quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Guerra económica dos EUA e prováveis defesas externas


por Michael Hudson
O mundo de hoje está em guerra em múltiplas frentes. As regras do direito internacional e da ordem posta em prática no fim da II Guerra Mundial estão a ser rompidas pela política externa dos EUA de escalar sua confrontação com os países que se abstêm de dar às suas empresas o controle dos seus excedentes económicos. Países que não dão aos Estados Unidos o controle dos seus sectores petrolíferos e financeiros ou não privatizam seus sectores chave estão a ser isolados pelos EUA através da imposição de sanções comerciais e de tarifas unilaterais que dão vantagens especiais a produtores estado-unidenses, em violação de acordos de livre comércio com países europeus, asiáticos e outros.

Esta fractura global tem uma componente cada vez mais militar. Autoridades estado-unidenses justificam tarifas e quotas de importação, ilegais de acordo com as regras da OMC, em termos de "segurança nacional", alegando que os Estados Unidos podem fazer o que quiserem como a nação "excepcional" do mundo. Autoridades dos EUA explicam que a sua nação não é obrigada a aderir a acordos internacionais ou mesmo aos seus próprios tratados e promessas. Este alegado direito soberano de ignorar seus acordos internacionais foi explicitado depois de Bill Clinton e sua secretária de Estado, Madeline Albright, terem quebrado a promessa do presidente George Bush e do secretário de Estado James Baker de que a NATO não se expandiria para o leste depois de 1991. ("Você não tem isto por escrito", foi a resposta dos EUA aos acordos verbais efectuados).

Da mesma forma, a administração Trump repudiou o acordo multilateral iraniano assinado pela administração Obama e está a escalar a guerra com seus exércitos por procuração (proxy) no Oriente Próximo. Políticos dos EUA estão a travar uma Nova Guerra Fria contra a Rússia, China, Irão e países exportadores de petróleo que os Estados Unidos procuram isolar se não puderem controlar seus governos, banco central e diplomacia externa.

O quadro internacional que originalmente parecia equitativo era a favor dos EUA desde o princípio. Em 1945 isto foi encarado como um resultado natural do facto de a economia dos EUA ter sido a menos prejudicada pela guerra e de possuir de longe a maior parte do ouro monetário global. Ainda assim, a estrutura comercial e financeira do pós-guerra era ostensivamente baseada em princípios internacionais razoáveis e equitativos. Esperava-se que outros países se recuperassem e crescessem, criando paridade diplomática, financeira e comercial entre si.

Mas na última década a diplomacia americana tornou-se unilateral ao transformar o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, o sistema de compensação bancária SWIFT [NR 1] e o comércio mundial num sistema de exploração assimétrico. Este conjunto de instituições centrado unilateralmente nos EUA está a ser amplamente encarado não só como injusto mas também como força de bloqueio do progresso de outros países cujo crescimento e prosperidade são encarados pela política externa dos EUA como ameaça à sua hegemonia unilateral. O que começou como uma ordem internacional ostensivamente para promover a prosperidade pacífica tornou-se cada vez mais uma extensão do nacionalismo estado-unidense, da extracção predatória de renda e de um confronto militar mais perigoso.

A deterioração da diplomacia internacional numa agressão financeira, comercial e militar mais claramente explícita em favor dos EUA estava implícita no modo como a diplomacia económica foi moldada no momento em que as Nações Unidas, o FMI e o Banco Mundial foram constituídos, sobretudo pelos estrategas económicos estado-unidenses. Sua beligerância económica está a levar países a retirarem-se da ordem financeira e comercial global, a qual foi transformada no veículo de uma Nova Guerra Fria para impor a hegemonia unilateral dos EUA. Reacções nacionalistas estão a consolidar-se em novas alianças económicas e políticas, desde a Europa até à Ásia.

Ainda estamos atolados na Guerra do Petróleo que escalou em 2003 com a invasão do Iraque e que rapidamente se propagou à Líbia e à Síria. Em grande medida, a política externa americana baseia-se desde há muito no controle do petróleo. Isto levou os Estados Unidos a oporem-se aos acordos de Paris para deter o aquecimento global [NR 2] . Seu objectivo é dar aos responsáveis dos EUA o poder de impor sanções energéticas que forcem outros países a "congelarem-se no escuro" se não seguirem a liderança estado-unidense.

Para expandir o seu monopólio petrolífero a América está a pressionar a Europa a opor-se ao gasoduto Nordstream II da Rússia, afirmando que isto tornaria a Alemanha e outros países dependentes da Rússia, em contraposição à dependência do gás natural liquefeito (GNL) dos EUA. Da mesma forma, a diplomacia petrolífera americana impôs sanções unilaterais contra exportações do Irão, até uma mudança de regime abrir as reservas de petróleo daquele país às grandes petrolíferas estado-unidenses, francesas, britânicas e outras aliadas.

