sábado, 15 de fevereiro de 2020

CRISIS MUNDIAL 2020 Y TRANSICIÓN AL POSTCAPITALISMO





In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2020/02/15/crisis-mundial-2020-y-transicion-al-postcapitalismo/
15/2/2020

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Socialismo e democracia na Coreia Popular





Traduzido do site Write to Rebel por Leonardo Griz Carvalheira

A República Popular Democrática da Coreia (RPDC) é continuamente tratada
como um vilão na política internacional. O “reino eremita” é pintado
como tirânico, repressivo e dinástico. Neste ensaio, quero argumentar o
oposto: a Coreia do Norte é um país profundamente democrático, e isso
reflete seus valores socialistas.

Ao contrário da crença popular, eleições acontecem de fato na RPDC. A
mídia burguesa, como a AJ English [a seção em inglês do canal Al
Jazeera], admite isso. Contudo, eles retratam as eleições de uma forma
incrivelmente desonesta. Uma reportagem alegou que as eleições consistem
somente num voto sim/não num único candidato selecionado pelo partido,
depositado à vista do público e com a abstenção exigindo uma explicação
por escrito [1]. Isso é na melhor da hipóteses uma meia-verdade e, na
pior, totalmente fabricado. Aqui, irei argumentar que a RPDC é
democrática, e uma das razões para isso são suas eleições.

Democracia

Antes de seguir, entretanto, devemos nos dotar de uma definição do que
realmente é democracia. Em minha opinião, devemos retornar à própria
palavra. Demos quer dizer povo, enquanto -krata é usado como governo [ou
domínio]. Democracia, portanto, deve significar governado pelo povo. É
assim que o sítio dictionary.com define o termo. Eles dizem que
democracia é “governo pelo povo; a forma de governo em que o poder
supremo reside no povo e é exercido por ele ou por seus agentes eleitos
sob um sistema eleitoral livre” [2]. Uma democracia é uma sociedade na
qual a maioria do povo possui a habilidade de tomar decisões sobre sua
vida política e social. Minha escolha em usar o dicionário aqui não
pressupõe que dicionários são a autoridade suprema das definições. É
simplesmente para evitar acusações de que minha definição de democracia
é ideológica. Eu não inventei uma definição de democracia que inclui a
RPDC para forçar o leitor a considerá-la democrática. Usei uma fonte
tradicional cuja agenda política é oposta à minha.

A RPDC tem eleições distritais, municipais e provinciais para as
assembleias populares locais, assim como eleições nacionais para a
Assembleia Popular Suprema (APS), seu órgão legislativo. Elas acontecem
a cada cinco anos.

Candidatos são escolhidos em reuniões de massa presididas pela Frente
Democrática para a Reunificação da Pátria, que reúne os partidos
políticos da RPDC. Cidadãos podem concorrer sob esses partidos ou como
independentes. São escolhidos pelo povo, não pelo “partido” (na verdade,
o parlamento da RPDC consiste em três partidos separados, como, nas
últimas eleições, o PTC – Partido dos Trabalhadores da Coreia, o Partido
Social-Democrata da Coreia e o Partido Chondoísta Chongu) [3].

O fato de haver apenas um candidato na cédula é por já haver um consenso
alcançado sobre quem deve estar apto para a nomeação pelo povo nas
reuniões de massas, para aquela posição. Esse é um arranjo
verdadeiramente democrático, que põe o poder diretamente nas mãos do
povo ao invés das dos “representantes” ricos que não têm ideia de como a
maioria vive. De acordo com um relatório, a renda média de um membro do
congresso dos EUA é 14 vezes maior que a de um cidadão médio [4]. É
simplesmente impossível eles conhecerem as lutas das massas. Na RPDC, ao
contrário, as massas advogam por si mesmas diretamente. Elas entendem
seus próprios interesses e são capazes de avançar abertamente em sua
defesa. É isso que a verdadeira democracia implica.

A RPDC permite observadores estrangeiros nas suas eleições. As pessoas
votam sozinhas numa sala separada e gozam de privacidade. As reuniões de
massa exigem a contribuição das massas populares, então elas não são
secretas, nem deveriam ser, já que isso impediria o processo democrático
e tornaria mais difícil para os deputados atenderem diretamente às
necessidades e demandas do povo. Elas são mais que votos e cédulas, são
reuniões onde o povo tem voz e o poder de impactar o sistema político de
forma significativa.

O Comitê Central Eleitoral é composto por vários membros da APS, do PTC
e do Presidium [colegiado eleito pela APS]. É formado por uma votação do
Presidium. A RPDC demonstra uma estabilidade política extensiva e eu
desconheço qualquer candidato escolhido pelo povo sendo repreendido por
qualquer parte do processo democrático. As eleições são efetivamente
salvaguardadas de qualquer corrupção do processo democrático que ocorre
durante as reuniões de massa. É de se esperar, portanto, que o resultado
conte com apoio absoluto porque um não-voto indica que as reuniões de
massa falharam em chegar num consenso com apoio popular [5].

Aqui, vemos a profunda diferença das eleições na RPDC e nos Estados
Unidos. As eleições americanas são desenhadas meramente para dar a
ilusão de participação popular no governo. Cidadãos têm que escolher,
efetivamente, entre dois candidatos que ambos representam os interesses
dos grandes negócios. É virtualmente impossível fugir do sistema
bipartidário, a não ser para alguém independentemente rico. Ross Perot,
por exemplo, só foi capaz de concorrer contra bilionários por causa do
seu status de bilionário [6]. Ele só conseguiu fugir do sistema
bipartidário imposto pelo capitalismo corporativo porque ele próprio
encarnava o capitalismo corporativo. Vez após vez, vemos que é o
candidato com mais dinheiro que ganha as eleições nos Estados Unidos
[7]. Na formulação das políticas, são os grupos de interesse
endinheirados que conseguem o que querem, não as pessoas comuns da
classe trabalhadora [8]. Apesar da veneração à democracia adotada pelos
EUA, é na verdade uma ditadura da classe capitalista. Não há alternativa
genuína aos interesses do capital (que são na realidade os interesses de
uma minoria de donos de negócios) e portanto não há democracia real.

Na RPDC, contudo, a democracia floresce. Como vimos, é desenhada com o
objetivo explícito de dar poder às massas populares. A votação do não é
resultado direto disso. Não é a evidência da monopolização do poder nas
mãos do Partido, mas uma evidência do poder do povo. Os votos não
crescem quando as discussões das massas se tornam muito contenciosas. Em
certo sentido, as massas às vezes têm poder demais. As eleições existem
para mediar isso e chegar a conclusões verdadeiramente democráticas, nas
quais a vontade da maioria é decretada. As eleições não são uma barreira
para a democracia, mas uma expressão dela.

Os cidadãos nos países capitalistas tipicamente só ficam cientes de um
aspecto do processo eleitoral na RPDC. São levados a acreditar que
apenas um candidato aparece na cédula, e isso é usado para pintar a RPDC
como ditatorial. O mesmo método de informação seletiva pode ser usado
para deturpar os sistemas “democráticos” ocidentais. Se a mídia cobrisse
apenas o colégio eleitoral durante uma eleição americana, por exemplo,
podem afirmar facilmente que apenas 538 americanos puderam votar para
presidente. Isso revela a importância de pesquisa rigorosa sobre a RPDC.
Embora possa haver elementos verdadeiros nas informações ocidentais
sobre a RPDC, eles nunca revelam a imagem completa. É vital que
descubramos por conta própria e que nos recusemos a confiar na mídia
burguesa dos Estados Unidos.

Democracia e Economia: o sistema de trabalho Taean, cooperativas e
comitês de fábrica

Eleições, no entanto, não são o único indicador pelo qual se pode
determinar uma democracia. Os Estados Unidos têm eleições, mas eu acabei
de demonstrar que são antidemocráticas. Isso deve significar que as
arenas para além do parlamento (ou órgãos similares) também cumprem um
papel na classificação de um país como democrático ou não. Na minha
visão, um campo importante a se considerar quando se fala em democracia
é a economia. É a economia que determina se ficamos vivos ou não, sem
falar nas formas políticas que adotamos. Seria virtualmente impossível
passar um dia teorizando sobre política se alguém tivesse que se
preocupar se comeria ou não naquela noite. Assim, a questão sobre quem
controla a economia é importante. Se uma pequena minoria de indivíduos
controla a economia, então se segue que este mesmo grupo tem a palavra
final na política, na arte e na cultura de uma sociedade particular.
Isso pode ser visto nos Estados Unidos. A minoria da população é feita
de proprietários ricos, que exercem uma enorme parcela de controle sobre
as políticas. Eles só sustentam esse poder político porque têm dinheiro.
É portanto o caso de que o centro primário de poder na sociedade é a
economia. As sociedades só podem ser consideradas democráticas e as
massas do povo dirigem a economia assim como a esfera política.

