segunda-feira, 28 de julho de 2014

Intenção velada de a Alemanha integrar os Brics assusta os EUA


Por Carl Edgard, com agências internacionais - de Nova York, EUA, Moscou e São
Paulo Tweetar

Merkel e Putin, em recente encontro durante reunião de cúpula da União
EuropeiaOs piores pesadelos do presidente Barack Obama têm ganhado forma, em uma
velocidade com a qual ele não contava, no front financeiro. Uma análise do
doutor em Estatística Jim Willie, PhD na matéria pela Carnegie Mellon
University, nos EUA, afirma categoricamente que a Alemanha está prestes a
abandonar o sistema unipolar apoiado pela Organização do Tratado Atlântico Norte
(Otan) e os EUA, para se unir às nações dos Brics, o grupo que reúne Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul, razão pela qual a agência norte-americana
de espionagem NSA ampliou suas escutas à lider germânica Angela Merkel e
terminou flagrada por agentes do serviço secreto alemão, após as denúncias do
ex-espião Edward Snoden. Em entrevista ao blogueiro Greg Hunter, editor do USA
Watchdog, Willie afirmou que a verdadeira razão por trás do recente escândalo de
espionagem da NSA, visando a Alemanha, é o clima de medo que ronda o governo
norte-americano de que as potências financeiras da Europa estejam procurando
fugir do inevitável colapso do dólar.
Editor de um boletim financeiro a partir de Pittsburg, no Estado norte-americano
da Pensylvania, Jim Willie afirma que o apoio dos EUA à Ucrânia e as
consequentes sanções impostas à Rússia integram o esforço dos EUA de tentar
segurar o êxodo europeu no campo econômico e político, em nível mundial. “Aqui
está a grande consequência. Os EUA, basicamente, estão dizendo à Europa: você
tem duas opções aqui. Junte-se a nós na guerra contra a Rússia. Junte-se a nós
nas sanções contra a Rússia. Junte-se a nós nas constantes guerras e conflitos,
isolamento e destruição à sua economia, na negação do seu fornecimento de
energia e na desistência dos contratos. Junte-se a nós nessas guerras e sanções,
porque nós realmente queremos que você mantenha o regime do dólar. (Em
contrapartida, os europeus) dizem que estão cansados do dólar… Estamos
empurrando a Alemanha para fora do nosso círculo. Não se preocupem com a França,
nem se preocupem com a Inglaterra, se preocupem com a Alemanha. A Alemanha tem,
no momento, 3 mil empresas fazendo negócios reais, e elas não vão se juntar às
sanções”.
Willie continua: “É um jogo de guerra e a Europa está enjoada dos jogos de
guerra dos EUA. Defender o dólar é praticar guerra contra o mercado. Você está
conosco ou está contra nós?”. Quanto à espionagem da NSA sobre a Alemanha,
Willie diz: “(Os espiões norte-americanos) estão à procura de detalhes no caso
de (os alemães) passarem a apoiar a Rússia sobre o ‘dumping’ ao dólar. Eu penso,
também, que estão à procura de detalhes de um possível movimento secreto da
Alemanha em relação ao dólar de união aos Brics. Isto é exatamente o que eu
penso que a Alemanha fará”.
Willie calcula que, quando os países se afastarem do dólar norte-americano, a
impressão de dinheiro (quantitative easing, QE) aumentará e a economia tende a
piorar. Willie chama isso de ‘feedback loop’, e acrescenta: “Você fecha o
‘feedback loop’ com as perdas dos rendimentos causados pelos custos mais
elevados que vêm da QE. Não é estimulante. É um resgate ilícito de Wall Street
que degrada, deteriora e prejudica a economia num sistema vicioso
retroalimentado… Você está vendo a queda livre da economia e aceleração dos
danos. A QE não aconteceu por acaso. Os estrangeiros não querem mais comprar os
nossos títulos. Eles não querem comprar o título de um banco central que imprime
o dinheiro para comprar o título de volta! A QE levanta a estrutura de custos e
causa o encolhimento e desaparecimento dos lucros. A QE não é um estímulo. É a
destruição do capital”.
Na chamada “recuperação” a grande mídia tem batido na mesma tecla durante anos,
Willie diz: “Os EUA entraram em uma recessão da qual não sairão até que o dólar
tenha desaparecido. Se calcular-mos a inflação corretamente… Veremos uma
recessão monstro de 6% ou 7% agora. Não creio que a situação melhore até que o
dólar seja descartado. Portanto, estamos entrando na fase final do dólar”.
“Você quer se livrar de obstáculos políticos? Vá direto para o comércio e
negócios. Por que é que a Exxon Mobil continua realizando projetos no Ártico e
no mar Negro (na Crimeia) com os russos e suas empresas de energia? Nós já temos
empresas de energia dos Estados Unidos desafiando nossas próprias sanções, e
mesmo assim estamos processando os bancos franceses por fazerem a mesma coisa.
Isso é loucura. Estamos perdendo o controle”, aponta.
Um mundo
não norte-americano
No Brasil, a cúpula realizada em Fortaleza, na semana passada, durante a qual
foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento, chamou a atenção do mundo para o
próprio projeto de desenvolvimento do bloco, bem como para o papel da China e da
Rússia nesta organização. O vice-diretor do Instituto de Estudos do Extremo
Oriente da Academia de Ciências da Rússia, Serguei Luzyanin, anda em paralelo à
linha traçada por Willie. Leia, adiante, a entrevista que Luzyanin concedeu à
