quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Hillary Clinton não é o mal menor, é o pior dos males

 




Efraín Chury Iribarne

Entrevista de James Petras sobre as eleições americanas.


Efraín Chury Iribarne: É com muito gosto que recebemos aos microfones de Rádio
Centenário o nosso comentarista internacional James Petras.
Efrain Chury Iribarne: Para começar lemos-te umas linhas para ouvir o que te
aprecem: «Israel negou autorização ao chefe da delegação olímpica da Palestina,
Issam Qishta, para abandonar a Faixa de Gaza e viajar com a sua equipa aos Jogos
Olímpicos do Rio de Janeiro».
James Petras: Toda a estrutura dos Jogos Olímpicos, de alto a baixo, é muito
corrupta e manipulada pelos poderes ocidentais, especialmente os Estados Unidos.
Esta medida contra os atletas palestinos está alinhada com a política de Israel
para debilitar qualquer sentimento nacional e o reconhecimento internacional da
Palestina.
O contexto dos Jogos Olímpicos mudou nos últimos anos, e cada vez se convertem
mais numa promoção comercial, excluem participantes como os russos, que têm uma
muito boa equipa e acusam-nos de usar drogas que não tinham nada a ver com os
atuais participantes. A consequência é a possibilidade de a representação dos
atletas norte-americanos poderem conquistar mais medalhas, o que significa –
aqui pelo menos – mais propaganda nacionalista, chauvinista. Se alguém quer ver
os jogos na televisão, aqui só dão os acontecimentos em que os estadunidenses
ganham ou têm grandes possibilidades de vir ganhar. Por outras palavras, as
outras equipas, os representantes de outros países do mundo não aparecem, não
existem.
Então, a propaganda política chauvinista faz parte do jogo.
E este caso de Israel devia provocar a sua exclusão dos jogos olímpicos, por ter
levantado obstáculos para que outra delegação, a da Palestina, não possa
participar; Porque a sua participação significa que Israel não é o porta-voz dos
palestinos, têm que reconhecer que há outra nacionalidade; o facto de o Comité
Olímpico aceitar o bloqueio à participação da Palestina, particularmente no
Brasil, é um indício da decadência em que caiu esse país desde que (Michel)
Temer, o golpista, assumiu o governo.
Temer é um títere de Washington, representa os piores aspetos do capitalismo
internacional e local. Quere cumprir com qualquer exigência que lhe peçam, seja
ela contra a Venezuela, contra a Palestina, contra os povos em luta na América
Latina, contra o Mercosur. É um governo muito à direita, extremista. Por isso é
capaz de aceitar estas pulhices, como a de permitir que Israel, um Estado
apartheid, com um regime que violou todas as normas internacionais, bloqueie os
palestinos. Moralmente, parece-me uma grande perda para os Jogos Olímpicos, um
golpe nos princípios originários dos jogos.
Creio que cada vez mais gente perde interesse pelos Jogos Olímpicos. As pessoas
estão fartas da propaganda, da comercialização, das acusações, da politização.
Recordo-me, quando era criança e jovem, como toda a família ficava a ver as
competições, as corridas, os atletas, o boxe, etc.. Agora as pessoas deixaram de
estar interessadas devido ao modo como degeneraram todo o seu conteúdo, pela
manipulação, pela politização, os jogos deixaram de ter importância.
Efrain Chury Iribarne: Na Europa aumenta a violência e o medo. Como analisas
isso?
James Petras: É um exagero. Não sei se há números sobre os diferentes
assassínios, homicídios, ataques de desequilibrados. Agora, qualquer ataque
passa a ser um ataque terrorista, aprofunda-se a repressão dos direitos civis.
Mas na verdade há alguns casos de massacres que temos visto, mas também
aumentaram os massacres no exterior; os bombardeamentos da Síria, os ataques à
Líbia, as intervenções na Ucrânia. Há na Europa um aumento da violência a partir
da sua associação aos Estados Unidos, as acusações e a demonização da Rússia; a
acusação contra os povos islâmicos do Médio Oriente. Num caso particular podemos
admitir que há mais massacres que no passado, mas na sua totalidade os crimes
aumentaram a partir do ocidente, e isso é uma relação que coincide: mais
violência no exterior, maior tendência para a violência política interna.
As políticas externas estão diretamente ligadas com as violências internas. E a
emigração que saiu dos países afetados pela violência ocidental, são os
principais exportadores de povos procurando um outro lugar para viver, e como há
limitações à capacidade de absorção dos emigrantes forçados, podemos prever que
os conflitos vão aumentar, não apenas entre os europeus e os imigrantes, mas
entre os imigrantes e os povos internos, devido aos conflitos que temos visto na
política global.
Efrain Chury Iribarne: Como está a situação na Síria? Há algumas informações por
estes dias…
James Petras: Há muitas mentiras Chury, não se pode acreditar em nada do que
editam a BBC, o New York Times, Le Monde; dizem que os terroristas, a quem eles
chamam rebeldes, conseguiram romper o cerco das forças sírias. Mas as
