sábado, 6 de junho de 2015
Campo de concentração da banca
por Valentin Katasonov
A notícia de que falo foi publicada em Maio nos media. Não se trata de
grande coisa à primeira vista, certamente não algo que impressione. Mas o
diabo está nos detalhes. Alguns acontecimentos interessantes tiveram lugar
na Escandinávia. O governo dinamarquês propôs isentar certas lojas da
obrigação de aceitar pagamentos em papel-moeda (cash) num passo no
sentido de deixar o país mais próximo de uma economia "sem papel-moeda".
Não será mais exigido que negócios tais como comerciantes de vestuário,
postos de gasolina e restaurantes aceitem papel-moeda no próximo ano,
declarou em 6 de Maio o governo da Dinamarca. Isto faz parte de um pacote
pré-eleitoral de medidas para o crescimento económico destinadas a reduzir
custos e aumentar a produtividade dos negócios. Muitas lojas na Suécia não
aceitam papel-moeda mas apenas cartões de débito ou de crédito. Agora um
comprador com os bolsos cheios de papel-moeda deixará uma loja sueca ou
dinamarquesa de mãos vazias.
Não é segredo que em muitos países o papel-moeda está a perder a sua
função de meio de pagamento. O papel-moeda representa apenas 10% das
transacções em países avançados e 15% dos negócios nos estados do mundo em
desenvolvimento [1] .
Bancos e governos promovem o processo. Em alguns estados activistas
sociais advogam a ideia de cancelar de todos pagamentos em papel-moeda.
Aqueles que desejam que o papel-moeda se torne uma coisa do passado
avançam com os seguintes argumentos. Dizem eles que a transferência para
pagamentos sem papel-moeda afastará muitos males da sociedade, como por
exemplo: tráfico de droga, terrorismo, escravatura, corrupção, etc. Na
verdade, pagamentos em papel-moeda, ou dinheiro sujo, permitem a
criminosos esconderem sua identidade. É nisto que se baseia a "economia
cinzenta", ou a evasão fiscal. O papel-moeda é excessivamente trabalhoso
para emitir, fazer circular e liquidar. Custa 1% do PIB fazer todas estas
coisas. A ecologia sofre – é produzida dioxina tóxica quando o papel-moeda
é queimado. A ausência de pagamentos em papel-moeda beneficiará o povo.
Suas mãos não tocarão notas infectadas por micróbios, não há risco de
roubo ou assalto, as pessoas gastam menos tempos em lojas – a lista vai
por aí afora...
Muitos países do Ocidente adoptam leis para directa ou indirectamente
afastarem o papel-moeda da circulação. Eles impõem limites sobre
pagamentos em papel-moeda. Exemplo: a soma que alguém paga de uma vez na
Espanha e em França não pode exceder os 3000 euros. O governo francês diz
que planeia reduzi-la para 1000 euros, como na Itália. Todos os pagamentos
em papel-moeda são regulados pelo governo. Um cidadão da França não pode
gastar mais do que 3000 em papel-moeda durante uma semana. Ninguém pode
retirar mais do que 10 mil euros da conta bancária sem atrair atenção
especial de agências de imposição da lei. Uma soma que exceda um milhar de
euros não pode ser convertida numa divisa estrangeira. Tais transacções
são estritamente regulamentadas pelo governo. Isto é o exemplo da
"democracia monetária" no país que em 1789 declarou a liberdade um valor
sagrado.
Os bancos dão a sua contribuição ao processo. Alguns simplesmente
recusam-se a receber papel-moeda. Outros estabelecem altas comissões para
transferência de dinheiro. Exemplo: em Abril o Chase, o maior banco nos
EUA, e uma subsidiária do JP Morgan Chase and Co. , juntaram-se na guerra
ao papel-moeda. A nova política restringe tomadores de empréstimo de
utilizarem papel-moeda para efectuar pagamentos de cartões de crédito,
hipotecas, linhas de crédito e empréstimos para automóveis. O Chase vai
mesmo ao ponto de proibir a armazenagem de papel-moeda nos seus cofres.
Numa carta aos seus clientes datada de 1 de Abril de 2015 relativa ao seu
"Acordo actualizado para o aluguer de cofres" ("Updated Safe Deposit Box
Lease Agreement", num dos ítens destacados lê-se: "O senhor concorda em
não armazenar qualquer papel-moeda ou moedas além daquelas consideradas
ter um valor de colecção". O Chase armazenará a sua arma, mas papel-moeda
não, por favor!
O processo tem abrangido o transporte público. Uma pessoa que queira
pagar em papel-moeda um bilhete de autocarro já não o pode fazer. A opção
é comprar um bilhete de subscrição periódica ou enviar uma mensagem SMS
para pagar por uma viagem única.
Na Alemanha, Peter Bofinger, economista conhecido, faz campanha pela
abolição do papel-moeda. Se a sociedade sem papel-moeda se tornar uma
realidade, os mercados para trabalho não declarado e drogas poderiam ser
secados. A ideia da sociedade sem papel-moeda é muito popular na Suécia.
Acredita-se ali que abolição do papel-moeda seria uma contribuição para o
êxito do combate ao tráfico de droga, ao crime, ao terrorismo, etc. Bjorn
Ulvaeus, o líder da ABBA – a banda que foi uma lenda da pop music nas
décadas de 1970-1980 – é um ardente advogado da ideia. O autor do êxito
chamado Money, Money, Money anunciou dois anos atrás que começava um
combate contra o papel-moeda. Naquela altura foi anunciado que não haveria
bilhetes vendidos contra papel-moeda no museu ABBA em Estocolmo. "Cartões
electrónicos e smartphones hoje e, talvez, inventem alguma outra coisa
amanhã".
Muitas coisas são inventadas hoje em dia. A Suécia não fica para trás.
Este é o país mãe do sistema de pagamentos através da simples leitura
óptica (scanning) da palma da mão. Um estudante de engenharia na
Universidade Lund, na Suécia, fez isto acontecer – constituindo a primeira
companhia conhecida do mundo, a Quixter – ao instalar a técnica de
esquadrinhamento das nervuras em lojas e cafés. Ele não perdeu tempo à
espera.
Os pagamentos com papel-moeda estão a tornar-se uma coisa rara em
praticamente todos os países. Oitenta por cento das transacções nos
Estados Unidos são sem papel-moeda e o mercado continua a livrar-se de
dinheiro em papel e em moedas. O Payments Council do Reino Unidos declarou
recentemente que o número de transacções sem papel-moeda excedera o número
de pagamentos em cash. A Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia liberam o
processo. Cartões de plástico já não são mais a vanguarda dos meios de
pagamento. Na Dinamarca, um em cada três cidadãos utiliza um sistema de
pagamento móvel. A MobilePay app permite enviar e receber dinheiro via
Iphone, Android e Windows Phone. O serviço está aberto para clientes de
bancos dinamarqueses e não dinamarqueses. O utilizador transfere o
dinheiro seleccionando o número móvel da pessoa que deve receber o
dinheiro. Na Suécia o papel-moeda é utilizado para apenas 3% das
transacções [2] . Para comparação: este índice é três vezes mais alto na
Europa. O papel-moeda representa 7% das transacções nos Estados Unidos. O
campeão é a Coreia do Sul com 2% das transacções em papel-moeda, segundo o
World Payments Report. A Suécia gosta de relembrar que o seu país inventou
as notas. Em 1661 o Banco de Estocolmo sueco emitiu a primeira nota
bancária para compensar uma escassez de moedas de prata. Agora a Suécia
aspira ser um pioneiro europeu para finalmente abolir o papel-moeda.
Há razões para acreditar que "os detentores do dinheiro" (banqueiros)
providenciam incentivos para acelerar o processo (enquanto fazem o melhor
que podem para esconder suas actividades). Por que precisam disto? Bem,
talvez persigam um certo número de objectivos.
Em primeiro lugar, desde a década de 1970 as taxas de juro activas
(créditos) e passivas (depósitos) têm estado gradualmente a reduzir-se.
Taxas de juro negativas surgiram após a crise de 2007-2009. A tendência
deixa o povo sem estímulo para manter o dinheiro em bancos. O papel-moeda
torna-se preferível. Com transacções 100% livres de papel-moeda os
clientes nunca deixarão os bancos.
Em segundo lugar, o dinheiro sem papel-moeda vem do ar. Os meios de
pagamentos são o dinheiro emitido pelos bancos centrais. Clientes utilizam
dinheiro real para depósitos junto a banqueiros tornando disponíveis
algumas unidades da divisa (para cada dólar, libra, etc) como créditos.
Isto é uma falsificação em grande escala que se tem verificado desde o
século XIX. Ela vem à superfície só no momento de crises financeiras
quando multidões de clientes correm a pedir o seu dinheiro de volta e os
bancos estão em apuros. Os manuais de economias chamam a isto garantias
bancárias incompletas. Quanto menos papel-moeda estiver em circulação,
mais vastas oportunidades existem para fazer lucros a partir do ar.
Em terceiro lugar, os possuidores do dinheiro (os principais bancos do
mundo, acima de tudo os accionistas do US Federal Reserve System )
acreditam que o seu objectivo primário é alcançar o poder mundial
absoluto. A transferência para transacções sem papel-moeda significa a
construção do "campo de concentração" global supervisionado pelos
banqueiros. Os detentores de contas sem papel-moeda terão seu
comportamento e mesmo pensamentos sob controle. Em caso de "desvios" as
contas serão bloqueadas. Na prática será uma sentença de morte. O mundo
100% sem papel-moeda tornar-se-á um campo de concentração com
prisioneiros remetidos para o outro mundo sem câmaras de gás e sem
execuções.
A estrada para inferno está pavimentada com boas intenções, dizem. Vamos
recordar o 11/Set. Foi uma acção bem preparada encenada pelos detentores
do dinheiro para declarar uma guerra total contra terroristas. Hoje mesmo
um cego pode ver que a guerra contra o terror é utilizada para justificar
os esforços de Washington para desestabilizar a situação política em
diferentes partes do mundo ou, por outras palavras, para implementar a
política de caos administrado. A campanha destinada a comutar para
transacções sem papel-moeda faz parte do jogo.
O que denominei campo de concentração dos bancos não é algo novo, não há
surpresa. Rudolf Hilferding escreveu a respeito há cerca de um século. Era
um economista marxista nascido na Áustria, um político e teórico
importante do Partido Social-Democrata da Alemanha. Hilferding foi o
primeiro a avançar a teoria do capitalismo organizado, ou "capital
financeiro", ou sistema bancário concentrado. Ele saudou este sistema de
totalitarismo. Rudolf Hilferding acreditou que o capitalismo tradicional
evoluiria para um sistema que eliminaria guerras, crises e revoluções. Os
bancos comerciais seriam transformados em instituições para executar as
funções de manter registos e contabilidade. Esta função é um imperativo
para o funcionamento de campos de concentração.
