sábado, 21 de outubro de 2017

Entrevista a William Engdahl

           

 Ludwig Watzal* 

Elucidativa entrevista com um estudioso das ONG norte-americanas, nomeadamente
as criadas durante a década de 80: “National Endowment for Democracy », “The
Freedom House” ou as de Soros, as “Open Society Foundations”, “Instituto para a
paz.” Nas palavras de um do seus criadores, tratava-se de «fazer o que a CIA
faz, mas de forma privada». Toda a conspiração imperialista desde então ilustra
como têm cumprido esse papel.


A CIA recrutou os Irmãos Muçulmanos para fazer uma guerra por procuração à União
Soviética no Afeganistão, que levou à retirada dos Soviéticos da região do Hindu
Kuch. Desde então, a CIA utilizou mercenários em outras guerras por procuração
tais como na Chechénia, Azerbaijão e nos Balcãs. Para abrir caminho às guerras
de agressão contra Iraque, Líbia, Síria e Iémen, os Estados-Unidos e seus
Estados vassalos criaram violências sectárias que conduziram a guerras civis. Na
actualidade, a CIA e os Irmãos Muçulmanos estão presentes sob a forma de Estado
islâmico na Síria e no Iraque.
Ninguém ainda estudou esta tríade [CIA, Irmãos Muçulmanos, Estado islâmico] tão
escrupulosamente como William Engdahl, analista de renome em geopolítica,
consultor em gestão de riscos, autor e conferencista. Engdahl nasceu em
Mineápolis no Minnesota e cresceu no Texas. Depois de obter um diploma em
Ciências Politicas na Universidade de Princeton e estudos superiores em economia
comparativa na Universidade de Estocolmo, trabalhou como economista e como
jornalista de investigação nos Estados-Unidos e na Europa.
Foi nomeado Professor Convidado pela Universidade de Tecnologia Química de
Pequim e apresentou conferências e seminários privados sobre diferentes aspectos
de economia e da política pelo mundo inteiro, tendo sempre em vista a
geopolítica e seus acontecimentos. Nos últimos 30 anos Engdahl tem vivido na
Alemanha.
 Escreveu numerosos livros de sucesso sobre o petróleo e a geopolítica : «
Petróleo uma guerra de um século », « The Lost hegemon: Whom The Gods Would
Destroy », “Full Spectrum Dominance », « Les Semences de la destruction :
l’agenda caché de la manipulation génétique », sem esquecer « Target China »,
para se nomearem aqui apenas alguns. Os seus livros estão traduzidos em 14
línguas.
 O seu livro mais recente, sobre o papel das ONG, faz o ponto sobre a sua
participação nas “Mudanças de regime“ orquestradas pelos Estados-Unidos.
Organizando e agitando importantes manifestações, de forma à facilitar os
esforços de Império estado-unidense e da CIA visando substituir governos
resilientes de tendência nacionalista por outros mais obedientes que instalarão
localmente a agenda de Washington. Tudo isto desenrolando-se sob o pretexto da
democracia à americana. A entrevista que segue foca-se no último livro em alemão
de Engdahl: « Geheimakte NGOs [Os documentos secretos das ONG] ”. É conduzida
pelo Doutor Ludwig Watzal, jornalista e editor qui vive em Bonn na Alemanha e
dirige o Blogue bilingue: http://betweenthelines-ludwigwatzal.com/.
***
Pergunta de Ludwig Watzal: Penso que estamos de acordo sobre o facto de a CIA
ser a pior das organizações terroristas. Depois da 2ª guerra mundial,
praticamente nenhum golpe de estado ou sublevação organizada se produziu sem a
ajuda da CIA.
 Se compreendi bem o seu livro, no decurso dos 25 últimos anos a CIA recebeu
numerosas vezes “pequenas ajudas” daquilo que é comummente chamado as ONG. Será
que poderia dizer-nos algo mais sobre este assunto?
