quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Liberdade, onde estás? Não na América ou na Europa

Liberdade, onde estás? Não na América ou na Europa
por Paul Craig Roberts

Quando o antigo executivo da Goldman Sachs que dirige o Banco Central
Europeu (BCE) anunciou que ia imprimir 720 mil milhões de euros por ano e
com eles comprar dívidas não pagas (bad debts) de grandes bancos
politicamente conectados, o Euro afundou e tanto o mercado de acções como
o Franco suíço subiram. Tal como nos EUA, a facilidade quantitativa
(quantitative easing, QE) serve para enriquecer o que já são ricos. Ela
não tem outro objectivo.

As bem endinheiradas instituições financeiras que compraram as perturbadas
dívidas soberanas da Grécia, Itália, Portugal e Espanha a baixos preços
agora venderão os títulos ao BCE a altos preços. E apesar do desemprego a
nível de depressão na maior parte da Europa e da austeridade imposta sobre
os cidadãos, o mercado de acções ascende na antecipação de que grande
parte dos 60 mil milhões de novos Euros que serão criados a cada mês
encontrará o seu caminho para os preços das acções. A liquidez alimenta o
mercado de acções.

Para onde mais o dinheiro pode ir? Algum irá para Francos suíços e algum
para o ouro enquanto ele ainda está disponível, mas para a maior parte o
BCE está a activar as impressoras a fim de promover a riqueza dos Um
Porcento que possui acções. O Federal Reserve e o BCE levaram o Ocidente
outra vez aos dias em que um punhado de aristocratas possuía tudo.

Os mercados de acções são bolhas enchidas pela criação de dinheiro do
banco central. Na base do raciocínio tradicional não há razões saudáveis
para estar nas acções e investidores lúcidos tem-nas evitado.

Mas já não há ponto de retorno em parte alguma e os bancos centrais são
dirigidos pelos ricos para os ricos, o raciocínio lúcido demonstrou ser um
erro durante os últimos seis anos. Isto mostra que durante um período
indeterminável a corrupção pode prevalecer sobre os princípios
fundamentais.

Como demonstrei, conclusivamente, no meu livro, The Failure of Laissez
Faire Capitalism, primeiro a Goldman Sachs enganou prestamistas ao
emprestar em excesso ao governo grego. A seguir antigos executivos da
Goldman Sachs assumiram o comando dos assuntos financeiros da Grécia e
impuseram austeridade sobre a população a fim de evitar perdas aos
prestamistas estrangeiros.

Isto estabeleceu um novo princípio na Europa, o mesmo que o FMI tem
aplicado implacavelmente a devedores latino-americanos e do Terceiro
Mundo. O princípio é que quando prestamistas estrangeiros cometem erros e
emprestam excessivamente a governos estrangeiros, carregando-os com
dívida, os erros dos banqueiros são rectificados roubando as populações
pobres. Pensões, serviços sociais e emprego público são cortados, recursos
valiosos são vendidos em liquidação a estrangeiros por centavos e o
governo é forçados a apoiar a política externa dos EUA. As "Confissões de
um pistoleiro económico" ("Confessions of an Economic Hit Man") [NR] , de
John Perkins descrevem o processo perfeitamente. Se não leu o livro de
Perkins, não faz ideia de quão corrupto e vicioso são os Estados Unidos.
Na verdade, Perkins mostra que os empréstimos excessivos são intencionais,
a fim de preparar o país para o saqueio.

Foi isto o que o Goldman Sachs fez à Grécia, intencionalmente ou não.

Levou muito tempo para os gregos perceberem isso. Aparentemente, 36,5 por
cento da população foi despertada pelo aumento da pobreza, do desemprego e
das taxas de suicídios. Esse número, pouco mais de um terço do eleitorado,
foi suficiente para colocar o Syriza no poder nas eleições que acabam de
terminar, expulsando o corrupto partido da Nova Democracia que
sistematicamente entregou o povo grego aos bancos estrangeiros. No
entanto, 27,7 por cento dos gregos, se a contagem for correcta, votou pelo
partido que sacrificou o povo grego aos banksters. Mesmo na Grécia, um
país habituado a manifestações populares nas ruas, uma percentagem
significativa da população está com os cérebros suficientemente lavado
para votar contra os seus próprios interesses.

