quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Comunidade faz ato contra o fechamento de escola pública em Cotia






INTERSINDICAL

Professores e estudantes se uniram contra o fechamento da Escola Jornalista
Roberto Corte Real, localizada em Cotia/SP.

Hoje de manhã aconteceu um ato contra o fechamento da Escola Jornalista Roberto
Corte Real. O ato contou com algumas centenas de pessoas e paralisou a Rodovia
Raposo Tavares por cerca de 30 minutos.

A mobilização foi chamada pela comunidade da escola e teve o apoio e a
participação da APEOESP, da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, do
Núcleo Chico Mendes e da Juventude Libre.

Além da comunidade da escola Jornalista Roberto Corte Real, estiveram presentes
alunos e pais da escola Pequeno Cotolengo, que também está sob ameaça de
fechamento pelo governo estadual.

Amanhã à tarde, quarta-feira, haverá uma caravana das comunidades das escolas
Jornalista e Cotolengo para a Diretoria de Ensino a fim de exigir a reversão do
fechamento. A subsede da APEOESP alugou dois ônibus para a comunidade.

Na quinta-feira, às 07h, será a vez da mobilização em frente à escola Pequeno
Cotolengo. Está em curso uma tentativa de articulação das comunidades de todas
escolas diretamente afetadas – Jornalista e Cotolengo, sob ameaça de fechamento,
Ary Bouzan, que abrigaria somente o Fundamental II, e Vinícius de Moares, que se
tornaria exclusivamente de Ensino Médio. Em Vargem Grande o problema também
existe. O governo quer fazer do Valêncio uma escola de Ensino Médio e do São
Lucas e do Elias, Fundamental II.

A luta, entretanto, não pode se restringir ás escolas diretamente afetadas neste
momento, é preciso que todos e todas participem da mobilização contra essa
medida do governo.

IN
INTERSINDICAL
http://www.intersindicalcentral.com.br/comunidade-faz-ato-contra-o-fechamento-de-escola-publica-em-cotia/
7/10/2015

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O Partido Trabalhista britânico, o marxista McDonnell e a negação do défice





Mais um marxista "errático"

O Partido Trabalhista britânico, o marxista McDonnell e a negação do
défice

por Michael Roberts [*]

A eleição de um novo líder do Partido Trabalhista no Reino Unido, da
oposição, provocou um grande interesse nos media internacionais e entre
economistas. Isso porque o novo líder, Jeremy Corby e seu recém-nomeado
porta-voz para as finanças, John McDonnell, foram considerados como
"marxistas confessos".

É o caso de McDonnel. Ele é um "marxista confesso" porque diz que é. No
dia do seu discurso na conferência anual dos Trabalhistas, esta semana,
declarou: "Se você olhar para o nosso sistema capitalista, um dos
analistas definitivos do seu funcionamento – não se está condenado, ou se
está certo ou errado, apenas a mecânica de como ele funciona, quando foi
formado e como se desenvolveria – foi realmente Marx". E prosseguiu: "Marx
voltou à moda porque as pessoas retornaram à sua análise básica de como
exactamente o sistema funciona. As pessoas podem discordar das suas
conclusões acerca do que fazer com o sistema, mas realmente para entender
como o sistema funciona ele propõe algumas análises interessantes que
foram construídas dentro da teoria económica tradicional e razoavelmente
clássica".

Contudo, note-se que John McDonnell faz uma distinção entre a "análise
interessante" de Marx do sistema capitalista, isto é, do que está errado
nele, e "suas conclusões acerca do que fazer". Portanto, parece que da sua
análise não decorrem necessariamente políticas para lidar com o
capitalismo.

Que políticas adoptar? Bem, aparentemente prescrições keynesianas. Assim,
McDonnell anunciou um painel de conselheiros económicos , incluindo
luminárias internacionais como Joseph Stiglitz e Thomas Piketty, para
ajudar a elaborar a política económica. Este comité é extraído da corrente
principal keynesiana e das suas alas heterodoxas, mas não marxistas.

Estou certo de que isto parece um bom estratagema político para envolver
economistas importantes nos planos económicos do Labour. Não há dúvida
que espera desarmar a crítica dos media financeiros e do big business o
facto de um vencedor do Prémio Nobel e os economistas do momento estarem
no comité. Mas isto recorda-me mais a abordagem do Syriza da Grécia, o
qual começou com uma "análise" marxista do capitalismo grego mas que, de
acordo com Yanis Varoufakis e Costas Lapavitsas , deveria ser posta de
lado quando chegasse à política porque a teoria económica keynesiana é
mais relevante "na prática".

Para ele o problema está numa "falta de procura", não numa falta de
lucratividade . Assim, num declínio, prescrições keynesianas apelam a mais
gasto governamental ou uma reversão da "austeridade" (na linguagem
corrente), de modo a que o gasto promova o emprego e rendimentos e
restaure o consumo familiar (e o investimento?) como meio de recuperação.
Isso significa incorrer em défices orçamentais através de mais contracção
de empréstimos pelo governo (emissão de mais títulos).

Os keynesianos geralmente descartam aqueles (austeritários e neoliberais)
que se preocupam em que, como resultado, o disparo da dívida governamental
leve a uma nova crise quando governos descobrem que não podem aguentar seu
serviço de dívida excepto a taxas de juro incomportáveis (Grécia e
economias periféricas da Eurozona, Porto Rico, etc). Como se vê, para os
keynesianos, a dívida de um homem é o activo de outro . Assim, o único
problema é se são estrangeiros que possuem a dívida. Se eles pedirem
reembolso, podem então estropiar a divisa. Esta é a visão de Paul Krugman
nos EUA e de Simon Wren-Lewis, o guru keynesiano britânico, agora parte da
equipe de conselheiros de McDonnell.

Mas a dívida importa . Uma das características do crash financeiro global
foi a ascensão maciça de dívida do sector privado (famílias e corporações)
antes do esmagamento do crédito em 2007. Aquela dívida ascendeu quando
economias capitalistas tentaram manter a lucratividade do capital e o
crescimento económico alto através de uma baixa taxa de juro, da bolha
alimentada a crédito em sectores improdutivos da finança e da
propriedade. O crédito privado minguado (não a lucratividade minguada) é
a visão de Minsky da crise como foi descrita em particular por Steve Keen
e Anastasia Nesvetailova (uma das novas conselheiras de McDonnell).

Mas, como tenho explicado muitas vezes neste blog, o boom do crédito dos
anos 2000 foi uma resposta à lucratividade declinante do capital nos
sectores produtivos dos EUA, Reino Unido e outras economias importantes a
partir do fim da década de 1990. Ele protelou um grande declínio, só para
criar um ainda maior em 2008-9.

Trata-se de dívida do sector privado. Mas o mesmo se aplica à dívida do
sector público. Se os possuidores desta dívida (bancos, hedge funds,
fundos de pensão, companhias de seguros) decidirem que querem o seu
dinheiro de volta ou pedirem muito mais em juros para renovarem seus
empréstimos ou comprarem títulos governamentais, eles podem estropiar a
capacidade de um governo para pagar benefícios da previdência e serviços
públicos, sem falar em investimentos em estradas, hospitais e escolas.

A dívida importa numa economia capitalista: capitalistas devem a outros
capitalistas; famílias devem a capitalistas financeiros; e governos devem
a capitalistas financeiros. Os detentores desta dívida esperam um retorno
e reembolsos rápidos. Sob uma economia predominantemente detida pelo
Estado e planeada, companhias estatais, famílias e governos deveriam a
outras companhias estatais. Assim as decisões sobre o custo da tomada de
empréstimos e os termos do reembolso poderiam ser decididas como parte de
um plano nacional e não pelo "mercado" e com base na lucratividade do
capital (financeiro).