 Resposta de William Engdahl: Durante a presidência de Ronald Reagan vieram a
público lamentáveis escândalos relativos a sórdidas operações da CIA pelo mundo
fora. Chile, Irão, Guatemala, o projecto top secret MK-Ultra, o movimento
estudantil durante a guerra do Vietnam, para não referir senão alguns. De forma
a deixar de se encontrar na ribalta, o Director da CIA, Bill Casey propôs a
Reagan a criação de uma ONG “privada”. Ligeiramente à margem, ela pretendia-se
privada mas na realidade estava ali para, como disse um dos seus criadores, o
falecido Allen Weinstein numa última entrevista au Washington Post: « fazer o
que a CIA faz, mas de forma privada ».
Foi a criação, em 1983, da ONG denominada: “National Endowment for Democracy
[Dotação Nacional para a Democracia] ». Pouco tempo depois, dirigidas a partir
de Washington, outras ONG surgiram, tais como “The Freedom House” ou as de
Soros, as “Open Society Foundations”, “Instituto para a paz” e outras ainda. Os
fundos eram frequentemente encaminhados pelo Departamento de Estado via USAID
para ocultar a sua proveniência.
 Todas as tentativas de mudança de regime por parte do Governo norte-americano
desde essa época, tais como o Solidarnosc na Polonia, o golpe de estado russo de
Ieltsin apoiado pela CIA, a “revolução laranja“ de 2004 na Ucrânia, os motins de
2008 no Tibete, as primaveras árabes de 2011 até hoje, foram organizadas por
este grupo particular de ONG pregando a “democracia“. Não surpreende que países
como a Rússia e a China ou ainda a Hungria façam o necessário para as banir
enquanto ONG’s “indesejáveis“.
LW: Cita Allen Weinstein, co-autor do documento fundador da ONG National
Endowment for Democracy (NED), dizendo: « quase tudo o que nós fazemos hoje
fazia-o a CIA há 25 anos ». ONG tais como NED, CIPE, USAID, NDI sem falar das
redes Soros, não são elas a quinta coluna da CIA?
 William Engdahl : Como referi atrás, diria que a minha opinião é essa. Como
sempre, a agenda dessas ONG corresponde em cada momento à que é enunciada pela
política externa de Washington. Coincidência? Não penso que o seja.
LW: As suas críticas incidem essencialmente sobre algumas ONG norte-americanas,
ou juntar-lhes-ia todas as outras organizações não-governamentais de maneira
mais geral? Estas ONG não são todas elas orientadas por uma nobreza de espirito
e de boas intenções, no sentido de difundir a democracia e a liberdade em todo o
planeta?
 William Engdahl : É aí que reside o que existe de demoníaco no conceito de Bill
Casey. Esconder verdadeiras operações antidemocráticas e nauseabundas da CIA por
detrás das ONG políticas e privadas agitando a bandeira dos “direitos do homem”
foi muito eficaz para Washington e a sua agenda global de derrubamento de
regimes não-cooperantes por todo o lado no planeta. Na realidade, a CIA
militarizou os direitos do homem.
 Estranhamente, regimes uteis a Washington tal como a Arabia saudita mantêm-se
sem nunca serem incomodados por apelos à democracia. Os seus petrodólares
financiam a agenda global do terrorismo de Washington…
Repare no recente caso da falsa ONG “democrática“, os “Capacetes Brancos“ na
Síria, fazendo a sua propaganda em colaboração estreita com o Estado Islâmico,
para justificar uma guerra dirigida pelos EUA contra o regime democraticamente
eleito de Assad. Estes “Capacetes Brancos” recebem dinheiro das fundações de
Soros, dos governos norte-americano e britânico e foram criadas por um antigo
agente dos Serviços de Informações britânicos, James Le Mesurier. Foi numerosas
vezes provado que os seus atrozes vídeos foram fabricados, com representação
feita por actores. O seu dito vídeo sobre o gás Sarin mostrando capacetes
brancos sem protecção, prodigalizando os primeiros socorros e tratando as
supostas vítimas desse gás Sarin sem equipamentos de protecção individuais
contra substâncias toxicas [HAZMAT] é anedótico, é uma falsificação, tal como
foi amplamente demonstrado por diversos peritos em substâncias toxicas e gás
Sarin.
