontam para o contrário, na direção de uma integração constante dos dois países. Na semana passada, o Kremlin anunciou um regime de isenção de vistos para cidadãos chineses que visitam a Rússia. Curiosamente, esta foi uma medida recíproca. O FT informou recentemente que um empresário chinês recebeu ações da maior fabricante russa de drones que fornece as forças armadas — a primeira colaboração conhecida na área da indústria de defesa.

Com o Power of Siberia 2 em andamento, a dependência da China em relação à Rússia para sua segurança energética aumentará ainda mais. O comércio externo da Rússia está a passar por uma profunda mudança, com a China substituindo a UE como principal parceiro comercial da Rússia. Na generalidade, as relações sino-russas estão mais próximas hoje do que em décadas.

Por outro lado, não há nenhuma sugestão crível de que o governo Trump esteja se preparando para uma guerra com a China. O Japão, sob sua nova liderança, está assobiando no escuro.

Então, o que está na mente de Trump? Na sua agenda revolucionária para a reconstrução da nova ordem mundial, Trump visa uma concordância estratégica entre os EUA, de um lado, e a Rússia e a China, do outro. A recente Estratégia de Segurança Nacional (NSS) dos EUA também aponta fortemente nessa direção. As implicações dessa ideias revolucionária para a multipolaridade serão profundas — tanto para parceiros como a Índia quanto para aliados como o Japão ou a Alemanha.

12/Dezembro/2025

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Bellamy Foster: La doctrina de seguridad de Trump es el imperialismo “tipo MAGA”

 

La doctrina Trump está redefiniendo la política exterior en términos de un imperio hipernacionalista términos étnicos y ve a Estados Unidos como un país blanco. 

Entrevista a John Bellamy Foster realizada por el Canal de televisión estadounidense “99 Media”.

Nuestra intención es  profundizar un poco en la política exterior estadounidense. Para empezar, explíquenos en qué consiste la política exterior de Trump. 

La agenda de política exterior de Trump se ha conocido como la Doctrina Trump. Normalmente, cuando una doctrina se asocia con un presidente estadounidense la prensa la designa como la doctrina que define esa presidencia. Pero en el caso de Trump, esta doctrina fue formulada por Michael Anton, del Instituto Claremont.  Ahora es el principal analista de políticas del Departamento de Estado. Básicamente, él es el cerebro detrás de la política exterior de Trump. 

En la primera administración de Trump, Michael Antón escribió un artículo, en Foreign Policy, que describe esta doctrina en cuatro ejes: uno: rechazo al  internacionalismo liberal; dos: un política basada en el nacional-populismo, que esencialmente significa neofascismo; tres:  apoyo al nacionalismo populista en todos los países. Y cuatro, el más importante, el retorno de la nación a la “normalidad homogénea de la etnia”. 

Su propósito es redefinir la política exterior en términos étnicos, en términos de etnias homogéneas, idea que se opone al carácter heterogéneo de un imperio multiétnico. Así pues, el cuarto pilar constituye una definición étnica-racial que es subyacente a lo que es el nacionalismo racial.  

Básicamente, la doctrina Trump está redefiniendo la política exterior de Estados Unidos en términos de un imperio hipernacionalista en el que el mundo entero se ve en términos étnicos y Estados Unidos se ve como un país blanco. 

Esta idea racista en la doctrina Trump ahora es parte de la agencia de seguridad nacional de Estados Unidos y el señor Michael Antón es quizás el principal ideólogo de MAGA.

Ahora bien, la otra parte del documento considera a China como la principal amenaza, incluso con una probable guerra nuclear contra China. 

Desde el principio, MAGA, el movimiento de Trump se centró en hacer la paz con Rusia, lo cual veían en términos étnicos. Decían: «Bueno, los rusos son parte de nuestro linaje racial». Pero lo más importante es que para concentrar todo el poder de fuego estadounidense contra China, necesitan lograr la paz con Rusia, incluso si eso interfería con su relación con Europa. La idea básica es que los europeos hacen lo que queramos, y nosotros  tomamos las decisiones.

Correcto, la estrategia de Trump se propone terminar con la alianza entre Rusia y China. ¿Cree que Trump realmente piensa en lograrlo o se trata de un objetivo que sabe que no logrará y que, al final, tendrán que encargar la guerra contra Rusia a los europeos? 

