terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Que saiam os patrões e fique o trabalho!

 




Nota política do Partido Comunista Brasileiro – Bahia, sobre o
fechamento da Ford

Na última segunda-feira (11) fomos surpreendidos com a notícia do
encerramento das atividades da Ford em Camaçari (Região Metropolitana de
Salvador). Sabemos que a política neoliberal de desmonte das indústrias
em território nacional não é novidade e já está em plena marcha há pelo
menos três décadas. No entanto, salta aos olhos a inépcia do poder
público em estabelecer qualquer tipo de pressão ou enfrentamento ao
fechamento unilateral das atividades da Ford em nosso estado.

A Ford iniciou suas atividades no polo industrial de Camaçari em 2001,
após intensa “guerra fiscal” entre a Bahia – sob a direção do então
senador baiano Antônio Carlos Magalhães (ACM) – e o Rio Grande do Sul, e
completaria 20 anos de atividade no estado neste ano. A política fiscal
em favor dos exploradores, gerou ao longo de 20 anos mais de 20 bilhões
de reais em desonerações e isenções fiscais, incluindo desde impostos
sobre importação, até desonerações de imposto de renda. Quantia que
contrasta com o investimento feito pela Ford para se instalar na Bahia
cerca de 1,2 bilhões de dólares (em torno de 2,3 bilhões de reais com a
cotação da época).

A lógica da exploração capitalista já nos é conhecida, sob esta égide as
empresas transformam as fronteiras em meros espaços para retirada de
valor. Transformando nosso povo trabalhador em números que devem
contribuir incessantemente com os dividendos do empresariado. A
estimativa é que a Ford empregava diretamente 12 mil pessoas (entre
funcionários da Ford e sistemistas) e mais 60 mil empregos indiretos. A
saída da Ford de Camaçari, somada ainda a seu fechamento em Taubaté (SP)
e Horizonte (CE) representa um duro ataque à nossa população
trabalhadora, mas também à soberania nacional brasileira, que ofertou
por décadas condições favoráveis à transnacional estadunidense, que ora
anuncia sua saída sem quaisquer contrapartidas.

A saída da Ford do Brasil se insere na lógica neoliberal de maximização
da exploração da força de trabalho, destruição de direitos trabalhistas,
redução dos custos e encargos das empresas e elevação das taxas de
lucro. De modo que os territórios se tornam apenas apêndices ou suportes
para a realização de maiores taxas de exploração. As dificuldades
políticas e jurídicas brasileiras,a falta de uma estrutura logística
adequada e o “encarecimento da mão de obra” são apontados pela Ford como
motivos da sua saída do país. No entanto, diferente do que foi alegado a
política de contrarreformas ampliou drasticamente a desregulamentação no
mundo do trabalho brasileiro, reduzindo direitos, achatando o salário
mínimo. O que mostra um total descompromisso do capital internacional
com nossa economia dependente.

A ausência de políticas integradas entre produção, pesquisa e
desenvolvimento no Brasil reduz ainda mais a capacidade de manutenção da
indústria local. A política de desoneração e destruição de direitos
trabalhistas se mostra portanto completamente incapaz de atender aos
interesses da classe trabalhadora brasileira e baiana. De modo que a
vemos como reforço de uma base econômica financista e agroexportadora. O
resultado é a destruição de postos de trabalho em um estado já conhecido
pelas altas taxas de desemprego.

Que saiam os patrões e que fique o trabalho

O poder público em nosso estado se vê completamente incapaz de defender
os interesses da classe trabalhadora, tendo assistido atônito ao anúncio
de saída da Ford. Sua única ação foi fazer uma consulta ao consulado
chinês, sobre a possibilidade de algum interesse futuro das indústrias
chinesas virem se instalar em Camaçari. Tal medida não contempla de
maneira alguma os interesses de nossa classe, que deve ter assegurada
seus postos de trabalho, bem como todo investimento do poder público
para que as instalações da Ford se mantivessem atuantes ao longo das
últimas décadas. A manutenção das fábricas em atividade e de toda a rede
de postos de trabalho sob auto-organização da classe deve ser nossa
bandeira imediata.

A resposta da classe trabalhadora deve ser ao mesmo tempo orientar a sua
organização em termos políticos, mas também em termos de sua atividade
econômica. A auto-organização dos trabalhadores a partir de seus
próprios instrumentos de luta deve pautar urgentemente a tomada dos
pólos industriais. Empresas como a Ford usufruíram por décadas não
apenas das já mencionadas isenções, mas também da exploração da força de
trabalho de nossa classe, aproveitando ainda de logística e instalações
cedidas e redução de encargos de água e energia elétrica. Em resumo:
décadas de espólio de nosso povo e nossas riquezas.

A saída da Ford deve ter como resposta imediata uma política de ocupação
consequente das fábricas. Que saiam as empresas transnacionais e que
fiquem as plantas industriais. A auto-organização da classe trabalhadora
baiana deve avançar no sentido de tomar o controle da produção, pautar
meios de associação entre produção, pesquisa e desenvolvimento,
estabelecendo uma nova lógica produtiva em associação com as
instituições públicas e organizações políticas.

Nosso horizonte político imediato deve estar cada vez mais preparado
para a ação política e econômica direta, com a tomada de postos de
trabalho hoje em risco e criação de tantos outros. A nossa alternativa
de classe constitui na retomada da produção sob base nacional e a
pressão para o financiamento público ao desenvolvimento e à pesquisa
tecnológica. Tais tarefas fazem parte do estabelecimento do Poder
Popular e da pavimentação do caminho revolucionário.

Comitê Regional do Partido Comunista Brasileiro – Bahia

Pela ocupação imediata das Plantas Industriais pelos trabalhadores e
trabalhadoras organizadas, pelo Poder Popular.

In
PCB

https://pcb.org.br/portal2/26719/que-saiam-os-patroes-e-fique-o-trabalho/
13/1/2021

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