Este obviamente não é o caso sob o capitalismo, mas será esse o caso na
RPDC? Eu argumentaria que é. Os espaços de trabalho na RPDC são geridos
de acordo com o Sistema de Trabalho Taean, que é descrito da seguinte
forma pelo Country Data [site da Divisão Federal de Pesquisa da
Biblioteca do Congresso]:

A máxima autoridade administrativa sob o sistema Taean é o comitê do
partido. Cada comitê consiste em aproximadamente 25 a 35 membros eleitos
das fileiras de gestores, trabalhadores, engenheiros e as lideranças das
organizações do povo trabalhador nas fábricas. Um “comitê executivo”
menor, aproximadamente um quarto do tamanho do comitê principal, tem
responsabilidade prática pelas operações rotineiras da planta e pelas
principais decisões da fábrica. Os membros mais importantes da equipe,
incluindo a secretaria do comitê do partido, gerente de fábrica e
engenheiro chefe formam seus quadros. O sistema foca na cooperação entre
os trabalhadores, técnicos e funcionários do partido no nível da
fábrica. [9]

Esse sistema persistiu por muito tempo na RPDC. No seu discurso de Ano
Novo no trigésimo aniversário do Sistema de Trabalho Taean, Kim Il-Sung
disse:

O Sistema de Trabalho Taean é o melhor sistema de gestão econômica. Ele
permite que as massas cumpram sua responsabilidade e seu papel de
mestres e administrem a economia de maneira científica e racional,
implementando a linha de massa na gestão econômica e combinando
organicamente a liderança do partido com orientação administrativa,
econômica e técnica. [10]

A economia da RPDC é um misto de propriedade estatal e economia
cooperativa, nesta última com os trabalhadores constitucionalmente
intitulados donos do seu espaço de trabalho. De acordo com a
Constituição da RPDC:

Artigo 22

A propriedade das organizações sociais cooperativas pertence à
propriedade coletiva das pessoas que trabalham nas organizações envolvidas.

Organizações sociais cooperativas podem possuir propriedades como
terras, maquinaria agrícola, navios, pequenas e médias fábricas e
empreendimentos.

O Estado deve proteger a propriedade das organizações sociais
cooperativas. [11]

A revolução Coreana criou oportunidades inimagináveis para trabalhadores
e camponeses sob as condições opressivas do passado. O especialista na
Coreia Bruce Cumings escreve: “em qualquer momento antes de 1945, era
praticamente inconcebível que camponeses pobres sem formação se
tornassem oficiais de nível nacional ou oficiais do exército. Mas na
Coreia do Norte essas carreiras tornaram-se normais” [12]. Ele também
observa que casamentos entre classes viraram normais, comuns e
difundidos com o estabelecimento da Coreia Democrática, e o acesso à
educação foi estendido para todos os setores da sociedade.

A parte mais importante da economia é indiscutivelmente a propriedade da
terra. Antes dessa revolução, a terra era concentrada nas mãos de uma
elite japonesa muito pouco numerosa. O Partido dos Trabalhadores
empreendeu um processo gradual, mas sólido de conversão da terra privada
em organizações cooperativas. Começando com o processo de reconstrução
pós-guerra, só 1,2% dos domicílios camponeses eram organizados em
cooperativas, o que abrangia meros 0,6% da área cultivada [13]. Em
agosto de 1958, 100% dos domicílios rurais estavam convertidos em
cooperativas, abrangendo 100% da área cultivada [14]. Ellen Brun, uma
economista cujo estudo de 1976, Coreia Socialista, continua sendo o mais
abrangente até o momento, escreve que “apesar da falta de meios modernos
de produção, as cooperativas – com assistência eficiente pelo estado –
rapidamente mostrou sua superioridade em relação ao cultivo individual,
até convencendo agricultores antes relutantes a participar do movimento”
[15]. A coletivização não foi forçada de cima, mas uma expressão dos
desejos das massas. Foi – e continua sendo – uma ação democrática.

Comitês populares locais, nos quais qualquer trabalhador coreano pode
participar, elegeram a liderança para dirigir a produção agrícola e
colaboraram com as autoridades nacionais para coordenar a eficiência a
nível nacional [16]. Esses comitês populares foram as instâncias
primárias por onde “o Partido mantinha contato com as massas nas várias
fazendas coletivas, permitindo assim avaliar a opinião pública sobre
assuntos que afetam as políticas dos comitês populares do país” [17]. Em
1966, o Partido dos Trabalhadores introduziu o “sistema de administração
em grupo”, que “organizou grupos de 10 a 25 agricultores em unidades
produtivas, cada um das quais ficando então permanentemente encarregado
de uma determinada área de terra, uma determinada tarefa ou certos
instrumentos de produção” [18]. Isso representa outro instrumento da
democracia popular implementada na produção da Coreia socialista.

Nenhum antagonismo sério entre as áreas rurais e os centros industriais
foi desenvolvidos no processo de construção socialista na Coreia
Democrática. Brun nota que “dezenas de milhares de homens desmobilizados
e muitos jovens e velhos formandos assim como pupilos do ensino médio
foram ao campo na temporada mais trabalhosa e prestaram assistência no
valor de milhões de dias de trabalho”, todos voluntariamente sem coerção
pelo estado [19].

Mais importante ainda, a construção socialista coreana reorganizou a
produção industrial pelos interesses do proletariado coreano antes
despossuído. Baseando-se na linha de massas – o método de organização
marxista-leninista que “é tanto a causa quanto o efeito da politização e
do envolvimento das massas no processo de desenvolvimento econômico e
construção socialista” – o PTC implementou o sistema de trabalho Taean,
descrito acima, em dezembro de 1961. Em contraste com o sistema
anterior, em que administradores eram nomeados para supervisionar um
espaço de trabalho unilateralmente por um único membro do partido, “o
comitê de fábrica do Partido assume a autoridade máxima no nível do
empreendimento” no sistema de trabalho Taean [20]. Brun segue
descrevendo esse sistema, e vou citá-la longamente:

Maneiras de resolver questões que afetam a produção e a atividade dos
trabalhadores, assim como métodos de executar decisões, são alcançados
através de discussões coletivas nos comitês de fábrica, cujos membros
são eleitos pelos membros do Partido na fábrica. Para ser efetivo, esse
comitê deve ser relativamente pequeno, com o número preciso de
participantes a depender do tamanho do empreendimento. Na Planta
Elétrica Daean, com cinco mil trabalhadores, o comitê de fábrica do
Partido conta com 35 membros que se reúnem uma ou duas vezes ao mês,
enquanto que 9 membros do quadro executivo mantém contato contínuo.
Sessenta por cento dos seus membros são trabalhadores da produção, com o
restante representando uma seção intersetorial de todas as atividades da
fábrica, incluindo funcionários, gerentes, vice-gerentes, engenheiros,
técnicos, representantes de organizações de mulheres, de jovens, do
sindicato, e dos funcionários administrativos. Sua composição portanto
dá acesso a todo aspecto socioeconômico do empreendimento e das vidas
dos seus trabalhadores.

Esse comitê se tornou o chamado “volante [ou timão]” da unidade
industrial, conduzindo a educação ideológica e mobilizando os
trabalhadores a implementar decisões coletivas e cumprir as metas de
produção. Através da sua conexão com o Partido ele tem uma visão clara
das políticas e objetivos gerais assim como da função exata da unidade
produtiva no contexto nacional. Em outras palavras, essa configuração
garante que seja dada prioridade à política. [21]

Os trabalhadores têm iniciativa e supremacia na produção e interagem
diretamente com o estado para planejar e executar a produção coletivista
em nome de todo o povo coreano. O fato de a economia ser gerenciada,
muitas vezes diretamente, pelo todo da sociedade é uma evidência de que
o país é democrático. Os trabalhadores não ficam presos em espaços de
trabalho onde recebem ordens de cima para baixo, como ficam os
trabalhadores nos Estados Unidos, em vez disso eles têm voz sobre o que
é produzido e como é produzido. O povo tem voz sobre a economia e
portanto sobre todos os outros aspectos da vida. Isso, como eu
argumentei, significa que o país é largamente mais democrático que todos
os países capitalistas, até os mais avançados.

Muitos alegam que o firme estabelecimento da política “Songun”, uma
política que o Partido dos Trabalhadores da Coreia descreve como “dar
prioridade às armas e às forças armadas” [22], anula os ganhos
democráticos mencionados acima. Gostaria de afirmar que este não é o
caso. Apesar da insistência ocidental na suposta novidade da política
Songun, história oficial da RPDC aponta para o desenvolvimento Songun
mesmo décadas antes da RPDC ser formada. É importante notar isso porque
deixa evidente como uma luta anti-imperialista e essencialmente de
libertação nacional caracterizou a política da Coreia socialista desde o
início [23]. Independentemente disso, o colapso da União Soviética
trouxe mudanças qualitativas à estrutura política da RPDC. Notavelmente,
a Comissão de Defesa Nacional se tornou a “espinha dorsal do corpo
administrativo estatal” e “comanda todo o trabalho da política, militar
e econômico”. Isso pode ser atribuído em grande parte à posição única
que a RPDC assumiu após seu isolamento internacional de fato em meados
da década de 1990. A queda da União Soviética significou uma profunda
austeridade econômica, e mais ainda, significou um fortalecimento dos
EUA e um sul comprador*. Isso significa que a RPDC foi forçada a seguir
um caminho profundamente militarista de desenvolvimento (daí a
superioridade da Comissão Nacional de Defesa e a ampla disseminação da
política Songun) [24].

À luz dessas contradições, devemos examinar os órgãos de poder de classe
na RPDC, nomeadamente os órgãos estatais e a sua relação com o povo
coreano em geral. Evidentemente, os órgãos estatais da RPDC exercem
autoridade suprema sobre a economia e a vida social. O estado,
constitucionalmente, representa os interesses do povo trabalhador e,
portanto, excluiu legalmente exploradores e opressores de representação
formal:

O sistema social da RPDC é um sistema centrado no povo, sob o qual o
povo trabalhador é mestre de tudo, e tudo na sociedade serve ao povo
trabalhador. O Estado deve defender e proteger os interesses dos
trabalhadores, camponeses e trabalhadores intelectuais que foram
libertados da exploração e opressão e se tornaram senhores do Estado e
da sociedade. [25]

Portanto os órgãos políticos de poder de classe se tornaram
explicitamente os órgãos proletários de poder de classe; ao menos no
sentido fornecido constitucionalmente ao povo coreano. A força política
dirigente na RPDC continua sendo o Partido dos Trabalhadores da Coreia
(PTC) que ocupa 601 das 687 cadeiras da Assembleia Popular Suprema e a
liderança de fato da coalizão governante Frente Democrática para a
Reunificação da Pátria [26]. Todos os coreanos acima de 17 anos,
independente de raça, religião, sexo ou crença, são habilitados e
encorajados a participarem nos órgãos estatais de poder. Eleições são
realizadas rotineiramente para órgãos locais e centrais de poder
estatal, sendo que normalmente são as Assembleias Populares que
compreendem o núcleo do poder estatal na RPDC, de onde vêm os órgãos
destacados de poder de classe sendo institucionalmente a Comissão
Nacional de Defesa e o Exército Popular da Coreia (EPC) [27].

Como mencionado anteriormente, o caminho Songun significou
desenvolvimento material nas realidades sociais que consistem no que o
ocidente considera a Coreia do Norte. A enorme ênfase no avanço e poder
militar apenas ajudou os detratores imperialistas na sua descrição da
RPDC como uma “ditadura militar”. Essa é, na melhor das hipóteses, uma
análise no nível superficial. É considerada a maior honra para um
coreano servir à sua pátria na luta contra o imperialismo ao se juntar
ao Exército do Povo Coreano. Diferente de outras forças militares
permanentes, o EPC está definitivamente envolvido na construção social e
material do socialismo na Coreia do Norte. Entender isso nos ajuda a
entender como os desenvolvimentos internos únicos da Coreia socialista
criaram uma expressão única de poder de classe.

As pessoas também são intimamente conectadas aos líderes da RPDC, os
quadros do Partido. Os quadros do Partido são uma característica
inevitável do aparato político da Coreia do Norte e portanto
possivelmente a ligação mais próxima que o povo coreano tem com seus
órgãos formais de poder. Os quadros, assim como funcionários e
administradores do Partido, são conhecidos por visitarem locais de
trabalho e fornecerem motivação e direção ao povo trabalhador [28]. Isso
contrasta fortemente com a relação entre políticos capitalistas e
cidadãos. Nos países capitalistas, políticos estão muito distantes do
povo e não têm ideia de como são suas lutas. Na RPDC, o oposto é verdadeiro.

A classe trabalhadora é a vasta maioria da população da RPDC (por volta
de setenta por cento [29]), por isso a gestão do estado pela classe
trabalhadora significa que o estado é gerido pela maioria da população.
Isso é condizente com a definição de democracia proposta anteriormente.

O sistema prisional

Alega-se frequentemente que nada disso importa porque os norte-coreanos
são forçados a se envolver em trabalho duro por seus crimes. O estado
mantém 200.000 presos políticos, de acordo com a Anistia Internacional.
“É o mesmo estado que fuzilou três cidadãos norte-coreanos que tentavam
cruzar a fronteira para a China no final de dezembro [de 2016].” [30]

Uma avaliação mais cuidadosa do sistema prisional norte-coreano
ironicamente vem do historiador liberal burguês Bruce Cumings. No seu
livro de 2004, North Korea: Another Country [Coreia do Norte: Outro
País], ele nota que a maioria das reclamações sobre o sistema penal
coreano é grosseiramente exagerada. Por exemplo, ele escreve que
“Criminosos comuns que cometem crimes menores e juvenis com uma
compreensão incorreta do seu lugar na família-estado que cometem
pequenas infrações políticas são enviados a campos ou minas para
trabalho duro e variadas durações de encarceramento”, cujo objetivo é
reeducá-los. Isso reflete um entendimento materialista das raízes do
crime, que emerge em grande parte das condições materiais e de ideias
incorretas de uma pessoa, que pode ser mudada através da alteração das
condições da pessoa. É importante notar que a vasta maioria dos
criminosos no sistema penal coreano cai nessa categoria e por isso o
objetivo é reabilitar e reeducar, ao contrário dos objetivos punitivos
do sistema penal americano.

Cumings nota o contraste entre o sistema de justiça criminal da Coreia
Democrática e o dos Estados Unidos, especialmente em termos do contato e
suporte do prisioneiro pela sua família. Ele escreve:

Os Aquários de Pyongyang é um conto interessante e factível,
precisamente porque, de modo geral, não é a história horrível de
repressão totalitária que seus editores originais da França queriam que
fosse; em vez disso, sugere que o encarceramento de uma década com sua
família imediata era suportável e não necessariamente um obstáculo para
a entrada no status de elite de residir em Pyongyang ou na faculdade.
Enquanto isso temos um duradouro e interminável gulag repleto de homens
negros em nossas prisões, encarcerando mais de 25% de toda a juventude
negra. [32]

Também devemos observar que o único norte-coreano a escapar de uma
prisão, Shin Dong-hyuk, retirou grande parte da sua história Escape from
Camp 14 (“Fuga do Campo 14”). De acordo com um artigo do New York Times
sobre o tema,

Sr. Shin, que diz que tem 32 anos, agora diz que o fato chave que o
diferenciava de outros desertores – que ele e sua família tinham sido
encarcerados numa prisão da qual ninguém esperava sair vivo – era só uma
meia-verdade, e que na verdade ele serviu na maior parte do tempo no
menos brutal Campo 18. Ele também disse que a tortura que ele sofreu
quando adolescente, aconteceu na verdade anos depois e foi aplicada por
razões muito diferentes. [33]

Similarmente, a revelação de que armas químicas são usadas em
prisioneiros no Campo 22 já foi provada espúria. A história foi
inventada no documentário da BBC de 2004, Access to Evil (“Acesso ao
mal”). O documentário conta com diversas entrevistas com Kwon Hyok, um
desertor da RPDC e ex-chefe da segurança do campo. A evidência do
documentário para essa acusação também foi baseada numa “Carta de
Transferência” supostamente autorizando experimentos em seres humanos.
Essas acusações, contudo, foram totalmente fabricadas. Até as agências
de inteligência da Coreia do Sul rapidamente assumiram os documentos
como falsos. Escrevem:

Primeiro, foi revelado que Kwon não foi representante militar em Pequim,
como afirmava. Depois, focou-se a atenção na Carta de Transferência (…)
havia problemas de nomenclatura, tamanho dos selos e tipo de papel.

(…)

Joseph Koehler, (…) um virulento crítico do Norte (…) chegou à conclusão
de que o documento parece falso. [34]

Embora isso não signifique que todas as afirmações dos desertores sejam
falsas, põe em dúvida a validade da história. Não é uma surpresa que
desertores exagerem suas histórias, dado que “a Coreia do Sul disse no
domingo que quadruplicará a recompensa em dinheiro que oferece aos
desertores norte-coreanos que chegarem com informações importantes para
um bilhão de wons, ou 860 mil dólares, num esforço para encorajar mais
membros da elite a fugirem” [35]. Desertores norte-coreanos não são
simplesmente indivíduos perseguidos buscando uma vida melhor. Eles têm
um incentivo econômico direto para mentir sobre seu país. É importante,
como dito acima, verificar cada história independentemente em vez de
confiar nelas cegamente.

Esse fato – de que um tempo no sistema penal coreano não resulta num
castigo social como nos países capitalistas – reflete um forte ponto de
contraste com sistemas penais capitalistas. Usando a família como uma
rede de apoio, o estado encoraja a reeducação política e abre
oportunidades para prisioneiros reabilitados serem reincluídos na
sociedade coreana como cidadãos plenos. O sistema prisional na Coreia do
Norte é muito mais humano, em princípio, do que o sistema nos Estados
Unidos. É baseado numa filosofia centrada nas pessoas, que sustenta que
a criminalidade não é inerente à humanidade. Essa é uma forte evidência
de que a RPDC é um estado da maioria, e portanto democrático.

Religião e igrejas

A supressão da religião na RPDC – a anedota preferida da direita –
também é vastamente exagerada. No artigo Fresh Wineskins for New Wine: A
New Perspective on North Korean Christianity (“Embalagens Frescas para
Vinhos Novos: Uma Nova Perspectiva sobre o Cristianismo Norte-Coreano”)
[36] Dae Young Ryu começa observando uma nova abertura ao cristianismo
nos anos 1980, com novas igrejas construídas, uma escola teológica
protestante fortalecida em Pyongyang e um aumento no número de fiéis,
agora em torno de 12 mil.

Embora o próprio governo tenha construído novas igrejas durante esse
período, Ryu afirma que esse não é um fenômeno recente. Na verdade ele
remonta aos cristãos da década de 1950 que adotaram o marxismo-leninismo
e apoiaram a liderança de Kim Il-Sung. Esse desenvolvimento é ainda mais
notável, pois ocorreu em um contexto em que o cristianismo era visto
amplamente como um fenômeno imperialista americano. De fato, evidências
indicam que o governo tolerou por volta de 200 igrejas cristãs
pró-comunistas durante a década de 1960. Ele escreve:

Ao contrário da visão comum ocidental, parece que os líderes
norte-coreanos exibiram tolerância aos cristãos que apoiavam Kim Il-Sung
e sua versão do socialismo. O ministro presbiteriano Gang Ryang Uk atuou
como vice-presidente da RPDC de 1972 até a sua morte em 1982, e Kim
Chang Jun, um ministro metodista ordenado, tornou-se vice-presidente da
Assembleia Popular Suprema. Eles foram enterrados no exaltado Cemitério
dos Patriotas, e muitos outros líderes da igreja receberam honras e
medalhas nacionais. Parece que o governo permitiu igrejas domésticas em
reconhecimento à contribuição dos cristãos para a construção da nação
socialista. [37]

Culto à personalidade

Eu gostaria de concluir com o exame de Kim Il-Sung e o suposto “culto à
personalidade” ao redor dele. O luto em massa em torno do seu funeral é
tomado como evidência de que ele é adorado como um deus na RPDC. Na
realidade, esse luto surge do imenso apoio popular que ele desfrutou
como líder, durante e após a revolução.

Kim recusou a incapacidade da Coreia de resistir à dominação
estrangeira. Os japoneses o consideravam um líder de guerrilha altamente
capaz e perigoso, chegando ao ponto de estabelecer uma unidade especial
de insurgência anti-Kim para caçá-lo [36]. As guerrilhas eram uma força
independente, inspirada pelo desejo de recuperar a península coreana
para os coreanos, e não eram controlados pelos soviéticos nem pelos
chineses. Embora muitas vezes eles se retirassem para a União Soviética
para evitar as forças de contrainsurgência japonesas, eles receberam
pouca ajuda material dos soviéticos.

Diferente dos EUA, que impuseram um governo militar e reprimiram os
Comitês Populares, os soviéticos adotaram uma justa abordagem de não
interferência na sua zona de ocupação, permitindo que uma coalizão de
combatentes da resistência nacionalista e comunista se organizasse
autonomamente. Dentro de sete meses, o primeiro governo central foi
formado, com base em um Comitê Popular interino liderado por Kim Il-Sung.

Ao contrário da mitologia popular, Kim não foi escolhido pelos
soviéticos. Ele gozava de um considerável prestígio e apoio como
resultado dos seus anos como líder guerrilheiro e do seu comprometimento
com a libertação nacional. Na verdade, os soviéticos nunca confiaram
totalmente nele [38].

Com oito meses de ocupação, começou um programa de reforma agrária, com
senhores de terras expropriados sem indenização, mas livres para migrar
para o sul ou para trabalhar em lotes de igual tamanho àqueles alocados
para os camponeses. Depois de um ano, o Partido dos Trabalhadores de Kim
se tornou a força política dominante. As maiores indústrias, maioria de
propriedade dos japoneses, foram nacionalizadas. Colaboradores com os
japoneses foram expurgados de funções oficiais.

Os cidadãos da RPDC apoiam Kim Il-Sung pelo seu corajoso enfrentamento à
dominação dos EUA, seu comprometimento com a reunificação e a real
conquista do socialismo. Diante daqueles que fazem guerra por exploração
e opressão, as decisões de Kim representavam as aspirações dos
trabalhadores, camponeses, mulheres e crianças coreanas – a nação
coreana unida – por liberdade. O apoio a Kim não é oriundo de um culto à
personalidade ou tomado à força. Pelo contrário, ele conquistou o apoio
do seu povo através da luta.

De fato, não havia mecanismos para forçar o povo coreano a apoiar Kim
Il-Sung durante seu governo. Lankov escreve, “Norte-coreanos na era Kim
Il-Sung não eram autômatos com lavagem cerebral cujo passatempo favorito
era a esquiva (…) nem eram dissidentes retraídos (…) nem dóceis escravos
que seguiam ordens de cima como ovelhas” [39]. A RPDC de Kim Il-Sung não
foi um estado policial, mas um país democrático e socialista travando
valentemente uma guerra contra o imperialismo. O povo coreano foi – e
continua – unificado na luta e apoia seus líderes baseados nisso.

Uma pesquisa com desertores estima que mais da metade do país que eles
deixaram para trás aprova o trabalho que o líder Kim Jong-Un está
fazendo. O Instituto pelos Estudos de Paz e Unificação de Seul, conforme
relato da agência de notícias Yonhap, pediu que 133 desertores
arriscassem um palpite sobre o índice de aprovação real de Kim no país,
que pelo menos publicamente é vendido como um absoluto culto à
personalidade em torno da liderança. Pouco mais de 60% disseram que a
maior parte do país está apoiando ele. Em uma pesquisa similar em 2011,
apenas 55% acreditavam que o pai e predecessor de Kim, Kim Jong-Il,
tinha o apoio da maioria do país.

Como escreve a BBC:

Especialistas atribuem a popularidade de Kim Jong-Un aos esforços para
melhorar a vida cotidiana dos cidadãos, com ênfase no crescimento
econômico, indústrias leves e agricultura num país onde se acredita que
a maioria tem falta de comida, diz Yonhap. Não há pesquisas de opinião
no estado comunista fechado, onde – pelo menos externamente – o líder
goza de apoio total e barulhento. Embora não seja diretamente
comparável, o índice de aprovação percebido supera o dos líderes
ocidentais. Uma pesquisa recente da McClatchy sugeriu que apenas 41% dos
americanos apoiavam o desempenho do presidente Barack Obama, enquanto o
primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, marcou 38% numa
pesquisa recente do YouGov.” [40]

O Wall Street Journal, citando a pesquisa, diz que mais de 81% dos
desertores disseram que as pessoas estão comendo três refeições por dia,
acima dos 75% da amostra anteriormente pesquisada.

Isso aponta para uma bem-sucedida consolidação do poder do jovem líder,
que assumiu com a morte do seu pai, Kim Jong-Il, em dezembro de 2011.
Isso parecia incerto há um ano, ao menos com base no relatório anterior
do instituto sobre as entrevistas com desertores. Ao falar então com 122
pessoas que fugiram da Coreia do Norte entre janeiro de 2011 e maio de
2012, encontrou que 58% estavam descontentes com a escolha do jovem Sr.
Kim como sucessor. (Obviamente, pessoas que fugiram do país tendem a ser
mais insatisfeitos com isso do que as pessoas que ficaram)

O novo líder parece estar se esforçando mais, com 45% dizendo que a
sociedade está sob rígido controle, contra 36% no relatório anterior.
Panfletos antirregime e grafite são um pouco menos comuns (mas talvez
isso seja o alto índice de aprovação no trabalho): 66% do último grupo
disse ter visto essas coisas, abaixo dos 73% na pesquisa de 2012 e 70%
na de 2011. Viajar para outras partes do país ficou mais difícil. A
porcentagem dos que relataram ter feito isso, após subir por cinco anos
seguidos – para 70% dos desertores entrevistados em 2012, de 56% entre
os entrevistados em 2008 – recuou para 64%. [41]

Conclusão

A mídia burguesa continua a retratar a RPDC como um pesadelo
totalitário, povoado exclusivamente por uma cidadania pacificada e
amedrontada. Como eu demonstrei, esse está longe de ser o caso. O povo
norte-coreano tem muito mais voz sobre como suas vidas são estruturadas
do que cidadãos até dos países capitalistas mais “democráticos”. Eles
não são forçados a aderir à linha do Partido transmitida de cima para
baixo, mas são incentivados a participar na administração da sociedade.
A RPDC é um excelente exemplo de socialismo, focado no desenvolvimento
da classe trabalhadora – e da humanidade – em todo o seu potencial. É
somente através do socialismo que poderemos realizar nosso sonho
coletivo de uma sociedade livre e próspera. A RPDC está marchando em
direção a esse sonho, mesmo diante de uma agressão imperialista sem
paralelo. É em parte nessa base que devemos prestar solidariedade com o
país. Para reiterar o argumento que fiz na última postagem, a RPDC deve
ser apoiada, independentemente dela ser socialista. Ela está de pé
contra o imperialismo, que é o maior inimigo do socialismo. Direta ou
indiretamente, a RPDC trabalha no interesse do socialismo.

Tirem as mãos da RPDC!

Notas

http://www.aljazeera.com/news/2015/07/local-elections-north-korea-bring-change-150718180133222.html

https://www.merriam-webster.com/dictionary/democracy

http://wayback.archive.org/web/20120303054935/http://www.asgp.info/Resources/Data/Documents/CJOZSZTEPVVOCWJVUPPZVWPAPUOFGF.pdf

https://www.usnews.com/news/blogs/data-mine/2014/01/09/let-them-eat-cake-members-of-congress-14-times-more-wealthy-than-average-american

http://mashable.com/2015/08/06/trump-richest-candidates/

    Money Wins Presidency and 9 of 10 Congressional Races in Priciest
    U.S. Election Ever
    <https://www.opensecrets.org/news/2008/11/money-wins-white-house-and/>

http://www.washingtontimes.com/news/2014/apr/21/americas-oligarchy-not-democracy-or-republic-unive/

http://www.country-data.com/cgi-bin/query/r-9558.html

Ibid.

https://en.wikisource.org/wiki/Constitution_of_North_Korea_(1972,_rev._1998)

Bruce Cumings, North Korea: Another Country, The New Press, New York, 2004.

Ibid.

Ibid.

Ellen Brun, Jacques Hersh, Socialist Korea: A Case Study in the Strategy
of Economic Development, 1976, Monthly Review Press, New York and London

Ibid.

Ibid.

Ibid.

Ibid.

Ibid.

Suh, Jae-Jean. 2004. The Transformation of Class Structure and Class
Conflict in North Korea. International Journal of Korean Reunification
Studies. p. 55 http://www.nkeconwatch.com/wp
content/uploads/2007/07/transformation%20of%20class%20structure.pdf

Ibid. p. 56

Ibid. p. 57

Ibid.

10th Supreme People’s Assembly. Constitution of the Democratic People’s
Republic of Korea. Article 8.
http://www1.korea-np.co.jp/pk/061st_issue/98091708.htm

] http://www.rodong.rep.kp/en/

Korea-DPR. 2013.

Journal of Asian and African Studies. 2013. Elite Volatility and Change
in North Korean Politics: 1970-2010

https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/kn.html

https://www.amnesty.org/en/latest/news/2016/11/north-korea-prison-camps-very-much-in-working-order/

Bruce Cumings, North Korea: Another Country, The New Press, New York,
2004. Op. Cit.

Ibid.

http://ipcprayer.org/ipc-connections/item/4946-a-srebrenica-esque-massacre-has-recently-taken-place-in-north-korea-s-killing-fields

Journal of Church and State 48 (2006), pp. 659-75.

Ibid, 673.

Bruce Cumings, “Korea’s Place in the Sun: A Modern History (Updated
Edition),” W.W. Norton & Company, 2005; p. 404

Ibid.

http://www.npr.org/sections/thetwo-way/2013/08/30/217186480/defectors-think-most-north-koreans-approve-of-kim-jong-un

http://blogs.wsj.com/korearealtime/2013/08/30/kim-jong-un-tipped-to-win-in-latest-north-korea-poll/

In
PCB
https://pcb.org.br/portal2/24845/socialismo-e-democracia-na-coreia-popular/
7/2/2020

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

*“Democracia em vertigem” obriga a lembrar o que deve mudar nas esquerdas*




        *por Roberto Bitencourt da Silva*

O filme “Democracia em vertigem”, dirigido por Petra Costa e que
concorre ao Oscar de melhor documentário, é um bom e importante registro
histórico sobre o curso dos acontecimentos políticos e sociais dos
últimos anos, no Brasil.

Mostra os intragáveis, nauseantes e escroques personagens das direitas,
diretamente envolvidos no golpe de 2016, assim como expõe as ilusões e
crenças liberais do petismo – que configura, ainda hoje, uma espécie de
esquerda Maysa, “meu mundo caiu”…

Em meio a muitas bobagens e percepções incompatíveis com a dureza da
realidade nacional, bem como interesses explicitamente antipopulares,
egoístas e antinacionais, ambos os fenômenos retratados pela diretora,
por intermédio da seleção de opiniões reverberadas por personagens
anônimos e ilustres, as ponderações mais lúcidas refletidas no filme
foram proferidas por um trabalhador.

Indagado pela câmera, em uma praça, um senhor de meia idade
posicionou-se com firmeza e clareza política, mais ou menos nesses
termos, afirmando o que segue: “Querem retirar a Dilma para favorecer os
banqueiros, os latifundiários, os ricos, os americanos, para entregar o
petróleo… para o estrangeiro… Com Lula e Dilma, a gente conseguia umas
migalhas”.

Correspondendo às expectativas então apresentadas pelo entrevistado,
realmente, nem migalhas para o Povo Trabalhador o abjeto e
ultraespoliativo bloco de poder admite mais. É dominação bruta e
explícita das classes dominantes domésticas e gringas o que predomina.

Sendo forçado por ofício a assistir ao filme, sob o estímulo e a
lembrança dessa exigência profissional por minha companheira, recordo-me
de atos, gestos, iniciativas nefastas e lamentáveis omissões políticas,
que tanto marcaram as últimas duas décadas brasileiras, com força de
incidência na composição da triste moldura do tempo presente.

Se o condomínio do poder não pretende admitir sequer a concessão de
“migalhas” -denotando uma voracidade terrível sobre os direitos
coletivos e individuais da maioria e as riquezas e os recursos nacionais
– não deveríamos mais, especificamente sob um enfoque de esquerda,
nutrir ilusões cômodas, imediatistas e infrutíferas para a saída da
desgraça neocolonial em vigor. Diga-se, ilusões e esquemas de
interpretação que atravessam as esquerdas partidárias brasileiras, não
se restringindo ao PT.

Leia também:  Uma causa em causa própria, por Alexandre Coslei
 <https://jornalggn.com.br/artigos/uma-causa-em-causa-propria-por-alexandre-coslei/>

A respeito, refiro-me, em especial, à lamentável prioridade conferida à
ação político-partidária nas instituições; à atenção exclusiva (e
improdutiva) reservada aos processos eleitorais; e à desastrosa
tentativa de aliança entre as aspirações das classes sociais detentoras
do grande capital nacional e internacional e os interesses da maioria da
população, integrada pela pequena burguesia e as classes trabalhadoras –
altas, medianas, populares, oprimidas e marginalizadas.

Ora, romper com a a agenda entreguista e os atores políticos, econômicos
e sociais, que preconizam e aplicam o aprofundamento da nossa
subserviência neocolonial às potências capitalistas, ao capital
estrangeiro, ao imperialismo (palavra-chave que não faz parte do quadro
descritivo do filme de Costa, mas que é categoria vital para entender o
nosso tempo e as nossas vicissitudes nacionais), assim como dar cabo ou
mitigar bastante o poder dos seus vassalos títeres internos, são medidas
imprescindíveis para a defesa da Pátria e do Povo Brasileiro.

Medidas incontornáveis para que possamos existir enquanto Nação, para
que tenhamos capacidade de (re)construir a dignidade nacional e dar
vitalidade aos instrumentos de exercício da soberania nacional e popular.

Iniciativas decisivas para que o País possa controlar e dispor dos
excedentes e das riquezas aqui geradas, em vez de transferi-las para os
países centrais do capitalismo, como também almejando desenvolver
tecnologia própria, visando reduzir ao máximo a dependência
técnico-científica aplicada do exterior.

Para isso, requer-se uma combinação filosófica e programática de
princípios socialistas, nacionalistas e anti-imperialistas. Uma projeção
de ações que demanda árido e hercúleo trabalho político-cultural
renovador das esquerdas, com vistas a incentivar a capacidade
organizacional e mobilizatória popular. Uma práxis política mais
dedicada à irradiação de ideias, dotada de maior desprendimento material
e eleitoral, sem preocupação com conveniências e arranjos políticos de
momento.

Trata-se, precisamente, de um conjunto de iniciativas, comportamentos e
visões políticas, portador de fundamentais (ainda que difíceis) alvos
econômico-sociais, que não se coaduna com o mesquinho horizonte político
registrado pelas lentes e a narrativa do oportuno documentário de Petra
Costa.

Leia também:  Chile: 115 dias ininterruptos de protesto, por Marina Lacerda
 <https://jornalggn.com.br/artigos/chile-115-dias-ininterruptos-de-protesto-por-marina-lacerda/>

*/Roberto Bitencourt da Silva – cientista político e historiador./*

In
GGN
https://jornalggn.com.br/artigos/democracia-em-vertigem-obriga-a-lembrar-o-que-deve-mudar-nas-esquerdas/
9/2/2020

sábado, 8 de fevereiro de 2020

¿Quien se atreve a negar que Estados unidos se ha transformado en una dictadura de las mega-corporaciones?






Por Eric Zuesse, historiador estadounidense

El investigador Jon Hellevig publicó el 16 de enero – en The Saker- el
compendio más extenso y actualizado de datos sobre la desigualdad
económica en Estados Unidos. El 0.1% de los norteamericanos tiene ahora
tanta riqueza como el 90% de toda la población restante.»

Este 0,1% también dona la mayor parte del dinero que financia a los
candidatos al Parlamento y a la Presidencia. Cualquier candidato que no
esté respaldado por los multimillonarios es una rareza que no tiene
ninguna posibilidad de ganar o mantener un escaño en el Congreso (el
independiente Bernie Sanders, es realmente una excepción).

La drástica desigualdad de la riqueza en Estados Unidos – «El 0,1%
superior tiene ahora tanta riqueza como el conjunto 90% » – fue
calculado por el Deutsche Bank, en el trabajo «/Desigualdad de ingresos
y riqueza en los Estados Unidos»/ publicado en enero de 2018 . Aquí van
algunos datos de ese estudio:

En la página 3 el Deutsche Bank demuestra con cifras que, “/la
desigualdad en los EE.UU es comparable con las naciones más desiguales
del mundo ; Chile, Israel, México, Portugal y Turquía/

En la página 6 se afirma, «/Estados Unidos ha llegado a un record en su
historia : un 30% de los hogares son pobres»./

En la página 7: /“El patrimonio neto medio en dólares del 90 por ciento
ha disminuido constantemente: en 2007 fue de 119.000 dólares, en 2010
disminuyó a 67.000 dólares/.

En la página 8: /» En los Estados Unidos el 0,1% de la población posee
tantos activos como el 90% «/

En la página 10: “/EE.UU. tiene la mayor desigualdad de ingresos de
todas las naciones de la OCDE./

En la página 11: “/La desigualdad de ingresos está aumentando más rápido
en EE.UU, que en cualquier otra nación de la OCDE”./

En la página 15: /“El 0,1% de ingresos más altos pagó apenas de 6
millones de dólares en impuestos./

Cuando los multimillonarios de una nación controlan no sólo sus
megaempresas sino también el gobierno, ese pequeño grupo constituye una
dictadura que es tan proterva como en los tiempos feudales.  En esa
época la aristocracia tenía la riqueza y el control del gobierno
ejerciendo un poder dictatorial colegiado sobre toda la población.

No se necesita un rey para que haya una dictadura. La mayoría de las
dictaduras son aristocráticas, no monárquicas. Además, en casi todas las
monarquías, el rey y proviene de su clase, la aristocracia. Una
dictadura colegiada no es mejor ni peor que una dictadura unipersonal.

Según el último cómputo de Forbes en los EE.UU hay 607 billonarios.
Entre estas personas están, por ejemplo,  Jack Dorsey que controla
Twitter,  Eric Schmidt y John Doerr que controlan Google, Mark
Zuckerberg que controla Facebook. Además , están Bezos, Buffett, los
Waltons, los Kochs, y cientos de otros multi-billonarios

Estos 607 magnates son quienes realmente controlan todas las
mega-corporaciones y al gobierno norteamericano. También tienen a su
servicio grandes oficinas de abogados y de cabilderos. Los restantes 330
millones de estadounidenses no poseen ningún poder real;  sólo trabajan
para ellos pero, sobretodo ven el mundo a través de los medios en manos
de una minoría del 0,1 por ciento .

Claro porque lo más importante es que 330 millones de estadounidenses
reciben diariamente las «noticias» por radio, televisión, periódicos o
revistas y eligen al Presidente (y a los miembros del Congreso) sobre la
base de las noticias filtradas por quienes están al servicio de esas 607
personas.