Pode o Syriza fazer alguma coisa? Isto está para ser vista, mas
provavelmente não. Se este partido político tivesse recebido 55% ou 65% ou
75% dos voto, sim. Mas a votação máxima de 36,5% não mostra um país
unificado consciente dos seus apuros e do seu saqueio nas mãos dos
banksters ricos. A votação mostra que uma percentagem significativa da
população grega apoia o saqueio estrangeiro da Grécia.

Além disso, o Syriza enfrenta os vilões: os bancos alemães e holandeses
que possuem empréstimos da Grécia e os governos que apoiam os bancos, a
União Europeia que está a utilizar a crise da dívida soberana para
destruir a soberania dos países individuais que compreendem da União
Europeia, Washington que apoia o poder soberano da UE sobre os países
individuais pois é mais fácil controlar um governo do que um par de dúzias
deles.

Os prostitutos (presstitutes) media financeiros do Ocidente já advertem o
Syriza para não por em perigo sua condição de membros da divisa comum
desviando-se do modelo de austeridade imposto de fora sobre os cidadãos
gregos, com a cumplicidade da Nova Democracia.

Aparentemente, há uma falta de meios formais de saída da UE e do Euro, mas
mesmo assim a Grécia pode ser ameaçada de expulsão. A Grécia deveria
saudar calorosamente a expulsão.

Sair da UE e do Euro é a melhor coisa que pode acontecer à Grécia. Um país
sem a sua própria divisa não é um país soberano. É um estado vassalo de
uma outra potência. Um país sem a sua própria divisa não pode financiar as
suas próprias necessidades. Embora o Reino Unidos seja membro da UE, o RU
mantém a sua própria divisa e não está sujeito ao controle do BCE. Um país
sem a sua própria moeda é impotente. É uma não-entidade.

Se os EUA não tivessem o seu próprio dólar, o EUA não teriam qualquer
importância na cena mundial.

A UE e o Euro foram fraude e trapaça. Países perderam sua soberania. Chega
de "autogestão", "liberdade", "democracia" ocidentais, tudo slogans sem
conteúdo. Em todo Ocidente não há nada excepto o saqueio do povo pelos Um
Por Cento que controlam os governos.

Na América, o saqueio não repousa no endividamento, porque o US dólar é a
divisa de reserva e os EUA podem imprimir todo o dinheiro que necessitarem
a fim de pagar suas contas e resgatar sua dívida. Na América o saqueio do
trabalho tem sido através da deslocalização de empregos (jobs offshoring).


As corporações americanas descobriram, e se não o fizessem eram informadas
pela Wall Street que deviam ir para o exterior ou serem tomadas, que
podiam aumentar os lucros deslocalizando suas operações manufactureiras no
estrangeiro. O custo do trabalho mais baixo resultava em lucros mais
altos, partilha de preços mais altos, enormes bónus para as administrações
com base no "desempenho" e ganhos de capital para os accionistas. A
deslocalização aumentou grandemente a desigualdade de rendimento e riqueza
nos EUA. O capital teve êxito no saqueio do trabalho.

Os bem pagos trabalhadores manufactureiros que foram deslocados, se foram
capazes de encontrar empregos substitutivos, trabalhavam em tempo parcial
em emprego de salário mínimo na Walmart e no Home Depot.

Economistas, se é que merecem tal designação, tais como Michael Porter e
Matthew Slaughter, prometeram aos americanos que a ficcional "Nova
Economia" produziria melhor, com pagamentos mais altos e empregos mais
limpos para os americanos do que os empregos de "unhas sujas" e que foi
afortunado nossas corporações estarem a deslocalizar-se.

Anos depois, como provei conclusivamente, não há sinal destes empregos da
"Nova Economia". O que temos ao invés é um agudo declínio na taxa de
participação da força de trabalho pois os desempregados não podem
encontrar empregos. Os empregos substitutivos para os empregos da
manufactura são principalmente nos serviços domésticos em tempo parcial.

