quinta-feira, 28 de junho de 2018

Todo o mundo ocidental vive em dissonância cognitiva


    
       por Paul Craig Roberts


       Neste artigo vou utilizar três das notícias actuais para ilustrar a
      desconexão que permeia toda a mente ocidental.
       Vamos começar com a questão da separação familiar. A separação de filhos
      dos pais imigrantes/refugiados/asilados provou tal protesto público que o
      presidente Trump recuou na sua política e assinou uma ordem executiva
      terminando a separação familiar.
       O horror a crianças aprisionadas em armazéns operados por negócios
      privados com lucros extraídos dos contribuintes estado-unidenses, enquanto
      os pais são processados por entrada ilegal no país, desperta do seu
      estupor mesmo americanos "excepcionais e indispensáveis" satisfeitos
      consigo próprios. É um mistério que o regime Trump opte por desacreditar
      sua política de fiscalização de fronteiras com a separação de famílias.
      Talvez a política pretendesse deter a imigração ilegal enviando a mensagem
      de que se você vier para a América os seus filhos lhe serão tomados.
       A questão é: Como é que americanos podem ver e rejeitar esta desumana
      política de controle de fronteiras e não ver a desumanidade da destruição
      de famílias que tem sido o resultado predominante da destruição por
      Washington, no todo ou em parte, de sete ou oito países no século XXI.
       Milhões de pessoas foram separadas das suas famílias pela morte infligida
      por Washington e, durante quase duas décadas, os protestos têm sido
      praticamente inexistentes. Nenhum clamor público travou George W. Bush,
      Obama e Trump de actos clara e indiscutivelmente ilegais definidos no
      direito internacional estabelecido pelos próprios EUA como crimes de
      guerra contra os habitantes do Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão,
      Síria, Iémen e Somália. Podemos acrescentar a isto um oitavo exemplo: Os
      ataques militares pelo estado fantoche neo-nazi da Ucrânia, armado e
      apoiado pelos EUA, contra a secessão de províncias russas.
       As mortes maciças, destruição de cidades e infraestrutura, a mutilação
      física e mental, a deslocação que lançou milhões de refugiados a fugirem
      das guerras de Washington para inundarem a Europa, onde os governos
      consistem de uma colecção de palhaços idiotas que apoiarem os crimes de
       guerra de Washington no Médio Oriente e Norte de África, não produziram
      clamor comparável ao da política imigratória de Trump.
       Como é possível que americanos possam ver desumanidade na separação de
      famílias por imposição do organismo de imigração mas não nos crimes de
      guerra maciços cometidos contra povos em oito países? Estaremos nós a
      experimentar uma forma de psicose em massa de  dissonância cognitiva ?
       Vamos agora ao segundo exemplo: a retirada de Washington do Conselho de
       Direitos Humanos das Nações Unidas.
       Em 2 de Novembro de 1917, duas décadas antes do holocausto atribuído à
      Alemanha nacional-socialista, o secretário britânico dos Negócios
      Estrangeiros, James Balfour, escreveu a Lord Rothschild que a Grã-Bretanha
      apoiava tornar a Palestina uma pátria judia. Por outras palavras, o
      corrupto Balfour descartava os direitos e as vidas de milhões de
      palestinos que haviam ocupado a Palestina durante dois milénios ou mais. O
      que eram estas pessoas em comparação com o dinheiro de Rothschild? Elas
      eram nada para o secretário britânico dos Negócios Estrangeiros.
       A atitude de Balfour em relação aos direitos dos habitantes da Palestina
      é a mesma atitude britânica em relação aos povos em cada colónia ou
      território sobre o qual prevaleceu o poder britânico. Washington aprendeu
      este hábito e tem-no sistematicamente repetido.
       Ainda outro dia a embaixadora de Trump na ONU, Nikki Haley, a
      enlouquecida e insana cadelazinha de Israel, anunciou que Washington se
      havia retirado do Conselho de Direitos Humanos da ONU devido a "um esgoto
      de viés político" contra Israel.
       O que fez o Conselho de Direitos Humanos da ONU para justificar esta
       repreensão da agente de Israel, Nikki Haley? O Conselho de Direitos
       Humanos denunciou a política de Israel de assassinar palestinos –
      médicos, crianças pequenas, mulheres, idosas e idosos, pais e
       adolescentes.
       Criticar Israel, não importa quão grande e óbvio seja o seu crime,
      significa que você é um anti-semita e um "negador do holocausto". Para
      Nikki Haley e Israel, isto coloca o Conselho de Direitos Humanos da ONU
      nas fileiras dos nazis adoradores de Hitler.
       O absurdo disto é óbvio, mas poucos, se é que algum, podem detectá-lo.
      Sim, o resto do mundo, com a excepção de Israel, denunciou a decisão de
      Washington, não só os inimigos de Washington e do palestino como até os
      seus fantoches e vassalos.
       Para ver a desconexão é necessário prestar atenção ao fraseamento das
      denúncias de Washington.
       Um porta-voz da União Europeia disse que a retirada de Washington do
       Conselho de Direitos Humanos da ONU "arrisca minar o papel dos EUA como
      um campeão e apoiante da democracia na cena mundial". Pode alguém imaginar
      uma declaração mais imbecil? Washington é conhecida como um apoiante de
      ditadura que aderem à sua vontade. Washington é conhecida como uma
      destruidora de toda democracia latino-americana que tenha eleito um
      presidente que representasse o povo do país e não os bancos de Nova York,
      os interesses comerciais dos EUA e a política externa estado-unidense.
       Mencione um lugar onde Washington tenha sido um apoiante da democracia.
       Só para falar dos anos mais recentes, o regime Obama derrubou o governo
       democraticamente eleito de Honduras e impôs ali o seu fantoche. O regime
       Obama derrubou o governo democraticamente eleito na Ucrânia e impôs ali
      um regime neo-nazi. Washington derrubou os governos na Argentina e no
       Brasil, está a tentar derrubar o governo da Venezuela e tem a Bolívia na
      sua alça da mira, juntamente com a Rússia e o Irão.
       Margot Wallstrom, ministra sueca dos Negócios Estrangeiros, disse:
       "Entristece-me que os EUA tenham decidido retirar-se do Conselho de
       Direitos Humanos da ONU. Ela vem num momento em que o mundo precisa de
      mais direitos humanos e uma ONU mais forte – não o oposto". Por que razão
      Wallstrom pensa que a presença de Washington, um conhecido destruidor de
      direitos humanos – basta perguntar aos milhões de refugiados dos crimes de
      guerra de Washington que inundam a Europa e a Suécia – fortaleceria ao
      invés de minar o Conselho? A desconexão de Wallstrom é estarrecedora. Ela
      é tão extrema que se torna inacreditável.
       A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Julie Bishop, falou
      como o mais bajulador de todos os vassalos de Washington quando disse
       estar preocupada com o "viés anti-Israel" do Conselho de Direitos Humanos
      da ONU. Aqui temos uma pessoa com o cérebro lavado tão absolutamente que é
      incapaz de se conectar a qualquer coisa real.
       O terceiro exemplo é a "guerra comercial" que Trump lançou contra a
      China. A afirmação do regime de Trump é que devido a práticas injustas a
      China tem um excedente comercial contra os EUA de aproximadamente US$400
      mil milhões. Esta vasta soma supostamente deve-se a "práticas injustas"
      por parte da China. Nos factos reais, o défice comercial com a China
      deve-se à Apple, Nike, Levi e ao grande número de corporações dos EUA que
      deslocalizaram na China a produção das mercadorias que vendem aos
      americanos. Quando a produção deslocalizada de corporações
       estado-unidenses entra nos EUA elas são contadas como importações.
       Tenho apontado isto durante muitos anos, remontando mesmo ao meu
      testemunho perante a Comissão China do Congresso dos EUA. Tenho escrito
      numerosos artigos publicados por quase toda a parte. Eles estão resumidos
      no meu livro de 2013, The Failure of Laissez Faire Capitalism .
       Os media financeiros presstitutos, os lobistas corporativos, os quais
      incluem muitos economistas académicos com "nome", e os miseráveis
      políticos americanos cujo intelecto é quase não-existente são incapazes de
      reconhecer que o défice comercial maciço dos EUA é o resultado da
       deslocalização de empregos. Este é o nível da estupidez absoluta que
      domina a América.
       Em  The Failure of Laissez Faire Capitalism,  revelo o erro
      extraordinário de Matthew J. Slaughter, membro do Conselho de Assessores
      Económicos de George W. Bush, o qual de modo incompetente afirmou que para
      cada emprego estado-unidense deslocalizado seriam criados dois empregos
      nos EUA. Também revelei como uma farsa um "estudo" do professor Michael
      Porter da Universidade de Harvard feito para o chamado Conselho sobre
      Competitividade, um grupo de lobby para a deslocalização, o qual fabricou
      a afirmação extraordinária de que a força de trabalho dos EUA estava a
       beneficiar-se com a deslocalização dos seus empregos de alta
       produtividade e alto valor acrescentado.
       Os idiotas economistas americanos, os idiota media financeiros americanos
      e os idiotas responsáveis políticos americanos ainda não compreenderam que
      a deslocalização de empregos destruiu perspectivas económicas da América e
      empurrou a China para o primeiro plano 45 anos à frente das expectativas
      de Washington.
       Para resumir isto, a mentalidade ocidental e as mentalidades dos russos
       atlantistas-integracionistas e da juventude chinesa pró americana, estão
      tão cheias de insensatez propagandista que já não há conexão com a
      realidade.
       Há o mundo real e há o mundo propagandístico inventado que encobre o
      mundo real e serve interesses especiais. Minha tarefa é fazer com que o
      povo saia do mundo inventado e entre no mundo real. Apoio meus esforços.

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/eua/roberts_21jun18.html
21/6/2018

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