sábado, 19 de fevereiro de 2022

Os trabalhadores estão em marcha – a nova guerra de classes da América

 


    – Trabalhadores explorados dos EUA estão a levantar-se por todo o
    país e a agir
    – Mas tais informações não chegam aos media que se proclamam como
    "de referência"


    Chris Hedges [*]

Há uma última esperança para os Estados Unidos. E não está nas urnas de
voto. Está na organização sindical e greves de trabalhadores da Amazon,
Starbucks, Uber, Lyft, John Deere, Kellogg, na fábrica Special Metals em
Huntington, West Virginia, propriedade da Berkshire Hathaway, na
Northwest Carpenters Union, na Kroger, bem como de professores em
Chicago, West Virginia, Oklahoma e Arizona, trabalhadores de fast-food,
centenas de enfermeiras em Worcester, Massachusetts, e os membros da
International Alliance of Theatrical Stage Employees.

Trabalhadores organizados, muitas vezes desafiando as suas tímidas
lideranças sindicais, estão em marcha pelos Estados Unidos. Mais de
quatro milhões de trabalhadores, cerca de 3% da força de trabalho,
principalmente de serviços de hotelaria e alimentação, saúde e
assistência social, transporte, habitação e serviços públicos,
abandonaram o trabalho, rejeitando salários baixos e condições de
trabalho punitivas e arriscadas.

Há um consenso crescente – 68% numa sondagem recente da Gallup
<https://news.gallup.com/poll/354455/approval-labor-unions-highest-point-1965.aspx>, com este número subindo para 77% entre os 18 e 34 anos – de que a única maneira que resta para alterar o equilíbrio de poder e forçar concessões da classe capitalista dominante é mobilizar e fazer greve, embora apenas 9% da força de trabalho dos EUA seja sindicalizada. Esqueçam os Democratas preocupados com questões sociais. É uma guerra de classes.

A questão, como Karl Popper nos lembrou, não é como fazer com que
pessoas boas governem. A maioria dos que são atraídos pelo poder,
figuras como Joe Biden, são na melhor das hipóteses medíocres e muitos,
como Dick Cheney, Donald Trump ou Mike Pompeo, são venais. A questão é,
sim, como organizamos as instituições para evitar que líderes
incompetentes ou ruins nos prejudiquem. Como podemos colocar poder
contra poder?

O Partido Democrata não promoverá o tipo de reforma radical do New Deal
que na década de 1930 tanto evitou o fascismo como o comunismo. O seu
teatro político vazio, que remonta ao governo Clinton, estava em plena
exibição em Atlanta quando Biden pediu a revogação da obstrução à
aprovação do Freedom to Vote Act
<https://www.brennancenter.org/our-work/research-reports/freedom-vote-act> e o John Lewis Voting Rights Advancement Act <https://www.brennancenter.org/our-work/analysis-opinion/john-lewis-voting-rights-advancement-act-introduced-senate-brennan-center>, sabendo que suas hipóteses de êxito eram zero. O candidato democrata a governador da Geórgia, Stacey Abrams, juntamente com vários grupos de direitos de voto do Estado, boicotou o evento numa censura muito pública. Eles estavam perfeitamente cientes da manobra cínica de Biden. Quando os Democratas eram minoria, agarravam-se à obstrução como um bote salva-vidas. O então senador Barack Obama, juntamente com outros Democratas, fez campanha para que ele permanecesse no cargo. E há alguns dias, a liderança Democrata usou a obstrução para bloquear a legislação proposta pelo senador Ted Cruz.

