terça-feira, 16 de agosto de 2016

A fraqueza da Rússia é sua política económica


  
       por Paul Craig Roberts e Michael Hudson 
       De acordo com várias informações, o governo russo está a reconsiderar a
      política neoliberal que tão mal serviu a Rússia desde o colapso da União
      Soviética. Se a Rússia adoptasse uma política económica inteligente, a sua
       economia estaria muito à frente de onde se situa hoje. Ela teria evitado
       a maior parte da fuga de capital para o ocidente se confiasse no
       auto-financiamento.
       Contudo, Washington aproveitou-se um governo russo ingénuo, crédulo e
      desmoralizado que procurou a sua orientação na era pós soviética. Os
      russos pensaram que a rivalidade entre os dois países haviam terminado com
      o colapso soviético e confiaram no aconselhamento americano para
      modernizar a economia russa com ideias ocidentais mais práticas.
      Washington, ao invés, abusou desta confiança para sobrecarregar a Rússia
      com uma política económica destinada a retalhar activos económicos russos
      e transferir a propriedade para mãos estrangeiras. Ao enganar a Rússia
      levando-a a aceitar capital estrangeiro e expor o rublo à especulação de
      divisas, Washington assegurou que os EUA poderiam desestabilizar a Rússia
      com correntes de capitais e assaltos ao valor cambial do rublo. Só um
      governo não familiarizado com o objectivo neoconservador dos EUA de
      hegemonia mundial teria exposto seu sistema económica a tal manipulação
      estrangeira.
       As sanções que Washington impôs – e forçou a Europa a impor – à Rússia
      mostram como a teoria económica neoliberal trabalha contra a Rússia. As
       políticas de altas taxas de juro e austeridade afundaram a economia russa
      – desnecessariamente. O rublo foi deitado abaixo por saídas de capital,
      resultando na dissipação neoliberal pelo banco central das reservas
      externas da Rússia num esforço para apoiar o rublo mas que realmente apoio
      a fuga de capital.
       Mesmo Vladimir Putin acha atraente a noção romântica de uma economia
      global à qual todo país tem igual acesso. Mas os problemas resultantes da
      política neoliberal forçaram-no a voltar-se para a substituição de
      importações a fim de tornar a economia russa menos dependente de
      importações. Isto também levou Putin a perceber que se a Rússia tivesse de
      ter um pé na ordem económica ocidental, ela precisava ter o outro pé na
      nova ordem económica a ser construída com a China, Índia e antigas
      repúblicas soviéticas asiáticas.
       A teoria económica neoliberal prescreve uma política de dependência que
      confia em empréstimos estrangeiros e investimento estrangeiro. Esta
      política cria dívida em divisas estrangeiras e a propriedade estrangeira
      de lucros russos. Trata-se de perigosas vulnerabilidades para uma nação
      que Washington declara ser "uma ameaça existencial para os EUA".
       O establishment económico que Washington configurou para a Rússia é
      neoliberal. A governadora do banco central Elvira Nabiullina, o ministro
      do Desenvolvimento Económica Alexei Ulyukayev e o actual e antigo
      ministros das Finanças Anton Siluanov e Alexei Kudrin são neoliberais
      doutrinários. Este círculo de pessoas quis tratar o défice orçamental da
      Rússia através da venda de activos públicos a estrangeiros. Se realmente
      forem até o fim, esta política daria a Washington mais controle sobre a
      economia da Rússia.
       Em oposição a esta colecção de "economistas lixo", posiciona-se Sergey
      Glaziev. Boris Titov e Andrei Klepach são mencionados como seus aliados.
       Este grupo compreende que políticas neoliberais tornam a economia da
       Rússia sujeita à desestabilização por Washington se os EUA quiserem punir
      o governo russo por não seguir a política externa que lhe for ditada. Seu
      objectivo é promover uma Rússia mais auto-suficiente a fim de proteger a
      soberania da nação e a capacidade do governo para actuar [em defesa dos]
      interesses nacionais da Rússia ao invés de sujeitar estes interesses aos
      de Washington. O modelo neoliberal não é um modelo de desenvolvimento, mas
      sim um modelo puramente extractivo. Americanos têm caracterizado isto como
      fazer da Rússia ou outras dependência "lenhadores e carregadores de água"
      – ou, no caso da Rússia, petróleo, gás, platina e diamantes.
       Auto-suficiência significa não ser dependente de importações ou
      dependente de capital estrangeiro para investimento que poderia ser
      financiado pelo banco central da Rússia. Significa também que partes
      estratégicas da economia permaneçam em mãos públicas, não privadas.
       Serviços de infraestrutura básica deveriam ser proporcionados à economia
      a preço de custo, subsidiados ou gratuitamente, não entregando-os a
      proprietários estrangeiros para extrair rendas de monopólio. Glaziev
      também quer que o valor cambial do rublo seja estabelecido pelo banco
      central, não por especuladores no mercado de divisas.
       Economistas neoliberais não reconhecem que o desenvolvimento económico de
      uma nação dotada de recursos naturais, tal como a Rússia, pode ser
      financiado pelo banco central criando a moeda requerida para empreender os
      projectos. Pretendem eles que isto seria inflacionário. Os neoliberais nem
      o facto reconhecido há muito de que, em termos da quantidade de moeda, não
      faz diferença se a moeda vem do banco central ou de bancos privados criam
      moeda ao fazerem empréstimos ou do exterior. A diferença é que se a moeda
       vem de bancos privados ou do exterior, o juro deve ser pago ao bancos e
      os lucros têm de ser partilhados com investidores estrangeiros, os quais
       acabam com algum controle sobre a economia.
       Aparentemente, os neoliberais da Rússia são insensíveis à ameaça que
      Washington e seus vassalos europeus representam para o estado russo. Com
      base em mentiras, Washington impôs sanções económicas à Rússia. Esta
       demonização política é tão falsificada quanto a propaganda económica
      neoliberal. Com base em tais mentiras, Washington está a acumular forças
      militares e bases de mísseis nas fronteiras da Rússia e em águas russas.
       Washington procura subverter antigas províncias russas ou soviética e
      instalar regimes hostis à Rússia, como na Ucrânia e Geórgia. A Rússia é
      continuamente demonizada por Washington e pela NATO. Washington politizou
      até mesmo os jogos olímpicos e impediu a participação de muitos atletas
       russos.
       Apesar destes movimentos abertamente hostis contra a Rússia, neoliberais
       russos ainda acreditam que as políticas económicas incitadas por
       Washington são no interesse russo, não destinadas a ganhar controle da
      sua economia. Atar o destino da Rússia à hegemonia ocidental sob estas
      condições destruiria a sua soberania.
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/russia/roberts_hudson_10ago16.html
10/8/2016  

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