quarta-feira, 17 de julho de 2013

20ª Feira do Cooperativismo reafirma os valores da Economia Solidária*

20ª Feira do Cooperativismo reafirma os valores da Economia Solidária*

Da Página do MST

Cores, sabores, cheiros e movimentos. Comida, bebida, artesanato e luta. Brasil,
America Latina e mundo. Foi essa a tônica durante os 4 dias da vigésima edição
da Feira do Cooperativismo de Santa Maria, que terminou neste domingo (14/07) no
Rio Grande do Sul.
Mostrando que outro mundo é possível e outra economia já acontece, mais de 1000
empreendimentos expuseram seus produtos feitos através de processos de trabalho
autogestionário. Sem patrão nem empregado, mostram que a construção de um novo
paradigma passa necessariamente por uma reformulação do mundo do trabalho.
Este foi um ano especial para a feira de Santa Maria. Além de comemorar 20 anos
de existência, o evento marcou ainda 10 anos do Fórum Brasileiro de Economia
Solidária e da Secretaria Nacional de Economia Solidária, ligada ao Ministério
do Trabalho.
De acordo com os organizadores da feira, mais de 200.000 pessoas passaram pelo
pavilhão, vindas de 27 países. Do Brasil, houve representação dos 26 estado e do
DF, com 530 municípios presentes. Movimentos sociais indígenas, quilombolas,
feministas, sem-terra e sem-teto estiveram no evento mostrando os frutos de sua
luta.
Os jovens organizados no Levante Popular da Juventude também fizeram seu
tradicional acampamento, que já acontece na feira há nove anos. Caio Paulista,
um dos coordenadores, ressalta a importância das trocas de experiência que a
feira proporciona. Neste ano, houve um recorde de participação: 600 jovens de
todo o estado do RS vieram a Santa Maria para o evento.
"A feira é uma miniatura do mundo que queremos construir, do jeito que a gente
quer que as nossas relações de troca se estabeleçam na sociedade na sociedade
socialista. O Levante se espelha muito na economia solidária porque eles estão
alguns passos adiante na consolidação do projeto que eles também defendem, que é
o mesmo projeto que a gente."
"Talvez por caminhos diferentes, mas é o mesmo projeto, e a gente quer chegar no
mesmo lugar. Então acho que essa troca é fundamental: o levante consegue trazer
a animação, eles trazem a experiência da organização da economia num outro
formato diferente da do capital."
A agricultura familiar e a produção agroindustrial do MST também marcaram
presença forte na Feira de Santa Maria. Das 23 regiões em que o movimento se
organiza no RS, 5 estiveram presentes na feira, trazendo grãos, derivados de
leite, doces, erva-mate, entre outros. Para Roberto, filho de assentados e
trabalhador da cooperativa do MST em Tupanciretã (oeste do RS), a feira
representa uma grande vitrine para o movimento:
"Além de divulgar nossa luta, é um momento de abrir novos mercados. Nossa
cooperativa está industrializando o leite, mas Tupanciretã não é um grande
centro consumidor. Por isso é importante botarmos os nossos produtos, que são
conquistas da luta, na vitrine".
O Rio Grande do Sul possui cerca de 15.000 famílias assentadas, algumas já há 30
anos. O estado tem poucas famílias acampadas, cerca de 700, e há poucos dias
realizou uma ocupação na fazenda Palermo, em São Borja, fronteira oeste. Roberto
comemora o momento que o país vive:
"Quando tem povo politizado nas ruas, a transformação acontece. Hoje temos um
governo que há anos atrás estava nas ruas, e hoje está no governo e não
conseguiu fazer as transformações necessárias. Com o povo na rua, podemos
acelerar esse processo. Mas a massa precisa caminhar para um lugar só. O
movimento não é movimento se não tiver povo na rua".
Além do artesanato e da agricultura familiar, chamou a atenção a presença de
bancos comunitários e clubes de troca. Vistos como alternativa ao uso do
