quarta-feira, 25 de maio de 2022

Não há outra saída senão a guerra

 
 
 


    Chris Hedges

Jornalista vencedor do Pulitzer Prize (maior prêmio do jornalismo nos
EUA), foi correspondente estrangeiro do New York Times, trabalhou para o
The Dallas Morning News, The Christian Science Monitor e NPR.


   
A guerra permanente canibalizou os EUA. Ela criou um charco social,
político e econômico. Cada novo fiasco militar é mais um prego no caixão
da Pax Americana edit



*Por **Chris Hedges**, originalmente publicado no **The Chris Hedges
Report* <https://chrishedges.substack.com/p/no-way-out-but-war?s=r>

*Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o
Brasil 247*

Os Estados Unidos, assim como ilustra o próximo voto unânime no
Congresso dos EUA para prover US$ 40 bilhões em ajuda à Ucrânia, está
preso na espiral da morte do militarismo incontrolável. Não há trens de
alta velocidade. Não há serviços universais de saúde [pública]. Não há
um programa viável de assistência contra o Covid. Não há suspensão
temporária para a inflação de 8,3% ao ano. Não há programas de
infraestrutura para consertar as estradas e pontes em decadência – _que
requerem US$ 41,8 bilhões_
<https://artbabridgereport.org/reports/2021-ARTBA-Bridge-Report.pdf>
para arrumar as 43.586 pontes com _deficiências estruturais_
<https://www.bts.gov/content/condition-us-highway-bridges> que tem 68
anos de idade, em média. Não há perdão para os _US$ 1,7 trilhões em
dívidas estudantis_
<https://www.cnbc.com/2022/05/06/this-is-how-student-loan-debt-became-a-1point7-trillion-crisis.html>. Não se aborda a inequalidade de renda. Não há um programa para alimentar as _17 milhões de crianças_ <https://www.savethechildren.org/us/charity-stories/child-hunger-in-america> que vão para a cama com fome a cada noite. Não há um controle racional das armas, nem de inibir a epidemia de violência niilista e as matanças em massa. Não há ajuda para os 100.000 estadunidenses que _morrem a cada ano_ <https://www.cdc.gov/nchs/pressroom/nchs_press_releases/2021/20211117.htm> de overdoses de drogas. Não há um salário mínimo de US$ 15/hora como compensação para os 44 anos de _estagnação salarial_ <https://www.pewresearch.org/fact-tank/2018/08/07/for-most-us-workers-real-wages-have-barely-budged-for-decades/>. Não há uma trégua nos preços de combustíveis que estão projetados para chegar a US$ 6 por galão (equivalente a 3,78 litros).


A permanente economia de guerra implantada desde o fim da Segunda Guerra
Mundial destruiu a economia privada, levou a nação à falência e
desperdiço trilhões de dólares dos dinheiros dos contribuintes. A
monopolização do capital pelos militares elevou a _dívida pública
estadunidense a US$ trilhões_
<https://www.defense.gov/News/Releases/Release/Article/2980014/the-department-of-defense-releases-the-presidents-fiscal-year-2023-defense-budg/>, US$ 6 trilhões a mais do que o PIB dos EUA de US$ 24 trilhões. Pagar o serviço [juros] desta dívida custa US$ 300 bilhões por ano. Nós [os EUA] gastamos mais nas forças militares – _US$ 813 bilhões_ <https://www.defense.gov/News/Releases/Release/Article/2980014/the-department-of-defense-releases-the-presidents-fiscal-year-2023-defense-budg/> para o ano fiscal de 2023 – do que os nove países seguintes combinados, incluindo a China e a Rússia.