Ironicamente, tendo seleccionado keynesianos e minskyistas para a sua
equipe, John McDonnell deixou claro desde o começo que não é um "negador
do défice" . Com isto, ele quer dizer que não se pode ignorar [a
possibilidade de] incorrer em défices no orçamento do governo, como
consideram os keynesianos. Como disse McDonnel: "Aceitamos que vamos ter
de viver dentro dos nossos meios e sempre o faremos – ponto final". E ele
advoga a assinatura da carta fiscal do governo Conservador que tornará
lei o dever do governo de "equilibrar as contas" ao longo do "ciclo de
negócios" . "Nós apoiaremos a carta. Apoiaremos a carta na base de que
queremos equilibrar as contas, queremos viver dentro dos nossos meios e
consideraremos o défice".

Isto é claramente um estratagema político de McDonnell para evitar a
acusação feita pelos Conservadores de que os Trabalhistas, quando no
governo, permitiram que os défices saíssem do controle e assim provocassem
a crise e a Grande Recessão e de que os Trabalhistas não se preocupam em
"equilibrar as contas". Esta acusação, naturalmente, é sem sentido e uma
rematada mentira. Na verdade, quando no governo, os Trabalhistas
geralmente incorrem em défices mais baixos do que os Conservadores e sob o
"prudente" ministro das Finanças e primeiro-ministro Gordon Brown, os
gastos do governo foram bem mantidos sob controle, como destacou Ann
Pettifor, uma das novas conselheiras económicas de McDonnell .

O défice orçamental do Reino Unido disparou só quando começou o crash
financeiro global e bancos britânicos tiveram de ser salvos (bailed out)
com o dinheiro dos contribuintes (empréstimos). Isto impulsionou Gordon
Brown a dizer ao parlamento britânico que havia "salvado o mundo" (um
deslize de arrogância, significando que ele havia salvo os bancos). O
défice actual do governo, ainda mais alto do que em outras economias G7,
sob os Conservadores e com a dívida do governo ainda ascendendo rumo a
100% do PIB , foi o produto da crise capitalista (o colapso financeiro e a
consequente Grande Recessão).

McDonnell diz que este défice e a dívida do governo podem ser reduzidos
não por cortes na previdência e serviços públicos como os Conservadores
têm feito e continuam a fazer. Trata-se de uma escolha política. Ao invés
disso podem ser efectuados pela elevação de impostos sobre os ricos
(revertendo cortes em impostos corporativos e imposto sobre a herança),
reduzindo o "bem-estar corporativo" (cerca de £90 mil milhões por ano),
tratando agressivamente da evasão fiscal e evitando [isenções] como as da
Vodafone, Amazon, Google e Starbucks (no valor de £120 mil milhões por
ano). E os Trabalhistas sob McDonnel também estimulariam o crescimento
económico através da contracção de empréstimos para investir em projectos
de infraestrutura. McDonnell também estima que £80-100 mil milhões podiam
ser poupados (ao longo de 30 anos, ter em mente) sucateando o programa do
submarino nuclear Trident que deve ser renovado no próximo ano.

Por louváveis que sejam estes objectivos, como destaquei num post
anterior , grande parte destas medidas podem não proporcionar suficiente
receita extra para colmatar o défice – se este é o objectivo, além de
tornar a desigualdade de rendimento e riqueza, absurdamente alta, apenas
um pouco menos extrema. Tem sido destacado que será muito difícil
levantar os necessários £30 mil milhões extras por ano em impostos sem
atingir aqueles que ganham rendimentos médios – a menos que o crescimento
económico do Reino Unido descole dos actuais 2,0-2,5% ao ano de taxa de
expansão.

O problema podia ser facilmente resolvido se rendimentos do sector
privado (salários e lucros) subissem significativamente mais depressa a
fim de proporcionar receitas fiscais muito mais altas. Mas isso não está
em vias de acontecer sob uma economia predominantemente capitalista onde
a lucratividade é chave para o crescimento do investimento, do emprego e
do rendimento. O capitalismo britânico já deixou de investir, preferindo
embolsar seus lucros e/ou especular em activos financeiros ou investir no
exterior. E isso com a mais baixa taxa fiscal corporativa entre as
economias principais, como o ministro Conservador das Finanças, George
Osborne, gosta de jactar. Impostos mais altos sobre o sector capitalista,
nomeadamente as grandes companhias que investem e empregam a maior parte
da economia, significará apenas um novo fracasso em investir.

A "nova" liderança dos Trabalhistas substituindo a "velha" liderança (o
"New Labour", neoliberal) compromete-se a expandir o investimento público
em infraestrutura, sectores "verdes" e em habitação e transporte. Isto sem
dúvida ajudará a apoiar a actividade económica além de ajudar a maioria
ao invés dos 1%. Mas Corbyn e o National Investment Bank de McDonnell não
conseguirão proporcionar crescimento suficientemente mais rápido enquanto
a economia do Reino Unido nos seus sectores estratégicos ainda estiver
dominada por companhias capitalistas em busca de lucro na City de Londres
(banca privatizada, seguros e fundos de pensão), por companhias
construtoras de casas e de transportes (ferrovia, autocarros e aviação)
etc.

Juntamente com um Banco de Investimento Nacional (e banca de propriedade
totalmente estatal), o que é necessário é um Plano Nacional para
investimento, emprego e serviços baseado numa economia predominantemente
de propriedade do Estado, controlada e operada democraticamente. Mas isto
é a prescrição marxista a partir da "interessante" análise marxista da
economia capitalista. Ao invés disso, a nova liderança Trabalhista gosta
da "análise" marxista mas encara "soluções" keynesianas.

O capitalismo tem crises regulares e recorrentes – esta é uma conclusão
única da análise económica marxista, algo não aceite ou reconhecido pela
corrente prevalecente, a teoria económica keynesiana ou minskyistas. Como
argumentei num post anterior , o capitalismo britânico, juntamente com o
capital global, é provável que entre em outro desmoronamento (slump)
antes da próxima eleição geral britânica em 2020. Na verdade, McDonnell
também notou que reemergiram muitas das características que levaram à
última Grande Recessão: um boom de crédito, uma bolha habitacional,
especulação bancária, etc.

Os keynesianos não viram a aproximação do último desmoronamento (a Grande
Recessão) e não têm políticas para tratar disto, pelo menos no interesse
da maioria. Assim, confiar em políticas keynesianas para manusear ou
evitar o próximo desmoronamento, mesmo como estratagema político, pode
aprisionar o destino da nova liderança trabalhista.


30/Setembro/2015

[*] Economista, britânico.

O original encontra-se em thenextrecession.wordpress.com/...


IN
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/gb/british_labour.html
5/10/2015

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

British Labour, Marxist McDonnell and deficit-denying







Michael Roberts

The election of a new leader of the UK’s opposition Labour party has provoked a
flurry of interest in the international media and among economists. That’s
because the new leader, Jeremy Corbyn and his newly appointed finance spokesman,
John McDonnell, have been considered as ‘avowed Marxists’.



That is certainly the case for McDonnell. He is an ‘avowed Marxist’ because he
says he is. On the day of his big keynote economics speech at Labour’s annual
conference this week, he said that “If you look at our capitalist system, one of
the definitive analysts of how it works – not whether it is condemned, or
whether it is right or wrong, just the mechanics of how it works, when it was
formed and how it would be developed – actually was Marx.” He went on “If you
look at most of the institutions that are teaching economics today. Marx has
come back in to fashion because people have gone back to his analysis of just
the basics of how the system works. People might disagree with his conclusions
about what to do with the system, but actually to understand how the system
works he comes up with some interesting analyses that have been built in to
traditional and fairly classical economics.”

However, note that John McDonnell makes a distinction between Marx’s
‘interesting analysis’ of the capitalist system i.e. what is wrong with it, and
“his conclusions about what to do”. Thus Marxist policies for dealing with
capitalism do not necessarily flow from his analysis, it seems.