O controle americano do dinheiro e do crédito dolarizados é crítico para esta hegemonia. Como disse o congressista Brad Sherman, de Los Angeles, na audiência de 9/Maio/2019 do Comité de Serviços Financeiros da Câmara:   "Grande parte do nosso poder internacional decorre do facto de o dólar americano ser a unidade padrão das transacções e finanças internacionais. Compensar através do Fed de Nova York é crítico para grandes transacções de petróleo e outras. É propósito anunciado dos defensores de criptomoedas retirar-nos este poder, a fim de nos colocar numa posição em que a maior parte das sanções mais significativas que aplicamos contra o Irão, por exemplo, se tornem irrelevantes". [1]

O objectivo dos EUA é manter o dólar como a divisa das transacções para o comércio mundial, poupanças, reservas de bancos centrais e empréstimos internacionais. Este status de monopólio permite aos Departamentos do Tesouro e de Estado dos EUA perturbarem o sistema financeiro de pagamentos e o comércio daqueles países com os quais os Estados Unidos estão em guerra económica ou abertamente em guerra militar.

O presidente russo Vladimir Putin respondeu rapidamente ao descrever como "a degeneração do modelo de globalização universalista [está] a transformar-se numa paródia, numa caricatura de si próprio, em que as regras comuns internacionais são substituídas por leis... de um país". [2] Esta é a trajectória que agora se verifica com a deterioração do antigo comércio aberto internacional. Ela tem-se agravado desde há uma década. Em 5/Junho/2009 o então presidente russo Dmitry Medvedev mencionou esta mesma dinâmica destruidora em funcionamento na sequência da crise de hipotecas lixo e fraudes bancárias nos EUA.

Aqueles cujo trabalho era prever acontecimentos... não estavam preparados para a profundidade da crise e revelaram-se demasiado rígidos, desajeitados e lentos na sua resposta. As organizações financeiras internacionais – e penso que precisamos declarar isto frontalmente e não tentar esconder – não estiveram à altura das suas responsabilidade, como tem sido dito bastante inequivocamente num certo número de grandes eventos internacionais tais como as duas recentes cimeiras do G20 das maiores economias mundiais.

Além disso, tivemos confirmação de que a nossa análise anterior à crise das tendências económicas globais e do sistema económico global estava correcta. O sistema unipolar mantido artificialmente e a preservação de monopólios em sectores económicos globais chave são causas raízes da crise. Um grande centro de consumo, financiado por um défice crescente, e portanto com dívidas crescentes, uma divisa de reserva outrora forte e um sistema dominante de avaliação de activos e riscos – estes são os conjuntos de factores que levam a uma queda geral na qualidade da regulação e da justificação económica das avaliações efectuadas, incluindo avaliações de política macroeconómica. Em consequência, não havia como evitar uma crise global. [3]

Esta crise é o que agora provoca a presente ruptura do comércio e pagamentos globais.

Guerra em muitas frentes, com a desdolarização sendo a arena principal

A dissolução da União Soviética em 1991 não trouxe o desarmamento que era amplamente esperado. A liderança estado-unidense celebrou a morte soviética como um sinal para o fim da oposição estrangeira ao neoliberalismo patrocinado pelos EUA e mesmo como o Fim da História. A NATO expandiu-se para cercar a Rússia e patrocinou "revoluções coloridas" desde a Geórgia até a Ucrânia, enquanto estilhaçava a antiga Jugoslávia em pequenos estadozecos. A diplomacia americana criou uma legião estrangeira de fundamentalistas wahabistas desde o Afeganistão até o Irão, o Iraque, a Síria e a Líbia para apoiar o extremismo da Arábia Saudita e o expansionismo israelense.

Os Estados Unidos estão a travar uma guerra contra a Venezuela pelo controle do petróleo, onde um golpe militar fracassou há poucos anos, tal como a façanha de 2018-19 de reconhecer um regime fantoche não eleito e pró americano. O golpe hondurenho sob o presidente Obama teve mais êxito pois conseguiu derrubar um presidente eleito que advogava a reforma agrária, continuando a tradição que remontava a 1954 quando a CIA derrubou o governo Arbenz na Guatemala.

Responsáveis dos EUA têm um ódio especial a países que eles injuriaram, o que vai desde a Guatemala em 1954 ao Irão, cujo regime foi derrubado para instalar o Xá como ditador militar. Afirmando promover a "democracia", a diplomacia dos EUA redefiniu a palavra para significar pró americano e oposição à reforma agrária, propriedade nacional de matérias-primas e subsídios públicos à agricultura ou indústria como um ataque "não democrático" a "mercados livres", o que significa mercados controlados pelos interesses financeiros estado-unidenses e proprietários absenteístas da terra, dos recursos naturais e dos bancos.

