A promover o império da América: Golpe, pilhagem e duplicidadeA promover o 
      império da América:   Golpe, pilhagem e duplicidade 
      
por James Petras 
     
  O regime Obama, em coordenação com seus aliados serviçais, relançou uma 
      virulenta campanha de âmbito mundial para destruir governos independentes, 
      cercar e finalmente subverter competidores globais, e estabelecer uma nova 
      ordem mundial centrada nos EUA-UE. 
      Prosseguiremos com a identificação dos "ciclos" recentes da construção do 
      império estado-unidense; os avanços e recuos; os métodos e estratégias; os 
      resultados e perspectivas. Nosso foco principal é na dinâmica imperial que 
      conduz os EUA rumo a maiores confrontações militares, até e incluindo 
      condições que podem levar a uma guerra mundial. 
      Ciclos imperiais recentes 
      A construção do império estado-unidense não tem sido um processo linear. 
      As décadas recentes apresentaram amplas evidências de experiências 
      contraditórias. Sumariamente podemos identificar várias fases nas quais a 
      construção do império experimentou avanços amplos e recuos drásticos – com 
      as devidas cautelas. Estamos a examinar processos globais, nos quais 
      também há contra-tendências limitadas. Em meio a avanços imperiais em 
      grande escala, regiões particulares, países ou movimentos resistiram com 
      êxito ou mesmo reverteram a investida imperial. Em segundo lugar, a 
      natureza cíclica da construção do império de modo algum põe em dúvida o 
      carácter imperial do estado e da economia e seu implacável impulso para 
      dominar, explorar e acumular. Em terceiro lugar, os métodos e estratégicas 
      que dirigem cada avanço imperial diferem de acordo com mudanças nos países 
      alvo. 
      Ao longo dos últimos trinta anos podemos identificar três fases na 
      construção do império. 
      O avanço imperial da década de 1980 a 2000 
      No período aproximadamente de meados da década de 1980 ao ano 2000, a 
      construção do império expandiu-se a uma escala global. 
      (A) Expansão imperial nas antigas regiões comunistas. Os EUA e a UE 
      penetraram e hegemonizaram a Europa do Leste; desintegraram e pilharam a 
      Rússia e a URSS; privatizaram e desnacionalizaram centenas de milhares de 
      milhões de dólares do valor de empresas públicas, meios de comunicação 
      social e bancos, incorporaram bases milhares por todas a Europa do Leste 
      na NATO e estabeleceram regimes satélites como cúmplices voluntários em 
      conquistas imperiais na África, Médio Oriente e Ásia. 
      (B) Expansão imperial na América Latina. A partir do princípio da década 
      de 1980 até o fim do século, a construção do império avançou por toda a 
      América Latina sob a fórmula de "mercados livre e eleições livres". 
      Desde o México até a Argentina, regime neoliberais, centrados no império, 
      privatizaram desnacionalizaram mais de 5000 empresas públicas e bancos, 
      beneficiando multinacionais dos EUA e da UE. Líderes políticos 
      alinharam-se com os EUA em fóruns internacionais. Generais 
      latino-americanos responderam favoravelmente a operações militares 
      centradas nos EUA. Banqueiros extraíram milhares de milhões em pagamentos 
      de dívida e lavaram muitos milhares de milhões mais de dinheiro ilícito. O 
      "North American Free Trade Agreement", com a amplitude do continente e 
      centrado nos EUA, pareceu avançar de acordo com o programa. 
      (C) Avanços imperiais na Ásia e na África. Regimes comunistas e 
      nacionalistas deixaram cair suas políticas de esquerda e 
      anti-imperialistas e abriram suas sociedades e economias à penetração 
      capitalista. Em África, dois países "de esquerda", Angola e a África do 
      Sul pós apartheid adoptaram "políticas de mercado livre". 
      Na Ásia, a China e Indochina moveram-se decisivamente em direcção a 
      estratégias capitalistas de desenvolvimento; investimento estrangeiro, 
      privatizações e exploração intensa do trabalho substituíram o 
      igualitarismo colectivista e o anti-imperialismo. A Índia e outros estados 
      capitalistas, como Coreia do Sul, Formosa e Japão, liberalizaram suas 
      economias. Avanços imperiais foram acompanhados por maior volatilidade 
      económica, um aguçamento da luta de classe e uma abertura do processo 
      eleitoral para acomodar facções capitalistas competidoras. 
      A construção do império expandiu-se sob o slogan de "livres mercados e 
      eleições justas" – mercados dominados por multinacionais gigantes e 
      eleições, as quais asseguram os êxitos da elite. 
      Recuos e reveses imperiais: 2000-2008 
      Os custos brutais do avanço do império levaram a uma contra-tendência 
      global, uma onda de levantamentos anti-neoliberais e de resistência 
      militar a invasões dos EUA. Entre 2000 e 2008 a construção do império 
      esteve sob sítio e em recuo. 
      Rússia e China desafiam o império 
      A construção do império estado-unidense cessou a sua expansão e conquista 
      em duas regiões estratégicas: a Rússia e a Ásia. Sob a liderança do 
      presidente Vladimir Putin, o estado russo foi reconstruído; a pilhagem e 
      desintegração foram revertidas. A economia foi aparelhada para o 
      desenvolvimento interno. Os militares foram integrados num sistema de 
      defesa nacional e segurança. A Rússia mais uma vez tornou-se um grande 
      actor na política regional e internacional. 
      A viragem da China rumo ao capitalismo foi acompanhada por uma presença 
      dinâmica do estado e um papel directo na promoção do crescimento a dois 
      dígitos durante duas décadas: a China tornou-se a segunda maior economia 
      do mundo, deslocando os EUA como o grande parceiro comercial na Ásia e na 
      América Latina. O império económico dos EUA estava em retirada. 
      América Latina: o fim do império neoliberal 
      O neoliberalismo e a integração centrada nos EUA levou à pilhagem, crises 
      económicas e grandes levantamentos populares, provocando a ascensão de 
      novos regimes de centro-esquerda e esquerda. Administrações "pós 
      neoliberais" emergiram na Bolívia, Venezuela, Equador, Brasil, Argentina, 
      América Central e Uruguai. Os construtores do império estado-unidense 
      sofreram várias derrotas estratégicas. 
      Os esforços dos EUA para assegurar um acordo de livre comércio de âmbito 
      continental foram deixados de lado e substituídos por organizações de 
      integração regional que excluem os EUA e o Canadá. Em substituição, 
      Washington assinou acordos bilaterais com o México, Colômbia, Chile, 
      Panamá e Peru. 
      A América Latina diversificou seus mercados na Ásia e na Europa: a China 
      substituiu os EUA como seu principal parceiro comercial. Estratégias de 
      desenvolvimento extractivo e altos preços das commodities financiaram 
      maior despesa social e independência política. 
      Nacionalizações selectivas, regulação estatal acrescida e renegociações de 
      dívida enfraqueceram a alavancagem dos EUA sobre as economias 
      latino-americanas. A Venezuela, sob o presidente Hugo Chavez, desafiou com 
      êxito a hegemonia dos EUA no Caribe através de organizações regionais. 
      Economias do Caribe alcançaram maior independência e viabilidade económica 
      através da adesão à PETROCARIBE, um programa através do qual recebiam 
      petróleo da Venezuela a preços subsidiados. Países da América Central e 
      andino aumentaram a sua segurança e comércio através da organização 
      regional ALBA. A Venezuela proporcionou um modelo de desenvolvimento 
      alternativo à abordagem neoliberal centrada nos EUA, na qual os ganhos da 
      economia extractiva financiaram programas sociais em grande escala. 
      Desde o fim da administração Clinton até o fim da administração Bush, o 
      império económico estava em recuo. O império perdeu mercados asiáticos e 
      latino-americanos para a China. A América Latina ganhou maior 
      independência política. O Médio Oriente tornou-se "terreno contestado". Um 
      estado russo revisto e mais forte opôs-se a novas intrusões nas suas 
      fronteiras. A resistência militar e derrotas no Afeganistão, Somália, 
      Iraque e Líbano desafiaram a dominância estado-unidense. 
      Ofensiva imperial: Avança o império de Obama 
      Todo o mandato do regime Obama tem sido dedicado a reverter o recuo da 
      construção do império. Para este fim Obama desenvolveu primariamente uma 
      estratégia militar de (1) confrontação e envolvimento da China e da 
      Rússia, (2) minagem e derrube de governos independente na América Latina e 
      re-imposição de regimes clientes neoliberais, e (3) lançamento encoberto e 
      assaltos militares abertos a regimes independentes por toda a parte. 
      A ofensiva de construção do império do século XXI difere daquela da década 
      anterior em vários aspectos cruciais: As doutrinas económicas neoliberais 
      estão desacreditadas e os eleitorados não são tão facilmente convencidos 
      dos benefícios de cair sob a hegemonia dos EUA. Por outras palavras, os 
      construtores do império não podem confiar na diplomacia, em eleições e na 
      propaganda do livre mercado para expandir o seu braço imperial como faziam 
      na década de 1990. 
      Para reverter o recuo e avançar a construção do império no século XXI, 
      Washington percebeu que tinha de confiar na força e na violência. O regime 
      Obama destinou milhares de milhões de dólares para financiar armas para 
      mercenários, salários para combatentes de ruas e despesas de clientes 
      empenhados em desestabilizar campanhas eleitorais adversárias. Duplicidade 
      diplomática e acordos rompidos substituíram ajustes negociados – numa 
      grande escala. 
      Ao longo de todo o mandato de Obama nem um único avanço imperial foi 
      assegurado através de eleições, acordos diplomáticos ou negociações 
      políticas. A presidência Obama procurou e assegurou a massificação da rede 
      de espionagem global (NSA) e os assassinatos quase diários de adversários 
      políticos através de drones e por outros meios. Operações encobertas de 
      assassínio das US Special Forces expandiram-se por todo o mundo. Obama 
      assumiu prerrogativas ditatoriais, incluindo o poder de ordenar o 
      assassinato arbitrário de cidadãos dos EUA. 
      O desdobramento do esforço global do regime Obama para deter o recuo 
      imperial e relançar a construção do império foi montada quase 
      exclusivamente sobre instrumentos militares: serviçais armados, assaltos 
      aéreos, golpes e tomadas de poder putschistas. Brutamontes, populaça, 
      terroristas islâmicos, militaristas sionistas e uma mixórdia de 
      retrógrados assassinos separatistas foram as ferramentas do avanço do 
      império. A escolha de serviçais imperiais variou conforme o momento e as 
      circunstâncias políticas. 
      Confrontando e degradando a China: 
      Envolvimento militar e exclusão económica 
      Confrontado com a perda de mercados e os desafios da China como competidor 
      global, Washington desenvolveu duas importantes linhas de ataque: 1. Uma 
      estratégia económica destinada a aprofundar a integração de países 
      asiáticos e latino-americanos num pacto de livre comércio que exclui a 
      China (o Trans Pacific Trade Agreement); e 2. Um plano militar concebido 
      pelo Pentágono de Batalha Ar-Mar, o qual tem a China continental como alvo 
      com um assalto aéreo e com mísseis em plena escala se a actual estratégia 
      de Washington de controlar o comércio marítimo vital da China falhar (FT, 
      10/Fev/14). Apesar de a estratégia de ofensiva militar ainda estar na mesa 
      de desenho do Pentágono, o regime Obama está a acumular uma armada 
      marítima a escassas milhas da costa chinesa, a expandir suas bases 
      militares nas Filipinas, Austrália e Japão e a apertar o nó em torno das 
      rotas marítimas estratégicas da China para importações vitais como 
      petróleo, gás e matérias-primas. 
