sábado, 23 de outubro de 2021

Massacre na Indonésia: a secreta guerra de propaganda da Grã-Bretanha

 


// Paul Lashmar, Nicholas Gilby e James Oliver


Documentos recentemente desclassificados revelam como em 1965 um braço
do Foreign Office destinado a manobras sujas incitou o massacre
anticomunista na Indonésia, que deixou centenas de milhares de mortos. A
velha potência imperialista preferiu esse crime a abandonar as suas
pretensões neocoloniais na zona. Estes documentos dizem respeito à
Grã-Bretanha, mas convém não esquecer que por detrás desta monstruosa
atrocidade estão igualmente os EUA e a Austrália, entre outros comparsas
de menor dimensão.

No início de 1965, Ed Wynne, um funcionário do Ministério das Relações
Exteriores de Londres próximo dos 50 anos, chegou à porta de uma moradia
de dois andares situada na discreta calma de um requintado conjunto
habitacional na Singapura colonial.
Mas Wynne não era um funcionário comum. Especialista do braço de
propaganda da guerra-fria do Foreign Office, o Departamento de
Investigação de Informações (IRD), fora designado para liderar uma
pequena equipa. Um oficial subalterno, quatro pessoas locais e duas
“senhoras IRD”, vindas de Londres para a unidade, iriam juntar-se-lhe.
A chegada de Wynne e dos seus colegas ao cul-de-sac da Winchester Road
marcou o início do que mais tarde seria reivindicado, pelos que a
lideraram, como uma das operações de propaganda de maior sucesso na
história britânica do pós-guerra. Uma operação ultrassecreta que ajudou
a derrubar o líder do quarto país mais populoso do mundo e contribuiu
para o assassínio em massa de mais de meio milhão dos seus cidadãos.
A prova do papel da Grã-Bretanha em incitar o que a CIA descreveu mais
tarde como “um dos piores assassínios em massa do século XX” está em
outro verdejante subúrbio. Em documentos desclassificados do Foreign
Office - retidos muito para além da regra dos 20 anos - em Kew, Londres.
Recentemente colocados nos Arquivos Nacionais da Grã-Bretanha estão
panfletos pretendendo ser escritos por patriotas indonésios, mas na
verdade escritos por propagandistas britânicos, apelando aos indonésios
a que eliminem o PKI, então o maior partido comunista no mundo não
comunista.
O resultado do tumulto foi uma brutal e corrupta ditadura militar de 32
anos, cujo legado molda a Indonésia até aos dias de hoje.
Dois anos antes, em resposta aos planos britânicos de criar um estado
independente da Malásia a partir das suas possessões coloniais, o
presidente de esquerda da Indonésia, Sukarno, lançou o “Konfrontasi”, ou
Confronto, uma guerra não declarada que incluía incursões militares na
fronteira com o Leste da Malásia. Sukarno, como muitos indonésios,
incluindo o PKI, acreditava que a criação de uma federação malaia
constituía injustificada interferência regional dos britânicos para
manter o seu domínio colonial.
Os britânicos foram forçados a dedicar enormes recursos militares e de
informações para ajudar a emergente Malásia a contrariar essas intrusões
do Konfrontasi.
A política britânica era pôr fim ao conflito. Mas os objectivos do Reino
Unido não se detinham aí.
Tal como os seus aliados norte-americanos e australianos, a Grã-Bretanha
temia uma Indonésia comunista. O PKI tinha três milhões de membros e era
próximo à China de Mao. Em Washington, a queda do “dominó” indonésio no
campo comunista era vista como uma ameaça maior do que a potencial perda
do Vietname.
O nacionalismo não-alinhado de Sukarno, o anticolonialismo e os
crescentes laços com a China eram cada vez mais vistos como uma ameaça,
que seria diminuída se o presidente e seu ministro das Relações
Exteriores, Subandrio, fossem destituídos dos seus cargos e a influência
do PKI na Indonésia diminuísse – o mais plausivelmente por meio de
acções do largamente anticomunista exército indonésio.
Em meados de 1965, a oportunidade surgiu. Um grupo secreto de esquerda,
mais tarde chamado “movimento 30 de Setembro”, configurou-se na
Indonésia convencido, com alguma razão, de que o exército planeava
derrubar Sukarno e suprimir o PKI.
Na noite de 30 de Setembro, oficiais de esquerda associados ao
movimento, sob o comando do Tenente-Coronel da guarda presidencial
Untung, apoiados por um punhado de batalhões, tentaram um ataque
preventivo contra o alto comando do exército.
