terça-feira, 11 de outubro de 2016

Ciro Gomes: Temer 'é golpista', Lula 'se descolou da realidade' e FHC é 'traidor do país'



Em entrevista exclusiva à Sputnik, Ciro Gomes, que foi deputado federal,
prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro de Itamar Franco e de Lula,
candidato à Presidência da República em 1998 e 2002 e é presidenciável para as
eleições de 2018, fala das grandes figuras da política atual.

No último final de semana, o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, participou de
um seminário em São Paulo em que o papel da imprensa, sobretudo escrita, era o
foco das atenções. Na ocasião, Ciro Gomes falou dos órgãos de comunicação, sobre
os jornalistas, e teceu várias considerações sobre os políticos, entre os quais
três presidentes da República. Michel Temer foi classificado como "golpista";
Luiz Inácio Lula da Silva como "alguém que se descolou da realidade e que
começou a brincar de Deus, a se autorizar a praticar todo tipo de coisas
intoleráveis"; e Fernando Henrique Cardoso como "traidor do país".
Abandono de organismos internacionais revela ruptura na política externa
brasileira
A propósito dessas declarações, o ex-Governador Ciro Gomes, que foi ministro da
Integração Nacional no Governo Lula e ministro da Fazenda no Governo Itamar
Franco, concedeu entrevista exclusiva à Sputnik, na qual confirmou aquelas
declarações, mas com a ressalva: "Fiz comentários sobre aquelas pessoas dentro
de contextos próprios. Mas o que mereceu destaque [na mídia] foram apenas as
frases isoladas."
Na entrevista à Sputnik, Ciro Gomes teve oportunidade de contextualizar todas as
suas declarações. Além disso, ele confirma ser pré-candidato à Presidência da
República em 2018, pelo PDT, e prevê uma disputa muito competitiva "entre quatro
a cinco até seis candidatos, principalmente se Lula não concorrer".
A seguir, a entrevista exclusiva com Ciro Gomes.
Sputnik: Governador, são de fato suas as declarações produzidas no último
domingo, de que o Presidente Michel Temer é golpista; de que o Presidente
Fernando Henrique Cardoso é um traidor do país; de que Lula está em final de
carreira política e de que o ministro das Relações Exteriores, José Serra, está
senil?
Ciro Gomes: Sim, embora eu tenha falado cada uma dessas coisas num contexto de
uma hora e meia de reflexão provocada por um seminário de jornalismo que reuniu
a Globo News e a revista Piauí, que é uma revista que dá um pouco mais de
profundidade às suas análises, embora nesse episódio a edição só extraiu essas
pequenas frases e conceitos que são todos antigos, nenhum deles é novo, mas
postos assim, juntos, parece que eu fui para lá só para atacar tudo e todos, o
que não é bem a minha questão. Estou refletindo estrategicamente a questão
brasileira, e, provocado individualizadamente pela jornalista que me
entrevistou, emiti, repetindo, a propósito, tudo o que penso dessa gente.
S: Por que o senhor considera o Presidente Temer golpista?
CG: Porque no presidencialismo, assim como está escrito na Constituição
brasileira, só há a possibilidade de ruptura da normalidade do mandato
presidencial dado o cometimento pelo presidente da República, ele mesmo, sem ser
terceiros, de forma dolosa, ou seja, consciente, do crime de responsabilidade
como tal descrito na lei. E crimes de responsabilidades são excepcionalidades
gravíssimas, tais como ter traído o interesse estratégico da nação a serviço de
nações estrangeiras, etc. Nem o mais vil dos opositores da Presidenta Dilma, nem
sequer o procedimento formal que foi levado à deliberação pelo Senado, ousou
sequer remotamente acusar a presidente da República de crime de
responsabilidade. Ela foi acusada, e derrubada, pelo cometimento de
irregularidades contábeis praticadas por terceiros, porque é evidentemente
inimaginável para quaisquer das pessoas e muito mais para mim – que tenho 36
anos de vida pública, já manejei o orçamento da União, o orçamento do oitavo
Estado brasileiro, da quinta cidade brasileira – que o presidente da República,
ele mesmo, ao assinar um decreto de suplementação protocolar, burocrático, de um
orçamento que tem 50 mil rubricas, vai ele próprio exercitar um juízo consciente
de que aquilo é ou não regular. Evidentemente, fica flagrante para qualquer
pessoa que houve um golpe de Estado no Brasil.
S: O senhor de fato considera o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso traidor?
CG: Na medida em que eu o ajudei a ser presidente da República; na medida em que
fui cofundador do PSDB; primeiro governador eleito pelo partido na história do
PSDB, e vi aquilo que era o nosso compromisso que ajudei a escrever, vis-à-vis
comparado com a prática dele no Governo, evidentemente, para mim, ele traiu tudo
que escreveu, tudo que falou e tudo com que se comprometeu, além de administrar
uma economia política que quebrou o país três vezes.
S: Sobre Lula, o senhor disse que ele começou a brincar de Deus, descolou-se da
realidade, e que a carreira política dele estaria chegando ao fim. Estas suas
afirmações estão relacionadas à situação jurídica do ex-presidente?
CG: Não propriamente à situação jurídica, que eu examino também como professor
de Direito, e até o presente momento eu não vejo um único nexo que extrapole da
imoralidade, da frouxidão moral, que infelizmente parece haver, para a questão
do cometimento de crimes à luz da legislação brasileira. Evidentemente, se as
acusações forem a propriedade de um tríplex que teria sido recebido como
vantagem indevida em função de facilitação de negócios de uma empresa privada,
não vejo ali nenhum elemento que demostre essa culpa. Se a culpa for a
propriedade de um sítio que teria sido também reformado por empresas que teriam
feito essas reformas em nome de vantagens indevidas, também aí não vejo o nexo
de culpa sob o ponto de vista da legislação brasileira. Posso ver imoralidades e
as vejo, porém o que eu penso do Presidente Lula é expresso na minha posição
política de décadas no Brasil.
In
SPUTNIK
https://br.sputniknews.com/noticias/201610116534897-exclusivo-ciro-gomes-temer-golpista-fhc-traidor/
11/10/2016

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