segunda-feira, 4 de julho de 2022

UMA ENTREVISTA COM AYMERIC MONVILLE SOBRE ESTALINE ***

 

  

    /A demonização faz parte da construção de um quadro apocalíptico,
    que descreve Estaline como um 'tirano vermelho' e o carrasco de
    Katyn. Na verdade, tudo isso serve à propaganda antissoviética,
    denegrindo a URSS e aprofundando a russofobia moderna./



/Aymeric Monville//, filósofo francês, diretor da editora /Les éditions
Delga /em Paris, editor-chefe adjunto da /revista La Pensée/, em
entrevista ao correspondente do /Pravda /na Europa Ocidental, Andrei
Dultsev, sobre os problemas de perceção do  legado teórico histórico de
JV Estaline na historiografia da Europa Ocidental./

 

*Andrei Dultsev [AD]: Você acaba de publicar um livro sobre Estaline,
/And For a Few More Canards: Counter-inqu//i//ry on //S//taline and the
Soviet Union/.[E por mais Falsidades: Contra-inquérito sobre Estaline e
a União Soviética (NT)] Na sua opinião,qual é o problema da perceção de
Estaline que existe no Ocidente hoje?*

 

Aymeric Monville [AM]: No Ocidente, a análise histórica, se é que se
pode chamar assim, baseia-se na comparação entre Hitler e Estaline,
necessária sobretudo para justificar a democracia ocidental. A visão da
Segunda Guerra Mundial baseia-se no facto de que um conluio objetivo
entre o capitalismo ocidental e o nazismo, que são de facto os dois
lados da mesma formação económica em diferentes estágios de
desenvolvimento político, está a ser empurrado para segundo plano, e o
termo 'totalitarismo, ele próprio mal fundamentado, é usado como
propaganda e ferramenta ideológica para mostrar que a Alemanha nazi e o
“estalinismo” são as principais ameaças à sociedade de valores ocidentais'.

 

Com meu livro, quero devolver ao espaço público a visão marxista das
coisas. Ou seja, a conspiração entre as democracias ocidentais e o
nazismo, cuja perceção sofreu no Ocidente sob a influência do feroz
anticomunismo do pós-guerra, e que também se implantou na França que é o
elo mais fraco da estrutura política do Ocidente.

 

Afinal, a França é o país da Comuna, um país de um movimento operário
muito forte, um país onde (juntamente com a Itália) havia o Partido
Comunista mais poderoso fora da comunidade socialista. Portanto, é
interessante analisar aqui o desenvolvimento da visão da URSS e da era
de Estaline.

 

/O Livro Negro do Comunismo/, que nos foi imposto, recebeu críticas
internacionais extremamente negativas da comunidade científica, devido à
sua tolice intelectual. Mas foi na França que este livro foi escrito
para começar a mudar a forma como as coisas são vistas na comunidade
científica.

 

Quando nos países da América Latina há um golpe de Estado e a chegada ao
poder de uma junta militar,  as universidades são cercadas por tanques e
os professores são mortos. Mas na França os marxistas são tolerados até
nas universidades. Aqui há uma tradição revolucionária diferente, que há
algum tempo foi mais uma vez confirmada pelo exemplo do movimento dos
'coletes amarelos'; portanto, os intelectuais estão a travar uma luta
feroz, tentando mudar as mentes por 'métodos suaves', a partir de dentro.

 

Essa batalha intelectual pelas mentes está a ser travada pelo método
infantil de demonizar um fenómeno tão comum como o ‘culto da
personalidade'; e, a julgar pelo resultado, esse método até agora tem
sido eficaz na deformação das consciências.

 

A demonização faz parte da construção de um quadro apocalíptico,  que
descreve Estaline como um 'tirano vermelho' e o carrasco de Katyn. Na
verdade, tudo isso serve à propaganda antissoviética, denegrindo a URSS
e aprofundando a russofobia moderna. É aqui que a atitude amigável do
povo francês para com o povo soviético, a sua gratidão, é um nó na
garganta dos anticomunistas de todos os matizes, porque, como disse uma
vez Maurice Thorez, “a França nunca entrará em guerra contra o URSS.”
Esta declaração de Thorez está principalmente associada aos sacrifícios
feitos pelo povo soviético no altar da vitória da luta pela libertação
da Europa do fascismo.

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Quando o representante da Federação Russa não foi convidado para a
celebração do 8 de maio na França do ano passado, a memória da façanha
soviética, a memória dos 27 milhões de vítimas do povo soviético neste
massacre desencadeado pela Alemanha hitlerista, foi enxovallhada pela
primeira vez. A demonização de Estaline certamente contribui para o
acirramento dessa histeria. Isso reflete-se nos resultados das sondagens
de opinião: enquanto, no final da guerra, a maioria dos franceses estava
convencida de que foi a União Soviética que desempenhou um papel
decisivo na derrota do nazismo, hoje a situação é oposta – a maioria das
pessoas acredita que os Estados Unidos venceram a guerra.

 

Isto é, antes de tudo, uma consequência da influência de Hollywood. Os
filmes americanos levaram a população daqui a acreditar que foram os
Estados Unidos que vieram libertar a França, quando na verdade vieram
impor a Operação Overlord, que visava tornar a França vassala dos
Estados Unidos. Devemos a nossa relativa independência ao forte Partido
Comunista, que participou ativamente na luta contra a ocupação fascista
alemã.

 

Deve-se notar também que foi o general de Gaulle (poucas pessoas
mencionam este facto, pois geralmente falam apenas sobre os seus
méritos) quem ordenou a destruição da capela do Forte Mont-Valérien,
perto de Paris, onde muitos combatentes da Resistência foram fuzilados
[as paredes foram demolidas, a cripta foi preservada -AD]. Nas paredes
da capela, os combatentes da Resistência escreveram antes da sua
execução: “Viva Estaline!” Para o general de Gaulle, isso foi uma pedra
no sapato, porque se tornou óbvio que o papel dos comunistas no
movimento de resistência era esmagador e os vestígios dessa memória
precisavam de ser apagados.

 

*AD: Embora nos municípios onde os comunistas permaneceram no poder nos
anos do pós-guerra, tanto as praças como as avenidas com o nome
“Estalinegrado” foram preservadas…*

 

AM: Sem dúvida, o relatório de Khrushchev no XX Congresso do PCUS
influenciou o Partido Comunista Francês.No entanto, o PCF continuou a
ser um partido que não reconheceu imediatamente as partes do relatório
que pareciam simplesmente insanas (por exemplo, que a URSS,
supostamente, não estava pronta para a guerra).,Os comunistas franceses
recusaram-se a renunciar a Estaline. Mas, no final, o revisionismo
venceu e hoje é muito forte. Para os verdadeiros comunistas, a questão
não foi resolvida.

 

Vou citar como exemplo uma colaboração com o maravilhoso escritor
Domenico Losurdo, que é muito importante para mim. Traduzi as obras de
Losurdo do italiano para o francês e facilitei a tradução dos seus
livros para outras línguas europeias, e foi aí que me deparei com a
censura. Enquanto Losurdo criticava o liberalismo, ele foi publicado,
inclusive em editoras inglesas. A crítica ao liberalismo é perfeitamente
permitida.

 

Mas, assim que ele saiu em defesa do socialismo real, e até mesmo d
China, os britânicos deixaram de publicá-lo. Isto é censura. Nem é mesmo
uma questão da personalidade do autor, mas o facto de um determinado
tema ser rejeitado – o pensamento de Lenine e uma clara orientação para
o socialismo como modelo social. As pessoas de esquerda referem-se  a
todos os tipos de estereótipos trotskistas – “burocracia partidária”
etc. – mas simplesmente não falam sobre a construção do socialismo real.

 

*AD: Como membro do Comité Honecker para os Assuntos dos Presos
Políticos – os líderes da antiga República Democrática Alemã que foram
perseguidos na República Federal da Alemanha (RFA) após o colapso do
Muro – você acha que esta batalha contra Estaline, que está a ser
travada pelos que se fazem passar por pessoas de esquerda europeias
(Verdes, Social-Democratas, canal ARTE), é uma continuação do
revisionismo histórico para rever os resultados da Segunda Guerra
Mundial, iniciado por historiadores e políticos da RFA?*

 

AM: O melhor exemplo disso é o documentário do canal ARTE sobre Katyn, ,
onde historiadores europeus de autoridade confiam com toda a seriedade
nos documentos transferidos para a Polónia por Yeltsin, nos quais, em
1940, em vez de VKP(b)   [Vsesoyuznaya kommunisticheskaya Partiya
Bolshevikov – Partido Comunista de toda a União (bolchevique) (NT)]^1
estava escrito “PCUS” [Partido Comunista da União Soviética(NT)] , o que
testemunha a mais grosseira falsificação histórica. O mesmo é o caso do
complexo memorial de Mednoye, onde 6.000 polacos baleados foram
supostamente enterrados, mas cujos corpos nunca foram encontrados.
Infelizmente, apenas os historiadores estão cientes dessas inconsistências.

 

Mas, muito pior do que essas disputas históricas, o filme não reconhece
as fronteiras reais da Polónia moderna. É errado dizer que Estaline
“invadiu a Polónia depois do pacto germano-soviético”. Estas foram as
terras bielorrussas e ucranianas capturadas pelos polacos após a Guerra
Civil na Rússia. O problema das fronteiras da Polónia é importante para
os alemães. Isto significa que, para os alemães, a Polónia deveria ser
empurrada para o leste, para que a Alemanha pudesse reivindicar o
território da atual Polónia ocidental, o que abriria as portas para o
novo /Drang nach Osten [Dirigir para o Leste]./

 

Pode-se, é claro, argumentar que os políticos atuais não conhecem a
história e não estão interessados nela, mas acho que isso às vezes é um
truque, porque entre eles há aqueles que a conhecem muito bem. Acho que
os políticos responsáveis sabiam o que estavam a fazer em 22 de junho de
2021, quando a Europa anunciou sanções contra a Bielorrússia.

Considerando o financiamento descarado dos movimentos nazis na Ucrânia,
pode-se afirmar com segurança que há planos para um novo 'quarto Reich'.
Portanto, a solidariedade com os comunistas alemães é urgentemente
necessária.Vemos até que ponto o Partido Comunista Alemão (DKP) é
perseguido, e o mesmo se aplica a Junge Welt, que para mim, como o
Pravda, é o padrão do pensamento marxista hoje. Mas Junge Welt na
Alemanha está realmente sob ameaça de extinção.

 

No ano passado, até a Associação das Vítimas do Regime Nazi foi atacada
na Alemanha sob o pretexto de “extremismo”. Sem dúvida, a nossa criação
do Comité Honecker na França foi simbólica, porque foi esse comunista
que as autoridades da Alemanha Ocidental prenderam no início dos anos
1990 na mesma prisão de Moabit em que os nazis o  encarceraram nos anos
1930. A justiça da Alemanha Ocidental sabia perfeitamente o que estava a
fazer. Devemos defender os comunistas em todos os lugares, em todo o
mundo, diante da repressão anticomunista.

 

*AD: Um dos livros que saiu recentemente na sua editora é um livro dos
historiadores italianos Daniele Burgio, Massimo Leoni e Roberto Sidoli
sobre o conluio de Trotsky com os nazis, a partir de documentos até
então desconhecidos do segundo 'julgamento de Moscovo' (contra Pyatakov
e Radek).*

 

AM: Este livro me parece absolutamente necessário, porque fala do
segundo "julgamento de Moscovo”, em janeiro de 1937, e fornece provas
irrefutáveis da colaboração de Trotsky e do centro trotskista na URSS
com os nazis. Insisto na palavra “irrefutável”, já que o relatório de
Khrushchev põe em dúvida todo este período.

 

Sem dúvida, o período de purgas do partido teve os seus pontos escuros,
mas é necessário distinguir entre as atividades do Comissário do Povo
Yezhov, do 'Yezhovismo' e os julgamentos de Moscou. O problema é que o
“yezhovismo”, e mais tarde o próprio relatório de Khrushchev no XX
Congresso, difamou os “julgamentos de Moscovo”: este termo tornou-se na
Europa sinónimo de julgamento falsificado.

 

Através desta publicação, quero demonstrar que o segundo “julgamento de
Moscovo”, em particular, foi justificado. Isso é confirmado pelo estado
das fontes do caso, que não pode ser negado; este é o problema dos
arquivos de Trotsky, a inconsistência dos seus textos daquele período,
as suas declarações perante a Comissão Dewey. O livro compila
cuidadosamente os lapsos de Trotsky, as cartas até então desconhecidas
que foram encontradas nos arquivos e que provam, por exemplo, que ele
estava em contacto com Radek, embora ambos negassem isso.

 

O principal assunto da investigação dos historiadores foi o voo secreto
de Yuri Pyatakov para contactar Trotsky em Oslo, em dezembro de 1935.
Temos todas as evidências de que as autoridades norueguesas mentiram ao
desmenti-lo. Para se encontrar com Trotsky, Pyatakov aproveitou uma
missão oficial: em dezembro de 1935, ele voou para Berlim por instruções
do Partido para procurar fornecedores de bens industriais (depois de os
nazis chegarem ao poder, as relações económicas entre a URSS e Alemanha
que, no final da década de 1920, eram mais do que intensas, assim
permaneceram por algum tempo). Então, de Berlim, Pyatakov voou para Oslo
para ver Trotsky para um encontro de um dia, o que não poderia ser feito
sem a cumplicidade das autoridades alemãs, que lhe deram um visto.