John Coleman, antigo operacional de serviços especiais, continuou a
discutir a questão no seu Committee 300 (publicado pela primeira vez em
1991). Ele fala acerca de um grupo todo-poderoso que não responde a
ninguém excepto aos seus membros que não conhecem fronteiras nacionais,
está acima das leis de todos os países. Ele realmente controla todo
aspecto da política, religião, comércio e indústria, banca, seguros,
mineração, comércio de droga, indústria petrolífera. Coleman é menos
optimista do que o socialista austríaco do século XX. Segundo Coleman, a
eliminação de "povo extra" sobre o planeta é um objectivo primário dos
detentores do dinheiro. O campo de concentração dirigido por banco pode
ser um instrumento perfeito para cumprir a missão.
Isto veio à minha mente quando estava a ler as notícias acerca das
recentes "inovações" na Dinamarca e na Suécia.
PS: Chegaram mais notícias depois de ter concluído este artigo. Martin
Armstrong informou sobre preparativos de uma reunião secreta em Londres
entre representantes do Banco Central Europeu, Federal Reserve System dos
EUA e bancos centrais da Suíça e Dinamarca com o objectivo de livrarem-se
de qualquer privacidade económica que permaneça ao acabar o papel-moeda.
Armstrong é conhecido no mundo dos peritos sobre economia e finanças como
um mestre em previsões (ele previu muitas crises, incluindo o
incumprimento da Rússia de 1998). Ele está bem informado acerca das
tendências no negócio bancário [3] . As agências de notícias mundiais
fecharam os olhos e fizeram-se de surdas acerca do evento planeado,
comentado apenas por blogs. [4]
A abolição do papel-moeda e a comutação para transacções electrónica
estarão no topo da agenda. Não é a utilização de tecnologias electrónicas
que e importante, mas ao invés o facto de que não haverá negócios
anónimos. Armstrong apresenta mesmo alguns pormenores sobre o suposto
evento. Como ele afirma: "Considero extremamente desconcertante que eu
tenha sido o único a informar que há uma reunião secreta em Londres onde
Kenneth Rogoff da Universidade de Harvard e Willem Butler, o economista
chefe do Citigroup, tratarão dos bancos centrais e advogarão a eliminação
de todo papel-moeda a entrar em vigor no dia em que não se puder comprar
ou vender qualquer coisa sem aprovação governamental". Armstrong
considerou a reunião como mais um passo no caminho da eliminação das
liberdades restantes e do estabelecimento do totalitarismo económico.
Notas:
(1) Para comparação: o índice é 25% no caso da Rússia. É mais alto em
alguns outros estado. Na Arménia ultrapassa os 40%.
(2) politrussia.com
(3) armstrongeconomics.com
(4) Paul Joseph Watson. Secret Meeting in London to "End Cash". Central
banks aim to institute " governmental approval " for all purchases and
sales (May 27, 2015)
O original encontra-se em www.strategic-culture.org/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
http://www.resistir.info/financas/katasonov_02jun15.html
5/6/2015
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Embraer: sucesso, globalização e… ataque ao trabalho
por Arnaldo Mazzei Nogueira e Marco Antonio Gonsales de Oliveira
Greve de quatro dias, em 2014. Depois de privatizada, empresa viveu duas
“reestruturações” e demitiu mais de 11 mil. Salários equivalem a apenas 1/3 do
pago pelas concorrentes
A Embraer é uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo. Inaugurada em 1969
como empresa estatal estratégica para a indústria da defesa e segurança
nacional, símbolo do regime militar instaurado em 1964, a companhia expandiu
suas atividades no segmento da aeronáutica e se tornou umas das principais
empresas deste seletíssimo setor. No entanto, este voo não trafegou apenas por
céus de brigadeiro.
A Embraer passou por diversas reestruturações, financeiras e produtivas, que
trouxeram crescimento de produtividade, ainda que sob crescente insatisfação,
principalmente dos empregados da produção.
Paradoxalmente, o quadragésimo quinto aniversário da empresa — o ano de 2014 —
ficará marcado pela maior greve [1] realizada pelos trabalhadores da Embraer no
período pós-privatização (1994). Foram cinco dias de portões fechados: em 9 de
outubro e 5 a 8 novembro, com adesão de 10 mil empregados.
Em setembro, a mobilização já havia ocorrido na planta da avenida Faria Lima, em
São José dos Campos (SP) e ocasionado atraso na produção. Em outubro, os
trabalhadores cruzaram os braços por não concordarem com a proposta de reajuste
salarial de 6,6%, o que representava um aumento real de 0,24%. Em novembro, a
reivindicação dos trabalhadores foi contra a nova proposta de reajuste de 7,4%,
enquanto empresas da região como Armco, Ericsson, Chuman, TI Automotive, Blue
Tech, entre outras, acordaram reajustes que variaram entre 9% e 10%, à exceção
da Panasonic, que acordou o reajuste de 8,5%.
“Um insulto aos trabalhadores da Embraer. Apenas até setembro de 2014, a empresa
registrou lucro de R$ 554 milhões, o triplo do registrado no mesmo período do
ano anterior”, ressalta Herbert Claros, mecânico ajustador da Embraer há nove
anos e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos.
Para se ter uma ideia, pessoas que produzem aviões, supostamente uma “elite” da
classe trabalhadora, têm o piso do salário fixado em R$ 1.336,00 (2015). A
mão-de-obra representa 8% do total dos custos da empresa. A empresa paga três
vezes menos aos seus empregados operacionais do que as suas principais
concorrentes. Enquanto o salário-hora médio da produção da Boeing é de U$ 26,20,
o da Airbus U$ 25,10 e o da Bombardier é de U$ 20,50, o da Embraer é de U$ 7,51
ou R$ 4.961 por mês (2015).
Em 2014, a empresa dividiu a título de PLR (Participação nos Lucros e
Resultados) R$ 16 milhões entre oito diretores (dois milhões pra cada). Enquanto
isso, 17 mil trabalhadores dividiram R$ 35 milhões (R$ 912 + 12,4% sobre o
salário). A diferença é tão brutal que é impossível não causar indignação. Sem
contar que o assédio moral é uma política institucional da Embraer, que age com
ameaças, perseguição e não respeita o direito de organização dos trabalhadores.
O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos Herbert
Claros, também militante do PSTU, escolheu trabalhar na Embraer com o objetivo
de revitalizar o movimento sindical após a privatização da empresa [2]. Entre
1989 e 94, 7.354 funcionários foram demitidos, dentre eles todos os membros da
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e diretores sindicais. No dia
15 de abril de 2015, Herbert tomou posse no Conselho de Administração da
Embraer, eleito com 4.070 votos.
Ações mais valiosas
A Embraer conta com mais de 19 mil empregados espalhados pelos quatro grandes
continentes. Já produziu mais de cinco mil aeronaves, é a terceira maior
fabricante de jatos comerciais do mundo e suas ações estão frequentemente entre
as melhor avaliadas no mercado financeiro. Trata-se de uma empresa global cuja
definição envolve todas as características da empresa moderna da fase
monopolista do capital: produção técnica com forte capacidade rentável sobre o
trabalho, divisão administrativa em diversos níveis com efeitos na estrutura
ocupacional, departamento mercadológico com capacidade de induzir a demanda,
comando financeiro do processo e das decisões empresariais,além da gestão
planejada com efeito de coordenação social.
A diferença entre elas é o aumento da complexidade destas unidades, muito mais
articuladas e sensíveis ao mercado e à competitividade global. A empresa global
de hoje refere-se à moderna corporação de alto valor agregado que atua em uma
teia empresarial global diversa, heterogênea e flexível, dirigida por executivos
profissionais que acima de tudo solucionam problemas de interesse dos
acionistas.
As duas grandes reestruturações da Embraer ocorreram em 2006 e 2009. A primeira
deu-se no âmbito financeiro, visando à valorização produtiva e acionária: a
empresa pulverizou o capital e alterou seu nome – de Embraer – Empresa
Brasileira de Aeronáutica S.A. – para Embraer S.A.. Nesse ano, todas as ações
passaram a ser ordinárias e, portanto, sem a figura do acionista controlador. A
pulverização de capital diminuiu o custo de financiamento e aumentou a liquidez,
somando-se novas tecnologias de ponta que intensificaram o trabalho.
A maior comprovação deste argumento veio em seguida, com a segunda grande
reestruturação – agora, no âmbito produtivo. Sob a justificativa da crise global
de 2008-09, a Embraer demitiu mais de 4 mil trabalhadores em fevereiro de 2009.
As perdas da empresa referem-se a especulações no mercado financeiro e não a
produtividade. Neste mesmo ano (2009), bateu recorde de produção, com 244
aeronaves entregues; e em 2010 produziu ainda mais, 281 (ver gráfico G.02,
abaixo). Apenas com a introdução de novas tecnologias e com a intensificação do
trabalho é possível a uma organização dar tais saltos de produtividade.
Não obstante, alguns empregados foram readmitidos pela Embraer em 2011, com
salários inferiores aos praticados anteriormente. Empregados com salários de R$
3.620 em 2009 foram contratados por R$ 1.504, ou até mesmo por R$ 960, como
relata um funcionário que anteriormente recebia R$ 3.200, fato constatado por
Lívia de Cássia G. Moraes (2013), em sua brilhante tese sobre as reestruturações
e a intensificação do trabalho na Embraer.
As reestruturações estão relacionadas diretamente com o processo de privatização
da Embraer e com a adoção do modelo de gestão neoliberal voltado para garantir
tanto o retorno do investimento aos acionistas quanto o posicionamento
competitivo global. As demissões foram o resultado “natural” deste paradigma e
significam profunda crise social. Toda a região é diretamente afetada (ver
gráfico G.01, abaixo). Cada emprego perdido tem impacto multiplicador em termos
sociais e econômicos, além da desestruturação da vida de cada indivíduo
atingido. No momento em que a carreira como “estrada da vida” é interrompida, as
consequências pessoais e sociais são graves, porque produzem a sensação de se
estar à deriva, uma vez que o fracasso, a perda da autoestima são fatores que
contribuem para a corrosão do caráter social.
Impacto das demissões no saldo de empregos da cidade de São José dos Campos
Depois da privatização
Acreditar que a Embraer prosperou após a privatização significa desconhecer sua
história. O primeiro jato bimotor, o avião de maior sucesso da história da
empresa, foi o ERJ-145 (com capacidade para 50 passageiros). Em seguida, vieram
sua “família”, os ERJ 135/145 (de 35 a 45 lugares), todos desenvolvidos pelos
engenheiros da Embraer em 1989, quando a empresa ainda era estatal e com
aexpertise adquirida nesse período. Esses produtos foram os responsáveis diretos
pelo sucesso da empresa pós-privatização.
A Embraer foi entregue ao mercado em 1994 com praticamente todas as suas dívidas
quitadas. Da dívida de 1,05 bilhões, o governou saneou U$ 700 milhões e vendeu a
empresa por um valor aproximado de U$ 110 milhões. O Estado absorveu assim
dívida que equivalia a sete vezes o tamanho da empresa. O valor da venda da
empresa em 1994 representa apenas 1,8% do seu valor atual – de aproximadamente
U$ 6 bilhões.
Após a reestruturação financeira em 2006, as ações da empresa desabaram: da
maior alta desde a privatização, com o valor das ações (EMBR3) a U$ 24,00 em
30/04/2007, à sua maior baixa, em 27 de fevereiro de 2009, com valor das ações a
U$ 6,59. Em dois anos, as ações perderam 72,54% de seu valor. No entanto, um mês
após as demissões, as ações da empresa voltaram a subir e mantiveram uma
tendência de alta (ver gráfico 03). Após a pulverização do capital, em 2006, o
grupo Bozano e a PREVI (10%) venderam parte das suas ações da Embraer e o grupo
norte-americano Oppenheimer se tornou o maior acionista, com 10% das ações,
seguido da PREVI, agora com 7% (Embraer 2006; 2014).
G.03 – Histórico das ações da EMBRAER EMBR3 – 2004-2014
Fonte: Bloomberg Finance L.P., 2014. (Foram feitas inserções pelo autor)
É interessante notar os movimentos induzidos pelo mercado. No mesmo ano em que a
Embraer retira do seu nome a palavra “Brasileira”, o fundo norte-americano
Oppenheimer Funds, com sede em Nova York, torna-se o maior acionista da empresa.
Apenas um cínico acreditaria na independência administrativa da Embraer ou de
qualquer outra organização que se deixa levar pelos anseios do mercado. Não são
os sócios brasileiros os que mais lucram com a Embraer, muito menos os seus
trabalhadores. São os fundos de investimentos internacionais os que mais lucram.
Estes nunca enxergarão os trabalhadores de nenhuma empresa como pessoas, pois só
os consideram como “recursos humanos”. Uma empresa subsidiada pelo povo
brasileiro por toda a sua história, seja no período estatal ou privado – via
subsídios, aportes, compras, dentre outros incentivos do governo federal, resume
seus objetivos, hoje, em beneficiar uma pequena elite representada pelos fundos
de investimentos nacionais e internacionais. Clara transferência de renda dos
trabalhadores para os proprietários.
Uma ressalva importante refere-se aos resultados de 2008 (redução de 34,7% do
lucro líquido – R$ 228 milhões) e às operações financeiras com derivativos. No
balanço apresentado pela empresa, segundo o relatório de março de 2009, constam
variações monetárias e cambiais líquidas com perdas de R$ 188,30 milhões de
reais. No relatório de março de 2010, a perda foi de R$ 135,824 milhões
(corrigida pelo relatório de março de 2011). Somando os dois anos, temos um
total de R$ 324,654 milhões gastos com operações no mercado financeiro de alto
risco. Em dez anos (2001-2010), a empresa registrou perdas médias de 194 milhões
ao mês, totalizando quase R$ 2 bilhões de prejuízo (R$ 1,942 bilhões) em
operações financeiras com derivativos – motivo este apresentado pelo Sindicato
dos Trabalhadores como responsável direto pela demissão de mais de 4 mil
empregados em 2009.
Em suma, a Embraer transformou milhões de trabalho produtivo, realizados por
milhares de trabalhadores, em capital fictício – e por fim os destruiu.
Greves e sindicato
Após a privatização, foram raras as greves na Embraer. Houve uma paralisação de
2 horas em outubro de 1999 e no mês seguinte paralisação de 30 minutos, ambas
por aumento salarial e redução da jornada para 36 horas semanais. Também em
2000, a linha de produção parou por 24 horas pelos mesmos motivos. Apenas em 22
de setembro de 2011 ocorreu a primeira paralisação de 24 horas no período
pós-privatização. Primeira greve realizada na Embraer em 11 anos, este foi o
sinal mais evidente da manifestação do conflito que se estabeleceu nos “corações
e mentes” dos trabalhadores da empresa. Em 2013, também ocorreu outra greve, mas
foi o ano de 2014 o mais conturbado sob o aspecto das relações de trabalho entre
a Ermbraer e os seus empregados: foram cinco dias de paralisações, sendo quatro
contínuos, um total de 120 horas, a maior greve pós-privatização realizada pelos
trabalhadores da organização.
Quem representa os trabalhadores da matriz da Embraer é o Sindicato dos
Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (SMSJC), ligado à CSP-CONLUTAS
(Central Sindical e Popular – Coordenação Nacional de Lutas). A Conlutas surgiu
em março de 2004, a partir de algumas correntes que, até então, integravam a CUT
(Central Única dos Trabalhadores). O movimento por uma Tendência Socialista
(MTS) está ligado ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e
algumas correntes do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), entre elas o
Movimento de Esquerda Socialista (MES), o Movimento de Ação Sindical (MAS) e o
Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL).
Durante a greve de 6 de novembro de 2014, Antônio Ferreira de Barros, o Macapá,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, ressaltou a
importância do trabalho do Sindicato na reconstrução da luta pela valorização do
trabalhador na Embraer:
“Após a privatização os trabalhadores da empresa, que possuem uma importante
história de resistência na repressão dos anos oitenta, sofreram um duro golpe.
Depois das demissões, poucos foram os sindicalizados que permaneceram na
empresa. As conquistas dos trabalhadores da Embraer são, em sua maioria, do
período estatal. Desde então lutamos para mantê-las. Vejam o que estão tentando
fazer com o nosso plano de saúde, resquício das lutas dos anos 1980 que os
patrões tentam retirar. Esta greve demonstra a vontade de todos. Mesmo sob o
olhar da chefia, a indignação superou o medo”.
O renascimento da luta, fruto da consciência do trabalhador, é fomentado pela
arrogância e desprezo aos trabalhadores, principalmente os da produção. A
terceira maior produtora de aviões do mundo, nascida há 46 anos no país de
Santos Dumont, deveria dar exemplo na gestão das pessoas. Contudo, a maior greve
pós-privatização simbolizou o dilema dos trabalhadores: o que deveria ser um
privilégio, um sentido de vida e de pertencimento dos mais nobres do mercado de
trabalho nacional, não se sustenta porque a Embraer, seja na fase estatal ou
privada, jamais valorizou seus trabalhadores – responsáveis diretos pela
produção das riquezas da empresa.
Qual o interesse de um país em sediar uma organização como a Embraer? Apenas
pela arrecadação de impostos? A remuneração dos trabalhadores é pífia, o
trabalho é realizado sob muita pressão e o emprego, instável. Os principais
acionistas, aqueles que lucram com a empresa, são fundos bilionários
internacionais e nacionais que só contribuem com a concentração de renda, global
e nacional.
A Embraer não se configura como organização interessante para o país nem mesmo
por sua possível relevância no contexto militar. Além de tudo, a reestruturação
produtiva levou a empresa a realizar parcerias estratégicas de alto risco com
redes de fornecedores globais – o que inviabiliza qualquer ilusão quanto a seus
possíveis segredos militares.
[1] https://www.youtube.com/watch?v=l_3KRPs256I
[2] 1994, governo Itamar Franco
Referências
ANTUNES, R. In. Miséria e Riqueza do Trabalho. São Paulo: Boitempo, 2006.
BRAVERMAN, H Trabalho e Capital Monopolista. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
BEDAQUE, A. J.; OLIVEIRA, M. M. J.; VASCONCELOS, E. P. G. Inovação de valor na
família de jatos regionais ERJ 170/190 da EMBRAER. III Encontro de Estudos de
Estratégias, São Paulo, SP, 2007.
BERNARDES, R. O caso EMBRAER – privatização e transformação da gestão
empresarial: dos imperativos tecnológicos à focalização no mercado. São Paulo:
CYTED: PGT/USP, 2000.
BERNARDES, R. EMBRAER. Elos entre Estado e Mercado. São Paulo: Hucitec, 2000b.
EMBRAER, Relatório anual. São José dos Campos, 2002-2013.
FERNANDES, V. Embraer: mudanças nas relações de trabalho no contexto da crise
econômica global. Mestrado: PUCSP, 2011.
FORJAZ, M. C. S. As origens da EMBRAER. Tempos Social, revista sociológica da
USP, v. 17, n.1, pp. 281-298, 2004.
GODEIRO, N. (org.). A EMBRAER é nossa! São Paulo: Sundermann, 2009.
HARVEY, D. A Condição Pós Moderna. São Paulo: Loyola, 1992; O enigma do capital
e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011.
HELOANI, R. Organização do trabalho e Administração: uma visão multidisciplinar.
São Paulo: Cortez, 2006; _ Gestão e Organização no Capitalismo Globalizado. São
Paulo: Atlas, 2007.
JORNAL DO METALÚRGICO, Jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos
Campos e Região, 2010 – 2013.
MARTINEZ, M. R. E. A globalização da indústria aeronáutica: o caso da EMBRAER.
2007. 354f. Tese de Doutorado. UNB, 2007.
MORAES, L. de C. G. Pulverização de capital e intensificação do trabalho: o caso
da EMBRAER. Tese doutorado UNICAMP, Campinas, 2013.
NOGUEIRA, A. As relações de trabalho em uma empresa global: um novo paradigma ou
neocorpoprativismo. CRH, Salvador, v.22, n.57 p581-600, 2009; TGA para o século
XXI. São Paulo, Ática, 2007;
PMSJC – Prefeitura Municipal de São José dos Campos.
http://servicos.sjc.sp.gov.br/
REICH, R. O trabalho das nações. São Paulo: Educator, 1994.
SENNETT, R. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo
capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2009.
TRÓPIA, P.; GALVÃO, A.; MARCELINO, P. A reconfiguração do sindicalismo
brasileiro nos anos 2000: as bases sociais e o perfil político-ideológico da
Conlutas. Opinião Pública (UNICAMP. Impresso), v. 19, p. 81-117, 2013.
SILVA, O. Nas asas da educação: a trajetória da EMBRAER. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2008.
ZULIETTI, L. F. Nas asas da Embraer: urbanização, crise e mudanças em São José
dos Campos-SP (1994-2004). 2006. 284f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais).
Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, São Paulo, 2006.
IN
https://br.yahoo.com/
4/6/2015
Carta Capital
http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/embraer-sucesso-globalizacao-e-ataque-ao-
trabalho-5218.html?ref=yfp
quinta-feira, 4 de junho de 2015
A duplicidade como política de Washington para a América Latina – Marines para a América Central e diplomatas para Cuba
por James Petras
Toda a gente, desde sabichões políticos em Washington até o Papa em Roma,
incluindo a maior parte dos jornalistas nos mass media e na imprensa
alternativa, centrou a atenção nos movimentos dos EUA rumo à finalização
do bloqueio económico de Cuba e à abertura gradual de relações
diplomáticas.
Fala-se muito de uma "grande mudança" na política estado-unidense em
relação à América Latina com ênfase na diplomacia e na reconciliação.
Mesmo autores e jornais progressistas deixaram de escrever acerca do
imperialismo dos EUA.
Contudo, há evidências crescentes de que as negociações de Washington com
Cuba simplesmente fazem parte de uma política dúplice, de duas vias
(two-track policy). Há claramente uma grande acumulação [de forças] dos
EUA na América Latina, com dependência crescente em "plataformas
militares" destinadas a lançar intervenções militares directas em países
estratégicos.
Além disso, decisores políticos dos EUA envolvem-se activamente na
promoção de partidos de oposição, movimentos e personalidades "clientes" a
fim de desestabilizar governos independentes e estão decididos a
re-impor a dominação estado-unidense.
Neste ensaio começaremos por discutir as origens e o desdobrar desta
política de duas vias, suas manifestações actuais e projecções no
futuro. Concluiremos avaliando as possibilidades de restabelecer a
dominação imperial dos EUA na região.
Origens da política de duas vias
A "política de duas vias" de Washington, baseada na combinação de
"políticas reformistas" em relação a algumas formações políticas, enquanto
trabalhava para derrubar outros regimes e movimentos pela força e
intervenção militar, foi praticada pela antiga administração Kennedy a
seguir à revolução cubana. Kennedy anunciou um vasto programa económico de
ajuda, empréstimos e investimentos – chamado "Aliança para o Progresso" –
para promover o desenvolvimento e a reforma social em países
latino-americanos desejosos de se alinharem com os EUA. Ao mesmo tempo o
regime Kennedy escalou a ajuda militar estado-unidense e exercícios
conjuntos na região. Kennedy patrocinou um grande contingente de Forças
Especiais – os "Boinas Verdes" – destinados à guerra de
contra-insurgência. A Aliança para o Progresso destinava-se a conter a
atracção maciça das mudanças sociais revolucionárias em curso em Cuba com
o seu próprio programa de "reforma social". Se bem que Kennedy promovesse
reformas diluídas na América Latina, ele lançou a invasão "secreta" de
Cuba (Baia dos Porcos) em 1961 e um bloqueio naval em 1962 (a chamada
"crise dos mísseis"). A política de duas vias acabou por sacrificar
reformas sociais e fortalecer a repressão militar. Em meados da década de
1970, as "duas vias" tornaram-se uma só – a força. Os EUA invadiram a
República Dominicana em 1965. Apoiaram uma série de golpes militares em
toda região, isolando Cuba efectivamente. Em consequência, a força de
trabalho latino-americana experimentou cerca de um quarto de século de
declínio dos padrões de vida.
Na década de 1980 os ditadores-clientes dos EUA haviam perdido sua
utilidade e Washington mais uma vez adoptou uma estratégia de duas vias.
Numa, a Casa Branca apoiou incondicionalmente a agenda neoliberal dos
seus militares-clientes governantes e patrocinou-os como parceiros júniors
na hegemonia regional de Washington. Na outra via, promoveu mudanças para
uma política eleitoral altamente controlada, a qual foi descrita como
"transição democrática", a fim de "descomprimir" pressões sociais de
massa contra seus clientes militares. Washington assegurou a introdução de
eleições e promoveu políticos clientes desejosos de continuar a estrutura
sócio-económica neoliberal estabelecida pelos regimes militares.
Na viragem do novo século, os descontentamentos acumulados em trinta anos
de domínio repressivo, de políticas sócio-económicas regressivas e de
desnacionalização e privatização do património nacional provocaram uma
explosão de descontentamento social em massa. Isto levou ao derrube e
derrota eleitoral dos regimes clientes neoliberais de Washington.
Na maior parte da América Latina movimentos de massas estavam a exigir
uma ruptura com os programas de "integração" centrados nos EUA. O
anti-imperialismo aberto crescia e intensificava-se. Este período assistiu
à emergência de numerosos governos de centro-esquerda na Venezuela,
Argentina, Equador, Bolívia, Brasil, Uruguai, Paraguai, Honduras e
Nicarágua. Além das mudanças de regime, forças económicas mundiais fizeram
crescer mercados asiáticos, seus pedidos de matérias-primas
latino-americanas e a ascensão dos preços das commodities ajudou a
estimular o desenvolvimento de organizações regionais centradas na América
Latina – fora do controle de Washington.
Ainda estavam entranhados em Washington os seus 25 anos de política "via
única" de apoio a políticas autoritárias civis-militares e de imposição
neoliberal e era incapaz de responder e apresentar uma alternativa de
reforma ao desafio anti-imperialista e de centro-esquerda à sua
dominação. Washington trabalhou para reverter a nova configuração de
poder. Suas agências para o exterior, a Agency for International
Development (AID), a Drug Enforcement Agency (DEA) e embaixadas
trabalhavam para desestabilizar os novos governos na Bolívia, Equador,
Venezuela, Paraguai e Honduras. A "via única" de intervenção e
desestabilização estado-unidense fracassou durante a primeira década do
novo século (com a excepção de Honduras e Paraguai).
No fim, Washington acabou politicamente isolada. Seus esquemas de
integração foram rejeitados. Suas fatias de mercado na América Latina
declinaram. Washington não só perdeu sua maioria automática na Organização
dos Estados Americanos (OEA) como se tornou uma minoria nítida.
A política "via única" de Washington de confiar no "porrete" e evitar a
"cenoura" era baseada em várias considerações. Os regimes Bush e Obama
estavam profundamente influenciados pelos vinte e cinco anos de dominação
da região (1975-2000) e a noção de que os levantamento e mudanças
políticas na América Latina na década seguinte eram efémeros, vulneráveis
e facilmente reversíveis. Além disso, Washington, acostumada durante mais
de um século de dominação económica de mercados, recursos e trabalho,
considerou como garantido que a sua hegemonia era inalterável . A Casa
Branca falhou em reconhecer a força da participação crescente da China no
mercado latino-americano. O Departamento de Estado ignorou a capacidade de
governos latino-americanos para integrarem seus mercados e excluírem os
EUA.
Responsáveis do Departamento de Estado dos EUA nunca se afastaram da
desacreditada doutrina neoliberal que haviam promovido com êxito na
década de 1990. A Casa Branca fracassou na adopção de uma viragem
"reformista" para conter o apelo de reformadores radicais como Hugo
Chávez, o presidente venezuelano. Isto foi mais evidente nos países
caribenhos e andinos onde o Presidente Chávez lançou suas duas "alianças
para o progresso": a "Petro-Caribe" (programa da Venezuela de
fornecimento de combustível barato, fortemente subsidiado, a países pobres
da América Central e do Caribe e de óleo de calefacção para bairros pobres
nos EUA) e o "ALBA" (união político-económica de estados andinos, mais
Cuba e Nicarágua, concebida para promover solidariedade política e laços
económicos regionais). Ambos os programas foram fortemente financiados por
Caracas. Washington fracassou em propor um plano alternativo com êxito.
Incapaz de vencer diplomaticamente ou na "batalha de ideias", Washington
recorreu ao "grande porrete" e procurou perturbar o programa económico
regional da Venezuela ao invés de competir com os generosos e benéficos
pacotes de ajuda de Chávez. As "tácticas destruidoras" dos EUA saíram pela
culatra. Em 2009, o regime Obama apoiou um golpe militar em Honduras,
removendo o liberal e reformista Presidente eleito, Zelaya, e instalou uma
tirania sangrenta, uma reversão à década de 1970 quando os EUA apoiaram o
golpe chileno que levou o general Pinochet ao poder. A secretária de
Estado Hilary Clinton, num acto de pura palhaçada política, recusou-se a
chamar de golpe o derrube violento de Zelaya e rapidamente reconheceu a
ditadura. Nenhum outro governo apoiou os EUA na sua política de Honduras.
Houve uma condenação universal do golpe , destacando o isolamento de
Washington.
Repetidamente, Washington tentou utilizar sua "carta hegemónica" mas foi
vencida sem rodeios em reuniões regionais. Na Cimeira das Américas em
2010, países latino-americanos afastaram objecções dos EUA e votaram por
convidar Cuba à sua reunião seguinte, desafiando um veto estado-unidense
de 50 anos. Os EUA foram deixados sós na sua oposição.
A posição de Washington foi mais uma vez enfraquecida pelo boom de
commodities ao longo de uma década (estimulado pela procura voraz da China
por produtos agro-minerais). O "mega-ciclo" pôs em causa a antecipação dos
Departamentos do Tesouro e do Estado dos EUA de um colapso de preços .
Nos ciclos anteriores, "baixas" de preços de commodities haviam forçado
governos de centro-esquerda a correrem ao Fundo Monetário Internacional
(FMI) controlado por Washington à procura de empréstimos altamente
condicionados para sanar balanças de pagamentos, nos quais a Casa Branca
costumava impor suas políticas neoliberais e dominação política. O
"mega-ciclo" gerou receitas e rendimentos ascendentes. Isto deu enorme
alavancagem a governos de centro-esquerda para evitar as "armadilhas da
dívida" ("debt traps") e marginalizar o FMI. Isto virtualmente eliminou
a condicionalidade imposta pelos EUA e permitiu a governos
latino-americanos prosseguirem políticas populistas-nacionalistas. Estas
políticas diminuíram a pobreza e o desemprego. Washington jogou a "carta
da crise" e perdeu. No entanto, Washington continuou a trabalhar com
grupos de oposição de extrema direita para desestabilizar os governos
progressistas, na esperança de que "chegassem ao desastre", caso em que
os apaniguados de Washington "valsariam" e tomariam o poder.
A reintrodução da política de "duas vias"
Após uma década e meia de golpes duras, de fracassos repetidos das suas
políticas do "grande porrete", de rejeição de esquema de integração
centrados nos EUA e de múltiplas derrotas inequívocas de políticos seus
clientes nas urnas eleitorais, Washington finalmente começou a "repensar"
sua política de "via única" e hesitantemente explora uma limitada
abordagem pelas "duas vias".
Contudo, as "duas vias" incluem polaridades claramente marcadas pelo
passado recente. Enquanto o regime Obama abriu negociações e avançou para
o estabelecimento de relações com Cuba, ele escalou as ameaças
militares em relação à Venezuela ao absurdamente etiquetar Caracas como
uma "ameaça à segurança nacional dos EUA".
Washington acordou para o facto de que a sua política belicosa em relação
a Cuba foi rejeitada universalmente e deixou os EUA isolados da América
Latina. O regime Obama decidiu afirmar algumas "credenciais reformistas"
com a exibição da sua abertura a Cuba . A "abertura a Cuba" realmente
faz parte de uma mais vasta intervenção política mais activa na América
Latina . Washington tomará pleno proveito da vulnerabilidade agravada dos
governos de centro-esquerda quando o mega-ciclo das commodities chega ao
fim e os preços entram em colapso. Washington aplaude o programa de
austeridade orçamental perseguido pelo regime de Dilma Rousseff no
Brasil. Apoia calorosamente o recém eleito regime "Frente Ampla" de
Tabaré Vázquez no Uruguai com suas políticas de mercado livre e
ajustamento estrutural. Apoia publicamente a recente nomeação pela
presidente chilena Bachelet de democratas-cristãos de centro-direita para
postos ministeriais a fim de obsequiar o big business.
