quinta-feira, 28 de abril de 2016

Visite uma escola ocupada







Convite é de Mônica Francisco, membro da Rede de Instituições do Borel, que
visitou as escolas Colégio Estadual Herbert de Sousa, no Rio Comprido; e
Compositor Luiz Carlos da Vila, em Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Jeneiro.
"O que temos assistido é um espetáculo de comprometimento e de amor ao espaço
escolar, uma espécie de resgate do espaço da alegria, da ludicidade e do
pertencimento", afirma Mônica, que viu a "libertação de livros e equipamentos
eletrônicos, a quebra das correntes que prendem e encerram bibliotecas e
laboratórios de informática, a exploração de pátios vedados por simples capricho
ou/e demonstração de força". Mônica conclui: "Lindo de ver, lindo de participar.
Se puder, visite, vá, converse com os alunos e contribua. A escola é de
todas(os) nós!"

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Por *Mônica Francisco, para o Jornal do Brasil

Ocupação nas escolas: tendência e inspiração

Há um movimento que vem se mostrando, já desde o seu início em São Paulo, como
uma das ações de vanguarda neste período de efervescência na sociedade
brasileira. É o movimento de ocupação das escolas por alunos e alunas.
Certamente estes alunos e alunas não são mais os mesmos de antes da ocupação.
Sua atitude vai gerar uma marca profunda na vida deles e delas, e como toda
vanguarda, vem se desenhando como inspiração e tendência, seguida com intensa
adesão e muita vontade de mudança, por pares de vários estados.

Não pude ir a muitas destas ocupações pelo óbvio, o tempo. Mas nas duas que
acompanhei de perto, no Colégio Estadual Herbert de Sousa no Rio Comprido e
Compositor Luiz Carlos da Vila em Manguinhos, pude ver e ouvir, além de
conversar bastante com os estudantes. E o que vê neste movimento é a ruptura e a
desconstrução do discurso atemporal e cristalizado de uma juventude, apática e
alienada.

No caso das escolas estaduais, sua população discente ainda tem mais alguns
desafios, como a criminalização e a subvalorização. O que temos assistido é um
espetáculo de comprometimento e de amor ao espaço escolar, uma espécie de
resgate do espaço da alegria, da ludicidade e do pertencimento.

A libertação de livros e equipamentos eletrônicos, a quebra das correntes que
prendem e encerram bibliotecas e laboratórios de informática, a exploração de
pátios vedados por simples capricho ou/e demonstração de força.

A revelação do sucateamento não só dos espaços físicos, mas a deterioração das
relações, que por sinal, uma das relações mais importantes para a consolidação
da própria essência dos seres que ali buscam a constituição de si mesmos como
sujeitos e sujeitas da sua história.

São histórias de racismo, humilhação, constrangimento e resiliência, sim, muita
resiliência. Sim, sei que são muitas as dificuldades dos docentes, dos
profissionais de apoio, das direções, mas nada se compara com a potência que se
desperdiça ao não se ouvir mais estes meninos e meninas.

Li muitos textos sobre pesquisas acadêmicas e artigos de profissionais da
docência, pedagogos e pedagogas que chamam a atenção para a esgotada forma de se
educar no Brasil, de que precisamos lutar por uma escola que priorize a troca, a
cumplicidade e principalmente o respeito ao alunato.

Não sei se teremos tudo isso ao terminarem as ocupações, mas certamente esses
alunos e alunas não serão mais os mesmos(as), Serão profundas como disse as
marcas deixadas por uma das maiores e mais ricas experiências que eles puderam
ter na escola, ade verem a escola sendo de fato parte deles e eles sendo parte
da escola.

Lindo de ver, lindo de participar. Se puder, visite, vá, converse com os alunos
e contribua. A escola é de todas(os) nós!


*Mônica Francisco é membro da Rede de Instituições do Borel, coordenadora do
Grupo Arteiras e consultora na ONG ASPLANDE.

In
BRASIL247
http://www.brasil247.com/pt/247/favela247/228903/Visite-uma-escola-ocupada.htm
28/4/2016

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