As pessoas têm de ter dois ou três destes empregos para conseguirem
sustentar-se.

Agora que este facto, outrora controversa acredite-se ou não, provou-se
completamente verdadeiro, os mesmos porta-vozes comprados e pagos para
roubar o trabalho e destruir os sindicatos clamam, sem uma réstia de
evidência, que os empregos deslocalizados estão a voltar para casa.

Segundo estes propagandistas, temos agora o que é chamado "re-escoramento"
("reshoring").

Um propagandista do "re-escoramento" afirma que o crescimento do mesmo ao
longo dos últimos quatro anos é de 1.775 por cento, um aumento de 18
vezes. www.manufacturingnews.com/... Não há sinal de quaisquer destes
alegados empregos "re-escorados" nas estatísticas de empregos com base em
folhas de pagamento do Bureau of Labor Statistics (BLS).

Este re-escoramento é nada mais que propaganda para neutralizar a tardia
percepção de que os acordos de "livre comércio" e a deslocalização de
empregos não foram benéficos para a economia americana ou para a sua força
de trabalho, mas foram benéficos só para os super-ricos.

Tal como povos através da história, o povo americano está a ser
transformado em servos e escravos porque os loucos acreditam nas mentiras
com que os alimentam. Eles sentam em frente à Fox News, CNN e tudo o mais.
Eles lêem o New York Times. Se quiser saber quão mal os americanos têm
sido serviço pelos assim chamados media, leia "Uma história do povo dos
Estados Unidos" (A People's History of the United States) de Howard Zinn e
"A história não contada dos Estados Unidos" (The Untold History of the
United States), de Oliver Stone e Peter Kuznick.

Os media ajudam o governo e os interesses privados que lucram com o seu
controle do governo, com controle da lavagem cerebral do público. Temos de
invadir o Afeganistão porque uma facção ali a combater pelo controle
político do país está a proteger Osama bin Laden, a quem os EUA acusam sem
qualquer prova de embaraçar os poderosos EUA com o ataque de 11/Set. Temos
de invadir o Iraque porque Saddam certamente tem "armas de destruição em
massa" apesar dos relatórios em contrário dos inspectores de armas. Temos
de derrubar Kadafi por causa de uma lista de mentiras que era melhor
esquecer. Temos de derrubar Assad porque ele utilizou armas químicas muito
embora toda a evidência seja em contrário. A Rússia é responsável por
problemas na Ucrânia, não porque os EUA derrubaram o governo democrático
eleito mas porque a Rússia aceitou uma votação de 97,6% dos habitantes da
Crimeia para se reunirem à Rússia, à qual aquela província tem pertencido
desde há centenas de anos antes de um líder ucraniano soviético, Krushev,
ter fincado a Crimeia na Ucrânia, naquele tempo parte da União Soviética
juntamente com a Rússia.

Guerra, guerra, guerra, é tudo o que Washington quer. Ela enriquece o
complexo militar e de segurança, o maior componente do PNB dos EUA e o
maior contribuidor, juntamente com a Wall Street e o lobby de Israel, para
campanhas políticas estado-unidenses.

Toda e qualquer pessoa ou organização que apresente a verdade ao invés das
mentiras é demonizada. Na semana passada o novo chefe do US Broadcasting
Board of Governors, Andrew Lack, listou o serviço russo de Internet e TV
Russia Today como o equivalente dos grupos terroristas Boko Haram e Estado
Islâmico. Esta acusação absurda é um prelúdio para encerrar a RT nos EUA,
tal como os fantoches de Washington no governo britânico encerraram a
Press TV do Irão.

Por outras palavras, aos anglo-americanos não são permitidas quaisquer
notícias diferentes daquelas que lhes são servidas pelos "seus" governos.

Este é o estado da "liberdade" no Ocidente de hoje.
[NR] O livro de John Perkins pode ser descarregado em
resistir.info/livros/

O original encontra-se em
http://www.paulcraigroberts.org/2015/01/25/freedom-america-europe-pcr/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
http://www.resistir.info/crise/roberts_26jan15.html
28/Jan/15

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