What policies do? Well, apparently, it is Keynesian prescriptions. Thus
McDonnell has announced a panel of economic advisers, including international
luminaries like Joseph Stiglitz and Thomas Piketty, to help on policy. This
committee is drawn from the Keynesian mainstream and its heterodox wings, but
not Marxist.

I’m sure that it looks like a very good political ploy to involve leading
economists in Labour’s economic plans. No doubt it is hoped that it will disarm
criticism from the financial media and big business when a Nobel prize winner
and the economist of the moment are on the committee. But this reminds me more
of the approach of Greece’s Syriza, which started out with a Marxist ‘analysis’
of Greek capitalism but which, according to Yanis Varoufakis and Costas
Lapavitsas, should be put aside when it comes to policy because Keynesian
economics is more relevant ‘in practice’.

You see the problem is a ‘lack of demand’, not a lack of profitability. So, in a
slump, Keynesian prescriptions call for more government spending or a reversal
of ‘austerity’ (in the current parlance), so that spending boosts employment and
incomes and restores household consumption (and investment?) as the means to
recovery. That means running budget deficits through more government borrowing
(issuance of more bonds).

Keynesians generally dismiss those (Austerians and neo-liberals) who worry that,
as a result, spiralling government debt will lead to a new crisis as governments
find they cannot service their debt except at unaffordable interest rates
(Greece and the peripheral Eurozone economies, Puerto Rico etc). You see, for
Keynesians, one man’s debt is another’s asset. So the only problem is if it is
foreigners who own the debt. If they demand repayment, they can cripple the
currency. This is the view of Paul Krugman in the US and Simon Wren-Lewis, the
British Keynesian guru, now part of McDonnell’s advisory team.

But debt does matter. One of the features of the global financial crash was the
massive rise in private sector debt (household and corporate) before the credit
crunch in 2007. That debt rose as capitalist economies tried to keep
profitability of capital and economic growth up through a low interest rate,
credit-fuelled bubble in unproductive sectors of finance and property. The
private credit bit (not the profitability bit) is the Minskyite view of the
crisis as expounded in particular by Steve Keen and Anastasia Nesvetailova (one
of the McDonnell’s new advisers).

But as I have explained on many occasions in this blog, the credit boom of the
2000s was a response to declining profitability of capital in the productive
sectors of the US, UK and other major economies from the end of the 1990s. It
staved off a major slump, only to create an even larger one in 2008-9.

That’s private sector debt. But the same issue applies to public sector debt.
If the owners of this debt (banks, hedge funds, pension funds, insurance
companies) decide that they want to get their money back or demand lots more in
interest to renew loans or buy government bonds, they can cripple the ability of
a government to pay for welfare benefits and public services, let alone
investment in roads, hospitals and schools.

Debt does matter in a capitalist economy: capitalists owe to other capitalists;
households owe to finance capitalists; and governments owe to finance
capitalists. The holders of this debt expect a return and prompt repayments.
Under a predominantly state-owned and planned economy, state companies,
households and governments would owe to other state companies. So the decisions
on the cost of borrowing and repayment terms could be decided as part of a
national plan and not by the ‘market’ and on the profitability of (finance)
capital.

Ironically, having selected Keynesians and Minskyites for his ‘team’, John
McDonnell has made it clear from the start that he is not a ‘deficit denier’.
By this, he means that he does accept that running government budget deficits
cannot be ignored, as the Keynesians reckon. As McDonnell put it: “We accept we
are going to have to live within our means and we always will do – full stop.”
And he advocates signing up to the Conservative government’s fiscal charter that
will make it a law that government’s must ‘balance the books’ over the ‘business
cycle’. “We will support the charter. We will support the charter on the basis
we are going to want to balance the books, we do want to live within our means
and we will tackle the deficit.”

This is clearly a political ploy by McDonnell to avoid the charge being made by
the Conservatives that Labour ,when in government, allowed deficits to get out
of control and thus caused the crisis and the Great Recession and that Labour
has no regard for ‘balancing the books’. This charge, of course, is nonsense and
a downright lie. Actually, when in government, Labour generally ran lower
budget deficits than the Conservatives and under ‘prudent’ finance minister and
PM Gordon Brown, government spending was kept well under control, as Ann
Pettifor, one of McDonnell’s new Keynesian advisers, has pointed out.

The UK’s budget deficit spiralled only when the global financial crash came and
British banks had to be bailed out with taxpayer’s money (borrowing). This
prompted Gordon Brown to tell the British parliament that he had ‘saved the
world’ (a slip of hubris, meaning he had saved the banks). The current
government deficit, still way higher than in other G7 economies under the
Conservatives and government debt still rising towards 100% of GDP, was the
product of the capitalist crisis (the financial meltdown and the ensuing Great
Recession).

McDonnell says that this deficit and the government debt can be reduced not by
cutting welfare and public services as the Conservatives have done and are
doing. It is a political choice. Instead it can be done by raising taxes on
the rich (reversing cuts in corporation tax and inheritance tax), reducing
‘corporate welfare’ (around £90bn a year), dealing aggressively with tax evasion
and avoidance by the likes of Vodafone, Amazon, Google and Starbucks (worth up
to £120bn a year). And Labour under McDonnell would also stimulate economic
growth by borrowing to invest in infrastructure projects. McDonnell also
estimates that £80-100bn could be saved (over 30 years, mind) by scrapping the
Trident nuclear submarine programme due for renewal next year.

Laudable as these aims are, as I have pointed out in a previous post, much of
these tax gathering measures may not deliver enough extra revenue to close the
deficit – if that is the aim, apart from making inequality of income and wealth,
ludicrously high, just a little less extreme. It has been pointed out that it
will be very difficult to raise the necessary extra £30bn a year in taxes
without hitting middle-income earners – unless UK economic growth takes off from
its current 2.0-2.5% a year expansion rate.

The circle could easily be squared if private sector incomes (wages and profits)
rose substantially faster to deliver much higher tax revenues. But that is not
going to happen under a predominantly capitalist economy where profitability is
key to investment, employment and income growth. British capitalism has already
failed to invest, preferring to pocket its profits and/or speculate in financial
assets or invest abroad. And that’s with the lowest corporate tax rate among
the major economies, as Conservative finance minister George Osborne likes to
boast. Higher taxes on the capitalist sector, namely the big companies that
invest and employ the bulk of the British economy and people, will only mean a
further failure to invest.

The ‘new’ Labour leadership replacing the ‘old’ (‘New Labour’, neo-liberal)
leadership is pledged to expand public investment in infrastructure, ‘green’
sectors and in housing and transport. This will undoubtedly help to sustain
economic activity apart from helping the majority instead of the 1%. But Corbyn
and McDonnell’s National Investment Bank will not be enough to deliver
sufficiently faster growth as long as the UK economy is still dominated in its
strategic sectors by capitalist profit-making companies in the City of London
(privatised banking, insurance and pension funds); by large pharma and aerospace
companies; telecoms (BT), house-building companies and transport (rail, bus and
airlines) etc.

Along with a National Investment Bank (and fully state-owned banking), what is
needed is a National Plan for investment, employment and services based on a
predominantly state-owned economy, democratically controlled and operated. But
that is the Marxist prescription from the ‘interesting’ Marxist analysis of the
capitalist economy. Instead, the new Labour leadership likes the Marxist
‘analysis’ but looks to Keynesian ‘solutions’.

Capitalism has regular and recurring crises – that’s one unique conclusion from
the Marxist economic analysis, something not accepted or recognised by
mainstream, Keynesian or Minskyite economic theory. As I argued in a previous
post, British capitalism, along with global capital, is likely to enter another
slump before the next British general election in 2020. Indeed, McDonnell has
also noted that many of the features that led to the last Great Recession: a
credit boom, a housing bubble, bank speculation etc, have re-emerged.

Keynesians did not see the last slump (the Great Recession) coming and did not
have the policies to deal with it, at least in the interests of the majority.
So relying on Keynesian policies to handle or avoid the next slump, even as a
political ploy, may be a hostage to fortune for the new Labour leadership.


