segunda-feira, 6 de abril de 2015

A guerra termonuclear como possibilidade real





– A Rússia deve esperar um ataque dos EUA

por Paul Craig Roberts


Já há muito queria entrevistar Paul Craig Roberts. Durante muitos anos
acompanhei seus escritos e entrevistas e sempre que o lia esperava ter um
dia o privilégio de entrevista-lo acerca da natureza do estado profundo
dos EUA e do Império. Recentemente, enviei-lhe um email e pedi-lhe uma
entrevista e, muito gentilmente, ele concordou. Fico-lhe muito grato por
esta oportunidade.
The Saker

The Saker: Tem-se tornado bastante óbvio para muita gente, se não para a
maioria, que os EUA não são uma democracia ou uma república, mas antes
uma plutocracia dirigida por uma pequena elite à qual alguns chamam "os
1%". Outros falam do "estado profundo". Assim, minha primeira pergunta é a
seguinte: Podia por favor gastar algum tempo para avaliar a influência e
pode de cada uma das seguintes entidades, uma por uma? Em particular, pode
especificar para cada uma se tem uma posição "top" na tomada de decisão,
ou uma posição "média" na implementação da decisão na estrutura real do
poder (lista sem qualquer ordem específica):
Federal Reserve
Grande banca
Bilderberg
Council on Foreign Relations
Skull & Bones
CIA
Goldman Sachs e bancos de topo
“100 famílias do topo” (Rothschild, Rockefeller, Dutch Royal Family,
British Royal Family, etc.)
Israel Lobby
Maçons e suas lojas

Big Business: Big Oil, Complexo militar-industrial, etc.
Outras pessoas ou organizações não listadas acima?
Quem, qual grupo, que entidade consideraria que está realmente no cimo do
poder na actual política dos EUA?
Paul Craig Roberts: Os EUA são dirigidos por grupos de interesses
privados e pela ideologia neoconservadora que sustenta ter sido escolhido
pela História como o país "excepcional e indispensável" com o direito e a
responsabilidade de impor sua vontade ao mundo.

Na minha opinião os grupos de interesses privados mais poderosos são:
O Complexo militar/segurança
Os quatro ou cinco bancos de mega dimensão "demasiado grandes para
falirem" e a Wall Street
O agronegócio
As indústrias extractivas (petróleo, mineração, madeira).

Os interesses destes grupos coincidem com aqueles dos neoconservadores. A
ideologia neoconservadora apoia o imperialismo ou a hegemonia financeira e
político-militar americana.

Não há imprensa ou TV independente americana. Nos últimos anos do regime
Clinton, 90% dos media impressos e da TV estavam concentrados em seis mega
companhias. Durante o regime Bush, a National Public Radio perdeu sua
independência. Assim, os media funcionam como um Ministério da
Propaganda.

Ambos os partidos políticos, republicanos e democratas, estão dependentes
dos mesmos grupos de interesses privados para fundos de campanha, assim
ambos os partidos dançam para os mesmos mestres. A deslocalização de
empregos destruiu os sindicatos manufactureiros e industriais e privou os
democratas das contribuições políticas de sindicatos trabalhistas.
Naqueles dias, os democratas representavam o povo trabalhador e os
republicanos representavam os negócios.

O Federal Reserve está ali para os bancos, principalmente os grandes. O
Federal Reserve foi criado como prestamista de último recurso para
impedir bancos de falirem devido a corridas bancárias ou retirada de
depósitos. O Fed de Nova York, o qual conduz as intervenções financeiras,
tem uma directoria que consiste nos executivos dos grandes bancos. Os
últimos três presidentes do Federal Reserve foram judeus e o actual
vice-presidente é o antigo governador do banco central israelense. Judeus
são proeminentes no sector financeiro, no Goldman Sachs por exemplo. Nos
últimos anos, os secretários do Tesouro dos EUA e dirigentes das agências
regulatórias financeiras foram principalmente os executivos da banca
responsáveis pela fraude e pela alavancagem excessiva de dívida que
lançaram a última crise financeira.

No século XXI, o Federal Reserve e o Tesouro serviram apenas os
interesses dos grandes bancos. Isto tem sido a expensas da economia e da
população. Exemplo: pessoas reformadas não tiveram o rendimento de juros
durante oito anos a fim de que as instituições financeiras pudessem tomar
emprestado a custo zero e ganhar dinheiro.

Não importa quão ricas sejam algumas famílias, elas não podem competir
com poderosos grupos de interesses tais como o complexo militar/segurança
ou a Wall Street e os bancos. A riqueza estabelecida há muito pode cuidar
dos seus interesses e alguns, tais como os Rockfellers, têm fundações
activistas que na maior parte trabalham provavelmente em estreita
colaboração com o National Endowment for Democracy para financiar e
encorajar várias organizações não governamentais (ONGs) pró americanas em
países que os EUA querem influenciar ou subverter, tal como se verificou
na Ucrânia. As ONGs são essencialmente Quintas Colunas dos EUA e operam
sob nomes como "direitos humanos", "democracia", etc. Um professor chinês
contou-me que a Fundação Rockfeller criou uma universidade americana na
China e que ela é utilizada para organizar diversos chineses anti-regime.
No passado, e talvez ainda hoje, havia na Rússia centenas de ONGs com
financiamento estado-unidense e alemão, possivelmente até 1000.

Não sei se os bilderbergs fazem o mesmo. Possivelmente são apenas pessoas
muito ricas e têm seus protegidos em governos que tentam proteger seus
interesses. Nunca vi quaisquer sinais de bilderbergrs ou maçons ou
Rothchilds a afectarem decisões do Congresso ou do ramo executivo.

Por outro lado, o Council for Foreign Relations é influente. O conselho é
composto de antigos responsáveis da política governamental e académicos
envolvidos em política externa e relações internacionais. A publicação do
conselho, Foreign Affairs, é o principal fórum de política externa.
Alguns jornalistas também são membros. Quando fui proposto como membro na
década de 1980, fui vetado.

A Skull & Bones é uma fraternidade secreta da Universidade de Yale.
Algumas universidades têm tais fraternidades. A Universidade de Virgínia,
por exemplo, tem uma e a da Georgia também. Estas fraternidades não têm
tramas governamentais secretas ou poderes de domínio. Sua influência seria
limitada à influência pessoal dos membros, os quais tendem a ser filhos de
famílias da elite. Na minha opinião, estas fraternidades existem para dar
status de elite aos membros. Elas não têm funções operacionais.

The Saker: E quanto a indivíduos? Quem são, na sua opinião, as pessoas
mais poderosas nos EUA de hoje? Quem toma a decisão estratégica final, em
alto nível?

Paul Craig Roberts: Não há realmente pessoas poderosas por si próprias.
Pessoas poderosas são aquelas que têm por trás grupos de interesses
poderosos. Desde que o secretário da Defesa William Perry privatizou
grande parte das funções militares em 1991, o complexo militar/segurança
tem sido extremamente poderoso e o seu poder é ainda mais ampliado pela
sua capacidade para financiar campanhas políticas e pelo facto de que é
uma fonte de emprego em muitos estados. Essencialmente as despesas do
Pentágono são controladas pelos fornecedores da defesa.

The Saker: Sempre acreditei que em termos internacionais, organizações
tais como a NATO, a UE e todas as outras são apenas uma frente e que a
aliança real que controla o planeta são os países ECHELON: EUA, Reino
Unido, Canada, Austrália e Nova Zelândia, também conhecidos como
"AUSCANNZUKUS" (também são mencionados como a "anglo-esfera" ou os "Cinco
olhos"), sendo os EUA e Reino Unido parceiros sénior e os outros três
parceiros júnior. Será correcto este modelo?

Paul Craig Roberts: A NATO foi uma criação estado-unidense, alegadamente
para proteger a Europa de uma invasão soviética. Seu propósito expirou em
1991. Hoje a NATO proporciona cobertura à agressão dos EUA, bem como
forças mercenárias para o Império Americano. A Grã-Bretanha, Canada,
Austrália são simplesmente estados vassalos dos EUA assim como a Alemanha,
França, Itália, Japão e o resto. Não há parceiros, apenas vassalos. É o
império de Washington, nada mais.

The Saker: Diz-se frequentemente que Israel controla os EUA. Chomsky e
outros dizem que são os EUA que controlam Israel. Como caracterizaria o
relacionamento entre Israel e os EUA – é o cão que abana a cauda ou é a
cauda que abana o cão? Diria que o lobby de Israel está no controle total
dos EUA ou ainda há outras forças capazes de dizer "não" ao lobby
israelense e impor a sua própria agenda?

Paul Craig Roberts : Nunca vi qualquer evidência de que os EUA controlam
Israel. Toda a evidência é de que Israel controla os EUA, mas só na sua
política do Médio Oriente. Nos últimos anos Israel, ou o lobby
israelense, foi capa de controlar ou impedir nomeações académicas nos EUA
e a estabilidade no emprego (tenure) para professores considerados
críticos de Israel. Israel tem tido êxito tanto em universidades católicas
como nas estaduais em travar estabilidades e nomeações. Israel pode também
bloquear algumas nomeações presidenciais e tem uma influência vasta sobre
os media impressos e da TV. O lobby israelense também tem abundância de
dinheiro para financiar campanhas políticas e nunca falha em remover
deputados e senadores dos EUA considerados críticos de Israel. O lobby
israelense foi capaz de penetrar no distrito negro do Congresso de Cynthia
McKinney, uma mulher negra, e derrotá-la na sua reeleição. Como disse o
almirante Tom Moorer, Chefe de Operações Navais e Chefe do Estado-Maior
das Forças Armadas: "Nenhum presidente americano pode enfrentar Israel". O
almirante Moore não pôde sequer conseguir uma investigação oficial ao
ataque mortífero de Israel ao USS Liberty em 1967.

Qualquer um que critique políticas israelenses, mesmo num espírito
colaborativo, é etiquetado como "anti-semita". Na política, nos media e
nas universidades americanas, isto é uma sentença de morte. Você pode ser
atingido por um míssil infernal.

The Saker: Qual das 12 entidades de poder que listei acima tem, na sua
opinião, desempenhado um papel chave no planeamento e execução da operação
"falsa bandeira" do 11/Set? Afinal de contas, é difícil imaginar que isto
foi planeado e preparado entre a posse de GW Bush e o 11 de Setembro –
deve ter sido preparado durante os anos da administração Clinton. Não é
verdade que a bomba de Oklahoma City foi um ensaio para o 11/Set?

Paul Craig Roberts: Na minha opinião o 11/Set foi o produto dos
neoconservadores, muitos dos quais são judeus aliados a Israel, Dick
Cheney, e Israel. Seu objectivo foi proporcionar "o novo Pearl Harbor" que
os neoconservadores disseram ser necessário para lançar suas guerras de
conquista no Médio Oriente. Não sei durante quanto tempo antes foi
planeado, mas Silverstein obviamente fez parte disto e ele não teve o
World Trade Center durante muito tempo antes do 11/Set.

Quanto ao bombardeamento do Murrah Federal Building na cidade de
Oklahoma, o general Partin, da Força Aérea, seu perito em munições,
preparou um relatório técnico provando para além de qualquer dúvida que o
edifício explodiu a partir de dentro, para fora, e que o camião com a
bomba foi encobrimento. O Congresso e os media ignoraram este relatório. O
bode expiatório, McVeigh, já estava definido e isso foi a única estória
permitida.

The Saker: Pensa que as pessoas que dirigem os EUA hoje percebem que
estão numa rota de colisão com a Rússia a qual poderia levar à guerra
termonuclear? Em caso afirmativo, por que é que eles assumiriam tamanho
risco? Será que eles realmente acreditam que no último momento os russos
"piscarão" e recuarão, ou acreditam realmente que podem vencer uma guerra
nuclear? Não terão medo de que numa conflagração nuclear com a Rússia
perderão tudo o que têm, incluindo seu poder e mesmo suas vidas?

Paul Craig Roberts: Estou tão perplexo quanto você. Penso que Washington
está perdida no excesso de confiança e na arrogância e está mais ou menos
insana. Também há a crença de que os EUA podem vencer uma guerra nuclear
com a Rússia. Houve um artigo na Foreign Affairs cerca de 2005 ou 2006
na qual se apresentava esta conclusão. A crença na "vencibilidade" da
guerra nuclear tem sido promovida pela fé nas defesas ABM (Anti-Ballistic
Missile). O argumento é que os EUA podem atingir a Rússia tão duramente
num primeiro ataque antecipativo (preemptive) que a Rússia não
retaliaria por medo de um segundo ataque.

The Saker: Como avalia o actual estado de saúde do Império? Durante
muito anos temos visto sinais claros de declínio, mas ainda não há colapso
visível. Acredita que um tal colapso é inevitável e, se não, como poderia
isto ser impedido? Será que veremos o dia em que o US Dólar subitamente se
tornará sem valor ou será que algum outro mecanismo precipitará o colapso
deste Império?

Paul Craig Roberts: A economia dos EUA está esvaziada. Não tem havido
qualquer crescimento do rendimento real mediano das famílias durante
décadas. Alan Greenspan, como presidente do Fed, utilizava uma expansão
do crédito ao consumidor para substituir o crescimento em falta no
rendimento do mesmo, mas a população está agora demasiado endividada para
contrair mais crédito. Assim, não há nada para conduzir a economia.
Tamanha quantidade de empregos na manufactura e em serviços profissionais
transaccionáveis, como engenharia de software, foram removidos para o
exterior que a classe média sofreu uma contracção. Licenciados em
universidades não podem obter empregos que permitam uma existência
independente. De modo que não podem constituir famílias, comprar casas,
electrodomésticos e mobílias para o lar. O governo produz baixas
mensurações de inflação ao não medir a inflação e baixas taxas de
desemprego ao não medir o desemprego. Os mercados financeiros são
manipulados (rigged) e o ouro deitado abaixo apesar do crescimento da
procura através de vendas shorts a descoberto no mercado de futuros. É
um castelo de cartas que tem aguentado mais tempo do que eu pensava
possível. Aparentemente, o castelo de cartas pode suster-se até que o
resto do mundo cesse de manter o US dólar como reservas.

Possivelmente o império impôs demasiada tensão à Europa ao envolvê-la num
conflito com a Rússia. Se a Alemanha, por exemplo, abandonasse a NATO, o
império entraria em colapso, ou se a Rússia pudesse encontrar engenho
(wits) para financiar a Grécia, a Itália e a Espanha em troca de
abandonarem o Euro e a UE, o império sofreria o golpe fatal.

Alternativamente, a Rússia pode dizer à Europa que não tem nenhuma
alternativa excepto alvejar capitais europeias com armas nucleares uma vez
que a Europa se juntou aos EUA na guerra contra a Rússia.

The Saker: A Rússia e a China fizeram algo único na história e foram
para além do modelo tradicional de constituir uma aliança: concordaram
em tornar-se interdependentes – poder-se-ia dizer que concordaram em ter
um relacionamento simbiótico. Acredita que aqueles que são responsáveis
pelo Império tenham compreendido a mudança tectónica que acaba de
acontecer ou estão simplesmente a cair numa negação profunda porque a
realidade os assusta demasiado?

Paul Craig Roberts: Stephen Cohen diz que simplesmente não há discussão
de política externa. Não há debate. Penso que o império pensa que pode
desestabilizar a Rússia e a China e que isto é uma das razões porque
Washington tem revoluções coloridas a actuarem na Arménia, Quirguistão e
Uzbequistão. Como Washington está determinada a impedir a ascensão de
outras potências e está perdida no excesso de confiança e arrogância, ela
provavelmente acredita que terá êxito. Afinal de contas, a História
escolheu Washington.

The Saker: Na sua opinião, será que eleições presidenciais ainda
importam e, em caso afirmativo, o que é a sua melhor esperança para 2016?
Pessoalmente tenho muito medo de Hillary Clinton a quem considero como uma
pessoa excepcionalmente perigosa e absolutamente perversa, mas com a
actual influência neocon entre os republicanos, podemos realmente esperar
que um candidato não neocon obtenha a nomeação do Partido Republicano?

Paul Craig Roberts: O único meio pelo qual uma eleição presidencial
poderia importar seria se o presidente eleito tivesse por trás um
movimento forte. Sem um movimento, o presidente não tem poder independente
e ninguém para nomear quem fará a sua parte. Os presidentes estão cativos.
Reagan tinha algo de um movimento, apenas o suficiente, com o que fomos
capazes de curar a estagflação apesar da oposição da Wall Street e fomos
capazes de acabar com a guerra-fria apesar da oposição da CIA e do
complexo militar/segurança. Reagan era idoso e vinha de um outro tempo.
Ele assumiu que o gabinete do presidente era poderoso e actuou dessa
forma.

The Saker: O que diz acerca das forças armadas? Pode imaginar um Chefe
do Estado-Maior das Forças Armadas a dizer "não, Sr. Presidente, isso é
louco, não faremos isto" ou espera que os generais obedeçam a qualquer
ordem, incluindo uma para começar uma guerra nuclear contra a Rússia? Tem
alguma esperança de que os militares dos EUA pudessem interferir e travar
os "loucos" actualmente no poder na Casa Branca e no Congresso?

Paul Craig Roberts: Os militares dos EUA são criaturas das indústrias de
armamentos. O objectivo completo de se fazer general é qualificar-se para
ser um consultor na indústria da "defesa", ou tornar-se um executivo ou ir
para a direcção de um empreiteiro da "defesa". Os militares servem como
fonte para carreiras de aposentação quando então os generais ganham o
dinheiro grosso. Os militares dos EUA estão totalmente corruptos. Leia o
livro de Andrew Cockburn, Kill Chain .

The Saker: Se os EUA estão realmente e deliberadamente descendo o
caminho rumo à guerra com a Rússia – o que deveria a Rússia fazer? Deveria
recuar e aceitar ser subjugada como uma opção preferível à guerra
termonuclear, ou deveria resistir e portanto aceitar a possibilidade de
uma guerra termonuclear? Acredita que uma deliberada e muito poderosa
demonstração de força por parte da Rússia poderia deter um ataque dos EUA?

Paul Craig Roberts: Tenho muitas vezes desejado saber acerca disto. Não
posso dizer que sei. Penso que Putin é bastante humano para capitular ao
invés de provocar a destruição do mundo, mas Putin tem de responder a
outros dentro da Rússia e duvido que nacionalistas apoiassem a
capitulação.

Na minha opinião, penso que Putin deveria centrar-se na Europa e torná-la
consciente de que a Rússia espera um ataque americano e não terá qualquer
opção excepto exterminar a Europa como resposta. Putin deveria encorajar a
Europa a desligar-se da NATO a fim de impedir a 3ª Guerra Mundial.

Putin também deveria assegurar-se de que a China entende que representa a
mesma ameaça para os EUA, tanto quanto a Rússia, e que ambos os países têm
de se manter unidos. Talvez se a Rússia e a China mantivessem suas forças
num alerta nuclear, não o alerta máximo, mas um alerta elevado que
transmitisse o reconhecimento da ameaça americana e transmitisse esta
ameaça ao mundo, os EUA pudessem ser isolados.

Talvez se a imprensa indiana, japonesa, francesa, alemã, britânica,
chinesa e russa começassem a informar que a Rússia e a China perguntam se
receberão um ataque nuclear antecipativo (pre-emptive) de Washington o
resultado fosse impedir esse ataque.

Tanto quanto posso dizer a partir das minhas muitas entrevistas com os
media russos, não há consciência russa da Doutrina Wolfowitz . Os russos
pensam que há alguma espécie de mal entendido acerca das intenções russas.
Os media russos não entendem que a Rússia é inaceitável porque a Rússia
não é um vassalo dos EUA. Os russos acreditam em toda asneirada ocidental
acerca de "liberdade e democracia" e acreditam que têm pouco disso mas
estão a fazer progressos. Por outras palavras, os russos não têm ideia de
que são visados para a destruição.

The Saker: Quais são, na sua opinião, as raízes do ódio de tantos
membros das elites estado-unidenses para com a Rússia? Será isso apenas um
resto da Guerra-fria ou haverá uma outra razão para a russofobia quase
universal entre as elites dos EUA? Mesmo durante a Guerra-fria, não estava
claro se os EUA eram anti-comunistas ou anti-russos. Haverá algo na
cultura, nação ou civilização russa que dispare essa hostilidade e, em
caso afirmativo, o que é?

Paul Craig Roberts: A hostilidade para com a Rússia remonta à Doutrina
Wolfowitz:


"Nosso primeiro objectivo é impedir a re-emergência de um novo rival,
tanto no território da antiga União Soviética como alhures, que coloque
uma ameaça da ordem daquela colocada anteriormente pela União Soviética.
Isto é uma consideração dominante subjacente à nova estratégia de defesa
regional e requer que nos empenhemos para impedir qualquer potência hostil
de dominar uma região cujos recursos, sob controle consolidado, seriam
suficientes para gerar poder global".

Enquanto os EUA estavam centrados nas suas guerras no Médio Oriente, Putin
restaurou a Rússia e travou a invasão da Síria planeada por Washington e o
bombardeamento do Irão. O "primeiro objectivo" da doutrina neocon foi
rompido. A Rússia tinha de ser posta em linha. Essa é a origem do ataque de
Washington à Rússia. Os media dependentes e cativos dos EUA e da Europa
simplesmente repetem "a ameaça russa" para o público, o qual está
despreocupado e além disso desinformado.

A ofensa da cultura russa também está aqui – éticas cristãs, respeito à lei
e à humanidade, diplomacia ao invés de coerção, costumes sociais
tradicionais – mas isto é o pano de fundo. A Rússia é odiada porque ela (e a
China) é uma restrição ao poder uno e unilateral de Washington. Esta
restrição é o que levará à guerra.

Se os russos e os chineses não esperarem um ataque nuclear antecipativo por
parte de Washington serão destruídos.


24/Março/2015
O original encontra-se em
thesaker.is/the-saker-interviews-paul-craig-roberts/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

http://www.resistir.info/crise/roberts_entrev_24mar15.html
6/4/2015

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