Um importante subproduto da guerra tem sido sempre os refugiados e a onda actual que foge do ISIS, Al Qaeda e outros apaniguados dos EUA no Oriente Próximo está a inundar a Europa. Uma onda semelhante está a fugir dos regimes ditatoriais, apoiados pelos Estados Unidos, das Honduras, Equador, Colômbia e países vizinhos. A crise de refugiados tornou-se um factor primordial para o ressurgimento de partidos nacionalistas por toda a Europa e para o nacionalismo branco de Donald Trump nos Estados Unidos.

A desdolarização como o veículo para o nacionalismo estado-unidense

O Padrão Dólar – dívida do Tesouro dos EUA a estrangeiros mantida pelos bancos centrais do mundo – substituiu o padrão divisas-ouro (gold-exchange standard) nas reservas dos bancos centrais do mundo para a liquidação de desequilíbrios de pagamentos entre si próprios. Isto permitiu aos Estados Unidos a [posição] única de incorrer em défices da balança de pagamentos durante aproximadamente setenta anos, apesar do facto de estes títulos do Tesouro (Treasury IOUs) terem pouca probabilidade visível de serem reembolsados – a não ser sob acordos em que os EUA buscam uma renda monopolista e um tributo financeiro directo de outros que lhes permita liquidar sua dívida externa oficial.

Os Estados Unidos são o único país que pode incorrer em défices constantes da balança de pagamentos sem terem de vender barato os seus activos ou elevarem taxas de juro para captar empréstimos em moeda estrangeira. Nenhuma outra economia nacional no mundo poderia permitir-se despesas militares no exterior em grande escala sem perder seu valor de troca. Sem as Letras do Tesouro (Treasury-bill) padrão, os Estados Unidos estariam na mesma posição dos demais países. Eis porque a Rússia, China e outras potências que os estrategas dos EUA consideram serem rivais estratégicos e inimigos procuram restaurar o papel do ouro como o activo preferencial para liquidar desequilíbrios de pagamentos.

A resposta dos EUA é impor mudanças de regime a países que preferem ouro ou outras divisas estrangeiras ao invés de dólares nas suas reservas cambiais. Um bom exemplo é o derrube de Omar Kaddafi, da Líbia, depois de ele ter procurado basear no ouro as reservas internacionais do seu país [NR 3] . A sua liquidação representa uma advertência militar a outros países.

Graças ao facto de que economias com excedentes de pagamentos investem suas entradas de dólares em títulos do US Treasury, os défices da balança de pagamentos dos EUA financiam seu défice orçamental interno. Esta reciclagem por bancos centrais estrangeiros de gastos militares dos EUA no exterior mediante compras de títulos do Tesouro dos EUA dá aos Estados Unidos um almoço gratuito (free ride), financiando seu orçamento – que também é sobretudo de carácter militar – de modo a que possa tributar seus próprios cidadãos.

Trump está a forçar outros países a criarem uma alternativa ao Padrão Dólar

O facto de as políticas económicas de Donald Trump estarem a demonstrar-se ineficazes para a restauração da manufactura americana está a criar uma pressão nacionalista para explorar os estrangeiros através de tarifas arbitrárias sem consideração pelo direito internacional e pela imposição de sanções comerciais e intromissões diplomáticas para desestabilizar regimes que sigam políticas não apreciadas pelos diplomatas dos EUA.

Aqui há um paralelo com Roma no fim do século I AC. Ela despojou suas províncias a fim de pagar o seu défice militar, o subsídio (dole) de cereais e a redistribuição de terra às expensas de cidades italianas e da Ásia Menor. Isto criou oposição estrangeira para expulsar Roma. A economia dos EUA é semelhante à de Roma:   mais extractivista do que produtiva, baseada principalmente em rendas da terra e juros monetários. Como o mercado interno está empobrecido, os políticos dos EUA tentam tirar do exterior o que não está mais a ser produzido em casa.

O que é extremamente irónico – e muito auto-derrotante para o almoço gratuito global da América – é o objectivo simplista de Trump de reduzir a taxa de câmbio do dólar para tornar as exportações norte-americanas mais competitivas em preço. Ele imagina que o comércio de commodities seja a balança de pagamentos inteira, como se não houvesse gastos militares, sem mencionar empréstimos e investimentos. Para reduzir a taxa de câmbio do dólar, ele está a exigir que o banco central da China e de outros países parem de apoiar o dólar reciclando os dólares que recebem pelas suas exportações através da compra de títulos do Tesouro dos EUA.

Esta visão em túnel deixa de lado o facto de que a balança comercial não é simplesmente uma matéria de níveis comparativos de preços internacionais. Os Estados Unidos dissiparam sua capacidade de fabricação de sobressalentes e de fornecedores locais de peças e materiais, enquanto grande parte da sua engenharia industrial e mão-de-obra qualificada aposentou-se. Um imenso défice deve ser preenchido por novos investimentos de capital, educação e infra-estrutura pública, cujos encargos são muito superiores aos de outras economias.

