segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

O fim da URSS e as lições vistas pela China

 



    Yang Sheng e Chen Qingqing [*]



A ex-superpotência socialista União Soviética (URSS) entrou em colapso
em 25 de dezembro de 1991, enquanto a China, uma grande potência que
escolheu o caminho do socialismo com características chinesas diferentes
da URSS, tornou-se a maior economia em paridade de poder de compra. É
também o país socialista mais poderoso e bem-sucedido no caminho de
realizar a modernização e a industrialização sem escolher o modelo
capitalista ocidental, bem como aos olhos dos EUA "o competidor
estratégico mais importante".

O povo chinês tem sentimentos contraditórios sobre o colapso de há 30
anos pois simpatiza com o povo russo o qual, em consequência do colapso,
sofreu uma série de tragédias. Mas ele também descobre que o colapso do
gigante vermelho é uma lição significativamente valiosa para a China
continuar a desenvolver e melhorar o socialismo com características
chinesas.

Assim como as discussões são abundantes entre observadores e académicos
em todo o mundo, aqui também tem havido muito debate avaliando o legado
do colapso da URSS por parte de especialistas chineses, comentaristas e
pessoas comuns nos media e nos media sociais nos últimos dias, mas as
suas vozes são bastante diferentes das ocidentais.

Ao retratar os EUA como o "vencedor" da guerra fria, muitos meios de
comunicação e académicos dos EUA e de outros países ocidentais
esforçam-se por atribuir o colapso da URSS ao seu caminho socialista,
alegando que a sua escolha causou erros como expansão militar, um
chauvinismo de Grande Potência e uma reforma económica fracassada.

Mas a visão dominante na China é que o socialismo está correto e foi
eficaz em ajudar a União Soviética a derrotar o fascismo e construir uma
superpotência. O erro reside, disseram peritos chineses, no facto de que
os líderes da URSS após Estaline desviaram-se da via socialista e até
mesmo traíram-na e ao povo da União Soviética, ressaltando que o êxito
atual da China reforçou ainda mais a correção desta visão.

*Uma lição valiosa*

Li Shenming, antigo vice-presidente da Academia Chinesa de Ciências
Sociais, disse ao /Global Times/ que "há muitas explicações diferentes
em todo o mundo acerca do colapso da União Soviética, mas aquela que
sustenta que o "Estalinismo", ou "o modelo socialista da União
Soviética", é a causa fundamental continua a dominar”.

"Na China, depois de muita pesquisa e muitas discussões, alcançámos uma
base comum considerando que o Estalinismo não foi a causa fundamental, e
que a verdadeira razão é que, de Nikita Khrushchev a Mikhail Gorbachev,
a liderança da União Soviética gradualmente desviou-se e acabou traindo
o marxismo, o socialismo e os interesses fundamentais da esmagadora
maioria do povo", observou Li.

"Culpar Estaline, ou o modelo socialista construído por Lenine e
Estaline, pelo colapso da União Soviética é irresponsável, afirmou Li.
"Embora o modelo não fosse perfeito e precisasse de reformas, a União
Soviética alcançou grandes objetivos como a industrialização, a vitória
na Segunda Guerra Mundial e uma reconstrução pós-guerra bem-sucedida sob
este modelo", afirmou.

O ponto de partida do colapso da União Soviética foi a reforma iniciada
por Khrushchev, porque falhou em resolver os problemas. Em vez disso,
ela negou gradualmente o sistema político e económico básico do
socialismo da União Soviética e, quando chegou a era Gorbachev, a
liderança do país traiu totalmente o marxismo e escolheu um caminho sem
regresso, disseram peritos.

Os líderes da União Soviética não estavam apenas traindo a aspiração
original, mas também se esqueceram de que servir o povo é a sua missão
central, ao invés de se enredarem em lutas pelo poder com outros países,
intimidando e ameaçando seus camaradas dentro do bloco socialista,
incluindo a China, em busca de expansão militar e intervindo noutros
países como o Afeganistão, disseram analistas chineses.

"A União Soviética podia enviar satélites para o espaço e expandir a sua
esfera de influência geopolítica, mas não podia resolver seus problemas
como a escassez de alimentos, têxteis e necessidades diárias, o que
alimentou ainda mais os conflitos sociais", disse ao /Global Times/ Wang
Xianju, vice-diretor da Universidade Renmin da China e investigador do
Centro de Pesquisas Russas da Universidade Estatal de São Petersburgo.

O Partido Comunista da China (PCC) sempre enfatizou que todos os
desenvolvimentos e conquistas que obtivemos e os que estamos envidando
esforços para alcançar têm apenas um propósito fundamental: servir o
povo, observou Wang.

Os líderes da União Soviética também queriam resolver os problemas, mas
erroneamente acreditavam que a liberalização ou ocidentalização poderia
resolver tudo no seu país. Figuras como Gorbachev ou o ex-presidente
Boris Yeltsin abraçaram o sistema político e a ideologia capitalista
ocidental e, em consequência, enterraram o grande país construído por
seus antecessores, disse Li.

