quarta-feira, 12 de março de 2014

A promover o império da América

A promover o império da América: Golpe, pilhagem e duplicidadeA promover o
império da América: Golpe, pilhagem e duplicidade

por James Petras

O regime Obama, em coordenação com seus aliados serviçais, relançou uma
virulenta campanha de âmbito mundial para destruir governos independentes,
cercar e finalmente subverter competidores globais, e estabelecer uma nova
ordem mundial centrada nos EUA-UE.

Prosseguiremos com a identificação dos "ciclos" recentes da construção do
império estado-unidense; os avanços e recuos; os métodos e estratégias; os
resultados e perspectivas. Nosso foco principal é na dinâmica imperial que
conduz os EUA rumo a maiores confrontações militares, até e incluindo
condições que podem levar a uma guerra mundial.

Ciclos imperiais recentes

A construção do império estado-unidense não tem sido um processo linear.
As décadas recentes apresentaram amplas evidências de experiências
contraditórias. Sumariamente podemos identificar várias fases nas quais a
construção do império experimentou avanços amplos e recuos drásticos – com
as devidas cautelas. Estamos a examinar processos globais, nos quais
também há contra-tendências limitadas. Em meio a avanços imperiais em
grande escala, regiões particulares, países ou movimentos resistiram com
êxito ou mesmo reverteram a investida imperial. Em segundo lugar, a
natureza cíclica da construção do império de modo algum põe em dúvida o
carácter imperial do estado e da economia e seu implacável impulso para
dominar, explorar e acumular. Em terceiro lugar, os métodos e estratégicas
que dirigem cada avanço imperial diferem de acordo com mudanças nos países
alvo.

Ao longo dos últimos trinta anos podemos identificar três fases na
construção do império.

O avanço imperial da década de 1980 a 2000

No período aproximadamente de meados da década de 1980 ao ano 2000, a
construção do império expandiu-se a uma escala global.

(A) Expansão imperial nas antigas regiões comunistas. Os EUA e a UE
penetraram e hegemonizaram a Europa do Leste; desintegraram e pilharam a
Rússia e a URSS; privatizaram e desnacionalizaram centenas de milhares de
milhões de dólares do valor de empresas públicas, meios de comunicação
social e bancos, incorporaram bases milhares por todas a Europa do Leste
na NATO e estabeleceram regimes satélites como cúmplices voluntários em
conquistas imperiais na África, Médio Oriente e Ásia.

(B) Expansão imperial na América Latina. A partir do princípio da década
de 1980 até o fim do século, a construção do império avançou por toda a
América Latina sob a fórmula de "mercados livre e eleições livres".

Desde o México até a Argentina, regime neoliberais, centrados no império,
privatizaram desnacionalizaram mais de 5000 empresas públicas e bancos,
beneficiando multinacionais dos EUA e da UE. Líderes políticos
alinharam-se com os EUA em fóruns internacionais. Generais
latino-americanos responderam favoravelmente a operações militares
centradas nos EUA. Banqueiros extraíram milhares de milhões em pagamentos
de dívida e lavaram muitos milhares de milhões mais de dinheiro ilícito. O
"North American Free Trade Agreement", com a amplitude do continente e
centrado nos EUA, pareceu avançar de acordo com o programa.

(C) Avanços imperiais na Ásia e na África. Regimes comunistas e
nacionalistas deixaram cair suas políticas de esquerda e
anti-imperialistas e abriram suas sociedades e economias à penetração
capitalista. Em África, dois países "de esquerda", Angola e a África do
Sul pós apartheid adoptaram "políticas de mercado livre".

Na Ásia, a China e Indochina moveram-se decisivamente em direcção a
estratégias capitalistas de desenvolvimento; investimento estrangeiro,
privatizações e exploração intensa do trabalho substituíram o
igualitarismo colectivista e o anti-imperialismo. A Índia e outros estados
capitalistas, como Coreia do Sul, Formosa e Japão, liberalizaram suas
economias. Avanços imperiais foram acompanhados por maior volatilidade
económica, um aguçamento da luta de classe e uma abertura do processo
eleitoral para acomodar facções capitalistas competidoras.

