sexta-feira, 6 de julho de 2018

Neocolonialismo e “crise dos imigrantes”


 Manlio Dinucci



Com um notável poder de síntese, este texto diz o essencial sobre a “crise”
sobre a qual as grandes potências capitalistas se dizem preocupar. Na verdade,
são elas as responsáveis pelos enormes fluxos migratórios em causa. Com as suas
políticas de exploração neocolonial de recursos alheios, com a destruição
militar de países que de algum modo resistam à sua dominação, com a imposição da
pobreza extrema e da dependência a gigantescas massas humanas.


Dos EUA à Europa, a “crise dos emigrantes” suscita vivas polémicas internas e
internacionais sobre as políticas a adoptar a propósito dos fluxos migratórios.
Entretanto, em todo o lado estes são representados segundo um cliché que inverte
a realidade: o dos “países ricos” obrigados a sofrer a crescente pressão
migratória dos “países pobres”.
Dissimula-se assim a casa de fundo: o sistema económico que no mundo permite a
uma restrita minoria acumular a riqueza à custa de uma crescente maioria,
empobrecendo-a e provocando desse modo a emigração forçada.
No que diz respeito aos fluxos migratórios em direcção aos EUA, o caso do México
é emblemático. A sua produção agrícola afundou-se quando, com o NAFTA (o acordo
norte-americano de “livre” comércio), os EUA e o Canadá inundaram o mercado
mexicano com produtos agrícolas a baixo preço graças às suas próprias subvenções
públicas. Milhões de camponeses viram-se sem trabalho, vindo assim engrossar a
reserva de mão-de-obra recrutada nas maquiladoras: milhares de instalações
industriais ao longo da fronteira em território mexicano, possuídas ou
controladas, na sua maioria, por sociedades dos EUA, em que os salários são
muito baixos e os direitos sindicais inexistentes.
Num país em que cerca de metade da população vive na pobreza, aumentou a massa
dos que procuram entrar nos EUA. Daí o Muro ao longo da fronteira com o México,
iniciado pelo presidente democrata Clinton quando a Nafta entrou em vigor em
1994, continuado pelo republicano Bush, reforçado pelo democrata Obama, o mesmo
muro que o republicano Trump quereria agora completar em toda a extensão dos
3.000 Km de fronteira.
No que diz respeito aos fluxos migratórios em direcção à Europa, o caso de
África é emblemático. É riquíssima em matérias-primas: ouro, platina, diamantes,
urânio, coltan, cobre, petróleo, gás natural, madeiras preciosas, cacau, café e
muitas outras.
Estes recursos, explorados pelo velho colonialismo europeu com métodos de tipo
esclavagista, são hoje exploradas pelo neocolonialismo europeu apoiando-se em
elites africanas no poder, uma mão-de-obra local de baixo custo e um controlo
dos mercados internos e internacionais.
Mais de cem empresas cotadas na Bolsa de Londres, britânicas e outras, exploram
em 37 países da África subsariana recursos mineiros de um valor de mais de 1.000
milhares de milhões de dólares.
A França controla o sistema monetário de 14 ex. colónias africanas através do
Franco CFA (originalmente acrónimo de “Colónias Francesas de África, reciclado
em “Comunidade Financeira Africana”): para conservar a paridade com o euro,
esses 14 países africanos devem entregar ao Tesouro francês metade das suas
reservas monetárias.
O Estado líbio, que queria criar uma moeda africana autónoma, foi demolido pela
guerra em 2011. Na Costa do Marfim (da área CFA), empresas francesas controlam o
fundamental da comercialização do cacau, de que o país é o primeiro produtor
mundial: para os pequenos cultivadores sobram a custo 5% do valor do produto
final, ainda que a maioria viva na pobreza. São apenas alguns exemplos da
exploração neocolonial do continente.
A África, apresentada como dependente da ajuda externa, fornece ao exterior um
pagamento bruto anual de cerca de 58 milhares de milhões de dólares. As
consequências sociais são devastadoras. Na África subsariana, onde a população
ultrapassa o milhar de milhões e se compõe de 60% de crianças e jovens com
idades compreendidas entre os 0 e os 24 anos, cerca de dois terços dos
habitantes vivem na pobreza e, entre eles, cerca de 40% - ou seja 400 milhões –
vivem em condições de pobreza extrema.
A “crise dos emigrantes” é na verdade a crise de um sistema económico e social
insustentável.
Fonte:
http://www.marx21.it/index.php/internazionale/pace-e-guerra/29111-neocolonialismo-e-lcrisi-dei-migrantir-

In
RESISTIR.INFO
https://www.odiario.info/neocolonialismo-e-crise-dos-imigrantes/
4/7/2018

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