Tentaram prender sete dos generais mais graduados do exército indonésio.
Três, incluindo o comandante do exército, foram mortos. Outros três
foram assassinados na base da força aérea indonésia para onde foram
levados. Os corpos dos generais assassinados foram lançados num poço.
O ministro da defesa, Gen. Nasution, escapou. A sua filha de seis anos e
o seu ajudante de campo foram assassinados.
Mas na noite de 1 de Outubro o comandante da principal unidade de
combate do exército, Gen Suharto, havia assumido o comando do exército e
estava a preparar um contra-ataque que em três dias neutralizou
completamente a mal organizada rebelião.
Embora se acredite agora que o presidente do PKI e seus agentes estavam
envolvidos na tentativa de golpe, não há prova credível de que Sukarno
soubesse disso de antemão, ou que o PKI enquanto organização ou a massa
dos seus membros fossem responsáveis por ela.
Mas o derramamento de sangue não terminou aí. Suharto, nomeado
comandante supremo do exército em 14 de Outubro, usou a rebelião para
minar e eventualmente derrubar Sukarno, e como aquilo a que o
historiador John Roosa tem chamado um “pretexto para assassínio em
massa”: a eliminação do PKI numa série de massacres através da Indonésia
que resultou na morte de centenas de milhares de pessoas.
O Foreign Office sempre negou que a Grã-Bretanha estivesse envolvida na
violência que então foi desencadeada contra supostos comunistas. Mas
estas revelações mostram que as agências de informação britânicas e
especialistas em propaganda foram cúmplices, realizando operações
secretas para minar o regime de Sukarno e eliminar o PKI, culpando-os
pelo golpe de Untung.
O “punhal” de propaganda da Grã-Bretanha foi empunhado por Ed Wynne, o
especialista enviado a Singapura pelo IRD do Foreign Office. O IRD fora
montado pelo governo trabalhista de 1945 para contrariar ataques à
Grã-Bretanha por parte da propaganda soviética e produzir o seu próprio
material anticomunista. Estava intimamente ligado ao MI6 e as suas
actividades reflectiam as operações de propaganda da Guerra Fria da CIA.
O discretamente chamado South East Asia Monitoring Unit, ou Seamu, foi
criado por sugestão do embaixador britânico na Indonésia, Sir Andrew
Gilchrist, cuja embaixada em Jacarta fora incendiada por manifestantes
do PKI em 1963.
Embora estivessem em vigor limitadas “medidas tácticas de guerra
psicológica” contra as tropas indonésias, por altura de 1964 estavam a
ser “esboçadas” ideias para minar “o regime de Sukarno/Subandrio” e,
assim, acabar com a “confrontação” - Subandrio era o ministro das
Relações Exteriores de Sukarno. O que Gilchrist queria e se tornou a
missão da unidade era a produção de propaganda negra, aparentemente
produzida por patriotas indonésios emigrados no exterior, para incitar
os anticomunistas indonésios à acção.
Os alvos influentes de um boletim de propaganda, segundo um relatório
desclassificado de Wynne, incluiriam eventualmente “tantos personagens
na hierarquia do governo, exército e administração pública quantos
pudermos encontrar”.
Para disfarçar a origem britânica do boletim informativo, foi enviado à
Indonésia pela via de cidades asiáticas incluindo Hong Kong, Tóquio e
Manila.
Em um ano foram enviados 28.000 exemplares do boletim, escrito em
indonésio e chamado Kenjataan2 (Factos 2) e, segundo Wynne, chegaram ao
ministro da defesa, “outros generais, jornais da direita e mesmo o
próprio presidente Sukarno ”.
No final de Setembro de 1965, a operação de Wynne estava “a todo vapor”
e em condições de tirar inteiramente proveito do fracassado golpe de Untung.
Foi o momento de que os britânicos estavam à espera. Como comentou um
funcionário do Foreign Office: “Um golpe prematuro do PKI pode ser a
solução mais útil para o Ocidente - desde que fracasse”.
A unidade entrou em acção com transmissões de rádio e a produção de uma
edição especial do boletim informativo, agora finalmente divulgado em
Kew, mais de 66 anos depois dos acontecimentos para cuja influência foi
pensado.
Abre com um aceno no sentido da moderação, mas é um virulento apelo às
armas, concebido para inflamar e encorajar a destruição do PKI.
“Não, nós não clamamos por violência”, escreveram os propagandistas do
IRD, “mas exigimos em nome de todo o povo patriota que este cancro