      Os EUA estão a promover activamente uma aliança militar indo-japonesa como 
      parte da sua estratégia de envolvimento da China. Manobras militares 
      conjuntas, coordenação militar em alto nível e reuniões entre oficiais 
      militares japoneses e indianos são encaradas pelo Pentágono como avanços 
      estratégicos no isolamento da China e reforço do controle dos EUA sobre 
      rotas marítimas da China para o Médio Oriente, o Sudeste Asiático e mais 
      além. A Índia, de acordo com um dos seus principais semanários, é encarada 
      "como um parceiro júnior dos EUA. A Indian Navy está a tornar-se 
      rapidamente o chefe de polícia do Oceano Índico e a dependência militar 
      indiana do complexo militar-industrial dos EUA é crescente..." (Economic 
      and Political Weekly (Mumbai), 15/Fev/14, p. 9. Os EUA também estão a 
      escalar o seu apoio a movimentos separatistas violentos na China, 
      nomeadamente os tibetanos, uighurs e outros islamistas. A reunião de Obama 
      com o Dalai Lama foi emblemática dos esforços de Washington para fomentar 
      inquietação interna. 
      A grosseira intervenção política do embaixador estado-unidense cessante, 
      Gary Locke, na política interna chinesa é uma indicação de que a 
      diplomacia não é o principal instrumento de política do regime Obama 
      quando se trata da China. O embaixador Locke encontrou-se abertamente com 
      separatistas uighurs e tibetanos e menosprezou publicamente os êxitos 
      económicos e o sistema política da China enquanto encorajava abertamente a 
      oposição política (FT, 28/Fev/14, p. 2). 
      A tentativa do regime Obama de promover o império na Ásia através da 
      confrontação militar e de pactos militares, os quais excluem a China, 
      levou este país a desenvolver sua capacidade militar para evitar o 
      estrangulamento marítimo. A China responde à ameaça comercial dos EUA 
      avançando sua capacidade produtiva, diversificando suas relações 
      comerciais, aumentando seus laços com a Rússia e aprofundando seu mercado 
      interno. 
      Até à data, a temerária militarização do Pacífico pelo regime Obama não 
      levou a uma ruptura aberta nas relações com a China, mas o caminho militar 
      para avançar o império a expensas da China ameaça uma catástrofe económica 
      global ou pior, uma guerra mundial. 
      Avanço imperial: Isolando, cercando e degradando a Rússia 
      Com a vinda do presidente Vladimir Putin e a reconstituição do estado e da 
      economia russa, os EUA perderam um cliente vassalo e uma fonte de pilhagem 
      de riquezas. Os construtores do império de Washington continuaram a 
      procurar a "cooperação e colaboração" russa minando estados independentes, 
      isolando a China e prosseguindo suas guerras coloniais. O estado russo, 
      sob Putin e Medvedev, procurou acomodar os construtores de império 
      estado-unidenses através de acordos negociados, os quais promoveriam a 
      posição da Rússia na Europa, reconheceriam fronteiras estratégicas russas 
      e reconheceriam preocupações russas de segurança. Contudo, a diplomacia 
      russa conseguiu poucos ganhos e transitórios ao passo que os EUA e a UE 
      obtiveram grandes importantes ganhos com a cumplicidade e passividade 
      russa. 
      A agenda não declarada de Washington, especialmente com o impulso de Obama 
      para relançar uma nova onda de conquistas imperiais, era minar o 
      ressurgimento da Rússia como um actor importante na política mundial. A 
      ideia estratégica era isolar a Rússia, enfraquecer sua crescente presença 
      internacional e retornar ao status de vassalo do período Yeltsin, se 
      possível. 
      Desde a tomada da Europa do Leste pelos EUA-UE, dos estados dos Balcãs e 
      Bálticos e sua transformação em bases militares da NATO e estado 
      capitalistas vassalos no princípio da década de 1990, até a penetração e 
      pilhagem da Rússia durante os anos Yeltsin, o primeiro objectivo da 
      política ocidental tem sido estabelecer um império unipolar sob dominação 
      estado-unidense. 