agência russa de notícias VdR:
– Foi referida a criação do embrião “de um mundo não norte-americano”. Porque é
que os BRICS não gostam da América do Norte?
– A cúpula brasileira ficou para a história enquanto o mais fértil encontro do
“quinteto” – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A sua fertilidade não
ficou apenas patente na criação de instrumentos financeiros – o Banco de
Desenvolvimento e Arranjo Contingente de Reservas – mas, sobretudo, no nível de
empenho dos líderes dos Brics – no auge da Guerra Fria 2.0, quando os
norte-americanos tentam esmagar qualquer um que age à revelia das
“recomendações” de Washington – em criarem o seu embrião “de um mundo não
norte-americano”. No futuro, outros projetos poderão estar ligados ao
desenvolvimento dos Brics, como a Organização de Cooperação de Xangai (RIC). O
importante é que, de fato, existe a concepção “de um mundo não norte-americano”
que se desenvolve ativamente e de forma concreta. Os Brics parecem prestes a se
tornar o epicentro deste novo fenômeno. Não é preciso ser um político habilidoso
para sentir que os povos e as civilizações dos países em vias de desenvolvimento
estão cansados de “padrões norte-americanos” impostos. Aliás, padrões para tudo,
economia, ideologia, forma de pensar, os “valores” propostos, vida interna e
externa, etc. O mundo inteiro viu pela TV o aperto-de-mão dos cinco líderes dos
Brics, ao qual, passado uns dias, se juntou praticamente toda a América Latina.
É discutível se, neste impulso comum, existiu uma maior dose de contas
pragmáticas ou de solidariedade emocional, mas, uma coisa é certa, nele não
houve qualquer amor pela América do Norte. E isso ainda é uma forma polida de
colocar as coisas.
– E quanto à adesão da Argentina, quem, no Sul, irá “apoiar” os EUA?
– Para a Índia os Brics são uma oportunidade de reforço na Ásia Austral e de
desenvolvimento econômico fora da alçada da Ocidente. A motivação regional é
conjugada com expectativas financeiras e tecnológicas que unem a África do Sul e
o Brasil. No futuro, o “segmento” latino-americano poderá ser reforçado. Muitos
peritos esperam que o “quinteto” seja alargado através da adesão da Argentina ao
projeto. Ultimamente tem existido um desenvolvimento fulgurante das relações
bilaterais da Rússia e da República Popular da China com países da América
Latina, em setores como o tecnológico-militar, comercial, de investimento e
energético. Neste quadro, as visitas em Julho de Vladimir Putin e de Xi Jinping
marcaram o tendencial círculo de potenciais aliados dos Brics, nomeadamente
Cuba, Venezuela, Nicarágua, Argentina, entre outros. Como é sabido,
geograficamente, a America Latina “apoia”, a partir do Sul, os EUA. O reforço
dos Brics, nessa zona sensível para os norte-americanos, é um trunfo adicional
para o mundo em vias de desenvolvimento.
– Relativamente à “descoberta” muçulmana dos BRICS. Como será a
institucionalização?
– Também se estuda o prolongamento dos Brics da direção do Islã, onde também
existe descontentamento face ao domínio norte-americano. Espera-se que, após a
entrada da Argentina, a fila de adesão aos Brics seja engrossada pelo maior, em
termos de população, país muçulmano do mundo (cerca de 250 milhões), ou seja, a
Indonésia. Ela, seja pela sua ideologia, seja pela ambições, nasceu para aderir
ao projeto e assim fechar a região do Sudeste Asiático. O novo governo indonésio
confirma a sua intenção de desenvolver o relacionamento com os Brics. A entrada
da Indonésia encerrará a “corrente regional” que englobará as principais regiões
do mundo. Além disso, cada um dos países dos Brics irá representar a “sua”
região, tornando-se no seu líder informal. Brasil a América Latina, RAS a
África, Rússia a Eurásia, China o Nordeste da Ásia, Indonésia o sudeste
asiático. Os futuros cenários de desenvolvimento do projeto poderão ser
diversos. Mas um deles já é atualmente equacionado e de forma bastante concreta.
Num futuro próximo, os líderes dos BRICS deverão trabalhar no sentido da
institucionalização do projeto, nomeadamente através da criação de um fórum de
membros permanentes (atualmente são cinco Estados), e um fórum de observadores e
de parceiros de diálogo.
– Há alguma chance de os EUA dialogarem?
– É possível que, com tempo, os EUA sejam obrigados a dialogar com os Brics.
Porém, não parece ser algo que venha a ter lugar num futuro próximo. Hoje o
projeto está em ascensão. Ele combina, organicamente, as vantagens de diversas
civilizações, economias e culturas políticas. Aqui não existem imposições nem
domínios de um só país. É claro que existem incongruências, algumas
“divergências e visões diferentes quanto à concretização de alguns projetos
internacionais. Mas não são diferendos estratégicos. Trata-se de questões
objectivas, que surgem, normalmente, nas relações internacionais do mundo
político. Os Brics acabam por ser o reflexo bastante preciso do nosso mundo
multifacetado e bastante complexo.
diçõesRSS

In
Correio do Brasil
http://correiodobrasil.com.br/destaque-do-dia/intencao-velada-de-a-alemanha-integrar-os-brics-assusta-os-eua/718707/
27/7/2014

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