terça-feira, 29 de março de 2022

A Nova Ordem Mundial que preparam a pretexto da guerra na Ucrânia

 
 
Thierry Meyssan

O conflito na Ucrânia não foi lançado pela Rússia em 24 de Fevereiro,
mas pela Ucrânia uma semana antes. A OSCE é testemunha disso. Este
conflito periférico havia sido planificado por Washington para impor uma
Nova Ordem Mundial da qual a Rússia, depois a China, deviam ser
excluídas. Não se deixem enganar !


As operações militares da Rússia na Ucrânia desenrolam-se desde há mais
de um mês e as operações de propaganda da OTAN desde há um mês e meio.

Como sempre, a propaganda de guerra dos Anglo-Saxónicos é coordenada a
partir de Londres. Os Britânicos adquiriram desde a Primeira Guerra
mundial uma mestria sem equivalente. Em 1914, eles conseguiram convencer
a sua própria população que o Exército alemão havia praticado violações
em massa na Bélgica e que era dever de todos os Britânicos ir em socorro
destas pobres mulheres. Fora uma versão mais limpa que evocar a
tentativa do Kaiser Wilhelm II em rivalizar com o Império colonial
inglês. No fim do conflito, a população britânica exigiu que se
indemnizasse as vítimas. Procuraram contá-las e deu-se conta que os
factos haviam sido extraordinariamente exagerados.

*O Presidente Zelensky declarou guerra à Rússia dando ordem às tropas
banderistas incorporadas no seu Exército para atacar os cidadãos russos
do Donbass a partir de 17 de Fevereiro. Depois ele agitou o pano
vermelho ao declarar perante os dirigentes políticos dos países membros
da OTAN que ia adquirir a Bomba atómica violando os tratados
internacionais. *

Desta vez, em 2022, os Britânicos conseguiram convencer os Europeus que
em 24 de Fevereiro os Russos atacaram a Ucrânia para a invadir e anexar.
Moscovo (Moscou-br) tentaria reconstituir a União Soviética e
aprestar-se-ia a atacar sucessivamente todas as sua antigas possessões.
Esta versão é mais edificante para os Ocidentais que evocar a «
armadilha de Tucídides » —eu voltarei a ela—. Na realidade, as tropas de
Kiev atacaram a sua própria população do Donbass, em 17 de Fevereiro à
tarde. Depois a Ucrânia agitou um pano vermelho diante do touro russo
com o discurso do Presidente Zelenski face aos dirigentes políticos e
militares da OTAN reunidos em Munique, no decurso do qual ele anunciou
que o seu país ia dotar-se da arma atómica para se proteger da Rússia.

Não acreditam ? Eis aqui os dados da OSCE na fronteira de Donbass. Já
não havia combates há meses, mas os observadores da Organização neutra
observaram, a partir da tarde de 17 de Março, 1. 400 explosões por dia.
De imediato, as províncias rebeldes de Donetsk e Luhansk, que
continuavam a considerar-se ucranianas, mas pretendiam a autonomia no
seio da Ucrânia, evacuaram mais de 100. 000 civis para os proteger. A
maioria recuaram para o interior do Donbass, outros fugiram para a Rússia.

*Número de explosões registradas no Donbass (14 a 22 de fevereiro de 2022) *
Fonte: Relatório Diário da OSCE SMM.

Em 2014 e 2015, quando uma guerra civil opôs Kiev a Donestk e a Lugansk,
as destruições materiais e humanas eram apenas assuntos internos da
Ucrânia. No entanto, com o decorrer do tempo, a quase totalidade da
população ucraniana do Donbass encarou emigrar e adquiriu a dupla
nacionalidade russa. Por consequência o ataque de Kiev contra a
população do Donbass, em 17 de Fevereiro, era um ataque contra cidadãos
ucraniano-russos. Assim, Moscovo trouxe-lhes socorro, de urgência, a
partir de 24 de Fevereiro.

A cronologia é indiscutível. Não foi Moscovo que quis esta guerra, mas
sim Kiev, apesar do preço previsível que terá de pagar. O Presidente
Zelensky colocou deliberadamente o seu povo em perigo e carrega sozinho
a responsabilidade pelo que ele padece hoje em dia.

