sexta-feira, 17 de abril de 2015

Cinquenta Anos de Guerras Imperiais: Resultados e Perspectivas





Este artigo constitui uma notável tentativa de sistematização dos processos
através dos quais os EUA aspiram ao poder global. É tanto mais interessante
quanto permite constatar que a categoria “imperialismo”, mesmo quando abordada
de um ponto de vista que diverge da concepção marxista-leninista, permite
identificar traços e contradições essenciais do estado actual do capitalismo.
Coisa que não sucede com os ideólogos que vêm tentando substituir o conceito de
imperialismo pela palavra “império”.
(O Diário.info)


James Petras

Introdução

Nos últimos 50 anos, os EUA e as potências europeias envolveram-se em inúmeras
guerras imperiais em todo o mundo. A vontade de supremacia mundial revestiu-se
da retórica de “liderança do mundo”, cujas consequências foram devastadoras para
os povos atingidos. As maiores, mais longas e mais numerosas guerras foram
conduzidas pelos Estados Unidos. Presidentes de ambos os partidos dirigem e
presidem a esta busca de poder mundial. A ideologia que informa o imperialismo
varia do “anticomunismo” no passado ao “antiterrorismo” de hoje.
A tendência de Washington para o domínio mundial utilizou e combinou muitas
formas de belicismo, incluindo invasões e ocupações militares, exércitos de
mercenários por procuração e golpes militares, financiamento a partidos
políticos, ONG’s e amotinações de rua, para derrubar governos legalmente
constituídos. As forças motrizes no estado imperial por detrás da busca de poder
mundial variam com a localização e composição socioeconómica dos países a
atingir.
O que resulta claro da análise do crescimento do império americano no último
meio século é o relativo declínio dos interesses económicos e o aumento das
considerações político-militares. Isto é em parte devido ao fim dos regimes
colectivistas (URSS e Europa Oriental) e a conversão ao capitalismo da China e
dos regimes de esquerda asiáticos, africanos e latino-americanos. O declínio das
forças económicas como força motriz do imperialismo é um resultado do advento do
neoliberalismo global. A maior parte das multinacionais americanas e europeias
não estão ameaçadas por nacionalizações ou expropriações que possam desencadear
intervenções políticas do estado imperial. De facto, as empresas multinacionais
são convidadas a investir, negociar e explorar os recursos naturais, até por
regimes pós-neoliberais. Os interesses económicos entram em jogo na formulação
das políticas de estado imperiais, se e quando regimes nacionalistas emergem e
desafiam as empresas multinacionais americanas, como no caso da Venezuela com o
presidente Chávez.
A chave para o crescimento do império americano no último meio século
encontra-se na configuração do poder político, militar e ideológico que acabou
por controlar as alavancas do estado imperial. A história recente das guerras
imperiais dos EUA demonstrou que as prioridades militares estratégicas – bases
militares, orçamentos e burocracia – se expandiram muito para além de quaisquer
interesses económicos localizados. Além disso, as vastas despesas e as
dispendiosas intervenções militares do estado imperial dos EUA no Médio-Oriente
foram feitas às ordens de Israel. A detenção de posições políticas estratégicas
no ramo do executivo e no Congresso pela poderosa configuração de poder sionista
nos EUA reforçou a predominância dos interesses militares sobre os económicos.
A “privatização” das guerras imperiais – o vasto crescimento e utilização de
mercenários contratados pelo Pentágono – levou à grande pilhagem de dezenas de
milhares de milhões de dólares do Tesouro dos EUA. Empresas de grande dimensão
que fornecem combatentes militares mercenários tornaram-se uma força muito
“influente” na concepção da natureza e nas consequências do crescimento do
império dos EUA.
Os estrategas militares, os defensores dos interesses coloniais israelitas no
Médio-Oriente, as empresas mercenárias militares e de informações são atores
centrais do estado imperial e é a sua influência na tomada de decisões que
explica porquê as guerras imperiais dos EUA não têm como resultado um império
politicamente estável e economicamente próspero. Em vez disso, as suas políticas
têm tido como resultado economias instáveis, devastadas e em perpétua convulsão.
Prosseguimos identificando as áreas e regiões em mudança no crescimento do
império dos EUA de meados dos anos 70 até à actualidade. Examinaremos então os
métodos, forças motrizes e resultados da expansão imperial. Voltaremos depois a
descrever o corrente mapa geopolítico do crescimento do império e a natureza
variada da resistência anti-imperialista. Concluiremos examinando o como e o
porquê do crescimento do império e, mais particularmente, as consequências e
resultados da expansão imperial dos EUA durante meio século.
O Imperialismo no período pós-Vietnam: Guerras por procuração na América
Central, no Afeganistão e no sul de África
A derrota imperialista na Indochina marca o fim de uma fase do crescimento do
império e o começo de outra: uma mudança das invasões territoriais para guerras
por procuração. Uma opinião pública nacional hostil obstou a guerras terrestres
de grande escala. Iniciando-se durante as presidências de Gerald Ford e James
Carter, o estado imperial dos EUA passou a confiar cada vez mais em clientes por
procuração. Recrutou, financiou e armou forças militares por procuração para a
destruição de vários regimes e movimentos revolucionários nacionalistas e
sociais nos três continentes. Washington financiou e armou forças extremistas
islâmicas em todo o mundo, para invadirem e destruírem o regime secular e
modernizador apoiado pelos soviéticos no Afeganistão, com apoio logístico dos
militares e das agências de informação paquistanesas e a sustentação financeira
da Arábia Saudita.
A segunda intervenção por procuração foi no sul da África, onde o estado
imperial dos EUA financiou e armou forças por procuração contra os regimes
anti-imperialistas em Angola e Moçambique, em aliança com a África do Sul.