Estamos pagando um preço social, político e econômico pesado pelo nosso
[dos EUA] militarismo. Washington assiste passivamente enquanto os EUA
apodrece moralmente, politicamente, economicamente e fisicamente –
enquanto a China, a Rússia, a Arábia Saudita, a Índia e outros países
livram-se da tirania do dólar estadunidense a da SWIFT (International
Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication – Sociedade
Internacional para Trocas Bancárias Mundiais e Telecomunicação
Financeira), uma rede de mensagens que os bancos e outras instituições
financeiras usam para enviar e receber informações – como instruções de
transferências de dinheiro. Uma vez que o dólar dos EUA deixe de ser a
moeda mundial de reserva, uma vez que haja uma alternativa ao SWIFT,
isso precipitará um colapso econômico interno [nos EUA]. Isto forçará a
imediata contração do império estadunidense, fechando as suas quase 800
instalações militares no estrangeiro. Isto sinalizará o fim da Pax
Americana [sic].

Democrata ou Republicano. Não faz diferença. A guerra é a raison d'état
do estado. Gastos militares extravagantes são justificados em nome da
“segurança nacional”. Os quase US$ 40 bilhões alocados para a Ucrânia –
a maior parte disto indo para as mãos dos fabricantes de armamentos,
como a Raytheon Technologies, General Dynamics, Northrop Grumman, BAE
Systems, Lockheed Martin e Boeing – são só o começo. Os estrategistas
militares – os quais dizem que a guerra será longa e prolongada – estão
falando sobre infusões de US$ 4-5 bilhões por mês em ajuda militar para
a Ucrânia. Estamos enfrentando ameaças existenciais. Mas estas não
importam. _O orçamento proposto_
<https://www.cdc.gov/media/releases/2022/s0328-2023-budget.html> para os
Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC – Centers for
Disease Control and Prevention) é de US$ 10,675 bilhões. O _orçamento
proposto_ <https://www.epa.gov/planandbudget/cj> para a Agência de
Proteção Ambiental dos EUA (EPA – Environmental Protection Agency) é de
US$ 11,881 bilhões. Só a Ucrânia recebe mais do que o dobro daquele
valor. A pandemia e a emergência climática são reflexões secundárias.
Tudo que importa é a guerra. Esta é a receita para o suicídio coletivo.



Havia três limitações à avareza e a sede de sangue da economia de guerra
permanente – limitações que não existem mais. A primeira limitação era a
antiga ala liberal do Partido Democrata, liderada por políticos como o
Senador George McGovern, Senador Eugene McCarthy e o Senador J. William
Fulbright – que escreveu o livro '/The Pentagon Propaganda Machine/' (A
Máquina de Propaganda do Pentágono). Os auto-identificados
progressistas, uma minoria pífia no Congresso atual – desde Barbara Lee,
que foi o único voto na Câmara e no Senado dos EUA a opor-se a uma ampla
e autorização sem limite máximo que permitiu ao presidente fazer a
guerra no Afeganistão ou em qualquer outro lugar, até Ilhan Omar, que
agora está fielmente alinhada a financiar a próxima guerra por
procuração. A segunda limitação eram as mídias independentes e a
academia, incluindo jornalistas como I.F. Stone e Neil Sheehan, junto
com estudiosos como Seymour Melman – autor dos livros '/The Permanent
War Economy/' [A Economia da Guerra Permanente] e '/Pentagon Capitalism:
The Political Economy of War/' [O Capitalismo do Pentágono: A Economia
Política da Guerra]. A terceira e talvez a mais importante limitação era
um movimento organizado contra a guerra encabeçado por líderes
religiosos como Dorothy Day, Martin Luther King Jr. e Phil e Dan
Berrigan, bem como grupos como os Estudantes por uma Sociedade
Democrática (SDS – Students for a Democratic Society). Eles entenderam
que o militarismo irrestrito era uma doença fatal.