A ideologia da infraestrutura de Trump é uma Parceria Público-Privada caracterizada pelo alto custo financeiro exigido pelas altas rendas de monopólio a fim de cobrir seus encargos com juros, dividendos de acções e custos de gestão. Esta política neoliberal eleva o custo de vida para a força de trabalho dos EUA, tornando-a não competitiva. Os Estados Unidos são incapazes de produzir mais a qualquer preço que seja, porque passaram o último meio século a desmantelar sua infraestrutura, encerrando seus fornecedores e terciarizando sua tecnologia industrial.

Os Estados Unidos privatizaram e financiaram infraestrutura e serviços básicos tais como saúde pública e cuidados médicos, educação e transporte que outros países mantiveram no seu domínio público a fim de tornar suas economias mais eficientes em termos de custo ao proporcionar serviços essenciais a preços subsidiados ou gratuitamente. Os Estados Unidos também lideraram a prática da pirâmide de dívidas, desde a habitação até as finanças corporativas. Esta engenharia financeira e de criação de riqueza pelo enchimento de bolhas imobiliárias e do mercado de acções financiadas por dívida tornaram os Estados Unidos uma economia de alto custo que não pode competir com êxito com economias mistas bem administradas.

Incapaz de recuperar a dominância no sector manufactureiro, os Estados Unidos estão a concentrar-se nos sectores de extracção de renda que esperam monopolizar, encabeçados pela tecnologia da informação e pela produção militar. Na frente industrial, isto ameaça perturbar a China e outras economias mistas com a imposição de sanções comerciais e financeiras.

A grande aposta é se esses outros países irão defender-se juntando-se em alianças que lhes permitam contornar (bypass) a economia dos EUA. Estrategas americanos imaginam seu país como a economia essencial do mundo, sem cujo mercado outros países devem sofrer depressão. A administração Trump pensa que não há alternativa (There Is No Alternative, TINA) para outros países, excepto os seus próprios sistemas financeiros dependerem do crédito em US dólares.

Para se protegerem de sanções estado-unidenses, os países teriam de evitar utilizar o dólar e, portanto, bancos dos EUA. Isto exigiria a criação de um sistema financeiro não dolarizado para usarem entre si próprios, incluindo a sua própria alternativa do sistema de compensação bancária SWIFT. A tabela 1 mostra algumas possíveis defesas contra a diplomacia nacionalista dos EUA.

Como observado acima, o que também é irónico na acusação do presidente Trump de que a China e outros países manipulam artificialmente sua taxa de câmbio em relação ao dólar (ao reciclarem seus superávites comerciais e de pagamentos em títulos do Tesouro para conterem a valorização da sua divisa frente ao dólar) envolve o desmantelamento do padrão Letras do Tesouro. O principal modo pelo qual economias estrangeiras estabilizaram sua taxa de câmbio desde 1971 tem sido na verdade a reciclagem das suas entradas de dólares em títulos do Tesouro dos EUA. Deixar o valor da sua moeda subir ameaçaria a competitividade das suas exportações frente aos seus rivais, embora isso não beneficiasse necessariamente os Estados Unidos.

Acabar com esta prática deixa aos países como caminho principal para protegerem suas divisas da ascensão frente ao dólar a redução das entradas de dólares, através do bloqueio da concessão de empréstimos dos EUA aos seus tomadores internos. Eles podem cobrar tarifas flutuantes proporcionais ao valor em declínio do dólar. Os EUA têm uma longa história, desde a década de 1920, de elevação das suas tarifas contra moedas que estão a depreciar-se: o sistema American Selling Price (ASP). Outros países podem impor suas próprias tarifas flutuantes contra produtos norte-americanos.

A dependência comercial como um objectivo do Banco Mundial, do FMI e da USAID

O mundo enfrenta hoje um problema muito parecido com o enfrentado nas vésperas da Segunda Guerra Mundial. Tal como a Alemanha então, agora os Estados Unidos representam a principal ameaça de guerra e destrutivos regimes económicos neoliberais impõem austeridade, retracção económica e despovoamento. Diplomatas americanos ameaçam destruir regimes e economias inteiras que procuram manter-se independentes daquele sistema, através de sanções comerciais e financeiras apoiadas por força militar directa.