In
Michael Roberts Blog
https://thenextrecession.wordpress.com/2015/09/30/british-labour-marxist-mcdonnell-and-deficit-denying/
September 30, 2015.

sábado, 3 de outubro de 2015

O acto revolucionário de contar a verdade





por John Pilger

"Num tempo de fraude universal, contar a verdade é um acto
revolucionário", disse George Orwell.

Estes são tempos negros, nos quais a propaganda da fraude afecta todas as
nossas vidas. É como se a realidade política houvesse sido privatizada e a
ilusão legitimada. A era da informação é uma era medieval. Temos política
através dos media; censura através dos media; guerra através dos media;
represália através dos media; diversão através dos media – uma linha de
montagem surreal de clichés e falsas suposições.

Uma tecnologia assombrosa torna-se tanto nossa amiga como nossa inimiga.
Todas as vezes que ligamos um computador ou escolhemos um dispositivo
digital – nossos rosários leigos – estamos sujeitos a controle: à
vigilância dos nossos hábitos e rotinas, e a mentiras e manipulação.

Edward Bernays, que inventou a expressão "relações públicas" como
eufemismo para "propaganda", previu isto há mais de 80 anos. Chamou a isto
"o governo invisível".

Escreveu ele: "Aqueles que manipulam este elemento não visto da [moderna
democracia] constituem um governo invisível a qual é o verdadeiro poder
dominante do nosso país... Somos governados, nossas mentes são moldadas,
nossos gostos formados, nossas ideias sugeridas, em grande medida por
homens de que nunca ouvimos falar..."

O objectivo deste governo invisível é a conquista de nós próprios: da
nossa consciência política, do nosso sentido do mundo, da nossa capacidade
para pensar independentemente, de separar verdades de mentiras.

Isto é uma forma de fascismo, uma palavra que justificadamente usamos com
cautela, preferindo deixá-la num passado hesitante. Mas um insidioso
fascismo moderno é agora um perigo que se acelera. Tal como nos anos
1930, grandes mentiras são apresentadas com a regularidade de um
metrónomo. Muçulmanos são maus. Fanáticos sauditas são bons. Fanáticos do
ISIS são maus. A Rússia é sempre má. A China está a ficar má. Bombardear a
Síria é bom. Bancos corruptos são bons. Dívida corrupta é boa. A pobreza
é boa. A guerra é normal.

Àqueles que questionam estas verdades oficiais, este extremismo,
considera-se que precisam de uma lobotomia – até serem diagnosticados
como aderindo à linha. A BBC proporciona este serviço gratuitamente. Se
deixar de se submeter será etiquetado como um "radical" – seja o que for
que isso signifique.

A dissidência real tornou-se exótica; mas aqueles que dissidem nunca
foram tão importantes. O livro que estou a lançar esta noite, "The
WikiLeaks Files" [1] , é um antídoto para um fascismo que nunca pronuncia
o seu nome. É um livro revolucionário, assim como a própria WikiLeaks é
revolucionária – exactamente como pretendia Orwell na citação que
mencionei no princípio. Pois ele diz que não precisamos aceitar estas
mentiras diárias. Não precisamos permanecer em silêncio. Ou, como cantou
outrora Bob Marley: "Emancipe-se da escravidão mental".

Na introdução, Julian Assange explica que nunca é suficiente publicar as
mensagens secretas dos grandes poderes: que perceber o sentido delas é
crucial, assim como colocá-las no contexto de hoje e na memória histórica.

Este é o feito notável desta antologia, a qual recupera a nossa memória.
Ela conecta as razões e os crimes que provocaram tanta tempestade humana,
desde o Vietname e a América Central até o Médio Oriente e a Europa do
Leste, com a matriz na potência rapinante, os Estados Unidos.

Há actualmente uma tentativa americana e europeia de destruir o governo
da Síria. O primeiro-ministro David Cameron está especialmente
entusiasmado. Este é o mesmo David Cameron de que me recordo como um
untuoso homem de RP empregado por um desmembrador de empresas (asset
stripper) da televisão comercial independente da Grã-Bretanha.

Cameron, Obama e o sempre obsequioso François Hollande querem destruir o
último remanescente da autoridade multi-cultural na Síria, uma acção que
certamente abrirá caminho para os fanáticos do ISIS.

Isto é insano, naturalmente, e a grande mentira justificando esta
insanidade é que é em apoio aos sírios que se levantam contra Bashar
al-Assad na Primavera Árabe. Como revela The WikiLeaks Files, a destruição
da Síria é desde há muito um cínico projecto imperial que antecede o
levantamento da Primavera Árabe contra Assad.

Para os dominadores do mundo em Washington e na Europa, o verdadeiro
crime da Síria não é a natureza opressiva do seu governo mas a sua
independência em relação ao poder americano e israelense – assim como o
verdadeiro crime do Irão é a sua independência, e o verdadeiro crime da
Rússia é a sua independência, e o verdadeiro crime da China é a sua
independência. Num mundo possuído pela América, a independência é
intolerável.

Este livro revela estas verdades, uma após a outra. A verdade sobre uma
guerra ao terror que foi sempre uma guerra de terror; a verdade sobre
Guantanamo, a verdade sobre o Iraque, o Afeganistão, a América Latina.

Nunca contar a verdade foi tão urgentemente necessário. Com honrosas
excepções, aqueles nos media pagos aparentemente para manter as coisas
claras estão agora absorvidos dentro de um sistema de propaganda que já
não é jornalismo, mas anti-jornalismo. Isto é verdadeiro tanto para
liberais e respeitáveis como para Murdoch. A menos que esteja preparado
para monitorar e desconstruir toda afirmação especiosa, as assim chamadas
"notícias" tornaram-se inassistíveis e ilegíveis.

Ao ler "The WikiLeaks Files" recordei as palavras do falecido Howard
Zinn, que muitas vezes referia-se a "um poder que governos não podem
suprimir". Isto descreve a WikiLeaks e descreve a verdade dos
denunciantes que partilham a sua coragem.

Numa nota pessoal, tenho conhecido pessoas da WikiLeaks desde há algum
tempo. Que tenham alcançado o que fizeram em circunstâncias que não foram
da sua escolha é uma fonte de admiração constante. O seu resgate de Edward
Snowden vem à mente. Tal como ele, eles são heróicos: nada menos.

O capítulo de Sarah Harrison, "Indexing the Empire", descreve como ela e
seus camaradas estabeleceram toda uma Biblioteca Pública da Diplomacia dos
EUA. Há mais de dois milhões de documentos, agora disponíveis para todos.
"Nosso trabalho", escreve ela", "destina-se a assegurar que a história
pertence a todos". Quão emocionante é ler estas palavras, as quais se
mostram também um tributo à sua própria coragem.

Do confinamento numa sala da embaixada equatoriana em Londres, a coragem
de Julian Assange é uma resposta eloquente aos covardes que o enlamearam e
à potência canalha que procura vingar-se sobre ele e travar uma guerra à
democracia.

Nada disto desviou Julian e seus camaradas da WikiLeaks: nem um
milímetro. Não será alguma coisa?


30/Setembro/2015

[1] The WikiLeaks Files: the World According to the US Empire é publicado
pela Verso .

O original encontra-se em
http://johnpilger.com/articles/the-revolutionary-act-of-telling-the-truth

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .



IN
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/pilger/pilger_30set15.html
30/9/2015

The revolutionary act of telling the truth





By John Pilger


George Orwell said, "In a time of universal deceit, telling the truth is a
revolutionary act."


These are dark times, in which the propaganda of deceit touches all our lives.
It is as if political reality has been privatised and illusion legitimised. The
information age is a media age. We have politics by media; censorship by media;
war by media; retribution by media; diversion by media - a surreal assembly line
of clichés and false assumptions.


Wondrous technology has become both our friend and our enemy. Every time we turn
on a computer or pick up a digital device - our secular rosary beads - we are
subjected to control: to surveillance of our habits and routines, and to lies
and manipulation.


Edward Bernays, who invented the term, "public relations" as a euphemism for
"propaganda", predicted this more than 80 years ago. He called it, "the
invisible government".



He wrote, "Those who manipulate this unseen element of [modern democracy]
constitute an invisible government which is the true ruling power of our
country... We are governed, our minds are molded, our tastes formed, our ideas
suggested, largely by men we have never heard of... "



The aim of this invisible government is the conquest of us: of our political
consciousness, our sense of the world, our ability to think independently, to
separate truth from lies.



This is a form of fascism, a word we are rightly cautious about using,
preferring to leave it in the flickering past. But an insidious modern fascism
is now an accelerating danger. As in the 1930s, big lies are delivered with the
regularity of a metronome. Muslims are bad. Saudi bigots are good. ISIS bigots
are bad. Russia is always bad. China is getting bad. Bombing Syria is good.
Corrupt banks are good. Corrupt debt is good. Poverty is good. War is normal.


Those who question these official truths, this extremism, are deemed in need of
a lobotomy - until they are diagnosed on-message. The BBC provides this service
free of charge. Failure to submit is to be tagged a "radical" - whatever that
means.


Real dissent has become exotic; yet those who dissent have never been more
important. The book I am launching tonight, 'The WikiLeaks Files', is an
antidote to a fascism that never speaks its name. It's a revolutionary book,
just as WikiLeaks itself is revolutionary - exactly as Orwell meant in the quote
I used at the beginning. For it says that we need not accept these the daily
lies. We need not remain silent. Or as Bob Marley once sang: "Emancipate
yourself from mental slavery."


In the introduction, Julian Assange explains that it is never enough to publish
the secret messages of great power: that making sense of them is crucial, as
well as placing them in the context of today and historical memory.


That is the remarkable achievement of this anthology, which reclaims our memory.
It connects the reasons and the crimes that have caused so much human turmoil,
from Vietnam and Central America, to the Middle East and Eastern Europe, with
the matrix of rapacious power, the United States.


There is currently an American and European attempt to destroy the government of
Syria. Prime Minister David Cameron is especially keen. This is the same David
Cameron I remember as an unctuous PR man employed by an asset stripper of
Britain's independent commercial television.


Cameron, Obama and the ever obsequious Francois Hollande want to destroy the
last remaining multi-cultural authority in Syria, an action that will surely
make way for the fanatics of ISIS.


This is insane, of course, and the big lie justifying this insanity is that it
is in support of Syrians who rose against Bashar al-Assad in the Arab Spring. As
The WikiLeaks Files reveals, the destruction of Syria has long been a cynical
imperial project that pre-dates the Arab Spring uprising against Assad.


To the rulers of the world in Washington and Europe, Syria's true crime is not
the oppressive nature of its government but its independence from American and
Israeli power - just as Iran's true crime is its independence, and Russia's true
crime is its independence, and China's true crime is its independence. In an
American-owned world, independence is intolerable.


This book reveals these truths, one after the other. The truth about a war on
terror that was always a war of terror; the truth about Guantanamo, the truth
about Iraq, Afghanistan, Latin America.


Never has such truth-telling been so urgently needed. With honourable
exceptions, those in the media paid ostensibly to keep the record straight are
now absorbed into a system of propaganda that is no longer journalism, but
anti-journalism. This is true of the liberal and respectable as it is of
Murdoch. Unless you are prepared to monitor and deconstruct every specious
assertion, so-called news has become unwatchable and unreadable.


Reading The WikiLeaks Files, I remembered the words of the late Howard Zinn, who
often referred to "a power that governments can't suppress". That describes
WikiLeaks, and it describes true whistleblowers who share their courage.


On a personal note, I have known the people of WikiLeaks for some time now. That
they have achieved what they have in circumstances not of their choosing is a
source of constant admiration. Their rescue of Edward Snowden comes to mind.
Like him, they are heroic: nothing less.


Sarah Harrison's chapter, 'Indexing the Empire', describes how she and her
comrades set up an entire Public Library of US Diplomacy. There are more than
two million documents, now available to all. "Our work," she writes, "is
dedicated to making sure history belongs to everyone." How thrilling it is to
read those words, which also stand as a tribute to her own courage.


From the confinement of a room in the Ecuadorean embassy in London, the courage
of Julian Assange is an eloquent response to the cowards who have smeared him
and the rogue power seeking revenge on him and waging a war on democracy.


None of this has deterred Julian and his comrades at WikiLeaks: not one bit.
Isn't that something?



The WikiLeaks Files: the World According to the US Empire is published by Verso

Follow John Pilger on twitter @johnpilger


IN
Johnpilger.com
http://johnpilger.com/articles/the-revolutionary-act-of-telling-the-truth
30 September 2015

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

LA TRANSICIÓN A UNA ECONOMÍA LIBERTARIA





Por José Luis Carretero Miramar.



Un muy respetable compañero, y dinosaurio virtual por
elección, me pidió hace un tiempo, una aportación a un posible
“programa económico” para el movimiento libertario. Tenía
poco tiempo para elaborarlo, pero lo que se buscaba, en el
fondo, era abrir el debate para la redacción de un libro. Esto
es, básicamente, lo que le envié, creo que, ahora, puede
servir también, más que como guía cerrada o aparato dogmático
de cosas que ni yo tengo del todo claras, como texto impulsor
de un debate sobre el postcapitalismo cada vez más urgente.

La transformación social necesaria para poner en marcha una
economía enteramente volcada en un paradigma socialista
libertario precisa de un proceso de afianzamiento y
desarrollo que implica varias etapas, temporalmente
delimitadas. La construcción de una nueva sociedad y una nueva
economía necesita de un desarrollo gradual, y al tiempo
afianzado en momentos de ruptura revolucionaria del orden
precedente.

Se trata de un proceso de transición que empieza por avances
sociales que empoderen a las fuerzas que los obtienen, y a las
clases implicadas en la lucha por su consecución. Estos
avances van desplegando sus efectos, variando el status quo
anterior, reforzando las posturas libertarias, y acumulando
las fuerzas necesarias que deberán expresarse con plena
amplitud en los momentos de quiebra revolucionaria abierta, en
los que los procesos de avance se acelerarán.

Esta visión dinámica del proceso de construcción de una
sociedad transformada, frente a las conceptualizaciones
puramente estáticas que dibujan el escenario deseado, pero se
niegan a imaginar y desentrañar como alcanzarlo desde la
situación actual, empieza por la delimitación de un programa
mínimo para plantear en el momento actual.

El que esas medidas para el ahora se agoten en sí mismas, en
la forma de avances puramente reformistas que intenten
estabilizar el capitalismo, o permitan realmente acumular
fuerzas para un proyecto revolucionario que propone su
superación, no depende tan sólo de como hayan sido redactadas,
sino también de las formas en que han sido alcanzadas (en el
marco de un proceso de auto-organización de la clase
trabajadora, o bajo la dirección de fuerzas socialdemócratas
externas) y de la misma textura del proceso de luchas que
lleva a su obtención (que puede generar consciencia de la
dominación y de la explotación, así como de las posibilidades
de autodeterminación de las clases subalternas, o configurarse
como un “regalo” de dirigentes carismáticos o un producto de
la evolución normal de la sociedad del Capital).

Estas medidas mínimas para el ahora se delinean entorno a la
idea de que puedan, realmente, reforzar la posición de la
clase trabajadora, variando el status quo actualmente
existente, totalmente desfavorable para ella, y permitiendo y
popularizando las experiencias de autogestión y
auto-organización factibles en esta primera fase. Algunas de
ellas podrían ser las siguientes, indicadas sin pretensiones
de exhaustividad:

-Medidas tendentes a encarar el problema de la deuda, que ha
alcanzado a ser central en nuestra sociedad, y a impedir la
transformación del capitalismo en un régimen renovado de
servidumbre por deudas. Estamos hablando de todas las deudas,
tanto la deuda pública de los Estados periféricos, como la
hipotecaria o de consumo de las familias trabajadoras. Medidas
como la auditoría y repudio, y moratoria de los pagos
mientras se realiza lo anterior, de todas las deudas
ilegítimas, ilegales , usurarias, las sustentadas en cláusulas
abusivas y las obtenidas para fines antisociales como el
enriquecimiento de políticos, financieros e inversores
transnacionales.

