segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Intervenção no Rio de Janeiro


Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro.





O governo de Michel Temer decretou, logo depois do carnaval, a intervenção no
estado do Rio de Janeiro à pedido do governador Pezão. Com isso, as tropas do
exército deverão atuar na segurança pública. Os motivos da intervenção, segundo
o governo, são os índices de violência. Só que outros estados da federação
apresentam índices  bem maiores de violência, sem que a proposta de intervenção
apareça. Para a maioria dos movimento sociais, a medida no Rio tem efeito
midiático. Serve apenas para gerar impactantes fotos e imagens, além de oferecer
uma medida "popular" para os únicos grupos que apoiam o governo de Temer, que
são aqueles grupos minoritários que desde 2013 vêm gritando por intervenção
militar.
A Federação das Favelas do Rio de Janeiro lançou uma nota, na qual expressa sua
análise sobre a intervenção.
*****
A Federação de Favelas do Rio é uma instituição sem fins lucrativos fundada em
1963 para lutar contra as remoções do governo Lacerda e a implantação da
ditadura militar no Brasil em 1964. Dessa forma, alertamos que essa nova
intervenção militar não começou ontem, anteriormente tivemos as UPP’s (unidades
de policia pacificadora), as operações respaldadas sob a GLO ( Garantia da lei e
da ordem) e PLC 464/2016 que passa para a justiça militar a responsabilidade de
julgar as violações cometidas pelos integrantes das forças armadas em suas
intervenções.
Essas mesmas forças intervencionistas estiveram recentemente em missões de paz
no Haiti e favela da Maré onde podemos observar que grande parte das ações foram
marcadas por violação de direitos humanos.
Nesse processo vale salientar que os investimentos em militarização superam os
investimentos em políticas sociais. A ocupação da Maré custou 1,7 milhões de
reais por dia perdurando por 14 meses envolvendo 2500 militares, tanques de
guerra, helicópteros, viaturas, sem apresentar resultados efetivos tanto para as
comunidades quanto para o país. Em contra partida nos últimos 6 anos só foram
investidos apenas 300 milhões de reais em políticas públicas voltadas para o
desenvolvimento social.
Apesar de todo esse aporte financeiro investido na intervenção militar na Maré
podemos observar que essa ação foi totalmente ineficaz, pois lá as facções
criminosas ainda lutam pelo controle da região oprimindo os trabalhadores e
trabalhadoras que lá vivem.
O que a favela precisa na verdade é de uma intervenção social, que inclusive
contaria com a participação das forças armadas. Precisamos de escolas e creches,
hospitais, projetos de geração de emprego e renda e políticas sociais voltadas
principalmente para juventude. Precisamos de uma intervenção que nos traga a
vida e não a morte. O exército é uma tropa treinada para matar e atuar em tempos
de guerra. As favelas nunca declararam guerra a ninguém.
A favela nunca foi e nem jamais será uma área hostil. Somos compostos de homens
e mulheres trabalhadoras que com muita garra e dignidade lutam pelo pão de cada
dia. Somos a força de trabalho que move a cidade e o país. A ocupação de uma
parcela das comunidades por marginais ocorre justamente pela ausência do estado
em políticas públicas que possam garantir o desenvolvimento de nossas favelas.
Nos últimos 54 anos a FAFERJ vem lutando por democracia nas favelas do Rio. Lá a
ditadura ainda não acabou. Ainda vemos a polícia invadindo residências sem
mandados, pessoas sendo presas arbitrariamente ou até mesmo casos de
desaparecimento como o caso Amarildo que repercutiu mundialmente.
Para finalizar gostaríamos de reafirmar que as intervenções militares são caras,
longas, e ineficazes até mesmo do ponto de vista da segurança pública. Sugerimos
que essas tropas sejam movimentadas para patrulharem as fronteiras do Brasil,
pois é de conhecimento notório que é de lá que chegam as armas e as drogas que
alimentam o comercio varejistas de entorpecentes nas comunidades cariocas.
Sugerimos também que se faça uma grande intervenção social nas favelas do Rio de
Janeiro. Precisamos apenas de uma oportunidade para provar que somos a solução
que o Brasil tanto precisa para se desenvolver e tornar-se um país mais justo
para todos e todas.
Favela é potência! Favela é resistência!


In
IELAhttp://www.iela.ufsc.br/noticia/intervencao-no-rio-de-janeiro
19/2/2018


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