      A UE e os EUA actuaram para desmembrar a Jugoslávia em mini-estados 
      subservientes. Eles então bombardearam a Sérvia a fim de tomar o Kosovo, 
      destruindo um dos poucos países independentes ainda aliados à Rússia. Os 
      EUA então avançaram a fomentar levantamentos na Geórgia, Ucrânia e 
      Chechenia. Eles bombardearam, invadiram e posteriormente ocuparam o Iraque 
      – um antigo aliado russo na região do Golfo. 
      A estratégia condutora da política estado-unidense era envolver e reduzir 
      a Rússia ao status de potência fracas, marginal, e minar os esforços de 
      Vladimir Putin para restaurar a posição da Rússia como uma potência 
      regional. Em 2008 o regime fantoche de Washington na Geórgia testou a 
      têmpera do estado russo ao lançar um assalto à Ossécia do Sul, matando 
      pelo menos 10 russos das forças de manutenção da paz e ferindo centenas 
      (para não mencionar milhares de civis). O então presidente russo, 
      Medvedev, respondeu com o envio das forças armadas russas para repelir 
      tropas georgianas e apoiar a independência da Abcazia e da Ossécia do Sul. 
      Os acordos diplomáticos dos EUA com a Rússia têm sido assimétricos – a 
      Rússia devia concordar com a expansão ocidental em troca de "aceitação 
      política". A duplicidade vencia a diplomacia aberta. Apesar de acordos em 
      contrário, bases e instalações de mísseis dos EUA foram estabelecidas por 
      toda a Europa do Leste, apontando à Rússia, sob o pretexto de que estavam 
      "realmente a apontar ao Irão". Mesmo quando a Rússia protestos pela 
      ruptura de acordos pós Guerra Fria, o império ignorou queixas de Moscovo e 
      o envolvimento avançou. 
      Num novo desastre diplomático, a Rússia e a China assinaram no Conselho de 
      Segurança das Nações Unidas um acordo de autoria estado-unidense para 
      permitir à NATO efectuar "voos humanitários" na Líbia. A NATO 
      imediatamente tomou isto como o "sinal verde" para atacar e converter a 
      "intervenção humanitária" numa devastadora campanha de bombardeamento 
      aéreo que levou ao derrube do governo legítimo da Líbia e à sua destruição 
      como estado viável e independente na África do Norte. Ao assinar na ONU o 
      acordo "humanitário", a Rússia e a China perderam um governo amigo e um 
      parceiro comercial na África! Anteriormente, os russos haviam permitido 
      aos EUA transportar armas e tropas através a Federação Russa para apoiar a 
      invasão do estado-unidense do Afeganistão ... sem nenhum ganho recíproco 
      (excepto talvez uma ainda maior inundação de heroína afegã). 
      Diplomatas russos concordaram com sanções económicas da ONU, contra de 
      autoria de sionistas dos EUA, contra o não existente programa de armas 
      nucleares do Irão ... minando um aliado político e um mercado lucrativo. 
      Moscovo acreditou que ao apoiar sanções dos EUA contra o Irão e conceder 
      rotas de transporte para o Afeganistão no fim de 2001 receberia algumas 
      "garantias de segurança" dos americanos em relação a movimentos 
      separatistas no Cáucaso. O governo americano "retribuiu" com novo apoio a 
      líderes separatistas chechenos exilados nos EUA apesar das campanhas de 
      terror em curso contra civis russos – até e mesmo depois da carnificina 
      chechena de centenas de escolares e professores em Beslan em 2004... 