 As ONG políticas de Washington ou da Europa são em certos casos eficazes porque
podem atrair um número significativo de pessoas inocentes e de boa vontade.
Recebi recentemente uma carta pessoal muito tocante da parte de uma médica que
tinha trabalhado durante 18 meses, com as melhores intenções, para Médicos Sem
Fronteiras (MSF) no Sudão do Sul, antes da sua independência apoiada pelos EUA.
Estava muito agradecida, depois de ter lido o meu livro sobre as ONG, por
conseguir enfim compreender todas as instruções, aparentemente absurdas, dadas
pelos responsáveis americanos de MSF ao seu pessoal. Ela demitira-se devido ao
esgotamento e dizia agora compreender porquê. Médicos honestos eram utilizados
por Washington para a sua agenda secreta. O Sudão do Sul era o alvo porque a
China recebia uma grande parte do seu petróleo da zona via Cartum.
 Bem entendido, não são todas as ONG que fazem o trabalho da CIA. Concentro-me
sobre aquelas que têm uma agenda politica escondida e que, como descrevo no meu
livro, instrumentalizaram os “direitos do homem“ e a palavra “democracia“ para
fins que nada têm a ver com eles.
LW: Em 1984, o especulador milionário Georges Soros implanta a Fundação Soros em
Budapest. O seu primeiro objectivo foi a Polonia. O Papa João Paulo II e o
Presidente dos EUA Ronald Reagan encontraram-se em 1982 no Vaticano para
discutir a desestabilização do bloco Comunista. Houve uma participação da
Fundação Soros nesse empreendimento?
 WE : Em 1988 a Fundação Soros criou em Varsóvia a Fundação Stefan Batory, a fim
de através dela formar activistas que acabaram por fazer tombar o regime
comunista. Desempenharam um papel central na “ofensiva democrática” e,
imediatamente após a queda do governo do General Czeslaw Kiszczak em Agosto de
1989, Soros chamou à Polonia o economista da Universidade de Harvard Jeffrey
Sachs, especialista na “Terapia de Choque“, para fazer avançar a privatização
das empresas nacionais. Para criar uma hiperinflação e proporcionar a venda em
leilão dos activos do Estado polaco em benefício de investidores do Ocidente
como os amigos de Soros, por alguns pennies ou, à época, alguns pfennigs.
LW: Os dois capítulos sobre a pilhagem da ex-URSS pela CIA, Soros, e o seu bando
de Harvard em colaboração com o clã Ieltsin e veteranos do KGB são bastante
chocantes. Poderia explicar-nos esta mão-baixa quase mafiosa?
 WE : Devo remeter os leitores para o livro, porque o tratamento do tema foi
sintetizado e é exaustivo. Brevemente, a CIA, sob a direcção do Presidente
americano da época, Bush Sénior, conseguiu corromper pessoal de muito alto nível
do KGB que recrutaram os seus “protegidos” no seio da organização juvenil
Konsomol ou da organização da juventude comunista, tais como Boris Berezovsky e
Mikhail Khodorkovsky, para que estes se tornassem os seus “oligarcas”
preferidos, pilhando os activos do Estado por um punhado de rublos em lugar do
seu real valor. Foi o tristemente célebre escândalo das privatizações por
“vouchers” que avaliou a totalidade dos bens do Estado, incluindo petroleio e
gás, máquinas-ferramentas, alta-tecnologia, a um pouco menos de 16 milhares de
milhões de $. Desmantelaram literalmente a Rússia para seu proveito pessoal. E a
CIA e a sua rede de bancos ocidentais, como o banco Riggs em Washington,
permitiram-lhes fazer sair os capitais para fora da Rússia. Eu próprio fiquei
chocado ao constatar estes pormenores. Era criminoso. Ieltsin era o seu joguete.
