sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A análise de James Petras em CX36: Venezuela, Arábia Saudita, Argentina


A análise de James Petras em CX36


“Almagro está a trabalhar com os EUA contra a Venezuela, ninguém sabe o que
estão a planear, mas tentam criar uma conflagração violenta”

“É uma situação muito grave a que existe na Venezuela” advertiu esta 2ª feira 4
de Janeiro em Radio Centenario o sociólogo norte-americano, professor James
Petras, na sua coluna semanal em que analisa a conjuntura internacional. Disse a
esse respeito que existe “uma coordenação estado-unidense, com uma campanha nos
meios de comunicação, condenando a decisão judicial de impugnar três deputados
da oposição e um deputado oficialista por terem sido “eleitos graças a luvas e
corrupção” e “estão a convocar para hoje manifestações procurando provocar
violência nas ruas”. Acrescentou que o secretário-geral da OEA, Luis Almagro “é
parte dessa conspiração contra o Poder Judicial e o governo de Maduro,
procurando evitar um processo judicial que defina se os eleitos em Amazonas
foram eleitos livremente ou pela compra de votos”. Além disso, referiu-se à
situação no Medio Oriente, aos avanços sírios contra o terrorismo e denunciou as
“medidas ditatoriais” do Presidente da Argentina. Transcrevemos a coluna de
James Petras.

Efraín Chury Iribarne: James Petras bem-vindo a Radio Centenario, começando o
ano 2016.

James Petras: Bons dias, estamos aqui congelados com -5º.

EChI: Muito frio.
Temos para começar o tema da Arabia Saudita, que segundo órgão de informação
“uma vez concluídas as suas missões, assassina os seus mercenários no Iémen,
para impedir a fuga de dados militares confidenciais”; ao que se soma que “a
execução de um Clérigo reaviva tensões na região”. ¿Como vês esta situação?

JP: A Arabia Saudita é maior violador de direitos humanos e das liberdades em
todo o Medio Oriente sem excepção. Há muitas violações na Turquia, Israel e
outros países; mas o rei Salman bin Abdulaziz, que matou, decapitou 45 pessoas
há uns dias, incluindo o clérigo que mencionaste, é um dos principais no mundo.
E na sua grande maioria é gente que simplesmente expressou críticas ao regime,
alguns simplesmente levantaram a sua voz em prol de mais democracia; e o clérigo
que mataram, o clérigo xiita Nimr Bager Al Nimr, era uma pessoa que nunca
levantou uma arma. Era um Clérigo que tinha posição crítica mas era defensor da
democracia e apoiante do direito de todos os cidadãos, incluindo o dos seus
correligionários xiitas.
A Arabia Saudita tem um regime que concentra milhares de milhões de dólares do
petróleo apenas numa família, e não poderia manter esta concentração de riquezas
se houvesse maior democracia. Se a família real perde o poder, perdem os seus
privilégios e a sua grande concentração de riquezas. Por isso é que esse país
não tem a sua própria Defesa, dependem dos Estados Unidos e de exércitos
mercenários, inclusivamente recrutados em Colômbia e paramilitares
latino-americanos.
Não existe uma pessoa minimamente decente que apoie a Arabia Saudita. São um
governo ao qual falta todo o apoio para além dos que lhes vendem armas como a
Europa, França e Inglaterra; e os Estados Unidos. São os únicos que apoiam a
Arabia Saudita, inclusivamente estes governantes têm em privado uma atitude
muito negativa mas mantêm-se em silêncio devido aos negócios.

EChI: O Ministro da Defesa de Colômbia, Luis Carlos Villegas, queixou-se de que
seduzem soldados colombianos para os levar, mas na realidade sustenta que isso
deveria fazer-se entre governos. Isto é grave ¿não é?

JP: Sim, porque a Arabia Saudita paga-lhes salários bastante altos, e os
governantes querem estabelecer um contrato para cobrar comissões. Quer dizer que
o governo pretende receber uma percentagem do que a Arabia Saudita paga por cada
mercenário colombiano. Encaram-no como um negócio milionário, uma colaboração
comercial entre os governantes de Colômbia e de Arabia Saudita.
Mas devemos analisar algo mais da Arabia Saudita, porque é o centro de todos os
terroristas no Medio Oriente e mais além ainda.
A Arabia Saudita financia e arma terroristas talibans no Afeganistão; financia
os terroristas na Líbia, continua financiando os terroristas na Síria juntamente
com os turcos; invadiram o Iémen; e agora temos o caso do Paquistão outra vez,
onde os terroristas wahabis dos grupos extremistas recebem subvenções da Arabia
Saudita.
Então devemos dizer que o eixo do terrorismo no mundo, para além dos Estados
Unidos, é a Arabia Saudita. E devemos anotar um facto: durante a Hajj - que é a
peregrinação muçulmana - morreram 450 iranianos devido à falta de organização da
Arabia Saudita e suspeita-se que os sauditas planearam que este evento tivesse
esse resultado trágico.
Então, em todos os lados podemos ver a mão da Arabia Saudita. E tenho a ideia
que muitos especialistas no 9/11, os atentados nos Estados Unidos, quase todos
os terroristas eram da Arabia Saudita e as suas famílias receberam dinheiro dos
mil milionários sauditas; mas, com os vínculos que tinham com a família Bush,
permitiram-lhes sair do país, refiro-me aos que financiaram os terroristas.