comunista seja extirpado do corpo do estado”. A PKI “é agora uma cobra
ferida”, escreveram: “É tempo de a matar antes que tenha ocasião de
recuperar”.
E o incendiário boletim informativo do IRD foi enviado no momento-chave,
pois o sucesso da tentativa de tomada do poder por Suharto e as
operações do exército contra o PKI estavam indecisão.
Uma detalhada investigação histórica estabeleceu que os assassínios em
massa de membros e supostos apoiantes do partido PKI parecem ter sido
desencadeados por comandantes locais do exército ou pela chegada de
forças especiais do exército, cerca de três semanas após o fracassado
golpe ter sido reprimido por Suharto.
Durante esse período, os media Indonésios estavam cheios de propaganda
negra contra o PKI e suas supostas atrocidades, enquanto o exército
instigava a ira popular contra os comunistas e legitimava o que Roosa
tem descrito como as suas “já planeadas acções contra o PKI e o
Presidente Sukarno”.
A “edição especial” e outros inflamados boletins dessa série foram
enviados a cerca de 1.500 destinatários. Um relatório da Seamu informa
que os leitores “foram influenciados no sentido desejado”.
Os boletins eram aprovados pelo IRD em Londres antes do envio. Por
solicitação do IRD, as cópias enviadas a altos funcionários do Foreign
Office foram destruídas após serem lidas.
Tari Lang vivia na altura na Indonésia com o seu pai e sua mãe, a
falecida activista dos direitos humanos, Carmel Budiardjo, então
trabalhando como tradutora e analista económica.
“Qualquer um que fosse de esquerda era apanhado. Eles foram muito
sistemáticos. Tinham como alvo todos os grupos de esquerda e não apenas
o PKI. As pessoas viviam recolhidas e só falavam em sussurros.”
Os pais de Tari foram presos, a sua mãe foi libertada três anos depois
com a ajuda do Foreign Office.
À medida que os massacres prosseguiam no Outono de 1965, a unidade do
IRD em Singapura tranquilizava os seus leitores quanto à necessidade
desse massacre.
No Boletim 21, escreveram: “A menos que mantenhamos uma vigorosa
campanha para erradicar o comunismo … a ameaça vermelha envolver-nos-á
novamente.”
A aposta era vida ou morte. “Estamos a lutar pelas nossas vidas e pela
própria existência da Indonésia e nunca o devemos esquecer. OS GATOS
ESTÃO Á ESPERA PARA SALTAR!”
No Boletim 23, os propagandistas de Winchester Road elogiaram “os
serviços de combate e a polícia” por “fazerem um excelente trabalho”.
Sukarno, então a tentar conter os generais, estava errado: “O comunismo
deve ser abolido em todas as suas formas. O trabalho iniciado pelo
exército deve ser continuado e intensificado.” Os autores concluíam
igualando o PKI a Hitler e Gengis Khan.
A tentativa de golpe e suas consequências coincidiram com a chegada a
Singapura de um dos principais propagandistas do Foreign Office.
Gilchrist pensava que o esforço em expansão da propaganda da
Grã-Bretanha não era suficiente. Pediu que Norman Reddaway fosse enviado
como “coordenador da guerra política” contra a Indonésia, com o apoio do
chefe do estado-maior de defesa, Lord Louis Mountbatten.
Reddaway servira no exército durante a segunda guerra mundial antes de
ingressar no Foreign Office e desempenhar um papel fundamental no
estabelecimento do IRD. Após o golpe fracassado de Untung, veio para
assumir o comando da operação britânica. A sua orientação era simples.
Numa entrevista em 1996 com dois dos autores, disse que o Foreign Office
lhe dera um orçamento de £100.000 do e lhe fora dito “para fazer
qualquer coisa que pudesse fazer com que se livrassem de Sukarno”. Só
agora sabemos inteiramente o que “qualquer coisa” significava.
Uma avaliação secreta das operações do IRD por Reddaway, escrita ao
chefe do IRD em Julho de 1966, depois que Sukarno ter sido efetivamente
removido do poder, está nos Arquivos Nacionais. Reddaway afirmava que as
suas instruções confidenciais à imprensa tinham sido eficazes em mover a
opinião global e que a operação de propaganda era um grande sucesso.
“A máquina de notícias era o nosso cacete: o boletim informativo e as
nossas pouco ortodoxas operações o nosso punhal”, disse.
Em outro documento divulgado, relatou que o IRD e os generais estavam a
“cantar em harmonia”.
O ex-funcionário do Foreign Office Derek Tonkin, que foi o agente em
Londres para a Indonésia de 1963 a 1966, disse no mês passado que não