Porque é que ele agiu assim? Desde o início do seu mandato, Volodymyr
Zelensky prosseguiu o apoio do Estado ucraniano, que começara com o seu
antecessor Petro Poroshenko, aos desvios de fundos, perpetrados pelos
seus patrocinadores norte-americanos, e aos extremistas do seu país, os
banderistas. O Presidente Putin qualificou os primeiros de « bando de
drogados » e os segundos de « bando de neo-nazis » [1 <#nb1>] Não só
Volodymyr Zelensky declarou publicamente que não queria resolver o
conflito do Donbass aplicando os Acordos de Minsk, mas também proibiu
aos seus concidadãos falar russo na escola e na administração e, pior,
assinou uma lei racial, em 1 de Julho 2021, excluindo de facto os
Ucranianos que reivindicam sua origem eslava do gozo dos Direitos do
Homem e das Liberdades Fundamentais.

O Exército russo invadiu primeiro o território ucraniano, não a partir
do Donbass, mas a partir da Bielorrússia e da Crimeia. Destruiu todas as
instalações militares ucranianas utilizadas pela OTAN durante anos e
atacou os regimentos banderistas. Agora, dedica-se a esmaga-los no Leste
do país. Os propagandistas de Londres e das suas quase 150 agências de
comunicação, um pouco por todo o mundo, asseguram-nos que, repelido pela
gloriosa Resistência ucraniana, o derrotado Exército russo abandonou seu
objectivo inicial de tomar Kiev. Ora, nunca, jamais, disse o Presidente
Putin que a Rússia tomará Kiev, derrubará o Presidente eleito Zelensky e
ocupará o seu país. Pelo contrário, sempre disse que os seus objectivos
de guerra eram desnazificar a Ucrânia e eliminar os stocks (estoques-br)
de armas estrangeiras (as da OTAN). É exactissimamente o que ele faz.
A população ucraniana sofre. Descobrimos que a guerra é cruel, que
sempre mata inocentes. Hoje, somos abafados pelas nossas emoções e, como
ignoramos o ataque ucraniano de 17 de Fevereiro, atira-mo-nos aos russos
que qualificamos erradamente de « agressores ». Não sentimos a mesma
compaixão pelas vítimas da guerra simultânea no Iémene, os seus 200. 000
mortos, dos quais 85. 000 crianças, mortas de fome. Mas a verdade é que
os Iemenitas não são aos olhos dos Ocidentais « mais do que árabes ».
Mas o facto de sofrer não deve a priori ser interpretado como prova de
que se tem razão. Tal como os inocentes os criminosos também sofrem.

*A delegação ucraniana no Tribunal Internacional de Justiça conseguiu
que não haja um julgamento sobre o fundo da questão, mas um despacho
impondo uma medida cautelar contra a Rússia. *

O Tribunal Internacional de Justiça (CIJ), quer dizer, o tribunal
interno das Nações Unidas, foi accionado pela Ucrânia e ordenou à
Rússia, em 16 de Março, como medida cautelar, para cessar a guerra e
retirar as suas tropas [2 <#nb2>]. Ora, tal como eu acabo de mostrar o
Direito dá razão à Rússia.

Como é possível uma tal manipulação do Tribunal ? A Ucrânia evocou o
facto de o Presidente Putin ter declarado, durante o seu discurso sobre
a operação militar russa, que as populações do Donbass eram vítimas de
um « genocídio ». Ora, ela negou esse « genocídio» e acusou a Rússia de
ter indevidamente usado esse argumento. No Direito Internacional, a
palavra genocídio já não designa a erradicação de uma etnia, mas um
massacre ordenado por um governo. No decorrer dos últimos oito anos, 13.
000 a 22. 000 civis foram mortos no Donbass, segundo nos referirmos às
estatísticas do governo ucraniano ou às do governo russo. A Rússia, que
enviou a sua argumentação por escrito, argumentou que não se baseia na
Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, mas no
Artigo 51 da Carta das Nações Unidas autorizando a guerra em legítima
defesa — o que o Presidente Putin explicitamente declarou durante o seu
discurso—. O Tribunal não procurou verificar o que quer que fosse.
Agarrou-se apenas ao desmentido ucraniano. Concluiu, portanto, que a
Rússia havia indevidamente utilizado a Convenção como argumento. Além
disso, como a Rússia não julgou necessário fazer-se representar
fisicamente no Tribunal, este aproveitou a sua ausência para lhe impor
uma medida cautelar aberrante. A Rússia, segura de seus justos direitos,
recusou-se a cumprir e reclama um julgamento de mérito que não será
proferido antes do final de Setembro.