Alguns diziam que desde que lhe fosse assegurado um aprovisionamento de vodka de
qualidade, ele fazia tudo o que Soros e seus economistas de Harvard lhe
pedissem.
 Um pormenor interessante sobre o qual é necessário reflectir é este: o
Presidente Bush Sénior, antigo Director da CIA, ordenou 3 operações de
desestabilização simultâneas através de ONG no mesmo ano de 1989. As três foram:
Rússia, China com a praça Tiananmen e a Jugoslávia. O livre explica tudo isso
com grande detalhe.
 LW: Depois de suceder a Boris Ieltsin como Presidente da Rússia, Vladimir Putin
travou de imediato a pilhagem da Rússia. Pensa que poderia residir aí uma das
razões porque a classe politica, em Washington, o odeia e diaboliza com tanta
insistência, o qui é irracional?
 WE : Putin provinha de uma facção nacionalista russa (oposta àquela a que
chamávamos a facção “cosmopolita“ ou “internacionalista“) do KGB e do seu
sucessor. Sabiam dever agir com discrição até que o seu controlo ficasse
garantido em 2000, quando Ieltsin foi forçado ou a retirar-se ou a ser
desmascarado, e foi obrigado a nomear Putin como Presidente interino.
 Houve, desde bem antes de 1917, uma guerra não declarada contra um Estado-Nação
estável na Rússia. O fundador de Statfor, Georges Friedman, um dos analistas
americanos melhor informado em geopolítica, antigo consultor do Pentágono e da
CIA entre outras, deu recentemente uma interview após o coup d’état da CIA na
Ucrânia, que designou como “o mais flagrante coup d’état na história do EUA.”
Este, se se recorda, em que Viktoria Nuland, Secretária de Estado adjunta, tinha
ido a Kiev, tinha distribuído barras de cereais aos manifestantes na praça
Maidan e telefonado ao Embaixador Americano em Kiev, para lhe exprimir o seu
desprezo pela União Europeia.
 Friedman observava aquilo que eu documentei em vários dos meus outros livros,
como em « petróleo, uma guerra de um século », a saber que a politica externa
dos EUA, pelo menos no século passado quando os Estados-Unidos emergiram em
detrimento do Império britânico, a prioridade da politica externa americana foi
a de impedir, a todo o custo, a reunião de interesses económicos e qualquer
cooperação sobretudo entre a Alemanha e a Rússia. O mundo sofreu 2 guerras
mundiais em consequência deste dogma geostratégico da politica externa dos EUA,
um dogma recolhido dos Ingleses e do pai da geopolítica inglesa, Sir Halford
Mackinder.
 Washington odeia e diaboliza Putin pela boa razão de que ele agiu de forma
deliberada para restabelecer a Rússia enquanto grande nação, o que é
efectivamente o caso como posso confirmar após quase 25 anos de experiência
pessoal. E como consequência da diabolização de Washington, a influência de
Putin no mundo parece não cessar de crescer – em primeiro lugar com a China,
depois com as nações da Eurásia, Africa, o Médio-Oriente, Asia, e mesmo com as
Filipinas e a América latina. O mundo está mais do que farto dos EUA, da sua
agenda guerreira, oculta ou não, sem fim e em toda a parte.
LW: O desmembramento da Jugoslávia foi uma catástrofe. Os Alemães, sob a
Chancelaria de Gerhard Schroeder e do seu infame ministro dos negócios
estrangeiros, Joschka Fisher, juntaram forças com Clinton para derrubar o
Presidente sérvio Slobodan Milosevic. Nesta operação, que tinha tudo de um golpe
de estado, havia ONG implicadas? E qual era a sua estratégia?