tinha visto os boletins de propaganda porque era acima da sua
responsabilidade, mas que nos primeiros dias após a tentativa de golpe
de 30 de Setembro, ninguém poderia ter previsto que banho de sangue ia
seguir-se.
Mas, admite, “pode não ser fácil escapar à acusação de que a
Grã-Bretanha ajudou inicialmente em alguma pequena medida a instigar o
fim do PKI naquilo que viria a ser uma muito horrível maneira”.
Quanto a Reddaway, segundo Tonkin, “ele andava um pouco em roda livre e,
como muitos propagandistas, talvez estivesse excessivamente comprometido
com o seu mandato”. Reddaway e a sua equipa eram “mais uma lei para si
mesmos, mas o FO sabia que ele o seria quando o nomearam”.
Nas entrevistas de 1996, Reddaway gabou-se de manipular os meios de
comunicação britânicos e outros media globais para adoptarem uma linha
anti-Sukarno e PKI, mas insistiu que o IRD apenas divulgou factos
verdadeiros e não usou propaganda negra.
Como sempre com o IRD, Reddaway contou-nos uma verdade parcial. Segundo
um memorando que escreveu: “O cacete foi surpreendentemente eficaz
porque fomos capazes … de fornecer aos publicistas informações que eles
não poderiam encontrar em outras fontes por causa da censura de Sukarno.”
Reddaway identificou os mais úteis destinatários da sua produção como as
agências de notícias, “menos exigentes quanto à tarifa e mais anónimos”,
e os homens da rádio: o Serviço Mundial da BBC e o Serviço Indonésio em
particular. Uma das principais fontes de Reddaway foi, naturalmente, o
embaixador britânico em Jacarta, Gilchrist, com quem trocou pontos da
situação semanais ao longo do período.
Em Julho de 1966, numa carta a Gilchrist, Reddaway comemorou que foi “a
primeira vez na história que um embaixador se pudera dirigir ao povo de
seu país de trabalho quase à vontade e quase instantaneamente”.
Para alimentar a operação, Reddaway baseava-se também na inteligência de
sinais, ou Sigint.
Estava em excelente posição para o fazer. Localizava-se em Singapura um
serviço de monitoramento do GCHQ.
Segundo o Dr. Duncan Campbell, jornalista investigativo e especialista
no GCHQ, o serviço de monitoramento da organização em Singapura, RAF
Chia Keng, estava escondido atrás e dentro de uma grande estação de
comunicações da RAF na Yio Chu Kang Road no leste de Singapura, agora um
bairro residencial. Os “bungalows” de escuta de alta segurança do GCHQ
tinham janelas de tijolos de vidro opaco que escondiam cerca de 50
funcionários civis em cada turno. A base estava perfeitamente localizada
para obter rapidamente relatórios completos e directos sobre os
desenvolvimentos na Indonésia. Segundo Campbell, “o GCHQ conseguia sem
dificuldade decifrar e ler códigos indonésios. O governo estava entre
muitos países do terceiro mundo utilizando equipamentos fornecidos pela
empresa suíça Crypto AG. Por mais de 50 anos, a Crypto AG fornecia
máquinas de encriptagem secretamente sabotadas, integrando acessos para
os quais a CIA e o GCHQ tinham chaves.”
Um revelador memorando, datado de 30 de Outubro de 1965, de Reddaway
para Brian Tovey, mais tarde director do GCHQ, então num posto em
Singapura, destacava a contribuição que Sigint poderia dar. Reddaway
disse ao seu colega que o material do GCHQ pode “ajudar os generais a
perseguir com mais eficácia o PKI”.
Os boletins continuaram sendo o principal trabalho de Ed Wynne e seus
colegas em Winchester Road. Um tema central foi encorajar os seus
leitores influentes a apoiar a campanha do exército contra os
comunistas. Exortaram os patriotas indonésios: “O PKI e tudo o que ele
representa deve ser eliminado para sempre.”
Agora sabemos que, para o fazer, incluíam mentiras sensacionalizadas. Em
5 de Novembro, o jornal pró-militar Jakarta Daily Mail afirmou que, no
dia do golpe de Untung, 100 mulheres da organização de mulheres Gerwani
do PKI tinham torturado um dos generais usando lâminas de barbear e
facas para cortar os seus órgãos genitais antes de ser abatido a tiro.
A história da tortura e mutilação dos generais pelas mulheres Gerwani
tornou-se parte do mito fundador do regime de Suharto, usado para
justificar a destruição do PKI. Foi também, segundo Roosa, um pretexto
para assassínio. Uma mentira propagada pelo exército indonésio,
regurgitada e reaproveitada para incitar os influentes leitores do IRD.