Dito tudo isto, só podemos compreender a duplicidade dos Ocidentais ao
por os acontecimentos no seu contexto. Desde há uma dezena de anos, os
politólogos norte-americanos garantem-nos que o aumento de poderio da
Rússia e da China conduzirá a uma guerra inevitável. O politólogo Graham
Allison criou para tal o conceito de « armadilha de Tucídides » [3
<#nb3>]. Ele fazia referência às Guerras do Peloponeso que opuseram
Esparta a Atenas no século IV A.C. O estratega e historiador Tucídides
chegou à conclusão que as guerras se tornaram inevitáveis quando
Esparta, que dominava a Grécia, percebeu que Atenas estava a formar um
império e poderia substituir essa hegemonia. A analogia é forte, mas
falsa: se Esparta e Atenas eram cidades gregas vizinhas, os Estados
Unidos, a Rússia e a China nem sequer têm a mesma cultura.

A título de exemplo, a China recusa a proposta de concorrência comercial
formulada pelo Presidente Biden. Ela opõe-lhe a sua tradição de
«ganhador-ganhador». Ao fazê-lo, não faz referência a contratos
comerciais rentáveis para ambas as partes, mas à sua História. O «
Império do Meio » tinha uma população muitíssimo grande. O Imperador era
forçado a delegar a sua autoridade ao máximo. Ainda hoje, a China é o
país mais descentralizado do mundo. Quando ele emitia um decreto, este
tinha consequências práticas em certas províncias, mas não em todas. O
Imperador devia, pois, assegurar-se de que cada governador local não
considerasse seu decreto sem sentido e não esquecesse a sua autoridade.
Oferecia então uma compensação aos que não eram visados pelo decreto
para que se sentissem sempre sujeitos à sua autoridade.

Desde o início da crise ucraniana, a China não só adopta uma posição
não-alinhada, mas protege o seu aliado russo no Conselho de Segurança
das Nações Unidas. Erradamente, os Estados Unidos temem que Pequim envie
armas a Moscovo. Isso nunca aconteceu, mesmo que haja uma ajuda
logística nas refeições preparadas para os soldados, por exemplo. A
China observa como as coisas decorrem e infere daí como elas se passarão
quando tentar recuperar a província rebelde de Taiwan. Pequim declinou
gentilmente as ofertas de Washington. Pensa a longo prazo e sabe, por
experiência, que se deixar destruir a Rússia, será de novo pilhada pelos
Ocidentais. A sua salvação só é possível com a Rússia, mesmo que um dia
vá contestá-la por causa da Sibéria.

Voltemos à armadilha de Tucídides. A Rússia sabe que os Estados Unidos
querem apagá-la da cena. Ela antecipa uma possível invasão/destruição.
Ora, o seu território é imenso e a sua população não é suficientemente
numerosa. Ela não pode defender as suas fronteiras demasiado grandes.
Ela tem, desde o século XIX, imaginado defender-se esquivando-se dos
seus inimigos. Quando Napoleão, depois Hitler, a atacaram, deslocou a
sua população sempre cada vez mais para o Leste. E queimou as suas
próprias cidades antes da chegada do invasor. Este viu-se incapaz de
aprovisionar as suas tropas. Teve que enfrentar o inverno sem meios e,
finalmente, bater em retirada. Esta estratégia de « terra queimada » só
funcionou porque nem Napoleão, nem Hitler tinham bases logísticas nas
proximidades. Assim a Rússia moderna sabe que não poderá sobreviver se
as armas norte-americanas forem armazenadas na Europa Central e
Oriental. Foi por isso que, no fim da União Soviética, a Rússia exigiu
que a OTAN jamais se estendesse para o Leste. O Presidente francês,
François Mitterrand, e o Chanceler alemão, Helmut Köhl, que conheciam a
História, exigiram pois que os Ocidentais assumissem esse compromisso.
Durante a reunificação alemã, eles redigiram e assinaram um Tratado
garantindo que a OTAN nunca cruzaria a linha Oder-Neisse, quer dizer, a
fronteira germano-polaca.

A Rússia fez registar este compromisso por escrito em 1999 e 2010 com as
Declarações da OSCE de Istambul e de Astana. Mas os Estados Unidos
violaram-na em 1999 (adesão da República Checa, da Hungria e da Polónia
à OTAN), em 2004 (Bulgária, Estónia, Letónia, Lituânia, Roménia,
Eslováquia e Eslovénia), em 2009 (Albânia e Croácia), em 2017
(Montenegro) e ainda em 2020 (Macedónia do Norte). O problema não é que
todos esses Estados se tenham aliado a Washington, mas que tenham
armazenado armas norte-americanas no seu território. Ninguém critica que
estes Estados tenham escolhido os seus aliados, mas Moscovo acusa-os de
servir de base traseira ao Pentágono na preparação para um ataque à Rússia.


Em Outubro de 2021, a Straussiana [4 <#nb4>] Victoria Nuland, a número 2
do Departamento de Estado veio a Moscovo intimar a Rússia a aceitar a
colocação de armas dos EUA na Europa Central e Oriental. Ela prometeu
que em contrapartida Washington investiria na Rússia. Depois ameaçou a
Rússia se esta não aceitasse a sua oferta e acabou concluindo que faria
julgar o Presidente Putin perante um Tribunal internacional. Moscovo
respondeu enviando, em 17 de Dezembro, uma proposta de Tratado
garantindo a paz na base do respeito pela Carta das Nações Unidas. Foi o
que provocou a tempestade actual. Porque respeitar a Carta, baseada no
princípio da igualdade e da soberania dos Estados, supõe reformar a OTAN
cujo funcionamento está pelo contrário baseado numa hierarquia entre os
seus membros. Apanhados na « armadilha de Tucídides », os Estados Unidos
fomentaram então a actual guerra na Ucrânia.

Se admitirmos que o seu fim é o de riscar a Rússia da cena
internacional, torna-se clara a forma como os Anglo-Saxónicos reagem à
crise ucraniana. Eles não buscam repelir militarmente o Exército russo,
nem incomodar o governo russo, mas em fazer desaparecer qualquer traço
da cultura russa no Ocidente. E acessoriamente, tentam enfraquecer a
União Europeia.

Começaram com o congelamento dos bens dos oligarcas russos no Ocidente;
uma medida que foi aplaudida pela população russa que os considera
ilegítimos beneficiários da pilhagem da URSS. Depois, impuseram às
empresas ocidentais cessar suas actividades na Rússia. Por fim,
continuaram cortando o acesso dos bancos russos aos bancos ocidentais (o
sistema SWIFT). No entanto, se estas medidas financeiras foram
desastrosas para os bancos russos (mas não para o governo russo), as
medidas contra as empresas que trabalham na Rússia são, pelo contrário,
favoráveis à Rússia, que recupera os seus investimentos a um custo
menor. Além disso, a Bolsa de Valores de Moscovo, que havia estado
fechada de 25 de Fevereiro (o dia seguinte à resposta russa) até 24 de
Março, registou uma alta logo após a sua reabertura. É certo que o
índice RTS caiu no primeiro dia 4,26%, mas ele mede sobretudo valores
especulativos, pelo contrário o índice IMOEX, que mede a actividade
económica nacional, aumentou 4,43%. Os verdadeiros perdedores das
medidas ocidentais são os membros da União Europeia que cometeram a
estupidez de as tomar.

*Paul Wolfowitz foi iniciado no pensamento de Leo Strauss pelo seu
Professor de filosofia, Alan Bloom. Em seguida, tornou-se aluno do
mestre, directamente junto dele na universidade de Chicago. Leo Strauss
convenceu-o que os judeus nada devem esperar das democracias. Para não
sofrer uma nova Shoah, devem construir o seu próprio Reich. Vale mais
estar do lado do martelo do que da bigorna. *

Já, em 1991, o Straussiano Paul Wolfowitz escrevia num relatório oficial
que os Estados Unidos deviam impedir que qualquer potência se pudesse
desenvolver a ponto de rivalizar com eles. À época, a URSS estava em
fanicos. Assim ele designou a União Europeia como o potencial rival a
abater [5 <#nb5>]. Foi exactissimamente o que ele fez em 2003, assim que
se tornou o número 2 do Pentágono, interditando a Alemanha e a França de
participar na reconstrução do Iraque [6 <#nb6>]. Era também aquilo de
que falava Victoria Nuland, em 2014, quando deu como instruções ao
embaixador dos EUA em Kiev « mandar a União Europeia apanhar no cú »
(sic) [7 <#nb7>].