      Com os EUA sob Obama a avançarem no seu envolvimento da Rússia na Eurásia 
      e no seu isolamento na África do Norte e Médio Oriente, Putin finalmente 
      decidiu traçar uma linha com o apoio ao único aliado remanescente da 
      Rússia no Médio Oriente, a Síria. Putin pretendeu assegurar um fim 
      negociado à invasão mercenária de Damasco apoiada por monarquias pró 
      ocidentais do Golfo. Com pouco proveito: Os EUA e a UE aumentaram 
      carregamentos de armas, treinadores militares e financiamentos aos 30 mil 
      mercenários islâmicos com base na Jordânia quando eles se empenhavam em 
      ataques transfronteiriços para derrubar o governo sírio. 
      Washington e Bruxelas continuaram seu impulso imperial rumo ao centro da 
      Rússia ao organizarem e financiarem uma violenta tomada de poder (putsch) 
      na Ucrânia ocidental. O regime financiou uma coligação de combatentes de 
      rua neo-nazis armados e políticos neoliberais, ao custo considerável de 5 
      mil milhões de dólares, para derrubar o regime eleito. Os putschistas 
      quiseram acabar com a autonomia da Criméia e romper tratados com acordos 
      militares de longo prazo com a Rússia. Sob enorme pressão do governo 
      autónomo da Criméia e da vasta maioria da população e enfrentando a perda 
      crítica das suas instalações navais e militares no Mar Negro, Putin, 
      finalmente, vigorosamente deslocou tropas russas num modo defensivo na 
      Criméia. 
      O regime Obama lançou uma série de movimentos agressivos contra a Rússia 
      para isolá-la e escorar seu vacilante regime fantoche em Kiev: sanções 
      económicas e expulsões estavam na ordem do dia ... a tomada da Ucrânia por 
      Obama assinalou o começo de uma "nova Guerra Fria". A captura da Ucrânia 
      faz parte da grande estratégia em curso de Obama de avanço do império. 
      O sequestro do poder na Ucrânia assinalou o maior desafio geopolítico para 
      a existência contínua do estado russo. Obama procura estender e aprofundar 
      a varredura imperial através da Europa até o Cáucaso: o violento golpe no 
      regime e a subsequente defesa do regime fantoche em Kiev são elementos 
      chaves na minagem de um adversário chave – a Rússia. 
      Depois de pretender "parceria" com a Rússia, enquanto talhava seus aliados 
      nos Balcãs e no Médio Oriente durante as décadas anteriores, Obama fez o 
      seu movimento mais audacioso e mais imprudente. Jogando fora todas as 
      desculpas de coexistência pacífica e acomodação mútua, o regime Obama 
      rompeu um acordo de poder partilhado com a Rússia sobre a governação da 
      Ucrânia e apoiou o putsch neo-nazi. 
      O regime Obama assumiu que tendo assegurado anteriormente a anuência da 
      Rússia face ao avanço do poder imperial no Afeganistão, Iraque, Líbia e 
      região do Golfo, os construtores de império de Washington tomaram a 
      fatídica decisão de testar a Rússia na sua mais estratégica região 
      geopolítica, uma região que afecta directamente o povo russo e seus 
      activos militares mais estratégicos. A Rússia reagiu na única linguagem 
      entendida em Washington e Bruxelas: com uma importante mobilização 
      militar. O avanço de Obama com "tácticas de construção de império via 
      salame" e duplicidade diplomática está a aproximar-se do fim. 
      O avanço do império no Médio Oriente e América Latina 
      O avanço imperial da década de 1990 chegou ao fim nos meados a primeira 
      década do novo milénio. Derrotas no Afeganistão, retirada do Iraque, a 
      morte de regimes fantoches no Egipto e na Tunísia, perda de eleições na 
      Ucrânia e a derrota e afundamento de regimes neoliberais pró EUA na 
      América Latina foram exacerbadas por uma crise económica profunda nos 
      centros imperiais da Europa e da Wall Street. 
      Obama tinha poucas opções económicas e políticas para avançar o império. 
      Mas o seu regime estava determinado a acabar com o recuo e avançar o 
      império; ele recorreu a tácticas e estratégias mais parecidas com as do 
      século XIX colonial e de regimes totalitários do século XX. 
