quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Quando depositamos dinheiro num banco, ele passa a pertencer ao banco

O quatrilião de dólares de derivativos: Os bail-ins vêm aí



– Quando depositamos dinheiro num banco, ele passa a pertencer ao banco

por Bill Holter

O mundo está inundado de "promessas". Para aproximadamente tudo o que
pensamos como tendo "valor" isso se deve a uma promessa que o respalda.
Alguns exemplos: suas contas bancárias, fundos de pensões, títulos e
mesmo as notas de dólar no seu bolso. A sua conta bancária por exemplo:
uma vez que deposita o dinheiro ele não é mais seu. Você pode discutir se
quiser mas agora sabemos com certeza que isto é verdade após as recentes
legislações de "bail-in" aprovadas por todo o ocidente. Quando você
deposita fundos num banco, ele passa então a ser "do banco" mantido para
si ... o banco é "seu devedor".

Não considere isto com ligeireza. Legisladores de todo o mundo fizeram
esta nova realidade. Um facto pouco conhecido: em 1845 a Grã-Bretanha
aprovou uma lei bancária que tornava os depositantes credores não
segurados. Isto ainda é um precedente nos dias de hoje. Quando você
deposita dinheiro está a "aceitar um passivo"do seu banco e é classificado
como um credor não assegurado. Por outras palavras, "entre na fila com
todos os outros"!

O mesmo se passa com muitas contas de aposentação. Pense acerca da
Segurança Social. Quando recebe seu formulário de declaração anual, ele
vem com um asterisco. Este é para informá-lo de que eles "podem precisar
reduzir benefícios". Com qualquer conta de reforma está a confiar em que o
custodiante lhe faça pagamentos no momento da aposentação. Pense acerca de
contas de aposentação estaduais e municipais a prometerem boa vida, elas
estão quase TODAS sub-financiadas. Isto significa que não há dinheiro
suficiente para fazer os (prometidos) pagamentos futuros a menos que
alguma espécie de retornos magicamente mais altos seja realizada. Estas
contas estão sub-financiadas em TRILIÕES de dólares!

Títulos são uma classe de activos que obviamente repousam numa
"promessa". Dólares, por outro lado, parecem incompreendidos pelo público
apesar de serem o maior salto de fé em todas as classes de activos.
Dólares repousam "na fé e no crédito plenos" quanto ao governo dos EUA
(uma entidade em bancarrota) mas a plebe dorme a noite toda segura por
saber que possuem dólares. TODAS as divisas sem lastro do passado, as
moedas fiduciárias, fracassaram. O dólar é a moeda fiduciária mais
amplamente alastrada e possuída que o mundo já conheceu, o seu fracasso
será espectacular quando acontecer!

Queria destacar as "promessas" acima a fim de falar acerca da confiança
ou da segurança. O mundo financeiro gira em torno da "confiança". Esta
confiança foi quase rompida em 2008 e é a razão porque o Federal Reserve
precisou emprestar secretamente US$16 milhões de milhões (trillion) por
todo o mundo. Se o Fed não produzisse estes fundos, os fracassos
ter-se-iam alastrado e a confiança do mundo teria rompida entre os
bancos/outras instituições financeiras e mesmo entre os próprios bancos
centrais! A dádiva do Fed funcionou e a confiança foi mantida.

Agora, acredito que estamos destinados a um outro "teste" de confiança.
Andámos com mais cinco anos com QE isto e QE aquilo, a realidade sendo a
absoluta monetização. De facto, hoje os bancos centrais estão a comprar
mais títulos soberanos do que estão a ser emitidos. O público e mesmo os
fundos profissionais tem-se afastado dos mercados da dívida. Não se pode
culpá-los porque os juros recebidos nem mesmo cobrem a inflação, sem
mencionar o prémio de risco. Globalmente o ritmo do comércio e da
actividade de negócios está a arrefecer ou mesmo a declinar, o que trará à
tona as dificuldades em cumprir serviços de dívida e outras "promessas".

Pergunto: o que acontecerá quando inevitavelmente a "confiança" começar a
desvanecer-se? Ou mesmo a acabar completamente? É neste ponto que o
sistema entra na "Grande Procura Adicional de Fundos" ("The Great Call").
Procura adicional (Margin Call) ? Naturalmente, porque quase toda
finança tem alavancagem por trás – mas há mais do que isto. A "procura"
("call") de que falo é por contratos de toda espécie de "desempenho".
Estou a pensar em particular que contratos "derivativos" serão convocados
(called on) ao cumprimento dos seus deveres contratuais.

Em suma, há mais de um quatrilião de dólares (10 elevado a 15) de
derivativos pendentes. O problema com isto é que a "cauda" é maior do que
o cão. Por outras palavras, o montante dos derivativos pendentes
amesquinha o montante total de moeda pendente e portanto a capacidade para
"pagar" e honrar os contratos. O outro lado desta moeda são contratos que
prometem entregar alguma coisa. Aqui estou a pensar tanto no ouro como na
prata. Há muito mais obrigações pendentes do que onças [1] ou quilos
disponíveis para entrega. Isto é um incumprimento simplesmente à espera de
acontecer.

