quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O jogo da oligarquia imperial





por Adriano Benayon



1. Muitas pessoas não concebem como possível a perversidade
com que são conduzidas as políticas de Estado das potências
imperiais, seja essa perversidade o motivo primeiro ou efeito
colateral de seus jogos de poder.



2. A oligarquia financeira controla os governos dessas
potências e os seus sistemas de instrução pública e de
comunicação social, incumbidos de gerar a carência de
capacidade analítica e interpretativa dos fatos, que determina
as maiorias a não perceberem o quanto as políticas imperiais
são destrutivas e mesmo genocidas.



3. As potências imperiais são o Reino Unido (Inglaterra) e os
Estados Unidos, cujas oligarquias financeiras se
interpenetram. Outras, a elas associadas, são subimperiais,
antigas potências imperiais derrotadas na disputa pela
hegemonia e que se associaram ao império dominante.



4. É o caso, pela ordem cronológica, de Holanda, França e
Alemanha. Esta aparece, hoje, como a principal delas, dando,
na Europa a falsa impressão de ter luz própria, ao aparecer
como o grande opressor direto dos países relegados à condição
de periferia da União Europeia.



5. A notável vocação tecnológica e industrial da Alemanha,
semelhante e maior em grau que a da França, tornou-se, para o
império angloamericano, um sério risco, do ponto de vista de
sua pretensão de hegemonia mundial absoluta.



6. Essa é a origem das duas guerras mundiais que marcaram o
século 20. A França já caíra a segundo plano, desde o final
das guerras napoleônicas, e a Holanda fora batida na segunda
metade do século 17.



7. A Alemanha desenvolveu-se, desde o século 18, impulsionada
por clarividentes políticas de Estado, que culminaram, na
segunda metade do século 19, com o primeiro-ministro Otto von
Bismarck, levando a Alemanha pouco após sua morte, em 1890, a
ultrapassar a Inglaterra em poder industrial.



8. Pouco antes disso, intrigas da diplomacia e dos serviços
secretos britânicos fizeram com que Bismark fosse demitido
pelo novo Imperador, Guilherme II.



9. O objetivo fora desmontar o edifício de alianças construído
por Bismarck, que assegurou evitar a eclosão de algo como a
primeira guerra mundial ainda no século 19.



10. Não que Bismarck fosse pacifista. Nada disso: o mestre-mor
do realismo político ficara contente com o status quo, após
ter liderado a Alemanha em várias guerras e vitórias que a
colocaram em posição de destaque no cenário do poder
internacional.



11. Finalmente, a Grã-Bretanha (Inglaterra) logrou envolver o
Imperador alemão em suas provocações, após o ter afastado da
Rússia e desencadear a guerra, em 1914, da qual acabaram
participando dezenas de países nas duas coligações que se
opuseram.



12. O objetivo mesmo foi debilitar Alemanha e França ao mesmo
tempo, eliminar a Alemanha como concorrente na hegemonia
mundial e consolidar a condição de potência de segundo plano
da França.



13. Conseguiu: entre outros resultados, morreram 6 milhões de
franceses e 5,5 milhões de alemães, sem falar em milhões de
mortos de aliados de uma e de outra.



14. A Alemanha foi, ademais, condenada, em função da “Paz” de
Versalhes (1919), a pesadas reparações de guerra, que teve de
pagar principalmente à França e também à Grã-Bretanha, as
quais repassavam o dinheiro aos EUA para servir a dívida
decorrente dos financiamentos recebidos para custear a guerra.



15. Seguiu-se a enganosa euforia dos anos 1920 e a depressão
econômica e social dos anos 1930, entre cujas manifestações
políticas avultou o fascismo, inclusive nazismo.



16. Muito se tem discutido sobre a natureza desse regime. Há
pouco se divulgou artigo referente à obra do historiador
italiano Renzo de Felice, segundo o qual o fascismo teria, na
maioria dos casos, ascendido ao poder através de golpes de
audácia, favorecidos pela covardia das classes dominantes e
médias.



17. Nesses debates apareceu a asserção, equivocada, mas não
contestada, de que a Alemanha foi o único caso em que o
fascismo chegou ao poder por eleições diretas.