Estas mudanças dentro da América Latina proporcionam uma "abertura" para
Washington prosseguir uma política de "duas vias". Por um lado Washington
está a aumentar a pressão política e económica e a intensificar sua
campanha de propaganda contra políticas e regimes de "intervenção estatal"
no período imediato . Por outro lado, o Pentágono está a intensificar e
escalar sua presença na América Central e sua vizinhança imediata. O
objectivo é finalmente recuperar alavancagem sobre o comando militar no
resto do continente sul-americano.
O Miami Herald (10/05/15) informou que a administração Obama enviou 280
marines para a América Central sem qualquer missão específica ou
pretexto. Verificando-se logo após a Cimeira das Américas no Panamá
(10-11/Abril/2015), esta acção tem grande importância simbólica . Se bem
que a presença de Cuba na Cimeira possa ter sido louvada como uma vitória
diplomática da reconciliação dentro das Américas, o despacho de centenas
de fuzileiros navais estado-unidenses para a América Central sugere que
outro cenário está em preparação.
Ironicamente, na reunião da Cimeira, o secretário-geral da União das
Nações Sul Americanas (UNASUL), o antigo presidente colombiano (1994-98)
Ernesto Samper, conclamou os EUA a removerem todas as suas bases militares
da América Latina, incluindo Guantanamo: "Um bom ponto na nova agenda de
relações na América Latina seria a eliminação das bases militares
estado-unidenses".
A ideia da "abertura" dos EUA a Cuba é precisamente assinalar seu maior
envolvimento na América Latina, o qual inclui um retorno a uma mais
robusta intervenção militar estado-unidense. A intenção estratégica é
restaurar regimes clientes neoliberais, pelos votos ou pelas balas.
Conclusão
A actual adopção de Washington de uma política de duas vias é uma "versão
barata" da política de John F. Kennedy de combinar a "Aliança para o
Progresso" com as "Boinas Verdes". Contudo, Obama oferece pouco
quanto a apoio financeiro para modernização e reforma a fim de
complementar seu desejo de restaurar a dominância neoliberal.
Após uma década e meia de recuo político, isolamento diplomático e perda
relativa de alavancagem militar, o regime Obama levou seis anos para
reconhecer a profundidade do seu isolamento. No momento em que a
secretária assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Roberta
Jacobson, afirmou que estava "surpreendida e desapontada" quando todos
os países latino-americanos se opuseram à afirmação de Obama de que a
Venezuela representava uma "ameaça à segurança nacional dos Estados
Unidos", ela mostrou quão ignorante e fora de sintonia se tornou o
Departamento de Estado em relação à capacidade de Washington para
influenciar a América Latina no apoio à sua agenda de intervenção
imperial.
Com o declínio e recuo do centro-esquerda, o regime Obama tem estado
ansioso por explorar a estratégia das duas vias. Na medida em que as
conversações de paz na Colômbia entre as FARC e o Presidente Santos
avancem, é provável que Washington reajuste sua presença militar na
Colômbia para enfatizar sua campanha de desestabilização contra a
Venezuela. O Departamento de Estado aumentará aberturas diplomáticas à
Bolívia. A National Endowment for Democracy intensificará sua intervenção
nas eleições argentinas deste ano.
Circunstâncias variadas e cambiantes ditam tácticas flexíveis . A pairar
sobre as mudanças tácticas de Washington está uma perspectiva estratégica
odiosa destinada a aumentar a alavancagem militar . Quando as
negociações de paz entre o governo colombiano e as guerrilhas das FARC
avançam rumo a um acordo, diminui o pretexto para manter sete bases
militares estado-unidenses e vários milhares de militares dos EUA, assim
como suas tropas de Forças Especiais. Contudo, o presidente Santos da
Colômbia não deu indicação de que um "acordo de paz" estaria
condicionado à retirada de tropas estado-unidenses ou ao encerramento das
suas bases. Por outras palavras, o US Southern Command reteria uma
plataforma militar vital e uma infraestrutura capaz de lançar ataques
contra a Venezuela, Equador, América Central e o Caribe. Com bases
militares por toda a região, na Colômbia, em Cuba (Guantanamo), Honduras
(Soto Cano em Palmerola), Curaçao, Aruba e Peru, Washington pode
rapidamente mobilizar forças de intervenção. Laços militares com as forças
armadas do Uruguai, Paraguai e Chile asseguram contínuos exercícios
conjuntos e estreita coordenação das chamadas políticas de "segurança" no
"Cone Sul" da América Latina. Esta estratégia está concebida
especificamente para preparar a repressão interna contra movimentos
populares , sempre e em todo momento em que a luta de classe se
intensifique na América Latina. A política de duas vias, hoje em vigor, é
executada através de estratégias político-diplomáticas e militares.
No período imediato , na maior parte da região, Washington busca uma
política de intervenção e pressão política, diplomática e económica. A
Casa Branca está a contar com o "giro para direita" de antigos governos de
centro-esquerda a fim de facilitar o retorno ao poder de regimes clientes
descaradamente neoliberais em futuras eleições. Isto é especialmente
verdadeiro em relação ao Brasil e à Argentina.
A "via político-diplomática" é evidente nos movimentos de Washington para
restabelecer relações com a Bolívia e fortalecer aliados alhures a fim de
alavancar políticas favoráveis no Equador, Nicarágua e Cuba. Washington
propõe oferecer acordos diplomáticos e comerciais em troca de um
"amaciamento" da crítica anti-imperialista e do enfraquecimento dos
programas da "era Chávez" de integração regional.
A "abordagem em duas vias", tal como aplicada à Venezuela, tem uma
componente militar mais aberta do que alhures. Washington continuará a
subsidiar violentos cruzamentos paramilitares da fronteira com a Colômbia.
Continuará a encorajar a sabotagem terrorista interna da rede eléctrica e
do sistema de distribuição alimentar. O objectivo estratégico é desgastar
a base eleitoral do governo Maduro, como preparação para as eleições
legislativas no fim de 2015. Quando se trata da Venezuela, Washington está
a seguir uma estratégia em "quatro passos":
(1) Intervenção violenta indirecta para desgastar o apoio eleitoral do
governo
(2) Financiamento em grande escala da campanha eleitoral da oposição
parlamentar para assegurar uma maioria no Congresso
(3) Uma campanha maciça nos media em favor de um voto do Congresso para
um referendo impedindo (impeaching) o Presidente
(4) Uma campanha em grande escala financeira, política e nos media para
assegurar uma maioria de votos para o impeachment por referendo.
Na possibilidade de uma votação por margem estreita, o Pentágono
prepararia uma intervenção militar rápida com seus colaboradores internos
– procurando um derrube de Maduro "estilo Honduras".
A fraqueza estratégica e táctica da política de duas vias é a ausência
de qualquer ajuda económica prolongada e abrangente, com programas de
comércio e investimento que atraíssem e mantivessem eleitores da classe
média. Washington está a contar mais com os efeitos negativos da crise
para restaurar seus clientes neoliberais. O problema com esta abordagem é
que as forças pró EUA só podem prometer um retorno a programas de
austeridade ortodoxos, com reversão de programas sociais e de bem-estar
público, fazendo ao mesmo tempo concessões económicas em grande escala aos
maiores investidores e banqueiros estrangeiros. A implementação de tais
programas regressivos iriam atear e intensificar conflitos de classe, de
comunidades e étnicos.
A estratégia de "transição eleitoral" dos EUA é um expediente
temporário , à luz das políticas económicas altamente impopulares que
certamente implementariam. A ausência completa de qualquer ajuda
sócio-económica substancial dos EUA para amortecer os efeitos adversos
sobre famílias trabalhadoras significa que as vitórias eleitorais dos
clientes dos EUA não perdurarão. Eis porque e quando a acumulação militar
estratégica entra em cena. O êxito da via única, a busca de tácticas
político-diplomáticas, inevitavelmente polarizará a sociedade
latino-americana e aumentará as perspectivas para a luta de classe.
Washington espera ter seus aliados-clientes político-militares prontos
para responder com repressão violenta. A intervenção directa e o aumento
da repressão interna entrarão em cena para assegurar a dominância
estado-unidense.
A "estratégia de duas vias", mais uma vez, evoluirá para uma
"estratégia de via única" destinada a devolver a América Latina à
[condição de] região satélite, pronta para a pilhagem por multinacionais
extractivas e especuladores financeiros.
Como temos visto ao longo da última década e meia, "políticas de duas
vias" levam a levantamentos sociais. E na próxima ocasião os resultados
podem ir muito além de regimes progressistas de centro-esquerda , rumo a
governos verdadeiramente sociais-revolucionários!
Epílogo
Os construtores do império estado-unidense demonstraram claramente por
todo o mundo a sua incapacidade para intervir e produzir estados clientes
estáveis, prósperos e produtivos (Iraque e Líbia são casos exemplares).
Não há razão para acreditar, mesmo que a "política das duas vias" leve a
vitórias eleitorais temporárias, que os esforços de Washington para
restaurar a sua dominância terão êxito na América Latina, ainda menos
porque à sua estratégia falta qualquer mecanismo para a ajuda económica
e reformas sociais que mantivesse uma elite pró EUA no poder. Exemplo:
como poderiam os EUA compensar de algum modo o pacote de ajuda da China ao
Brasil de US$50 mil milhões senão através da violência e da repressão?
É importante analisar como a ascensão da China, Rússia, de fortes
mercados regionais e de novos centros financeiros enfraqueceram gravemente
os esforços de regimes clientes para realinharem com os EUA. Golpes
militares e mercados livres já não são mais fórmulas garantidas de êxito
na América Latina. Seus fracassos passados são demasiado recentes para
serem esquecidos.
Finalmente, a "financiarização" da economia estado-unidense, que até o
Fundo Monetário Internacional descreve como impacto negativo de
"demasiada finança" (Financial Times, 13/Maio/15, p. 4), significa que
os EUA não podem conceder recursos capitais para desenvolver a actividade
produtiva na América Latina. O estado imperial só pode servir de violento
cobrador de dívidas para os seus bancos no contexto do desemprego em
grande escala . O imperialismo financeiro e extractivo é um cocktail
político-económico para detonar a revolução social num continente
inteiro , muito para além da capacidade dos fuzileiros navais
estado-unidenses o impedirem ou suprimirem.
28/Maio/2015
O original encontra-se em petras.lahaine.org/?p=2035
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
http://www.resistir.info/petras/petras_28mai15.html
terça-feira, 2 de junho de 2015
¿De que errores del control obrero nos acusa Nicolás?
Osvaldo León
La semana pasada estuvo de nuevo el compañero Presidente Nicolás Maduro
por esta tierra de obreros, Ciudad Guayana, en un acto en Caruachi,
aprobando varios proyectos, en donde también planteo retomar con fuerza el
plan Guayana socialista (PGS).