Los súper-millonarios no sólo son propietarios de los medios de
comunicación, también controlan los mayores anunciantes de todos los
medios de comunicación. Los mayores anunciantes participan, junto con
los propietarios de los medios, en el control de la comunicación y de
“las noticias”. Este mismo grupo – de menos de mil individuos – controla
colectivamente el poder real en Estados Unidos.

Algunos de ellos – como Trump, Bloomberg o Steyer – están en la política
porque quieren controlar personalmente el poder. Por supuesto, Trump ya
ha tenido éxito, y se ha estado “haciendo la América” como  Presidente.
Trump no es más que es el representante de la clase multimillonaria.

Aunque menos descarado que Trump , el magnate Tom Steyer,  fue el mayor
donante político de la campaña de Hillary Clinton y de otros políticos
demócratas. Steyer donó miles de millones sólo para derrotar a Bernie
Sanders el 2016. Este multimillonario “demócrata” en realidad es un
neoconservador y un neoliberal.

No importa lo que Tom Steyer o Michael Bloomberg (también precandidato
demócrata) puedan decir para ganar votos. En realidad ambos son
políticos neoliberales , representan al imperialismo estadounidense  y a
la dictadura “de hecho” de los multimillonarios norteamericanos

Si Estados Unidos fuera una democracia, entonces no habría «control
narrativo en los medios sociales», porque los medios sociales no podrían
censurar lo que quisieran. No tendrían ese poder.  Pues bien, ahora la
dictadura de los multimillonarios ha silenciado totalmente a Julián
Assange, borrando su cuenta de Twitter

La Primera Enmienda de la Constitución de los Estados Unidos prohíbe al
gobierno castigar cualquier tipo de «discurso», pero no dice nada que
limite a los aristócratas su poder de censura . La censura que aplican
los multimillonarios es aceptada en América.

En consecuencia, Julián Assange permanece encarcelado y ahora está
siendo drogado en una prisión británica de máxima seguridad mientras
espera su extradición a los Estados Unidos.

Julián Assange nunca ha sido condenado por nada, pero los
estadounidenses aceptan que tanto el Presidente Obama, como el
Presidente Trump perpetren este castigo ilegal a un periodista que ha
ejercido su derecho a revelar la verdad sobre la dictadura de los dueños
del poder.

De hecho, los Estados Unidos tienen en el mundo el porcentaje más alto
de su población en prisión. Prácticamente todos son de gente proveniente
de los sectores populares , no están presos aquellos criminales que
embaucan con un contrato o aquellos que asesinan dando una orden , o que
venden productos tóxicos. Los ladrones que hacen más daño son los más
ricos. No sólo violan las leyes, sino que (a través de sus grupos de
presión) también escriben las leyes.

Así  se da el caso que el multimillonario Trump ha introducido una ley
que hace una donación de 32.000 millones de dólares (de los
contribuyentes) a los inversores y altos ejecutivos de los mayores
bancos de Estados Unidos.  En otras palabras el  0,1 por ciento está
recaudando dinero del 99,90% más pobre de la población.

Ahora, hay que ser muy rico en Estados Unidos para poder robar a
prácticamente todos los demás.  Pero, por supuesto, en esta nación donde
el 0,1%  ha estado escribiendo las leyes (a través de sus cabilderos)
durante décadas, ninguno de ellos está en prisión. Ser tan rico es tener
una tarjeta de permanencia fuera de la prisión, sin importar cuánta
gente hayas dañado o incluso asesinado.

Siendo realistas ¿Quién se atreve a decir que Estados Unidos no se ha
convertido en una dictadura mega-corporativa?

In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2020/02/08/quien-se-atreve-a-negar-que-estados-unidos-se-ha-transformado-en-una-dictadura-de-las-mega-corporaciones/
8/2/2020

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A interpretação da Shoah



Thierry Meyssan

No fim da Segunda Guerra Mundial, os nazis massacraram os Judeus da
Europa e os Ciganos. A interpretação actual de um destes genocídios
apoia-se num mau conhecimento da condição humana e desperta uma
quantidade de paixões que, longe de evitar a sua repetição, pelo
contrário os favorecem.


Comemoramos actualmente o 75º aniversário da libertação do campo de
Auschwitz onde pereceram mais de um milhão de prisioneiros. Fizemos dele
o símbolo dos campos de extermínio, dos crimes nazis e da Shoah.

Negacionistas tentaram reabilitar a Alemanha nazi contestando, a
propósito, que ela tivesse a intenção de exterminar populações, que ela
tivesse efectivamente assassinado milhões de pessoas, e mesmo que ela
tivesse recorrido ao gaseamento de prisioneiros. Esta polémica abjecta
fez passar para segundo plano a questão do entendimento dos factos.
Desde o processo de Adolf Eichmann, em 1962, a interpretação que
prevalece é a que foi, então, adoptada pela Agência Judaica : o
anti-semitismo nazi traduziu-se a partir da Conferência de Wansee num
plano de aniquilação (/Shoah/) das populações judias europeias. Isto
marcaria uma ruptura na História. Eternos perseguidos, os judeus não
ficariam ao abrigo disso em definitivo senão indo para o Estado de Israel.

Ora, tal como eu vou demonstrar, esta interpretação contemporânea não dá
conta dos factos conexos.



      A longa história de genocídios

Durante os quatro séculos de colonização do mundo pelos Europeus
Ocidentais, inúmeros Estados, pretensamente civilizados, realizaram
genocídios sem estados de alma.

Por exemplo quando o Presidente do Conselho do reino de Itália, Benito
Mussolini, proclamou o Império. Acreditou que podia fundar uma colónia
de povoamento na Etiópia. Mas, a resistência popular foi tão forte que
ele concebeu um plano de «limpeza étnica» de uma região para eliminar a
população autóctone e substituí-la por Italianos. Mandou lançar, pelo
Vice-rei Rodolfo Graziani, gás mostarda a partir de aviões que atacavam
aldeias rebeldes.

No entanto, os massacres em massa não são um exclusivo dos Europeus
Ocidentais, nem da ideologia colonial. Assim, o Sultão Abdulhamid II
organizou o dos não-muçulmanos (1894-96), que foi prosseguido pelos
«Jovens Turcos» (particularmente em 1915-16), os quais o haviam
derrubado. Os dois regimes partilhavam a mesma ideologia, o
pan-islamismo, segundo a qual a identidade turca é exclusivamente
muçulmana. Se os Arménios foram os mais atingidos, todas as religiões
não-muçulmanas foram perseguidas. Os massacres tiveram lugar na actual
Turquia e não nos territórios conquistados pelo Império Otomano [1 <#nb1>].

Houve pelo menos dois motivos distintos para estes massacres.
- um fim militar : a eliminação de populações resistentes ;
- um objectivo ideológico : a eliminação de populações consideradas como
estrangeiras.

A política nazista assentou nos dois, mas o extermínio dos judeus da
Europa corresponde unicamente ao objectivo ideológico.

Os genocídios também não são apenas o apanágio dos mais fortes contra os
mais fracos, como mostra o dos Tutsis pelos Hutus no Ruanda. Os dois
povos tinham o mesmo peso e o massacre foi perpetrado à catana pela
população hutu e não por milicianos.

Estes massacres de massas constituem «crimes contra a humanidade». Foi a
este título —e apenas por si só— que o dos judeus da Europa foi julgado
pelo Tribunal Internacional de Nuremberga. A noção de «genocídio» só
posteriormente entrou para o Direito.

Sob a influência de Raphaël Lemkin, considerou-se em seguida que o
genocídio é um crime particular entre os crimes contra a humanidade.
Infelizmente, introduziu-se assim uma noção de culpabilidade colectiva
que é contrária ao princípio da responsabilidade pessoal e vai ao
encontro do fim desejado. De uma ponta a outra, o Direito dos EUA
considera agora como genocídio, o assassínio de pelo menos duas pessoas
pelo que elas são e não pelo que supostamente teriam feito.



      Porquê tentaram os nazis exterminar os judeus?

O programa nazi previa reconstruir um império alemão do qual o país
havia sido privado pelo Tratado de Versalhes, no fim da Primeira Guerra
Mundial. Mas, em vez de talhá-lo em África, na Ásia ou na América
Latina, que eram já partilhados entre o Reino Unido e a França, quis
conquistá-lo no Leste Europeu.

Os nazistas, herdeiros de Goethe e Beethoven, imaginavam-se humanistas
desde nascença. De acordo com a ideologia colonial Ocidental, eles
justificavam a sua vontade de conquista alegando que os povos a dominar
eram culturalmente inferiores. É o que Adolf Hitler explica no /Mein
Kampf/. Aí, ele nunca fala de «infra-humanos» (/Untermenschen/). Essa
expressão veio do «consenso científico» da época: os meios científicos
ocidentais estavam convencidos de que as conquistas coloniais provavam a
existência de uma hierarquia de raças no cimo das quais eles reinavam.
Procuraram, portanto, definir as características destas raças e
separá-las [2 <#nb2>]. Esta noção é hoje em dia desmentida pela Ciência,
mas persiste em muitos países, como nos EUA, onde as estatísticas
oficiais continuam a classificar as pessoas segundo este conceito
imaginário [3 <#nb3>].

Para os nazistas, os primeiros sub-humanos eram portanto os eslavos e
eles foram o seu primeiro alvo. No entanto, como o Chanceler Hitler
justificava a sua intenção de conquista de um espaço de vital
(/Lebensraum/) pela superioridade da sua «raça» (conceito que à época
era largamente partilhado pelos povos Ocidentais), ele acrescentou os
Ciganos e os Judeus porque que eles eram nómadas ou, em todo o caso, não
tinham terra. É claro, a sua condenação dos Judeus, enquanto raça,
alimentava-se do anti-semitismo europeu, que ele desenvolveu, mas não
foi por anti-semitismo que ele os classificou como sub-humanos. Aliás,
não existe uma cultura europeia anti-cigana, mas este povo foi mesmo
assim classificado também como sub-humano.