18. De fato, foi uma conspiração, envolvendo chantagem junto
ao presidente, Marechal Hindenburg, conduzida por banqueiros
alemães associados à oligarquia financeira angloamericana.



19. Do ponto de vista formal, assinale-se que no regime
parlamentarista da Constituição de Weimar nem existiam
eleições diretas. Mas o importante é que os nazistas, nas
eleições para o Reichstag, nunca tiveram votos suficientes
para escolher o chefe do governo (o presidente é o Chefe de
Estado).



20. Os nazistas nunca obtiveram, nem de perto, a maioria
absoluta, que os levasse a comandar o parlamento e o governo
conforme a Constituição.



21. Nas últimas eleições, em novembro de 1932, tiveram
declínio na votação, para 32%. Nunca havia maioria parlamentar
e o presidente sempre escolhia o Kanzler, conforme um artigo
de exceção, no caso de não haver maioria no Reichstag.



22. Hindenburg decidira, após aquela eleição, nomear o chefe
do Estado-maior do Exército, General Kurt von Schleicher, o
qual reverteria a depressão e o descalabro financeiro, com
economistas, como Lautenbach e outros, de confiança de
Federações patronais e de sindicatos de trabalhadores, com
políticas de conteúdo superior às de Keynes e de Schaacht, o
czar da economia de Hitler.



23. Isso não agradou, de forma alguma, a oligarquia financeira
angloamericana, que jogou a carta de Hitler, com intenção,
convertida em realidade, de causar a 2ª Guerra Mundial. Ao
contrário da difundida e falsa imagem do ditador nazista, ele
não era nacionalista, mas sim somente racista, fanático
admirador do imperialismo britânico.



24. Antes de galgar o poder e fazê-lo absoluto, com o golpe de
incendiar o Reichstag, cassar os mandatos dos deputados
comunistas, para obter a maioria absoluta que lhe permitiu
conseguir os plenos poderes, Hitler prometera invadir a
Rússia, o que cumpriu em junho de 1941.



25. Foi notório e conspícuo o apoio e a admiração recíproca
entre líderes da indústria e das finanças angloamericanas, bem
como de figuras de proa da família real britânica, e Hitler.



26. A simpatia deste pelos britânicos teve, entre outras
confirmações, a determinação do Führer aos chefes militares de
darem ordem de alto ao Exército, sem a qual os panzers alemães
teriam esmagado, em Flandres (França e Bélgica), a força
expedicionária do Reino Unido (ou a feito prisioneira), no
final de maio de 1940, quando mais de 300 mil combatentes
foram evacuados na famosa retirada de Dunquerque.



27. A 2ª Guerra Mundial começou para valer na Europa, no verão
seguinte, quando Hitler ordenou a operação Barbarossa (invasão
da Rússia), engajando nela a quase totalidade do poderio
armado alemão.



28. Então, ocorreram as grandes batalhas da 2ª Guerra Mundial,
por quatro anos, até o final de maio de 1945, a maior parte
das quais em território da União Soviética, cujos mortos são
calculados em 20 milhões, além de seis milhões de alemães,
afora enorme devastação material.



29. Novamente, o objetivo era destruir duas potências rivais.
No caso da Alemanha, completar o debilitamento encetado com a
1ª Guerra Mundial. No da Rússia, aniquilar a economia e o
poder de um enorme país que apresentava potencial de surgir
como potência de primeiro plano.



30. As forças angloamericanas – notadamente a aviação área, em
que tinham superioridade – ajudaram a destruir a
infraestrutura alemã, na fase final da guerra, quando a Rússia
já havia feito o essencial do serviço. Além disso, os
angloamericanos assassinaram centenas de milhares de alemães,
por meio dos bombardeios genocidas a várias cidades,
notadamente Dresden e Berlim, com o objetivo colateral de
intimidar a Rússia.



31. Fizeram algo semelhante na Guerra com o Japão, quando este
já estava derrotado e pronto a assinar a rendição, fazendo os
bombardeios nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki (6 e 9 de
agosto de 1945).


In
Correio da Cidadania
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=11030:o-jogo-da-oligarquia-imperial&catid=72:imagens-rolantes
18/8/2015

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