sexta-feira, 24 de abril de 2015

O trabalho associado no campo


O trabalho associado (TA) aparece mais usualmente no meio urbano e industrial. No entanto, empreendimentos de TA vêem se formando também no campo. No Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem incentivado os trabalhadores da reforma agrária a se reunirem num trabalhador coletivo para constituírem as Cooperativas de Produção Agropecuária (CPA). Em seguida apresentamos sumariamente, em clave de arquétipo, alguns elementos constitutivos da CPA União do Oeste (Cooperunião) com o propósito de exemplificar como, dentre a variedade de arranjos possíveis, pode se apresentar uma cooperativa de trabalho associado. Os dados apresentados foram coletados em 2002, quando essa cooperativa tinha aproximadamente uma década de existência, e quando tivemos a possibilidade de estudá-la in loco.
A Cooperunião está situada no Município de Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina, no assentamento Conquista na Fronteira, em uma área coletiva de 1200 hectares, na qual viviam e trabalhavam em torno de 56 famílias, na época.
A Cooperativa não empregava trabalhadores assalariados e esse era um dos seus princípios. A distribuição das retiradas era igualitária, variando de acordo com o montante de horas trabalhadas. A distribuição do excedente econômico também seguia o mesmo método. Eis uma visão mais circunstanciada dessa dimensão capturada naquela pesquisa.

O coordenador das equipes de trabalho marca as horas trabalhadas de todos. As retiradas são de acordo com as horas trabalhadas. A jornada de trabalho é de segunda a sexta, os homens trabalham no mínimo oito horas, e as mulheres no mínimo quatro horas. Se há necessidade, trabalha-se mais horas. As pessoas têm quatro dias para usar como quiser, mas não ganha. Se usar mais do que quatro dias tem multa. Tem férias de 15 ou 20 dias, mas não ganha. As pessoas ganham mais ou menos iguais. As crianças começam a trabalhar com 12 anos. De 12 a 14 anos, recebem 50% das horas trabalhadas. De 15 a 17 anos recebem 50% do valor das horas trabalhadas. E quando faz 18 anos, passam a ser sócias e ganham os 100%. As pessoas recebem uma cota de subsistência de acordo com as horas trabalhadas, por família. Se não consome, pode vender, trocar, etc. De seis em seis meses há distribuição das sobras, que também segue o padrão das horas trabalhadas. Os que trabalham fora, por exemplo, o vereador e a professora, deixam o salário com a cooperativa e recebem pelas horas trabalhadas igual a todo mundo. Mas, por exemplo, o vereador precisa de roupas, viagem, etc., então recebe um adicional (DIRIGENTE DA COOPERUNIÃO, 2002). (VIEITEZ; DAL RI, 2003, p. 123)

A Cooperativa era regida por uma assembleia geral soberana, da qual participavam inclusive as crianças maiores de 12 anos, um conselho diretor ou administrativo (renovado por voto secreto a cada três anos) e um conselho fiscal eleito, de acordo com as normas da cooperativa. Além disso, com o propósito de possibilitar a participação direta dos associados, a Cooperativa se organizava por equipes de trabalho, cada uma das quais reunia certo número de trabalhadores, que coordenavam a divisão do trabalho da produção, social, político e educacional.
Esses eram os principais elementos da estruturação da CPA de trabalho associado, embora houvesse vários outros elementos também importantes, como, por exemplo, o fato de que a Escola Municipal de Ensino fundamental I denominada Construindo o Caminho era administrada pela comunidade do assentamento, ou seja, pelos pais, alunos e professoras. A cooperativa passou por dificuldades consideráveis em anos anteriores. Mas, à época da pesquisa era um estabelecimento próspero e que já tinha se transformado em agroindústria, com criação e processamento industrial de aves15.

Artigo completo em:
Candido Giraldez VIEITEZ, Neusa Maria DAL RI
FORMAÇÃO DA COOPERATIVA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA UNIÃO DO OESTE LTDA - COOPERUNIÃO
Revista ORG & DEMO, v.4 (2003), p. 119-124.

http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/orgdemo.

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