A desdolarização exigirá a criação de alternativas multilaterais para as instituições "de primeira linha" dos EUA, como o Banco Mundial, o FMI e outras agências sobre as quais os Estados Unidos têm poder de veto para bloquear quaisquer políticas alternativas que supostamente não os deixem "ganhar". As agências de ajuda externa do Banco Mundial e dos EUA visam promover a dependência das exportações de bens alimentares dos EUA e de outros bens essenciais, enquanto contratam empresas de engenharia dos EUA para construir infraestruturas de exportação, subsidiando as suas empresas e investidores em recursos naturais. [4]

O financiamento é principalmente em dólares, fornecendo títulos sem risco para os EUA e instituições financeiras. A "interdependência" comercial e financeira resultante levou a uma situação em que uma interrupção repentina daquela oferta prejudicaria as economias estrangeiras, causando uma quebra na cadeia de pagamentos e produção. O efeito é trancar os países clientes na dependência da economia dos EUA e da sua diplomacia, qualificados com o eufemismo de "promoção de crescimento e desenvolvimento".

A política neoliberal dos EUA através do FMI impõe austeridade e opõe-se a reduções significativas da dívida. O seu modelo económico finge que os países devedores podem pagar qualquer volume de dívida em dólares simplesmente pela redução de salários para extrair mais rendimento da força de trabalho a fim de pagar credores estrangeiros. Isto ignora o facto de que resolver o "problema orçamental" interno, tributando a receita local, ainda enfrenta o "problema da transferência" na conversão em dólares ou outras moedas fortes, nas quais a maior parte das dívidas internacionais são denominadas. O resultado é que os programas de "estabilização" do FMI na verdade desestabilizam e empobrecem os países forçados a seguirem seus conselhos.

Empréstimos do FMI apoiam regimes pró EUA, como a Ucrânia, e subsidiam a fuga de capitais ao apoiarem as moedas locais durante o tempo suficiente para permitir que as oligarquias locais clientes dos EUA se desfaçam das suas moedas nacionais a uma taxa de câmbio pré-desvalorização em relação ao dólar. Quando a moeda local for finalmente autorizada a entrar em colapso, os países devedores são aconselhados a impor a austeridade anti-trabalhadores. Isso globaliza a guerra de classes do capital contra o trabalho enquanto mantém os países devedores sob uma curta trela financeira dos EUA.

A diplomacia dos EUA resume-se a impor sanções comerciais para perturbar economias que se afastem dos objectivos dos EUA. As sanções são uma forma de sabotagem económica, tão letal quanto uma guerra militar directa no estabelecimento do controle americano sobre as economias estrangeiras. A ameaça é empobrecer populações civis, na crença de que isso as levará a substituir os seus governos por regimes pró-americanos que prometem restaurar a prosperidade vendendo as suas infraestruturas internas aos EUA e outros investidores transnacionais.
Guerra dos EUA em muitas frentes
Defesa da desdolarização
Guerra militar (Oriente Próximo, Ásia) NATO e tratados bilaterais (saudita, ISIS, Al Qaida), revoluções coloridas e guerras por procuração Organização de Cooperação de Shangai e pressão para a Europa retirar-se da NATO a menos que os EUA aliviem suas ameaças de Nova Guerra Fria
Dolarização é guerra monetária. O padrão dos US Treasury-bill financia principalmente o défice da balança de pagamentos militar dos EUA. O SWIFT ameaça isolar o Irão e a Rússia. A desdolarização refreará bancos centrais estrangeiros de financiarem gastos militares além-mar dos EUA pela manutenção das suas poupanças em dólares. Criação de sistemas alternativos de câmaras de compensação de pagamentos.
O FMI financia regimes clientes dos EUA e procura isolar aqueles que não seguem a política estado-unidense. Organização de uma alternativa financeira global, tal como o INSTEX da Europa para contornar as sanções contra o Irão, bem como a alternativa ao SWIFT russo-chinesa.
Política do credor impondo austeridade a economias devedoras, forçando-as a privatizar e vender barato o seu domínio público para pagar dívidas. Um tribunal internacional com poderes para cancelar parcialmente (write down) em função da capacidade de pagar, com base nos princípio originais que guiaram a constituição do Bank of International Settlements (BIS) em 1931.
O Banco Mundial financia a dependência comercial às exportações alimentares dos EUA e opõe-se à auto-suficiência alimentar nacional. Uma organização de desenvolvimento alternativa baseada na auto-suficiência alimentar. Anulação da dívida ao Banco Mundial e FMI como "dívida odiosa".
Guerra comercial unilateral dos EUA baseada na cobrança de tarifas proteccionistas, quotas e sanções. Sanções compensatórias e criação de uma alternativa à OMC ou uma organização fortalecida liberta do controle dos EUA.
Ciber Guerra, spycraft via plataformas Internet dos EUA e sabotagem Stuxnet. Trabalhar com a Huawei e outras alternativas a opções de Internet dos EUA.
Guerra de classe: programa de austeridade para o trabalho Moderna Teoria Monetária (MMT, na sigla em inglês), tributação do rendimento do rentista e dos ganhos do capital.
Doutrina monetarista neoliberal da privatização e das regras orientadas para o credor. Promoção de uma economia mista com infraestrutura pública como um factor de produção.
Política de patentes dos EUA busca rendas de monopólio. Não reconhecimento de patentes monopolistas predatórias.
Controle de investimento. Desprivatização e buyouts de activos dos EUA no exterior
Lei internacional e diplomacia Os EUA como a "nação excepcional" do mundo não sujeita a leis internacionais ou mesmo aos próprios tratados que acordou.