A construção do império expandiu-se sob o slogan de "livres mercados e
eleições justas" – mercados dominados por multinacionais gigantes e
eleições, as quais asseguram os êxitos da elite.

Recuos e reveses imperiais: 2000-2008

Os custos brutais do avanço do império levaram a uma contra-tendência
global, uma onda de levantamentos anti-neoliberais e de resistência
militar a invasões dos EUA. Entre 2000 e 2008 a construção do império
esteve sob sítio e em recuo.

Rússia e China desafiam o império

A construção do império estado-unidense cessou a sua expansão e conquista
em duas regiões estratégicas: a Rússia e a Ásia. Sob a liderança do
presidente Vladimir Putin, o estado russo foi reconstruído; a pilhagem e
desintegração foram revertidas. A economia foi aparelhada para o
desenvolvimento interno. Os militares foram integrados num sistema de
defesa nacional e segurança. A Rússia mais uma vez tornou-se um grande
actor na política regional e internacional.

A viragem da China rumo ao capitalismo foi acompanhada por uma presença
dinâmica do estado e um papel directo na promoção do crescimento a dois
dígitos durante duas décadas: a China tornou-se a segunda maior economia
do mundo, deslocando os EUA como o grande parceiro comercial na Ásia e na
América Latina. O império económico dos EUA estava em retirada.

América Latina: o fim do império neoliberal

O neoliberalismo e a integração centrada nos EUA levou à pilhagem, crises
económicas e grandes levantamentos populares, provocando a ascensão de
novos regimes de centro-esquerda e esquerda. Administrações "pós
neoliberais" emergiram na Bolívia, Venezuela, Equador, Brasil, Argentina,
América Central e Uruguai. Os construtores do império estado-unidense
sofreram várias derrotas estratégicas.

Os esforços dos EUA para assegurar um acordo de livre comércio de âmbito
continental foram deixados de lado e substituídos por organizações de
integração regional que excluem os EUA e o Canadá. Em substituição,
Washington assinou acordos bilaterais com o México, Colômbia, Chile,
Panamá e Peru.

A América Latina diversificou seus mercados na Ásia e na Europa: a China
substituiu os EUA como seu principal parceiro comercial. Estratégias de
desenvolvimento extractivo e altos preços das commodities financiaram
maior despesa social e independência política.

Nacionalizações selectivas, regulação estatal acrescida e renegociações de
dívida enfraqueceram a alavancagem dos EUA sobre as economias
latino-americanas. A Venezuela, sob o presidente Hugo Chavez, desafiou com
êxito a hegemonia dos EUA no Caribe através de organizações regionais.
Economias do Caribe alcançaram maior independência e viabilidade económica
através da adesão à PETROCARIBE, um programa através do qual recebiam
petróleo da Venezuela a preços subsidiados. Países da América Central e
andino aumentaram a sua segurança e comércio através da organização
regional ALBA. A Venezuela proporcionou um modelo de desenvolvimento
alternativo à abordagem neoliberal centrada nos EUA, na qual os ganhos da
economia extractiva financiaram programas sociais em grande escala.

Desde o fim da administração Clinton até o fim da administração Bush, o
império económico estava em recuo. O império perdeu mercados asiáticos e
latino-americanos para a China. A América Latina ganhou maior
independência política. O Médio Oriente tornou-se "terreno contestado". Um
estado russo revisto e mais forte opôs-se a novas intrusões nas suas
fronteiras. A resistência militar e derrotas no Afeganistão, Somália,
Iraque e Líbano desafiaram a dominância estado-unidense.

Ofensiva imperial: Avança o império de Obama

Todo o mandato do regime Obama tem sido dedicado a reverter o recuo da
construção do império. Para este fim Obama desenvolveu primariamente uma
estratégia militar de (1) confrontação e envolvimento da China e da
Rússia, (2) minagem e derrube de governos independente na América Latina e
re-imposição de regimes clientes neoliberais, e (3) lançamento encoberto e
assaltos militares abertos a regimes independentes por toda a parte.

A ofensiva de construção do império do século XXI difere daquela da década
anterior em vários aspectos cruciais: As doutrinas económicas neoliberais
estão desacreditadas e os eleitorados não são tão facilmente convencidos
dos benefícios de cair sob a hegemonia dos EUA. Por outras palavras, os
construtores do império não podem confiar na diplomacia, em eleições e na
propaganda do livre mercado para expandir o seu braço imperial como faziam
na década de 1990.