Esto implica una política de vivienda enteramente diferente,
que pasa por la legalización de la ocupación de los inmuebles
vacíos de las entidades financieras que han sido rescatadas
con dinero público por las personas en situación de necesidad
económica, el fomento de la vivienda cooperativa
(estableciendo mecanismos de control que impidan que
constructores pirata se camuflen de supuestas cooperativas
para llevar a cabo actividades inmobiliarias) y la
constitución de un parque de vivienda pública en alquiler
social con los inmuebles de que actualmente dispone la Sareb.
Este parque público será gestionado por los propios habitantes
de manera participativa y autogestionaria, prohibiendo
cualquier enajenación o externalización de servicios a fondos
de inversión, fondos buitre o sociedades inmobiliarias.
También debe gravarse con impuestos específicos a los grandes
tenedores de vivienda, e incluir forzosamente en el parque de
vivienda bajo alquiler social aquellas que no cumplan función
social alguna durante un período excesivo de tiempo.

Los suministros básicos para la habitabilidad (calefacción,
luz, agua..) deben de ser prestados de manera gratuita y
pública para las familias de trabajadores precarios y sin
recursos, y deben de ser gestionados por Consejos mixtos de
trabajadores, representantes de las entidades locales y
usuarios, sin que puedan ser externalizados en manera alguna a
las entidades privadas y fondos de inversión.

-Medidas tendentes a la configuración de las bases legales y
prácticas para el inicio de la trasformación de la propiedad
pública en comunal-comunitaria, estableciendo mecanismos de
participación activa en lo público para los trabajadores de
los servicios concernidos, los usuarios y organismos locales
comunales de nueva creación, de ámbito local o distrital,
basados en la democracia directa y asamblearia y con
competencias en ampliación constante y recursos procedentes de
los impuestos progresivos devengados en su territorio , así
como de un Fondo Interterritorial de Compensación y
Solidaridad que garantice el trasvase de recursos de las zonas
y barrios ricos a los espacios obreros y degradados.

-Medidas destinadas a hacer frente a la huella ecológica y
garantizar la transición a una economía verde sin necesidad de
un colapso traumático: fomento de la economía local y comarcal
y de la agroecología, establecimiento de límites y controles a
los flujos económicos transnacionales y globales, lábel
sindical y ecológico para los productos comercializados, que
garantice la equidad de género, la sostenibilidad y la
justicia social en su producción; fomento del transporte
público y eliminación de actividades excesivamente
contaminantes. Fomento de las fuentes energéticas renovables
sobre la base de un modelo distribuido que permita la
autonomía energética de los espacios locales.

Para hacer frente a una transición que implica el
decrecimiento en la producción material de cachivaches y la
disminución de la concentración urbana, medidas tendentes a
establecer servicios sociales y culturales públicos y
comunal-comunitarios suficientes en el campo, así como
transportes comunitarios comarcales. También, trabajar para
desconcentrar y hacer sostenibles ciudades con un tamaño
humano, mediante la apertura de zonas verdes, transportes
públicos y huertos comunitarios, y el fomento de la economía
barrial e integrada mediante la limitación de horarios
comerciales o la exigencia de lábel sindical, social y
ecológico para las grandes superficies.

-Fomento del trabajo cooperativo y autogestionario, la pequeña
empresa local y el trabajo autónomo sin situación de
dependencia de cadenas de valor ajenas (es decir, que no
consista en la configuración legal de formas de
subcontratación sobre “falsos autónomos” o “falsas
cooperativas” realmente dependientes de una principal mucho
mayor, muchas veces transnacional). Creación de un tejido
económico propio con base en lo solar y en lo sostenible
social y ambientalmente. Banca pública-comunitaria y
cooperativa, y fiscalidad progresiva orientada al fomento de
sectores de la economía real auto-centrada , así como de los
cuidados y la complejidad cultural y cognitiva. Esto implica
control de los flujos transnacionales de capital y prohibición
de la apropiación por fondos buitres y otros vehículos de
inversión especulativa de las actividades estratégicas y las
relacionadas con las necesidades básicas de la población.

-Política redistributiva encaminada a una mayor equidad en las
rentas de la población, así como a un reforzamiento de la
influencia del trabajo organizado sobre la legislación y la
vida cotidiana de las empresas y centros de producción.
Disminución de la jornada laboral, sin pérdida de salario, y
puesta en marcha de programas de Trabajo Garantizado para los
desempleados, bajo control y dirección de los organismos
comunal-comunitarios. Eliminación del IVA y puesta en marcha
de impuestos progresivos sobre los beneficios empresariales,
las grandes fortunas y las transacciones financieras
internacionales.

Nacionalización de los sectores estratégicos, estableciendo
mecanismos de cogestión o control obrero, más o menos
avanzados según la relación de fuerzas, en ellos y en las
grandes empresas, ya sean públicas o privadas. Creación de
organismos asamblearios de consumidores capaces de participar
en la gestión de la propiedad pública, junto a los
trabajadores y los organismos comunales locales. Recuperación
de la soberanía monetaria y de los controles de capitales
hasta donde se pueda. Salida del CIADI y no renovación de
compromisos internacionales que supongan cesión de soberanía
económica o cláusulas que pongan en peligro el espacio
económico nacional y los derechos fundamentales.

Eliminación de las subvenciones a las organizaciones
empresariales. Nuevo modelo de negociación colectiva basado en
las asambleas de trabajadores, en la primacía del convenio de
ámbito superior (que sólo podrá ser mejorado por el inferior,
pero nunca empeorado), en la legalización de los convenios por
lugar de trabajo o cadena de valor (aunque implique a empresas
de distintos sectores o ámbitos geográficos) y a nivel de
grupo de empresas. Prohibición de la subcontratación y las
ETTs. Creación de un servicio de empleo comunal-comunitario
con competencias reales, con prohibición de externalizar sus
funciones a empresas privadas. El despido declarado
improcedente por los tribunales conllevará readmisión
obligatoria en el centro de trabajo. Fomento del servicio de
inspección de trabajo y adopción de la normativa más exigente
a nivel global en el ámbito de la Prevención de Riesgos
Laborales.

-Desarrollo de mecanismos de formación e investigación
accesibles para todos. Educación gratuita, laica y pública en
todos los niveles (incluidos posgrados). Favorecimiento de los
procesos de innovación educativa, abriendo espacios para
escuelas cooperativas que garanticen perspectivas
experimentales en las aulas. Formación integral que tienda a
eliminar diferencias entre trabajadores manuales e
intelectuales, introduciendo elementos físicos en las carreras
universitarias y conocimientos humanísticos en la Formación
Profesional. Fin de los conciertos con entidades privadas.
Creación de un Banco Colectivo de Conocimientos, donde los
ciudadanos puedan intercambiar capacidades y conocimientos
técnicos de manera autónoma. Promoción de la educación no
reglada y de los centros sociales autogestionados,
dependientes de los organismos locales comunal-comunitarios.
Creación de centros estratégicos de innovación empresarial y
tecnológica a nivel local y sectorial con espacio y
suficientes recursos públicos para iniciativas cooperativas y
sociales, así como acceso directo y funcional al Banco
Colectivo de Conocimientos.

-Amplio reconocimiento colectivo de los luchadores por la
libertad, la República y la Revolución Social. Introducción
en los planes de estudio del conocimiento crítico y el debate
sobre las biografías de revolucionarios, escritores,
científicos y otras personas que hayan realizado destacadas
contribuciones al bienestar común, sea a escala local,
nacional o global. Retirada de los símbolos fascistas del
ámbito público, así como de los representativos de creencias
religiosas específicas.