Bueno, como se sabe la administración Trump presentó un plan de 28 puntos a Rusia, que implica aceptar el control ruso del Donbás y luego intentar introducir garantías de seguridad para Ucrania. Esa ha sido su política desde siempre. No es nada nuevo. Escribí sobre ello en mi primer libro. Sí, a la administración Trump le gustaría poner fin a esa guerra, al menos en lo que respecta a la participación directa de Estados Unidos.

Podemos tener diferentes opiniones, sobre si es racional o no, pero esa es su política. A los europeos básicamente no les gustará, pero EE. UU. seguirá adelante de todos modos. Y supongo que intentará garantizar que Europa no entrará en guerra. Esto no es ningún secreto.

Al mismo tiempo… Han declarado una nueva guerra fría contra China y han  llegado incluso a planearse una guerra nuclear, bajo la suposición que podrían controlar una escalada de este tipo. Se contrató a altos cargos del Departamento de Defensa con ese objetivo y esa estrategia. Los trumpistas, el movimiento MAGA, creen que tienen que detener a China de cualquier forma. Quieren impedir que China supere a Estados Unidos, sin importarles el resto del mundo. 

Por tanto, intentan estabilizar la situación en otros lugares. Su beligerancia con Venezuela, tiene que ver con la estrategia de expulsar a China de Latinoamérica. 

Y, cuando terminó la primera administración de Trump y los demócratas llegaron al poder aceptaron la nueva guerra fría con China. Pero también los demócratas estaban comprometidos con la guerra contra Rusia. Tenían un plan a largo plazo: desmantelar Rusia mediante la expansión de la OTAN en Ucrania. Esto significó que EEUU se enfrentó a una posible guerra en dos frentes: contra Rusia y China. 

En estas circunstancias Rusia y China se acercaron y ahora la administración Trump está intentando separar a estas potencias. Es una estrategia racional para el imperio estadounidense. Si eres imperialista y quieres mantener la supremacía estadounidense, es la estrategia más racional

Tengo curiosidad por preguntar que ocurrió con Irán.  ¿Trump fue arrastrado al conflicto por el lobby sionista o dio marcha atrás cuando el conflicto no iba según lo previsto?. ¿Qué opina al respecto? 

Bueno, hay una división en los círculos cercanos a Trump sobre Irán. Mientras los nacionalistas cristianos son muy antiiraníes, parte del movimiento MAGA no quieren un conflicto con Irán porque quieren centrar el poder estratégico contra China. Hemos conocido la política del principal analista del Departamento de Defensa, Míster Colby, cuando declaró: «Ignoremos a Irán. Centrémonos en China». 

De hecho Colby estaba bajo la lupa de los nacionalistas cristianos, pero fue confirmado en su cargo. Esta claro que la estrategia de Trump es evitar a Irán y negociar con China. Trump tuvo que hacer un show, lanzó bombas contra Iran y luego dijo que había destruido todas sus instalaciones nucleares. Sin embargo todo el mundo sabe que era mentira. Para Trump era solo una demostración del poder estadounidense porque en realidad no quería a atacar Irán. 

De hecho, advirtieron a Irán de antemano para que pudieran trasladar a su gente y los materiales antes de bombardearlos, esto lo hicieron para dejar claro que no iban a declarar la guerra . La administración Trump no se toma en serio atacar a Irán. Fue una distracción.

Por otra parte, han tenido que dar marcha atrás con los aranceles contra China. El gigante asiático tiene el monopolio sobre las tierras raras y puede detener toda la alta tecnología estadounidense. La marcha atrás es una señal que Estados Unidos no puede imponer su voluntad impunemente . 

Entonces, ¿qué está haciendo Estados Unidos? Trump ha declarado que va a intervenir en Nigeria por un supuesto genocidio de los cristianos. Es falso. No hay genocidio, pero Nigeria tiene la mayor cantidad de tierras raras en África y lo que quieren es apropiarse de esas tierras . 

¿Cree que invadirán Nigeria? 

No. Creo que amenazarán de manera tan seria que esperan que Nigeria les permita controlar sus tierras raras. Es decir Nigeria debería permitir  que las corporaciones estadounidenses entren a apropiarse de estas riquezas . 

Estados Unidos tiene muchas maneras de ejercer poder para conseguir lo que quiere, pero probablemente no invada Nigeria. Quiere sus tierras raras, y tal vez pueda obligar al gobierno nigeriano a que les permita controlarlas.

Cual es el rasgo común de la política exterior de Trump. Según su respuesta anterior, está bastante claro que su verdadera prioridad es Asia. Pero si vamos a Venezuela ¿cree que es probable que haya una intervención allí? 

