sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Os Estados Unidos preparam uma guerra entre Latino-americanos


Thierry Meyssan

Pouco a pouco os partidários da doutrina Cebrowski avançam os seus piões. Se
tiverem que cessar de fabricar guerras no Médio-Oriente Alargado, irão fazê-lo
na Bacia das Caraíbas. Antes de mais, o Pentágono planifica o assassínio de um
chefe de Estado eleito, a ruína do seu país e sabota a unidade da América
Latina.

Falando perante a comunidade anti-castrista, no Miami Dade College, John
Bolton denunciou «Esta troika da tirania, que se estende de Havana a Caracas
passando por Manágua, [a qual] é a causa de imenso sofrimento humano, o
impulso para uma enorme instabilidade regional, e a génese de um sórdido berço
do comunismo no hemisfério ocidental».
John Bolton, o novo Conselheiro Nacional de Segurança dos Estados Unidos,
relançou o projecto de destruição das estruturas estatais da Bacia das Caraíbas.
Recorde-se que, na onda dos atentados do 11-de-Setembro, o Secretário da Defesa
da época, Donald Rumsfeld tinha criado um Gabinete de Transformação de Força
(Office of Force Transformation) e designado o Almirante Arthur Cebrowski para o
dirigir. A sua missão era a de preparar o Exército norte-americano para a sua
nova missão da era da globalização financeira. Tratava-se de mudar a cultura
militar a fim de destruir as estruturas estatais das regiões não-conectadas à
economia globalizada. O primeiro componente deste plano consistiu em
desarticular o «Médio-Oriente Alargado». A segunda etapa deveria ser fazer o
mesmo na «Bacia das Caraíbas».O plano previa destruir uma vintena de Estados
costeiros e insulares, à excepção da Colômbia, do México e o mesmo quanto a
territórios britânicos, norte-americanos, franceses e neerlandeses.
Logo após a sua ascensão à Casa Branca, o Presidente Donald Trump opôs-se ao
plano Cebrowski. No entanto dois anos mais tarde, apenas conseguiu interditar ao
Pentágono e à OTAN de entregar um Estado aos grupos terroristas que eles
empregam (o «Califado»), mas não em desistir de manipular o terrorismo. Em
relação ao Médio-Oriente Alargado, conseguiu fazer diminuir a tensão, mas as
guerras continuam com menor intensidade. Em relação à Bacia das Caraíbas, ele
travou o Pentágono, interditando-o de desencadear operações militares directas.
Em Maio último, Stella Calloni revelava uma nota do Almirante Kurt Tidd,
Comandante-em-chefe do SouthCom, expondo os meios postos em marcha contra a
Venezuela [1]. Uma segunda incursão é conduzida em simultâneo na Nicarágua e uma
terceira, desde há um século e meio, contra Cuba.
Em diversas análises precedentes havíamos concluído que a desestabilização da
Venezuela, iniciada pelo movimento das guarimbas, prosseguida pela tentativa de
golpe de Estado, de 12 de Fevereiro de 2015 (operação Jericó) [2], depois pelos
ataques contra a moeda nacional e a organização da emigração, desaguaria em
operações militares [3] conduzidas a partir do Brasil, da Colômbia e da Guiana.
Manobras multinacionais de transporte de tropas foram organizadas pelos Estados
Unidos e seus aliados, em Agosto de 2017 [4]. A subida ao Poder em Brasília, a 1
de Janeiro de 2019, do Presidente pró-israelita Jair Bolsonaro tornará isso
possível.
  O Vice-presidente brasileiro Hamilton Mourão e o Presidente Jair Bolsonaro.
De facto, o próximo Vice-presidente brasileiro será o General Hamilton Mourão,
cujo pai desempenhou um papel notável no golpe militar pró-EUA de 1964. Ele
próprio se salientou por suas declarações contra os Presidentes Lula e Rousseff.
Em 2017, ele declarara —em nome do Grande Oriente do Brasil— que chegara o
momento de um novo golpe militar. No fim, acabou eleito com o Presidente
Bolsonaro. Numa entrevista à revista Piauí, anunciou um próximo derrube do
Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e a instalação de uma força de «paz»
brasileira (sic). Perante a gravidade destas afirmações, que constituem uma