Nenhuma dessas forças de oposição – que não reverteram a economia de
guerra permanente, porém inibiu os seus excessos – existe agora. Os dois
partidos das classes dominantes foram comprados pelas corporações,
especialmente pelos empreiteiros militares. A imprensa é anêmica e
obsequiosa para com a indústria da guerra. Os propagandistas a favor da
guerra permanente – largamente oriundos dos 'think tanks' [centros de
estudos] que são prodigamente financiados pela indústria da guerra,
juntamente com ex-autoridades militares e dos serviços de inteligência –
são citados com exclusividade, ou são entrevistados como especialistas
militares. O programa _“Meet the Press”_
<https://www.youtube.com/watch?v=qYfvm-JLhPQ> da NBC levou ao ar um
segmento intitulado '13 de Maio', no qual autoridades do Centro por uma
Nova Segurança Americana [sic] (CNAS – Center for a New American
Society) simulou o quê pareceria uma guerra da China sobre Taiwan. A
cofundadora do CNAS, Michèle Flournoy, que apareceu no segmento sobre
jogos de guerra no programa “Meet the Press” e foi considerada por Biden
para chefiar o Pentágono, _escreveu em 2020_
<https://www.foreignaffairs.com/articles/united-states/2020-06-18/how-prevent-war-asia> na revista [conservadora] Foreign Affairs que os EUA precisam desenvolver “a capacidade de ameaçar com credibilidade afundar todos os navios militares, submarinos e navios de marinha mercante da China no Mar do Sul da China dentro de 72 hours.

”O punhado de antimilitaristas e críticos do império da esquerda, como
Noam Chomsky, e da direita, como Ron Paul, foram declarados como
personae non grata pelas mídias complacentes. A classe liberal recuou
para o ativismo de boutique onde as questões de classe, capitalismo e
militarismo são descartadas pela “cultura do cancelamento”, o
multiculturalismo e a política de identidades. Os liberais estão
liderando a torcida pela guerra na Ucrânia. Pelo menos no início da
guerra com o Iraque os viu [os liberais] juntarem-se a significativos
protestos de rua. A Ucrânia é acolhida como a mais nova cruzada por
liberdade e democracia contra o novo Hitler. Temo que haja pouca
esperança de reverter ou de conter os desastres que estão sendo
orquestrados a nível nacional e global. Os intervencionistas
neoconservadores e liberais _cantam em uníssono a favor da guerra_
<https://scheerpost.com/2022/04/11/hedges-the-pimps-of-war/>. Biden
nomeou três destes belicistas, cujas atitudes em relação à guerra
nuclear são terrivelmente cavalheiras, para comandar o Pentágono, o
Conselho de Segurança Nacional e o Departamento de Estado [dos EUA].


Já que tudo que fazemos é a guerra, todas as soluções propostas são
militares. Este aventurismo militar acelera o declínio, como a derrota
no Vietname e o _desperdício de US$ 8 trilhões_
<https://www.brown.edu/news/2021-09-01/costsofwar>, como ilustram as
guerras fúteis no Oriente Médio. Acredita-se que a guerra e as sanções
aleijarão a Rússia – rica em gás e recursos naturais. A guerra, ou a
ameaça de guerra, conterão a crescente influência econômica e militar da
China.

Estas são fantasias dementes e perigosas, perpetradas por uma classe
dominante que se separou da realidade. Não mais capazes de salvar a sua
própria sociedade e economia, eles buscam destruir as sociedades e
economias dos seus competidores – especialmente a Rússia e a China. Uma
vez que os militaristas aleijem a Rússia, segundo o plano, eles
focalizarão na agressão militar à região do Indo-Pacífico, dominando
aquilo que Hillary Clinton, como secretária de estado dos EUA,
_referindo-se ao Pacífico_
<https://www.nytimes.com/2016/10/17/us/politics/hillary-clinton-was-open-to-covert-action-abroad-hacked-transcript-shows.html>, chamou de “o Mar Americano” [sic].