Os democratas têm sido parceiros plenos no desmantelamento da nossa
democracia, recusando-se a banir o /“dark money”/ (dinheiro de origem
secreta, para fins políticos nos EUA, legal e isento de impostos) e
dinheiro das grandes empresas nos processos eleitorais e governo, como
Obama fez por meio de ações executivas presidenciais, agências de
"orientação" e outras questões de regulação do /“dark money”/
<https://cei.org/sites/default/files/Wayne%20Crews%20-%20Mapping%20Washington%27s%20Lawlessness.pdf> que ignoram o Congresso. Os Democratas, que ajudaram a lançar e perpetuar as nossas guerras sem fim, também foram co-arquitetos de acordos comerciais como o NAFTA, vigilância ampliada sobre os cidadãos, polícia militarizada, o maior sistema prisional do mundo e uma série de leis antiterrorismo, como a Special Administrative Measures (SAM) que retira quase todos os direitos, incluindo o devido processo legal e privilégio advogado-cliente, para permitir que suspeitos sejam condenados e presos com provas secretas que eles e seus advogados não têm permissão para ver.

O impressionante desperdício de recursos para fins militares – 777,7 mil
milhões de dólares num ano – aprovado no Senado com 89 votos contra 10 e
na Câmara de Representantes com 363 votos contra 70, juntamente com os
80 mil milhões gastos anualmente nas agências de serviços secretos,
tornou os militares e os serviços secretos, muitos administrados por
empresas privadas, como a Booz Allen Hamilton, quase omnipotentes. Os
democratas há muito tempo que abandonaram trabalhadores e sindicatos. A
governadora Democrata do Maine, Janet Mills, por exemplo, vetou um
projeto de lei
<https://whdh.com/news/maine-governor-vetoes-bill-to-allow-farm-workers-to-unionize/> que permitiria que os trabalhadores agrícolas no seu Estado se sindicalizassem. Em /todas/ as grandes questões estruturais, não há diferença entre os republicanos e os democratas.

Quanto mais tempo o Partido Democrata passar sem realizar reformas reais
para melhorar as dificuldades económicas, exacerbadas pelas altas taxas
de inflação, mais alimenta a frustração de muitos de seus apoiantes e a
apatia generalizada (há 80 milhões de eleitores, um terço do eleitorado,
que não vota) e o ódio às elites "liberais" alimentadas pela seita de
Donald Trump no Partido Republicano. O pacote para infraestruturas
designado, “Build Back Better”, quando se leem as letras miúdas, é mais
uma infusão de milhares de milhões de dólares do governo para as contas
bancárias das grandes empresas. Isso não deve surpreender ninguém, dado
quem são elas que financiam e controlam o Partido Democrata
<https://www.vox.com/recode/21529490/silicon-valley-millionaires-top-donors-2020-election-donald-trump>.

O sofrimento e a instabilidade que assola pelo menos metade do país que
vive em dificuldades financeiras, alienado e privado de direitos,
perseguido por bancos, empresas de cartão de crédito, empréstimos
estudantis, serviços públicos privatizados, economia de empregos
precários, sistema de saúde com fins lucrativos de que resultou um
quarto de todas as mortes mundiais [1] <#nt> por Covid-19 – embora
sejamos menos de 5% da população mundial – e empregadores que pagam aos
trabalhadores salários de escravos e não fornecem benefícios, está a piorar.

Biden presidiu à perda de benefícios alargados no desemprego,
assistência ao aluguer das habitações, tolerância para empréstimos
estudantis, cheques de emergência, moratórias sobre despejos e agora o
fim do alargamento dos créditos fiscais para crianças, tudo à medida que
a pandemia aumentava de novo. O lidar com a pandemia, do ponto de vista
sanitário e económico, é mais um sinal da profunda decadência do
império. Os americanos que não têm seguro ou que são cobertos pelo
Medicare, geralmente trabalhadores da linha de frente [2] <#nt>, não são
reembolsados pelos testes de Covid que compram sem receita.