      Os métodos foram violentos – o militarismo foi o eixo a política. Mas numa 
      época de exaustão imperial interna, novas tácticas militares substituíram 
      forças invasoras em grande escala sobre o terreno. Mercenários armados por 
      procuração ganhara o centro do palco no derrube dos regimes alvejados 
      pelos EUA. Afinidades políticas e ideológicas foram subsumidas sob o 
      eufemismo genérico de "rebeldes". Os mass media alternavam entre 
      pressionar por maior escala militar e endossar o nível existente de guerra 
      imperial. Todo o espectro político na Europa e nos EUA comutou para a 
      direita – mesmo quando a maioria do eleitorado rejeitou novos compromissos 
      militares, especialmente guerras no terreno. 
      Obama escalou tropas no Afeganistão, lançou uma guerra aérea que derrubou 
      o presidente Kadafi e transformou a Líbia no estado arruinado e 
      fracassado. Guerras por procuração tornaram-se a nova estratégia para o 
      avanço imperial na construção do império. A Síria foi alvejado – dezenas 
      de milhares de extremistas islâmicos foram recrutados e financiados por 
      regimes imperiais e monarquias despóticas do Golfo. Milhões de refugiados 
      fugiram, dezenas de milhares foram mortos. 
      Na América Latina, Obama apoiou o golpe militar em Honduras derrubando o 
      governo liberal eleito do presidente Manuel Zelaya, no Paraguai reconheceu 
      um golpe do Congresso que expulsou o governo eleito de centro-esquerda 
      enquanto se recusou a reconhecer a vitória eleitoral do presidente Maduro 
      na Venezuela. Face à vitória de Maduro na Venezuela, Washington apoiou 
      durante vários meses de violência nas ruas numa tentativa de 
      desestabilizar o país. 
      Na Ucrânia, Egipto, Venezuela e Tailândia, "a rua" substituiu eleições. Os 
      objectivos estratégicos imperiais de Obama centraram-se na reconquista e 
      pilhagem da Rússia e no seu retorno ao status de vassalo dos anos Boris 
      Yeltsin, no retorno da América Latina aos regimes neoliberais da década de 
      1990 e na China à docilidade da década de 1980. A estratégia imperial tem 
      sido "conquistar a partir de dentro" estabelecendo o cenário para a 
      dominação a partir de fora. 
      A avançar o império: Israel e o desvio do Médio Oriente 
      Um dos grandes paradoxos históricos do recuo imperial dos EUA no século 
      XXI foi o papel desempenhado pela influência de Israel e sua Quinta Coluna 
      Sionista incorporada dentro da estrutura de poder político 
      estado-unidense. As guerras de Washington e as sanções no Médio Oriente 
      foram em grande medida sob as ordens de influentes "Israel Firsters" na 
      Casa Branca, Pentágono, Tesouro, Conselho de Segurança Nacional e 
      Congresso. 
      Foi em grande medida porque os EUA estavam empenhados em guerras no Iraque 
      e no Afeganistão que Washington "deixou de lado" as crescentes proezas 
      económicas da China. Ao concentrar-se nas "guerras por Israel" no Médio 
      Oriente, os EUA não estavam em posição de desafiar a ascensão do 
      nacionalismo e populismo na América Latina. As prolongadas "guerras por 
      Israel" esgotaram a economia dos EUA e o entusiasmo do público americano 
      por novas guerras terrestres alhures. 
      Ideólogos sionistas, alcunhados "neoconservadores", foram instrumentais em 
      moldar a abordagem global militarista para a construção do império e em 
      marginalizar a sua construção sob orientação do mercado, favorecida pelas 
      multinacionais e pelos gigantes da indústria extractiva. 