A terceira intervenção por procuração teve lugar na América Central, onde os
EUA financiaram, armaram e treinaram esquadrões da morte assassinos nos regimes
da Nicarágua, El Salvador, Guatemala e Honduras, para dizimarem movimentos
populares e revoltas armadas, resultando em mais de 300 mil mortes civis.
A “estratégia da procuração” do estado imperial dos EUA estendeu-se à América
do Sul: a CIA e o Pentágono apoiaram golpes militares que tiveram lugar no
Uruguai (general Alvarez), no Chile (general Pinochet), na Argentina (general
Videla), na Bolívia (general Banzer) e no Peru (general Morales). O crescimento
do império através de procuradores foi largamente por conta das empresas
multinacionais americanas que foram os principais atores no estabelecimento de
prioridades no estado imperial ao longo deste período.
A acompanhar as guerras por procuração, foram as invasões militares directas: a
pequena ilha de Granada (1983) e o Panamá (1989) com os presidentes Reagan e
Bush Sr. Alvos fáceis, com poucas baixas e despesas militares de baixo custo:
ensaios para o relançamento de operações militares de envergadura no futuro
próximo.
O que é notável sobre as “guerras por procuração” é a desigualdade de
resultados. Os resultados na América Central, no Afeganistão e em África não
conduziram a neocolónias prósperas, nem se provaram lucrativos para as empresas
multinacionais americanas. Pelo contrário, os golpes por procuração na América
do Sul levaram a privatizações em grande escala e lucros para essas empresas.
A guerra por procuração no Afeganistão levou ao crescimento e à consolidação do
“regime islâmico” Taliban, que se opôs tanto à influência soviética como à
expansão imperial dos EUA. O crescimento e consolidação do nacionalismo islâmico
desafiaram por sua vez os aliados dos EUA no sul da Ásia e na região do Golfo e
levaram depois a uma invasão militar americana em 2001 e a uma guerra prolongada
(15 anos) e ainda por concluir e, muito provavelmente, a uma retirada e derrota.
Os principais beneficiários económicos foram os clientes políticos do
Afeganistão, os “empreiteiros” militares mercenários americanos, os oficiais
militares intermediários e os administradores civis coloniais que pilharam
centenas de milhares de milhões do Tesouro dos EUA em transacções ilegais e
fraudulentas.
A pilhagem do Tesouro dos EUA não beneficiou de nenhuma forma as empresas
multinacionais não-militares. De facto, a guerra e o movimento de resistência
minaram qualquer entrada de maior escala e de longo prazo do capital privado dos
EUA no Afeganistão e nas regiões fronteiriças adjacentes do Paquistão.
A guerra por procuração no sul da África devastou as economias locais,
especialmente a economia agrícola nacional, deslocou milhões de trabalhadores e
agricultores, e privou as empresas petrolíferas americanas de penetração por
mais de duas décadas. O resultado “positivo” foi a desradicalização da anterior
elite revolucionária nacionalista. No entanto, a conversão política dos
“revolucionários” do sul da África ao neoliberalismo não beneficiou tanto as
empresas multinacionais dos EUA como os dirigentes transformados em oligarcas
cleptocráticos que montaram regimes patrimoniais em associação com uma colecção
diversificada de empresas multinacionais, especialmente da Ásia e Europa.
As guerras por procuração na América Central tiveram resultados diversos. Na
Nicarágua, a revolução sandinista derrotou o regime de Somoza apoiado pelos EUA
e Israel, mas enfrentaram logo de seguida um exército contra-revolucionário
mercenário, financiado, armado e treinado pelos EUA com base nas Honduras (os
“Contras”). A guerra dos EUA destruiu muitos dos projectos económicos
progressistas, minou a economia e mais tarde levou a uma vitória eleitoral da
cliente política apoiada pelos EUA Violeta Chamorro. Duas décadas mais tarde, os
procuradores dos EUA foram derrotados por uma coligação política desradicalizada
encabeçada pelos sandinistas.
Em El Salvador, na Guatemala e nas Honduras, as guerras dos EUA por procuração
levaram à consolidação de regimes clientes presidindo à destruição da economia
produtiva e à fuga de milhões de refugiados de guerra para os Estados Unidos. O
domínio imperial dos EUA corroeu as bases para um mercado de trabalho produtivo
que originou o crescimento de gangues da droga assassinos.
Em resumo, as guerras dos EUA por procuração conseguiram na maior parte dos
casos evitar o aparecimento de regimes nacionalistas de esquerda, mas levaram
também à destruição das bases económicas e políticas de um império estável e
próspero de neocolónias.
O Imperialismo Americano na América Latina: Mudança na Estrutura, Contingências
Externas e Internas, Alteração de Prioridades e Constrangimentos Globais
Para se entender as operações, a estrutura e o desempenho do imperialismo dos
EUA na América Latina, é necessário reconhecer a constelação específica de
forças em competição que conformaram as políticas do estado imperial. Ao
contrário do Médio-Oriente, onde a facção sionista-militarista conseguiu
hegemonia, na América Latina as empresas multinacionais desempenharam um papel
proeminente na direcção da política de estado imperial. Na América Latina, os
militaristas desempenharam um papel mais apagado, constrangidos por (1) o poder
das empresas multinacionais, (2) as mudanças no poder político na América Latina
da direita para o centro-esquerda e (3) o impacto das crises económicas e o boom
de mercadorias.
Em contraste com o Médio-Oriente, a configuração do poder sionista teve pouca
influência sobre a política de estado imperial, visto que os interesses de
Israel estão focados no Médio-Oriente e, com a possível excepção da Argentina, a
América Latina não é uma prioridade.
Durante mais de século e meio, as empresas multinacionais e os bancos
americanos dominaram e ditaram a política imperial dos EUA para a América
Latina. As forças armadas dos EUA e a CIA foram instrumentos de imperialismo
económico através da intervenção directa (invasões), “golpes militares” por
procuração ou uma combinação de ambos.
O poder económico imperial dos EUA na América Latina atingiu o pico entre
1975-1999. Os estados-vassalos e a clientela dirigente foram impostos através de
golpes militares por procuração, invasões militares directas (República
Dominicana, Panamá e Granada) e eleições controladas civil e militarmente.
Os resultados foram o desmantelamento do estado social e a imposição de
políticas neoliberais. O estado imperial conduzido pelas empresas multinacionais
e seus apêndices financeiros internacionais (FMI, BM, IDB) privatizou sectores
económicos estratégicos lucrativos, dominou o comércio e projectou um esquema de
integração regional que iria codificar o domínio imperial dos EUA.
A expansão económica imperial na América Latina não foi simplesmente um
resultado da dinâmica interna e das estruturas das corporações multinacionais,
mas dependeu de (1) a receptividade do país “hospedeiro” ou, mais precisamente,
da correlação interna das forças de classe na América Latina, que por sua vez
giravam à volta (2) do desempenho da economia – seu crescimento e
susceptibilidade às crises.
A América Latina demonstrou que contingências como a perda de regimes clientes
e classes colaboradoras podem ter um profundo impacto negativo na dinâmica do
imperialismo, minando o poder do estado imperial e invertendo o avanço económico
das empresas multinacionais.
O avanço do imperialismo económico americano durante o período 1975-2000 foi
manifesto na adopção de políticas neoliberais, na pilhagem de recursos naturais,
no aumento de dívida ilícita e na transferência do estrangeiro de milhares de
milhões de dólares. Contudo, a concentração de riqueza e propriedade precipitou
uma profunda crise socioeconómica através da região que mais tarde levou ao
derrube ou afastamento de colaboradores imperiais no Equador, na Bolívia, na
Venezuela, na Argentina, no Brasil, no Uruguai, no Paraguai e na Nicarágua.
Poderosos movimentos sociais anti-imperialistas, especialmente no campo,
emergiram no Brasil e nos países andinos. Movimentos urbanos de trabalhadores
desempregados e sindicatos de funcionários públicos na Argentina e no Uruguai
foram pontas de lança para alterações eleitorais, trazendo ao poder regimes de
centro-esquerda que “renegociaram” as relações com o estado imperial dos EUA.
A influência das multinacionais americanas na América Latina desapareceu. Não
podiam contar com a bateria completa de recursos militares do estado imperial
para intervir e voltar a impor clientes neoliberais devido às suas prioridades
militares noutros pontos: Médio-Oriente, sul da Ásia e norte de África.
Ao contrário do passado, as multinacionais americanas na América Latina não
tinham dois apoios essenciais do poder: o apoio completo das forças armadas dos
EUA e clientes civis-militares poderosos na América Latina.
O plano das empresas multinacionais americanas para a integração centrada nos
EUA foi rejeitado pelos regimes de centro-esquerda. O estado imperial voltou-se
para acordos de comércio livre bilaterais com o México, o Chile, a Colômbia, o
Panamá e o Peru. Como resultado das crises económicas e colapso da maior parte
das economias latino-americanas, o “neoliberalismo” como ideologia da penetração
económica imperial ficou desacreditado. Os advogados neoliberais foram
marginalizados.
As mudanças na economia mundial tiveram um profundo impacto no comércio entre
EUA e América Latina e nas relações de investimento. O dinâmico crescimento da
China e a subsequente explosão da procura e o aumento de preço das mercadorias
levaram a um súbito declínio do domínio americano dos mercados
latino-americanos.
O diversificado comércio dos estados latino-americanos procurou e conquistou
novos mercados estrangeiros, especialmente na China. O aumento dos rendimentos
da exportação criou maior capacidade para o autofinanciamento. O FMI, o BM e o
IDB, instrumentos económicos de alavancagem das imposições económicas americanas
(“condicionalidade”) foram postos de lado.
O estado imperial dos EUA enfrentou regimes latino-americanos que abraçaram
diferentes opções económicas, mercados e fontes de financiamento. Com poderoso
apoio popular interno e comando unificado civil-militar, a América Latina
moveu-se a pouco e pouco para fora da esfera de domínio imperialista dos EUA.
O estado imperial e as suas empresas multinacionais, profundamente
influenciadas pelo seu “êxito” nos anos 90, responderam ao declínio de
influência continuando por “tentativa e erro” em face dos constrangimentos
negativos do séc. XXI. Os estrategas políticos apoiados pelas empresas
multinacionais do estado imperial continuaram a apoiar os regimes neoliberais em
colapso, perdendo toda a credibilidade na América Latina. O estado imperial
falhou na adaptação às mudanças, agudizando a oposição de regimes populares e de
centro-esquerda aos “livre mercados” e à desregulação dos bancos. Não foi
preparado qualquer programa de ajuda económica de grande escala para vencer o
centro-esquerda que fosse comparável ao esforço do presidente Kennedy para
contrariar a atracção revolucionária da revolução cubana pela promoção de
reformas sociais através da “Aliança para o Progresso”, provavelmente devido a
restrições orçamentais resultantes das dispendiosas guerras noutros pontos.
A queda dos regimes neoliberais, cola que mantinha unidas as diversas facções
do estado imperial, levou a propostas rivais sobre como recuperar o domínio. A
“facção militarista” virou-se para e reviveu a fórmula do golpe militar para a
restauração desse domínio: foram organizados golpes na Venezuela, no Equador, na
Bolívia, nas Honduras e no Paraguai… todos derrotados com excepção dos dois
últimos. A derrota dos procuradores dos EUA levou à consolidação dos regimes de
centro-esquerda independentes e anti-imperialistas. Mesmo o “êxito” do golpe
americano nas Honduras resultou numa grande derrota diplomática, visto que todos
os governos o condenaram e ao papel dos EUA, isolando ainda mais Washington na
região.