 

A questão é, antes, por que razão Pyatakoy empreendeu tal ação, sabendo
que estava sob a supervisão da embaixada soviética? Porque Trotsky o
presenteou com o /facto//consumado /de uma aliança com os nazis. E
porque Pyatakov  decidiu encontrar-se com Trotsky a qualquer custo e com
tanto risco pois, do ponto de vista deles, havia a possibilidade de um
golpe de estado na URSS.

 

*AD: Você concorda que, por trás do ataque a Estaline, está um ataque ao
antifascismo e às ideias do socialismo em geral?*

 

AM: Além disso, em 1939, Trotsky assumiu uma posição de apoio à
independência da Ucrânia, publicando quatro artigos nos quais ele a
defendia apaixonadamente, apoiando os nacionalistas e sabendo muito bem
que a Ucrânia era a chave para os alemães no Cáucaso e nas plataformas
de petróleo de Baku. Esses fatos devem ser combinados com as posições
dos trotskistas e esquerdistas ocidentais de hoje. Sendo
anti-estalinistas e seguindo a linha de Trotsky, eles aliam-se aos
sociais-democratas na defesa da União Europeia.

 

Tomemos, por exemplo, o julgamento de Dimitrov na Alemanha nazi. Face à
absoluta ilegalidade e ao regime terrorista nazista, Dimitrov
defendeu-se corajosamente e Goering não conseguiu provar nada contra
ele. Então, por que razão Pyatakov e Radek, que tinham todos os meios de
defesa em face da justiça democrática socialista, não fizeram o mesmo?

 

É claro que o período estalinista é controverso, mas, considerando-o, é
preciso entender que Estaline foi um homem dotado da maior
responsabilidade política pelo destino do mundo no século XX. Sim,
Estaline é um homem de contrastes, que às vezes teve de fazer escolhas
políticas difíceis. Mas é uma pena que os livros desse 'maravilhoso
georgiano', como Lenine lhe chamava, não sejam publicados na Europa hoje.

*AD: No seu livro /A Few More Canard /você também volta ao número real
de processos repressivos na URSS, rejeitando o disparate sobre “centenas
de milhões de assassinados”. Até que ponto o seu livro é capaz de fazer
um avanço na mudança do equilíbrio de poder na batalha pela verdade
histórica?*

 

AM: Eu gosto de participar em debates usando a mais pequena oportunidade
em qualquer plataforma. Mas, dada a estratégia do Ocidente contra a URSS
e Estaline, tenho poucas esperanças. No caso de nosso novo livro, /O voo
 de Piatakov/, provamos aos nossos oponentes a exatidão histórica dos
julgamentos de Moscou. Além disso, se você se familiarizar com os
materiais desses julgamentos, verá que essa quantidade de evidências é
impossível de falsificar.

 

No entanto, o que, de facto, há a provar? Se em dezembro de 1935 Trotsky
se gabava de que Pyatakov tinha ido até ter com ele à Noruega, mais
tarde Trotsky cometeu perjúrio perante a Comissão Dewey ao dizer que
ele, enquanto estava na Noruega, caiu do esqui e não pôde encontrar-se
com ninguém. Sim, houve uma queda, mas aconteceu dez dias depois, depois
da visita de Pyatakov. Também comprovamos a inconsistência dos
relatórios do aeroporto de Oslo, onde as palavras “nem um único avião
estrangeiro chegou” foram proferidas. Mas Pyatakov veio de Berlim num
avião norueguês.

 

Além disso, o diário de Trotsky, até 1935, foi publicado, mas as
anotações dos seus últimos anos de vida nunca foram publicadas… Temos o
prazer de divulgar todos esses factos. A nossa principal tarefa é
restaurar a justiça histórica com uma abordagem aberta até mesmo aos
não-marxistas. Acredito que, a longo prazo, venceremos.

 

AM: Ao mesmo tempo, os textos de Estaline são extremamente importantes e
modernos: é preciso estudar as suas obras sobre linguística, sobre a
questão nacional, sobre os problemas do socialismo na URSS. É necessário
estudar Estaline precisamente como um teórico. Li com grande interesse o
livro de Viktor Trushkov, /Estaline como teórico/, e tenho grande
respeito pelo tremendo trabalho que ele fez.