Tras el afianzamiento de una nueva relación de fuerzas
Capital-Trabajo, basada en la consecución de las medidas
anteriores, que permita el paso a un desarrollo mayor de las
tendencias transformadoras, deberían plantearse nuevas
propuestas de avance al socialismo libertario (ya con todas
las letras), como las siguientes, que se plantean a título
puramente ejemplificativo:

-Colectivización de la Banca y de las grandes empresas, así
como de los sectores estratégicos y los relacionados con las
necesidades básicas de la población. La colectivización puede
hacerse por la vía de un impuesto de sucesiones
obligatoriamente pagadero en acciones empresariales, o por la
vía de la expropiación, indemnizada o no en función de la
situación evolutiva o de ruptura de la sociedad.

-Socialización de las viviendas de los grandes tenedores y
conformación de un parque comunal-comunitario de edificios con
ellas y el parque público de vivienda bajo alquiler social. El
alquiler será sustituido por el usufructo vitalicio y la
gestión será entregada a los organismos comunal-comunitarios,
permitiendo la permuta de viviendas temporal o definitiva
entre los habitantes.

-Los organismos comunal-comunitarios sustituirán a los
ayuntamientos en todas sus competencias. Se establecerán
Consejos comarcales, regionales y nacionales de coordinación
de los organismos comunal-comunitarios que irán sustituyendo
al aparato estatal y que se encargarán de la totalidad de los
servicios públicos para la ciudadanía. Lo esencial de la vida
económica se planificará de manera participativa con la
intervención de los Consejos de Trabajadores y de los Consejos
de Usuarios concernidos. Se permitirán formas de mercado sin
uso de trabajo asalariado en el comercio de proximidad, así
como la pequeña empresa o la explotación agraria familiar que
obtenga el lábel comunal

-Se establecerá el lábel comunal (sindical, ecológico, de
género y social) obligatorio para todos los productos
comercializados. Este lábel se aplicará también a las
importaciones no estratégicas (las de productos estratégicos
sólo podrán realizarlas los organismos públicos).

-Se limitará drásticamente la utilización del trabajo
asalariado, permitiéndolo sólo en pequeñas cantidades y para
las pequeñas empresas y las explotaciones familiares, en
momentos específicos y por necesidades de producción
(estacionales, etc) muy concretas. Las condiciones de trabajo
de los trabajadores asalariados serán vigiladas directamente
por los Consejos de Trabajadores de la localidad concernida,
que podrán revocar el permiso para su utilización. Si hay
trabajadores desempleados recibirán una prestación vitalicia
de subsistencia o una cantidad para la puesta en marcha de una
actividad económica como autónomos o como socios de una
cooperativa. La selección de personal de todas las empresas se
realizará obligatoriamente por un Servicio de Empleo público
dependiente de los Consejos de Trabajadores, con mecanismos de
control comunal-comunitario para evitar cualquier tipo de
corrupción o burocratización.

-Prohibición de la venta de activos a corto en la Bolsa y de
los derivados financieros, así como de la entrada en el
mercado nacional de hedge funds y otros vehículos de inversión
especulativa. Socialización definitiva de la Banca. Ligazón de
la moneda a la riqueza producida en la economía. Puesta en
marcha de experimentos locales de diversas clases de moneda
social y criptomoneda social con los recursos imprescinidbles,
para obtener los conocimientos necesarios para la
socialización de la moneda.

- Colectivización de las tierras que no puedan ser trabajadas
por la familia de su propietario, sin necesidad de trabajo
asalariado salvo para determinadas labores estacionales o
auxiliares. Estas tierras pasarán a formar la columna
vertebral de la propiedad comunal-comunitaria en el campo, y
serán gestionadas por los propios campesinos.

Todas las líneas programáticas aventuradas hasta ahora son
esencialmente tentativas, y han de estar abiertas al debate
permanente, lo más amplio y riguroso que sea posible, ya que
deben ser enormemente sensibles a la situación real y a los
contornos concretos de la lucha de clases. Momentos de
crecimiento acelerado de la consciencia de las clases
populares, o de grandes conflictos, pueden abrir la espita que
permita poner en primera línea propuestas del programa de
avance socialista o del programa máximo, antes de que se hayan
alcanzado propuestas importantes del mínimo. Asimismo,
momentos de lenta acumulación de fuerzas y de construcción de
una ligazón estrecha con las masas populares, al estilo de lo
realizado por los zapatistas en la década anterior a su
aparición pública de 1994, pueden sustentarse en la
popularización y debate de líneas programáticas mínimas, pero
de amplia importancia para la existencia cotidiana de las
clases populares. Las situaciones de quiebra y vacío de poder
deben de ser aprovechadas, pero el ensimismamiento en las
reclamaciones más radicales, o en el “horizonte radiante de la
Humanidad”, sin aterrizarlo en la forma de la construcción
concreta de alternativas para el ahora mismo, debe ser
limitado.

Así pues un programa de construcción del socialismo libertario
debe estar siempre abierto, y sus militantes deben aguzar los
oídos para saber identificar las necesidades y los deseos de
las clases subalternas. Lo escrito aquí es una simple
propuesta, el redactado de un programa auténticamente
operativo para las décadas venideras precisaría de un proceso
colectivo y masivo de reapropiación y debate de largo
recorrido.

Esperamos, en todo caso, haber podido contribuir a ese debate
con la mejor de nuestras intenciones y una perspectiva lo
suficientemente amplia.


In
ICEA Instituto de Ciencias Económicas y de la Autogestión
http://iceautogestion.org/
s/d
[2-10-2015]

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Viagem ao Brasil ***

Viagem ao Brasil

por Jorge Figueiredo

Rever o Brasil depois de alguns anos de ausência provoca uma impressão
dolorosa. O Brasil é hoje um país arruinado e agora em crise profunda –
económica, social e política. A queda da cotação do real é vertiginosa;
falta água na Grande S. Paulo (39 municípios); no estado de S. Paulo está
previsto o desaparecimento de 610 mil postos de trabalho até o fim do ano
(Estadão, 17/Set/2015); a Petrobrás ameaça entrar em incumprimento ; os
escândalos de corrupção (endémicos) sucedem-se; as exportações de
commodities mirram tanto em termos de preço como de quantidade; a reacção
– leia-se o capital financeiro – está na ofensiva.

Apesar dos seus gigantescos recursos naturais, o país hoje encontra-se
exangue e o seu povo passa privações. A social-democracia lulista
malbaratou todas as oportunidades que teve. Hoje o PT é um dos partidos
mais odiados do Brasil e a presidente Dilma é refém das forças
reaccionárias que o lulismo tanto acarinhou. Ela acaba de comprar, ao
preço de sete ministérios, o apoio do PMDB no Congresso.

É em meio a esse caos que surgem os numerosos pedidos de impeachement da
presidente Dilma. Trata-se de uma arma da direita para chantagear a
presidente e forçá-la à capitulação total, ou seja, a fazer ainda mais
cedências do que já fez até agora. Dada a sua docilidade, é de supor que a
ameaça da utilização da arma do impeachment baste para que a reacção
alcance seus objectivos e consiga tudo o que quer sem chegar a interromper
o seu mandato.

O actual Congresso, em que o PT está em minoria, é um dos mais corruptos
da história do Brasil. Há quem o chame o Congresso BBB
(boiada-banqueiros-bispos), pois é dominado por latifundiários
pecuaristas, banqueiros e "bispos" de seitas evangélicas. A presidente
está nas mãos desse parlamento. Já lhe fez tantas cedências que
descaracterizaram totalmente as tímidas medidas sociais-democratas do PT.