A derrota da estratégia militarista deu força à facção político-diplomática do
estado imperial. Com aberturas positivas a regimes ostensivamente
“centro-esquerda”, esta facção ganhou peso diplomático, manteve as ligações
militares e aprofundou a expansão das empresas multinacionais no Uruguai, no
Brasil, no Chile e no Peru. Com os dois últimos países, a facção imperialista
económica do estado imperial garantiu acordos bilaterais de comércio livre.
Uma terceira facção multinacionais-militar, sobrepondo-se às outras duas,
combinou arranjos político-diplomáticos com Cuba com uma estratégia agressiva de
desestabilização política visando a “mudança de regime” (golpe) na Venezuela.
A heterogeneidade das facções do estado imperial e das suas orientações rivais
reflecte a complexidade de interesses envolvidos no crescimento do império na
América Latina e resulta em políticas aparentemente contraditórias, fenómeno
menos evidente no Médio-Oriente onde a configuração de poder
militarista-sionista domina a decisão política imperial.
Por exemplo, a promoção de bases militares e de operações de contra-revolução
na Colômbia (prioridade da facção militarista) é acompanhada por acordos
bilaterais de livre comércio e negociações de paz entre o regime de Santos e a
revolução armada das FARC (prioridade da facção multinacionais).
A recuperação do domínio imperial na Argentina envolve (1) promover as
possibilidades eleitorais do governador neoliberal de Buenos Aires, Macri, (2)
apoiar o conglomerado de meios de comunicação pró-imperiais Clarin a resistir à
legislação que acaba com o seu monopólio, (3) explorar a morte do procurador e
colaborador da CIA-Mossad Alberto Nisman, para desacreditar o regime
Kirchner-Fernandez, e (4) apoiar o fundo de investimento (abutre) dos
especuladores de New York que tenta extrair pagamentos de juros exorbitantes e,
com a ajuda de duvidosa doutrina jurídica, bloquear o acesso da Argentina aos
mercados financeiros.
Tanto a facção militarista, como a das multinacionais do estado imperial
convergem no apoio à estratégia de múltiplo efeito eleitoral-golpista, que
procura restaurar no poder regimes neoliberais controlados pelos EUA.
As contingências que evitaram a recuperação do poder imperial na década passada
estão agora a actuar ao contrário. A baixa nos preços das mercadorias
enfraqueceu os regimes pós-neoliberais na Venezuela, na Argentina e no Equador.
O retrocesso dos movimentos anti-imperialistas resultante da táctica de
co-optação do centro-esquerda fortaleceu os movimentos e manifestantes de rua de
direita apoiados pelo estado imperial. O declínio do crescimento chinês
enfraqueceu as estratégias latino-americanas de diversificação de mercados. A
balança interna das forças de classe inclinou-se para a direita, para os
clientes políticos apoiados pelos EUA no Brasil, na Argentina, no Peru e no
Paraguai.
Reflexões Teóricas sobre o Crescimento do Império na América Latina
O crescimento do império americano na América Latina é um processo cíclico,
reflectindo as mudanças no poder político e a reestruturação da economia mundial
– forças e factores que “ultrapassam” o estado imperial e a tendência do capital
para a acumulação. A acumulação e a expansão do capital não dependem
simplesmente das forças impessoais “do mercado”, porque as relações sociais sob
as quais o “mercado” funciona operam segundo as condições da luta de classes.
A peça central das actividades do estado imperial, designadamente as guerras
territoriais prolongadas no Médio-Oriente, está ausente da América Latina. A
força motriz da política do estado imperial dos EUA é a procura de recursos
(agrominerais), força de trabalho (autotrabalhadores de baixo salário) e
mercados (dimensão e poder de compra de 600 milhões de consumidores). Os
interesses económicos das empresas multinacionais são a razão da expansão
imperial.
Ainda que, de um ponto de vista da vantagem geostratégica, as Caraíbas, a
América Central e também a América do Sul estejam localizadas bastante próximo
dos EUA, são os objectivos económicos e não militares os que predominam.
Contudo, a facção militar-sionista do estado imperial ignora estas razões
económicas tradicionais e escolhe deliberadamente actuar segundo outras
prioridades – controle das regiões produtoras de petróleo, destruição de países
ou movimentos islâmicos, ou simplesmente eliminação de adversários
anti-imperialistas. A facção militar-sionista conta os “benefícios” para Israel
e a supremacia militar no Médio-Oriente mais importantes do que garantir a
supremacia económica dos EUA na América Latina. É este claramente o caso, se
medirmos as prioridades imperiais pelos recursos estatais despendidos na
prossecução de objectivos políticos.
Mesmo considerando o objectivo da “segurança nacional”, interpretada no seu
sentido mais vasto de garantir a segurança do território nacional do império, o
assalto militar americano aos países islâmicos impulsionado pela correspondente
ideologia islamofóbica, as resultantes matanças em massa e a deslocação de
milhões nos povos islâmicos levaram a um efeito de resposta: o terrorismo
recíproco. As “guerras totais” americanas contra civis provocaram assaltos
islâmicos contra cidadãos ocidentais.
Os países da América Latina visados pelo imperialismo económico são menos
beligerantes do que os países do Médio-Oriente visados pelos militaristas dos
EUA. Uma análise custo/benefício demonstraria a natureza totalmente “irracional”
da estratégia militarista. Contudo, se tivermos em consideração a composição
específica e os interesses que motivam particularmente os estrategas políticos
do estado imperial, há uma espécie de “racionalidade” perversa. Os militaristas
defendem a “racionalidade” das dispendiosas e infindáveis guerras referindo as
vantagens da apropriação das “portas do petróleo” e os sionistas referem o seu
êxito no aumento do poder regional de Israel.
