quarta-feira, 14 de junho de 2023

Robert Kennedy Jr.: “Sejamos honestos: é uma guerra dos EUA contra a Rússia”

 

 


A publicação deste trecho de uma entrevista justifica-se a vários
títulos. São opiniões expressas por alguém que procura a nomeação do
partido democrata dos EUA às próximas eleições presidenciais, e já conta
com significativo apoio nas sondagens. Essas opiniões divergem
inteiramente das da administração Biden. E quem as emite é portador de
um apelido de grande peso nos EUA.

Robert F. Kennedy Júnior anunciou a sua candidatura à presidência,
desafiando Joe Biden para a nomeação democrata. As suas sondagens já
atingem os 20%. O sr. Kennedy aceitou falar com UnHerd. Abaixo estão
alguns dos pontos da conversa relativos ao conflito ucraniano.

*P.: Isso leva-nos a uma questão premente: uma coisa de que fala muito é
que a América está num estado de guerra permanente e quer pôr fim a
isso. No que diz respeito à Ucrânia, como é que se propõe fazê-lo?*

RFK Jr.: Os russos têm-se oferecido repetidamente para chegar a um
acordo. Se olharmos para os acordos de Minsk, que os russos se
ofereceram para resolver, eles parecem hoje um óptimo acordo. Sejamos
honestos: trata-se de uma guerra dos EUA contra a Rússia, para
sacrificar essencialmente a flor da juventude ucraniana num matadouro de
morte e destruição para a ambição geopolítica dos neoconservadores,
frequentemente declarada, de mudar o regime de Vladimir Putin e exaurir
as forças armadas russas para que não possam combater em mais lado
nenhum do mundo.

O Presidente Biden disse que era essa a sua intenção - livrar-se de
Vladimir Putin. O seu Secretário da Defesa, Lloyd Austin, em Abril de
2022, disse que o nosso objectivo aqui é esgotar o exército russo. O que
é que isso significa, “exaurir”? Significa atirar-lhes ucranianos para
cima… O comandante da unidade de forças especiais na Ucrânia, que é
provavelmente a força de combate de maior valor da Europa, disse que 80%
das suas tropas estão mortas ou feridas e que não podem reconstruir a
unidade. Neste momento, os russos estão a matar ucranianos numa
proporção de 1:5 ou 1:8, dependendo dos dados em que acreditamos.

Se olharmos para os acordos de Minsk, estes estabelecem as bases para um
acordo final. A região do Donbass, que é 80% de etnia russa - e russos
que estavam a ser sistematicamente mortos pelo governo ucraniano -
tornar-se-ia autónoma dentro da Ucrânia e seria protegida.

Precisamos de retirar os nossos sistemas de mísseis Aegis, que alojam os
mísseis Tomahawk - mísseis nucleares - de 70 milhas da fronteira russa.
Quando os russos colocaram mísseis nucleares em Cuba, a 1.500 milhas de
Washington DC, estávamos prontos para os invadir, e tê-los-íamos
invadido se não os tivessem retirado. A forma como acabaram por ser
retirados foi esta: o meu tio e o meu pai fizeram um acordo com o
Embaixador Brennan e com Khrushchev, com quem tinham uma relação próxima
e com quem podiam falar directamente nessa altura. O acordo foi: “Vamos
retirar os nossos mísseis Júpiter da Turquia, na vossa fronteira, porque
sabemos que isso é intolerável para vós”.
A Rússia foi invadida duas vezes nos últimos 100 anos. É compreensível
que não queiram sistemas de mísseis nucleares em países hostis na sua
fronteira. Deveríamos também concordar em manter a NATO fora da Ucrânia,
que é o que os russos pediram. Penso que, com base nestes pontos, alguém
como eu poderia resolver esta guerra.

Não creio que os neoconservadores sejam capazes de a resolver, nem as
pessoas que rodeiam o Presidente Biden - porque foram eles que criaram o
problema. Não penso que alguma vez o vão reconhecer. Mas o meu tio
sempre disse que, se quisermos alcançar a paz, temos de nos colocar no
lugar do outro e de perceber quais são as pressões locais sobre ele.

Devíamos há muitos anos ter dado ouvidos a Putin. Comprometemo-nos com a
Rússia, com Gorbachev, a não deslocar a NATO um centímetro para leste.
Depois avançámos, e mentimos. Entrámos em 13 países da NATO, instalámos
sistemas de mísseis com capacidade nuclear, fizemos exercícios conjuntos
com a Ucrânia e outros países da NATO.

“Qual é o objectivo da NATO?” - foi o que George Kennan perguntou; foi o
que Jack Matlock perguntou. Todos os decanos da política externa dos EUA
diziam: “A Rússia perdeu a Guerra Fria. Vamos fazer à Rússia o que
fizemos à Europa quando lhes demos o Plano Marshall. Somos os vencedores
- vamos levantá-los. Vamos integrá-los na sociedade europeia”.

Qual é o objectivo da NATO, a não ser opor-se à Rússia?

Se nos dirigimos à Rússia de uma forma hostil desde o início, é claro
que a sua reacção será também hostil. E se estivermos a lentamente
avançar em todos estes Estados, que dissemos que nunca fariam parte da NATO.
O que aconteceu na Ucrânia foi que os EUA apoiaram essencialmente um
golpe de Estado em 2014, contra o governo democraticamente eleito da
Ucrânia.

Temos transcrições de chamadas telefónicas de Victoria Nuland, uma das
neoconservadoras da Casa Branca, que escolheu a dedo o novo governo que
era hostil à União Soviética.

Se olharmos para isto, e nos colocarmos na posição da Rússia, e
dissermos: “Muito bem, os Estados Unidos, o nosso maior inimigo, estão a
tratar-nos como inimigos, assumiram o governo de uma nação e tornaram-na
hostil a nós, e depois começaram a aprovar leis que são prejudiciais a
esta gigantesca população russa”.

Se o México fizesse isso e começasse a matar - mataram 14.000 russos no
Donbass, o governo ucraniano - se o México fizesse isso a americanos
expatriados, invadíamo-los num segundo!
Temos de nos pôr na pele dos nossos adversários, diz Robert F. Kennedy
Júnior.

Fonte:
https://moderndiplomacy.eu/2023/05/08/robert-kennedy-jr-lets-be-honest-its-a-us-war-against-russia/

Em
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/robert-kennedy-jr-sejamos-honestos-e/
14/6/2023

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