Para reverter o recuo e avançar a construção do império no século XXI,
Washington percebeu que tinha de confiar na força e na violência. O regime
Obama destinou milhares de milhões de dólares para financiar armas para
mercenários, salários para combatentes de ruas e despesas de clientes
empenhados em desestabilizar campanhas eleitorais adversárias. Duplicidade
diplomática e acordos rompidos substituíram ajustes negociados – numa
grande escala.

Ao longo de todo o mandato de Obama nem um único avanço imperial foi
assegurado através de eleições, acordos diplomáticos ou negociações
políticas. A presidência Obama procurou e assegurou a massificação da rede
de espionagem global (NSA) e os assassinatos quase diários de adversários
políticos através de drones e por outros meios. Operações encobertas de
assassínio das US Special Forces expandiram-se por todo o mundo. Obama
assumiu prerrogativas ditatoriais, incluindo o poder de ordenar o
assassinato arbitrário de cidadãos dos EUA.

O desdobramento do esforço global do regime Obama para deter o recuo
imperial e relançar a construção do império foi montada quase
exclusivamente sobre instrumentos militares: serviçais armados, assaltos
aéreos, golpes e tomadas de poder putschistas. Brutamontes, populaça,
terroristas islâmicos, militaristas sionistas e uma mixórdia de
retrógrados assassinos separatistas foram as ferramentas do avanço do
império. A escolha de serviçais imperiais variou conforme o momento e as
circunstâncias políticas.

Confrontando e degradando a China:
Envolvimento militar e exclusão económica

Confrontado com a perda de mercados e os desafios da China como competidor
global, Washington desenvolveu duas importantes linhas de ataque: 1. Uma
estratégia económica destinada a aprofundar a integração de países
asiáticos e latino-americanos num pacto de livre comércio que exclui a
China (o Trans Pacific Trade Agreement); e 2. Um plano militar concebido
pelo Pentágono de Batalha Ar-Mar, o qual tem a China continental como alvo
com um assalto aéreo e com mísseis em plena escala se a actual estratégia
de Washington de controlar o comércio marítimo vital da China falhar (FT,
10/Fev/14). Apesar de a estratégia de ofensiva militar ainda estar na mesa
de desenho do Pentágono, o regime Obama está a acumular uma armada
marítima a escassas milhas da costa chinesa, a expandir suas bases
militares nas Filipinas, Austrália e Japão e a apertar o nó em torno das
rotas marítimas estratégicas da China para importações vitais como
petróleo, gás e matérias-primas.

Os EUA estão a promover activamente uma aliança militar indo-japonesa como
parte da sua estratégia de envolvimento da China. Manobras militares
conjuntas, coordenação militar em alto nível e reuniões entre oficiais
militares japoneses e indianos são encaradas pelo Pentágono como avanços
estratégicos no isolamento da China e reforço do controle dos EUA sobre
rotas marítimas da China para o Médio Oriente, o Sudeste Asiático e mais
além. A Índia, de acordo com um dos seus principais semanários, é encarada
"como um parceiro júnior dos EUA. A Indian Navy está a tornar-se
rapidamente o chefe de polícia do Oceano Índico e a dependência militar
indiana do complexo militar-industrial dos EUA é crescente..." (Economic
and Political Weekly (Mumbai), 15/Fev/14, p. 9. Os EUA também estão a
escalar o seu apoio a movimentos separatistas violentos na China,
nomeadamente os tibetanos, uighurs e outros islamistas. A reunião de Obama
com o Dalai Lama foi emblemática dos esforços de Washington para fomentar
inquietação interna.

A grosseira intervenção política do embaixador estado-unidense cessante,
Gary Locke, na política interna chinesa é uma indicação de que a
diplomacia não é o principal instrumento de política do regime Obama
quando se trata da China. O embaixador Locke encontrou-se abertamente com
separatistas uighurs e tibetanos e menosprezou publicamente os êxitos
económicos e o sistema política da China enquanto encorajava abertamente a
oposição política (FT, 28/Fev/14, p. 2).