A história da propaganda do exército foi reciclada de volta à Indonésia
em Janeiro de 1966, no Boletim 23, com um relatório sobre as alegações
feitas por dois membros do PKI interrogados pelo exército. Um ligava o
ministro das Relações Exteriores de Sukarno, Subandrio, à construção de
uma “sala de tortura” para o uso de prisioneiros do PKI, o outro fazia
referência ao Jakarta Daily Mail, membro da organização de mulheres do
PKI, Gerwani, “um dos ‘homenageados’ com a tarefa de mutilar os generais ”.
A menina de 15 anos teria dito: “O nosso chefe de pelotão ordenou-nos
que espancássemos o prisioneiro e depois cortássemos as suas partes
íntimas com pequenas facas”.
Tari Lang, filha de Carmel Budiardjo, também tinha 15 anos na época.
“Esses boletins são horríveis. Se não me tivesse dito quem os escreveu,
teria pensado que eram indonésios. É inacreditável que tenham feito isto.
“Havia mulheres Gerwani no círculo social da minha mãe e elas eram como
membros do Instituto da Mulher. Muito gentis.”
O IRD silenciou deliberadamente os massacres. Um documento de Dezembro
de 1965 diz que “não devem fazer nada que embarace os generais” e o
boletim informativo detalha cuidadosamente relatos de incidentes
isolados de brutalidade do PKI, mas não faz qualquer menção explícita
aos assassínios do exército.
Na verdade, a política foi mais longe. No relatório de Seamu de 1965,
Wynne escreveu que usaram o boletim informativo para “ataques
continuados aos culpados … e apoio indirecto à limpeza e controlo pelos
generais”. Os generais, observou Wynne, “tratamos com gentileza”.
No início de 1966 os assassínios em massa na Indonésia, se não a sua
escala, eram bem conhecidos.
Em Janeiro, Robert F Kennedy comparou os massacres a “carnificinas
desumanas perpetradas pelos nazis e comunistas” e perguntou quando é que
as pessoas se iriam “manifestar … contra o desumano massacre na
Indonésia, onde mais de 100.000 supostos comunistas foram, não
perpetradores, mas vítimas?”
Em Fevereiro, descartando a ideia de “divulgar o banho de sangue” como
uma redução das possibilidades de “conseguir uma nova gestão na
Indonésia”, Reddaway observou: “Estou muito satisfeito de que um bom
número de comunistas tenha sido eliminado, mas os seus assassinos são
predominantemente militares e muçulmanos.”
Em Março de 1966 a campanha assassina contra o PKI, que resultou em mais
de meio milhão de mortes, estava praticamente encerrada. Em 11 de Março,
o presidente Sukarno foi forçado a entregar o poder ao general Suharto,
e o fim da “Confrontação” estava à vista.
Em 14 de Março, Reddaway escreveu a Gilchrist: “Não consigo imaginar
como no curto prazo as coisas poderiam ter andado melhor do que nos
últimos 10 dias”.
“Sei que os indonésios sob a sua nova gestão não serão parceiros fáceis,
mas não posso evitar um pequeno (não atribuível) Te Deum sobre a mudança
na situação entre 29 de Setembro e 12 de Março”, escreveu.
Wynne considerava a operação um sucesso. No seu relatório anual de 1966,
diz com orgulho que a sua operação foi “bastante bem-sucedida” porque
todos os seus inimigos (Konfrontasi, Sukarno, Subandrio e o PKI) foram
“destruídos”. A sua memória desses trágicos acontecimentos era de
“entusiasmo”.
Segundo o Prof Scott Lucas, da Universidade de Birmingham, os documentos
desclassificados mostram que: “A Grã-Bretanha estava preparada para se
envolver em actos sujos que contrariam os seus alegados valores.”
Revelam, diz , “o quão importante a propaganda negra foi para dar a
ilusão de que a Grã-Bretanha poderia exercer um poder global - mesmo que
muitas pessoas pudessem ser mortas para essa ilusão”.

• O Dr. Paul Lashmar é jornalista de investigação e leitor de jornalismo
na City, University of London.
• Nicholas Gilby é investigador de campanhas e autor de uma história do
suborno e comércio de armas na Grã-Bretanha.
• James Oliver é produtor e realizador vencedor do Emmy da BBC e liderou
a recente investigação dos Pandora Papers para a BBC Panorama.

Fonte:
https://www.theguardian.com/world/2021/oct/17/slaughter-in-indonesia-britains-secret-propaganda-war
<https://www.theguardian.com/world/2021/oct/17/slaughter-in-indonesia-britains-secret-propaganda-war>

In
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/massacre-na-indonesia-a-secreta-guerra/
22/10/2021

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