Se ouvir os Harry Dents [2] do mundo, o dólar será o paraíso seguro para
onde irá todo o capital receoso. Num mundo baseado sobre nada além de
confiança e promessas, os capitais receosos realmente acumulam-se DENTRO
de uma divisa SÓ na base da confiança e de promessas ... quando
"confiança" é exactamente o que está em causa. Realmente, pode-se dizer
que o dólar originalmente foi estabelecido, em 1971, sobre um modelo de
"nunca pagar". O dólar (e títulos) só promete pagar "mais dólares" e nada
mais. Este jogo funcionou durante muitos anos, agora olhe como os
sauditas depois de fazerem muitos acordos tanto com a Rússia como com a
China podem estar prestes a transaccionar em outras divisas diferentes do
dólar. Estarão eles a exibir confiança?

Os chineses são agora vendedores líquidos de Títulos do Tesouro dos EUA
(U.S. Treasuries). Faça-lhes esta pergunta: se a China pudesse vender
todos os seus Treasuries e transformá-los em ouro, prata, petróleo, cobre
e outros activos reais tangíveis (sem destruir o mercado de Títulos do
Tesouro ou deixarem o ouro e a prata sem oferta), será que o fariam? Digo
que sim, eles certamente gostariam de estar fora da sua posição actual com
Treasuries. Outros defensores do mesmo podem dizer que a China está
confortável, logo veremos.

Porque neste ponto a confiança é a única coisa que impede o jogo de se
desconjuntar ... e a sua natureza é volúvel, é importante ver isto a
fundo. O que acontecerá quando se quebrar a confiança? Podem os bancos
sobreviver globalmente a "corridas" quando depositantes vierem bater às
suas portas? Podem os intercâmbios de commodities cumprirem tudo o que
prometeram? Podem os tomadores de empréstimos "tomarem mais ainda
emprestado" se não puderem resgatar questões passadas com nova dívida? É
para aí que nos dirigimos, tanto sistemicamente como globalmente.

Antes de acabar quero ligar duas ideias conectadas. Primeiro, o grande
Paul Craig Roberts disse na semana passada temer que metais preciosos
pudessem ser suprimidos para sempre. Recebi muitos emails assustados
quanto a esta ideia. O sr. Roberts estaria inteiramente correcto se não
fosse por um pormenor: ouro REAL e prata REAL devem estar disponíveis
para entrega. Do contrário o jogo acaba e a fraude é revelada. Ele está
totalmente correcto: o "preço" pode ser pressionado ou manipulado desde
que haja bastante "margem". Dan Norcini [3] outrora foi preciso quando
disse: nada enervará mais os shorts [4] do que prazos longos para
entrega ... e fazer um pedido do produto. Gostaria de recordar que o COMEX
[5] tem actualmente apenas 11,7 toneladas de ouro para entrega. Isto
equivale aproximadamente a US$400 milhões. Se eu estivesse short, esta
mísera soma não aumentaria a minha confiança.

Outro pensamento que se segue a este é onde estamos agora em relação a
2008. Naqueles tempos estávamos a poucas horas de todo o sistema vir
abaixo, isto é facto. O que mudou desde então? "Nada", mas na realidade
muito. Nada mudou do ponto de vista das "ferramentas utilizadas". Não
alterámos ou fizemos quaisquer mudanças que "nos afastassem da beira do
precipício" ... apenas fizemos mais do mesmo! Agora temos muito mais
dívida e mais derivativos pendentes. De facto, bancos centrais e nações
soberanas chegaram a sacrificar seus balanços para prolongar o jogo. Isto
funcionou ... até agora. O único problema é que todo o arsenal dos bancos
centrais já foi tentado e fracassou em proporcionar qualquer estímulo à
economia real. O resultado foi que o capital introduziu-se à força dentro
dos mercados financeiros e inchou as bolha(s) muito mais do que já
estavam. Agora, temos mercados muito maiores com muito mais alavancagem do
que em 2008. Isto precisará reflectir-se em balanços mais fracos de bancos
centrais e tesouros soberanos com quase nenhuma capacidade para contrair
empréstimos num esforços para reflacionar. É uma receita para o desastre.

Já sabemos que os mercados de dívida soberana estão muito magros pois a
liquidez secou. Também sabemos que os mercados de acções estão a exibir
horrível amplitude interna. A China está realmente a aproximar-se de um
cenário 1929 e estará aí em breve se não puder firmar-se. A confiança é
uma garota volúvel, se ela se romper voltamos então ao cenário de 2008 e
descobriremos quão poderosos são realmente os bancos centrais. Acredito
que a "Grande Procura" ("Great Call") vindoura não pode nem será
atendida e só então se verá o que é deixado de pé. É imperioso aqui e
agora nos posicionarmos em activos que se sustenham por si próprios, tudo
o mais serão promessas quebradas!


03/Agosto/2015

[1] 1 onça troy = 31,103 gr
[2] Analista financeiro conhecido nos EUA.
[3] Analista de mercados conhecido nos EUA.
[4] Os que venderam algo (títulos, etc) que não possuem, v.
en.wikipedia.org/wiki/Short_(finance)
[5] Bolsa de Mercadorias, Commodity Exchange

O original encontra-se em www.globalresearch.ca/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
http://resistir.info/financas/derivativos_bailins_03ago15.html
5/7/2015

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