A tentativa do regime Obama de promover o império na Ásia através da
confrontação militar e de pactos militares, os quais excluem a China,
levou este país a desenvolver sua capacidade militar para evitar o
estrangulamento marítimo. A China responde à ameaça comercial dos EUA
avançando sua capacidade produtiva, diversificando suas relações
comerciais, aumentando seus laços com a Rússia e aprofundando seu mercado
interno.

Até à data, a temerária militarização do Pacífico pelo regime Obama não
levou a uma ruptura aberta nas relações com a China, mas o caminho militar
para avançar o império a expensas da China ameaça uma catástrofe económica
global ou pior, uma guerra mundial.

Avanço imperial: Isolando, cercando e degradando a Rússia

Com a vinda do presidente Vladimir Putin e a reconstituição do estado e da
economia russa, os EUA perderam um cliente vassalo e uma fonte de pilhagem
de riquezas. Os construtores do império de Washington continuaram a
procurar a "cooperação e colaboração" russa minando estados independentes,
isolando a China e prosseguindo suas guerras coloniais. O estado russo,
sob Putin e Medvedev, procurou acomodar os construtores de império
estado-unidenses através de acordos negociados, os quais promoveriam a
posição da Rússia na Europa, reconheceriam fronteiras estratégicas russas
e reconheceriam preocupações russas de segurança. Contudo, a diplomacia
russa conseguiu poucos ganhos e transitórios ao passo que os EUA e a UE
obtiveram grandes importantes ganhos com a cumplicidade e passividade
russa.

A agenda não declarada de Washington, especialmente com o impulso de Obama
para relançar uma nova onda de conquistas imperiais, era minar o
ressurgimento da Rússia como um actor importante na política mundial. A
ideia estratégica era isolar a Rússia, enfraquecer sua crescente presença
internacional e retornar ao status de vassalo do período Yeltsin, se
possível.

Desde a tomada da Europa do Leste pelos EUA-UE, dos estados dos Balcãs e
Bálticos e sua transformação em bases militares da NATO e estado
capitalistas vassalos no princípio da década de 1990, até a penetração e
pilhagem da Rússia durante os anos Yeltsin, o primeiro objectivo da
política ocidental tem sido estabelecer um império unipolar sob dominação
estado-unidense.

A UE e os EUA actuaram para desmembrar a Jugoslávia em mini-estados
subservientes. Eles então bombardearam a Sérvia a fim de tomar o Kosovo,
destruindo um dos poucos países independentes ainda aliados à Rússia. Os
EUA então avançaram a fomentar levantamentos na Geórgia, Ucrânia e
Chechenia. Eles bombardearam, invadiram e posteriormente ocuparam o Iraque
– um antigo aliado russo na região do Golfo.

A estratégia condutora da política estado-unidense era envolver e reduzir
a Rússia ao status de potência fracas, marginal, e minar os esforços de
Vladimir Putin para restaurar a posição da Rússia como uma potência
regional. Em 2008 o regime fantoche de Washington na Geórgia testou a
têmpera do estado russo ao lançar um assalto à Ossécia do Sul, matando
pelo menos 10 russos das forças de manutenção da paz e ferindo centenas
(para não mencionar milhares de civis). O então presidente russo,
Medvedev, respondeu com o envio das forças armadas russas para repelir
tropas georgianas e apoiar a independência da Abcazia e da Ossécia do Sul.


Os acordos diplomáticos dos EUA com a Rússia têm sido assimétricos – a
Rússia devia concordar com a expansão ocidental em troca de "aceitação
política". A duplicidade vencia a diplomacia aberta. Apesar de acordos em
contrário, bases e instalações de mísseis dos EUA foram estabelecidas por
toda a Europa do Leste, apontando à Rússia, sob o pretexto de que estavam
"realmente a apontar ao Irão". Mesmo quando a Rússia protestos pela
ruptura de acordos pós Guerra Fria, o império ignorou queixas de Moscovo e
o envolvimento avançou.