Enquanto a América Latina foi durante mais de um século uma região prioritária
para a conquista económica do império, no século XXI perdeu a sua primazia para
o Médio-Oriente.
O Desaparecimento da URSS e a conversão da China ao Capitalismo
O maior impulso para o êxito da expansão imperial americana não teve lugar
através de guerras por procuração ou invasões militares. Em vez disso, o império
dos EUA atingiu o seu maior crescimento e conquistas com a ajuda de líderes
políticos clientes e de organizações e estados vassalos ao longo da ex-URSS, da
Europa ocidental, dos estados bálticos, dos Balcãs e do Cáucaso. A penetração
política a longo prazo e em larga escala dos EUA e da UE junto com financiamento
conseguiram derrubar os regimes colectivistas hegemónicos na Rússia e na URSS e
instalar estados-vassalos. Iriam rapidamente servir a NATO e ser incorporados na
União Europeia. Bonn anexou a Alemanha Oriental e dominou os mercados da
Polónia, República Checa e outros estados centro-europeus. Os banqueiros dos EUA
e de Londres colaboraram com os oligarcas-gangsters russo-israelitas em
parcerias pilhadoras de recursos, de indústrias, de propriedades e de fundos de
pensão. A União Europeia explorou dezenas de milhões de cientistas, técnicos e
operários altamente qualificados, importando-os e privando-os das suas
protecções e direitos laborais e explorando-os como reserva barata de força de
trabalho no seu próprio país.
O “convidado imperialismo”, recebido pelo regime vassalo de Ieltsin,
apropriou-se facilmente da riqueza russa. As forças militares do ex-Pacto de
Varsóvia foram incorporadas numa legião estrangeira para guerras imperiais
americanas no Afeganistão, no Iraque e na Síria. As instalações militares foram
convertidas em bases militares e bases de mísseis cercando a Rússia.
A conquista imperial do Leste criou um “mundo unipolar” no qual os decisores e
os estrategas de Washington, como poder mundial supremo, acreditaram poder
intervir em qualquer região impunemente.
O alcance e profundidade do império mundial dos EUA foi ampliado pela adopção
do capitalismo pela China e pelo convite dos seus dirigentes às empresas
multinacionais dos EUA e da UE para entrarem e explorarem o trabalho barato dos
chineses. A expansão global do império americano conduziu a um poder sem limites
encorajando os seus dirigentes para exercerem poder contra qualquer adversário
ou competidor.
Entre 1990 e 2000, os EUA expandiram as suas bases militares até às fronteiras
da Rússia. As empresas multinacionais americanas expandiram-se para a China e
Indochina. Os regimes apoiados pelos americanos na América Latina desmantelaram
as economias nacionais, privatizando e desnacionalizando mais de cinco mil
empresas estratégicas lucrativas. Todos os sectores foram afectados: recursos
naturais, transportes, telecomunicações e finança.
Os EUA continuaram ao longo dos anos 90 a expandir-se através de penetração
política e força militar. O presidente George H.W. Bush desencadeou uma guerra
contra o Iraque. Clinton bombardeou a Jugoslávia e a Alemanha e a UE juntaram-se
aos EUA na divisão da Jugoslávia em “mini-estados”.
O Ano-charneira de 2000: Auge e Declínio do Império
A expansão imperial muito rápida e extensa entre 1989-1999, as fáceis
conquistas e as correspondentes pilhagens, criaram as condições para o declínio
do império americano.
O saque e empobrecimento da Rússia levou à ascensão de uma nova liderança com a
vontade do presidente Putin de reconstruir o Estado e a economia e acabar com a
vassalagem.
A liderança chinesa transformou a sua dependência do Ocidente em investimentos
de capital e tecnologia em instrumentos de criação de uma poderosa economia
exportadora e crescimento de um dinâmico complexo produtivo público-privado
nacional. Os centros imperiais da finança que floresceram sob uma regulação
laxista faliram. As fundações nacionais do império foram severamente abaladas. A
máquina de guerra imperial rivalizou com o sector financeiro para os subsídios e
despesas orçamentais federais.
O fácil crescimento do império levou à sua sobre-extensão. Múltiplas áreas de
conflito, reflectiram um ressentimento e uma hostilidade globais perante a
destruição trazida pelos bombardeamentos e pelas invasões. Os clientes políticos
e colaboradores do império enfraqueceram. O império mundial excedeu a capacidade
dos EUA policiarem com êxito os seus novos estados-vassalos. Os entrepostos
coloniais exigiram novas incorporações de tropas, armas e fundos numa altura em
que pressões internas contrárias pediam a redução de gastos e a retirada.
Todas as conquistas recentes fora da Europa foram dispendiosas. O sentimento de
invencibilidade e impunidade levaram os planificadores imperiais a sobrestimar a
sua capacidade de expansão, manutenção, controle e contenção da inevitável
resistência anti-imperialista.
As crises e o colapso dos estados-vassalos neoliberais na América Latina
aceleraram. Levantamentos anti-imperialistas espalharam-se da Venezuela (1999),
para a Argentina (2001), Equador (2000-2005) e Bolívia (2003-2005). Regimes de
centro-esquerda emergiram no Brasil, Uruguai e Honduras. Movimentos de massas em
regiões rurais entre comunidades índias e mineiras ganharam impulso. Os planos
imperiais formulados para garantir a integração com base nos EUA foram
rejeitados. Em vez disso, proliferaram os pactos regionais com exclusão dos EUA
– ALBA, UNASUR, CELAC. A rebelião interna da América Latina coincidiu com a
ascensão económica da China. O surto prolongado de mercadorias enfraqueceu
seriamente a supremacia imperial dos EUA. Os EUA tinham poucos aliados locais na
América Latina e compromissos super ambiciosos para o controle do Médio-Oriente,
do sul da Ásia e do norte de África.