violação da Carta das Nações Unidas, o Presidente eleito, Bolsonaro, assegurou
que ninguém queria fazer guerra a ninguém e que o seu Vice-presidente falava
demais.
Seja como for, o Presidente Maduro, numa conferência de imprensa, em 12 Dezembro
de 2018, revelou que o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton,
assegurava a coordenação entre a equipa do Presidente colombiano, Iván Duque, e
a do Vice-presidente brasileiro. Um grupo de 734 mercenários está actualmente a
ser treinado em Tona, na Colômbia, para realizar um ataque de falsa bandeira
contra a Colômbia e justificar assim uma guerra da Colômbia contra a Venezuela.
Ele seria comandado pelo antigo Coronel Oswaldo Valentín García Palomo, hoje em
dia em fuga após a tentativa de assassinato com drone do Presidente Maduro, no
aniversário da Guarda Nacional, a 4 de Agosto último. Estes mercenários são
apoiados por Forças Especiais estacionadas nas bases militares dos EUA em
Tolemaida (Colômbia) e Eglin (Florida). O plano norte-americano prevê a captura,
desde o início do conflito, de três bases militares venezuelanas, Libertador de
Palo Negro, Puerto Cabello e Barcelona.
  Anúncio de busca sobre o Coronel Oswaldo Valentín García Palomo da Guarda
  Nacional venezuelana, depois de ele ter comandado uma tentativa de assassinato
  do Presidente da República bolivariana.
O Conselho de Segurança Nacional dos EUA tenta convencer vários Estados a não
reconhecer o segundo mandato de Nicolás Maduro (reeleito em Maio último, mas que
deverá iniciar o mandato com o Ano Novo). Foi por isso que os Estados do Grupo
Lima contestaram o escrutínio presidencial antes mesmo da sua realização, e
interditaram, ilegalmente, a sua organização nos consulados da Venezuela. Da
mesma forma, a crise migratória acaba por não passar de mais uma manipulação:
são hoje inúmeros os Venezuelanos que fugiram da crise monetária, acreditando
encontrar facilmente trabalho num outro Estado latino-americano, a tentar voltar
para casa. Mas, o Grupo Lima impede-os, proibindo os aviões venezuelanos que
tentam ir repatriá-los de sobrevoar o seu espaço aéreo e aos autocarros
(ônibus-br) vindos para os buscar de cruzar as fronteiras.
Tudo se passa, pois, como se estivéssemos assistindo a um remake (repetição-ndT)
dos acontecimentos que ensanguentam o Médio-Oriente Alargado desde os atentados
do 11 de Setembro de 2001. O essencial não reside nas acções militares, mas na
representação de desordem conferida pelos acontecimentos. Trata-se, primeiro, de
fazer levar gato por lebre [5].Em cinco anos, a Venezuela e a Nicarágua que
tinham uma imagem positiva no exterior são hoje consideradas, erradamente, como
«Estados falidos». Se ainda não se reescreveu a história dos Sandinistas e da
sua luta face à ditadura dos Somoza, dá-se como adquirido que Hugo Chávez Frías
era um «ditador comunista» (sic), quando o seu país deu um incrível salto em
frente, político e económico, sob a sua presidência. Em breve, irá ser possível
destruir estes Estados sem que ninguém se incomode em reclamar.
O tempo esgota-se cada vez mais rapidamente. Assim, quando em 1823 o Presidente
James Monroe decidiu fechar as Américas ao controlo europeu, ele não sabia que a
sua doutrina evoluiria, 50 anos mais tarde, para uma afirmação do imperialismo
dos EUA. Tal como hoje, quando o Presidente Donald Trump afirmava no dia da sua
investidura que o tempo de mudanças de regime acabara, ele não pensava que seria
traído pelos seus. Ora, a 1 de Novembro de 2018, o seu Conselheiro de Segurança,
John Bolton, declarava em Miami que Cuba, a Nicarágua e a Venezuela formam a
«troika da tirania». Depois o seu Secretário da Defesa, o General James Mattis,
afirmava, a 1 de Dezembro, diante do Reagan National Defense Forum que o eleito
Presidente Maduro é um «déspota irresponsável», que «deve partir» [6].
Thierry Meyssan
Tradução
Alva



In
VOLTAIRE.NET.ORG
http://www.voltairenet.org/article204401.html
18/12/2018

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