 WE : Sim. Siga a carreira subsequente do sr. Fischer : de rufia nas
manifestações de Frankfurt de 1968 até a ser coroado pelos EUA e sua imprensa de
grande circulação como homem de Estado, aparentemente como recompensa pelo voto
dos verdes a favor do bombardeamento da Jugoslávia em 1999. Depois do seu
mandato, Fisher obteve um lugar de Professor honorário em Princeton, a minha
Alma Mater. Mais tarde Georges Soros convidará o sr. Fisher para o seu novo LICI
[1] “Conselho Europeu dos Negócios Estrangeiros [European Council on Foreign
Relations – ECFR]”.
No que diz respeito ao derrubamento de Slobodan Milosevic, o Governo dos EUA e a
sua clique de ONG, incluindo o NED e as fundações de Soros, organizaram,
financiaram e formaram representantes de estudantes e outros para fomentar um
golpe de estado de sucesso, sob o nome de Otpor! (Resistência !), com o
omnipresente logo do punho erguido. Traduções sérvias dos escritos de Gene Sharp
sobre a não-violência activa eram utilizados e os activistas chave treinados
pelo associado de Sharp, o coronel Robert Helvey do exército americano, em
locais secretos de forma a evitar a polícia. O Movimento Otpor! recebeu, segundo
certas estimativas, até 30 milhões de dólares de organizações ligadas aos EUA
como o National Endowment for Democracy (NED), o International Republican
Institut (IRI), e a Agencia Americana para o Desenvolvimento Internacional
(USAID).
 A destruição da Jugoslávia fora planeada desde os anos 80 por Washington,
primeiro por Bush Sr. E depois por Clinton. Sendo o objectivo o de criar uma
guerra na Europa que iria justificar a presença contínua da NATO. Gastos que
teria sido difícil explicar aos contribuintes americanos depois da queda da ex.
URSS e aos Europeus que procuravam organizar uma defesa europeia autónoma fora
da NATO. Para Washington e o influente complexo militar-industrial americano,
uma tal Independência era Tabu! O objectivo seguinte iria ser estabelecer uma
presença americana massiva no Kosovo designada Camp Bond Steel.
LW: Quando os Árabes desceram à rua em Túnis, no Cairo e em Trípoli, os media
ocidentais e a classe politica ficaram em êxtase. Finalmente a democracia, a
liberdade e os direitos do homem tinham chegado ao mundo árabe. Estas revoltas
eram espontâneas ou será que eram orquestradas por forças exteriores?
 WE : A totalidade das Primaveras Árabes foi planeada e financiada por
Washington e pelas ONG financiadas pelos EUA. A Ministra dos Negócios
estrangeiros [Secretária de Estado] à época, Hillary Clinton, era um personagem
chave com o seu estranho assistente membro dos Irmãos Muçulmanos, Huma Abedin. A
RAND Corporation, uma LICI do Pentágono, responsável pelo desenvolvimento da
técnica do “enxameamento“ de massas como se de um enxame de abelhas se tratasse,
utilizando Facebook e outras redes sociais para atiçar os protestos, desempenhou
um papel central.
 Os grupos de estudantes contestatários no Egipto eram treinados pelos EUA,
utilizando de novo traduções de Gene Sharp, eram enviados à Europa para serem
secretamente treinados pelos leaders de Otpor.