Num novo desastre diplomático, a Rússia e a China assinaram no Conselho de
Segurança das Nações Unidas um acordo de autoria estado-unidense para
permitir à NATO efectuar "voos humanitários" na Líbia. A NATO
imediatamente tomou isto como o "sinal verde" para atacar e converter a
"intervenção humanitária" numa devastadora campanha de bombardeamento
aéreo que levou ao derrube do governo legítimo da Líbia e à sua destruição
como estado viável e independente na África do Norte. Ao assinar na ONU o
acordo "humanitário", a Rússia e a China perderam um governo amigo e um
parceiro comercial na África! Anteriormente, os russos haviam permitido
aos EUA transportar armas e tropas através a Federação Russa para apoiar a
invasão do estado-unidense do Afeganistão ... sem nenhum ganho recíproco
(excepto talvez uma ainda maior inundação de heroína afegã).

Diplomatas russos concordaram com sanções económicas da ONU, contra de
autoria de sionistas dos EUA, contra o não existente programa de armas
nucleares do Irão ... minando um aliado político e um mercado lucrativo.
Moscovo acreditou que ao apoiar sanções dos EUA contra o Irão e conceder
rotas de transporte para o Afeganistão no fim de 2001 receberia algumas
"garantias de segurança" dos americanos em relação a movimentos
separatistas no Cáucaso. O governo americano "retribuiu" com novo apoio a
líderes separatistas chechenos exilados nos EUA apesar das campanhas de
terror em curso contra civis russos – até e mesmo depois da carnificina
chechena de centenas de escolares e professores em Beslan em 2004...

Com os EUA sob Obama a avançarem no seu envolvimento da Rússia na Eurásia
e no seu isolamento na África do Norte e Médio Oriente, Putin finalmente
decidiu traçar uma linha com o apoio ao único aliado remanescente da
Rússia no Médio Oriente, a Síria. Putin pretendeu assegurar um fim
negociado à invasão mercenária de Damasco apoiada por monarquias pró
ocidentais do Golfo. Com pouco proveito: Os EUA e a UE aumentaram
carregamentos de armas, treinadores militares e financiamentos aos 30 mil
mercenários islâmicos com base na Jordânia quando eles se empenhavam em
ataques transfronteiriços para derrubar o governo sírio.

Washington e Bruxelas continuaram seu impulso imperial rumo ao centro da
Rússia ao organizarem e financiarem uma violenta tomada de poder (putsch)
na Ucrânia ocidental. O regime financiou uma coligação de combatentes de
rua neo-nazis armados e políticos neoliberais, ao custo considerável de 5
mil milhões de dólares, para derrubar o regime eleito. Os putschistas
quiseram acabar com a autonomia da Criméia e romper tratados com acordos
militares de longo prazo com a Rússia. Sob enorme pressão do governo
autónomo da Criméia e da vasta maioria da população e enfrentando a perda
crítica das suas instalações navais e militares no Mar Negro, Putin,
finalmente, vigorosamente deslocou tropas russas num modo defensivo na
Criméia.

O regime Obama lançou uma série de movimentos agressivos contra a Rússia
para isolá-la e escorar seu vacilante regime fantoche em Kiev: sanções
económicas e expulsões estavam na ordem do dia ... a tomada da Ucrânia por
Obama assinalou o começo de uma "nova Guerra Fria". A captura da Ucrânia
faz parte da grande estratégia em curso de Obama de avanço do império.

O sequestro do poder na Ucrânia assinalou o maior desafio geopolítico para
a existência contínua do estado russo. Obama procura estender e aprofundar
a varredura imperial através da Europa até o Cáucaso: o violento golpe no
regime e a subsequente defesa do regime fantoche em Kiev são elementos
chaves na minagem de um adversário chave – a Rússia.

Depois de pretender "parceria" com a Rússia, enquanto talhava seus aliados
nos Balcãs e no Médio Oriente durante as décadas anteriores, Obama fez o
seu movimento mais audacioso e mais imprudente. Jogando fora todas as
desculpas de coexistência pacífica e acomodação mútua, o regime Obama
rompeu um acordo de poder partilhado com a Rússia sobre a governação da
Ucrânia e apoiou o putsch neo-nazi.