Não se pode falar sobre a guerra sem falar sobre os mercados. Os EUA –
cuja taxa de crescimento _caiu abaixo dos 2%_
<https://www.cnbc.com/2022/04/28/us-q1-gdp-growth.html>, enquanto a taxa
de _crescimento da China é de 8,1%_
<https://www.reuters.com/markets/asia/chinas-q4-2021-gdp-grow-faster-than-expected-2022-01-17/> - apelaram para a agressão militar a fim de reforçar a sua flácida economia. Se os EUA conseguirem cortar os fornecimentos de gás russo para a Europa, isso forçará os europeus a comprarem gás dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, as _empresas estadunidenses_ <http://www.jiesworld.com/international_corporations_in_china.htm> ficarão felizes de substituir o Partido Comunista Chinês – mesmo que tenham que fazê-lo através da ameaça de guerra – a abrir um acesso irrestrito aos mercados chineses. Se a guerra for aberta com a China, isso devastaria as economias chinesas, estadunidense e globais, destruindo o livre comércio entre os países, como na Primeira Guerra Mundial. Mas isto não significa que o mesmo não ocorra. Washington está tentando desesperadamente construir alianças militares e econômicas para repelir a ascensão da China, cuja economia, espera-se, ultrapasse a dos EUA, segundo o Centro de Pesquisas sobre Economia e Negócios do Reino Unido [CEBR – Centre for Economics and Business Research] _até 2028_ <https://www.bworldonline.com/world/2020/12/26/336049/china-to-leapfrog-us-as-worlds-biggest-economy-by-2028-think-tank/>. A Casa Branca disse que a atual visita de Biden à Ásia trata de mandar uma _“mensagem poderosa”_ <https://www.whitehouse.gov/briefing-room/press-briefings/2022/05/18/press-briefing-by-press-secretary-karine-jean-pierre-and-national-security-advisor-jake-sullivan-may-18-2022/> a Beijing e outros sobre o que o mundo parecerá se as democracias “juntem-se para dar forma às regras do caminho”. O governo Biden convidou a Coreia do Sul e o Japão a participarem na cúpula da OTAN em Madrid.


Porém, cada vez um menor número de nações – mesmo entre os aliados
europeus – estão dispostos a serem dominados pelos EUA. O verniz de
democracia de Washington e o suposto respeito aos direitos humanos e às
liberdades civis estão manchados de tal maneira que são irrecuperáveis.
O seu [dos EUA] declínio, com a China fabricando 70% a mais de
manufaturados do que os EUA, é irreversível. A guerra é uma desesperada
oração à Ave Maria, empregada por impérios moribundos ao longo da
história, com catastróficas consequências. “Foi a ascensão de Atenas e o
medo que essa instalou em Esparta que tornou inevitável a guerra”,
Thucydides assinalou no seu livro '/A História da Guerra do Peloponeso/'
('History of the Peloponnesian War').

Um componente-chave para a sustentação do estado permanente de guerra
foi a criação de uma Força Inteira de Voluntários [nos EUA]. Sem
conscritos, a carga de lutar guerras recai sobre os pobres, a classe
trabalhadora e as famílias dos militares. Esta Força Totalmente
Voluntária permite que os filhos da classe média – que lideraram o
movimento contra a guerra no Vietname – evitem o serviço militar
[obrigatório]. Ela protege as forças militares contra revoltas internas,
realizadas pelas tropas durante a Guerra do Vietname, as quais
comprometeram a coesão das forças armadas.

Ao limitar o conjunto das forças disponíveis, a Força Totalmente
Voluntária torna impossíveis as ambições globais dos militaristas.
Desesperados para manter ou aumentar os níveis de tropas no Iraque e no
Afeganistão, os militares instituíram a política de impedir a perda [de
combatentes] que estendeu arbitrariamente os contratos de engajamento
ativo [nas forças militares dos EUA]. O termo de gíria usado para isto
foi o '/backdoor draft/' (conscrição pela porta dos fundos). O esforço
para reforçar o número de soldados ao engajar também empreiteiros
militares privados, teve um efeito negligenciável. O aumento do número
de soldados não teria vencido as guerras no Iraque e no Afeganistão, mas
a diminuta porcentagem daqueles que estavam dispostos a servir nas
forças militares (_apenas 7% da população dos EUA são veteranos de
guerra_
<https://www.pewresearch.org/fact-tank/2021/04/05/the-changing-face-of-americas-veteran-population/>) é um calcanhar de Aquiles não reconhecido para os militaristas.

“Como consequência disso, o problema de se ter guerras de mais e
soldados de menos merece um sério escrutínio”, escreve o hisotirador e
Coronel aposentado do Exército [dos EUA] _Andrew Bacevich_
<https://chrishedges.substack.com/p/the-chris-hedges-report-podcast-with-0d2?s=w#details> no seu livro '/After the Apocalypse: America's Role in a World Transformed/' ('Após o Apocalipse: o Papel dos EUA num Mundo Transformado'). “As expectativas de que a tecnologia preenchesse a lacuna provê uma desculpa para se evitar de fazer as perguntas mais fundamentais: Será que os Estados Unidos possuem os meios militares para obrigar os adversários a endorsarem a sua alegação de serem a nação indispensável da história? E se a resposta for não – como as guerras pós-9/11 [os ataques às torres gêmeas em New York em 11 de setembro de 2001] e no Afeganistão e no Iraque sugerem, não faria sentido que Washington moderasse as suas ambições de acordo com isso?”

Como assinala Bacevich, a questão é um “anátema”. Os estrategistas
militares trabalham a partir da suposição que as futuras guerras não se
parecerão em nada com as guerras passadas. Eles investem em teorias
imaginárias de futuras guerras que ignoram as lições do passado,
assegurando assim [a ocorrência de] mais fiascos.

A classe política é tão autoiludida quanto os generais. Ela se recusa a
aceitar a emergência de um mundo multipolar e o palpável declínio do
poder estadunidense. Eles falam a desatualizada linguagem do
excepcionalismo e o triunfalismo dos EUA, acreditando que estes têm o
direito de impor a sua vontade como líder do “mundo livre”. No seu
memorando de Guia do Planejamento de Defesa de 1992 (_Defense Planning
Guidance memorandum_
<https://militarist-monitor.org/profile/1992_draft_defense_planning_guidance/> –, o subsecretário de Defesa [dos EUA] Paul Wolfowitz argumentava que os EUA devem assegurar-se que nenhuma superpotência rival surja de novo. Os EUA devem projetar a sua força militar para dominar perpetuamente um mundo unipolar. Em 19 de fevereiro de 1998, no show televisivo “Toda Show” da NBC, a Secretária de Estado Madeleine Albright deu a versão democrata da sua doutrina de unipolaridade. “Caso nós [os EUA] tivermos que usar a força, é porque nós somos estadunidenses; nós somos a nação indispensável”, _disse ela_ <https://1997-2001.state.gov/statements/1998/980219a.html>. “Nós nos erguemos altaneiros e enxergamos o futuro mais longe do que outros países.”

Esta visão demente de uma supremacia global e sem rivais dos EUA – sem
falar da [nossa, dos EUA] bondade e virtude sem rivais – cega os
Republicanos e Democratas do 'establishment'. Os ataques militares que
eles usaram eventualmente para afirmar a doutrina da unipolaridade,
especialmente no Oriente Médio, espalhou rapidamente o terror jihadista
e prolongou o estado de guerra. Nenhum deles viu isto chegando até que
os jatos sequestrados bateram nas torres gêmeas do World Trade Center
[em New York]. O fato que eles se agarram a esta alucinação absurda é o
triunfo da esperança sobre a experiência.

Há uma profunda repugnância dentre o público [dos EUA] por estes
arquitetos elitistas da Ivy League [as antigas universidades elitistas
do nordeste dos EUA] do imperialismo estadunidense. O imperialismo foi
tolerado quando era capaz de projetar poder no estrangeiro e produzir
crescentes níveis de vida domesticamente. Ele foi tolerado quando se
continha a fazer intervenções secretas em países como o Irã, a Guatemala
e a Indonésia. Ele saiu fora dos trilhos no Vietname. As derrotas
militares que se seguiram acompanharam um gradual declínio nos padrões
do nível de vida, na estagnação dos salários, na infraestrutura que se
desmoronava e, ao final, numa série de políticas econômicas e acordos
comerciais, orquestrados pela mesma classe dominante, que
desindustrializou e empobreceu o país.

Os oligarcas do 'establishment', agora unidos no Partido Democrático,
desconfiam de Donald Trump. Ele comete a heresia de questionar a
santidade do império estadunidense. Trump ridicularizou a invasão do
Iraque como “Um grande e gordo erro”. Ele prometeu “nos manter fora da
guerra infindável”. Trump foi repetidamente questionado sobre a sua
relação com Vladimir Putin. Um entrevistador disse a Trump que Putin era
“um assassino”. “Há muitos assassinos”, _retorquiu Trump_
<https://www.cnn.com/2017/02/04/politics/donald-trump-vladimir-putin/index.html>. “Você pensa que o nosso país é tão inocente?” Trump ousou falar uma verdade que deveria se manter indizível para sempre, como os militaristas venderam ao povo estadunidense.

Noam Chomsky _foi atacado por assinalar, corretamente_
<https://www.youtube.com/watch?v=NkSvwAxHvhc>, que Trump é o “único
estadista” que apresentou uma proposta “que faz sentido” para resolver a
crise da Rússia-Ucrânia. A solução por ele proposta incluía “facilitar
as negociações, ao invés de miná-las e indo adiante na direção de
estabelecer algum tipo de acomodação na Europa... na qual não existem
alianças militares, mas só uma acomodação mútua”.

Trump é desfocalizado e imprevisível demais para oferecer soluções
políticas sérias. Efetivamente, ele estabeleceu um calendário para a
retirada do Afeganistão, mas ele também aumentou a guerra econômica
contra a Venezuela e reinstituiu as esmagadoras sanções contra Cuba e o
Irã que haviam sido terminadas pelo governo Obama. Ele aumentou o
orçamento militar. Aparentemente, _ele flertou_
<https://www.nytimes.com/2022/05/05/us/politics/mark-esper-book-trump.html> sobre executar um ataque de mísseis contra o México para “destruir os laboratórios de drogas”. Mas ele reconheceu um desgosto pela má gestão imperial que ressoa com o público – o qual tem todo o direito de detestar os presunçosos mandarins que nos afundam em uma guerra após a outra. Trump mente como ele respira. E assim o fazem eles.

Os 57 senadores republicanos que se recusaram a apoiar o pacote de US$
40 bilhões de ajuda para a Ucrânia, juntamente com muitos dos 19
projetos de lei que incluíam anteriores US$ 13,6 bilhões de ajuda para a
Ucrânia, são oriundos do excêntrico mundo conspirativo de Trump. Assim
como Trump, eles repetem a heresia dele. Também eles são atacados e
censurados. Mas quanto mais Biden e a classe dominante continuarem a
despejar recursos na guerra às nossas custas, mais estes protofascistas
– que já estão preparados para varrer os ganhos dos democratas na Câmara
e no Senado [federais dos EUA] neste outono – estarão em ascensão.
Durante o debate sobre o pacote de ajuda à Ucrânia que não foi dado
tempo à maioria dos membros para examinar com cuidado, [a senadora
republicana] _Marjorie Taylor Greene disse_
<https://ms-my.facebook.com/PatriotOneNews/videos/marjorie-taylor-greene-blasts-america-last-ukraine-spending-billstop-funding-reg/995364457756989/>: “[Há] US$ 40 bilhões [para a Ucrânia], porém não há fórmula para bebês para as mães e bebês estadunidenses”.

Uma quantia desconhecida de dinheiro para a CIA e para a Ucrânia [foi
incluída] no projeto de lei suplementar, porém não há fórmula [alimentos
industrializados] para os bebês estadunidenses”, ela acrescentou. “Parem
de financiar mudanças de regimes e golpes de lavagem de dinheiro. Um
político dos EUA acoberta os seus crimes em países como a Ucrânia.”

O [senador] democrata Jamie Raskin imediatamente atacou Greene por
papagaiar a propaganda do presidente russo Vladimir Putin.

Greene, assim como Trump, disse uma verdade que ressoa com um público
sitiado. A oposição à guerra permanente deveria ter vindo da diminuta
ala progressista do Partido Democrata – a qual infelizmente se vendeu à
covarde liderança do Partido Democrata, para salvar as suas carreiras
políticas. Greene é demente, porém Raskin e os democratas vendem a sua
própria marca de demência. Nós pagaremos um preço muito alto por esta farsa.

Em
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/blog/nao-ha-outra-saida-senao-a-guerra
25/5/2022

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