Neste momento o Brasil assiste ao fracasso do lulismo. A sua figura de
proa, Lula, pôde avançar graças à "bênção" da ditadura militar. Quando
esta estava nos seus estertores, o general Golbery, seu ideólogo
principal, receava que o fim da repressão ao movimento operário
provocasse a ascensão dos comunistas nos sindicatos. Provocou assim uma
repressão ainda mais brutal contra dirigentes operários comprometidos com
a sua classe e deu graus de liberdade aos indivíduos que defendiam o
chamado "sindicalismo de resultados". Isso permitiu o começo da carreira
política de Lula, a qual depois extrapolou o movimento sindical. Além
disso, antes de tomar posse no seu primeiro mandato (2002), Lula garantiu
por escrito a manutenção da política económica neoliberal do seu
antecessor F. H. Cardoso (PSDB). O documento foi chamado de "Carta aos
Brasileiros", mas mais adequadamente deveria ser chamado de "Carta aos
Capitalistas".

A social-democracia retardatária implantada com o lulismo é um mostruário
perfeito dos malefícios do neoliberalismo. O lulismo não tinha e não tem
uma estratégia de desenvolvimento e, muito menos, qualquer veleidade de
transcender o modo de produção capitalista. Limitou-se a aproveitar o boom
das commodities, provocando a reprimarização da economia brasileira e
afunilando-a na exportação de produtos de pouco valor acrescentado
(minérios em bruto, soja, etc) a fim de obter receitas. Enquanto durou o
boom, essas receitas serviram em parte para modestas políticas
assistencialistas (programas Fome Zero, Minha Casa-Minha Vida, etc). Mas
pouco serviram para incrementar o desenvolvimento real do país. Hoje a
indústria brasileira tende à obsolescência e a Reforma Agrária (outrora
bandeira do lulismo) há muito que foi posta entre parênteses. Isto se
reflecte em tudo. Na educação por exemplo: para exportar produtos
primários não é preciso ciência nem gente muito instruída. Assim, todos os
níveis do ensino público estão degradados devido ao sub-financiamento. O
mesmo se passa na saúde e em outras áreas.

A degradação chega ao nível sensorial. Rever S. Paulo depois de alguns
anos de intervalo provoca uma impressão chocante. É uma cidade cada vez
mais suja e deteriorada. Os edifícios de condomínio, por toda a parte, têm
casamatas de vidro blindado na entrada e são cercados por grades altas com
pontas. Mesmo as casas mais pobres são cercadas por rolos de arame farpado
estendidos em cima dos muros, o que dá uma ideia dos níveis de medo ou de
criminalidade. Uma das poucas indústrias que tem prosperado é a da
blindagem de automóveis.

Os níveis de poluição são terríficos, mas a maior parte da população
parece que já se habituou à qualidade do ar produzida por milhares de
autocarros fumarentos com motores diesel (seria tecnicamente fácil
melhorá-la impondo autocarros a gás natural nos transportes públicos). Mas
os problemas do povo e as suas reivindicações são tantas que falar em
qualidade do ar parece um luxo desnecessário. A gestão da municipalidade
(Haddad, PT) é medíocre e faz demagogia pseudo-ecológica com a construção
de pistas para bicicletas. Os pobres ciclistas terão de respirar em largos
haustos a fumarada do óleo diesel.

No plano estadual, a gestão da coisa pública é ainda pior. Como se
concebe que uma metrópole de 22 milhões de habitantes esteja a sofrer
racionamento de água? Para a gestão das águas o governo do estado
(Alckmin, PSDB) tem uma parceria público-privada (PPP), a Sabesp. E, de
acordo com a ideologia neoliberal, uma PPP é para dar lucro e não para
servir a população. Assim, não foram feitos os investimentos necessários e
hoje seis dos oito reservatórios que abastecem a Região Metropolitana de
S. Paulo estão em colapso. O racionamento faz-se por regiões da cidade,
cortando-se a água sobretudo aos mais pobres. A ameaça de doenças
infecciosas como o dengue e a cólera é uma realidade. A gestão dos
recursos hídricos é tão irracional que continua a ser despejado esgoto não
tratado num reservatório que existe junto à cidade de S. Paulo (represa
Billings) e a Sabesp vai buscar água potável a centenas de quilómetros.

Nos transportes públicos, S. Paulo é outra catástrofe. As gestões da
municipalidade têm sido medíocres há muitos anos (com excepção da de
Irundina, então PT). O desperdício de recursos públicos tem sido colossal
com a construção de túneis e viadutos para o automóvel privado.
Consequentemente, o congestionamento do tráfego já é constante. Mas a
extensão do metro, que agora tem apenas uns míseros 78 km, arrasta-se há
longos anos em meio a escândalos de corrupção e acidentes em obras. A
culpa é sobretudo do governo do estado, responsável pelo seu
financiamento. Mas a filosofia privatizadora prevalece: os transportes
são para dar lucro, não para servir a população. O secretário dos
Transportes do governo estadual, sr. Pelissioni, anuncia com orgulho que
"já tem 20 contratos de concessões no sector rodoviário". Além disso,
pretende instalar e operar através de PPPs as futuras linhas 4 e 5 do
Metro (revista ESPM, nº 99, pg. 142). Por sua vez, as linhas de
autocarros são concedidas pelas municipalidades da Grande S. Paulo a
empresas privadas. Vê-se assim porque os transportes de S. Paulo estão no
caos actual, quando no passado já houve uma companhia municipal (CMTC) que
proporcionava um serviço razoável à população. É de pensar no que
acontecerá à qualidade do serviço dos transportes de Lisboa e Porto depois
de consumadas as privatizações feitas pelo governo PSD-CDS.

Além da péssima qualidade os transportes são caros para o nível de
rendimento da sofrida população que os utiliza. A viagem num autocarro
(com carroçarias geralmente montadas sobre altos chassis de camião) custa
R$3,50 (€0,88). Nas carruagens do metro e comboios suburbanos a população
viaja apinhada como sardinhas em lata – e muitas vezes gasta mais de três
horas por dia na viagem casa-trabalho-casa. De um modo geral os
transportes são demasiado caros no Brasil. Uma viagem de avião
S.Paulo-Rio-S.Paulo, cerca de 400x2 km, pode custar até R$1.800 (450€).

Nas condições péssimas em que vive a população brasileira, por vezes há
revoltas espontâneas como aconteceu em 2013. Há uma efervescência que
tende a explodir, mas não ainda uma resistência organizada. Isso se deve a
várias razões, tais como: o papel perverso e desinformativo dos media
(não existe nenhum jornal ou revista progressista que chegue às bancas de
jornais); o baixo nível de cultura política de grande parte da população
(fraca consciência de classe, de nível de organização, indisponibilidade
de tempo para uma vida cultural e política) e, sobretudo, a função
apassivadora dos partidos e organizações que os media apresentam como
sendo "esquerda" (PT com o seu acólito PCdoB, central sindical CUT,
sindicalismo amarelo, etc).

Em meio a esse panorama, as forças realmente progressistas tentam elevar
o nível de consciência popular e combater o falso dilema de optar entre a
direita propriamente dita (PSDB, PMDB, etc) ou defender o governo
reaccionário da sra. Dilma que se pôs ao serviço do capital financeiro (o
actual ministro das Finanças, Levy, foi presidente do maior banco
brasileiro). Assim, no dia 18 de Setembro houve uma manifestação nacional
em S. Paulo contra o PT, o PMDB e o PSDB simultaneamente. Numerosas
organizações democráticas participaram da marcha, dentre as quais o PCB .
Durante o percurso (da Av. Paulista à Pr. da República, cerca de 5 km), os
manifestantes (cerca de 15 mil) foram ladeados à direita e à esquerda por
filas de soldados da Polícia Militar do Estado de S. Paulo – muitos deles
com escudos acrílicos e coletes acolchoados. Esse enquadramento policial
mostra os limites da democracia brasileira.

IN
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/jf/viagem_set15.html
28/9/2015

***
O blog não concorda necessariamente, no todo ou em parte, com as matérias que publica.