terça-feira, 30 de setembro de 2014

Assentados conquistam 1° agroindústria do Terra Forte em SP



Por Maura Silva
Da Página do MST

As famílias assentadas e acampadas da região de Andradina (SP) serão as
pioneiras da primeira agroindústria financiada pelo Programa Terra Forte no
estado de São Paulo.

A cerimônia de assinatura do projeto de cooperação entre a Cooperativa de
Produção Agropecuária dos Assentados e pequenos Produtores da Região Noroeste do
Estado de São Paulo (COAPAR) com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) e a Fundação Banco do Brasil, aconteceu nesta quarta-feira (24),
no Assentamento Timboré.

A Coapar receberá cerca de R$ 12,8 milhões para investir na construção da
agroindústria. Para Lourival Plácido de Paula, presidente da COAPAR, a
assinatura do acordo significa o reconhecimento do trabalho realizado há anos
nos assentamentos.

“Esse é um momento de consolidação do trabalho do MST que luta há mais de 25
anos para industrializar a matéria prima produzida nos assentamentos. A Coapar
nasceu há 17 anos com esse objetivo”.

Segundo Lourival, a região de Andradina tinha como base a pecuária de corte, mas
com o desenvolvimento dos assentados e de sua produção, os trabalhadores rurais
foram migrando para a produção leiteira.

“Hoje trabalhamos para produzir produtos que possam ir para os supermercados com
a marca da Reforma Agrária, com a marca da luta no campo. São produtos que
superam o uso indiscriminado dos agrotóxicos e que é digno da população
brasileira”, afirma o Sem Terra.

Estudos realizados pela Cooperativa de Trabalho de Assessoria Técnica e Extensão
Rural (COATER), apontam que os assentamentos da região produzem 100 mil litros
de leite por dia. No entanto, sem apoio à ndustrialização, essa produção tem
dificuldade de aparecer nos supermercados e, consequentemente, na mesa da
população.

“A industrialização é o elemento necessário para agregar valor à matéria prima
produzida pelos assentamentos. Esperamos contribuir cada vez mais com as
cooperativas e com o desenvolvimento da Reforma Agrária”, disse o Ministro do
Desenvolvimento Agrário de São Paulo, Laudemir Muller.

Terra Forte

O Programa Terra Forte, lançado em 2013 pela presidenta Dilma Rousseff, tem o
objetivo de apoiar projetos de agroindustrialização da Reforma Agrária.

Segundo Delveque Matheus, da direção nacional do MST, o programa é resultado de
anos de luta dos movimentos sociais do campo, e se consolidou por meio de uma
ação conjunta entre os movimentos, a Secretaria Geral da Presidência da
República, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra).

Para Delveque, a assinatura desse acordo é importante para dar vazão a antigas
reivindicações das famílias assentadas.

“Investir na agricultura familiar, na produção feita nos assentamentos significa
investir na saúde da população. O agronegócio não produz alimentos, produz
commodities. Nós temos um sistema de produção saudável, com potencial ecológico,
por isso, travamos uma batalha há mais de 25 anos pelo produto com o selo da
Reforma Agrária”.

Segundo ele, esse é apenas o primeiro passo, e retrata um sonho antigo das
famílias que passaram pela lona preta. “Ainda temos muito para conquistar,
lutamos e vamos continuar lutando. Queremos a marca da Reforma Agrária nos
supermercados e nas mesas dos brasileiros”.

O presidente nacional do Incra, Carlos Guedes, reconheceu que “esse é um projeto
de cada homem e cada mulher. Cada assentado que luta diariamente pelos seus
direitos e pelo reconhecimento de sua terra. É um passo, não o fim da caminhada.
E o nosso papel é investir e apoiar ações que priorizem o crescimento
sustentável dos assentamentos. Esse é um sinal de que os trabalhados rurais
estão no caminho certo”.

Benefícios à cidade

Com 46 assentamentos e mais de 4.500 famílias, Andradina é a única cidade do
país a ter uma Secretária Especial da Reforma Agrária. Para o prefeito municipal
da cidade, Jamil Akio Ono, o investimento feito na região por meio da cooperação
irá beneficiar toda a cidade.

“Andradina é uma cidade com muitos problemas econômicos. A construção de uma
agroindústria vai fazer com que a economia da cidade cresça, trazendo um saldo
positivo a ela. E não é um crescimento qualquer, é um crescimento sustentável,
feito através de produtos de qualidade”, afirma.

A agroindústria será erguida no distrito industrial de Andradina. Com a
liberação efetiva da verba, o prefeito espera que as construções sejam iniciadas
no início de 2015.

A luta continua

O termo de cooperação é o primeiro de um total de 33 projetos qualificados pelo
governo federal. Destes, 23 foram aprovados e aguardam liberação de recursos. O
plano que tem uma duração de cinco anos não prevê data limite para o repasse de
verba.

Rene, assentado há 14 anos na região, salienta que ainda há muito a ser feito
pelo trabalhador rural no país. Para ele a prioridade ainda é a luta contra os
grandes latifundiários.

“Não podemos acreditar que o vencemos, ainda há muito que ser feito. O atual
governo não priorizou a questão agrária como prometeu. Investir na
agroindustrialização, na diversidade da produção é um ponto. Mas não podemos nos
esquecer do problema primário, são milhares de famílias acampadas”, lembra o Sem
Terra.

Para ele, a grande prioridade é assentar todas essas famílias, que totalizam
cerca de 150 mil em todo o país. Nesse sentido, Rene acredita que tem que
beneficiar os assentamentos investindo na agricultura familiar e camponesa,
“mas, sobretudo, exigir de fato a Reforma Agrária que é a grande batalha do
Movimento”.

Também estiveram presentes, Guilherme Lacerda, Diretor de Infraestrutura Social,
Meio Ambiente e Agropecuária do BNDES, Marcos Frade, diretor executivo de
desenvolvimento social da fundação do BB, o Ministro-Chefe da Secretária Geral
da República em exercício, Diogo de Sant’Ana, o Ministro de Estado da
Previdência Social em exercício, Carlos Gabas, o Secretário de Educação
Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Aléssio Trindade de
Barros, o Diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, João Marcelo
Intini, o delegado do MDA de São Paulo,Reinaldo Prates, o Presidente da Coater,
Hiroshi Kakinohana, o Superintendente Regional do Incra de São Paulo, Wellington
Diniz e o Superintendente Estadual do Banco do Brasil em São Paulo, Euzivaldo
Vivi e Luzia Ferraiolo.

In:
MST
http://www.mst.org.br/node/16556
25/9/2014

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