Problemas globais causados pela política dos EUA
Resposta à política destrutiva dos EUA
EUA recusam-se a aderir a acordos internacionais para reduzir emissões de carbono, aquecimento global [NR 2] e meteorologia extrema A diplomacia dos EUA está baseada no controle do petróleo para tornar outros países dependentes da dominância energética estado-unidense. Sanções comerciais e fiscais contra exportadores e bancos estado-unidenses. Impostos sobre a evasão fiscal dos EUA pelas "bandeiras de conveniência" da indústria do petróleo (conveniente para evitar impostos). Tributação ou isolamento de exportações dos EUA baseadas na produção com alto teor de carbono.
Tentativa de monopolizar a nova tecnologia G5 da Internet, sancionamento da Huawei, insistência na prioridade dos EUA em alta tecnologia. Rejeição de patentes sobre TI, medicina e outras necessidades humanas básicas.
Leis de patentes em produtos farmacêuticos, etc. Tributação das rendas de monopólio.
Existem alternativas, em muitas frentes

Militarmente, a principal alternativa actual ao expansionismo da NATO é a Organização de Cooperação de Xangai (SCO), juntamente com uma Europa que seguisse o exemplo da França sob Charles de Gaulle e se retirasse da NATO. Afinal, não há ameaça real de invasão militar hoje na Europa. Nenhuma nação pode ocupar outra sem um enorme recrutamento militar e perdas tão pesadas de pessoal que os protestos internos destituiriam o governo que travasse essa guerra. O movimento anti-guerra dos EUA na década de 1960 sinalizou o fim do projecto militar, não apenas nos Estados Unidos, mas em quase todos os países democráticos. (Israel, Suíça, Brasil e Coreia do Norte são excepções).

Os enormes gastos com armamentos para um tipo de guerra improvável não são realmente militares, mas simplesmente para proporcionar lucros ao complexo industrial militar. O armamento não é realmente para ser usado. Ele é simplesmente para ser comprado e, finalmente, transformado em sucata. O perigo, é claro, é que essas armas possam ser usadas, apenas para criar uma necessidade de nova produção lucrativa.

Da mesma forma, títulos financeiros estrangeiros em dólares não devem ser realmente gastos em compras de exportações ou investimentos dos EUA. Eles são como colecções de vinhos caros, para guardar em vez de beber. A alternativa a tais haveres dolarizados é criar um uso mútuo de divisas nacionais e um sistema de pagamentos de compensação bancária alternativo ao SWIFT. A Rússia, a China, o Irão e a Venezuela já estão a desenvolver pagamentos em criptomoeda para contornar as sanções dos EUA e, consequentemente, o seu controlo financeiro.

Na Organização Mundial do Comércio, os Estados Unidos tentaram afirmar que qualquer indústria que beneficie de infraestruturas públicas ou subsídios de crédito merece uma retaliação tarifária nas exportações para forçar a privatização. Em resposta às determinações da OMC de que as tarifas dos EUA são impostas ilegalmente, os Estados Unidos "em protesto bloquearam todas as novas nomeações para o organismo de apelação de sete membros, deixando-o em risco de colapso dado que pode não haver juízes suficientes que lhe permita actuar em novos casos. [5] Na visão dos EUA, apenas o comércio privatizado financiado por bancos privados e não públicos é um comércio "justo".

Uma alternativa à OMC (ou a remoção de privilégio de veto dado ao bloco americano) é necessária para lidar com a ideologia neoliberal dos EUA e, mais recentemente, a farsa dos EUA alegando isenção dos tratados de livre comércio em nome da "segurança nacional", impondo tarifas ao aço e alumínio, e aos países europeus que contornem as sanções ao Irão ou ameacem comprar gás da Rússia através do gasoduto Nordstream II, em vez do gás natural liquefeito, "gás da liberdade", de alto custo dos Estados Unidos.

No campo dos empréstimos para desenvolvimento, o Banco da China, juntamente com a sua iniciativa "Nova rota da seda", é uma alternativa incipiente ao Banco Mundial, cujo principal papel tem sido promover a dependência externa de fornecedores aos EUA. O FMI, por sua vez, funciona como uma extensão do Departamento de Defesa dos EUA para subsidiar regimes clientes como a Ucrânia, enquanto isola financeiramente países que não são subservientes à diplomacia norte-americana.

