quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

CARTA DE CARUARU - PE - BRASIL




Da Página do MST


Na semana passada, mais de 400 dirigentes do MST de todo o Brasil se reuniram
na cidade de Caruaru (PE), durante o encontro da coordenação nacional do MST.


No final da atividade, os Sem Terra escreveram a Carta de Caruaru, em que
apresentam um balanço crítico do atual momento político e as perspectivas para o
próximo período.




Confira:


Carta de Caruaru


1. A atual crise mundial do capitalismo, iniciada ainda em 2008, causa o
aumento do desemprego, do crescimento da desigualdade social, a concentração da
renda e riqueza além de intensificar o uso do aparato repressivo do Estado em
todas as partes do mundo.


2. O grande capital se mostra incapaz de apontar saídas para essa crise do
capitalismo. Acentua-se que será uma crise profunda, prolongada, que exigirá
reformas estruturais. E suas consequências sociais são imprevisíveis.


3. No cenário nacional, à crise internacional do capitalismo soma-se o
esgotamento do modelo neodesenvolvementista, baseado no crescimento econômico e
na distribuição de renda com conciliação de classes, iniciado em 2003.


4. Frente à gravidade da crise, a classe dominante demonstra não ter
unidade em torno de um novo projeto hegemônico para o país. Há setores da
burguesia que persistem na defesa do modelo neodesenvolvimentista. E há outra
parcela que almeja a retomada e o aprofundamento do modelo neoliberal.


5. A presidenta Dilma Rousseff, desde o início do seu 2º mandato, errou em
implementar um programa econômico de medidas neoliberais, adotado do seu
adversário político, derrotado nas urnas. Tal equívoco causou o agravamento da
crise econômica e fragilizou o apoio popular que lhe assegurou a vitória nas
últimas eleições presidenciais.


6. Mesmo assim, o governo seguiu cedendo ao grande capital, retirando
direitos sociais e trabalhistas e dando continuidade ao ajuste econômico, que
mostrou-se fracassado em 2015.


7. As anunciadas reformas trabalhistas e da previdência social – que
penalizam a classe trabalhadora e, especialmente, as mulheres camponesas – são
inaceitáveis; e, se concretizadas, provocarão uma onda de lutas populares em
todo o país contra o governo.


8. Da mesma forma exigimos que o governo enfrente o modelo de agricultura
do agronegócio. É uma agricultura financiada pela poupança social e subsidiada
com recursos públicos, destinada a atender os interesses do mercado
internacional. Esse modelo de agricultura provoca a concentração de renda e da
propriedade da terra, aumenta a desigualdade social, produz alimentos com
agrotóxicos, promove uma irracional destruição ambiental em nosso país e
subordina toda cadeia produtiva agropecuária ao controle e interesses das
empresas transnacionais e do capital financeiro.


9. Todo este contexto sinaliza um novo período histórico da luta de
classes. Cabe à classe trabalhadora enfrentar o desafio de impulsionar as lutas
populares nas ruas, construir a unidade da classe e alimentar o povo brasileiro
com os ideais de uma sociedade avançada, socialmente justa e democrática.


10. Urge a classe trabalhadora construir coletivamente, através de todas as
mediações, sindicatos, movimentos populares e partidos políticos progressistas,
um novo projeto político para o país. Um projeto alicerçado na defesa e no
aprofundamento da democracia popular, na distribuição da riqueza e na soberania
nacional.


11. A Frente Brasil Popular (FBP), criada em setembro/2015, em Belo
Horizonte/MG, logrou unidade de uma parcela da classe trabalhadora em torno de
uma plataforma política mínima de um projeto político para o Brasil. Como
integrante da FBP, faremos todos os esforços para a sua consolidação nos estados
e municípios. Cabe-nos, ainda, a tarefa de ampliar a FBP com outros setores e
organizações, além de aprofundar o diálogo com outras Frentes existentes.


12. No campo, diante da ineficiência e apatia do governo em adotar medidas
favoráveis à Reforma Agrária, iremos intensificar as mobilizações populares, as
ocupações de latifúndios improdutivos e das fazendas, como estabelece a
Constituição Federal de 1988, que não cumprem a função social.


13. Lutaremos pela Reforma Agrária Popular, centrada na distribuição da terra
às famílias camponesas e em um novo modelo de agricultura brasileira. Uma
agricultura que priorize a produção de alimentos sadios, baseada na agroecologia
e na cooperação agrícola, associada com a implantação de agroindústrias nas
áreas da Reforma agrária.


14. A Reforma Agrária Popular é indissociável do direito da população do campo
ter acesso à educação e ao conhecimento. Assim, lutaremos contra o fechamento
das escolas do meio rural e exigiremos, para cada área de assentamento, a
existência física de escolas que assegurem uma educação pública, de qualidade
social e gratuita. Educação é um direito e não uma mercadoria!


15. Juntos com a Via Campesina e os demais movimentos populares do campo,
lutaremos pela soberania alimentar de todos os povos, em defesa das sementes
como um patrimônio da humanidade, e pelo alimento ser um direito do ser humano
e não uma mercadoria que visa apenas os lucros das empresas transnacionais, às
custas da miséria e da fome de milhões de seres humanos.


Enfim, assumimos o compromisso de dar continuidade e intensificar as lutas
populares de 2015. Iremos, em 2016, voltar às ruas contra forças imperialistas,
a direita partidária, o conservadorismo do Congresso Nacional, o oligopólio da
mídia, os setores reacionários e golpistas incrustados no aparato estatal. Estes
querem fazer o país retroceder nas conquistas democráticas já obtidas, nos
direitos trabalhistas conquistados e no avanço das políticas econômicas que
reduzem a desigualdade social.


Será um ano de muitas lutas e de superação de desafios na construção da unidade
da classe trabalhadora, do reascenso das lutas populares, da solidariedade com
todos os povos em lutas e na construção de um projeto político popular para o
nosso país.


Caruaru/PE, 30 janeiro de 2016.
Coordenação Nacional do MST
Lutar, construir a Reforma Agrária Popular!


In
MST
http://www.mst.org.br/2016/02/02/mst-estamos-entrando-num-novo-periodo-historico-da-luta-de-classes.html
2/2/2016

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