O Supremo Tribunal – cinco dos juízes foram nomeados por presidentes que
perderam no voto popular – também bloqueou a administração Biden
<https://www.supremecourt.gov/opinions/21pdf/21a244_hgci.pdf> para impor
um mandato para vacinas ou testes em grandes empresas. No horizonte,
alimentadas pelas consequências económicas da pandemia, estão grandes
incumprimentos no pagamento de empréstimos e outra crise financeira.
Quanto pior as coisas ficam, mais desacreditado se torna o Partido
Democrata e seus valores democráticos “liberais” e mais prosperam os
fascistas cristãos à espreita nos bastidores.

Como a história provou repetidamente, os trabalhadores organizados,
aliados a um partido político dedicado aos seus interesses, são a melhor
ferramenta para se oporem aos ricos. Nick French, num artigo na
/Jacobin,/
<https://jacobinmag.com/2022/01/class-struggle-swedish-welfare-state-social-democracy> baseia-se no trabalho do sociólogo Walter Korpi, que examinou a ascensão do Estado de bem-estar sueco no seu livro ‘/The Democratic Class Struggle/ <https://www.bookdepository.com/Democratic-Class-Struggle-Walter-Korpi/9781138338487>. Korpi detalhou como os trabalhadores suecos "construíram um movimento sindical forte e bem organizado nas indústrias e unido numa federação sindical central, a /Landsorganisationen/ (LO), que trabalhou em estreita colaboração com o Partido Social-Democrata dos Trabalhadores da Suécia (SAP)”.

A batalha para construir o Estado de bem-estar exigia organização – 76%
dos trabalhadores eram sindicalizados – ondas de greves, atividade
sindicalista militante e pressão política do SAP. "Medida em termos do
número de dias de trabalho por trabalhador", escreve Korpi, "do
princípio do século até ao início da década de 1930, a Suécia teve o
mais alto nível de greves e bloqueios entre as nações ocidentais". De
1900 a 1913, como observa French, "houve 1 286 dias de paragem devido a
greves por mil trabalhadores na Suécia. De 1919-38, houve 1 448.” (Em
comparação, nos Estados Unidos no ano passado, de acordo com dados do
National Bureau of Economic Research, houve menos de 3,7 dias de greve
<https://data.bls.gov/timeseries/WSU001> por mil trabalhadores
<https://www.bls.gov/news.release/empsit.t01.htm>.

Há poucos terceiros partidos, incluindo o Partido Verde
<https://www.gp.org/>, a Alternativa Socialista
<https://www.socialistalternative.org/> e o Partido Popular
<https://peoplesparty.org/>, que oferecem esta oportunidade [3] <#nt>.
Mas os Democratas não vão nos salvar. Eles venderam-se à classe
multimilionária. Só nós nos salvaremos.

Os sindicatos rompem as divisões políticas, reunindo trabalhadores de
todas as convicções políticas para combater um inimigo oligárquico e
corporativo comum. Uma vez que os trabalhadores começam a exercer o
poder e a extrair reivindicações à classe dominante, a luta educa os
coletivos sobre as reais configurações de poder e mitiga os sentimentos
de impotência que levaram muitos aos braços dos neofascistas. Por isso,
capitular ao Partido Democrata, que traiu mulheres e homens
trabalhadores, é um erro terrível.

A pilhagem voraz das elites, muitas das quais financiam o Partido
Democrata, acelerou desde o colapso financeiro de 2008 e a pandemia. Os
bancos da Wall Street registaram lucros recorde em 2021. Como observou o
/Financial Times,/ lucraram com os empréstimos do FED e com fusões e
aquisições. Alavancados com cerca de 5 milhões de milhões de dólares
<https://news.yahoo.com/quantitative-tightening-federal-reserve-9-trillion-balance-sheet-113743366.html> de gastos do FED desde o início da pandemia, lavaram os seus lucros, como Matt Taibbi salienta, em enormes bónus salariais e recompras de ações.