 No caso da Líbia de Kadhafi, era considerada necessária e urgente uma mudança
de regime, como foi agora revelado por DCLeaks e Wikileaks com as famosas
mensagens electrónicas de Hillary Clinton ao seu conselheiro privado, Sidney
Blumenthal. Kadhafi que, contrariamente à sua imagem diabolizada, tinha
conseguido na Líbia os mais elevados níveis de vida de toda a Africa, estava na
iminência de revelar ao mundo a criação de uma aliança de Bancos Centrais
africanos e a criação de uma divisa, o Dinar-ouro, para a venda de petróleo,
abandonando o dólar americano. Fazia isso de acordo com Ben Ali na Tunísia e
Mubarak no Egipto. Tal como Hillary escreveu a Blumenthal, isso devia ser detido
sem olhar a meios. Os meios para o deter foram os bombardeamentos ilegais da
Líbia e o assassínio de Kadhafi e a transformação da Líbia num campo de ruinas.
 O plano original do Departamento de Estado, da CIA e do Pentágono era, logo
depois de Kadhafi, o imediato derrube de um outro renegado, Bachar el Assad na
Síria. Esta parte não funcionou muito bem para os planificadores de Washington,
e uma verdadeira tragédia humana, desnecessária, desenvolveu-se no decurso dos 6
últimos anos uma guerra dirigida essencialmente pelos EUA, que são por ela
responsáveis.
LW: Outrora, os conquistadores traziam os missionários na sua comitiva. Hoje, as
potências neocoloniais ocidentais vêm com uma pletora de ONG que ensinam às
populações indígenas como é suposto funcionar a democracia ocidental. Pensa que
as ONG servem os interesses dessas pessoas? Que existem ONG alemãs que veiculam
quantidades enormes de lastro ideológico com, por exemplo, a integração da
teoria do género? Que pensa disso?
 WE : Penso que a sua analogia, dos missionários “cristãos“ do passado e dos
“direitos do homem” ou da “democracia” defendidos pelas ONG de hoje, é
efectivamente apropriada. Não tenho competência para comentar as actividades das
diferentes ONG alemãs minha atenção principal está voltada para Washington, a
potência hegemónica de agora e a fonte, infelizmente, de tanta destruição.
LW: No início e no final do seu livro refere-se à dupla linguagem de George
Orwell que diz: «a guerra é a paz, a liberdade é a escravidão, a ignorância é a
força ». Vivemos nós uma época em que o significado original das palavras muda
de sentido? Será que o Império dos EUA e seus vassalos conduzem uma guerra em
nome da democracia e destroem Estados-Nação com a mesma retorica democrática?
 WE : É por isso que acho a citação de Orwell tão apropriada. O seu livro 1984
é, de diversas formas, uma descrição do que sucedeu às nossas democracias
ocidentais, sobretudo na Grã-Bretanha e nos EUA.
 LW: Se pudesse dar um conselho às ONG, o que é que lhes diria?
 WE : Às pessoas honestas que poderiam ter-se deixado enredar na teia desta
bonita retórica a propósito dos valores, dos direitos do homem etc.,
sugerir-lhes-ia que olhassem mais de perto quem sustenta financeiramente a sua
ONG. No que diz respeito à NED ou às fundações de Soros, sugerir-lhes-ia que
lhes fechassem definitivamente a porta prestando assim um grande serviço à
humanidade, que seria o de permitir às nações e aos indivíduos decidir o seu
próprio futuro sem a sua negativa intervenção. Diria, para parafrasear Cromwell
no seu Parlamento inglês: « Vós, ONG dos direitos do homem, ide-vos! Para o
benefício que era suposto ter-nos trazido, estais aqui há demasiado tempo.
Parti, digo-vos, e que nada mais haja entre nós, em nome de Deus, parti! »
LW: Sr. Engdahl, agradeço-lhe esta entrevista.
 WE : Obrigado pelo seu interesse e pelas suas excelentes perguntas.
 [1] Laboratório de Ideias e Círculo de Influencia, tradução de think tank.
*Publicada pelo American Herald Tribune, 17 Julho 2017.
 Fonte:https://ahtribune.com/in-depth/1789-william-engdahl-cia-ngos.html

In
O DIÁRIO.INFO
https://www.odiario.info/o-imperio-eua-a-cia-e/
20/10/2017

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