EChI: A Síria parece estar combatendo a pé firme o terrorismo com o apoio russo.

JP: A solicitação de ajuda à Rússia teve um enorme efeito porque atacaram os
terroristas do ISIS, provocaram muitos danos nas suas fontes de financiamentos,
aos camiões que transportavam o petróleo desde a Síria e o Iraque para a
Turquia, que recebia um milhão de dólares por dia com esse negocio. E quando a
Rússia começou a intervir e a bombardear esse transporte, reduziu em grande
escala os rendimentos do ISIS e debilitou a sua capacidade para mobilizar tropas
e alimentos para fomentar outras ofensivas. Então, as novas armas e o apoio que
o governo de Bashar Al Assad recebe da Rússia, facilitaram o avanço das tropas e
a derrota dos terroristas. A combinação de estabilidade e a falta de apoio ao
ISIS, porque antes os Estados Unidos diziam que estavam contra os terroristas
mas não tocavam nestes rendimentos petroleiros. Poderíamos explicá-lo em que os
EUA estavam mais contra Bashar Al Assad do que contra ISIS, apesar do que diz o
presidente Barack Obama.

EChI: O secretário da OEA, Luis Almagro, voltou a atacar a Venezuela.
¿Intensifica-se a acção da OEA contra a Venezuela?

JP: Sim, porque aqui há uma coordenação e devemos tocar este tema.
Na Venezuela há neste momento uma grande pugna entre o Poder Judicial e a nova
Assembleia Legislativa. A oposição quer impor alguns candidatos eleitos a partir
de luvas e de corrupção. Por isso o Poder Judicial venezuelano impugnou quatro
deputados eleitos, três da oposição e um oficialista. Este conflito entre o
Poder Judicial e o Poder Legislativo pode ter enormes ramificações porque a
oposição não vai aceitar a decisão judicial. Porque se a oposição perde três
deputados não vai ter a maioria óptima para impugnar a Presidência de Nicolás
Maduro.
Então estão a convocar para hoje manifestações procurando provocar violencia
nas ruas.
É uma situação muito grave a que existe na Venezuela.
Há uma coordenação estado-unidense, com uma campanha nos meios de comunicação,
condenando a decisão judicial. A atitude de Almagro é parte deste plano de
desestabilizar o governo, impugnar a decisão judicial, tratar fomentar um
levantamento violento, e talvez procurar a forma de provocar um golpe de Estado.
Então Almagro é parte dessa conspiração contra o Poder Judicial e o governo de
Maduro, procurando evitar um processo judicial que defina se os eleitos em
Amazonas foram eleitos livremente ou por compra de votos.

EChI: ¿Pareceria que Almagro trabalha para os EUA?

JP: Está trabalhando com os EUA contra a autodeterminação dos países na América
Latina. Está a tratar de voltar a reproduzir a política das colonias
norte-americanas que actuam a favor dos EUA e os países imperiais e creio que
neste sentido deve ser desmascarado, porque neste momento em que estamos a falar
cresce a tensão na Venezuela. Há uma crise tremenda, ninguém sabe o que estão a
planear. Estão a tratar de mobilizar gente para impedir o processo judicial. E o
Presidente actual da Assembleia não vai aceitar os impugnados, mas a oposição
diz que está decidida a incluí-los no Congresso. Por isso talvez o próprio
Congresso vá ser o detonante de um enorme conflito, uma conflagração violenta.

EChI: ¿Há algum outro tema que queiras comentar hoje?

JP: Sim, dois temas.
Há alarme pelas detenções de indocumentados nos EUA nesta semana em que começa
o novo ano. Várias famílias denunciaram que as autoridades norte-americanas
arrombam portas, expulsam famílias, e isto provocou grande inquietação em Los
Angeles e outros centros onde estão concentrados os imigrantes, porque a Policia
Federal está a tomar medidas como se fosse a Policia Secreta de qualquer país. É
um tema que há que analisar.
O outro tema é como (o presidente argentino Mauricio) Macri está a actuar como
um ditador da época do processo, como dizem na Argentina. Manda por Decreto.
Está a tratar de despedir milhares de funcionários, quer nomear membros do
Supremo Tribunal apesar de o Presidente não ter a prerrogativa de tomar decisões
independentemente do Congresso.
Está a mudar a Economia, há desvalorização da moeda, baixa o rendimento real
dos trabalhadores entre 25 e 30%; Macri pensa que pode impor as suas políticas
independentemente do congresso, onde são minoria e são minoria nos sindicatos e
em todas as organizações sociais, actuando por Decreto segundo os métodos da
ditadura.
As eleições foram simplesmente um trampolim para tomar o poder e depois actuar
como um ditador.
Não sei como vai terminar o assunto na Argentina, porque começa com conflitos
institucionais e depois poderia transferir para a rua conflitos violentos entre
o ditador Macri e a sociedade civil argentina. Já terminou a estabilidade e a
paz e entramos num período de violencia e repressão.

EChI: Bem, Petras, agradecemos-te muito como sempre esta análise e que ao menos
a temperatura atenue. Um abraço.

JP: Muito obrigado. Um abraço.

In
O DIÁRIO.INFO
http://www.odiario.info/?p=3883
8/1/2016

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