Para salvar as economias endividadas que sofrem com austeridade ao estilo grego, o mundo precisa substituir a teoria económica neoliberal por uma lógica analítica de redução das dívidas com base na capacidade de pagamento. O princípio orientador da necessária lógica orientada para o desenvolvimento do direito internacional deveria ser que nenhuma nação fosse obrigada a pagar a credores estrangeiros tendo que vender património do domínio público e direitos de extracção de rendas a credores estrangeiros. O carácter definidor da soberania deveria residir no direito de tributar a exploração dos recursos naturais e respectivos retornos financeiros e criar o seu próprio sistema monetário.

Os Estados Unidos recusam-se a aderir ao Tribunal Penal Internacional. Para ser eficaz, ele precisaria [ter] poder de execução dos seus julgamentos e penalidades, culminando com a capacidade de apresentar acusações por crimes de guerra na tradição do tribunal de Nuremberg. Os EUA num tribunal assim poderiam ser julgados, de acordo com o seu crescimento militar que agora ameaça uma Terceira Guerra Mundial. Isto sugere um novo alinhamento de países tal como o movimento das nações não-alinhadas dos anos 50 e 60. Não alinhado, neste caso, significa estar livre do controlo ou de ameaças diplomáticas dos EUA.

Tais instituições necessitam de uma teoria económica e uma filosofia de operações mais realistas para substituir a lógica neoliberal anti-Estado, de privatizações, austeridade anti-trabalhadores e oposição a défices orçamentais e reduções de dívidas. A doutrina neoliberal de hoje conta os ganhos financeiros e o aumento dos preços da habitação como um acréscimo ao "produto real" (PIB), mas considera o investimento público como um peso morto, não como uma contribuição para a produção. O objectivo de tal lógica é convencer governos a pagarem aos credores estrangeiros através da venda das suas infraestruturas públicas e de outros activos do domínio público.

Assim como o princípio de "capacidade para pagar" foi a pedra fundamental do Bank for International Settlements, constituído em 1931, é necessária uma base semelhante para medir a capacidade actual de pagar dívidas e, portanto, cancelar maus empréstimos efectuados sem a correspondente capacidade de pagamento dos devedores. Sem uma tal instituição e corpo de análise, o princípio neoliberal do FMI de impor depressão económica e queda dos padrões de vida para pagar aos EUA e outros credores estrangeiros irá impor a pobreza global.

As propostas acima proporcionam uma alternativa à recusa "excepcionalista" dos EUA de integrarem qualquer organização internacional que tenha uma palavra a dizer sobre os seus assuntos. Outros países devem estar dispostos a virar a mesa e isolar bancos e exportadores dos EUA e a evitar o uso de dólares americanos e encaminhamento de pagamentos através de bancos dos EUA. Proteger a capacidade de criar um poder compensatório (countervailing power) exige um tribunal internacional e sua organização de suporte.

Resumo

O primeiro objectivo existencial é evitar a presente ameaça de guerra pelo atenuação da interferência militar dos EUA em países estrangeiros e a remoção das bases militares dos EUA como relíquias do neocolonialismo. O seu perigo para a paz e prosperidade mundial cria a ameaça de uma reversão para o colonialismo anterior à Segunda Guerra Mundial, dirigido por elites clientes segundo linhas semelhantes às do golpe ucraniano de 2014 por grupos neonazis patrocinados pelo Departamento de Estado dos EUA e pela National Endowment for Democracy. Tal controlo lembra os ditadores que a diplomacia americana estabeleceu em toda a América Latina nos anos 50. O terrorismo étnico de hoje promovido pelos EUA, apoiado pelo islamismo wahabi-saudita lembra o comportamento da Alemanha nazi na década de 1940.

O aquecimento global é a segunda grande ameaça existencial [NR 2] . Bloquear tentativas de reverter isso é um fundamento da política externa americana, porque se baseia no controle do petróleo. Portanto, as ameaças militares, de refugiados e de aquecimento global estão interligadas.

O militarismo dos EUA representa o maior perigo imediato. A guerra actual está fundamentalmente mudada em relação ao que costumava ser. Antes da década de 1970, as nações conquistadoras tinham de invadir os países e ocupá-los com exércitos formados por recrutamento militar. Mas nenhuma democracia no mundo de hoje pode reviver tal proposta sem desencadear a recusa popular generalizada de combater, votando pelo afastamento do governo do poder.

O único meio pelo qual os Estados Unidos – ou outros países – podem combater outras nações é bombardeá-las. E como observado acima, as sanções económicas têm um efeito tão destrutivo sobre as populações civis em países considerados adversários dos EUA quanto a guerra aberta. Os Estados Unidos podem patrocinar golpes políticos (como nas Honduras e no Chile de Pinochet), mas não podem ocupar países, nem têm vontade de reconstrui-los, para não falar em assumir a responsabilidade pelas ondas de refugiados que nossos bombardeamentos e sanções estão a causar desde a América Latina até ao Próximo Oriente.