A desintegração da União Soviética é "uma vacina para a China
<https://www.globaltimes.cn/page/202112/1243340.shtml>", disse Hu Xijin,
um comentarista do /Global Times,/ porque continua dizendo à China o que
está errado, que caminho é um beco sem saída e que tipo de reformas
causarão a morte de um grande país e de um grande partido.

A triste memória da Rússia com os EUA e outros países ocidentais após o
colapso da União Soviética é outra vacina para a China ,"porque nos diz
que a Rússia não será aceite pelo Ocidente, mesmo depois de ter
abandonado o socialismo e desintegrado o seu próprio país em pedaços",
disse um especialista em relações internacionais baseado em Pequim que
pediu anonimato.

"A luta com o Ocidente não é principalmente sobre ideologia ou "direitos
humanos e liberdade", é sobre poder e geopolítica, e um "suicídio" como
a União Soviética fez a si própria não impedirá a hostilidade do
Ocidente, mas apenas trará retrocessos, caos, guerras civis e mais
expansão militar do Ocidente”, observou.

*Os EUA repetirão o caminho da URSS?*

Tio Sam a arder.

A China aprendeu a lição e evitou repetir os erros cometidos pela União
Soviética para realizar com sucesso o desenvolvimento. Enquanto continua
marchando em direção ao seu objetivo de rejuvenescimento nacional, os
EUA, o competidor da União Soviética que acredita ter vencido a Guerra
Fria, provavelmente repetirá muitos erros cometidos por seu antigo
rival, disseram analistas da China e da Rússia.

Na véspera do aniversário de sua renúncia como líder da ex-União
Soviética, Gorbachev disse à agência de notícias estatal RIA Novosti na
sexta-feira que Washington se tornou "arrogante e autoconfiante" após o
colapso da União Soviética, levando à expansão da aliança militar da
NATO. No entanto, ele saudou as próximas negociações de segurança entre
Moscovo e Washington.

Respondendo se era possível, após o colapso da URSS, construir relações
com os EUA numa via diferente sem ferir a soberania da Rússia, o
ex-líder soviético mencionou o "clima de triunfo no Ocidente, em
especial nos EUA, após a União Soviética ter deixado de existir em 1991".

"Eles tornaram-se arrogantes e autoconfiantes. Declararam vitória na
Guerra Fria", disse Gorbachev. Ele insistiu que foi "juntos" que Moscovo
e Washington tiraram o mundo do confronto e da corrida nuclear. "Os
"vencedores" decidiram construir um novo império. Daí a ideia da
expansão da NATO", disse Gorbachev, acrescentando: "Como se pode contar
com relações de igualdade com os Estados Unidos e o Ocidente em tal
posição?"

O presidente russo, Vladimir Putin, disse em junho que estava convencido
de que os EUA estão a seguir o cenário típico de um império: confiantes
no seu poder ilimitado, os impérios criam problemas desnecessários para
si próprios até que não possam mais lidar com eles, relatou a TASS.

"Sabe qual é o problema [dos EUA]? Eu vou dizer-lhe, como ex-cidadão da
União Soviética. O problema dos impérios é que eles pensam que são tão
poderosos que podem permitir-se pequenas imprecisões e erros", declarou
aos media.

Pelas suas palavras, os governantes dos impérios estão confiantes de que
podem intimidar, persuadir ou comprar a lealdade de nações ou grupos e
acreditam que todos os seus problemas podem ser resolvidos dessa forma.

"Mas os problemas continuam a acumular-se. E, em algum momento, eles não
são mais capazes de lidar com eles. Os Estados Unidos estão agora
trilhando o caminho da União Soviética, e nesta via estão confiantes e
firmes", acrescentou o líder russo.

Encontramos algumas semelhanças interessantes entre os EUA hoje e a
ex-União Soviética nas décadas de 1970-80, o período antes da
desintegração, disse o especialista anónimo baseado em Pequim e listou
alguns aspetos semelhantes, como "abuso de poder na expansão militar,
gerontocracia, excesso de confiança na sua ideologia, falha em corrigir
erros e não promover uma reforma efetiva, mas ansiosos por culpar outros
países por sua própria desorganização, prosseguindo uma grande
competição de poder impulsionada por uma mentalidade de Guerra Fria".
Ele considerou que se os EUA falharem em descobrir esses problemas é
muito provável que se repita o trágico destino da União Soviética.


        26/Dezembro/2021


    [*] Jornalistas do /Global Times./


    O original encontra-se em
    www.globaltimes.cn/page/202112/1243430.shtml
    <https://www.globaltimes.cn/page/202112/1243430.shtml>
Em
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/russia/urss_vista_da_china.html#asterisco
26/12/2021

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