Con el Premio Nobel a Corina Machado están preparando a la opinión pública para algo más grande. Para Trump América Latina es su patio trasero. Según el EEUU puede hacer lo que quiera en Latinoamérica . 

Bueno, parece que no es tan fácil. Cuando estuve en Venezuela alguien muy cercano a Chávez, me dijo: » El gobierno está armando a toda la población». La idea era hacer irreversible la revolución. Empezaron con los consejos comunales y los círculos Bolivarianos. Han armado a millones de personas. Tienen una milicia de otro planeta. Cualquier intento de invasión estadounidense con tropas terrestres sería un desastre. Simplemente no se puede combatir a toda una población en un país de ese tamaño. 

También los rusos han estado armando a Venezuela con misiles hipersónicos. Así que tienen fuertes defensas. Lo que Estados Unidos podría hacer es cierto dominio aéreo, Quizás Estados Unidos puede matar a Maduro y a sus líderes. El asesinato con drones es un método bien conocido, y Maduro no se esconde en un búnker.

Podrían intentar decapitar al liderazgo y una de las cosas que han estado haciendo es usar medios electrónicos para destruir el sistema eléctrico e interrumpir el sistema satelital venezolano. Pero, la última vez que Estados Unidos interrumpió el sistema eléctrico venezolano, China y Rusia enviaron técnicos que les ayudaron a crear defensas contra ese tipo de acciones.

Creo que ahora los venezolanos están recibiendo ayuda tanto de Rusia como de China . Así que tienen como defenderse. Todas las intervenciones que Estados Unidos en Venezuela han fracasado porque solo una pequeña parte de la población es antichavista y una agresión probablemente no funcionará. 

Podrían intentar lo que Israel hace con Irán, lo que Estados Unidos ha hecho en el pasado.Se trata de asesinatos y sabotajes. Pero una gran intervención militar sería muy difícil y toda Latinoamérica se opondría. 

América Latina se está volviendo contra los EE. UU.y contra la administración Trump.  Esto se puede ver en la actitud de Petro en Colombia y de Lula en Brasil. No es la misma Latinoamérica de los años 60 y 70. Estados Unidos no puede actuar con la misma impunidad. Creo que la resistencia será mucho mayor. 

Estados Unidos no tiene muchas opciones, lo que quiere es crear tanto caos que un líder militar intervenga y destituya a Maduro o algo así. De hecho, ha habido indicios recientes que Estados Unidos esta intentando que algunos generales cambien de bando. Pero la población no se deja engañar. 

De hecho, Corina Machado, la ganadora del Premio Nobel, espera que   Estados Unidos la ponga en el poder y a cambio ofrece entregar los activos de Venezuela a las corporaciones petroleras estadounidenses. Por eso no es muy popular en Venezuela.

Tal vez una revolución militar sea improbable, pero estamos viendo muchas revoluciones de color de la llamada Generación Z. Esta parece más probable. Lo mismo que sucedió en Ucrania. Es un guion que sigue funcionando. Lo vimos hace unas semanas en México. No sé qué opinas al respecto.

Sí, las rebeliones de la Generación Z se organizan a través de las redes sociales, mediante el poder de las corporaciones y de la inteligencia estadounidense, es decir de la CIA. Y lo han intentado en todo el mundo. La cuestión es que la gente se está dando cuenta. No son tan efectivas como antes . 

Este es un punto bastante interesante porque se relaciona con uno de los principales conflictos entre Estados Unidos y China. En última instancia radica en la tecnología y la capacidad de dominarla. Al menos desde la perspectiva del Pentágono , Estados Unidos necesita este imperio informal, este colonialismo digital que le permite una influencia enorme en nuestras vidas. 

Toda esta tecnología proviene del ejército y del sistema de defensa. El imperio estadounidense invierte tanto en centros de datos que han abandonado el combate contra el cambio climático porque el consumo de energía es enorme. Para el imperialismo el dominio tecnológico es una prioridad mayor que cualquier mitigación del cambio climático. 

Sin embargo, me parece que han perdido la guerra económica, la guerra tecnológica y la guerra por la IA. Es probable que Estados Unidos no pueda dominar ese ámbito frente a China. La IA estadounidense está destinada a la mercadotecnia y la manipulación de la gente, mientras China está regulando la IA, la utiliza de forma más racional, y parece ser más creativa. 

