domingo, 17 de março de 2019

No dia de hoje… 16 de março de 1973


Nesse dia, o estudante de Geologia da Universidade de São Paulo (USP),
Alexandre Vannuchi Leme, o Minhoca, assim apelidado por seus amigos, foi
preso e levado para as dependências do DOI-CODI/SP.

Por
Jornal GGN

Em 16 de março de 1973, as forças repressivas da ditadura militar
sequestraram e encarceraram um dos protagonistas do movimento estudantil
brasileiro. Nesse dia, o estudante de Geologia da Universidade de São
Paulo (USP), Alexandre Vannuchi Leme, o Minhoca, assim apelidado por
seus amigos, foi preso e levado para as dependências do DOI-CODI/SP.
No cárcere, Alexandre foi torturado por cerca de dez agentes, que se se
revezaram por dois dias e, conforme testemunharam outros militantes
presos no mesmo período, já no dia 17 de março, Alexandre foi morto em
razão das longas sessões de tortura. As celas vizinhas à que se
encontrava foram evacuadas e seu corpo arrastado pelos corredores do
DOI-CODI/SP.
Os policiais tentaram ludibriar os demais militantes presos anunciando
que Vannuchi haveria se suicidado utilizando uma lâmina de barbear
furtada da enfermaria.
A certeza da impunidade e o controle sobre as informações, permitiu aos
agentes, dias depois, se orgulharem de exibir aos presos uma manchete de
jornal que noticiava a morte de Alexandre como vítima de atropelamento
por um caminhão durante uma tentativa de fuga durante um suposto
encontro com companheiros. Segundo relatado por testemunhas detidas, um
dos torturadores responsáveis pelo assassinato de Alexandre Vannuchi,
regozijava-se ao afirmar: “Nós damos a versão que queremos! Nesta joça
mandamos nós!”.
A falta de informações e as versões falsas da morte de Alexandre
tornaram a dor da família Vannuchi Leme, fundamentalmente de seus pais,
Egle e José, um martírio. Em 20 de março, a família soube por meio de um
telefonema anônimo da prisão do estudante, o que fez seu pai ir até São
Paulo buscar informações sobre o paradeiro de Alexandre. Os agentes de
segurança, mesmo sabendo que Alexandre já estava morto, passavam
informações desencontradas ao senhor José, de forma que o pai não
conseguiu encontrar o local e nem mesmo confirmar a suposta prisão de
Alexandre. Em meio à angústia que viviam por não terem informações sobre
o paradeiro do filho, no dia 23 de março, leram no jornal a notícia que
não gostariam de receber: Alexandre Vannuchi Leme havia morrido em
decorrência das feridas causadas por atropelamento de um caminhão, um
dia após a sua prisão.
Recebida a trágica notícia, a família procurou o IML/SP a fim de fazer o
reconhecimento e então sepultar seu ente querido. A arbitrariedade e a
crueldade das estruturas do Estado para com a família repetiu-se, pois
foi informado que não tinham mais o corpo; que Alexandre já havia sido
enterrado como indigente no cemitério Dom Bosco em Perus, São Paulo/SP.
Grupos de estudantes e a Igreja Católica se mobilizaram e protestaram em
virtude do assassinato de Alexandre, das mentiras apresentadas pelo
Estado e do sofrimento da família por não conseguir realizar o
sepultamento de seu filho.
Apenas após dez anos da morte de Alexandre, é que a família obteve o
direito de transladar os remanescentes ósseos para Sorocaba, sua cidade
natal, e respeitado o direito de realizar o sepultamento digno.
A coragem de Alexandre Vannuchi Leme contra o terrorismo do Estado
brasileiro jamais será esquecida, assim como a força e grandeza de seus
pais e familiares que batalharam contra a mentira e a omissão das forças
de segurança responsáveis pelo assassinato de seu filho. Egle e José,
apesar da dor e da revolta, transformaram o luto em LUTA. Eles são um
dos exemplos das milhares de famílias brasileiras que seguem firmes pelo
direito à memória, à verdade e justiça pelos seus entes queridos.
“Para que não se esqueça, para que não se repita.”
Fonte: Relatório CNV e Livro DMV.

In
JORNAL GGN
https://jornalggn.com.br/direitos-humanos/no-dia-de-hoje-16-de-marco-de-1973/
17/3/2019

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