Eric Hobsbawm sobre Gaza (2009)   
Este depoimento do grande pensador de origem judaica Eric Hobsbawm foi publicado 
na altura da ofensiva sionista de 2009. Continuaria válido face à ofensiva de 
2012. Permanece válido em 2014, perante a actual acção genocida desencadeada por 
Israel. É importante recordá-lo, além do mais para desmontar a histérica 
argumentação que pretende fazer crer que a condenação dos crimes de Israel 
significa anti-semitismo. Muitos judeus são também vítimas do sionismo.
 
Há já três semanas que a barbárie está exposta aos olhos da opinião pública 
universal, que está vendo, julgando e, com poucas excepções, rejeitando o 
terrorismo armado que Israel emprega contra meio milhão de palestinos cercados, 
desde 2006, na Faixa de Gaza.Nunca antes qualquer explicação oficial para a 
invasão fora tão flagrantemente refutada por uma combinação de imagens de 
televisão e aritmética; ou o papaguear dos jornais sobre “alvos militares”, 
pelas imagens de crianças ensanguentadas e escolas incendiadas. 13 mortos de um 
lado, 1.360 do outro: não é difícil concluir quem são as vítimas. Nem é preciso 
dizer muito mais sobre a horrenda operação militar de Israel contra Gaza.Mas 
para nós, judeus, é efectivamente preciso dizer mais.Numa história longa e sem 
segurança, de povo em diáspora, a nossa reacção natural a quase todos os 
acontecimentos públicos inclui inevitavelmente a pergunta “Isso é bom ou é mau 
para os judeus?” E, no caso da violência de Israel contra Gaza, a resposta só 
pode ser uma: “é mau para os judeus”.É muito evidentemente mau para os 5,5 
milhões de judeus que vivem em Israel e nos territórios ocupados de 1967, cuja 
segurança é gravemente ameaçada pelas acções militares que o governo de Israel 
empreende em Gaza e no Líbano; acções que demonstram a incapacidade dos 
militares israelitas para trabalhar a favor dos objectivos que eles mesmos 
declaram, e actos que só servem para perpetuar e intensificar o isolamento de 
Israel num Médio Oriente hostil.O genocídio ou a expulsão em massa de palestinos 
do que resta do seu território nativo original é nada mais nada menos do que 
adoptar uma agenda prática que só pode levar à destruição do Estado de Israel. 
Só a convivência negociada em termos igualitários e justos entre os dois grupos 
é garantia de futuro estável.A cada nova aventura militar de Israel, como a que 
se viu no Líbano e se vê agora [2009] em Gaza, a solução torna-se mais difícil; 
e mais se fortalece, em Israel, o jugo da direita; e, na Cisjordânia, o mando 
dos colonos que, em primeiro lugar, nunca quiseram qualquer solução 
negociada.Tal como aconteceu na guerra do Líbano em 2006, Gaza, agora, torna 
ainda mais obscuro o futuro de Israel. E o futuro torna-se mais negro, também, 
para os nove milhões de judeus que vivem na diáspora.Sejamos bem claros: 
criticar Israel não implica qualquer anti-semitismo, mas as acções do governo de 
Israel cobrem de vergonha os judeus e, mais do que tudo, fazem renascer o 
anti-semitismo, em pleno século 21.Desde 1945 os judeus, dentro e fora de 
Israel, beneficiaram enormemente da má consciência de um mundo ocidental que se 
recusou a receber imigrados judeus nos anos 1930, antes de ou cometer genocídio 
ou de não se opor a ele. Quanta dessa má consciência, que virtualmente derrotou 
por 60 anos o anti-semitismo no Ocidente e produziu uma era de ouro para a 
diáspora, sobrevive hoje?Israel em acção em Gaza não é o povo vítima da 
história. Não é sequer a “valente pequena Israel” da mitologia de 1948-67, um 
David derrotando vários Golias que o cercavam.Israel está a perder a 
solidariedade do mundo, tão rapidamente quanto os EUA perderam a solidariedade 
do mundo no governo de George W. Bush, e por razões semelhantes: cegueira 
nacionalista e a megalomania do poderio bélico.O que é bom para Israel e o que é 
bom para os judeus como povo são coisas evidentemente associadas, mas até que 
seja encontrada uma solução justa para a questão palestina essas duas coisas não 
são nem podem ser idênticas. E é essencialmente importante que os judeus o 
declarem, bem claramente.Original publicado em London Review of Books, vol. 31, 
n. 2, 29 January 2009, pages 5-6 “Responses to the War in Gaza” Fonte: 
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/11/eric-hobsbawm-sobre-gaza-2009_18.html 
In
O Diário.Info
http://www.odiario.info/?p=3355
31/7/2014
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