Por lo tanto, creo que Estados Unidos está en serios problemas como potencia hegemónica desde el punto de vista económico y tecnológico, y esto teóricamente no debería conducirnos a una guerra mundial. Sin embargo, el capitalismo y el imperialismo, nos han encaminado históricamente hacia la guerra. 

Estados Unidos es una potencia agresiva, con pérdidas económicas en  producción y en liderazgo tecnológico. Ahora, Estados Unidos solo cuenta con su poder financiero y militar. En eso se apoyan para intentar derrotar a China. Y el poder financiero no es suficiente, con los BRICS y  con los países que están dejando el dólar para el comercio internacional . 

Por esta razón, el imperialismo dependen cada vez más del ejército y esto es muy peligroso para el futuro de la humanidad. No habrá futuro si seguimos en esa dirección. He escrito sobre que pasaría si se produce un intercambio nuclear . Y la gente empieza a darse cuenta que una guerra nuclear es una posibilidad. 

Afortunadamente, si hay algún tipo de paz con Rusia, hay menos probabilidad de una guerra nuclear en Europa. De hecho, creo que la paz es un valor fundamental que debemos defender con toda nuestra fuerza. 

Que la OTAN libre una guerra indirecta con Rusia es la receta para el desastre generalizado . Por supuesto, eso no pinta bien en Europa. Con la UE y su maquinaria de propaganda bélica en marcha Europa demuestra que están atascados en una vieja narrativa. Intentan presentar la guerra como una defensa de la democracia y la libertad contra el nuevo Hitler, pero han fracasado completamente.

Profesor Foster, muchas gracias. Quizás la próxima vez deberíamos centrarnos en la confrontación tecnológica , porque es realmente fascinante. Estamos totalmente de acuerdo con lo que dijo al final de la entrevista. La paz es un valor en sí misma. Palabras sabias que, lamentablemente, no solemos escuchar de las élites europeas.

Observatorio de la crisis

 https://observatoriocrisis.com/2025/12/09/bellamy-foster-la-doctrina-de-seguridad-de-trump-es-el-imperialismo-tipo-maga/

9/12/2025 

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

 

Apropos “Western Civilisation”

Prabhat Patnaik

ACCORDING to a report in the Times of India (November 23), the United States has asked European countries to restrict immigration in order to preserve “Western Civilization”. Many in the Third World would find the term “Western Civilization” laughable, especially if it is used in the sense of denoting something precious and worth preserving. The atrocities committed by Western imperialist countries against people all over the world over the last several centuries have been so horrendous that using the term “civilization” to cover such behaviour appears grotesque. From British colonialism’s unleashing  famines in India that killed millions in its rapacious bid to raise revenue from hapless peasants, to Belgium’s king Leopold’s unspeakable brutality against the people of what used to be called the Congo, to German extermination camps in Namibia that wiped out whole tribes, it is a tale of horrible cruelty inflicted on innocent people for no reason other than sheer greed. It is not surprising in this context that Gandhiji, when asked by a journalist what he thought of “Western Civilization”, had wryly quipped: “that would be a very good idea”.

But let us ignore all this cruelty and focus only on the material advance achieved by the West. This material advance itself has been achieved on the basis of an exploitative relationship that the Western imperialist countries had developed vis-à-vis the Third World, a relationship that left the latter in such a state that its inhabitants today are desperate to escape it. Western prosperity is not a separate and independent state achieved through Western diligence alone; it has been achieved through a process of decimation of the economies of countries from which the immigrants are fleeing. What is even more striking is that Western imperialism not only wants to stop the inflow of immigrants; it wants to prevent, even through armed intervention, any change in the societal structure in the immigrants’ home countries that could usher in development that stops this inflow of immigrants.

My argument might of course would be dismissed as hyperbole. After all, Western economies have been characterized by the introduction of remarkable innovations that have dramatically raised labour productivity which in turn has made possible an increase in real wages and the real incomes of Western populations. It is this innovativeness that distinguishes the West and that is lacking in the Third World; it constitutes the differentia specifica between the two parts of the world, the root cause of their divergent economic performances owing to which migrants are seeking to move from one part to another.

Two things about innovations however must be noted. First, innovations are typically introduced when the market for the commodity that would come out of the innovation is expected to expand, which is why innovations do not get introduced during Depressions. Second, innovations do not on their own raise real wages; they do so only when there is a tightness in the labour market that arises for independent reasons. For a very long period in history, the expectation about market expansion for Western products was generated by the seizure of Third World markets. The Industrial Revolution in Britain which started the era of industrial capitalism could not have been sustained if colonial markets had not been available where local craft production could be replaced by the new machine-made goods. The other side of Western innovativeness therefore was deindustrialization of colonial economies that created massive labour reserves there.

Even in countries where innovations were introduced, labour reserves were also created because of technological progress, but these reserves got reduced owing to large scale migration of labour to the temperate regions of settlement abroad such as Canada, the United States, Australia, New Zealand, and South Africa, where they massacred and displaced the local tribes from the land they had occupied and cultivated this land.  Within the innovating countries therefore tightness was introduced into the labour market through such large scale emigration, because of which real wages could increase alongside innovations that raised labour-productivity.

The labour reserves created in the colonies and semi-colonies however could not migrate to the temperate regions; they were kept confined to the tropical and sub-tropical regions, trapped within a syndrome of low wages, through tight immigration laws that continue till today. If capital from the metropolis could have flowed in to take advantage of their low wages to produce goods for the world market with the new technologies, then the wage-differential could have disappeared. But that did not happen. Despite their low wages, capital from the temperate regions did not come into these economies except to primary commodity-producing sectors; and manufactured goods produced by local producers, using this low-paid labour and adopting the new technologies, could not enter temperate region markets owing to high tariffs. Western innovativeness in short produced material prosperity in the metropolis, because it was complemented by a segmented structure of the world economy.

That is not all. The diffusion of capitalism occurred within this segmented structure: along with labour from Europe migrating to the temperate regions like North America, Australia, New Zealand, and South Africa, capital from Europe too started getting invested in these new lands as a complement to labour migration. This capital however was extracted from the tropical and subtropical colonies and semi-colonies by impounding gratis their foreign exchange earnings from the world, making up a large part of their economic surplus, a process that has come to be known as the “drain” of surplus.

The diffusion of capitalism in the “long nineteenth century” from Britain to Continental Europe, Canada, and the United States took the form of keeping British markets open for the goods of these regions and making capital exports to them at the same time; that is, of Britain having both a current account and a capital account deficit vis-à-vis these regions. The total deficit, taking both current and capital accounts together, of Britain vis-à-vis these three most prominent regions in 1910 was 120 million pounds. Half of this amount, according to the estimates of economic historian S.B.Saul, was settled at the expense of India, through Britain appropriating India’s entire export surplus vis-à-vis the rest of the world, and also India’s payment for deindustrializing imports from Britain in excess of the primary commodities it sold to Britain. If we take Continental Europe and the U.S. alone then Britain’s total deficit was 95 million pounds, of which almost two-thirds was settled in this manner at the expense of India.

Thus the entire development of capitalism historically occurred through the creation of a segmented world. The innovativeness that is supposed to underlie the material prosperity of the West also occurred through this segmentation. It is not innovativeness therefore that explains why the West became prosperous while the Third World stagnated and declined, but this fact of segmentation. After all, even theories like Joseph Schumpeter’s, that emphasize innovations as the cause of material prosperity, show all workers to be benefitting from innovations. But if some workers alone are the beneficiaries (apart from the capitalists of course) while others belonging to a different region are excluded from these benefits, then the cause for this divergence must lie elsewhere, not in the fact of innovativeness being confined to only one region. The essence of this segmentation was the deliberate exclusion of one region from the process of material development, through the imposition of tariff barriers against its products, through not permitting it to impose tariff barriers of its own against the products of the metropolitan region, and through the latter’s acquisition gratis of a part of its produced economic surplus.

The days of colonialism are over; what is more, capital from the metropolis now is willing to flow into the Third World to produce goods for the world market using local low-paid labour and new technology; why then does the poverty of the Third World continue to remain in this new situation? We go back here to the proposition that innovations as such do not raise real wages; theories like Schumpeter’s that claim the contrary, by assuming a spontaneous tendency under capitalism to use up labour reserves and move to full employment, are simply wrong. Technological progress in the third world through the spread of innovations, whether under the aegis of metropolitan capital or of local capital, which tends typically to be labour-saving, does not therefore reduce the relative size of its labour reserves, and hence of the relative magnitude of poverty. Third World labour has no scope for migrating anywhere to the temperate regions.

Two factors are going to worsen this situation in the coming days: one is Trump’s tariffs that seek to export unemployment from the U.S. to the rest of the world, especially the Third World; and the other is the introduction of Artificial Intelligence within the framework of capitalism.

Em

Peoples Democracy

https://peoplesdemocracy.in/2025/1130_pd/apropos-%E2%80%9Cwestern-civilisation%E2%80%9D 

November 30, 2025