quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Por que a mídia faz silêncio sobre a greve histórica que está parando Florianópolis?


A origem da paralisação está nas medidas enviadas pela prefeitura que acabam com
o plano de carreira dos funcionários

Joaquim de Carvalho


Os servidores públicos municipais de Florianópolis estão em greve desde o dia 16
de janeiro. É a maior paralisação da categoria e, como mostram as imagens do
último ato dos funcionários, realizado na segunda-feira, a adesão é cada vez
maior.
Basta comparar as imagens desse ato com o do início da paralisação para
constatar que, apesar das pressões que as lideranças dos funcionários estão
sofrendo, inclusive de prisão, o número de manifestantes aumentou muito.
“Nenhum direito a menos” é o grito de guerra dos servidores em greve. A origem
da paralisação está num conjunto de medidas enviadas pela prefeitura que acabam
com o plano de carreira dos funcionários, aprovado em 2014, e cortam outros
direitos dos servidores.
Durante a campanha eleitoral, no ano passado, a possibilidade de cortes no
salário dos servidores chegou a ser debatida, e o candidato eleito, Gean
Loureiro, que é do PMDB, disse que buscaria alternativas para o equilíbrio
fiscal.
Mas uma das primeiras medidas dele, ao ser eleito, foi enviar à Câmara Municipal
um pacote de medidas que atingem em cheio os direitos dos servidores públicos. A
esse pacote, ele deu o nome de Floripa Responsável.
“Vamos fazer um corte muito duro, em todas as suas despesas, incluindo
benefícios que não se enquadram mais na realidade financeira do município”,
disse o prefeito ao enviar o pacote para a Câmara.
Pela sua proposta, benefícios como licença-prêmio, percentual de horas extras e
a incorporação de todo e qualquer benefício a cada cinco anos de trabalho devem
ser modificados. Já a gratificação por atividade especial deve ser extinta.
A previdência municipal também deve ser alterada. Em uma das propostas, a
contribuição do servidor passa a ser de 11% para 14% e do município de 14% para
28%. Também será enviada a proposta de previdência complementar.
Para dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de
Florianópolis, falta transparência da prefeitura no debate sobre o ajuste
fiscal.
“A gente tem cobrado a publicação de um balancete da prefeitura, para ver se
comprova a questão de 58% de comprometimento da folha. Há informação de que os
terceirizados entram nessa folha, o que é ilegal. Os servidores estão sendo
penalizados pelo prefeito, afetados em direitos, o que destrói a carreira
funcional”, disse.
Santa Catarina é o berço do Movimento Passe Livre. Em 2000, centenas de
estudantes marcharam pelas ruas da cidade até a Câmara Municipal, onde deixaram
um abaixo assinado com mais de 20 mil assinaturas em favor da tarifa zero para
ônibus municipais. Não foram atendidos, mas continuaram organizados e chamavam a
si mesmos de Juventude Revolução.
Em 2004, quando a prefeitura aumentou a passagem de ônibus, eles voltaram às
ruas, desta vez com muito mais gente: milhares de pessoas fecharam as principais
vias de Florianópolis e muitos permaneceram nelas por quatro semanas até que a
prefeitura revogou o aumento.
As manifestações ficaram conhecidas como A Revolta da Catraca, e o movimento já
tinha mudado de nome. Era o Passe Livre, e o exemplo  começou a se espalhar por
outras capitais.
Assim como aconteceu em 2004, com a juventude na rua, a imprensa nacional ignora
a paralisação dos servidores públicos municipais de 2017, embora os efeitos para
a população sejam evidentes. Só funcionam os serviços essenciais, como postos de
saúde, ainda assim com número muito reduzido de funcionários.
Os guardas municipais quase não são vistos patrulhando as ruas, já que se estima
que 70% tenham aderido à paralisação. As creches estão abertas, mas com metade
dos funcionários, que não quiseram prejudicar as mães que trabalham e que, por
isso, organizaram um sistema de rodízio.
Mais do que resistir a medidas que ferem a essência do funcionalismo público –
uma das medidas incentivam a terceirização –, os líderes do movimento grevista
têm consciência de que os eventos de Florianópolis são o ensaio do que vem por
aí, em todas as cidades.
Com quase 40 anos de atraso, administradores brasileiros alinhados às diretrizes
do governo Michel Temer ressuscitaram o espírito de Margaret Tatcher e elegeram
os culpados para a crise: os servidores da base do funcionalismo público. O
desfecho da greve histórica de Florianópolis interessa a todos os brasileiros.
Edição: Diário do Centro do Mundo
In
BRASIL DE FATO
https://www.brasildefato.com.br/2017/02/15/por-que-a-midia-faz-silencio-sobre-a-greve-historica-que-esta-parando-florianopolis/
15/2/2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário