A comunidade deve se manifestar!
ADUNESP Associação dos Docentes 
da Unesp - Seção Sindical 
do Andes-SN
SINTUNESP Sindicato dos 
Trabalhadores 
da Unesp
Preocupados com a gravidade da decisão do 
Conselho Universitário da Unesp de negar provimento 
ao recurso interposto pelos advogados de defesa dos 
estudantes sindicados no Processo de Sindicância nº 
1.709/2013, instaurado para “apurar responsabilidades 
de integrantes do corpo discente pela prática das infrações 
disciplinares de que trata o art. 161, incisos II, IV, 
VII, VIII, IX, X e XI, do Regimento Geral da Universidade 
(Fl. 143).”, convidamos toda a comunidade acadêmica 
da Universidade e todos aqueles que prezam 
os valores democráticos a refletirem e manifestarem-se 
quanto a algumas questões de maior importância, expostas 
a seguir. 
Não foi deferida a produção de prova testemunhal 
pela defesa, ou seja, não foi aceita uma única 
testemunha de defesa no Processo de Sindicância, 
o que configura um cerceamento explícito do direito 
dos sindicados à ampla defesa e ao contraditório. Os 
sindicados foram objeto de apuração e punição pelo 
descumprimento de alguns itens do Decreto Lei nº 477, 
de 26 de fevereiro de 1969, transcritos no Regimento da 
Unesp, com pequenas e insignificantes modificações, 
que não lhes retiram o conteúdo truculento. Essas normativas 
constituem uma inequívoca afronta ao estado 
democrático de direito e ao exercício pleno das prerrogativas 
democráticas consignadas na Constituição de 
1988, que certamente não as acolhe, antes as veda.
Os advogados de defesa não puderam acompanhar 
muitos estudantes sindicados, pois foram ouvidos 
por carta precatória pelos respectivos diretores das suas 
unidades universitárias de origem, na mesma data (19 
de março de 2014). Não há no Processo em questão 
uma testemunha sequer que tenha declarado presenciar 
qualquer ato que configurasse depredação do patrimônio 
público por parte dos estudantes que participaram 
dos acontecimentos. Portanto, não houve imputação a 
quem quer que fosse pelos atos pretensamente ilegais 
que supostamente teriam praticado.
Durante a sessão do Conselho Universitário 
que apreciou o recurso dos estudantes, os advogados 
de defesa tiveram escassos 5 minutos 
Ato dos estudantes em frente à reitoria da Unesp, no dia 11/12
para uso da palavra, tendo sido interrompidos pela Senhora 
Secretária Geral quando ainda não haviam concluído 
a fala. A Magnífica Vice-Reitora, no exercício da 
Reitoria, falou durante aproximadamente 15 minutos, 
solicitando ao CO que não acatasse o recurso. Foi seguida 
por cerca de 5 minutos de fala do Pró-Reitor de 
Administração, que fez indicações no mesmo sentido e 
que precedeu a fala do Prof. Dr. José de Souza Martins, 
que emitiu parecer, a pedido da reitoria. Este último fez 
uso da palavra durante cerca de 9 minutos e reafirmou 
a legalidade dos procedimentos realizados pela Comissão 
Sindicante, assegurando aos membros do CO que 
não havia quaisquer vícios que sugerissem a nulidade 
da sindicância, contrariamente ao que afirmaram os advogados 
de defesa.
Seguiu-se um intenso debate entre membros do 
Conselho Universitário, ocasião em que vários conselheiros 
admitiram reconhecer irregularidades na sindicância, 
alguns deles citando parte dos argumentos 
expostos acima. Outros chegaram a defender que, em 
que pesassem sobre o Processo de Sindicância alguns 
vícios, ainda assim era necessário que os estudantes 
fossem punidos pela ocupação do Prédio da Reitoria da 
Unesp em 16 e 17 de julho de 2013
O recurso foi colocado em votação pela Vice-
Reitora com o compromisso de discutir posteriormente, 
na mesma reunião do CO, o tamanho da pena, 
acenando com a perspectiva de, eventualmente, reduzi-
la, o que não aconteceu. Realizada a votação, vários 
conselheiros que haviam admitido irregularidades na 
Sindicância votaram contrariamente ao acatamento do 
recurso interposto. Entre os que assim se manifestaram 
houve conselheiros que optaram pela punição exemplar 
do grupo de 95 estudantes, mesmo sabendo que, entre 
eles, existem dois que sequer participaram da ocupação, 
e houve também aqueles que optaram por discutir 
a dosagem da pena, conforme assegurado pela Vice-
Reitora, com a expectativa de que pudessem diminuí-
la. Isto, de fato, não ocorreu, porque a mesa diretora 
dos trabalhos descumpriu o encaminhamento inicial e 
não lhes facultou essa possibilidade.
Os estudantes sindicados receberam a mesma 
pena, como se todos tivessem praticado o mesmo ato, 
embora não exista nos autos prova de que algum deles 
se enquadre nas acusações que constam nos motivos da 
Sindicância, o que avilta até a mais limitada concepção 
de legalidade do estado democrático de direito.
Com isto, o Conselho Universitário da Unesp 
perdeu a chance histórica de recolocar esta Universidade 
num patamar que o discurso flagrantemente estéril 
de muitos dos seus dirigentes pretende fazer crer que 
seja democrático. Esta decisão indica que não há, por 
parte da alta administração da Unesp, qualquer prurido 
em se prestar ao papel de manter os tentáculos da ditadura 
militar (1964-1984) vivos em nossa Universidade 
e na sociedade brasileira.
Continuaremos na luta pela democratização das 
instâncias de poder em nossa Universidade e conclamamos 
a todos que prezam os valores democráticos a se 
manifestarem. Não podemos permitir que qualquer um 
que se contraponha aos interesses da Reitoria e de alguns 
Diretores de Unidade seja considerado criminoso, 
nem que a Universidade seja transformada em espaço 
patrimonial particular em que comissões de sindicância, 
cujas regras e procedimentos são similares às dos 
tribunais de exceção, sejam criadas ("Aqui as regras 
são nossas").
Esse tipo de procedimento, muito caro à ditadura 
militar brasileira, foi utilizado para dar um viés 
pretensamente legal às práticas de terrorismo de Estado 
e foi utilizado para aniquilar seus opositores. Esses(as) 
senhores(as) não podem se colocar acima da lei e da 
ordem constitucional republicana, dando continuidade 
ao arbítrio ditatorial.
Esses arroubos autoritários nos colocam, mais 
do que nunca, a necessidade de estarmos organizados 
política e academicamente para que os valores democráticos 
pelos quais muitos brasileiros lutaram e foram 
sequestrados, torturados e mortos não sejam enxovalhados.
A construção da democracia é sempre um processo 
inacabado e exige de todos nós uma ação imediata 
e decisiva para extirpar as sombras da ditadura que 
ainda nos assediam. 
São Paulo, 19 de dezembro de 2014.
Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp)
Sindicato dos Trabalhadores da Unesp (Sintunesp)
Adunesp/Sintunesp
19/12/2014
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