dinheiro corrente, e como forma de desenvolvimento local, esse movimento já
conta com 81 moedas organizadas pelo Brasil. De acordo com Solange Mânica, do
Banco Mate, as trocas remetem aos primórdios da humanidade quando não existia
moeda e as pessoas viviam do escambo.
"Aqui a gente não envolve dinheiro. Fazemos tudo com o Mate, que é a moeda
social. As pessoas trazem seus produtos aqui para a banca, a gente estipula um
valor, por exemplo R$10. Então a gente dá 10 mates para poder trocar na banca e
você ter um produto e vai trocar por outros. O Mate já existe há 9 anos, e as
trocas funcionam em várias cidades do RS".
Economia Solidária
A 20ª Feira de Santa Maria também foi um momento especial para o Fórum
Brasileiro de Economia Solidária. No ano em que completou 10 anos de existência,
a avaliação é de que a falta de um marco legal ainda é um dos principais
entraves ao desenvolvimento desta forma de fazer economia com base na
autogestão. Katiúcia Gonçalves, do empreendimento Misturando Arte, participa dos
Fóruns Gaúcho e Brasileiro de Economia Solidária. Para ela, a feira é um momento
muito importante para o movimento:
"Para nós, é um momento de encontro. Até julho, todos os fóruns se mobilizaram
para trazer suas caravanas, mostrar seus produtos, participar do debates e
ajudar a construir essa outra economia que a gente já vem fazendo na nossa base.
Então é um momento de muito aprendizado e de integração do movimento."
Ela destaca ainda o sentido que a economia solidária assume no contexto das
crises atuais: “A economia solidária representa uma estratégia de
desenvolvimento econômico, que mobiliza a grande massa e faz com que ela perceba
que ela é o ator principal do processo produtivo. Ela faz com que o trabalhador
se empodere na atividade de produção. Ela é o que o mundo precisa hoje: respeito
às pessoas, ao meio ambiente, e o ser humano no centro do trabalho.
O encontro aprovou ainda uma moção de apoio à ANVISA para que leve adiante uma
resolução que simplifique o processo de vigilância sanitária. De acordo com a
nota, “esta iniciativa busca diferenciar, harmonizar e simplificar o cadastro e
licenciamento, bem como isentar as taxas de registro de produtos e serviços dos
Empreendimentos Econômicos Solidários. Esta iniciativa responde a uma
necessidade dos grupos produtivos com práticas coletivas, que sofrem penalidades
frente ao sistema de fiscalização que não as diferencia das grandes industrias e
demais formas produtivas que não preservam a vida e não valorizam os/as
trabalhadoras/es.”
A carta final do encontro reafirmou o sentido da economia solidária como projeto
político em construção, que “valoriza o trabalho sobre o capital; democratiza as
relações sociais; emancipa as pessoas de suas condições de opressão; transforma
as relações políticas, econômicas, sociais e culturais, baseadas em valores como
solidaridade, reciprocidadade e cooperação para o bem viver dos povos.”
***
In:
http://www.mst.org.br/20%C2%AA-Feira-do-Cooperativismo-reafirma-os-valores-da-Economia-Solid%C3%A1ria
16/07/2013
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No Brasil, a denominada "economia solidária", originariamente, constituiu-se como
uma corrente política e ideológica ligada aos Partidos dos Trabalhadores. No, entanto,
com o passar do tempo, a expressão "economia solidária" passou a ser utilizada como
uma espécie de equivalente para "trabalho associado", em geral organizado sob a forma jurídica de
cooperativa. É nesta acepção genérica que devemos entender a utilização do termo
"economia solidária" neste artigo. Isto porque, de fato, as cooperativas ligadas ao MST
emergem e funcionam segundo uma praxis que é distinta em relação àquela presidida pela
"Economia Solidária" estrito senso considerada.
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