Hoje, a União Europeia é intimada a parar as suas importações de
hidrocarbonetos russos. Se obedecer a esta injunção (liminar-br), a
Alemanha será arruinada e com ela toda a União. Isto não será um dano
colateral, mas fruto de um pensamento estruturado, expresso de forma
clara desde há trinta anos.

O mais importante para Washington é excluir a Rússia de todas as
organizações internacionais. Conseguiu já, em 2014, excluí-la do G8. O
pretexto não foi a independência da Crimeia (que esta reclamava desde a
dissolução da URSS, vários meses antes de a Ucrânia considerar a sua
própria independência), mas a sua adesão à Federação da Rússia. A
pretensa agressão à Ucrânia fornece um pretexto para a excluir do G20. A
China fez notar de imediato que ninguém podia ser excluído de um fórum
informal que não dispõe de estatutos. Pouco importa, o Presidente Biden
voltou à carga em 24 e 25 de Março na Europa.

Washington multiplica os contactos para excluir a Rússia da Organização
Mundial do Comércio. De qualquer forma, os princípios da OMC ficam já
minados pelas « sanções » unilaterais aplicadas pelos Ocidentais. Tal
decisão seria prejudicial para ambos os lados. É aqui que convêm fazer
referência aos escritos de Paul Wolfowitz. Com efeito, ele escrevia em
1991 que Washington não deve procurar ser o melhor no que faz, mas ser o
primeiro em relação aos outros. Isso implica que, salientava ele, para
manter sua hegemonia, os Estados Unidos não devem hesitar em aleijar-se,
se fizerem muito pior aos outros. Nós vamos todos arcar com as despesas
desta maneira de pensar.

O mais importante para os Straussianos é excluir a Rússia das Nações
Unidas. Isso não é possível respeitando a Carta das Nações Unidas, mas
Washington não se incomodará muito com isso. Desde logo, entrou em
contacto com todos os Estados membros da ONU, com poucas excepções.
Tendo já a propaganda anglo-saxónica conseguido fazê-los confundir alhos
com bugalhos, estão todos convencidos que um membro do Conselho de
Segurança se lançou numa guerra de conquista contra um dos seus
vizinhos. Se Washington conseguir convocar uma Assembleia Geral
extraordinária da ONU e modificar os estatutos, atingirá os seus objectivos.
Uma espécie de histeria apoderou-se do Ocidente. Caça-se tudo o que é
russo sem pensar em quaisquer ligações com a crise ucraniana. Interditam
artistas russos de se apresentar, mesmo que sejam reputados opositores
do Presidente Putin. Aqui uma universidade proíbe no seu currículo o
estudo do herói anti-soviético Soljenitsyn, ali outra proíbe o escritor
do debate e do livre arbítrio, Dostoiévski (1821-1881), que se opôs ao
regime czarista. Aqui desprograma-se um maestro porque ele é russo e
acolá retira-se Tchaikovsky (1840-1893) do repertório. Tudo o que é
russo deve desaparecer da nossa consciência, tal como outrora o Império
Romano arrasou Cartago e destruiu metodicamente todos os traços da sua
existência, a ponto de hoje não sabermos muito sobre essa civilização.

Em 21 de Março, o Presidente Biden não se escondeu. Perante uma plateia
de chefes de empresas declarou : « Este é o momento em que as coisas
mudam. Vai haver uma Nova Ordem Mundial e nós devemos dirigi-la. E
devemos unir o resto do mundo livre para fazer isso » [8 <#nb8>]. Esta
nova Ordem [9 <#nb9>] deverá cortar o mundo em dois blocos herméticos ;
um corte como nós jamais conhecemos, sem comparação possível com a
“cortina de ferro” da Guerra Fria. Certos Estados, como a Polónia,
julgam perder muito com isto tal como os outros, mas também ganhar um
pouco. Assim, o General Waldemar Skrzypczak acaba de reclamar que o
enclave russo de Kaliningrad se torne polaco [10 <#nb10>]. Com efeito,
após o corte do mundo, como poderá Moscovo comunicar com este território ?

Thierry Meyssan <https://www.voltairenet.org/auteur29.html?lang=pt>
Tradução


Em
VOLTAIRE.NET
https://www.voltairenet.org/article216295.html
29/3/2022

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