Cuando Pedro Perales leía el documento que recoge las conclusiones del
debate realizado en las mesas de trabajo por la retoma del PGS, redactado
en parte por la central bolivariana de trabajadores, el compañero
Presidente, de inmediato lo confronta preguntando si habíamos discutido
los errores del control obrero, de una manera que dejaba en el ambiente
que la propuesta de control obrero no es válida como línea de acción de
los trabajadores.
Bien, es necesario entonces debatir nuevamente con el camarada Nicolás
sobre el control obrero y los consejos de fábrica, sobre el poder
constituido y la nueva institucionalidad revolucionaria, sobre el sujeto
de la revolución y la voluntad política, sobre los referentes de un
proceso y su praxis, creo sin duda que sobre esta discusión descansa la
posibilidad de avanzar en la lucha por el socialismo.
Sabe usted compañero Nicolás, que esta discusión la dimos varias veces,
la última con el compañero Chávez presente en las instalaciones del club
Caronoco de ferrominera, allí se expusieron dos propuesta, la de la
central, que tu apoyaste o fue una propuesta tuya de conformar un estado
mayor sindical, y la nuestra, la del impulso de los consejos de
trabajadores bajo el control obrero, saliendo esta última victoriosa y
apoyada por Chávez, recuerdo que me dijiste que ese era el primer combate,
bien, debatamos.
Es completamente valido en una revolución asumir corrientes de pensamiento
y acción, ya que esto es lo que permite avanzar en el debate ideológico y
la construcción revolucionaria de una sociedad, dicho debate aunque se
tengan contradicciones profundas, si se da dentro de un marco
verdaderamente revolucionario y democrático, no corre el peligro de
rompimiento, por el contrario permite críticamente ver los errores
cometidos, pero cuando se imponen por la fuerza líneas de pensamiento,
estas imposiciones terminan siendo un obstáculo para la construcción del
socialismo.
La propuesta de los consejos de trabajadores y el control obrero desde su
mismo nacimiento ha sido confrontada por corrientes ortodoxas dentro del
marxismo, ejemplo fue durante la revolución rusa, donde se expresaron la
lucha de corrientes y terminó el estalinismo acallando a sangre y fuego
cualquier crítica a la burocracia bolchevique, igual paso en Hungría y
Alemania, hoy este proceso es pasado histórico, y fue una de las derrotas
más dolorosas para el proletariado mundial, si de errores hablamos, esta
falta de democracia seria falta para nuestro proceso.
Ahora bien, el plan Guayana socialista nace de una propuesta hecha por un
grupo de compañeros y compañeras de diversos colectivos y corrientes
obreras sindicales y autónomas, en un encuentro con el presidente Chávez,
allí se le entrego un documento donde se cuestionaba lo que era y es la
institucionalidad burguesa de la CVG, esto permitió al compañero
presidente llamar a la discusión colectiva y sacar una propuesta para
Guayana en 12 mesas de trabajo que se hicieron en FERROMINERA, todas
exigieron impulsar los consejos de trabajadores y el control obrero, la
lucha contra la corrupción y la burocracia dentro de la CVG y de las
Empresas Básicas, se concluyó que de una vez se llamara a la conformación
de nuevas mesas de trabajo para la elaboración de una propuesta de los y
las trabajadores que abarcara desde el modelo de gestión, pasando por los
proyectos de inversión, los proyectos tecnológicos, el ambiente , los
tercerizados, la salud, en fin, como asumir integralmente la problemáticas
de las empresas básicas.
En esa oportunidad, el compañero presidente Chávez incorpora a varios
ministros, entre ello María Cristina Iglesia, Giordani, Rodolfo Sanz y el
Chino Kan, también nos acompañaron varios funcionarios de alto nivel,
planteándonos varios meses de discusión y debate sobre la autonomía e
independencia de la clase, el papel de los intelectuales, los consejos y
el control obrero, sobre el poder constituido y el proceso constituyente,
generando el plan Guayana socialista, esta discusión permitió profundizar
la lucha ideológica y contra el estado burgués, entendiendo que ni
ministros y algunos de los altos funcionarios no estaban ganados para
luchar contra éste último. De los ministros, el que nos acompañó en la
propuesta consejista bajo el control obrero, fue el Chino, por el resto de
los ministros se impuso el nombrar presidentes obreros para las empresas
básicas, mientras que en la propuesta de la mesa 1 donde participe, se
acordaba un consejo de intervención que impulsara un proceso constituyente
para romper con todas las líneas de mando y la concepción tecnocrática en
que están montadas nuestras empresas, por lo tanto en el PGS, desde su
nacimiento se reproduce la vieja forma de organización burguesa, se
mantiene la DST.
Soy un infiltrado, soy un subversivo en Miraflores
Hugo Chávez
El compañero Chávez partiendo de la tesis gramsciana de la hegemonía, nos
habló de la necesidad de pulverizar el estado burgués, que no es otro que
el estado constituido que tenemos, la lucha contra su sostén principal que
es la división social del trabajo DST, por lo tanto, nuestra participación
dentro del plan Guayana socialista, se centró en la discusión entre el
poder constituido y la lucha de los trabajadores como clase, como sujeto
histórico para derrotar el estado burgués constituido y construir un nuevo
estado, el estado de los trabajadores.
Esta discusión fue bien profunda, entendimos que no se trataba de hombres
iluminados que ocupaban u ocupan cargos de dirección de las empresas o de
importancia, ya que nuestra propuesta parte de la democracia obrera, la
organización departamental en mesas de trabajo.
Quienes trataron de que la propuesta de gestión fuera una imagen del
estado burgués fueron precisamente la mayoría de los ministros y
ministras, por aquí comienzan los errores del PGS, las trabas, alcabalas
burocráticas que trataron de imponer, así como de ver la gestión sobre la
base tecnocrática, duros fueron estos combates ideológicos, muchas fueron
las maniobras que tuvimos que sortear.
Al final, el compañero ministro Chino Kan termino aceptando la propuesta
de los ministros en cuanto de los presidentes obreros, planteando que
nuestro proceso era gradual, pacífico y democrático, que para varios de
nosotros fue otro error del poder constituido que se niega a morir, como
de muchos funcionarios que temen perder su privilegios. Ante esta
propuesta públicamente, la compañera Blanca García y mi persona nos
opusimos a la escogencia de presidentes obreros y gerentes obreros, ya que
no rompíamos con la vieja estructura burguesa que hoy todavía existe
dentro de nuestras empresas.
Si de errores hablamos, todos los presidentes obreros, gerentes y miembros
de juntas directivas nombrados y que acompañamos en su gestión para luchar
por el control obrero, ninguno de ellos planteo en hechos prácticos reales
la lucha por el control obrero y los consejos de trabajadores, ni en
ALCASA, ni en Venalun, Sidor, Bauxilun, al contrario, gestiones
personalistas que terminaron reproduciendo las gestiones del pasado, tal
vez, en algunas de ellas con mucha honestidad, pero sin profundizar la
lucha contra el viejo estado.
Otro de los errores es que por diferencias internas dentro de las diversas
corrientes, fracciones del proceso nos negaron los recursos, obligándonos
a administrar crisis, a estas gestiones se les paso y se les sigue pasando
el tiempo en los problemas burocrático y administrativo, más que en la
posibilidad de impulsar nuevas forma de gestionar.
Un estado que no termina de morir, un estado que no termina de nacer.
La lucha de clase se expresa en hechos reales y visibles en nuestro
proceso, cuando nos planteamos construir nuevas formas de organización que
rompan el estado constituido, allí vemos como la furia burguesa organizado
en los partidos burgueses y medios de comunicación salen al combate,
satanizando estas nuevas formas de organización, del enemigo sabemos de su
capacidades y fuerza, que todo lo que toca el estado burgués lo convierte
en imagen y semejanza, ejemplo tenemos de las misiones, cuando nacieron y
estaban apoyadas por los sectores populares, estas no solo subvertían el
orden, sino que su funcionamiento permitió avanzar y educar a los sectores
populares, aprendimos enormemente de las misiones, la salud, educación, al
ponerla en mano de los ministerios, de gobernaciones y alcaldías, no solo
se burocratizaron, sino que dejaron de construir revolucionariamente
nuevos espacios de organización, al pasar estas a mano de los entes del
poder constituido, la derecha no solo dejo de combatirla, sino que la
propuso dentro su plan de gobierno.
Pero quienes permitieron la burocratización no fue precisamente la
derecha, la contrarrevolución, no hermano Nicolás, fueron nuestros propios
ministros, funcionarios y militantes, son quienes administran el estado,
ya que al no entender que tenemos que fortalecer la nueva cotidianidad
revolucionaria, la nueva organización sin tutelaje, terminan fortaleciendo
al viejo estado, porque creen que así nuestra gestión se ve dentro de la
evaluación de gobierno, las cuales esta montadas sobre la base de poder
burgués y sus instrumento de medición y análisis, etc.
Hoy de nuevo si de error hablamos, nos imponen por arriba un consejo
presidencial, con ministros, altos funcionarios y militares, por supuesto
con trabajadores, veremos cómo se avanza ante este panorama, con una CVG
donde el fantasma del Zar de Guayana Sucre Figarela, ronda por sus
pasillos, que su síndrome al parecer toca a rojos, verdes , amarillos y
blancos, unos ministerios que niegan y persiguen a los trabajadores que se
atreven a impulsar los consejos de trabajadores, muchos están despedidos o
con calificación de despido, funcionarios que reivindican las políticas
impositivas y las hacen pasar como ogros revolucionarios, burócratas de
oficio.
Bueno, la pelea que se nos avecina no es nada fácil, si de errores
hablamos, vamos a ver compañero Nicolás, si es posible que nazca el nuevo
estado, esperamos ver de tu aporte y empuje en esta nada fácil tarea.
Estamos entonces aquí de nuevo, entre la vieja estructura burguesa con su
cultura de gestión, una central que hasta ahora no responde a los
intereses de la lucha de los trabajadores para romper el viejo estado
burgués y una vanguardia fragmentada y golpeada.
Aquí desde ALCASA aportando con nuestra realidad, hemos sido capaces de
unir todas las fuerzas, colectivos bolivarianos, impulsándolos con varias
propuestas que parten del PGS como es la ALCASA productiva, peleando con
una tecnocracia que no termina de morir. Esperemos hermano de clase, que
esta lucha del referente consejista sea nuestra carta de navegación,
esperemos que se pueda dar un gran debate democrático y sin imposición,
capaz de subvertir este viejo orden que no termina de morir, y que cada
vez que está muriendo vemos a nuestros funcionarios, ministros y
militantes dándole oxígenos para revivirlo.
Lo que si hemos aprendido es que con las armas melladas del capital no
podemos construir el socialismo, que la lucha de clase y su profundización
es la que nos permitirá derrotar al capital, que es necesario construir
nuevas formas de organización que permitan una nueva cultura de vida, para
que este socialismo sea de verdad un referente emancipador, que la
esperanza y la alegría sea nuestra arma fundamental, triste seria que por
no entender que la lucha contra el estado burgués , la burocracia, la
corrupción, e impunidad, pasa también por construir nuevas forma de
gestión y participación .
In
Aporrea
http://www.aporrea.org/endogeno/a206658.html
24/4/2015
El BRICS arrolla a EE.UU. en Suramérica
El BRICS arrolla a EE.UU. en Suramérica
Pepe Escobar
ICH/RT
Traducido del inglés para Rebelión por Germán Leyens
Comenzó en abril con un rosario de acuerdos entre Argentina y Rusia durante la
visita de la presidenta Cristina Kirchner a Moscú.
Y continúa con el estrépito de una inversión de 53.000 millones de dólares
cuando el primer ministro chino Li Keqiang visita Brasil durante su primera
parada en otra ofensiva comercial suramericana, junto con otra dulce metáfora:
Li viajando en un tren del subterráneo hecho en China que servirá una nueva
línea del metro en Rio de Janeiro antes de los Juegos Olímpicos de 2016.
¿Dónde está EE.UU. en todo esto? En ninguna parte. Poco a poco, pero
inexorablemente, los miembros del BRICS, China –y en menor medida Rusia– han
estado nada menos que reestructurando el comercio y la infraestructura en toda
Latinoamérica.
Innumerables misiones comerciales chinas han estado visitando non-stop estos
lugares, tal como lo hizo EE.UU. entre la Primera y la Segunda Mundial. En un
reunión clave en enero con dirigentes empresariales latinoamericanos, el
presidente Xi Jinping prometió destinar 250.000 millones de dólares a proyectos
de infraestructura en los próximos diez años.
Proyectos de infraestructura importantes están siendo todos financiados por
capital chino, con la excepción del puerto Mariel en Cuba, cuyo financiamiento
proviene de BNDES de Brasil, cuya operación será dirigida por el operador de
puertos de Singapur PSA International Pte Ltd. La construcción del canal de
Nicaragua –más grande, más ancho y más profundo que el de Panamá– comenzó el año
pasado, realizado por una firma de Hong Kong, para ser terminado en 2019.
Argentina, por su parte, obtuvo un acuerdo con China por 4.700 millones de
dólares para la construcción de dos represas hidroeléctricas en la Patagonia.
Entre los 35 acuerdos concluidos durante la visita de Li a Brasil hubo
financiamiento por 7.000 millones de dólares para el gigante petrolero de Brasil
Petrobras, 22 jets comerciales Embraer serán vendidos a Tianjin Airlines por
1.300 millones de dólares y una serie de acuerdos involucran al importante
productor de mineral de hierro Vale. Podría haber inversión china para
reacondicionar la espantosa red de carreteras, ferrocarriles y puertos de
Brasil. Los aeropuertos están en una condición ligeramente mejor debido a los
reacondicionamientos de antes de la Copa del Mundo del año pasado.
La estrella de todo el show es indudablemente el propuesto megaferrocarril por
30.000 millones de dólares, de una longitud de 3.500 kilómetros, que unirá el
puerto brasileño de Santos con el puerto peruano de Ilo en el Pacífico, pasando
por Amazonia. Logísticamente es necesario para Brasil, ya que le ofrecerá una
salida al Pacífico. Los beneficiados serán inevitablemente los productores de
commodities –desde mineral de hierro a granos de soja– que exportan a Asia,
sobre todo a China.
El ferrocarril Atlántico-Pacífico será un proyecto extremadamente complejo,
involucrando todo desde temas ecológicos hasta derechos territoriales y
crucialmente la preferencia por firmas chinas cada vez que bancos chinos
deliberan sobre la extensión de líneas de crédito. Pero esta vez es concreto.
Los sospechosos de costumbre están –qué iba a ser– preocupados.
Atención a la geopolítica
La política oficial de Brasil, desde los años de Lula, ha sido atraer
importantes inversiones chinas. China es el principal socio comercial de Brasil
desde 2009, antes era EE.UU. La tendencia comenzó con la producción de
alimentos, ahora se concentra en la inversión en puertos y ferrocarriles y la
próxima etapa será la transferencia de tecnología. El Nuevo Banco de Desarrollo
de BRICS y el Banco Asiático de Inversión en la Infraestructura (AIIB), del cual
Brasil es miembro fundador, formará definitivamente parte del cuadro.
El problema es que esta masiva interacción comercial del BRICS se entrecruza con
un proceso político bastante enrevesado. Las tres principales potencias
suramericanas –Brasil, Argentina y Venezuela, que también son miembros de
Mercosur– se han enfrentado a repetidos intentos de “desestabilización” por
parte de los sospechosos de costumbre que denuncian la política exterior de los
presidentes Dilma Rousseff, Cristina Kirchner y Nicolás Maduro y añoran los
buenos días de antaño de una relación dependiente de Washington.
Con diferentes grados de complejidad –y conflictos internos– Brasilia, Buenos
Aires y Caracas se enfrentan simultáneamente a conspiraciones contra su orden
institucional. Los sospechosos de costumbre ni siquiera tratan de disimular su
casi total distancia diplomática de los tres mayores países suramericanos.
Venezuela, sometida a sanciones de EE.UU., está considerada una amenaza para la
seguridad nacional de EE.UU., algo que ni siquiera sirve para un mal chiste.
Kirchner ha estado bajo un implacable ataque diplomático, para no mencionar el
ataque de los fondos buitres a Argentina. Y respecto a Brasilia, las relaciones
han estado prácticamente congeladas desde septiembre de 2013, cuando Rousseff
suspendió una visita a Washington como respuesta al espionaje de la NSA sobre
Petrobras y sobre ella personalmente.
Y esto nos lleva a un problema geoestratégico crucial que no ha sido resuelto
hasta ahora.
El espionaje de la NSA puede haber filtrado intencionalmente información
confidencial para desestabilizar los planes de desarrollo brasileños que
incluyen, en el caso de Petrobras, la exploración de los mayores depósitos de
petróleo (Presal) encontrados hasta ahora a principios del Siglo XXI.
Lo que se revela es tan crucial porque Brasil es la segunda economía de las
Américas (después de EE.UU.), es la mayor potencia comercial y financiera
latinoamericana, alberga el antiguo segundo banco de desarrollo del mundo, el
BNDES, que ahora ha sido sobrepasado por el banco de BRICS. Y además alberga la
mayor corporación de Latinoamérica, Petrobras, que también es uno de los mayores
gigantes energéticos del mundo.
La presión dura contra Petrobras proviene esencialmente de accionistas
estadounidenses que actúan como los proverbiales buitres, empecinados en sangrar
a la compañía y beneficiarse al mismo tiempo, aliados con lobistas que detestan
el status de Petrobras como explorador prioritario de los depósitos Presal.
En pocas palabras, Brasil es la última gran frontera soberana contra la
ilimitada dominación hegemónica en las Américas. El Imperio del Caos tenía que
estar exasperado.
Avance de la ola continental
La cooperación estratégica en constante desarrollo de las naciones del BRICS ha
sido enfrentada por los círculos de Washington no solo con incredulidad, sino
también con temor. A Washington le es virtualmente imposible causar verdadero
daño a China pero le es mucho más “fácil”, comparativamente, en el caso de
Brasil o Rusia. Sin embargo el odio de Washington apunta esencialmente hacia
China, que se ha atrevido a cerrar acuerdo tras acuerdo en el antiguo “patio
trasero de EE.UU.”.
Una vez más, la estrategia china –así como la rusa– es mantener la calma y
conservar un perfil de beneficio mutuo. Xin Jinping se reunió con Maduro en
enero para cerrar –qué iba ser– tratos. Se reunió con Cristina Kirchner en
febrero para hacer lo mismo, precisamente cuando los especuladores estaban a
punto de lanzar otro ataque contra el peso argentino. Después tuvo lugar la
visita de Li a Suramérica.
Sobra decirlo, el comercio entre Suramérica y China sigue creciendo. Argentina
exporta alimentos y soja; Brasil lo mismo además de petróleo, minerales y
madera; Colombia vende petróleo y minerales; Perú y Chile cobre y hierro;
Venezuela petróleo; Bolivia minerales. China exporta sobre todo productos
manufacturados de alto valor agregado.
Un desarrollo clave que hay que observar en el futuro inmediato es el proyecto
Transul, que fue propuesto primero en una conferencia de los BRICS el año pasado
en Rio. Es una alianza estratégica Brasil-China que vincula el desarrollo
industrial de Brasil a la subcontratación parcial de metales a China. A medida
que los chinos aumentan su demanda –están construyendo no menos de 30 megapolis
hasta 2030– que será satisfecha por compañías brasileñas o chino-brasileñas.
Pekín ha dado su sello de aprobación.
Por lo tanto la visión general a largo plazo sigue siendo inexorable. Los BRICS
y las naciones suramericanas -que convergen en UNASUR (la Unión de Naciones
Suramericanas)– apuestan a un orden mundial multipolar y a un proceso
continental de independencia.
Es fácil ver que está a océanos de distancia de una "doctrina Monroe".
Pepe Escobar es el corresponsal itinerante de Asia Times/Hong Kong, y analista
para RT y TomDispatch.
Fuente: http://www.informationclearinghouse.info/article41953.htm
In
REBELION
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=199488
2/6/2015
segunda-feira, 1 de junho de 2015
‘O Brasil fica cada vez mais um caldeirão; a palavra greve geral volta à cena
Escrito por Gabriel Brito e Paulo Silva Junior, da Redação
Greves em diversas categorias, protestos gerais ou segmentados colorem o
ano brasileiro desde janeiro. Em Goiânia, pelo terceiro ano consecutivo os
professores entraram em greve, além de se voltarem contra o próprio
sindicato e recriarem suas formas de luta. O Correio da Cidadania
entrevistou Antônio Gonçalves Rocha para falar da paralisação que durou
mais de um mês e de todo o contexto político brasileiro do momento.
“Na minha opinião, isso representa a saída da classe trabalhadora às ruas.
Não que estivesse ausente. Mas o movimento é cada vez maior, devido ao
avanço da crise econômica no país e à ofensiva do grande capital contra os
direitos trabalhistas. Vemos uma palavra de ordem que ficou abandonada por
muito tempo: greve geral. Não sei como e quando vai acontecer, mas há uma
construção e desenvolvimento de greves numa escala muito maior do que
estávamos acostumados”, disse o professor.
Além de esperar por uma maior radicalização das lutas sociais, Antônio
também explicou como tem se desenvolvido a luta da categoria, traçando
paralelos com os garis do Rio de Janeiro, entre outros movimentos que têm
eclodido pela base e emparedado velhas direções. “Não estamos filiados a
nenhuma central e temos uma organização bastante diferente do que
estávamos acostumados. Vemos uma ebulição na cidade de Goiânia e outros
locais do Brasil, no sentido de uma nova forma de organização dos
trabalhadores, que extrapola a atual forma de sindicalismo de Estado,
constituído no Brasil do getulismo aos dias de hoje”.
Por fim, denuncia que o estado de Goiás tem sido exemplo dos processos de
privatização e precarização das escolas públicas, o que se coaduna com a
linha do documento Pátria Educadora, apresentado pelo governo no início do
ano. “Apenas promovem uma educação cada vez mais voltada ao mercado, sem a
necessidade de maiores investimentos. Essa política de ajuste fiscal
precariza ainda mais a situação do professor e do estudante de maneira
geral. Não vejo com bons olhos o que está colocado para a educação
pública”.
A entrevista completa, gravada nos estúdios da webrádio Central3, pode ser
lida a seguir.
Correio da Cidadania: O que você pode contar da greve dos professores
municipais de Goiás, que já dura cerca de 1 mês e agora recebe adesão dos
professores estaduais? Quais as principais exigências da categoria?
Antônio Gonçalves Rocha: Em primeiro lugar, estamos vivendo um momento de
retirada de direitos dos trabalhadores no Brasil inteiro, com essa onda de
terceirizações e revisões de direitos e de garantias legais dos servidores
públicos. A educação, particularmente, e a despeito do discurso oficial
dos políticos, vem sofrendo ataques sistemáticos. Aqui em Goiânia não é
diferente. É o caminho apontado, por exemplo, no documento Pátria
Educadora, que está sendo aplicado em nível estadual e municipal.
No município, a prefeitura já descumpre o estatuto dos servidores públicos
há bastante tempo. Estamos na terceira greve nos últimos três anos,
querendo organizar um novo sindicato, independente do oficial, pelego, e a
prefeitura vem sistematicamente descumprindo os acordos com a categoria.
Além de tudo, fizeram um decreto que retira vários direitos, sendo a
redução do quinquênio (gratificação que os servidores recebem a cada 5
anos) um dos pontos da nossa pauta. Foi o estopim da greve na rede
municipal de educação, que depois de algumas semanas contou com a adesão
da segunda maior cidade do estado, Aparecida de Goiânia, e depois da rede
estadual, que também entrou em greve contra o processo de privatização,
pasmem, do ensino estadual.
Estão criando Organizações Sociais, isto é, empresas que vão gerir as
escolas e contratar trabalhadores e professores de maneira celetista.
Estamos vendo, portanto, uma grande onda de precarização do trabalho
docente no estado de Goiás, no mesmo ritmo do Brasil de uma maneira geral.
Correio da Cidadania: Qual sua avaliação a respeito da postura do poder
público, em especial da prefeitura, e seu diálogo com o movimento?
Antônio Gonçalves Rocha: Total intransigência, repressão, assédio moral
contra os servidores públicos. Fomos ao Paço Municipal, depois de uma
assembleia da categoria, para entregar um documento e fomos brutalmente
agredidos pela Guarda Municipal a mando do prefeito Paulo Garcia. Em
Goiás, seguimos a onda do Brasil inteiro, que vem desde a Copa do Mundo –
na verdade vem de antes, é histórico -, de criminalização dos protestos.
Eu mesmo sou vítima de processo administrativo disciplinar, movido pela
prefeitura petista, a fim de me exonerar. O argumento, acreditem, é que eu
falei mal do prefeito e da secretária de Educação, uma notória política
ficha suja, que já desviou recursos públicos e tudo mais.
Portanto, o momento é de repressão. O diálogo continua dificultado,
sofrendo manobras da prefeitura, e não apresenta avanços em nossa pauta. A
prefeitura apresentou uma proposta muito reduzida, ao passo que anunciou o
corte de ponto dos servidores públicos, e tem agido apenas de maneira a
manter a repressão política contra os trabalhadores. Nessa reunião, eles
apresentaram pontos que atendem os trabalhadores muito parcialmente e
acenaram com uma Comissão de Negociação, a ser criada nos próximos meses
para cumprir parte da pauta dos servidores.
Depois disso, a categoria fez uma assembleia, entendeu que era necessário
manter a negociação com a prefeitura pra ver se cumpririam ou não os
pontos acordados. Assim, mais uma vez, vamos nos sentar à mesa de
negociações no aguardo de que cumpram sua parte. Na quinta passada, 21,
decidimos suspender a paralisação, mas, se as negociações não avançarem,
retomaremos. Porém, na rede estadual e em Aparecida de Goiânia continua,
forte a greve, como vinha sendo a nossa também.
Correio da Cidadania: Além das perseguições relatadas, houve demissões? E,
já que você mencionou o sindicato, qual é a relação da categoria com a
entidade e sua filiação?
Antônio Gonçalves Rocha: Desde 2010 o sindicato é filiado à CUT e
representa todos os trabalhadores, de todos os municípios, da rede
estadual etc. Em 2010, fizemos uma greve muito forte e, ao final, o
sindicato a encerrou, sem respeitar a decisão da categoria de mantê-la. E
mesmo assim mantivemos a greve por mais duas semanas. Com isso, criamos o
Sindicato Municipal da Educação de Goiânia. Porém, temos vários
impedimentos legais, devido a ações que o sindicato oficial impetrou na
justiça. Mesmo assim, organizamos uma espécie de sindicato paralelo. Não
estamos filiados a nenhuma central e temos uma organização bastante
diferente do que estávamos acostumados. Pra dar um exemplo, temos reuniões
dentro das escolas, comissões de trabalho, atividades de politização...
Com isso, conseguimos avançar e trazer vários trabalhadores para a luta.
A experiência de Goiânia influenciou os trabalhadores de Aparecida, que
também organizaram um movimento chamado Comando de Luta, ressoando nos
trabalhadores estaduais, que criaram o movimento Mobilização dos
Professores de Goiás. Assim, tem surgido um movimento paralelo e
independente da estrutura sindical oficial, como aconteceu há dois anos
com os garis do Rio de Janeiro, que fizeram uma greve sem sindicato.
Aliás, aqui em Goiânia os garis também fizeram sua primeira assembleia
independente.
Dessa forma, vemos uma ebulição na cidade de Goiânia e outros locais do
Brasil, no sentido de uma nova forma de organização dos trabalhadores, que
extrapola a atual forma de sindicalismo de Estado, constituído no Brasil
do getulismo aos dias de hoje.
Quanto a demissões, não aconteceram, porém, estão movendo processos
disciplinares contra determinadas pessoas. Eu e outros colegas somos
vítimas disso, com argumentos absurdos, atas fabricadas, de anos atrás,
tendo como justificativa problemas corriqueiros em escolas. A prefeitura
fez um acordo de retirar o processo de ilegalidade da greve, não o fez, e
a justiça nos condenou à multa de R$ 1,5 milhão. Agora, novamente a
prefeitura se comprometeu a retirar o processo. Também somos perseguidos
por policiais secretos, os P-2... É uma gigantesca onda de repressão na
cidade, inclusive com prisões e processos políticos e judiciais.
Correio da Cidadania: Como relaciona o que ocorre agora em Goiás com
outros estados e grandes cidades que também veem seus professores em
greve, além de outras categorias que também vêm entrando em rotina
parecida? O que isso mostra mais amplamente?
Antônio Gonçalves Rocha: Na minha opinião, isso representa a saída da
classe trabalhadora às ruas. Não que estivesse ausente. Mas o movimento é
cada vez maior, devido ao avanço da crise econômica no país e à ofensiva
do grande capital contra os direitos trabalhistas. A política de ajuste
fiscal vai tirar dinheiro da população pra enviar aos bancos, ao sistema
financeiro, para o pagamento do serviço da dívida pública...
Portanto, isso tudo representa uma reação contra tal ofensiva, a retirada
de direitos, as terceirizações etc. Agora, teremos o início da greve nas
instituições federais de ensino, que vai se juntar às paralisações da
educação em diversos estados e municípios.
Vemos uma palavra de ordem que ficou abandonada por muito tempo: greve
geral. Não sei como e quando vai acontecer, mas há uma construção e
desenvolvimento de greves numa escala muito maior do que estávamos
acostumados. Em 2013 e 2014 a população foi para as ruas em revolta contra
todo esse sistema de exploração historicamente instalado, e agora vejo um
despertar cada vez maior da classe trabalhadora, que a qualquer momento
pode criar uma junção com esses movimentos de revolta da população.
O Brasil fica cada vez mais um caldeirão, prestes a explodir. Ou apresenta
uma solução ou mais lutas virão. Por isso o Estado criminaliza cada vez
mais a luta popular, para impedir a organização e o apoio da luta social e
das mudanças no Brasil.
Correio da Cidadania: O que espera para o país e para a educação local e
nacional neste mandato de Dilma Rousseff, que já começou com duros cortes
orçamentários na área?
Antônio Gonçalves Rocha: Vejo que esses cortes representam algo muito
danoso à população e à educação de maneira geral. Nesse sentido, o governo
federal apresentou recentemente o documento formulado pelo
estrangeiro-brasileiro Mangabeira Unger, chamado “Pátria Educadora”, no
qual se apresenta o direcionamento do governo sobre a educação no país.
Nada mais, nada menos, pega planos de educação formulados pelo Banco
Mundial ou pelos EUA e os traz para a educação brasileira, no que chamamos
de modelo empresarial de educação. Colocam-se metas, determinados ensinos
e formas tecnicistas de se lidar com a educação pública, responsabilizando
principalmente os professores pelos problemas educacionais, e não as
próprias políticas educacionais. Além de responsabilizarem o professor
pelos problemas, tais políticas acabam com a autonomia didática do
professor, no sentido de trabalhar conteúdos em sala, impõem conteúdos de
cima pra baixo, com interesse voltado somente a testes e avalição de
desempenho, que em nada contribuem com a formação do ser humano. Apenas
promovem uma educação cada vez mais voltada ao mercado, sem a necessidade
de maiores investimentos.
Querem aplicar esses métodos e técnicas para responsabilizar o professor,
sem de fato por a mão no bolso pra acabarmos com a precariedade das
escolas. Aqui em Goiás tem escola com placa de amianto. A temperatura
média do estado é 32 graus, imagine uma criança assistindo aula em uma
sala, com 36, 40 graus de sensação térmica, imagine 30 ou 40 crianças em
processo de aprendizagem. Depois, querem falar que o professor trabalha de
forma equivocada.
Portanto, o buraco é muito mais embaixo e essa política de ajuste fiscal
precariza ainda mais a situação do professor e do estudante de maneira
geral. Não vejo com bons olhos o que está colocado para a educação
pública. A sociedade precisa se inteirar, saber o que acontece e se
posicionar, porque estamos caminhando para a privatização e terceirização.
O governo de Goiás caminha rumo à contratação de empresas privadas pra
administrar as escolas e contratar os professores e trabalhadores.
Significa o fim do concurso público e significa que as escolas vão
funcionar apenas de maneira empresarial, tanto didaticamente como em sua
administração. É algo extremamente grave, que vai precarizar e retirar
mais um direito da população, que precisa de educação pública de
qualidade.
In
Correio da Cidadania
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=10801
26/5/2015
Assinar:
Postagens (Atom)