"A maior parte dessa nova riqueza está sendo convertida em remunerações
para um punhado de executivos", escreve Taibbi. “As recompras de ações
também foram excessivas nas empresas de armamento
<https://www.forbes.com/sites/charlestiefer/2021/05/10/defense-department-payment-plan-enriching-contractors-who-are-upping-stock-buybacks/?sh=2b0fc12a57f9>, produtos farmacêuticos <https://prospect.org/power/pharma-companies-spend-billions-more-on-stock-buybacks-than-developing-drugs/>, petróleo e gás <https://fortune.com/2021/07/30/oil-company-profits-q2-2021/>, tendo tido todas também o seu segundo ano consecutivo recorde em lucros vertiginosos. Há agora cerca de 745 multimilionários nos EUA, que coletivamente viram seu património líquido crescer cerca de 2,1 milhões de milhões para 5 milhões de milhões desde março de 2020, com quase todo este aumento de riqueza vinculado ao balanço patrimonial do FED”.

A Kroger é típica. A corporação, que opera cerca de 2 800 lojas sob
diferentes nomes, incluindo Baker's, City Market, Dillons, Food 4 Less,
Foods Co., Fred Meyer, Fry's, Gerbes, Jay C Food Store, King Soopers,
Mariano's, Metro Market, Pay-Less Super Markets, Pick'n Save, QFC,
Ralphs, Ruler e Smith's Food and Drug, tiveram US$4,1 mil milhões
<https://ir.kroger.com/CorporateProfile/press-releases/press-release/2021/Kroger-Delivers-Strong-Fourth-Quarter-and-Fiscal-Year-2020-Results/default.aspx> de lucros em 2020. No final do terceiro trimestre de 2021, tinham US$2,28 mil milhões <https://ir.kroger.com/CorporateProfile/financial-performance/sec-filings/sec-filings-details/default.aspx?FilingId=15396152> em caixa, um aumento de US$399 milhões <https://www.marketwatch.com/investing/stock/kr/financials/balance-sheet> no primeiro trimestre de 2020. O CEO da Kroger, Rodney McMullen, ganhou mais de US$22 milhões <https://www.bloomberg.com/news/articles/2021-05-13/kroger-blasted-for-ending-hazard-pay-gave-its-ceo-22-million>, quase duplicando os US$12 milhões <https://www.bizjournals.com/cincinnati/news/2019/05/08/kroger-ceo-gets-a-big-pay-hike.html> que ganhou em 2018. Isso é mais de 900 vezes o salário do trabalhador médio da Kroger. A Kroger nos três primeiros trimestres de 2021 também gastou cerca de 1,3 mil milhões em recompras de ações.

"A Kroger é para 86% de seus trabalhadores a sua única fonte de
rendimento", revelou a Economic Roundtable numa sondagem
<https://economicrt.org/publication/hungry-at-the-table/> aos
trabalhadores da empresa. “Trabalhar a tempo integral para ganhar um
salário mínimo que compensasse as necessidades básicas, exigiria que a
Kroger pagasse 22 dólares por hora para um salário anual de 45 760
dólares. Os ganhos médios anuais dos trabalhadores da Kroger, no
entanto, equivalem a 29 655 dólares. Isto é 16 105 dólares abaixo do
necessário para pagar as necessidades básicas. Mais de dois terços dos
trabalhadores da Kroger lutam pela sobrevivência devido aos baixos
salários e horários de trabalho a tempo parcial. Nove em cada dez
trabalhadores da Kroger relatam que os seus salários não aumentaram
tanto quanto o aumento das despesas básicas, como alimentação e
habitação. Desde 1990, os salários dos atendedores mais experientes na
parte de alimentação da Kroger caíram 22% (ajustados pela inflação) nas
três regiões pesquisadas. Em todo o setor de supermercados, 29% da força
de trabalho está abaixo ou perto do limite federal de pobreza”.