Washington perdeu a maioria automática na América Latina: o seu apoio a golpes
nas Honduras e no Paraguai, a sua intervenção na Venezuela (2002) e o bloqueio a
Cuba foram repudiados por todos os regimes, mesmo pelos aliados conservadores.
Tendo estabelecido facilmente um império global, Washington deu-se conta de que
não era tão fácil defendê-lo. Os estrategas globais em Washington encararam as
guerras do Médio-Oriente através do prisma das prioridades militares israelitas,
ignorando os interesses económicos globais das empresas multinacionais.
Os estrategas militares imperiais sobrestimaram a capacidade militar dos
vassalos e clientes, mal preparados por Washington para governarem países com
crescentes movimentos de resistência nacional armada. Guerras, invasões e
ocupações militares foram iniciadas em múltiplos sítios. Iémen, Somália, Líbia e
Paquistão juntaram-se ao Afeganistão e ao Iraque. As despesas do estado imperial
dos EUA ultrapassaram de longe toda a transferência de riqueza a partir dos
países ocupados.
Uma vasta burocracia civil-militar-mercenária pilhou centenas de milhares de
milhões de dólares do Tesouro americano.
A prevalência das guerras de conquista destruiu as fundações da infra-estrutura
económica necessária para a entrada e para o lucro das empresas multinacionais.
Uma vez entrincheirada nas concepções militares estratégicas do império, a
liderança político-militar do estado imperial preparou uma ideologia global para
justificar e motivar uma política de guerra múltipla e permanente. A doutrina da
“guerra ao terrorismo” justificou a guerra em todo e qualquer lado. A doutrina
era “elástica” – adaptada a qualquer região de conflito e convidando a novos
envolvimentos militares: o Afeganistão, a Líbia, o Irão e o Líbano foram todos
designados como zonas de guerra. A “doutrina do terrorismo”, de alcance global,
forneceu uma justificação para múltiplas guerras e para a destruição massiva (e
não a exploração) de sociedades e recursos económicos. Acima de tudo, a “guerra
ao terrorismo” justificou tortura (Abu Ghraib), campos de concentração
(Guantánamo) e alvos civis em todo o lado (via drones). Foram retiradas e depois
reenviadas tropas para o Afeganistão e Iraque quando a resistência nacionalista
avançou. Milhares de Forças Especiais estiveram activas em inúmeros países,
espalhando a morte e o caos.
Além disso, a deslocação violenta, a degradação e a estigmatização de povos
islâmicos inteiros levaram à difusão da violência nos centros imperiais de
Paris, Nova Iorque, Londres, Madrid e Copenhaga. A globalização do terror do
estado imperial conduziu ao terror individual.
O terror imperial suscitou o terror interno: o primeiro à escala das massas
sustentadamente abrangendo civilizações inteiras e conduzido e justificado por
funcionários políticos eleitos e autoridades militares, o último através de um
entrecruzar de “internacionalistas” que se identificam directamente com as
vítimas do terror do estado imperial.
O Imperialismo Contemporâneo: Perspectivas Atuais e Futuras
Para perceber o futuro do imperialismo americano, é importante recapitular e
avaliar a experiência e as políticas do passado quarto de século.
Se compararmos o crescimento do império americano entre 1990 e 2015, é evidente
o seu declínio económico, político e mesmo militar na maior parte das regiões do
mundo, embora o processo de declínio não seja linear, nem provavelmente
irreversível.
Apesar das palavras em Washington sobre a reconfiguração das prioridades
imperiais de forma a ter em conta os interesses económicos das multinacionais,
pouco foi conseguido… O chamado “pivot da Ásia” de Obama resultou em novos
acordos sobre bases militares à volta da China com o Japão, a Austrália e as
Filipinas e reflecte uma inabilidade para realizar acordos de comércio livre que
excluem a China. Entretanto, os EUA recomeçaram militarmente a guerra e
reentraram no Iraque e no Afeganistão, além de lançarem novas guerras na Síria e
na Ucrânia. É evidente que a primazia da facção militar é ainda o factor
determinante no desenho das políticas do estado imperial.
A deriva militar imperial é mais evidente na intervenção dos EUA em apoio ao
golpe da Ucrânia e no subsequente financiamento e armamento da junta de Kiev. A
tomada imperial da Ucrânia e os planos para a sua incorporação na UE e na NATO
representam agressão militar na sua forma mais descarada. A expansão das bases
militares americanas, as manobras militares nas fronteiras da Rússia e as
sanções económicas iniciadas pelos EUA prejudicaram seriamente o comércio e o
investimento da UE na Rússia. O crescimento do império americano continua a dar
prioridade à expansão militar mesmo à custa dos interesses económicos imperiais
do Ocidente na Europa.
Os bombardeamentos da Líbia pelos EUA e UE destruíram os florescentes acordos
de comércio e investimento entre as multinacionais imperiais do petróleo e do
gás e o governo de Khadafi… Os assaltos aéreos da NATO destruíram a economia, a
sociedade e o ordenamento político, convertendo a Líbia num território dominado
por clãs guerreiros, gangues, terroristas e criminosos armados.
No meio século que passou, a liderança e as estratégias políticas do estado
imperial mudaram completamente. Durante o período entre 1975-1990, as empresas
multinacionais desempenharam um papel central na definição da direcção da
política do estado imperial: alavancando mercados na Ásia, negociando aberturas
de mercados com a China, promovendo e apoiando regimes militares e civis
neoliberais na América Latina, instalando e financiando regimes pró-capitalistas
na Rússia, na Europa de Leste, no Báltico e nos Balcãs. Mesmo nos casos em que o
estado imperial recorria à intervenção militar, como na Jugoslávia e Iraque, os
bombardeamentos levaram a oportunidades favoráveis economicamente para as
empresas multinacionais americanas. O regime de Bush Sr promoveu os interesses
americanos no petróleo através de um acordo de comida por petróleo com Saddam
Hussein no Iraque.
Clinton promoveu regimes de livre mercado nos mini-estados resultantes do
desmembramento da Jugoslávia socialista.
Contudo, a liderança e as políticas do estado imperial mudaram dramaticamente
durante os últimos anos 90 para a frente. O estado imperial do presidente
Clinton era composto por representantes de longa data das empresas
multinacionais, banqueiros da Wall Street e funcionários sionistas militaristas
em recente ascensão.
O resultado foi uma política híbrida na qual o estado imperial promoveu
activamente oportunidades para as empresas multinacionais em regimes neoliberais
nos países ex-comunistas da Europa e na América Latina e expandiu as ligações
dessas empresas com a China e o Vietnam, enquanto lançou intervenções militares
destrutivas na Somália, na Jugoslávia e no Iraque.
O “balanço de forças” dentro do estado imperialista mudou dramaticamente a
favor da facção militarista-sionista com o ataque terrorista do 11 de Setembro
de duvidosa origem e as demolições de falsa bandeira em Nova Iorque e Washington
serviram para firmar os militaristas no controle de um aparelho de estado
imperial vastamente expandido. Como consequência do 11 de Setembro, a facção
militarista-sionista do estado imperial subordinou os interesses das empresas
multinacionais à sua estratégia de guerras totais. Isto, por sua vez, levou à
invasão, ocupação e destruição das infra-estruturas civilizacionais no Iraque e
no Afeganistão (em vez de a ligar à expansão das empresas multinacionais). O
regime colonial dos EUA desmantelou o estado iraquiano (em vez de o reordenar ao
serviço das empresas multinacionais). O assassinato e emigração forçada de
milhões de profissionais especializados, gestores e oficiais da polícia e do
exército inviabilizou qualquer recuperação económica (em vez de os incorporar ao
serviço do estado colonial e das empresas multinacionais).
A ascendência militarista-sionista no estado imperial introduziu alterações
importantes na política, na orientação, nas prioridades e no modus operandi do
imperialismo americano. A ideologia da “guerra global ao terrorismo” substituiu
a doutrina de promoção da “globalização económica” das multinacionais.
As guerras perpétuas (os “terroristas” não ficaram confinados a determinado
lugar ou época) substituíram as guerras ou intervenções limitadas dirigidas para
a abertura de mercados ou a mudança de regimes que pusessem em prática políticas
neoliberais favoráveis às empresas multinacionais.
O locus da actividade do estado imperial mudou da exploração de oportunidades
económicas na Ásia, na América Latina e nos países ex-comunistas da Europa de
Leste para as guerras no Médio-Oriente, no sul da Ásia e no norte de África,
visando países muçulmanos que se opõem à expansão colonial de Israel na
Palestina, na Síria, no Líbano e noutras zonas.
A nova concepção da configuração do crescimento do império do poder militarista
requer vastas despesas de milhões de milhões de dólares, sem atender ou pensar
no retorno de capital privado. Em contraste, sob a hegemonia das multinacionais,
o estado imperial intervinha para assegurar as concessões de petróleo, gás e
minerais na América Latina e no Médio-Oriente. Os custos da conquista militar
eram mais do que compensados pelo retorno para as empresas multinacionais. A
configuração militarista do estado imperial pilhou o Tesouro dos EUA para
financiar as ocupações, o vasto exército de colaboradores coloniais corruptos,
os “empreiteiros militares” de mercenários privados e, rapidamente milionários,
os funcionários do aprovisionamento (sic) militar americano.
Anteriormente, a exploração ultramarina dirigida para as empresas
multinacionais conduzia a elevado retorno para o Tesouro dos EUA, tanto em
termos de pagamento de taxas directas, como no rendimento gerado no comércio e
processamento de matérias-primas.
Na passada década e meia, os maiores e mais estáveis retornos para as empresas
multinacionais tiveram lugar em regiões e países onde o estado imperial
militarizado esteve menos envolvido – China, América Latina e Europa. As
multinacionais tiveram menos lucros e perderam mais em áreas de maior
envolvimento do estado imperial.
As “zonas de guerra” que se estenderam pela Líbia, Somália, Líbano, Síria,
Iraque, Ucrânia, Irão e Afeganistão e Paquistão são as regiões onde as empresas
multinacionais imperiais sofreram maior declínio e abandono.
Os principais “beneficiários” das actuais políticas do estado imperial são os
empreiteiros de guerra e o complexo segurança-militar-industrial nos EUA. No
estrangeiro, beneficiários estatais incluem Israel e a Arábia Saudita… Além
desses, os governantes-clientes da Jordânia, Egipto, Iraque, Afeganistão e
Paquistão encaixaram dezenas de milhares de milhões em contas bancárias privadas
em paraísos fiscais.
Os beneficiários “não-estatais” incluem mercenários e exércitos de procuração.
Na Síria, no Iraque, na Líbia, na Somália e na Ucrânia, dezenas de milhares de
colaboradores das organizações “não-governamentais” também se aproveitaram.
O Cálculo Custo-Benefício ou o Crescimento do Império sob a Égide do Estado
Imperial Militarista-Sionista
Passou já tempo suficiente sobre a última década e meia de domínio
militarista-sionista do estado imperial para que possa ser feita a avaliação do
seu desempenho
Os EUA e seus aliados ocidentais, em especial a Alemanha, expandiram com êxito
o seu império na Europa de Leste, nos Balcãs e no Báltico sem dispararem um
tiro. Estes países foram convertidos em estados vassalos da UE. Os seus mercados
foram dominados e as suas indústrias desnacionalizadas. As forças armadas foram
recrutadas como mercenárias da NATO. A Alemanha Ocidental anexou a Alemanha
Oriental. Força de trabalho qualificada e barata fez, como imigrante e força de
reserva, aumentar os lucros das multinacionais da UE e dos EUA. A Rússia ficou
temporariamente reduzida a estado vassalo entre 1991-2001. O seu nível de vida
afundou-se e os programas sociais foram reduzidos. As desigualdades entre
classes aprofundaram-se. Milionários e multimilionários apanharam os recursos
públicos e juntaram-se às multinacionais imperiais pilhando a economia. Os
dirigentes e partidos socialistas e comunistas foram reprimidos ou cooptados. Em
contraste, a expansão imperial militar do séc. XXI foi um falhanço ruinoso. A
“guerra no Afeganistão” foi dispendiosa em vidas e bens e levou a uma retirada
ignominiosa. O que ficou foi um frágil regime-fantoche e um corpo militar
mercenário pouco fiável. A guerra EUA-Afeganistão foi a mais longa guerra da
história dos EUA e um dos seus maiores falhanços. No final, os movimentos de
resistência nacionalista islâmicos, os chamados talibã e os grupos aliados de
resistência nacionalista anti-imperialista e etno-religiosos, dominam o campo,
penetram repetidamente e atacam centros urbanos e preparam-se para tomar o
poder.
A guerra do Iraque e a invasão e ocupação de uma década pelo estado imperial
dizimaram a economia. A ocupação fomentou a guerra etno-religiosa. Os
funcionários civis do Bath e os militares profissionais juntaram-se aos
islamitas nacionalistas e formaram depois um poderoso movimento de resistência
(ISIS) que derrotou o exército mercenário Shia apoiado pelo império durante a
segunda década da guerra. O estado imperial foi forçado a regressar e a
envolver-se directamente numa guerra prolongada. O custo da guerra disparou para
mais de 1 milhão de milhões de dólares. A exploração do petróleo tornou-se mais
difícil e o Tesouro dos EUA despejou dezenas de milhares de milhões para manter
uma “guerra sem fim”.
O estado imperial americano e a UE, junto com a Arábia Saudita e a Turquia
financiaram milícias armadas mercenárias islâmicas para invadirem a Síria e
destruírem o regime secular, nacionalista e anti-sionista de Bashar Assad. A
guerra imperial abriu as portas à expansão do Estado Islâmico / forças do Bath /
ISIS na Síria. Os curdos e outros grupos armados apoderaram-se do território,
fragmentando o país. Após cerca de 5 anos de guerra e custos militares
crescentes, as multinacionais dos EUA e da UE foram expulsas do mercado sírio.
O apoio dos EUA à agressão de Israel contra o Líbano levou ao aumento de poder
da resistência armada anti-imperialista do Hezbollah. O Líbano, a Síria e o Irão
representam agora uma alternativa séria ao eixo EUA, EU, Arábia Saudita, Israel.
A política americana de sanções contra o Irão não conseguiu minar o regime
nacionalista e comprometeu totalmente as oportunidades económicas de todas as
principais empresas multinacionais do petróleo e gás dos EUA e UE, assim como
dos exportadores industriais americanos. Foram substituídas pela China.
A invasão da Líbia pelos EUA e UE levou à destruição da economia e à perda de
milhares de milhões de investimentos das multinacionais e ao fim das
exportações.
A tomada do poder pelo estado imperial dos EUA através de um golpe por
procuração em Kiev, provocou uma poderosa revolta anti-imperialista conduzida
pela milícia armada no Leste (Donetsk e Luhansk) e ao dizimar da economia da
Ucrânia.
Em resumo, a tomada de poder militar-sionista do estado imperial levou a
guerras prolongadas e onerosas que não se podem vencer e que minaram os mercados
e os locais de investimento para as empresas multinacionais americanas. O
militarismo imperial minou a presença económica imperial e provocou movimentos
crescentes de resistência anti-imperialista de longo prazo, assim como países
inviáveis, caóticos e instáveis fora do controle imperial.
O imperialismo económico continuou a aproveitar-se em parte da Europa, da Ásia,
da América Latina e de África, apesar das guerras imperiais e das sanções
económicas prosseguidas pelo altamente militarizado estado imperial noutros
sítios.
No entanto, a tomada do poder na Ucrânia pelos militaristas americanos e as
sanções contra a Rússia corroeram o lucrativo mercado e os investimentos da
União Europeia na Rússia. A Ucrânia tutelada pelo FMI, UE e EUA tornou-se uma
economia endividada e quebrada conduzida por cleptocratas totalmente dependentes
de empréstimos estrangeiros e da intervenção militar.
O estado imperial militarizado, ao dar prioridade ao conflito e às sanções à
Rússia, Irão e Síria, perdeu no aprofundamento e expansão dos laços económicos
com a Ásia, a América Latina e África. A conquista política e económica da
Europa de Leste e partes da URSS perdeu significado. As guerras perpétuas e
perdidas no Médio-Oriente, norte de África e Cáucaso enfraqueceram a capacidade
do estado imperial para o crescimento do império na Ásia e na América Latina.
O esbanjar de riqueza e o custo das guerras perpétuas erodiram as fundações
eleitorais do crescimento do império. Só uma alteração fundamental na composição
do estado imperial e uma reorientação de prioridades no sentido de se centrar na
expansão económica pode alterar o actual declínio do império. O perigo é que, à
medida que o estado imperial militarista sionista continue a perder guerras,
possa entrar em escalada, aumente a parada e se decida a uma grande confrontação
nuclear: um império no meio de cinzas nucleares!

Tradução: Jorge Vasconcelos

In
O Diário.info
http://www.odiario.info/?p=3618
16/4/2015

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