sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Luta pela limitação da jornada de trabalho




Filipe Diniz

Entre as lutas de classes a conquista das 8 horas de trabalho há 150 anos foi
«um nó central na luta de classes, sempre debaixo de fogo, sempre necessitando
de ser reivindicado e defendido».




Em 1866 a 1.ª Internacional, no Congresso de Genebra, consagra a reivindicação
das 8 horas de trabalho diário. O Congresso Operário americano, que decorreu em
simultâneo, aprova idêntica reivindicação.

Uma reivindicação inteiramente actual. Mais do que actual, permanente: um nó
central na luta de classes, sempre debaixo de fogo, sempre necessitando de ser
reivindicado e defendido.

O espantoso desenvolvimento das forças produtivas e dos meios de produção nestes
150 anos justificaria não só uma radical redução do horário de trabalho – diário
e no limite das 35 horas semanais – como também condições de produção capazes de
libertar a humanidade de qualquer constrangimento económico e de bem-estar. Mas
o que se passa é o inverso, e o empobrecimento dos trabalhadores é em todo o
lado acompanhado pela intensificação da exploração do trabalho. Só para referir
o nosso País, segundo dados da OCDE, cada trabalhador em Portugal trabalhou 1857
horas, em 2014 contra 1849 em 2012.

A limitação do horário de trabalho está presente em cada avanço histórico. E a
cada retrocesso reaccionário é um dos primeiros alvos a destruir. Para
intensificar a exploração, sem dúvida. Mas, mais do que isso, para debilitar a
força dos trabalhadores, para atrasar, desarticular e bloquear a sua tomada de
consciência e a sua organização de classe. Qualquer dos «três oitos» históricos
(8 horas de trabalho, 8 horas de descanso, 8 horas de lazer) é uma ameaça para o
capital, cuja ofensiva incide tanto sobre o tempo de trabalho como sobre os
outros. Desarticulando arbitrária e anarquicamente horários, «flexibilizando»
tarefas, intrometendo as empresas nos tempos livres, promovendo e massificando o
consumo de meios de informação e entretenimento ideologicamente formatados.
Prolongando nas relações sociais gerais a alienação do processo de produção.

A luta pela redução do horário de trabalho é a luta dos trabalhadores pelo seu
próprio tempo. O tempo do estudo, do conhecimento, da cultura, da organização.
Da compreensão do movimento da história e da sua inserção nele. 8 horas criam
toda a riqueza. As outras 8 + 8 criarão as condições para que ela seja
justamente distribuída.

Este texto foi publicado no Avante nº 2.202 em 11 de Fevereiro de 2016.

In
O DIÁRIO.INFO
http://www.odiario.info/?p=3917
11/2/2016

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