Mais de um terço (36%) dos 10 000 funcionários das lojas da Kroger no
sul da Califórnia, Colorado e Washington disseram estar preocupados com
o despedimento. Mais de três quartos (78%) têm insegurança alimentar. Um
em cada sete trabalhadores da Kroger ficaram sem-abrigo no ano passado.
Quase 1 em cada 5 (18%) trabalhadores da Kroger disseram que não pagaram
a hipoteca do mês anterior a tempo.

Mais de 8 000 funcionários sindicalizados da King Soopers da Kroger
entraram em greve
<https://www.businessinsider.com/kroger-supermarket-workers-strike-denver-pay-benefits-safe-workplace-2022-1> em 12 de janeiro no Colorado, exigindo salários mais altos e melhores condições de trabalho da maior rede de supermercados e o quarto maior empregador privado do país. É aqui que se encontra uma das linhas de frente emergentes da luta de classes. É onde devemos investir nosso tempo e energia.

Nossa democracia capitalista foi desde o início manipulada contra nós. O
Colégio Eleitoral permite que candidatos presidenciais como George W.
Bush e Trump percam no voto popular, mas assumam o cargo. A atribuição
de dois senadores por Estado, independentemente da população do Estado,
significa que 62 senadores representam um quarto da população, enquanto
seis representam outro quarto. Os pais fundadores marginalizaram e
oprimiram mulheres, nativos americanos, afro-americanos e homens sem
propriedade. A maioria dos cidadãos foi intencionalmente excluída do
processo democrático pelos governantes aristocratas brancos do sexo
masculino, a maioria deles proprietários de escravos.

Todas as aberturas na nossa democracia foram o resultado de uma
prolongada luta popular. Centenas de trabalhadores foram assassinados,
milhares ficaram feridos, dezenas de milhares foram colocados na lista
negra nas nossas guerras trabalhistas, as mais sangrentas de qualquer
país industrializado. Abolicionistas, sufragistas, sindicalistas,
jornalistas militantes e os que nos movimentos contra a guerra e pelos
direitos civis abriram nosso espaço democrático. Esses movimentos
radicais foram reprimidos e impiedosamente desmantelados no início do
século XX em nome do anti-comunismo. Eles foram novamente alvo das
elites corporativas após o surgimento de novos movimentos de massa na
década de 1930.

Esses movimentos populares, que novamente ressurgiram nos anos 1960,
moveram-nos, passo a passo, sangrentos, em direção à igualdade e à
justiça social. A maioria dos ganhos obtidos na década de 1960 foi
revertida sob o ataque do neoliberalismo, desregulamentação e um sistema
corrupto de financiamento de campanhas legalizado por decisões judiciais
como a Citizens United, que permite aos ricos e grandes empresas
financiarem eleições para selecionar líderes políticos e impor a
legislação. A encarnação moderna dos barões ladrões do século XIX, como
Jeff Bezos e Elon Musk, cada um valendo cerca de 200 mil milhões de
dólares, convoca-nos às nossas raízes radicais.

A luta de classes define a maior parte da história humana. Marx acertou.
Não é uma história nova. Os ricos, ao longo da história, encontraram
maneiras de subjugar e tornar a subjugar as massas. E as massas, ao
longo da história, despertaram ciclicamente para se livrarem de suas
correntes.

NT
[1] Estes valores têm variado no tempo. Dados recentes apontam para
cerca de 16 a 17%.
[2] Trabalhadores industriais e de serviços que enfrentam uma variedade
de riscos de saúde nos seus locais de trabalho.
[3] V. também https://www.workers.org/ <https://www.workers.org/>


        18/Janeiro/2022


    [*] Jornalista vencedor do Prémio Pulitzer e apresentador do RT On
    Contact, uma série de entrevistas semanais sobre política externa
    dos EUA, realidades económicas e liberdades civis na sociedade
    americana. É autor de 14 livros
    <https://www.bookdepository.com/search?searchTerm=F.%20William%20Engdahl&search=Find+book>, incluindo vários best-sellers do /New York Times./

Em
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/eua/hedges_18jan22.html#asterisco
19/2/2022

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