quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Na Ponte de Genova privatizações caem no abismo


Andre Araujo

Os fanáticos das privatizações, como os gurus de vários candidatos
presidenciais, deveriam ao menos registrar a tragédia da PONTE MORANDI, em
Genova, que caiu por falta de manutenção. Uma ponte PRIVATIZADA para a empresa
AUTOSTRADE, do Grupo Atlantia, controlado pela família Benetton e que tem 1.600
quilômetros de estradas pedagiadas no Brasil, nos Estados de São Paulo e Minas
Gerais. Na Itália a Austostrade tem 6.000 quilômetros de concessões, com falta
de manutenção e notórios desgastes em pontes, como agora mostra a imprensa
italiana e a revista The Economist no seu ultimo numero.
A queda da Ponte Morandi  causou a morte de 43 pessoas e um cataclisma politico
na Itália.
Não foi só a tragédia humana dos mortos e desabrigados, a ponte é vital para a
conexão de Genova e da Liguria, sem a ponte quebra-se todo sistema viário de
Genova. A construção de uma nova ponte de aço levará no mínimo oito meses,
enquanto isso Genova sofrerá.
A PONTE MORANDI em Genova era uma tragédia anunciada, que deixou 43 mortos e
mais de 500 pessoas sem casa. Soma-se a tragédia da VALE privatizada no Rio Doce
em Minas Gerais, todos contextos gerados pela obsessão pelo corte de custos.
Quanto mais custos cortarem maiores bônus ganham os administradores e cortar
custos para gerar lucros é disciplina nobre ensinada nos cursos de administração
de empresas na matriz ideológica do capitalismo global.
Nos noticiários da RAI professores das melhores universidades italianas exibiram
laudos já há 5 anos, outros de 2 anos passados, indicando que a Ponte Morandi
apresentava corrosão perigosa e a concessionária nem tomou conhecimento, jogou
no risco, como a Samarco em Mariana, onde não faltaram avisos sobre a
possibilidade de estouro da barragem.
A lógica das privatizações vai, assim, se desnudando. Foi publicado no blog
artigo meu sobre a privatização da ELETROPAULO, onde demonstrei a degradação da
empresa após o processo.
http://www.ilumina.org.br/eletropaulo-o-mito-da-privatizacao-por-andre-a...
Neoliberais brasileiros batem palmas para privatizações de tudo, sem atentar que
enquanto empresas estatais por definição atendem a uma lógica de interesse
público, a empresa privada tem como único objetivo o lucro a curto prazo, nem
sequer a perenidade é um objetivo.
A lógica hoje dos grandes gestores de fundos é entrar e sair de posições,
comprar e vender ativos. Grande parte das privatizações da Era FHC no Brasil já
trocou de mãos, algumas várias vezes. A CESP Paranapanema foi comprada pela
americana  Duke Energy, que já vendeu para chineses, a USIMINAS e as
siderúrgicas privatizadas trocaram de dono, viraram pastel de feira, a CPFL foi
comprada pela Camargo Correa que vendeu para a State Grid chinesa, a Light Rio
trocou de mãos quatro vezes, a telefonia se tornou um cipoal de transações mal
cheirosas que terminaram na quebra da OI, depois de ter sido sangrada pelos
grupos compradores originais.
Em serviços públicos essenciais se entrega o destino de grandes empresas a
especuladores de curto prazo, sem qualquer outro compromisso que não seja o
lucro financeiro rápido.
Os mesmos cérebros que hoje pregam a privatização de empresas estratégicas como
a ELETROBRAS e a PETROBRAS, que serão compradas e esquartejadas por grupos
especulativos, quase certamente estrangeiros, vendidas em pedaços com quebra de
um sistema integrado de interesse estratégico. Hoje, quando se propõe a
privatização de grandes estatais, a palavra certa é DESNACIONALIZAÇÃO, uma
Petrobras será disputada pela Chevron, BP ou Sinopec.
Beócios pela mídia pregam todo dia que se privatizarmos tudo não haverá mais
corrupção. Uma estupidez completa. O que é preciso é aperfeiçoar os mecanismos
de controle e não jogar fora as estatais, algo que nenhum grande Pais está
fazendo. Das 20 maiores empresas de petróleo do mundo, 13 são estatais,
inclusive as 4 maiores, não há nenhuma onda de privatizações no mundo. A era das
privatizações acabou com o neoliberalismo de Thatacher e Reagan e especialmente
após a crise de 2008, quando o Tesouro americano salvou 200 empresas privadas
que iriam quebrar, inclusive a General Motors e o Citibank. A crise de 2008
jogou no lixo da História o mito da eficiência perfeita dos mercados, ninguém
mais fala nisso.
Os desastres de Mariana e de Genova mostraram os limites das privatizações, a
droga do lucro a curto prazo contra qualquer outro objetivo. O abandono da noção
de interesse público coloca em risco grandes sistemas integrados que levaram
décadas para serem montados.
Como em todas as ondas no mundo, o Brasil é o ultimo santuário de ideias
vencidas, o cemitério de ideologias caducas e de ideias econômicas “da moda”.


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