O regime Obama assumiu que tendo assegurado anteriormente a anuência da
Rússia face ao avanço do poder imperial no Afeganistão, Iraque, Líbia e
região do Golfo, os construtores de império de Washington tomaram a
fatídica decisão de testar a Rússia na sua mais estratégica região
geopolítica, uma região que afecta directamente o povo russo e seus
activos militares mais estratégicos. A Rússia reagiu na única linguagem
entendida em Washington e Bruxelas: com uma importante mobilização
militar. O avanço de Obama com "tácticas de construção de império via
salame" e duplicidade diplomática está a aproximar-se do fim.

O avanço do império no Médio Oriente e América Latina

O avanço imperial da década de 1990 chegou ao fim nos meados a primeira
década do novo milénio. Derrotas no Afeganistão, retirada do Iraque, a
morte de regimes fantoches no Egipto e na Tunísia, perda de eleições na
Ucrânia e a derrota e afundamento de regimes neoliberais pró EUA na
América Latina foram exacerbadas por uma crise económica profunda nos
centros imperiais da Europa e da Wall Street.

Obama tinha poucas opções económicas e políticas para avançar o império.
Mas o seu regime estava determinado a acabar com o recuo e avançar o
império; ele recorreu a tácticas e estratégias mais parecidas com as do
século XIX colonial e de regimes totalitários do século XX.

Os métodos foram violentos – o militarismo foi o eixo a política. Mas numa
época de exaustão imperial interna, novas tácticas militares substituíram
forças invasoras em grande escala sobre o terreno. Mercenários armados por
procuração ganhara o centro do palco no derrube dos regimes alvejados
pelos EUA. Afinidades políticas e ideológicas foram subsumidas sob o
eufemismo genérico de "rebeldes". Os mass media alternavam entre
pressionar por maior escala militar e endossar o nível existente de guerra
imperial. Todo o espectro político na Europa e nos EUA comutou para a
direita – mesmo quando a maioria do eleitorado rejeitou novos compromissos
militares, especialmente guerras no terreno.

Obama escalou tropas no Afeganistão, lançou uma guerra aérea que derrubou
o presidente Kadafi e transformou a Líbia no estado arruinado e
fracassado. Guerras por procuração tornaram-se a nova estratégia para o
avanço imperial na construção do império. A Síria foi alvejado – dezenas
de milhares de extremistas islâmicos foram recrutados e financiados por
regimes imperiais e monarquias despóticas do Golfo. Milhões de refugiados
fugiram, dezenas de milhares foram mortos.

Na América Latina, Obama apoiou o golpe militar em Honduras derrubando o
governo liberal eleito do presidente Manuel Zelaya, no Paraguai reconheceu
um golpe do Congresso que expulsou o governo eleito de centro-esquerda
enquanto se recusou a reconhecer a vitória eleitoral do presidente Maduro
na Venezuela. Face à vitória de Maduro na Venezuela, Washington apoiou
durante vários meses de violência nas ruas numa tentativa de
desestabilizar o país.

Na Ucrânia, Egipto, Venezuela e Tailândia, "a rua" substituiu eleições. Os
objectivos estratégicos imperiais de Obama centraram-se na reconquista e
pilhagem da Rússia e no seu retorno ao status de vassalo dos anos Boris
Yeltsin, no retorno da América Latina aos regimes neoliberais da década de
1990 e na China à docilidade da década de 1980. A estratégia imperial tem
sido "conquistar a partir de dentro" estabelecendo o cenário para a
dominação a partir de fora.

A avançar o império: Israel e o desvio do Médio Oriente

Um dos grandes paradoxos históricos do recuo imperial dos EUA no século
XXI foi o papel desempenhado pela influência de Israel e sua Quinta Coluna
Sionista incorporada dentro da estrutura de poder político
estado-unidense. As guerras de Washington e as sanções no Médio Oriente
foram em grande medida sob as ordens de influentes "Israel Firsters" na
Casa Branca, Pentágono, Tesouro, Conselho de Segurança Nacional e
Congresso.

Foi em grande medida porque os EUA estavam empenhados em guerras no Iraque
e no Afeganistão que Washington "deixou de lado" as crescentes proezas
económicas da China. Ao concentrar-se nas "guerras por Israel" no Médio
Oriente, os EUA não estavam em posição de desafiar a ascensão do
nacionalismo e populismo na América Latina. As prolongadas "guerras por
Israel" esgotaram a economia dos EUA e o entusiasmo do público americano
por novas guerras terrestres alhures.