Os ideólogos dos EUA vêem a expansão militar coerciva de seu país, a subversão política e a política económica neoliberal de privatizações e financeirização como uma vitória irreversível que assinala o "Fim da história". Para o resto do mundo, é uma ameaça à sobrevivência humana.

A promessa americana é que a vitória do neoliberalismo é o "Fim da história", oferecendo prosperidade ao mundo inteiro. Mas, sob a retórica da livre escolha e do livre mercado está a realidade da corrupção, subversão, coerção, servidão pela dívida (debt peonage) e neofeudalismo. A realidade é a criação e subsídio de economias polarizadas, bifurcadas entre uma classe privilegiada rentista com sua clientela e seus devedores e arrendatários. Permite-se aos Estados Unidos monopolizarem o comércio de petróleo e cereais e os monopólios de alta tecnologia extractores de rendas, vivendo às custas da dependência dos seus clientes.

Ao contrário da servidão medieval, as pessoas sujeitas a este cenário de "Fim da história" podem escolher onde querem viver. Mas onde quer que vivam devem endividar-se durante toda a vida a fim de terem acesso a uma casa própria e devem depender do controlo dos EUA sobre as suas necessidades básicas, dinheiro e crédito, aderindo ao planeamento financeiro americano das suas economias. Este cenário distópico confirma o reconhecimento de Rosa Luxemburgo de que a escolha definitiva que as nações enfrentam no mundo de hoje é entre socialismo e barbárie.
[1] Billy Bambrough, "Bitcoin Threatens To 'Take Power' From The U.S. Federal Reserve,"  Forbes , May 15, 2019. www.forbes.com/...
[2] Vladimir Putin, discurso no Economic Forum, June 5-6 2019. Putin prosseguiu para advertir contra "uma política de egoísmo económico completamente ilimitado e um colapso forçado". Esta fragmentação do espaço económico global "é o caminho para conflitos intermináveis, guerras comerciais e talvez não apenas guerras comerciais. Figurativamente, este é o caminho para a derradeira luta de todos contra todos".
[3] Discurso no St Petersburg International Economic Forum's Plenary Session, St Petersburg, Kremlin.ru, June 5, 2009, from Johnson's Russia List, June 8, 2009, #8,
[4] - www.rt.com/business/464013-china-russia-cryptocurrency-dollar-dethrone/ Já no final da década de 1950, o Plano Forgash propôs um Banco Mundial para Aceleração Económica. Concebido por Terence McCarthy e patrocinado pelo senador da Florida, Morris Forgash, o banco teria sido uma instituição mais voltada para o desenvolvimento, orientando o desenvolvimento estrangeiro para criar economias equilibradas e auto-suficientes em alimentos e outros itens essenciais. A proposta teve a oposição dos interesses dos EUA, alegando que os países que buscavam a reforma agrária tendiam a ser antiamericanos. Mais especificamente, eles teriam evitado a dependência comercial e financeira dos fornecedores e dos bancos dos EUA e, portanto, das suas sanções comerciais e financeiras para os impedir de seguirem políticas contrárias às exigências diplomáticas dos EUA.
[5] Don Weinland, "WTO rules against US in tariff dispute with China,"  Financial Times , July 17, 2019. 

25/Julho/2019

[NR 1] SWIFT: Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication. É uma entidade que gere os códigos de identificação de um banco, denominados Bank Identifier Code (BIC).   O código IBAN faz parte do sistema SWIFT.
[NR 2] As emissões de carbono são a resultante necessária e inevitável de qualquer processo de combustão de hidrocarbonetos.   Mais especificamente:  as demonizadas emissões de CO2 não são poluentes e este gás até é indispensável à vida no planeta terra.   O tão apregoado aquecimento global de origem antropogénica é uma impostura pseudo-científica .   Hudson, que não é climatologista, deixou-se influenciar pela gigantesca campanha de propaganda "aquecimentista" promovida pelo IPCC/ONU e pela UE.   Este pode ser um dos poucos assuntos em que o governo Trump (que se recusou a assinar o Acordo de Paris) tem razão.
[NR 3] As reservas-ouro do Banco Central da Líbia foram saqueadas pelos EUA após a agressão e derrube do governo líbio.   O mesmo aconteceu às reservas-ouro do Banco Central da Ucrânia , que foram transferidas secretamente para a custódia do Fed após o golpe do Maidan em 2014.


Ver também a entrevista de Michael Hudson:
  • Desdolarizando o império financeiro americano

    [*] Discurso pronunciado no 14th Forum of the World Association for Political Economy, 21/Julho/2019.

    O original encontra-se em thesaker.is/u-s-economic-warfare-and-likely-foreign-defenses/ e em www.unz.com/mhudson/u-s-economic-warfare-and-likely-foreign-defenses/
     
  • In
  • RESISTIR.INFO
  • https://www.resistir.info/m_hudson/hudson_25jul19.html 
  • 2/8/2019

  • 02/Jul/19

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