      A tentativa de Obama de travar o recuo do império, inspirada pelo 
      militarismo sionista, não frutificou. Seu esforço para cooptar sionistas e 
      pressionar Israel a parar de fomentar novas guerras no Médio Oriente é um 
      fracasso. O seu "eixo na Ásia" transformou-se numa estratégia cerco 
      militar bruto da China. Suas aberturas ao Irão foram frustradas pelo bloco 
      de poder sionista no Congresso pela imposição de termos de negociação 
      ditados por Israel. Todo o "avanço do projecto de construção do império", 
      o qual devia definir o legado de Obama, foi enfraquecido pelo enorme custo 
      de atender aos conselhos e directivas dos lealistas a Israel dentro da sua 
      administração. Israel, uma das mais brutais potências coloniais, 
      paradoxalmente e não intencionalmente desempenhou um grande papel na 
      minagem dos esforços de Obama para reverter o declínio do império e 
      avançar as dimensões diplomáticas e económicas da construção do império. 
      Resultados e perspectivas: A avançar o império no período pós neoliberal 
      O temerário esforço de Obama para avançar o império na segunda década do 
      século XXI é muito mais perigoso que o dos seus antecessores no fim do 
      século XX. A Rússia recuperou-se. Já não é o estado em desintegração que 
      Bush e Clinton desmembraram e pilharam. A China já não é mais uma economia 
      de mercado em ascensão tão ansiosa para comerciar com os EUA enquanto 
      fazia vista grossa a incursões americanas em águas territoriais chinesas. 
      Hoje a China é uma grande potência económica, exercendo alavancagem 
      económica na forma de US$3 milhões de milhões em bilhetes do Tesouro dos 
      EUA. A China já não tolera interferência dos EUA na sua política interna – 
      está desejosa de suprimir separatistas étnicos e terroristas apoiados 
      pelos EUA. 
      A América Latina, incluindo a Venezuela, desenvolveu organizações 
      regionais autónomas, diversificou seus mercados para a Ásia e estabeleceu 
      um poderoso consenso pós neoliberal. A Venezuela transformou seu 
      militares, outrora o instrumento favorito de golpes engendrados pelos EUA, 
      numa fortaleza da ordem democrática existente. 
      O caminho eleitores para a construção do império estado-unidense foi 
      fechado ou exige duro "supervisão" imperial para assegurar "resultados 
      favoráveis". A nova política escolhida por Washington é a violência: 
      recrutar a ralé para acções, extremistas mercenários, terroristas 
      islamistas e uighures, neo-nazis e toda a escumalha do mundo para o seu 
      serviço. 
      O balanço de seis anos de "avanço do império" sob Obama é duvidoso. O 
      derrube violento do presidente Kadafi não levou a um regime cliente 
      estável: a destruição total e o caos na Líbia solaparam a presença 
      imperial. A Síria está sob ataque mas por islamistas fanáticos 
      anti-ocidentais. A derrota de Assad não "avançará o império" na medida em 
      que expandirá o poder do Islão radical (incluindo a Al Qaeda). 
      O regime fantoche na Ucrânia, de neoliberais e neo-nazis, está 
      literalmente em bancarrota, dilacerado por conflitos internos e 
      enfrentando profundas divisões regionais. A Rússia está ameaçada, mas seus 
      líderes adoptaram acção militar decisiva para defender seus aliados da 
      Criméia e suas bases militares estratégicas. 
      Obama provocou e ameaçou adversários mas não assegurou muito em termos de 
      aliados válidos ou de clientes. Seus esforços para replicar os avanços 
      imperiais da década de 1990 fracassaram porque mudaram as correlações de 
      força entre a Europa e a Rússia, o Japão e a China, a Venezuela e a 
      Colômbia. Mandatários, drones predadores e as US Special Forces não são 
      capazes de reverter o recuo. A crise económica cortou demasiado 
      profundamente; a exaustão interna com o império é demasiado generalizada. 
      O custo de sustentar Israel é demasiado alto. Avançar o império nestas 
      circunstâncias é um jogo perigoso: arrisca uma guerra nuclear maior para 
      ultrapassar a adversidade e o recuo. 
      09/Março/2014 
      O original encontra-se em www.globalresearch.ca/... 
      Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . 
12/Mar/14 
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