Ideólogos sionistas, alcunhados "neoconservadores", foram instrumentais em
moldar a abordagem global militarista para a construção do império e em
marginalizar a sua construção sob orientação do mercado, favorecida pelas
multinacionais e pelos gigantes da indústria extractiva.

A tentativa de Obama de travar o recuo do império, inspirada pelo
militarismo sionista, não frutificou. Seu esforço para cooptar sionistas e
pressionar Israel a parar de fomentar novas guerras no Médio Oriente é um
fracasso. O seu "eixo na Ásia" transformou-se numa estratégia cerco
militar bruto da China. Suas aberturas ao Irão foram frustradas pelo bloco
de poder sionista no Congresso pela imposição de termos de negociação
ditados por Israel. Todo o "avanço do projecto de construção do império",
o qual devia definir o legado de Obama, foi enfraquecido pelo enorme custo
de atender aos conselhos e directivas dos lealistas a Israel dentro da sua
administração. Israel, uma das mais brutais potências coloniais,
paradoxalmente e não intencionalmente desempenhou um grande papel na
minagem dos esforços de Obama para reverter o declínio do império e
avançar as dimensões diplomáticas e económicas da construção do império.

Resultados e perspectivas: A avançar o império no período pós neoliberal

O temerário esforço de Obama para avançar o império na segunda década do
século XXI é muito mais perigoso que o dos seus antecessores no fim do
século XX. A Rússia recuperou-se. Já não é o estado em desintegração que
Bush e Clinton desmembraram e pilharam. A China já não é mais uma economia
de mercado em ascensão tão ansiosa para comerciar com os EUA enquanto
fazia vista grossa a incursões americanas em águas territoriais chinesas.
Hoje a China é uma grande potência económica, exercendo alavancagem
económica na forma de US$3 milhões de milhões em bilhetes do Tesouro dos
EUA. A China já não tolera interferência dos EUA na sua política interna –
está desejosa de suprimir separatistas étnicos e terroristas apoiados
pelos EUA.

A América Latina, incluindo a Venezuela, desenvolveu organizações
regionais autónomas, diversificou seus mercados para a Ásia e estabeleceu
um poderoso consenso pós neoliberal. A Venezuela transformou seu
militares, outrora o instrumento favorito de golpes engendrados pelos EUA,
numa fortaleza da ordem democrática existente.

O caminho eleitores para a construção do império estado-unidense foi
fechado ou exige duro "supervisão" imperial para assegurar "resultados
favoráveis". A nova política escolhida por Washington é a violência:
recrutar a ralé para acções, extremistas mercenários, terroristas
islamistas e uighures, neo-nazis e toda a escumalha do mundo para o seu
serviço.

O balanço de seis anos de "avanço do império" sob Obama é duvidoso. O
derrube violento do presidente Kadafi não levou a um regime cliente
estável: a destruição total e o caos na Líbia solaparam a presença
imperial. A Síria está sob ataque mas por islamistas fanáticos
anti-ocidentais. A derrota de Assad não "avançará o império" na medida em
que expandirá o poder do Islão radical (incluindo a Al Qaeda).

O regime fantoche na Ucrânia, de neoliberais e neo-nazis, está
literalmente em bancarrota, dilacerado por conflitos internos e
enfrentando profundas divisões regionais. A Rússia está ameaçada, mas seus
líderes adoptaram acção militar decisiva para defender seus aliados da
Criméia e suas bases militares estratégicas.

Obama provocou e ameaçou adversários mas não assegurou muito em termos de
aliados válidos ou de clientes. Seus esforços para replicar os avanços
imperiais da década de 1990 fracassaram porque mudaram as correlações de
força entre a Europa e a Rússia, o Japão e a China, a Venezuela e a
Colômbia. Mandatários, drones predadores e as US Special Forces não são
capazes de reverter o recuo. A crise económica cortou demasiado
profundamente; a exaustão interna com o império é demasiado generalizada.
O custo de sustentar Israel é demasiado alto. Avançar o império nestas
circunstâncias é um jogo perigoso: arrisca uma guerra nuclear maior para
ultrapassar a adversidade e o recuo.

09/Março/2014
O original encontra-se em www.globalresearch.ca/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

12/Mar/14

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