informações que nos chegam é que o cerco se mantém, que não tiveram o êxito que
dizem, que se trata mais de propaganda que de factos e que os dirigentes
ocidentais que fomentam os terroristas estão à procura de uma ponta para
justificar a intervenção.
Pensamos que as coisas não são como dizem, que as notícias sobre os avanços dos
terroristas são muito exageradas e o facto é que o cerco se mantém e os
terroristas estão em recuo.
Qualquer notícia que recebamos do Médio Oriente já não é fiável. A propaganda
atingiu níveis de histeria, já não se pode acreditar. Por exemplo, leio o New
York Times, o Finantial Times, e dizem coisas que eu sei por outras fontes que
não são verdadeiras.
Assim, o facto é que Alepo continua em grande parte nas mãos da Síria, que os
terroristas ainda estão atolados e que os esforços para declarar vitórias ou
avanços são falsos. As proclamações de que há uma reversão sobre a ofensiva do
governo não têm sentido.
Parece-me importante aclará-lo, porque as pessoas começam a acreditar na
propaganda de que os terroristas estão a um passo de voltar a controlar Alepo, o
que não é verdade.
Efrain Chury Iribarne: Bem Petras, passemos a outros temas em que está a
trabalhar.
James Petras: Há duas coisas que dizem respeito à Venezuela.
Na Venezuela a situação é muito dramática, muito conflituosa. Todos os dias há
assassínios de polícias, soldados e políticos; a direita lançou uma campanha de
assassínios como forma de fomentar o terror e dividir as forças da ordem. A
situação económica é grave, as bichas são enormes, a sabotagem económica
continua a avançar e estamos à beira de um levantamento.
Washington trabalha noite e dia na subversão do Exército, que é o principal
elemento, quer lançar um levantamento da direita para derrubar o governo, mas
ainda lhe falta controlar alguns dos principais comandos das diferentes forças.
No momento em que Washington consiga subverter algum sector do Exército, vai
apelar a Organização dos Estados Americanos para que mande o que eles chamam
«forças da paz» e intervir, talvez com tropas da Colômbia, do Brasil, de outros
países e com os seus próprios marines para derrubar o governo.
Não acredito que a situação atual possa continuar seis meses mais. Creio que num
dado momento vamos assistir a um confronto violento, uma guerra civil com os
Estados Unidos a intervir, e ninguém sabe o que pode sair daí, para além de uma
contrarrevolução.
Washington procura, a partir de um golpe, uma solução final para acabar com o
chavismo e será um momento de grandes tensões, de caos. As cidades, as ruas são
cada vez mais inseguras, tanto pelos atos de violência contra o governo como
pela falta de segurança e de respeito pelos direitos dos cidadãos.
Estamos perante uma situação caótica, conflituosa e muito perigosa.
Efrain Chury Iribarne: E em que pé estão as eleições nos Estados Unidos?
James Petras: O que sobressai é a questão das minorias que sofrem a repressão
policial, e o assassínio de cidadãos de origem afro-americana que atingiu
números históricos. Todos os dias se noticia um tiroteio da polícia contra
alguma pessoa afro-americana desarmada. E a incapacidade da polícia intervir:
quando há um massacre, por exemplo, a polícia desaparece; querem que a violência
se alargue para depois semear mais medo e terror.
Quanto às eleições, temos em primeiro lugar toda a campanha de propaganda a
favor de Hillary Clinton e a demonização de Donald Trump. Apesar de Trump nada
terfeito de violento contra os muçulmanos e Hillary Clinton ser a autora dos
ataques contra os islamitas na Líbia, no Iraque, etc..
O problema de Trump é que utiliza uma linguagem prejudicial para as criticas que
lhe têm feito; ele diz que o governo deve focar-se na economia nacional e propõe
melhorar as relações com a Rússia, e é por isso que o acusam de ser um apoiante
de Putin, de ser anti-islâmico, etc.. Mas o verdadeiro inimigo e praticante da
violência foi a Clinton. Mas muitos latinos caíram nesta armadilha, e lemos
escritores supostamente progressistas como Atilio Borón e outros, que dizem que
Hillary Clinton é má, mas é o mal menor. Não é o mal menor, é o pior de todos os
males. R Trump é um político da direita, mas que não tem esses crimes nas suas
mãos.
Nós não aceitamos que a alternativa seja Clinton ou Trump, a alternativa é o
Partido Verde, com a candidatura de Jill Stein, que é uma progressista que já
representou o povo em muitas lutas e a ideia que só temos de escolher entre
Trump e Clinton é mentira.
 Efrain Chury Iribarne: Muito bem Petras, agradecemos-te toda esta análise.
James Petras: Um abraço para todos vós e sigam em frente com o bom trabalho da
Rádio centenário.

 * Sociólogo e professor universitário.
Este texto foi publicado por Radio Centenario do Uruguai:
 http://www.ivoox.com/analisis-james-petras-cx36-audios-mp3_rf_12477998_1.html
Tradução de José Paulo Gascão
In
O DIARIO.INFO
http://www.odiario.info/hillary-clinton-nao-e-o-mal/
17/8/2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário