quinta-feira, 13 de abril de 2017

E se Trump não tivesse virado a casaca ?


Thierry Meyssan

As chancelarias e a imprensa garantem que o Presidente Trump mudou a sua
política e traiu os seus eleitores ao aceitar a demissão do General Flynn,
depois ao ter bombardeado Shairat. Thierry Meyssan, no entanto, destaca
incoerências que sugerem o contrário : a agressão militar norte-americana contra
a Síria poderá na realidade ser dirigida, em última análise, contra os aliados
de Washington.

Donald Trump, que fora eleito graças ao seu programa destinado a colocar um fim
ao imperialismo e a prestar serviço aos interesses do seu povo, terá de repente
mudado de campo, três meses apenas depois da sua chegada à Casa Branca?
Esta é a interpretação maioritária quanto ao bombardeio da base de Shairat, a 6
de Abril de 2017. A totalidade dos aliados dos Estados Unidos aprovou esta acção
em nome de princípios humanitários. A totalidade dos aliados da Síria condenou-o
em nome do Direito Internacional.
No entanto, aquando do debate no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o
argumento de um ataque químico perpetrado por Damasco não foi apoiado pelo
representante do Secretário-Geral. Pelo contrário, este sublinhou a
impossibilidade nesta fase de se saber como este ataque teria ocorrido. A
Bolívia colocou mesmo em dúvida a própria ocorrência deste ataque, que só é
verificado pelos Capacetes Brancos, quer dizer um grupo da Alcaida que o MI6
enquadra para fins da sua propaganda. Além disso, todos os peritos militares
sublinham que gás para fins militares deve ser disperso através de tiros de obus
e nunca, jamais em absoluto, por bombardeamentos aéreos.
Seja como for, o ataque norte-americano contra a base de Shairat foi
caracterizado pela sua aparente brutalidade: os 59 misseis BGM-109 Tomahawk
tinham uma potência de fogo combinada quase duas vezes equivalente ao da bomba
atómica largada em Hiroshima. Portanto, a agressão caracterizou-se também pela
sua ineficácia: muito embora houvesse vítimas tentando extinguir os incêndios,
os danos são tão pouco relevantes que a Base Aérea estava de novo em
funcionamento no dia seguinte.
É forçoso constatar que ou a Marinha USA é um «tigre de papel», ou esta operação
não foi senão uma encenação.
Neste caso, percebe-se melhor porque a defesa aérea russa não reagiu. O que
implica que os mísseis anti-míssil S-400, cujo funcionamento é automático,
tenham sido desactivados previamente.
Tudo se desenrolou como se a Casa Branca tivesse imaginado um ardil visando
levar os seus aliados para uma guerra contra os utilizadores de armas químicas,
isto é contra os jiadistas. Com efeito, até à data, de acordo com as Nações
Unidas, os únicos casos documentados de uso destas armas na Síria e no Iraque
foram-lhes atribuídos.
No decurso dos últimos três meses, os Estados Unidos romperam com a política do
Republicano George Bush Jr. (que assinou a declaração de guerra da Syrian
Accountability Act) e Barack Obama (que apoiou as «Primaveras Árabes», quer
dizer a reedição da «Grande revolta árabe de 1916», organizada pelos
Britânicos). No entanto, Donald Trump não tinha conseguido convencer os seus
aliados, especialmente alemães, britânicos e franceses.
Saltando sobre o que parecia ser uma mudança radical da política dos EUA,
Londres multiplicou as declarações contra a Síria, a Rússia e o Irão. O seu
Ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, cancelou a sua visita a
Moscovo.
Excepto que : se Washington mudou de política, porque é que o Secretário de
Estado Rex Tillerson confirmou, pelo contrário, a sua visita a Moscovo? E porque
é que o Presidente Xi Jinping, que se encontrava de visita ao seu homólogo
norte-americano durante o bombardeamento de Shairat, reagiu tão suavemente
quando, ao mesmo tempo, o seu país usava o seu veto pela 6ª vez para proteger a
Síria no Conselho de Segurança da ONU?
No meio deste unanimismo oratório e destas inconsistências factuais, o
Conselheiro-adjunto do Presidente Trump, Sebastian Gorka, multiplica as
mensagens a contra-senso. Ele garante que a Casa Branca continua a considerar o
Presidente al-Assad como legítimo e os jiadistas como o inimigo. Gorka é um
amigo muito próximo do General Michael T. Flynn, o qual tinha concebido o plano
de Trump contra os jiadistas em geral e o Daesh(EI) em particular.
In
VOLTAIRENET.ORG
http://www.voltairenet.org/article195951.html
12/7/2017

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