A própria noção de anti-semitismo não tem grande relação com os judeus.
Com efeito, os semitas são árabes, dos quais alguns são de religião
judaica. Além disso, a maioria dos judeus da Europa são originários de
populações do Cáucaso convertidas no século X, e não da Palestina [4
<#nb4>].

No início, alguns nazis não eram assim tão hostis aos judeus alemães tal
como o supomos hoje em dia [5 <#nb5>].
- Antes e depois da chegada dos nazis ao Poder, Leopold von Mildenstein
organizou viagens de oficiais nazistas à Palestina do mandato, sob a
supervisão de Joseph Goebbels. O NSDAP, o partido nazi, considerava
inaceitável que os judeus não tivessem Estado e, portanto, apoiava a
noção de lar nacional judeu na Palestina.
- Enquanto a Alemanha havia já adoptado leis anti-judaicas, o partido
nazista negociava com a Agência Judaica, em 1933, os Acordos de Haavara
que autorizavam os judeus a instalarem-se na Palestina. [6 <#nb6>].
- Mas, as coisas evoluíram na direcção errada. O Ministro francês dos
Negócios Estrangeiros, Georges Bonnet, propôs à Alemanha nazi, em 1938
—quer dizer, antes da guerra—, transferir os judeus franceses e alemães
para a colónia francesa de Madagáscar. A Polónia —tal como o Presidente
Vladimir Putin acaba de recordar [7 <#nb7>]— juntou-se a estes dois
países para formar uma comissão preparatória para este plano que jamais
foi concretizado.

Foi só no fim de 1941, quando todas as opções estavam esgotadas e quando
a invasão da União Soviética se transformou para eles num pesadelo, é
que os nazis se viraram para a «solução final»: o assassínio em massa.


      O caso Rudolf Höß

Antes da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha dispunha de um império como
as outras grandes potências europeias. Franz Xaver Höß foi enviado,
enquanto militar, para o Sudoeste Africano (actual Namíbia). Aí, ele
participou no primeiro genocídio do século XX: o massacre de Hereros e
de Namas.

O seu filho, Rudolf Höß, alistou-se muito jovem no exército imperial
durante a Primeira Guerra Mundial. Ele foi enviado para dar assistência
ao Império Otomano. Nas suas memórias, pretende ter combatido os
Britânicos na Palestina [8 <#nb8>]. Na realidade, estava na actual
Turquia e participou no massacre dos não-muçulmanos pelos Jovens Turcos.
Vinte anos mais tarde, ele aderiu à milícia SS e tornou-se, em 1940, o
Director do complexo prisional de Auschwitz. À partida, tratava-se de um
campo de concentração baseado no modelo daqueles criados pelos
Britânicos durante a Guerra dos Bóeres (África do Sul).
Acrescentaram-lhe, no fim de 1941, um campo de extermínio
(Auschwitz-Birkenau) e, a meio de 1942, um campo de trabalhos forçados
(Auschwitz-Monowitz), onde o banqueiro dos EUA Prescott Bush (pai e avô
de dois presidentes Bush) investiu para seu enorme proveito [9 <#nb9>].

Rudolf Höß sempre reclamou ser um homem normal. Por mais chocante que
isso possa parecer, ele não achava que era anormal assassinar Arménios e
Judeus tal como o seu pai havia assassinado Hereros e Namas.

      O «extermínio» de homossexuais

Os nazis, seguindo o consenso científico da sua época, tentaram
preservar a «raça» (sic) germânica interditando os casamentos
inter-raciais. O que não era muito original, a Alemanha já o fazia desde
1905, antes da Primeira Guerra Mundial, e também muitos outros países
ocidentais.

Mas não se tratava apenas de prevenir o nascimento de mestiços, era
preciso também preservar o património genético da raça. O Instituto do
Kaiser Guilherme (equivalente ao CNRS francês) afirmou que durante a
relação sexual entre homens, se um penetrasse o outro, ele podia
transmitir-lhe elementos do seu património genético. Havia, pois, um
risco com os «homossexuais passivos». Foi por isso que os nazistas
penalizaram a prática dessa forma de sexualidade, mesmo que no início do
Partido ela fosse nele publicamente dominante.

A pessoas apanhadas em flagrante delito eram convidados a fazerem-se
castrar ou eram presas como associais. Muitos médicos, entre os quais
Sigmund Freud, distribuíram então atestados médicos comprovando que a
homossexualidade era uma doença, mas que o sujeito seguia uma terapia.
Assim, eles salvavam o seu paciente de uma ou outra atrocidade. Hoje,
certos grupos citam erradamente esses atestados de conveniência para
tentar provar de que o fundador da psicanálise condenara a
homossexualidade como um desvio.

Depois de ter assistido em Amsterdão à inauguração de um monumento aos
homossexuais deportados ---eles teriam sido no total mais de 5.000 no
conjunto do Reich---, eu fundei uma associação para fazer reconhecer
esse crime em França. Assim, organizei várias cerimónias com associações
de deportados. Apareceu então uma testemunha, Pierre Seel, que relatou,
em todos os detalhes, ter sido deportado para o campo de Struthof por
homossexualidade. Consegui fazer modificar, por decreto, as condições de
atribuição do reconhecimento da qualidade de deportado, a fim de que ele
pudesse beneficiar disso. No entanto, na altura de preencher o seu
dossier, descobriu-se que esta testemunha mentia e tinha sido deportado
como desertor da Alsácia-Mosellan. Pedi então a um dos meus amigos, o
Senador Henri Caillavet, para investigar a deportação de homossexuais
franceses na sua qualidade de presidente da Commission nationale
informatique et libertés (Comissão Nacional Informática e de Liberdades-
ndT) Proteção de Dados (CNIL). Após um ano de pesquisa, ele constatou
que jamais havia existido arquivo policial sobre esse tema e que esse
evento jamais tinha ocorrido em França, nem na Alsácia-Mosela anexada. A
versão de Pierre Seel foi, no entanto, popularizada, e a cidade de
Toulouse dedicou-lhe mesmo uma rua.

Essa história ensinou-me muito sobre os exageros a que se entregam
grupos humanos para se aureolar com a coroa de mártires. Espalhou-se a
crença que o Reich queria exterminar os homossexuais e as lésbicas, o
que é absolutamente falso. Jamais houve repressão do lesbianismo, mas,
sim unicamente da homossexualidade masculina e apenas entre as
populações exclusivamente ditas «arianas». Apenas 48 homens foram
identificados como tais em Auschwitz. Eles foram deportados para o campo
de concentração e, se tivessem sobrevivido, seriam libertados em 1942
para servir enquanto «arianos» na «guerra total» contra os Aliados.

É preciso lembrar aqui que nem as questões de judeus, ciganos ou
homossexuais jogaram o menor papel no desencadear da Guerra Mundial.

      Regime alimentar

Ainda é difícil entender por que os nazis alimentavam, é certo muito
mal. os prisioneiros que iriam matar. Na realidade, eles apenas
alimentavam aqueles de quem contavam explorar a força de trabalho. Para
isso, utilizavam a estranha sopa do doutor Otto Buchinger.

Esse grande médico era um dos militantes da /Lebensreform/, do retorno à
natureza. Ele teorizou o papel restaurador do jejum. Antes de mais, ele
descobriu que se pode trabalhar no duro, quase sem comer, se se beber
uma sopa muito clara. O corpo emagrece rapidamente, mas produz uma
grande energia. As suas descobertas ainda são aplicadas nas clínicas da
sua família na Alemanha e em Espanha, onde as dinastias reinantes do
Golfo vêm tratar o excesso de peso. Os nazis, que também eram ardentes
defensores do retorno à natureza —Adolf Hitler era vegetariano e
interditava que se fumasse—, utilizavam essa sopa para fazer trabalhar
os seus prisioneiros, sabendo que no fim eles acabariam por morrer.


      Solução final, Holocausto e Shoah

A destruição dos Judeus da Europa é chamada «solução final» pelos
historiadores. Mas ela é conhecida hoje em dia como «Holocausto» ou a
«Shoah» ; dois vocábulos que designam interpretações particulares deste
facto.

O termo holocausto é empregue pelos cristãos evangélicos dos EUA. Faz
referência a um sacrifício judeu onde um décimo dos animais são mortos e
onde os seus corpos são completamente queimados. Segundo a sua teologia,
o extermínio dos Judeus da Europa teria sido desejado por Deus antes do
Messias retornar à Terra. Não é, portanto, um termo muito respeitoso
para com as vítimas. Além disso, quando, durante a guerra, os oficiais
evangélicos dos EUA souberam da existência dos campos de extermínio,
desaconselharam a intervenção ao seu Estado-Maior a fim de não perturbar
o que acreditavam ser o «plano de Deus». Tendo os nazis multiplicado os
esforços para matar longe de olhares indiscretos, teria bastado
bombardear as vias de caminho de ferro (estrada de ferro-br) para
instantaneamente parar o genocídio não apenas dos judeus, mas também dos
ciganos.

O vocábulo /Shoah/ é uma palavra hebraica. Ela significa «catástrofe» e
remete para o silêncio de Deus durante a tragédia. É, por analogia, como
os Palestinianos designaram a sua expulsão, em 1948, como /Nakba/
(igualmente, a /catástrofe/, mas em árabe desta vez).

Tendo em vista as informações precedentes, não parece nada certo que
este genocídio seja diferente dos demais, nem que ele constitua uma
ruptura na História, nem que ele seja o produto exclusivo do
anti-semitismo. E, ainda menos, que o Estado de Israel ofereça aos
Judeus a protecção que eles tem o direito de esperar. Se fosse esse o
caso, não existiriam hoje 50.000 sobreviventes deste crime que vivem
abaixo do limiar de pobreza em Israel.


      Nem bons, nem maus, apenas humanos

A realização da «solução final» foi planeada pelos nazis e parcialmente
concretizada por Alemães. Mas a grande maioria do pessoal dos campos era
de Bálticos.

Se considerarmos todos aqueles que nada fizeram para impedir esse crime,
é no mínimo abusivo atribuir as responsabilidades em exclusivo à
Alemanha. A verdade, é que à época se pensava como os nazistas, muito
embora apenas eles tivessem ido até o fim do raciocínio.

Deve-se avaliar uma ideologia a partir das suas premissas e admitir que
todos nós podemos tomar uma direcção errada.

Assim, o Estado de Israel foi criado em nome de uma ideologia sionista
britânica [10 <#nb10>]. Tratava-se de criar uma colónia que pudesse
ajudar à extensão do Império. Ele foi proclamado por David Ben-Gurion
que não era judeu no sentido religioso do termo, mas ateu. É certo que
no fim da sua vida, recuperou a fé e virou-se para o budismo. O Estado
de Israel concede a nacionalidade segundo critérios que não têm relação
com a religião judaica, de modo que incluem um número de pessoas
rejeitadas pelo rabinato. Ora, ele escolheu expulsar as populações
autóctones e não em eliminá-las. Pouco a pouco, como quem petisca, ele
saca novos bocados de território até fazer desaparecer os Árabes
palestinianos. No entanto, como alguns deles obtiveram a cidadania
israelita (israelense-br) em 1948 e representam agora um quinto da
população, o Primeiro-ministro likudista, Benjamin Netanyahu, proclamou
Israel um «Estado judeu». Oficializou, assim, uma cidadania
hierarquizada e implica o Estado numa lógica de classificação. Pareça o
que pareça, foi exactamente a mesma lógica que levou o Primeiro-ministro
trabalhista (socialista-Ndt), Yitzhak Rabin (grande aliado do apartheid
sul-africano) a considerar a «solução de dois Estados»: separar as
«raças». Ora, ainda há tempo para dar marcha-atrás.


      O «dever de memória»

Os seres humanos fazem de tudo para esquecer os infortúnios de que foram
vítimas ou que causaram. Os Ciganos, cujas famílias foram massacradas
junto com as dos judeus, seguem esta lógica e portam-se melhor.

Claro que é importante, para aqueles que os conheceram, celebrar a
memória dos mortos. Mas isso não irá prevenir novos genocídios. Esta
questão não tem qualquer relação nem com a identidade e a condição das
vítimas, nem com a dos carrascos. É apenas a condição humana e nenhum de
entre nós está ao abrigo de se transformar em monstro.

A civilização nunca é um dado adquirido.

    Texto da sua mensagem:

[1 <#nh1>] «La Turquía de hoy continúa el genocidio armenio
<https://www.voltairenet.org/article187444.html>», por Thierry Meyssan,
/Red Voltaire/ , 30 de abril de 2015.

[2 <#nh2>] /The Nazi Connection: Eugenics, American Racism, and German
National Socialism/, Stefan Kuhl, Oxford University Press (2002). /War
Against the Weak: Eugenics and America’s Campaign to Create a Master
Race/, Edwin Black, Dialog Press (2012).

[3 <#nh3>] /Hitler’s American Model: The United States and the Making of
Nazi Race Law/, James Q. Whitman, Princeton University Press (2017).

[4 <#nh4>] /The Invention of the Land of Israel: From Holy Land to
Homeland/, Slomo Sand, Verso (2012). Version française : /Comment la
terre d’Israël fut inventée: De la Terre sainte à la mère patrie/,
Flammarion (2014).

[5 <#nh5>] /The Origins of the Final Solution: The Evolution of Nazi
Jewish Policy, September 1939-March 1942/, Christopher R. Browning,
University of Nebraska Press (2004).

[6 <#nh6>] /The Transfer Agreement: The Dramatic Story of the Pact
Between the Third Reich and Jewish Palestine/, Edwin Black, Dialog Press
(2009).

[7 <#nh7>] “A Rússia lembra que a Polónia e o Reich já em 1938 haviam
planeado a deportação de judeus
<https://www.voltairenet.org/article208727.html>”, Tradução Alva, /Rede
Voltaire/, 30 de Dezembro de 2019.

[8 <#nh8>] /Death Dealer: The Memoirs of the SS Kommandant at
Auschwitz/, Rudolf Hoss, Prometheus (2012).

[9 <#nh9>] «Los Bush y Auschwitz, una larga historia
<https://www.voltairenet.org/article120308.html>», /Red Voltaire/ , 1ro
de junio de 2003.

[10 <#nh10>] “Quem é o inimigo?
<https://www.voltairenet.org/article184977.html>”, Thierry Meyssan,
Tradução Alva, /Rede Voltaire/, 4 de Agosto de 2014.

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In
REDE VOLTAIRE
https://www.voltairenet.org/article209110.html#nb2
4/2/2020

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Brazil for sale*



Por Afonso Costa

O Fórum Econômico Mundial de Davos é um shopping às avessas: em vez das
lojas e vendedores esperarem os compradores, são os compradores que
esperam os vendedores. Os compradores são as multinacionais e o capital
financeiro, enquanto os vendedores são os governos dos países
subservientes ao capital internacional.

Os governos subservientes vendem as riquezas naturais de seus países,
empresas públicas, direitos trabalhistas, a força de trabalho das suas
populações, sem que tenham sido eleitos para tanto, já que no geral os
processos eleitorais são antidemocráticos, beneficiando aqueles que têm
mais recursos, que mentem descaradamente para os eleitores, que escondem
suas verdadeiras ideias de submissão.

Estão presentes em Davos, na Suíça, representantes de cerca de 140 das
maiores empresas do planeta, das quais muitos têm interesses diretos no
Brasil, segundo relatos da imprensa.

Guedes apresentou PPI, financiamento

público para multis ‘comprarem’ estatais

Representando o Brasil nessa verdadeira feira estão o ministro da
Economia, Paulo Guedes, e alguns dos seus assessores, já que o
presidente da República se mostrou absolutamente incapaz no ano passado.
Não que o ministro seja alguma sumidade, mas ele sabe quais são os
interesses do capital e como viabilizá-los.

Em seus pronunciamentos o ministro colocou o Brasil à venda. Primeiro,
capitalizou a reforma da Previdência, que contribui para a destruição do
SUS, prejudica diretamente os trabalhadores, aposentados e pensionistas,
além de auxiliar os regimes de previdência privada e garantir recursos
para o pagamento da falsa dívida pública, de interesse do capital
financeiro.

A privatização dos Correios foi um dos temas abordados nas reuniões, com
interesse da estadunidense UPS. Já a chinesa Huawei está de olho na
telefonia. A energia e o saneamento, com destaque para a Cedae do Rio de
Janeiro, também foram destacadas e objetos de interesse por parte das
multinacionais, além da Eletrobras, Telebras, Casa da Moeda, ferrovias,
rodovias e aeroportos.

O ministro apresentou o Programa de Parcerias de Investimentos, sigla
que representa financiamento público para as multinacionais “comprarem”
as empresas estatais, abordando mais de 100 projetos em curso. Em suma,
colocou o país à venda em condições mais que facilitadas.

Entre as preocupações das empresas estrangeiras estão a reforma
tributária brasileira – eles querem mais isenções de impostos e créditos
subsidiados; assim como a reforma administrativa, a fim de sucatear
ainda mais as empresas públicas, tentar calar quaisquer manifestações em
sua defesa, e reduzir seus preços.

Para as negociatas não ficarem escancaradas, o meio ambiente é um dos
temas em destaque no fórum. Foi cobrado dos representantes do atual
governo brasileiro compromissos com a sua defesa, em especial da Amazônia.

O ministro Paulo Guedes, tentando responder ao tema, pagou vexame até
mesmo para os representantes das multinacionais: “O pior inimigo do meio
ambiente é a pobreza. As pessoas destroem o meio ambiente porque elas
precisam comer. Elas têm outras preocupações, as quais não são as mesmas
preocupações das pessoas que já destruíram as florestas, que já
combateram as minorias étnicas e todas essas coisas. É um problema muito
complexo, não tem uma solução simples, mas o primeiro passo é tentar
acabar com todos esses obstáculos, e é algo que nós estamos tentando
fazer agora”, disse ele.

Ao contrário do presidente, ele admite que existe fome no Brasil, mas
culpa quem luta contra ela como se fossem os agressores do meio
ambiente, não os verdadeiros destruidores, os ruralistas e grandes
empresas que destroem cada vez a floresta e o meio ambiente como um todo.

Medidas similares a essas defendidas pelo ministro foram adotadas em
outros países, com imensos prejuízos para seus povos. Não deram certo lá
nem darão aqui, pois não visam o bem-estar da população, muitos menos o
fortalecimento do país, mas apenas garantir as benesses do capital.

Essas iniciativas são as verdadeiras inimigas do povo brasileiro. São
elas que devemos combater prioritariamente, sem esquecer um possível
totalitarismo, manifestado abertamente por integrantes e simpatizantes
do governo.

*Apesar de ser adepto do mestre Ariano Suassuna e ser contra a
utilização de expressões em outra língua que não a nossa, abri uma
exceção para deixar claro o que está acontecendo.

Afonso Costa

In
PCB
https://pcb.org.br/portal2/24758/brazil-for-sale/
25/1/2020