quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Candido Vieitez

Metamorfoses do controle operário: a luta histórica dos produtores pela reapropriação do trabalho

Marília/SP: Lutas anticapital, 2023

  A empresa capitalista surgiu no
século XVI. O capital desenvolveu-se

lentamente durante quatro séculos. E

quatro séculos foi o tempo que os pa
-
trões precisaram para conseguir obter

um controle pleno da força de trabalho

na empresa. Nesse meio tempo esse

controle não pôde realizar-se porque

os patrões não podiam prescindir da

expertise
de uma importante fração dos
trabalhadores, ou seja, o controle dos

processos de produção pelos operários

artífices.

Esse CO (controle operário) tra
-
dicional, foi um acontecimento imanen
-
te às condições de trabalho. Porém, a

contar de meados do século XIX, o fe
-
nômeno deixou de ser simplesmente

imanente, e os trabalhadores passaram

a lutar por ele conscientemente através

de seus sindicatos. Porém, os artífices e

o CO não se mantiveram circunscritos

à esfera econômica. Eles foram atraídos

pelas primeiras formulações socialistas.

Numa dessas encruzilhadas da história,

esse elo não tão visível, manifestou-se

de modo espetacular e dramático em

1871, com a eclosão da
Comuna de Pa-
ris
. A Comuna, composta principalmen-
te por artífices de vários tipos, exibiu

o potencial expansivo do CO, uma vez

que este irrompeu na esfera político
-
-territorial, para em seguida erigir-se

em poder estatal.

O CO, como controle do pro
-
cesso de trabalho, caiu com a segunda

revolução industrial, a escola capitalista

em ascensão e, por fim, a teoria da ge
-
rência científica.
Foi a partir da taylori-
zação da indústria, que a atividade de
-
miúrgica dos trabalhadores no processo

de trabalho foi erradicada, ao mesmo

tempo em que a organização da produ
-
ção foi posta em mãos de uma estrita

casta de profissionais escolhida a dedo

pelos patrões.

Os patrões esperavam liquidar

o controle operário, mas isso não saiu

como imaginaram. Em 1917, no processo

da Revolução Russa, emergiu um novo

tipo de CO. Este, encampado agora por

toda a classe proletária, pleiteou não o

controle do processo de produção, se
-
não que o controle de toda a vida fabril,

o que envolveu numa primeira formula
-
ção, a supervisão e regulação das ativi
-
dades das empresas. O CO teve impor
-
tante papel na eclosão da Revolução. E

tal qual tinha ocorrida com a
Comuna,
durante seu transcurso, foi além do

controle econômico erigindo-se tam
-
bém em controle político-territorial com

os
soviets, os quais subsequentemente
se tornaram os organismos de governo

do Estado operário-camponês.

A ideia de CO como forma de

luta integrou a pauta da III Internacio
-
nal. E o mesmo esteve presente em

muitos episódios candentes na Europa

e mesmo em outras partes do mun
-
do. Depois da Segunda Guerra, sofreu

uma espécie de eclipse. Ainda assim

a consigna não desapareceu. Esteve

presente na Revolução dos Cravos, em

Portugal, na
revolução bolivariana na
Venezuela, atesta sua presença no mo
-
vimento operário na Argentina, e ainda

que com parcimônia, também da fé de

sua presença no movimento operário e

popular brasileiro.

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