 

Na França, estamos longe disso, devemos estudar primeiro o papel
histórico de Estaline, entender a organização do País dos Sovietes, a
arquitetura do avanço económico dos primeiros planos quinquenais, o
papel dos mecanismos de mercado na transição do capitalismo para o
socialismo. Tudo isso faz parte da análise de que precisamos em França.

 

*AD: Este ano, em França, o livro de Hitler /Mein Kampf /foi
republicado, com comentários de historiadores,  numa tiragem de 55.000
exemplares, o que é um recorde hoje. Ao mesmo tempo, ninguém publica as
obras de Estaline, e Lenin e Marx são extremamente raros nas prateleiras…*

 

AM: Nass Éditions Delga não publicamos os clássicos do
marxismo-leninismo, este não é o nosso formato, mas vamos publicar, por
exemplo, as transcrições dos “julgamentos de Moscovo” para expor a
mentira no Ocidente de que foram falsificados. Muitas pessoas aqui têm
uma opinião falsa de que, após o assassinato de Kirov, Estaline, como um
tirano louco, bateu à porta de toda a gente. Isso é uma redonda mentira.

 

*AD: Por que razão Estaline é o primeiro alvo dos anticomunistas de
todos os matizes?*

 

AM: Jean-Paul Sartre disse uma vez que, após os acontecimentos na
Hungria em 1956, a burguesia deu um suspiro de alívio: encontrou algo
para criticar por trás da Cortina de Ferro”. Até 1956, a burguesia
estava constantemente sob ataque unilateral devido à injustiça da
sociedade capitalista, à sua desordem interna, e em 1956  viram que um
conflito dentro do bloco socialista estava  em formação – e jogaram essa
carta. Esta é toda a tragédia do XX Congresso.

 

Para a burguesia, após a guerra, Estaline tornou-se uma espécie de
monólito que precisava de ser destruído a qualquer custo.  Inventaram
histórias dos horrores do Gulag para justificar os seus próprios crimes
– enquanto o sistema penitenciário soviético, baseado na reeducação, e
no qual havia bibliotecas, atividades independentes de prisioneiros e
tratamento (o mesmo Solzhenitsyn foi curado de cancro), é incomparável
com os campos de extermínio nazis, nos quais os abajures eram feitos com
pele humana.

 

Da mesma forma, é errado chamar a Estaline o czar vermelho – ele nunca o
foi, permaneceu até o fim dos seus dias um bolchevique, um leninista.
Estaline é uma imagem coletiva do que os anticomunistas não podem
aceitar. A experiência soviética, Estaline e, em certa medida, o sucesso
da China de hoje, estão a causar dores de cabeça aos capitalistas. Para
eles, esta é uma matriz incompreensível. Eles são incapazes de
compreender as razões do milagre económico e militar da URSS
estalinista. O ódio a Estaline dá-nos a nós, marxistas leninistas, a
chave para perceber o ódio dos imperialistas por qualquer forma de
organização social mais moderna que o capitalismo.

 

***

 

/Entrevista publicada em russo no /Pravda /nº 140 (31200) 21 a 22 de
dezembro de 2021 e disponível online em //https://tinyurl.com/2p9xhk6f//./

/Este artigo foi https://tinyurl.com/2p9xhk6fpublicado na /revista
Comunista /(Britain) Spring 2022, com tradução para o inglês pelo editor
do CR, usando recursos online. O livro de Aymeric Monville, /*Et pour
quelques bobards de plus (And for a Few More Canards) */foi publicado
por les Éditions Delga em 2020 e 2021 [pbk, 106 pp. € 10+ p&p, ISBN:
978-2-37607-189-1 ]  /

 

^1 Partido Comunista Bolchevique de toda a União é um partido fundado em
novembro de 1991  liderado por Nina Andreyeva, uma professora
universitária que ficou conhecida pela sua carta de 1988 "Não posso
desistir de meus princípios". Opõe-se ao Partido Comunista da Federação
Russa devido ao seu caráter "reformista" É também um crítico do regime
de Vladimir Putin. Em 1995 houve uma cisão no partido com a formação de
uma nova organização sob liderança de Alexander Lapin que tomaria a
denominação VKP(b)

 

/Fonte:
//https://mltoday.com/an-interview-with-aymeric-monville-on-Estaline//
<https://mltoday.com/an-interview-with-aymeric-monville-on-Estaline/>/,
publicado e accedido em 27.06.2022/

/Fonte da foto: //https://www.ebiografia.com/stalin//
<https://www.ebiografia.com/stalin/>

 Em
PELO SOCIALISMO
https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/uma-entrevista-com-aymeric-monville-204511
4/7/2022
***


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